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Quais são, em Portugal, os determinantes estratégicos do desenvolvimento local e regional? Partindo desta questão inicial, este artigo teve como objetivo realizar uma reflexão sobre as possibilidades de desenvolvimento local e regional, considerando a vertente multidimensional intrínseca a esse processo, os principais instrumentos legislativos, as orientações nacionais e europeias que o enquadram, e as metas de políticas públicas para que remete. Metodologicamente, procedeu-se a uma análise bibliográfica e documental, complementada por uma análise estatística georreferenciada,com destaque para os temas da competitividade, internacionalização, governação territorial, aquisição de competências, sustentabilidade ambiental dos territórios e eficiência na utilização dos seus recursos.Os resultados mostram que, apesar do longo caminho ainda a ser percorrido, as políticas públicas de coesão social, em Portugal, têm potencial para mitigar as profundas assimetrias territoriais existentes.
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REGIÃO 2020: DETERMINANTES ESTRATÉGICOS
DO DESENVOLVIMENTO LOCAL E REGIONAL
Pedro Miguel Alves Ribeiro Correia
1
Teresa Teixeira Lopo
2
Resumo
Quais são, em Portugal, os determinantes estratégicos do
desenvolvimento local e regional? Partindo desta questão inicial, este
artigo teve como objetivo realizar uma reflexão sobre as possibilidades
de desenvolvimento local e regional, considerando a vertente
multidimensional intrínseca a esse processo, os principais
instrumentos legislativos, as orientações nacionais e europeias que o
enquadram, e as metas de políticas públicas para que remete.
Metodologicamente, procedeu-se a uma análise bibliográfica e
documental, complementada por uma análise estatística
georreferenciada,com destaque para os temas da competitividade,
internacionalização, governação territorial, aquisição de competências,
sustentabilidade ambiental dos territórios e eficiência na utilização dos
seus recursos.Os resultados mostram que, apesar do longo caminho
ainda a ser percorrido, as políticas públicas de coesão social, em
Portugal, têm potencial para mitigar as profundas assimetrias
territoriais existentes.
1
Doutor em Ciências Sociais - Universidade Técnica de Lisboa (UTL). Professor no
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) - Universidade de Lisboa
(ULisboa), Lisboa, Portugal. E-mail: pcorreia@iscsp.ulisboa.pt
2
Doutoranda em Ciências da Educação na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da
Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, Portugal. E-mail: ttlopo@gmail.com
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Palavras-chave: Desenvolvimento Local; Desenvolvimento Regional;
Território; Políticas Públicas; Portugal.
2020 REGION: STRATEGIC DETERMINANTS OF
LOCAL AND REGIONAL DEVELOPMENT
Abstract
What are, for Portugal, the strategic determinants of local and regional
development? From this starting point, this article aimed to carry out a
reflection on the local and regional development opportunities,
considering the intrinsic multidimensional aspect of this process, the
main legislative instruments, the national and European framing
guidelines, and the public policy goals they refer to. Methodologically,
a bibliographical and documentary analysis was conducted,
complemented by a georeferenced statistical analysis, highlighting the
topics of competitiveness, internationalization, territorial governance,
skills acquisition, environmental sustainability of territories and
efficient use of their resources. Results show that, despite the long
road still ahead, social cohesion public policies have, in Portugal, the
potential to mitigate the existent profound territorial asymmetries.
Keywords: Local Development; Regional Development; Territory;
Public Policies; Portugal
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Enquadramento
O desenvolvimento local enquanto “processo de satisfação de
necessidades e de melhoria das condições de vida de uma comunidade
local” (AMARO, 2003, p.57) pressupõe uma perspetiva metodológica
que centre esse processo na comunidade e no seu território euma
conceção do desenvolvimento local que, numa alternativa à tradicional
abordagem vertical dos processos de mudança (top-down), remeta
para a procura de soluções da base para o topo (bottom-up).
Análises recentes sobre as tendências de globalização
(FERNANDES, em publicação; SEIXAS, 2012) têm salientado,
justamente, na dialética complexa entre o local e o global, a
importância das comunidades locais, da sua capacitação
(empoderamento individual e coletivo) e de mecanismos de
governação identificados “com a devolução de decisões às localidades
e às comunidades e com a sua responsabilização na identificação e
resolução de problemas” (FERREIRA, 2009, p.215) mas, também,
como essa interdependência global tem alterado o quadro geral no qual
as políticas públicas territoriais são inscritas (SANTOS, 2009).
A dimensão territorial, remetendo para uma ideia de território
“construído como representação” e “constituído como espaço social
(MARQUES, 2010, p.80, destaque do autor) e respaldada no princípio
da coesão territorial como paradigma de desenvolvimento alargado a
diferentes escalas (cidade, região, etc.), tem vindo a assumir
visibilidade crescente como princípio e objetivo da política nacional e
europeia.
No documento Portugal 2020 (GOVERNO DE PORTUGAL,
2014a), o acordo de parceria que Portugal propôs à Comissão Europeia
e que estruturou as intervenções, os investimentos e as prioridades de
financiamento para o período de programação 2014-2020, consagrou-
se, explicitamente, o desenvolvimento territorial, a par do
desenvolvimento económico, social e ambiental, como prioridade
política, e a territorialização das políticas públicas como dimensão
estratégica e transversal desse acordo. a coesão territorial, inscrita
em 1997 e pela primeira vez no Tratado de Amesterdão
3
(UNIÃO
EUROPEIA, 1997) e, posteriormente, em documentos de orientação
política como o Esquema de Desenvolvimento do Espaço Comunitário
(COMISSÃO EUROPEIA, 1999), ou o Livro Verde sobre a Coesão
3
É ao abrigo dos Tratados, acordos vinculativos entre países membros da União
Europeia (UE), que as instituições europeias adotam a legislação que será, depois,
aplicada pelos países membros da UE.
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Territorial (COMISSÃO EUROPEIA, 2008), foi consagrada no Tratado
de Lisboa(UNIÃO EUROPEIA, 2007), a par da coesão económica e da
coesão social, como uma nova componente da política de coesão e,
neste sentido, um pilar do desenvolvimento da União Europeia (UE).
Quanto aos seus elementos caracterizadores, Santinha e
Marques (2012, p.239) destacaram o “desenvolvimento territorial
integrado e em rede assegurando a igualdade de oportunidades no
acesso a serviços e promovendo a articulação de atores e políticas”.
quanto ao âmbito ou escala da ação territorial, Pereira e Carranca
(2011) sugeriram, para além das entidades administrativas
tradicionais (como sejam as regiões ou os municípios), outras
dimensões, como as da articulação entre espaço urbano e espaço rural
ou a perceção de diferentes espaços urbanos (por exemplo, áreas e
regiões metropolitanas, cidades-região) e espaços rurais (por exemplo,
dos mais dinâmicos, articulados com os espaços urbanos, aos mais
periféricos e em processo de despovoamento acelerado).
Sobre a implementação, em nível da UE, do objetivo de coesão
territorial, documentos recentes (BÖHME; HOLSTEIN; TOPTSIDOU,
2015; EUKN, 2015; MOT, 2015) enfatizaram a necessidade de apostar
na cooperação transfronteiriça e no potencial associado às pequenas e
médias cidades. Outros estudos e relatórios com origem em Portugal
(ANDRÉ et al., 2014; FORTUNA et al., 2014; GARCIA et al., 2014;
VEIGA et al., 2014) destacaram a importância da cultura na reflexão
sobre políticas públicas de desenvolvimento e coesão territorial, e o
seu papel na promoção da atratividade das regiões, enquanto
“elemento estratégico indutor de competitividade dos territórios,
gerador de emprego e riqueza, dinamizador da coesão social e
territorial e instrumento de afirmação internacional das comunidades”
(VEIGA et al., p.124) e, ainda, como veículo de coesão e inovação social
e territorial, afirmando e fazendo reconhecer as identidades
comunitárias e territoriais (ANDRÉ et al., 2014).
Muitos dos problemas enfrentados por esses territórios são, na
verdade, transversais: padrão de especialização produtiva assente em
atividades de reduzido valor acrescentado e de baixa intensidade
tecnológica, forte segmentação do mercado de trabalho, emprego
precário, desemprego estrutural, pobreza e exclusão social, taxas
significativas de abandono escolar precoce, ineficiente utilização e
gestão de recursos no que respeita ao solo e recursos naturais,
vulnerabilidades face a riscos naturais e alterações climáticas, e
debilidades na proteção dos valores ambientais (INE, 2015b;
GOVERNO DE PORTUGAL, 2014a). Na procura de soluções, o
desenvolvimento local e regional como objetivo de políticas públicas de
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desenvolvimento territorial convoca múltiplas dimensões: coesão
econômica, governança adaptativa (FERRÃO, 2012; SCHMIDTet al.,
2013), proteção do ambiente e coesão social.O conceito de coesão
territorial permite interligar estas dimensões, fazendo da
sustentabilidade e do processo de transformação para que remete
(RAMOS; PATRÍCIO, 2014), a dimensão que sustenta a conceção
dessas políticas.
Essa perspetiva encontra-se ancorada ao nível das políticas
públicas europeias, em geral, e portuguesas, em particular, nos
documentos Europa 2020 (COMISSÃO EUROPEIA, 2010) e Portugal
2020 (GOVERNO DE PORTUGAL, 2014a), respectivamente. No
primeiro documento estabeleceu-se a prioridade de tornar as
economias dos estados-membros da UE inteligentes (desenvolvendo
uma economia baseada no conhecimento e na inovação), sustentáveis
(promovendo uma economia mais eficiente em termos de recursos,
mais ecológica e mais competitiva) e inclusivas (favorecendo uma
economia com níveis elevados de emprego que assegure a coesão
económica, social e territorial) e, nesta medida, capazes de alcançar,
no horizonte temporal 2014-2020, níveis elevados de emprego, de
produtividade e de coesão. No segundo documento, que adaptou e
operacionalizou, para Portugal, a referida estratégia de crescimento e
reúne os Fundos Estruturais e de Investimento Europeus (FEIE)
4
que
concorrem para a sua concretização, são identificadas prioridades de
intervenção em quatro domínios principais: competitividade e
internacionalização; inclusão social e emprego; capital humano; e
sustentabilidade e eficiência no uso de recursos. Esta matriz incorpora,
adicionalmente, dois domínios transversais relacionadas com a
reforma da administração pública e uma intervenção integrada a nível
territorial.
Este artigo apresenta os resultados das análises bibliográfica,
documental e de estatística georreferenciada concernentes às várias
dimensões-chave do desenvolvimento local e regional enquanto
4
Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), Fundo Social Europeu (FSE),
Fundo de Coesão (FC), Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural (Feader) e
Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e da Pesca (FEAMP). O FEDER, o FSE e FC são
abrangidos pela política de coesão. Todas as regiões da UE são elegíveis para
financiamento do FEDER e do FSE, mas só as regiões menos desenvolvidas são elegíveis
para apoio do FC. Os fundos Feader no âmbito da política agrícola comum e FEAMP no
âmbito da política comum das pescas são destinados, respetivamente, às necessidades
das regiões rurais e marítimas.
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objetivo de políticas públicas de desenvolvimento territorial, em
Portugal.
Metodologia
Os resultados apresentados no presente estudo, a sua análise e
as conclusões desta retiradas seguem uma abordagem compreensiva,
isto é, simultaneamente, quantitativa, descritiva e interpretativa, com
recurso à análise estatística georreferenciada, à observação
documental e à seleção e estudo de instrumentos legislativos,
orientações nacionais e europeias, e de literatura especializada sobre o
tema.
A análise estatística georreferenciada que permitiu a
construção dos mapas apresentadas ao longo deste texto fez incidir o
seu foco num conjunto de cinco variáveis relevantes para o tratamento
da problemática em causa: volume de comércio internacional de bens
(em Euros), para o ano de 2015; despesas globais em ambiente (em
Euros por 1.000 habitantes), para o ano de 2014; receitas globais em
ambiente (em Euros por 1.000 habitantes), para o ano de 2014; número
de beneficiárias/os do rendimento social de inserção
5
(por 1.000
habitantes em idade ativa), para o ano de 2014; e número de pequenas
e médias empresas (PME) distinguidas, no ano de 2014, como “PME
Excelência”
6
.Note-se que a escolha do período a que se reportam os
dados foi condicionada pelo último ano em que, à data da realização da
investigação, se encontrava disponível informação sobre cada uma das
variáveis anteriormente listadas.
A unidade de análise escolhida foi o município, pelo detalhe e
pormenor que permitiu incutir ao estudo realizado. Como tal, foram
utilizados dados, referentes às cinco variáveis supramencionadas,
associados a cada um dos 308 municípios portugueses (278 localizados
no território continental de Portugal, 19 localizados da Região
Autónoma dos Açores e 11 localizados na Região Autónoma da
Madeira).
5
Para mais informações sobre o rendimento social de inserção, consultar:
http://www.seg-social.pt/rendimento-social-de-insercao.
6
A qualificação de “PME Excelência” é atribuída com base num conjunto vasto de
critérios, como autonomia financeira, crescimento do volume de negócios ou
rendibilidade dos capitais próprios. Em 2014 foi atribuído o estatuto de PME Excelência
a 1845 PME. Para mais informações sobre os critérios conducentes à classificação de
uma empresa como “PME Excelência”, consultar: http://www.iapmei.pt/iapmei-
mstplartigo-01.php?temaid=156&msid=6.
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A informação que serviu de suporte à análise estatística com
recurso a geoprocessamento teve como fonte, dados disponibilizados
pelo Instituto Nacional de Estatística (INE)
7
e pelo Instituto de Apoio
às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento (IAPMEI)
8
.
Resultados
(a) Competitividade e internacionalização
Estudos e relatórios de diagnóstico realizados recentemente
(INE, 2015b; MATEUS, 2015) apontaram como condicionadores da
melhoria da competitividade da economia portuguesa e de um
desempenho mais exposto à concorrência internacional, os seguintes
fatores: o perfil de especialização produtiva, pela insuficiente
relevância das atividades produtoras de bens e serviços
transacionáveis ou internacionalizáveis, e a reduzida intensidade de
tecnologia e conhecimento no tecido produtivo; as fragilidades ao nível
da qualificação dos empregadores e dos empregados das PME e a
reduzida complexidade e inovação das suas estratégias de negócio; e,
por fim, as condições e custos de contexto da própria atividade
empresarial, remetendo para as condições de financiamento, o custo e
o tempo de transporte por relação com a distância dos destinos de
exportação e, ainda, para os custos públicos resultantes do
funcionamento da própria administração pública portuguesa.
Neste enquadramento, a que se deve ainda somar a exposição
da economia portuguesa aos efeitos da crise econômica e financeira
internacional e os efeitos que esta produziu nas regiões portuguesas, as
políticas públicas, e em particular as intervenções cofinanciadas pelos
fundos comunitários, deverão articular-se à orientação geral da
política económica nos termos estabelecidos no acordo de parceria
Portugal 2020. A prioridade de intervenção associada à
competitividade e à internacionalização, no quadro dos instrumentos
financeiros, reporta ao Programa Operacional Competitividade e
Internacionalização (GOVERNO DE PORTUGAL, 2014b) que
canalizará os fundos europeus estruturais e de investimento para o
período 2014-20 e se orienta, fundamentalmente, para as regiões NUTS
II
9
menos desenvolvidas do continente português: Norte, Centro e
Alentejo. A sua programação articula-se com a Estratégia de Fomento
7
Disponíveis em: https://www.ine.pt.
8
Disponíveis em: http://www.iapmei.pt.
9
Em Portugal, a NUTS II inclui sete regiões: Norte, Centro, Área Metropolitana de
Lisboa, Alentejo, Algarve, Região Autónoma dos Açores e Região Autónoma da Madeira.
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Industrial para o Crescimento e Emprego2014-2020 (GOVERNO DE
PORTUGAL, 2013) o Plano Estratégico dos Transportes e
Infraestruturas (MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2014) e a Estratégia
de Investigação e Inovação para uma Especialização Inteligente
(GOVERNO DE PORTUGAL, 2014c) e, transversalmente,com a
Estratégia Cidades Sustentáveis2020(DGT, 2015).
De salientar, pelo seu potencial de impacto no desenvolvimento
dos territórios, a Estratégia de Investigação e Inovação para uma
Especialização Inteligente, e a Estratégia Cidades Sustentáveis 2020. A
primeira, pela articulação multinível (país, região, setores) de
recursos, políticas, atores e stakeholders que deverá orientar a sua
implementação nos territórios; a segunda, alinhada com o reforço da
dimensão estratégica do papel das cidades, assumidas como suporte e
palco privilegiado da integração e territorialização das políticas
públicas por intermédio, simultaneamente, de um fortalecimento
sustentável do sistema urbano e da melhoria da qualidade de vida das
populações e assentando, portanto, no pressuposto de que um
incremento da sustentabilidade das cidades conduzirá, igualmente, a
um incremento da competitividade do país.
Justamente em termos da sua posição competitiva
internacional, no Global Competitiveness Index
10
, Portugal obteve uma
pontuação global de 4,5pontos em 7 pontos possíveis e o 38.º lugar
entre 140 países. Essa posição reflete, entre outros fatores, “um ritmo
insuficiente de inserção nos dinamismos do mercado interno europeu e
da globalização, bem como dificuldades específicas de construção de
uma especialização de produtos e diversificação de mercados”
(GOVERNO DE PORTUGAL, 2014b, p.13).Um dos exemplos
paradigmáticos deste fenômeno são as profundas assimetrias litoral-
interior
11
, que se verificam ao nível do contributo dos municípios para
o comércio internacional de bens (Mapa 1).
10
Reconhecido como uma classificação de referência para a competitividade. Mais
informações em: http://reports.weforum.org/global-competitiveness-report-2015-
2016/competitiveness-rankings/
11
Acerca deste tópico, consultar Correia e Catarino (2016).
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Mapa 1: Comércio internacional () de bens, por município, 2015
Fonte: elaboração própria com base em dados disponibilizados pelo INE.
Essa diferenciação, facilmente notada numa faixa litoral que se
estende desde Região de Lisboa, para Norte, até ao Alto Minho, é
particularmente acentuada ao nível da Área Metropolitana de Lisboa
(com os municípios de Lisboa, Setúbal, Palmela e Sintra que
contribuíram com exportações acima dos 100 milhões de Euros) e da
Área Metropolitana do Porto (onde se destaca o município de Vila
Nova de Gaia).
Relativamente à extensão dos mercados externos, outras das
fragilidades diagnosticadas no Programa Operacional Competitividade
e Internacionalização (GOVERNO DE PORTUGAL, 2014b) foi a
prevalência das exportações intra-UE de bens e serviços, que
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representaram, em 2014, 69,1% do total de exportações, com um
crescimento de 2,7% face ao ano anterior (acima do aumento de 1,8%
registado para a globalidade da Zona Euro). Os dados relativos à
exportação de bens por regiões NUTS II (INE, 2015c) revelam que o
Norte e a Área Metropolitana de Lisboa pontificam nas transações,
tendo as empresas sediadas sido responsáveis, no seu conjunto, por
70,6% das exportações de bens para o exterior em 2013 e por 70,0% em
2014. Em todas as regiões do país, com exceção da Região Autónoma
da Madeira, o peso do comércio intra-UE foi superior ao do comércio
extra-UE.
Outro exemplo deste fenômeno é a distribuição geográfica das
empresas qualificadas pelo IAPMEI com o estatuto de PME
Excelência”, no ano de 2014 (Mapa 2).
Mapa 2: Distribuição das PME Excelência, por município, 2014
Fonte: elaboração própria com base em dados disponibilizados pelo IAPMEI.
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Trata-se de um conjunto de empresas representativas de vários
setores de atividade (agricultura, comércio, construção, indústria,
serviços, transportes e turismo) que anualmente apresentam os
melhores desempenhos económico-financeiros e de gestão, e
contributos ativos para a economia e o emprego nacionais. Uma vez
mais, é fácil de observar no Mapa 2 uma forte litoralização na
distribuição destas empresas, em particular, no litoral Oeste entre os
municípios de Viana do Castelo e de Setúbal.
(b) Governação territorial e aquisição de competências
Novos modelos e objetivos de governação, reconstrução
conceptual e revalorização do conceito surgem associados à crescente
complexidade da organização territorial, ao fortalecimento das
intervenções territoriais de base regional ou local, e a uma maior
descentralização e abertura do Estado à sociedade civil (CHAMUSCA,
2013).
No quadro da UE, o Livro Branco sobre a Governança Europeia
(COMISSÃO EUROPEIA, 2001) fixou o objetivo de incutir uma ampla
dinâmica democrática através de uma vasta reforma assente em cinco
princípios cumulativos: abertura (com destaque para a transparência e
a comunicação das decisões), participação (fazendo implicar os
cidadãos de forma mais sistemática na elaboração e na aplicação das
políticas), responsabilização (com clarificação do papel de cada
interveniente no processo de decisão e assunção da sua
responsabilidade e atribuições), eficácia (decisões tomadas ao nível e
no momento adequados para produzir os efeitos desejados) e, por fim,
coerência (a diversidade de políticas requererá um esforço sustentado
de coerência organizativa).
O modelo de governação do Acordo de Parceria e dos
programas para o período 2014-2020, bem como a respectiva
arquitetura institucional, visam à simplificação do modelo de
governação através de uma clara separação entre a orientação política
e as responsabilidades técnicas, de um maior envolvimento das partes
interessadas, de orientação para os resultados (prestação de
contas/accountability), e da definição de regras comuns de
financiamento que assegurem não condições de justiça e
transparência, mas que também promovam a concorrência entre os
beneficiários e facilitem o acesso dos beneficiários ao financiamento.
A opção por programas operacionais regionais é paradigmática
dessa perspectiva que procura: por um lado aproximar o Estado às
pessoas, valorizando “a natureza coletiva que se envolve na regulação
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e tomada de decisões a todos os níveis” (FERRÃO, 2016, p.238),
articulando territorialmente as políticas públicas e integrando os
diversos níveis espaciais no modelo institucional de organização da
decisão, com ganhos na adequação das respostas aos territórios, de
participação, responsabilização e eficiência; por outro, de intervir na
própria modernização administrativa e na capacitação institucional e
humana da administração pública e dos seus serviços. Para responder
a esses desafios serão privilegiadas as intervenções que reforcem a
oferta de serviços mais descentralizados e mais eficazes na interação
com os cidadãos e as empresas, incluindo a oferta de serviços
totalmente desmaterializados, e que implementem novos modelos de
organização e de colaboração entre serviços e níveis de governo, bem
como ações de capacitação/adaptação dos recursos humanos a esses
processos de mudança e de formação em competências técnicas e de
gestão.
(c) Sustentabilidade ambiental e eficiência na utilização dos
seus recursos
Em 2014, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) analisou,
pela sua particular relevância para Portugal, a evolução de dois
processos-chave de transformação de longo prazo que têm impacto
alargado (em territórios e pessoas) e causam transformações
multidimensionais (sociais, económicas, políticas, etc.): a
intensificação da competição mundial por recursos e as consequências
das alterações climáticas (APA, 2014). Sobre o primeiro processo, a
extração de recursos não-renováveis de minerais, metais e
combustíveis sseis tem aumentado de forma continuada, sobretudo,
impulsionada pelo desenvolvimento industrial e tecnológico e a
evolução dos padrões de consumo, colocando a economia europeia,
estruturalmente dependente de recursos importados, face ao risco da
crescente competição por recursos. sobre o segundo processo,
espera-se que as alterações climáticas ameacem cada vez mais os
ecossistemas naturais e a sua biodiversidade.
A abordagem para responder a esses constrangimentos foi
estruturada no Acordo de Parceria em três vetores. O primeiro,
remetendo para uma economia de baixo carbono associada à promoção
da eficiência energética e à produção e distribuição de energias
renováveis; o segundo, relativo à prevenção de riscos e adaptação às
alterações climáticas; e, por fim, o terceiro, de reforço à proteção do
ambiente (água, biodiversidade, recuperação de passivos ambientais e
qualificação do ambiente urbano).
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Portugal, apesar de se enquadrar na realidade europeia de
dependência energética do exterior, dispõe de uma grande diversidade
e abundância de recursos endógenos (água, vento, sol, biomassa). A
não existência de reservas de energias fósseis justifica a aposta nas
energias renováveis e na eficiência energética. A contribuição das
fontes renováveis endógenas, em 2009 e em 2013, correspondeu a
22,4% e a 48,8%, respetivamente, do consumo total de energia primária
e da produção total de eletricidade (INE, 2014). Em 2014, a produção
de eletricidade a partir de fontes de energia renováveis correspondeu a
61,4% do total de eletricidade produzida em Portugal (INE, 2015a), o
que faz de Portugal uma referência ao nível do contexto europeu. As
prioridades de intervenção dos fundos comunitários e os investimentos
a concretizar em Portugal até 2020 visam a promover, justamente, a
eficiência energética (tecnologias e sistemas energeticamente
eficientes) e a diversificação de fontes de energia de baixo carbono
(planos de mobilidade ecológica), envolvendo os cidadãos, as empresas
(com destaque para o setor dos transportes) e o setor público
(administração pública central e local).
No Climate Change Performance Index (BURCK et al., 2016)
Portugal posicionou-se, na classificação geral de 2016, como o 19.º país
com melhor desempenho relativamente às políticas na área das
alterações climáticas numa lista de 58 países industrializados que, no
seu conjunto, são responsáveis por mais de 90% das emissões de gases
com efeito de estufa. De registrar a descida significativa de Portugal,
em relação aos dados de 2015 (BURCK; MARTEN; BALS, 2015), com
uma queda de 10 posições no ranking e passando de uma classificação
“boa” para uma classificação “moderada”, quando são consideradas
todas as categorias da avaliação (nível das emissões, desenvolvimento
das emissões, energias renováveis, eficiência energética e política
climática).
Como país do sul da Europa, Portugal apresenta características
climáticas e topográficas que o posicionam na lista dos países europeus
mais sensíveis aos impactos das alterações climáticas sobre a
sociedade, a economia e os ecossistemas (BORREGO et al., 2009) e
uma resposta política eficaz e adequada para enfrentar as alterações
climáticas exige, como registou Fonseca, P. (2014, p.147), “respostas
complexas e dispendiosas, ... uma profunda cooperação global, ...
cedências significativas de todos os atores, assim como uma mudança
célere e radical do sistema energético mundial”.
Ao nível da ação política destacam-se três instrumentos: o
Quadro Estratégico para a Política Climática (APA, 2015a), o
Programa Nacional para as Alterações Climáticas 2020/2030 (APA,
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2015b) e a Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas
(APA, 2015c). O primeiro desses instrumentos estabeleceu os objetivos
e instrumentos de política climática, bem como os instrumentos de
monitorização, comunicação, financiamento e governação; o segundo,
as linhas de orientação para políticas e medidas setoriais e, por fim, o
terceiro estabeleceu os objetivos, as atividades e o modelo de
organização e funcionamento da estratégia até 2020, com vista a
promover uma resposta integrada das diversas políticas públicas às
alterações climáticas e na sua operacionalização, designadamente, nos
territórios.
Do lado dos cidadãos, os resultados da consulta pública
mundial World Wide Views on Climate and Energy (BEDSTED;
MATHIEU; LEYRIT, 2015) realizada em Portugal em 2015 revelaram
a elevada preocupação da sociedade civil com o tema das alterações
climáticas, otimismo quanto aos impactos de medidas destinadas ao
seu combate na vida quotidiana, reconhecidas como uma oportunidade
para melhorar a qualidade de vida, e o seu apoio expresso a uma
intervenção decisiva sobre este problema, indicando “que a opinião
cidadã está a favor de políticas mais incisivas de combate às alterações
climáticas” (FONSECA, S.; SCHMIDT; DELICADO, 2015, p.23).
Os impactos agregados globais das alterações climáticas são
riscos para a economia global e um dos fatores-chave da perda de
biodiversidade, a par da alteração dos habitats, a exploração excessiva
dos recursos naturais, a introdução e propagação de espécies exóticas
invasoras. A Estratégia de Biodiversidade da UE para 2020,
reconhecendo isso mesmo, definiu como objetivo central “travar a
perda de biodiversidade e a degradação dos serviços ecossistémicos na
UE até 2020 e, na medida em que tal for viável, recuperar essa
biodiversidade e esses serviços, intensificando simultaneamente o
contributo da UE para evitar a perda de biodiversidade ao nível
mundial” (UNIÃO EUROPEIA, 2011, p.2).
Com os custos em oportunidades socioeconômicas do
incumprimento desse objetivo estimados em 50 mil milhões de euros
por ano, a Revisão Intercalar da Estratégia de Biodiversidade da UE
para 2020 (COMISSÃO EUROPEIA, 2015), realizada em 2015, conclui
que, não obstante os progressos obtidos no estabelecimento de quadros
políticos, na melhoria da base de conhecimentos e na criação de
parcerias, para uma melhoria sustentada da biodiversidade no terreno,
estas iniciativas terão de ser traduzidas em ações concretas aos níveis
nacional, regional e local.
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No Flash Eurobarometer 379: Attitudes towards
biodiversity,realizado em 2013 pela Comissão Europeia
12
verificou-se
que 43% dos portugueses inquiridos sabia o significado do termo
biodiversidade, 29% tinha ouvido falar mas não sabia o que
significava, e 29% nunca tinha ouvido falar no termo. Adicionalmente,
40% declararam não estar bem informados sobre o tema e 91%
manifestaram-se totalmente de acordo quanto à ideia de que mais
informação disponibilizada aos cidadãos ajudará à proteção da
biodiversidade. Por outro lado, a informação recolhida nas Estatísticas
do Ambiente, para o ano de 2014 (INE, 2015a), apontando a diminuição
do número de auditores ambientais acreditados, de Organizações Não
Governamentais de Ambiente (ONGA) e de sapadores florestais, entre
outros agentes promotores da sustentabilidade ambiental, sugere
alguma indiferença da sociedade civil pelas questões ligadas à
proteção do ambiente.
a análise das despesas em ambiente permitiu verificar que,
em 2014, os municípios concentraram 75,9% do total dessa despesa
com atividades de gestão de resíduos (recolha, transporte e destino
final, varredura e limpeza urbana), seguindo-se as despesas com
aproteção da biodiversidade e paisagem, que aumentaram 12,8%, nesse
mesmo ano, com destaque para as relacionadas com os corpos de
bombeiros e o apoio às associações de bombeiros voluntários (INE,
2015a).
Portugal abrange três regiões biogeográficas (Mediterrânica,
Atlântica e Macaronésia) e duas regiões marinhas (Mar Atlântico e
Mar da Macaronésia) o que o torna, na verdade, um dos países
europeus mais ricos em biodiversidade.
Não obstante, como se pode observar pela leitura do Mapa 3 e
do Mapa 4, é significativo o contraste entre as despesas dos municípios
em ambiente e a sua capacidade para obter receitas próprias nesse
domínio.
12
Síntese, em inglês, disponível em:
http://ec.europa.eu/public_opinion/flash/fl_379_fact_pt_en.pdf
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Mapas 3 e 4: Despesas (esquerda) e receitas (direita) em ambiente
(/1.000 hab.), por município, 2014
Fonte: elaboração própria com base em dados disponibilizados pelo INE.
(d) Coesão social
Uma das formas, senão mesmo a única forma de combate eficaz
de combate às assimetrias geográficas descritas em (a), (b) e (c) e
ilustradas nos Mapas 1 a 4, passa pelo desenho e implementação de
políticas públicas que promovam a coesão social. A coesão social é,
sem dúvida, um tema vasto que justifica, por si só, um artigo
autônomo. No entanto, é um tópico de tal modo incontornável num
texto que, como o atual, aborda os determinantes estratégicos do
desenvolvimento local e regional, que não é possível evitar uma breve
menção.
Criando com o intuito de dar apoio a cidadãos em risco de
exclusão social e carência económica grave, o rendimento social de
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inserção, que inclui uma prestação pecuniária com vista a suprir
necessidades básicas, constitui um bom exemplo de como as políticas
públicas podem ser implementadas para combater assimetrias locais e
regionais.O Mapa 5 permite verificar que as zonas territoriais com uso
mais intensivo deste instrumento de coesão social são precisamente as
zonas que, nos Mapas 1 a 4, surgiam como mais desfavorecidas.
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Mapa 5: Beneficiárias/os do rendimento social de inserção (/1.000
habitantes em idade ativa), por município, 2014
Fonte: elaboração própria com base em dados disponibilizados pelo INE.
Esses resultados não podem deixar de ser vistos como
animadores e indicativos de que é possível a Portugal, por intermédio
dos instrumentos de políticas públicas adequados, promover
estratégias de desenvolvimento local e regional que combatam as
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assimetrias geográficas que tendem, de outro modo, a instalar-se
enquanto consequências inevitáveis das vivências das sociedades do
século XXI.
Conclusão
A conclusão de um texto desta natureza reveste-se,
necessariamente, de um cariz prescritivo. O mesmo é dizer que o
objetivo consiste na identificação e sugestão de alguns caminhos que
possam vir a ser seguidos pelas administrações locais e regionais e
mesmo pela administração central, ao nível das estratégias e políticas
públicas, com vista a um desenvolvimento local e regional que combata
alguns dos problemas identificados nesta pesquisa.
Relativamente ao vetor competitividade e internacionalização
(a) um modelo que possa fazer face a essas fragilidades
assimetricamente distribuídas pelas regiões e reforçar, por
conseguinte, a intensidade exportadora e promover a
internacionalização de empresas, marcas e serviços diferenciados e
com maior incorporação de valor acrescentado, deverá estar assente
numa estratégia que passa, em primeira linha, pela dinamização das
Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional
13
. Ao nível
macroeconômico, realça-se uma estratégia de competitividade
equilibrada biface (SOUSA, 2015): por um lado, que privilegie a
atração do investimento direto estrangeiro e, considerando a
importância do triângulo EuropaAméricaÁfrica, potencie as
sinergias da lusofonia e a vertente atlântica (SOUSA, 2013); por outro,
que a par dos bens transacionáveis, canalize recursos para outros
setores de economia doméstica, nomeadamente, para as PME. No
quadro da política externa e da sua articulação com o processo de
internacionalização, destaca-se a ação diplomática ligada a questões
econômicas e financeiras (COSTA, 2009; PARREIRA, 2007), a
importância de uma abordagem multilateral do comércio mundial e do
investimento global (BERGEIJK, 2009), o papel das redes na
operacionalização da diplomacia econômica (BALÃO, 2009), e a
importância das relações públicas internacionais na sua articulação
com a diplomacia mediática, cultural e econômica (SEBASTIÃO,
2015).
13
Instituições públicas com a incumbência de executar as políticas de ambiente, de
ordenamento do território e cidades e de desenvolvimento das regiões do Norte, Centro,
Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve, contribuindo para a competitividade e coesão
do território nacional.
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No que concerne ao segundo vetor, governação territorial e
aquisição de competências (b), a conclusão é perfeitamente direta e
inequívoca: existe um imperativo para que se consiga conseguir
melhor governação, mais formação dos recursos humanos e orientação
para uma perspetiva de governação em que as passagens entre os
níveis local, regional e nacional seja melhor compreendida e tratada. A
esse propósito a academia tem um importante contributo a dar no
desenvolvimento de conhecimento teórico e prático ao nível da
governação entre os vários níveis de agregação.
Ao nível do terceiro vetor, sustentabilidade ambiental e
eficiência na utilização dos seus recursos (c), a conclusão que pode ser
retirada sobre a biodiversidade, os serviços dos ecossistemas e a
importância do território como variável de desenvolvimento econômico
e social encontra-se bem sintetizada pelo MAOTE (2015, p.9):
As inconsistências de ordenamento do território constituem
uma das principais ameaças à biodiversidade, pelo que os
instrumentos de gestão territorial devem identificar os recursos e
valores naturais, as áreas agrícolas e florestais, a estrutura ecológica,
articulando localizações e condições de permanência, por forma a
garantir as funções dos territórios.
Finalmente, no que respeita ao vetor da coesão social (d)
importa notar que, como salientou Baleiras (2014), o bem-estar de
quem vive num determinado lugar depende, para além dos tradicionais
stocks de trabalho e capital, de uma interação complexa entre fatores
endógenos e exógenos. Por outro lado, a alteração no perfil de valor
acrescentado, com os níveis de produtividade mais elevados a serem
gerados pelas indústrias intensivas em conhecimento, e a necessidade
de compatibilizar o progresso no curto prazo com a sustentabilidade
ambiental têm dado visibilidade à importância de fatores imateriais e
intangíveis,como a qualidade da governação ou a criatividade, no
crescimento e no desenvolvimento dos territórios. Os instrumentos de
políticas públicas que promovam a coesão social adquirem, pois, um
relevo determinante enquanto aglutinadores das ambições da
sociedade ao nível desses fatores imateriais e intangíveis.
Sugere-se que estudos futuros sobre o tema se foquem, por um
lado, na monitorização e avaliação dos resultados das políticas públicas
elencadas ao longo deste texto (de modo a ser possível aferir quais as
mais capazes de atingir os resultados desejados com maior eficácia,
eficiência e qualidade) e, por outro lado, enveredem por um caminho
de análise internacional comparada acerca dos determinantes
estratégicos do desenvolvimento local e regional. Em particular, pela
proximidade histórica e cultural à realidade portuguesa, esta análise
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comparada deverá ter como alvos prioritários os países da América-
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Research Proposal
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Os problemas da sociedade são resolvidos com políticas públicas. Nas palavras de Cochra e Malone "As políticas públicas consistem em decisões políticas para implementação de programas que visam atingir objetivos sociais" (1995). Objetivos sociais entendemos como por exemplo eficiência, equidade, segurança, entre outros. As políticas públicas passam por um ciclo continuo, composto por diversas fases (variando de autor para autor). De acordo com a proposta de C. Jones, Meny e Thoening, o processo começa pela identificação do problema, passando para a formulação de decisões, seguido da tomada de decisão e aplicação da ação, e por fim avalia-se os resultados (Caeiro, 2015). No presente trabalho, irei aprofundar a política de Modernização do Estado. Ao desenvolver uma política concreta, entramos num universo vasto, recheado de programas e planos a serem implementados. Neste caso, o foco será na área da Justiça Portuguesa, mais precisamente no Programa Justiça + Próxima, onde se pretende relatar o ponto de situação de um conjunto de medidas implementadas.
Conference Paper
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The worldwide crisis caused by the coronavirus disease (COVID-19) highlighted a new reality: governments were unprepared and the accelerated spread of the virus unleashed dramatical social-economic consequences. The crisis management that followed resulted in different solutions by the central and regional authorities, often leading to unarticulated responses within the same country. Through the analysis of the Portuguese first COVID-19 wave, this study aims to evaluate the Portuguese citizens' perceptions on pre-COVID-19 measures, government response during COVID-19 and expectations on the impact of COVID-19 on society. The analysis considers the different Portuguese Regions citizens' perceptions, based on the administrative Nomenclature of Territorial Units for Statistics level II (NUTS II), namely, North, Centre, Lisbon, Alentejo, Algarve, Azores Autonomous Region and Madeira Autonomous Region. A quantitative approach is used, and the data was collected through online questionaries. Data collection took place between April 23rd and April 30th, 2020. Based on the theoretical Wave Model and using the COVID-19 crisis management structural equation model (Correia et. al, 2020b) for the different Portuguese NUTS II regions, an illustrative comparison between different governance outcomes is presented. Theoretically this research aims to contribute to the literature of multi-level governance as well as to the literature on collaboration in local governance, namely, the pluralistic interactions at multiple institutional levels. Empirically, this study aims to identify inconsistencies in Portuguese citizens' perceptions on crisis management in order to enable future research to address the topic of public management coordination in multiple levels of governance.
Research Proposal
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O tema da presente revisão de literatura versa sobre o novo papel dos juízes na organização do sistema judiciário português, em que se deteta uma alteração da imagem tradicional do juiz, para um profissional mais ativo e com responsabilidades de gestão nos tribunais. Na base deste novo papel estão as reformas inspiradas na Nova Gestão Pública, em que se observa uma mudança na abordagem generalista do papel do juiz, para uma abordagem de especialização e até multiespecialização nas atividades da sua profissão. Esta alteração da imagem do juiz causa conflitos e ambiguidade no papel que o profissional deve desempenhar na organização, pelo que a própria carreira do juiz poderá sofrer consequências no longo prazo.
Research Proposal
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O artigo traça o progresso histórico da Ética, possibilitando a compreensão da complexidade desta temática e a sua importância na vida pessoal e na vida em sociedade. O estudo sobre a ética é diverso e extenso, uma vez que está relacionada com variadas áreas encontra-se em constante evolução com novos paradigmas, ideais, entre outros. Desta forma, é imperativo entender a sua evolução para depois perceber a sua aplicação, nomeadamente na Administração Pública.
Research Proposal
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A crescente criminalidade e o aumento dos presos no sistema penitenciário, de acordo com a corrente, conduziram a determinadas respostas, à reclusão, e nalguns países anglo-saxónicos, à probation, não sendo os resultados muito positivos, provocando a proliferação, a nível logístico e financeiro, entrando o sistema em colapso, nos anos 80 e 90 (Reis, 2012). Utilizando as palavras de Sani (2010), o crime e os comportamentos criminosos constituem preocupações que persistem no tempo, comuns a todas as sociedades e que mobilizam as diversas áreas da ciência na procura de explicações para a sua emergência, na procura das soluções mais eficazes para o seu combate e prevenção, ou seja, foi graças as estas preocupações aliadas ao desenvolvimento tecnológico, que se iniciou nos EUA várias experiências de Vigilância Eletrónica (VE) que atualmente estão espalhadas pelos cinco continentes, revelando-se um instrumento crucial nos sistemas de justiça (Reis, 2012).
Research Proposal
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O modelo clássico de administração da justiça penal retributiva tende a corresponder maioritariamente aos interesses do Estado, de modo que utiliza o processo e a pena como ferramentas institucionalizadas de punição. Após a década de 1970, o descontentamento sobre esta prática aumentou o que impulsionou o desenvolvimento de novos métodos de resolução de conflitos-a Justiça Restaurativa (Zambiasi e Klee, 2018). Surge, assim, como um novo paradigma de resolução de conflitos, em substituição ou de modo complementar ao tradicional sistema punitivo, apresentando uma resposta menos danosa, mais humanitária e reparadora (Zambiasi e Klee, 2018).
Research Proposal
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Com a transposição da Diretiva de 2014/24/EU, foram identificados doze desafios. Entre eles, o desafio número onze, expõe a necessidade de adotar alternativas de resolução de litígios, quer sistemas de acompanhamento, quer mediação. O intuito pauta-se por minimizar as situações de conflito e litígios, de acordo com as recomendações internacionais. O Memorando do Entendimento trouxe alterações ao nível das compras públicas e do sistema judicial. É assim interessante, entender de que forma estas duas temáticas se interligam e permitem uma maior eficiência e eficácia da máquina pública.
Research Proposal
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A administração pública é o fator-chave para o desenvolvimento da sociedade. E como tal, ao longo dos últimos cento e vinte cinto anos, considerando como marco de nascimento desta ciência social os contributos de Woodrow Wilson, foram desenvolvidos modelos de atuação sustentados por diferentes valores e princípios (Frederickson et.al., 2012). São vários os modelos de administração pública. Ao longo do século XX foram três os mais discutidos na academia. De acordo com Bilhim, em primeiro apresenta-se o modelo da velha administração publica, que se foca na idealização de uma administração pública baseada nos pensamentos de Weber: o tipo ideal de burocracia, onde se encontra no centro o "homem administrativo" num Estado maior e melhor. Em segundo, como resposta negativa ao modelo anterior surge a chamada nova administração pública, com ideais liberais, em que se defende numa administração pública mínima: um menor e melhor Estado, centrando-se no conceito de mercado. Os seus princípios apoiam-se na Escola da Escolha Pública, e esta baseia-se no pensamento económico de Adam Smith. Por fim, e bastante atual, nasce o New Public Service, com o intuito de harmonizar os aspetos positivos dos dois modelos anteriores, renascendo assim uma nova versão da administração tradicional, onde as prioridades são: servir cidadãos e não clientes, cultivar o interesse público, valorizar a cidadania, pensamento estratégico aliado com uma atuação democrática, accountability, uma liderança participada e a valorização das pessoas, não apenas a produtividade (2016). Nas palavras de Frederickson "A teoria pode ser importante numa área tão aplicável, prática e interdisciplinar como esta?" (2012, p. 3). Sim pode, contudo, não é apenas uma teoria sozinha que irá conseguir lidar com toda a complexidade, mas sim todas as famílias das teorias a contribuir para um melhor entendimento (Frederickson et.al., 2012).
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O artigo analisado neste trabalho, "Implementing Effective Ethics Standards In Government And The Civil Service", da autoria de Howard Whitton, foi publicado em fevereiro de 2001, na organização Transparency International. O autor foca-se na apresentação de um conjunto de mecanismos práticos de Good Governance, com o intuito de institucionalizar e definir padrões de uma conduta ética integra na Governação Pública de um país. Os mecanismos mencionados foram selecionados baseados na experiência da Austrália, Nova Zelândia, Canada, Reino Unido, Coreia do Sul, Marrocos e Etiópia. O objetivo central do artigo, é alertar para a necessidade de auxiliar os códigos de ética e códigos de conduta com práticas benéficas para a sociedade, e assim combater e erradicar comportamentos indesejados. Cada vez mais, a sociedade espera padrões éticos e íntegros elevados no serviço público fornecido.
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As Finanças Públicas localizam-se no centro do interesse da sociedade e estão sempre presentes nas preocupações dos Governos, das instituições supranacionais, dos agentes económicos e dos próprios cidadãos (Catarino, 2016). Um alicerce ao conceito de Finanças Públicas é o Controlo, este encontra-se na ribalta das discussões devido a grande necessidade de limitar a despesa, apontando para uma melhor eficiência da distribuição dos recursos públicos, e para tal é necessária uma boa gestão financeira e não apenas um quadro legal. Para tal, surgem dois novos termos do virar do século: accountability e responsiveness. O primeiro conceito de forma simplista, significa prestação de contas, contudo é considerado no sentido de uma maior responsabilidade de quem presta as contas e de quem exige esse serviço. Para além do sentido técnico da prestação de contas, estamos perante o dever de demonstrar que os recursos foram geridos de forma mais eficaz, eficiente e económica, sendo responsabilidade dos decisores financeiros a resposta perante o cidadão sobre estas questões. Uma boa administração não deve ser opaca, caso não seja transparente podem surgir cenários de má gestão ou corrupção. Ao analisar o termo responsiveness, estamos perante um conceito que reporta a ideia de resposta ou reação por parte do responsável público a ideias, sugestões ou esforços pedidos. Este termo esta completamente ligado ao accountability. Assim, os gestores devem prestar contas através de auditorias públicas, performance de resultados ou de value-for-money. Deste modo, o importante não é só executar o que lhes compete, mas também responder perante os resultados dos seus atos. É um aumento de responsabilidade, na perspetiva monetária, contabilística e financeira, mas também na realização eficaz e com mérito do estabelecido (Catarino, 2016).
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Neste artigo é efetuada uma análise dos programas de Cooperação Territorial Europeia (CTE), nomeadamente, na sua dimensão cultural, assim como da sua aplicação em Portugal nos dois últimos períodos de programação. Com o intuito de analisar o financiamento da cultura em Portugal através dos programas CTE, é efetuado um levantamento dos projetos da área da cultura financiados por estes programas nos períodos de programação 2000-2006 e 2007-2013. A análise em detalhe dos projetos culturais em que participaram entidades portuguesas é complementada com a identificação e discussão de um conjunto de aspetos qualitativos sobre os projetos e programas de CTE, a partir das experiências e perspetivas das entidades envolvidas nos mesmos em Portugal. Da análise efetuada são extraídas várias conclusões e recomendações de política cultural.
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http://www.gepac.gov.pt/cultura-2020.aspx
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In an increasingly urbanised but also more globalised European area in which problems multiply, there is still a wealth of potentialities, providing a highly diversified, inspiring and attractive territorial mosaic. However, despite constant references to the implementation of strategies targeting sustainable, inclusive development, the problems have aggravated, particularly those related with rural spaces. In fact, the rural spaces where tradition has persevered, including those with significant heritage, have been neglected, despite showing undeniable progress and investing strongly in multifunctional purposes in harmony with the environment and the landscape, as well as the social, economic and cultural framework. Even so, abandonment and depopulation are escalating in these spaces. Measures must, however, be taken to reverse these situations. Structural strategies must be implemented that are both sustainable and inclusive, following new directives from the European Commission, through the Europe 2020 Strategy, that are able to foster a global, sustainable and intelligent approach. These should address also the social dimension and inclusion, as well as the digital society and education, knowledge and innovation, thus leading to a more efficient and competitive use of endogenous resources. These may serve as the basis for a more social, more inclusive European economy, with a view to effective territorial cohesion. In this persistently problematic setting, there is an urgent need to pursue studies to raise awareness in society, particularly the scientific community, or civil society with the ability to intervene actively in spatial planning and management. Publications such as “The Overarching Issues of the European Space / Grandes Problemáticas do Espaço Europeu – The Territorial Diversity of Opportunities in a Scenario of Crisis / Diversidade Territorial e Oportunidades de Desenvolvimento num Cenário de Crise” intend to address these issues. There is an urgent need to reflect on recent development policies from multiple perspectives (geographical, historical, environmental, economic, social and cultural), exploring different themes, taking into consideration the diversity of scenarios, both European and beyond, particularly the Portuguese-speaking emerging countries. Thus, this third publication gives continuity to these studies from a clearly multifaceted, multidisciplinary and interuniversity approach, as well as maintaining its international character. With the participation of specialists from several Portuguese, French, Bulgarian, Romanian, Galician and Brazilian universities, this edition explores highly differentiated territories, which illustrate the problems and dynamics selected. Notable comparative studies also have their place, highlighting especially development strategies in which innovation, complementarity and sustainability are the main focus. Thus, the endogenous resources and distinctive heritage of these regions can be boosted, through synergies conducive to environmental conservation, spatial planning, social cohesion and economic recovery, from an intelligent, inclusive and harmonious perspective, the only means to overcome this critical period stretching back to 2007/2008. This edition is structured into four parts, covering themes that are more incisively related to SUSTAINABLE DEVELOPMENT. Even though the European area is the main focus, the different approaches explored here are increasingly more globalised.
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This is a policy paper on the contribution of Portuguese public policies to economic growth and development. Such contribution is mediated by space inasmuch as the effectiveness of public action hinges critically on how policies mobilise regional development drivers. These drivers come out of a digression on economic theory expla-nations for growth and development which also helps to realise that markets trigger contradictory outcomes and assure neither durable progress everywhere nor long-term real convergence. The international evidence on regional development policies tracked herein unveils two facts: governments may also fail and governments can improve their own performance. Translating lessons from scientific knowledge and international empirical evidence to Por-tugal allows us to identify a number of flaws in the Portuguese institutional architecture and to recommend solu-tion avenues to make the economic development of Portuguese territories more inclusive and sustainable. These recommendations bet on place-based sectorally integrated approaches which go through a significant improve-ment in horizontal and vertical governance mechanisms, and the adoption of policy tools headed towards the internalisation of association economies between the three territorial layers of government and the regional devel-opment actors in civil society.
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A multiplicação das escalas e dos ritmos de transformação dos territórios e da vida quotidiana veio colocar novos desafios à governação dos territórios, desafiando os modelos tradicionais de gestão e planeamento. Este artigo discute e reflete a reorganização estrutural e espacial do Estado e a reconstrução e conceptualização da governança como conceito, modelo e objetivo da governação territorial, clarificando as suas dimensões centrais e os fundamentos deste novo paradigma.
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A publicação do Livro Verde sobre a Coesão Territorial (2008) e a ratificação do Tratado de Lisboa (2009) constituem marcos fundamentais para a adoção do princípio de Coesão Territorial enquanto novo paradigma de desenvolvimento do espaço europeu. No entanto, apesar da sua forte institucionalização, ainda se verifica alguma ambiguidade no que respeita ao seu conceito e operacionalização, preocupação que assume particular relevância quando os Estados-Membros, claramente influenciados pelas orientações da Comissão Europeia, procuram incluir este princípio na sua agenda política. Tendo como pano de fundo o caso português, é justamente sobre a transição do princípio de Coesão Territorial da agenda Europeia para a agenda nacional que este texto se debruça, analisando e articulando as interpretações existentes.
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The concept of development has been one of the most important and polemical in the Social Sciences. Whilst it is widely considered to mobilise the will for change and transformation in both societies and individuais, it has also served to assess and classify their level of progress and well-being. Since the concept is present in various disciplines, it has produced different theories of change but has also been used to galvanise and assess practices and interventions. From this point of view, it is one of the concepts which is most able to engender dialogue (or confusion) between subject areas and to link or separate theory and practice. Over the last 60 years, and particularly the last 30 years, the concept has appeared in different versions, becoming more complex and less linear in how it is both conceived and applied. This complexity has been enriched by the contribution of several disciplines and by the experience provided by a variety of practices. This in turn has meant that it presents many challenges, both in terms of the interdisciplinary approach it requires and in terms of the strategies and methods of intervention it implies. For this reason, it has also become the object of new polemics, but it is also able to generate new formulations and challenges and to motivate renewed interest.
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Resumo As alterações climáticas são uma das principais ameaças ao desenvolvimento sustentável. Este efeito global põe em causa não apenas os equilíbrios naturais, mas também a segurança de uma grande parte da população. As principais causas das alterações climáticas centram-se no aumento das concentrações de um conjunto de gases emitidos pelas actividades humanas e que interferem com os padrões normais de troca de energia por radiação da Terra com o espaço exterior, fenómeno este chamado 'efeito de estufa'. Ao longo dos anos, vários estudos científicos têm vindo a demonstrar que a acção humana veio alterar as concentrações atmosféricas, a distribuição espacial e os ciclos de vida destes gases com efeito de estufa. Apesar de algumas incertezas há factos indesmentíveis: os níveis de dióxido de carbono na atmosfera estão a aumentar exponencialmente e atingiram valores nunca antes alcançados. Como vamos actuar? Uma das mais recentes teorias passa pela descarbonização da economia, resultado da implementação do mercado do carbono. Mas será suficiente? Actualmente, o grande debate climático centra-se não só na definição de novas metas de redução da emissão de gases com efeito de estufa, mas também, nas acções de mitigação e adaptação às alterações climáticas. A Humanidade enfrenta, neste momento, um dos maiores desafios de que há memória. A mitigação e a adaptação às alterações climáticas devem ser encaradas como oportunidades de desenvolvimento e não como simples imposições políticas que apenas acarretam investimentos financeiros. Novas fontes de energia e tecnologias mais limpas são apenas exemplos de como melhorar o ambiente, combater as alterações climáticas e promover a saúde Humana.