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Abstract

Resumo: Entre os fenômenos espaciais das metrópoles contemporâneas, destacam-se neste trabalho as chamadas “Implosão” e “Explosão”, derivadas da obra de Henri Lefebvre. A implosão é interpretada como tendência à aglomeração nas áreas centrais das metrópoles, significando uma retomada dessas áreas como espaços privilegiados. A explosão informa um processo de urbanização estendida, indicando a ocupação de áreas distantes das centralidades principais. Essas duas tendências são relacionadas à chamada Exópolis, interpretação da metrópole fornecida por Edward Soja. No exercício empírico para Belo Horizonte e sua Região Metropolitana,foram usados dados do mercado imobiliário residencial, e o método Fuzzy Clustering Analysis foi empregado. Os resultados sobre a hipótese da implosão destacam a heterogeneidade da área central da cidade, e para a explosão, esse mercado da RMBH forneceu evidências de estar de fato se estendendo pela região, seja em aglomerações de moradias de trabalhadores no tecido urbano, seja em condomínios fechados para as elites.
DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0103-6351/3142
Resumo
Entre os fenômenos espaciais das metrópoles
contemporâneas, destacam-se neste trabalho as
chamadas “Implosão” e “Explosão”, derivadas
da obra de Henri Lefebvre. A implosão é inter-
pretada como tendência à aglomeração nas áreas
centrais das metrópoles, signifi cando uma reto-
mada dessas áreas como espaços privilegiados.
A explosão informa um processo de urbanização
estendida, indicando a ocupação de áreas dis-
tantes das centralidades principais. Essas duas
tendências são relacionadas à chamada Exópolis,
interpretação da metrópole fornecida por Edward
Soja. No exercício empírico para Belo Horizonte
e sua Região Metropolitana, foram usados dados
do mercado imobiliário residencial, e o método
FuzzyClusteringAnalysis foi empregado. Os
resultados sobre a hipótese da implosão destacam
a heterogeneidade da área central da cidade, e
para a explosão, esse mercado da RMBH forne-
ceu evidências de estar de fato se estendendo pela
região, seja em aglomerações de moradias de tra-
balhadores no tecido urbano, seja em condomínios
fechados para as elites.
Palavras-chave
urbanização; mercado imobiliário; Belo Horizon-
te; métodos de análise regional e urbana.
Códigos JEL R00; R2; R3; O18.
Abstract
Among the contemporary metropolis’ spa-
tial phenomena, this work highlights the so-
called “Implosion” and “Explosion”, derived
from Henri Lefebvre’s work. The implosion
is interpreted as a trend to agglomeration in
the central areas of metropolis, which means
a reoccupying of these areas as privileged
spaces. The explosion informs a process of
extended urbanization, which indicates the
occupation of areas distant from the main
centralities. These two trends are related
to the called Exopolis, a metropolis inter-
pretation provided by Edward Soja. In the
empirical exercise to Belo Horizonte and its
metropolitan region, housing market’s data
were used, and the Fuzzy Clustering Analysis
was employed. The results about the implo-
sion hypothesis stresses the heterogeneity of
the city’s central area, and to explosion, this
market provided evidences that it is actually
extending itself through the region, either in
clusters of housing of workers in the urban
fabric, whether in condos for elites.
Keywords
urbanization; housing market; Belo Horizon-
te; methods of regional and urban analysis.
JEL Codes R00; R2; R3; O18.
Implosão e explosão na exópolis: evidências a
partir do mercado imobiliário da RMBH
Implosion and explosion in the exopolis: evidences from the MRBH’s real estate market
Renan Pereira Almeida
Universidade Federal de Minas Gerais
Roberto Luís de Melo Monte-Mór
Universidade Federal de Minas Gerais
Pedro Vasconcelos Maia do Amaral
Universidade Federal de Minas Gerais
323v.27 n.2 p.323-350 2017 Nova Economia�
Almeida, Monte-Mór & Amaral
1 Introdução
Entre as tentativas de se entender os fenômenos sociais e sua materiali-
zação no espaço, destaca-se, contemporaneamente, a obra de Henri Lefe-
bvre, o qual constrói a hipótese-defi nição de sociedade urbana, derivada
da percepção de um processo de urbanização completa da sociedade (Le-
febvre, 1999, 2001b, a). Nesse sentido, o urbano (que pode ser entendido
como abreviação de sociedade urbana) é a virtualidade: hoje se vislumbra,
amanhã pode se concretizar, a partir do processo de urbanização inteiriça
da sociedade.
Nesse contexto, Lefebvre (1999, 2001a) elaborou um conhecido cons-
tructo que pode ser representado por um continuum, sendo ao mesmo tem-
po espacial e temporal. Em sua extremidade esquerda, há (houve) a “pura
natureza”, ausente de urbanização, enquanto em sua extremidade direita,
há a culminação do processo, a urbanização inteiriça. Como expõem Mon-
te-Mór (2014) e Tonucci Filho (2013), a partir da leitura de Lefebvre, sobre
esse continuum encontram-se, respectivamente, a cidade política, a cidade
mercantil, a cidade industrial e a “zona crítica”. Como há uma noção de
temporalidade, entende-se que tais tipologias de confi guração se sucedam
cronologicamente, apesar da existência de casos de cidades que não passa-
ram por algumas das “fases”. Esse constructo é exposto na Figura 1.
Figura 1
Continuum
Fonte: Lefebvre (1999).
Nesse contexto, este trabalho pretende esclarecer o que pode ser entendido
como o duplo processo de implosão e explosão, a partir da leitura da obra
implosão-explosão
(concentração ubana, êxodo rural,
extensão do tecido urbano, subordinação
completa do agrário ao urbano)
Cidade
política
inflexão do agrário para o urbano
Zona
crítica
0%
Cidade
comercial
Cidade
industrial
100%
324 Nova Economia� v.27 n.2 2017
Implosão e explosão na exópolis
do próprio Lefebvre, bem como de alguns de seus comentadores1. Nesse
panorama, é possível estabelecer uma relação da obra de Soja (2000, 2013)
com esses conceitos, ao considerar que a implosão e a explosão estão entre
as principais tendências contemporâneas de reestruturação produtiva e do
espaço urbano. Após debater vários discursos da nova geografi a urbana,
esse autor apresenta o conceito de Exópolis: a síntese da nova escala regio-
nal explodida e implodida da Pós-Metrópole2 (Tonucci Filho, 2013).
Soja (2000) explica que esse termo de múltiplos lados contém o prefi xo
“exo” em referência direta às cidades “outers”, aquelas que crescem fora
da centralidade principal. E, também, sugere a crescente importância de
forças exógenas reformulando o espaço urbano na era da globalização.
O prefi xo pode também ser visto como uma dica de “fi nal de”, como em
“ex-cidade”, a ascensão de cidades sem os traços tradicionais de como elas
eram defi nidas no passado3.
Portanto, “implosão” e “explosão” foram os termos escolhidos, entre
vários outros que existem, para defi nir os fenômenos de interesse deste
estudo. Esses dois fenômenos são abarcados, simultaneamente, pelo con-
ceito de Exópolis. Dada à existência desse arcabouço teórico, pretendeu-se
buscar evidências para a ocorrência dos fenômenos em questão, por meio
do mercado imobiliário, para o caso da Região Metropolitana de Belo Ho-
rizonte (RMBH). Evidentemente, uma gama de outros tipos de mercados
poderia ser usada para lidar com a “empirização” desta questão, mas o
mercado imobiliário apresenta traços distintivos que o tornaram preferível
nesta escolha4. Como aponta Parr (2005), a própria defi nição das fronteiras
1 É fundamental reconhecer que os conceitos aqui empregados devem ser tomados com
parcimônia, uma vez que, na obra de Lefebvre, trata-se de um processo necessariamente dia-
lético. Ao se realizar um exercício empírico sobre eles, deve-se ter em mente que isso implica
em um relativo reducionismo da amplitude dos conceitos, e que eles devem ser entendidos
no escopo aqui delimitado para esses fi ns, evitando deturpações.
2 Pós-Metrópole pode ser entendida como a metrópole “Pós-fordista e Pós-Moderna”. Para
uma discussão mais detalhada do signifi cado – e mesmo da pertinência – destes termos, ver
Soja (2000).
3 É importante ressaltar que esse fenômeno está sendo restringido a termos metropolitanos,
por escopo e dados, mas, tanto em Lefebvre quanto em autores que o discutem, como Bren-
ner e Monte-Mór, a explosão é um processo socioespacial muito mais amplo em termos de
escala, como pode ser percebido pelos termos “urbanização extensiva”, “urbanização plane-
tária” e “teoria urbana ‘withoutanoutside’”.
4 Uma possibilidade seria tratar dessas questões a partir de dados demográfi cos das uni-
dades espaciais analisadas. Entretanto, isso já vem sendo feito (Souza; Brito, 2008a, 2008b,
2006), ao passo que o estudo do mercado imobiliário brasileiro, e particularmente da RMBH,
encontra-se ainda incipiente.
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Almeida, Monte-Mór & Amaral
da região metropolitana (ou cidade-região) pode ser determinada pela re-
sidência (extensão do mercado habitacional). Neste sentido, a redefi nição
das fronteiras da cidade e da própria cidade, enquanto categoria analítica,
leva esse autor a destacar como o mercado habitacional é particularmente
ilustrativo desse processo.
[T]he fact that in a number of respects the city (not simply the legal entity but
also its built-up area) is becoming something of an outmoded entity. Its boundary,
even if generously drawn, has lost much of its former signifi cance, particularly
with respect to the functioning of the housing market. (Parr, 2005, p.556).
Nesses termos, uma vez que o mercado imobiliário foi escolhido para ve-
rifi car esse processo, foi adotada uma estratégia via preços médios e quan-
tidades dos imóveis da RMBH, a partir dos quais foi realizada uma análise
de agrupamentos. A lógica da implosão foi estudada pela análise da área
interna da Avenida do Contorno, região central de Belo Horizonte, nos
anos de 2007 e 2014, fazendo uso dos dados do Imposto de Transmissão
de Bens Imóveis (ITBI) – focando no mercado de apartamentos. A explo-
são foi analisada a partir dos municípios da RMBH, para o ano de 2014,
usando dados do site Net Imóveis, para a tipologia “casas”.
Os resultados sobre a hipótese da implosão destacam a heterogeneidade
interna da área central da cidade e difi cultam uma interpretação direta – no
sentido de um discurso de revitalização da área central, ou mesmo, de um
processo degentrifi cação. Já para a explosão, o mercado imobiliário residen-
cial da RMBH forneceu evidências de estar de fato se estendendo pela região,
seja em aglomerações de moradias destinadas aos trabalhadores no tecido
urbano, seja em espaços destinados às elites via condomínios fechados5.
2 Implosão e explosão, e a exópolis
Um dos aspectos deste trabalho é tentar fornecer uma defi nição para “im-
plosão” e “explosão”, a partir da interpretação da obra de Lefebvre e dos
autores que discutiram sua obra. Um desafi o teórico para esse tipo de ta-
refa reside no fato de que esse autor não se preocupou em fornecer defi -
nições “fechadas” dos termos, em um estilo de livro-texto. Ainda assim,
segue a tentativa de expor possíveis defi nições.
5 Para uma discussão teórica densa e aprofundada do mercado imobiliário e da economia
urbana, ver Abramo (2007).
326 Nova Economia� v.27 n.2 2017
Implosão e explosão na exópolis
Em Lefebvre, as semânticas dos fenômenos que aqui serão chamados
de implosão e explosão podem ser encontradas em passagens como:
Multidão e solidão. Nela [na grande cidade] o espaço torna-se raro: bem va-
lioso, luxo e privilégio mantidos e conservados por uma prática (o “centro”) e
estratégias. Decerto a cidade se enriquece. Atrai para si todas as riquezas,
monopoliza a cultura, como concentra o poder. Devido à sua riqueza,
explode. Quanto mais concentra os meios de vida, mais torna-se insu-
portável nela viver. (Lefebvre, 1999, p. 89. Grifo nosso.).
Nesse movimento, a realidade urbana, ao mesmo tempo amplifi cada e esti-
lhaçada, perde os traços que a época anterior lhe atribula: totalidade orgânica,
sentido de pertencer, imagem enaltecedora, espaço demarcado e dominado pelos
esplendores monumentais (...). Nenhum desses termos descritivos dá conta com-
pletamente do processo histórico: a implosão-explosão (metáfora emprestada
da física nuclear), ou seja, a enorme concentração (de pessoas, de atividades,
de riquezas, de coisas e de objetos, de instrumentos, de meios e de pensamento)
na realidade urbana, e a imensa explosão, a projeção de fragmentos múltiplos
e disjuntos (periferias, subúrbios, residências secundárias, satélites, etc.). (Lefeb-
vre, 1999, p. 26. Grifo nosso6).
Sobre o duplo fenômeno apresentado em trechos como esse, o fi lósofo
constrói um quadro no qual a grande cidade é local de vícios, poluições e
doenças, embebidas em um meio de alienação urbana e segregação gene-
ralizada (por classe, bairro, profi ssão, idade, etnia, sexo). São essas algu-
mas das forças que levam ao abandono das áreas centrais, mais densas,
nos tempos do Fordismo, por aqueles que conseguem escolher o local de
moradia – o que no caso americano, a partir dos anos 50, levou ao que se
chama de “whitefl ight7, por exemplo.
Em uma visão mais geral, Lefebvre (2001b) entende a cidade como cate-
goria histórica e como um espaço fundamental para a realização e a distri-
buição da mais-valia social – embora julgue que a cidade não tenha um pa-
pel essencial na produção da mais-valia, já que esta se dá no chão de fábrica.
Na discussão da importância da cidade no processo de realização da mais-
-valia, o autor fornece uma visão relevante sobre as centralidades, enquanto
centros de comando, e sua relação com o restante do espaço urbano:
As camadas sociais justapostas no espaço urbano contam com poucos campo-
neses, mas com muitas populações ao mesmo tempo dispersas e dominadas
pelos centros. A cidade moderna (metrópole, megalópole) é, ao mesmo
6 Ainda sobre a implosão-explosão, um trabalho que parece tratar desses fenômenos é o
de Costa (1994), ainda que de maneira muito mais lépida. Basicamente, a autora também
partilha da percepção de que a metrópole se estendeu para além dos limites predefi nidos e,
a partir da década de 80, a centralidade passou a “se rebater sobre si mesma”. Embora os ter-
mos implosão ou explosão não apareçam explicitamente, a essência da compreensão desses
fenômenos aparenta ser a mesma dada neste trabalho, e também para Belo Horizonte.
7 Sobre isso, uma discussão atual pode ser encontrada em Harvey (2014).
327v.27 n.2 2017 Nova Economia�
Almeida, Monte-Mór & Amaral
tempo, a sede, o instrumento, o centro da ação do neocolonialismo e do
neoimperialismo. (Lefebvre, 2001b, p. 154. Grifo nosso.)
Portanto, um argumento para explicar a implosão nas metrópoles contem-
porâneas é a conformação das centralidades enquanto centros de comando
do capitalismo global (Sassen, 1991). Assim, enquanto no período fordista-
-keynesiano os centros foram abandonados e a indústria era o motor do
crescimento econômico, no período da acumulação fl exível, do pós-fordis-
mo, esses espaços centrais são retomados pelo crescimento dos serviços,
do setor fi nanceiro e de atividades de inovação produtiva e tecnológica
(Soja, 2000). Os serviços são destacados por Lefebvre (2001b, p. 149), ao
afi rmar que “enfi m e sobretudo (sic), a cidade e aglomeração urbana con-
centram ‘serviços’”. Ainda, é possível argumentar que a própria transfor-
mação da cidade em mercadoria, inserida no processo de mercantilização
de tudo, colabore com a revalorização das áreas centrais.
No caso da explosão, além da própria realocação daqueles ativos e
atores que antes estavam concentrados nas áreas centrais da cidade,
Lefebvre (1999) fornece também uma explicação histórica-espacial para
o fenômeno. Basicamente, após apresentar o seu continuum (Figura 1), o
autor concatena as passagens entre a cidade política e a cidade comercial,
e entre esta e a cidade industrial. Com a descrição da cidade industrial,
afi rma que:
Estranho e admirável movimento que renova o pensamento dialético: a não-
-cidade e a anticidade vão conquistar a cidade, penetrá-la, fazê-la explodir, e
com isso estendê-la desmesuradamente, levando à urbanização da sociedade,
ao tecido urbano recobrindo as remanescências da cidade anterior à indústria.
(Lefebvre, 1999, p. 25).
Nesse caso, os termos “não-cidade” e “anticidade” são usados para se re-
ferir aos espaços que antes não possuíam os traços da cidade (estruturas
de poder, praças comerciais, monumentos, aglomerações humanas aden-
sadas) – locais de matérias-primas e fontes de energia perto das quais a
indústria inicialmente se localizou, à guisa de um modelo weberiano de
localização industrial. Assim, Lefebvre descreve a cidade industrial como
aquela que foi invadida pela lógica da produção industrial. Em seguida,
esse próprio modo de produção, após penetrar na cidade, é o que faz com
que ela exploda, levando então ao processo de urbanização extensiva e es-
praiamento do tecido urbano (Monte-Mór, 2007, 2014).
Sobre o tecido urbano, a explosão e a demografi a desse processo, o au-
tor afi rma:
328 Nova Economia� v.27 n.2 2017
Implosão e explosão na exópolis
Ora, ele não é camponês nem citadino. A urbanização se estende sobre os cam-
pos, mas degradada e degradante. Em lugar de uma absorção e reabsorção do
campo pela cidade, em lugar de superação de sua oposição, tem-se uma dete-
rioração recíproca: a cidade explode em periferias e o vilarejo se decompõe; um
tecido urbano prolifera no conjunto do país. Uma massa pastosa e informe resulta
desse processo: favelas, megalópoles. (Lefebvre, 2001a, p. 168).
Destarte, após ter apresentado o termo implosão-explosão, mostra-se
como é possível interpretar esses conceitos no contexto da chamada Pós-
-Metrópole. Além do que foi exposto na Introdução deste trabalho, Soja
(2000) considera que o termo Pós-Metrópole é adequado para estudar as
cidades contemporâneas, por entender que quase todo urbanista con-
corda que a reestruturação urbana mundial foi particularmente intensa
e generalizada nos últimos 40 anos. E, com esse termo, o autor pretende
estudar o que há de novo e diferente nessas cidades. O termo, com “Pós”,
indica não uma ruptura completa, mas um signifi cativo desvio das práti-
cas e aspectos tradicionais.
Nesse contexto, Soja (2000) apresenta diferentes discursos sobre a ci-
dade contemporânea no capítulo 8 de seu livro Postmetropolis. O primeiro
deles se refere às chamadas “megacidades” e/ou “galáxias metropolitanas”.
No contexto da Era Informacional, Castells (1996) descreve essas cidades
como pontos nodais da economia global, concentrando funções superiores
direcionais, produtivas e gerenciais sobre todo o planeta. Para esse autor,
essas aglomerações concentram tanto pobreza quanto riqueza, refl etindo o
aprofundamento da desigualdade que esse arranjo pode levar. De um ponto
de vista morfológico, Castells (1996, p. 207) afi rma que “megacidades são
constelações descontínuas de fragmentos espaciais, pedaços funcionais, e
segmentos sociais”. Sudjic (1992) usa o termo “100 Mile City” para denotar
sua escala expandida e sua forma “galáctica”. Embora esses dois autores
percebam os aspectos negativos das megacidades, também afi rmam que
elas tendem a permanecer como confi guração da cidade por muito tempo,
e destacam a difi culdade técnica de se delimitar suas fronteiras.
Há também as chamadas “Outer Cities”, conformação espacial urbana
que emerge da chamada “urbanização dos subúrbios”, termo proveniente
da obra de Muller (1976). Essa expressão paradoxal fez Soja (2000, p. 238)
questionar que “se o subúrbio estava se tornando ‘urbs’, onde nós estaría-
mos quando nos aventuramos fora da cidade?”. Outras metáforas foram
usadas no debate do fi nal dos anos 70 nos EUA: “a metrópole invertida”, “a
cidade virada de dentro para fora”, “urbanização periférica”, ou, numa ma-
neira mais compreensível, o termo pós-metrópole em si mesmo (Soja, 2000).
329v.27 n.2 2017 Nova Economia�
Almeida, Monte-Mór & Amaral
Outro discurso apresentado por Soja (2000) é captado pela expressão
Edge City”, decorrente da obra de Garreau (1991). Ele apresenta uma visão
otimista sobre a reestruturação urbana americana, focando sua análise na
natureza policêntrica das pós-metrópoles, evidenciados a partir de sím-
bolos como os shoppings centers e centro de escritórios e inovação, que ele
chamou de “Edge Cities8. Esse nome se deve ao fato desses aparelhos se
desenvolverem longe dos Central Business Districts (CDBs). Contrapondo
essa visão otimista, Bender (1996) adiciona aos termos até aqui descritos
à noção de “City Lite” – uma cidade que se torna difusa e opaca. Nesse
caso, o argumento é que a Pós-Metrópole teria perdido a característica de
cidade histórica que as precedentes teriam. Essa abordagem é mais focada
no que a Pós-Metrópole está deixando de ter em relação à Metrópole do
que no que está emergindo, e por isso Soja (2000) a chamou de “nostalgia
pós-metropolitana”9.
Nesse panorama, há também o chamado “Novo Urbanismo”, muito
alinhado com o discurso de marketing presente no mercado de condomí-
nios no Brasil atualmente. O Novo Urbanismo tenta oferecer produtos
diferenciados, alinhados com a ideia de vida bucólica e suave, tornando
os espaços “habitáveis” e agradáveis. Como as Edges Cities de Garreau, o
Novo Urbanismo pode ser facilmente percebido como “uma hiper simula-
ção oportunística de intervenção de marketing da utopia urbana para uma
classe média desgastada pela reestruturação econômica, amedrontada pelo
crime, e faminta por novas e melhores imagens da vida pós-metropolita-
na” (Soja, 2000, p. 250).
Todas essas descrições compartilham, explícita ou implicitamente, a
mesma noção: a era da Metrópole Moderna acabou. Mais recentemente,
termos como Cidade Neoliberal (Brenner; Theodore, 2002; Haughton et
al., 2013; Rolnik, 2013; Swyngedouw et al., 2002), Cidade-Região (Maga-
lhães, 2009; Parr, 2005) e Cidade Global (Fix, 2007; Sassen, 1991) vêm sen-
do recorrentemente usados. Como Soja (2000) assevera, isso não signifi ca
8 Alguns exemplos ocorrem em Pasadena (CA), Stanford (CT), Irvine no Orange County
(CA) e a Disney World em Orlando (FL). A crítica feita por Soja (2000) é que a fi xação em
algumas histórias de sucesso cegam a visão de Garreau para “o lado de baixo” da transição
pós-metropolitana. Cabe mencionar que o termo Edge City apareceu na propaganda dos gran-
des projetos do Governo de Minas Gerais para o vetor norte da RMBH desenvolvidos a partir
de 2003, dentro do amplo escopo da chamada Aerotropolis.
9 A crítica de Soja (2000) é que aqui também há uma hipérbole, dessa vez pessimista, ao
atribuir às cidades precedentes uma visão romântica sobre algo que nunca existiu – a cidade
moderna nunca foi tão “amena”.
330 Nova Economia� v.27 n.2 20 17
Implosão e explosão na exópolis
que a metrópole enquanto categoria de análise desapareceu, mas que sua
dominância social, cultural, política e econômica como uma forma orga-
nizacional distintiva do habitat humano não é mais como foi; e que uma
nova forma urbana e de habitat (e de mercado habitacional) está emergin-
do, não como um substituto completo, mas como a fronteira do desenvolvi-
mento urbano contemporâneo.
Tabela 1 Termos usados para denotar as cidades contemporâneas
Taxionomia Autor
Outer City
Muller (1976)
Edge City
Garreau (1991)
Global City
Sassen (1991)
100Mile City
Sudjic (1992)
Megacidades ou Galáxias Metropolitanas Castells (1996)
City Lite
Bender (1996)
Exópolis Soja (2000)
Cidade Neoliberal Brenner e Theodore (2002); Haughton
et al
. (2013); outros
Cidade-Região Parr (2005); outros.
Fonte: Elaboração própria.
O termo que ele mesmo elabora para denotar a Pós-Metrópole é “Exópo-
lis”. Além do que foi exposto na Introdução deste trabalho, o termo Exó-
polis é usado para signifi car uma síntese recombinante e uma extensão.
A Exópolisé produto de
Ambas descentralização e recentralização, desterritorialização e reterritoriali-
zação, contínua extensão e nucleação urbana intensifi cada, crescente homoge-
neidade e heterogeneidade, integração e desintegração socioespacial, e mais. A
complexa Exópolis pode ser metaforicamente descrita como a “cidade virada de
dentro para fora”, como na urbanização dos subúrbios e na ascensão da Outer
City. Mas ela também representa “a cidade virada de fora para dentro”, a
globalização da Inner City que traz todas as periferias do mundo para o centro
(...). Isso redefi ne a Outer e a Inner City simultaneamente, enquanto torna
cada um desses termos mais e mais difíceis de delinear e mapear com alguma
clareza ou convicção. (Soja, 2000, p. 250. Tradução e grifos nossos).
Neste ponto, vê-se a ligação que pode ser feita entre o que Soja (2000) en-
tende como a Pós-Metrópole (nomeadamente, a Exópolis) e os conceitos
de implosão e explosão aqui trabalhados, uma vez que esses dois autores
tratam de fenômenos socioespaciais semelhantes, ao menos em relação ao
lócus em que eles se dão. Esses dois fenômenos são abarcados, simultanea-
331v.27 n.2 2017 Nova Economia�
Almeida, Monte-Mór & Amaral
mente, pela ideia de Exópolis – implosão e explosão sendo interpretados
como a redefi nição da Inner e da Outer Cities.
Portanto, diante da necessidade “técnica” de se defi nir os termos com
que irão se trabalhar, a implosão é aqui defi nida como um fenômeno que
ocorre na área central da metrópole, que pode se manifestar como uma
revitalização ou consolidação dessa área enquanto espaço privilegiado.
Esse fenômeno pode ser compreendido sob vários aspectos, a saber, eco-
nômicos, imobiliários, demográfi cos, arquitetônicos, culturais, etc., que
tendem a se alterar, ao menos em alguma medida, simultaneamente. Esse
fenômeno não necessariamente ocorre, isto é, é possível que esta área se
mantenha estável na hierarquia urbana em seus vários aspectos. Ademais,
é fundamental considerar que existem diversos tipos de experiências de
revitalizações, ou mesmo que existem espaços centrais que nunca se de-
gradaram. Em outras palavras, a defi nição dada aqui é apenas uma entre
as várias possíveis, de modo que se possa produzir uma hipótese minima-
mente “testável”. Assim, sinteticamente, a hipótese da implosão pode ser
escrita como:
HIPÓTESE 1 (H1) – IMPLOSÃO: A área central está ascendendo na hie-
rarquia imobiliária residencial urbana.
Na tentativa de defi nir explosão, entende-se que é um fenômeno que
ocorre nos antigos subúrbios da metrópole, agora já transformada em Exó-
polis, e que se manifesta na extensão, dispersão e espraiamento da urba-
nização sobre essas áreas. Bem como na implosão, esse fenômeno não
necessariamente ocorre, sendo teoricamente possível que os subúrbios das
metrópoles continuem estáveis em relação à estrutura e à hierarquia urba-
na. Além disso, como no caso da implosão, a explosão pode ser apreendida
em diversas facetas, em seus aspectos econômicos, imobiliários, demo-
gráfi cos, arquitetônicos, culturais, etc., que tendem a ocorrer, ao menos
em alguma medida, simultaneamente. Bem como foi feito no caso da im-
plosão, busca-se um enunciado sintético para essa hipótese, que pode ser
escrita como:
HIPÓTESE 2 (H2) – EXPLOSÃO: o mercado imobiliário residencial está
se estendendo pela metrópole.
É fundamental notar, sobre esses conceitos, que eles devem ser inter-
pretados como “rodadas” de implosões e explosões do espaço ao longo
do tempo. Isso é importante de se destacar, entre outras razões, devido à
parte empírica deste trabalho. Ao considerar certo intervalo ou ponto para
332 Nova Economia� v.27 n.2 2017
Implosão e explosão na exópolis
coleta dos dados, o que se deve entender é que se trata de rodadas espe-
cífi cas desses processos, e de maneira alguma suas formas defi nitivas ou
seu isolamento ideal no tempo. Ainda, é também essencial contextualizar
o período dos dados coletados com o momento que a economia brasilei-
ra viveu, com um fabuloso crescimento do setor da construção civil e do
crédito imobiliário. Por questão de escopo, este trabalho não realiza essa
contextualização, embora reconheça que as dinâmicas da H1 e H2 são
profundamente dependentes desse contexto10. A próxima seção apresenta
a metodologia com a qual se pretendeu lidar de maneira empírica, ainda
que de maneira simplifi cada, com essas questões.
3 Implosão e explosão: a empirização da hipótese
A respeito do mercado imobiliário residencial, por meio do qual foi rea-
lizado o exercício empírico ilustrativo das hipóteses H1 e H2, este traba-
lho contempla dois bancos de dados: um construído a partir dos dados de
ITBI11 para Belo Horizonte, e outro construído a partir do site Net Imóveis,
para a RMBH. O primeiro banco de dados conta com dois períodos: 2007
e 2013 (dados mensais que foram agregados em cada um dos anos). Nele,
a unidade de análise é a Unidade de Planejamento (UP)12, que agrega um
ou mais bairros de Belo Horizonte. A tipologia de imóvel considerada é
“apartamento”, pois nesses dados essa tipologia é mais homogênea do que
casas e lotes, e oferece uma melhor descrição de uma cidade densa e ver-
ticalizada como Belo Horizonte. O ITBI é um tributo cobrado sobre cada
operação de compra/venda ou permuta de um imóvel, a partir de um valor
declarado do bem, sendo condição necessária para o registro em cartório
da transferência do imóvel. Sobre o segundo, foi possível obter apenas
10 Para uma abordagem mais ampla do processo de produção imobiliária e sua relação com
a reestruturação produtiva e metropolitana, ver Fix (2007) e Rolnik (2015).
11 Os dados relativos ao ITBI foram fornecidos pela PBH ao Instituto de Pesquisas Econô-
micas, Administrativas e Contábeis (Ipead), que os repassaram ao autor deste trabalho. No
caso de compra, o imposto é recolhido pelo comprador, e no caso de permuta, os dois lados
envolvidos dividem o pagamento do imposto.
12 A UP foi escolhida como unidade espacial de análise, pois os bairros são muito numero-
sos (ultrapassam 400 unidades) e tornariam difícil a visualização e interpretação dos resulta-
dos. A UP, forma de agregação criada pela PBH em 1996, deve conter: homogeneidade nas
características de ocupação; ausência de barreiras geográfi cas; e deve respeitar os limites dos
principais distritos (Aguiar, 2010).
333v.27 n.2 2017 Nova Economia�
Almeida, Monte-Mór & Amaral
dados para 2014, dado que se trata de uma metodologia recente. Obvia-
mente, isso representa uma limitação severa deste artigo, uma vez que
o fenômeno da explosão é iminentemente dinâmico. Entretanto, mesmo
com apenas uma “foto”, ao invés de um “fi lme” do processo, já é possível
notar alguns padrões atuais da RMBH, no caso da explosão.
Esses anúncios de imóveis foram coletados utilizando-se um “robô”
(crawler), que tem a capacidade de copiar as informações relativas a pre-
ços, área, tipo e local de cada site de anúncios virtuais. Os sites listados
foram: Rede Morar, Net Imóveis, Rede Invista, Zap Imóveis, OLX e Bom
Negócio. Após comparação entre esses sites, optou-se pela rede “Net Imó-
veis” devido à maior abrangência da RMBH e maior número total de ob-
servações. Essa plataforma baseia seus anúncios nas informações advin-
das das corretoras de imóveis associadas. Vale mencionar que, segundo
a empresa, a Net Imóveis é responsável por mais de 90% dos negócios
das suas empresas associadas, sendo o principal anunciante de imóveis
nas cidades onde opera. Nesse contexto, é importante recordar as outras
formas de obtenção de dados que outras experiências de pesquisa e plane-
jamento tiveram para a RMBH. Os estudos elaborados por Plambel (1987)
e UFMG (2011) foram construídos a partir de dados retirados de jornais
de balcão. Melazzo (2007) também utilizou essa técnica para algumas
cidades “médias” do Brasil. Essa estratégia pareceu inadequada para a rea-
lidade dos anúncios do mercado imobiliário atual na RMBH, pois hoje há
enorme relevância dos meios eletrônicos nesses tipos de anúncios. Ade-
mais, esse banco de dados é de mais fácil verifi cação (é possível ver fotos
e entrar em contato com o anunciante rapidamente) e pode ser mais facil-
mente atualizado. Esta opção parece não apresentar severos problemas de
seletividade, uma vez que todos os municípios apresentam anúncios de
pelos menos um tipo de imóvel, além de diversas faixas de preços terem
sido captadas. A tipologia considerada para a RMBH foi “casa”, por ser a
tipologia mais recorrente.
Sobre os métodos empregados, os métodos de classifi cação podem ser
descritos como procedimentos estatísticos que visam classifi car grupos
homogêneos internamente permitindo gerar estruturas agregadas signifi -
cativas e desenvolver tipologias analíticas. Dessa forma, pode-se proceder
a uma classifi cação tal que se dividam as n observações em k classes mais
homogêneas possíveis e que as classes sejam as mais distintas entre si (Si-
mões, 2003).
334 Nova Economia� v.27 n.2 2017
Implosão e explosão na exópolis
Sendo assim, este trabalho procedeu a uma classifi cação dos imóveis
residenciais de Belo Horizonte e da RMBH em busca de evidências empí-
ricas para confrontar as H1 e H2, utilizando conjuntamente variáveis de
preço médio13 e quantidade (transacionadas ou anunciadas). Isso signifi ca,
por exemplo, que se os imóveis da área central da capital podem ser agru-
pados na mesma classe que imóveis de áreas menos valorizadas da cidade,
há evidências de uma decadência daquela área. No caso da explosão, por
exemplo, se há uma formação de clusters de certa tipologia de imóvel com
uma destinação específi ca no arranjo espacial da RMBH, há uma evidência
de que o mercado imobiliário da região refl ete o espraiamento e dispersão
pela região, guiados pela lógica da acumulação capitalista. O algoritmo
utilizado foi o FANNY, que foi implementado no software R14. O número
de grupos, defi nidos a priori pelos pesquisadores, foi igual a quatro, k=4. A
comparação com uma estrutura de divisão social do tipo “padrãoluxo, alto,
médio e popular” foi a principal motivação desta escolha, mas também
foram testados também k=3 e k=5; essa divisão em quatro grupos segue
aquela feita pelo Ipead desde 1986 para a pesquisa mensal do mercado
imobiliário de Belo Horizonte.
Cabe notar que, embora uma simples plotagem da dispersão de preços
médios e quantidades poderia fornecer algumas informações similares ao
do método empregado, essa opção não permitiria uma divisão mais clara
das unidades espaciais em grupos mais ou menos homogêneos, e que a
padronização das variáveis (explicada adiante) faz com que os eixos não
sejam compostos pelas duas variáveis, mas por uma combinação entre
elas. Isso pode ser prontamente visualizado a partir dos resultados gerados
pelo R no caso do Fuzzy Cluster. Também foi realizada uma análise espacial
13 No caso da base de dados advinda do ITBI, foi usado o preço médio dos imóveis da UP,
e no caso da base do NetImóveis, foi usado o preço médio por metro quadrado de cada mu-
nicípio. Embora fosse preferível uma análise sobre o preço médio por m², ao se considerar
a área total do imóvel, que inclui a área da vaga de garagem e recuo do prédio, o preço por
m² tornou-se muito baixo, enquanto, ao considerar apenas a área construída, esse preço se
tornou muito alto. “Alto” e “baixo” nesse caso são relativos aos preços que se tem conheci-
mento nesse mercado. Embora isso não seja um problema em si, já que este trabalho foca-se
na hierarquia entre os espaços e não em preços absolutos, preferiu-se deixar os preços dos
apartamentos tais como aparecem nas transações, o que pode servir para referências futuras
mais acuradas sobre os preços de apartamentos nos anos deste trabalho. Mais problemático
do que isso é o fato de que havia considerável quantidade de missings para a variável área
construída, o que diminuiria o tamanho da amostra.
14 A métrica de dissimilaridade adotada foi baseada na distância euclidiana. Essa escolha se
deve ao fato dessa ser a métrica de dissimilaridade mais usual, e não haver razões teóricas
claras para não usá-la ou usar outro tipo de métrica.
335v.27 n.2 2017 Nova Economia�
Almeida, Monte-Mór & Amaral
a partir dos Local Indicators of Spacial Association (LISA), porém, essa análise
foi omitida devido ao tamanho requerido para o artigo.
Mapa 1 Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) – Divisão política atual
Fonte: PBH (2015)
15
.
15 Disponível em: http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/comunidade.do?evento=p
ortlet&pIdPlc=ecpTaxonomiaMenuPortal&app=estatisticaseindicadores&lang=pt_
BR&pg=7742&tax=34222
0
UTMSAD6923S
Organização:GPDS/SMAPL/SMPL
BaseCartográfica:PRODABEL/IBGE
5km
Igarapé São Joaquim
de Bicas
Sarzedo
Sabará
Belo
Horizonte
Santa
Luzia
Ribeirão
das Neves
Nova
Lima
Mário
Campos
Esmeraldas
São José
da Lapa
Vespasiano
Mateus
Leme
Brumadinho
Pedro
Leopoldo Nova
União
Lagoa
Santa
Capim
Branco
Taquaraçu
de Minas
Rio Manso
Matozinhos
Confins
Baldim
Betim
Caeté
Contagem
Florestal
Ibirité
Itaguara
Itatiaiuçu
Jaboticatubas
Juatuba
Raposos
Rio Acima
Região Metropolitana
de Belo Horizonte
336 Nova Economia� v.27 n.2 20 17
Implosão e explosão na exópolis
Mapa 2 Unidades de Planejamento (UPs) de Belo Horizonte, com área central destacada
Fonte: PBH (2015)
16
.
Ademais, o Mapa 1 e o Mapa 2 buscam esclarecer sobre os objetos de es-
tudo, Belo Horizonte e a RMBH. O Mapa 1 expõe a RMBH com a divisão
16 Disponível em: http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/comunidade.do?evento=portlet
&pIdPlc=ecpTaxonomiaMenuPortal&app=estatisticaseindicadores&tax=33804&lang=pt_
BR&pg=7742&taxp=0&
OESTE
BARREIRO
CENTRO-SUL
NOROESTE
LESTE
NORDESTE
PAMPULHA
NORTE
VENDA NOVA
Brumadinho
Sabará
Nova Lima
Santa Luzia
Contagem
Ibirité
Ribeirão
das Neves
Vespasiano
Barreiro- Sul
Glória
Pampulha
Jatobá
Baleia
PUC
Gorduras
Betânia
Jaraguá
Isidoro Norte
Cabana
Lindéia
Jaqueline
Belmonte
UFMG
Barreiro de Cima
Caiçara
Savassi
Mangabeiras
Barroca
Cardoso
Ouro Preto
Santa Amélia
Castelo
Piratininga
Boa Vista
Copacabana
Tupi/Floramar
Taquaril
Capitão Eduardo
São Paulo/Goiânia
Sarandi
Padre Eustáquio
Céu Azul
Planalto
Pompéia
Centro
Camargos
Jardim América
Antônio
Carlos
Estoril/Buritis/Pilar Oeste
Serra Verde
Belvedere
Garças/Braúnas
Cristiano
Machado
Abílio
Machado
Serra
Mantiqueira/Sesc
Barreiro de Baixo
São Bernardo
Santa
Efigênia
Cachoeirinha
Instituto
Agronômico
Venda Nova
Santa Maria
Olhos D'Água
Furquim
Werneck
Anchieta/Sion
Bairro das Indústrias
Jardim Europa
Primeiro
de Maio
Ribeiro de Abreu
Cafezal
Concórdia
São Bento/
Sta. Lúcia
Floresta/Santa Tereza
Santo
Antônio
São
Francisco
Jardim
Montanhês
Santa Inês
Francisco
Sales
Barro
Preto
Prudente
de Morais
São
João
Batista Jardim
Felicidade
Morro das
Pedras Barragem
Confisco
Prado
Lopes
Mariano de Abreu
600000
600000
610000
610000
620000
620000
Unidades de Planejamento (UPs)
de Belo Horizonte
0 2,5 51,25 Km
SECRETARIA MUNICIPAL ADJUNTA DE GESTÃO COMPARTILHADA
SALA DE SITUAÇÃO
FONTE: IBGE, 2007; PRODABEL, 2011; SMAPL, 2012.
Municípios da RMBH
Regionais (9)
Unidades de Planejamento (80)
Projeção Universal Transversa de Mercator
Fuso 23S - Datum SAD 69
RMBH
BH
Ü
337v.27 n.2 2017 Nova Economia�
Almeida, Monte-Mór & Amaral
política de seus 34 municípios. Cabe mencionar que para a H2 foram con-
siderados apenas aqueles municípios que possuíam mais de 30 observa-
ções, de modo que restaram na base 19 municípios. O Mapa 2 apresenta a
divisão política das 80 UPs da cidade, com a área central (considerada lócus
da possível implosão), defi nida a partir da Avenida Contorno, destacada.
A Figura 2 e a Tabela 2 apresentam, respectivamente, a visualização dos
grupos (clusters) e o grau de pertencimento para algumas UPs selecionadas
de Belo Horizonte para o primeiro ano da amostra, 2007. Nesse tipo de
gura, os componentes 1 e 2, presentes em cada um dos eixos, explicam
100% da variabilidade dos pontos da dispersão. É importante lembrar que
esses componentes 1 e 2 são obtidos a partir da padronização das variá-
veis, de modo que não são preços médios ou quantidades, mas uma com-
binação entre elas feitas a partir do algoritmo. Os círculos representam os
clusters, tendo um total de quatro clusters, e cada ponto é marcado por uma
forma geométrica igual aqueles que pertencem ao mesmo cluster – ou seja,
todas as UPs que pertencem ao cluster 4 foram marcadas com um “X” e to-
das que pertencem ao cluster 1, com um círculo, por exemplo. Os graus de
pertencimento indicados nas tabelas informam o quanto cada um desses
pontos pertencea cada um dos grupos.
Os nomes dados aos clusters seguem a classifi cação feita pelo Ipead em
sua pesquisa mensal sobre o mercado imobiliário de BH, que, por sua vez,
baseia-se no rendimento médio do chefe de família dos bairros. Dessa for-
ma, têm-se bairros dos padrões “luxo, alto, médio e popular”.
Dessa forma, as Figuras 2 e 3 informam uma predominância de UPs
da regional Centro-Sul de Belo Horizonte ao cluster 4, de modo que este
pode ser identifi cado como o cluster das áreas mais nobres. O cluster 3 é
composto por UPs destinadas a moradores de classes médias altas; cluster
2 por áreas principalmente destinadas às classes médias; e o cluster 4 é
iminentemente popular. Assim, UPs como Belvedere, Savassi e Anchieta/
Sion, localizadas ao sul do centro do capital, destacam-se pelos elevados
preços médios e quantidades transacionadas, e UPs como Bairro das Indús-
trias, Jardim Felicidade, Morro das Pedras e Barreiro de Baixo, localizados
em bordas da cidade ou constituindo favelas em meio aos bairros de elite,
confi guram aglomerações de moradias populares. É interessante notar que
os apartamentos das UPs são mais homogêneos conforme são mais popu-
lares: uma ilustração do que Lefebvre (2001a, p. 168) chamou de “massa
pastosa e informe”.
338 Nova Economia� v.27 n.2 2017
Implosão e explosão na exópolis
Figura 2 Visualização dos
clusters
para apartamentos das UPs– BH (2007)
Fonte: Resultados da pesquisa.
Fonte: Resultados da pesquisa.
Figura 3 Visualização dos
clusters
para apartamentos das UPs– BH (2013)
339v.27 n.2 20 17 Nova Economia�
Almeida, Monte-Mór & Amaral
Tabela 2 Graus de pertencimento para apartamentos das UPs aos
clusters
– BH (2007)
UP
Cluster
1 (%)
Popular
Cluster
2 (%)
Médio
Cluster
3 (%)
Médio/Alto
Cluster
4 (%)
Luxo/Alto
Distância ao
CBD
(km)
Barro Preto 19 68 9 5 1,5
Santa Inês 26 50 15 9 7,5
Centro 21 30 36 13 -
PUC 19 38 32 11 7, 0
Francisco Sales 16 24 37 22 2,0
Jaraguá 8 11 70 12 9,0
Savassi 15 17 24 43 2,5
Belvedere 21 22 25 32 8,0
Fonte: Resultados da pesquisa.
Na construção das Tabelas 2 e 3, selecionaram-se as UPs da área central,
e nas linhas abaixo de cada uma delas, foram escolhidas UPs suburbanas,
porém, semelhantes em termos do mercado de apartamentos. A última
coluna dessas Tabelas informa a distância do núcleo desses bairros até a
Praça Sete de Setembro, entendida como o CBD da cidade, medida a partir
da tecnologia Google Maps. Essa forma de apresentação provocativa bus-
cou mostrar como a distância ao CBD não é mais sufi ciente para explicar a
hierarquia nesse mercado – ao contrário do que ainda prega a doutrina de-
rivada dos modelos de Economia Urbana neoclássica17. Dessa forma, mes-
17 Entre esses modelos, destacam-se aqueles do tipo Alonso-Mills-Muth (AMM). Sobre essa
classe de modelos, ver Brueckner (1987) ou Thisse (2011). Uma crítica detalhada e uma pro-
Tabela 3 Graus de pertencimento para apartamentos das UPs aos
clusters
– BH (2013)
UP
Cluster
1
(%)
Cluster
2
(%)
Cluster
3
(%)
Cluster
4
(%)
Distância do
CBD
(km)
Barro Preto 26 30 30 13 1,5
Santa Inês 24 28 33 15 7, 5
Centro 29 41 22 7 -
PUC 27 37 27 87,0
Francisco Sales 21 25 39 15 2,0
Jaraguá 14 16 47 23 9,0
Savassi 17 18 25 41 2,5
Belvedere 21 22 26 31 8,0
Fonte: Resultados da pesquisa.
340 Nova Economia� v.27 n.2 2017
Implosão e explosão na exópolis
mo que Belo Horizonte ainda possua uma grande concentração de serviços
em sua área central (UFMG, 2011, 2014), nota-se uma grande dispersão de
bairros de classes médias altas e altas fora dessa centralidade primária. Em
outras palavras, há evidências de que a moradia se desconcentrou, sem
que os serviços se desconcentrassem na mesma medida – resultado que
traz em si uma implicação óbvia para o trânsito da cidade. Nas Tabelas 2
e 3, essas novas aglomerações de apartamentos destinados para aquelas
classes são representados pelas UPs Santa Inês, PUC, Jaraguá e Belvede-
re. Ainda podem ser destacados UPs como Estoril/Buritis, Cristiano Ma-
chado, Barroca, Jardim América, Castelo e Ouro Preto, que embora não
pertençam à Regional Centro-Sul, historicamente regional mais nobre da
cidade, podem ser agrupadas no cluster 4 (alto padrão).
Quanto à hipótese específi ca da implosão (H1), a própria heterogenei-
dade interna da área central difi culta alguma interpretação mais direta, de
modo que se deve analisar caso a caso. A UP Barro Preto claramente ele-
vou-se na hierarquia imobiliária de apartamentos no período considerado,
passando do cluster 2 para o cluster 3. Vale notar que inicialmente (2007)
essa era a UP da área central com maior proximidade em termos de grau de
pertencimento ao cluster das UPs mais populares, e que historicamente este
é um bairro de origens operárias (Barros, 2001; Villaça, 2001). Neste caso,
há evidência da implosão – no sentido de uma retomada da área central ou
da “cidade se rebatendo sobre si mesma”, nos termos de Costa (1994). Ou
seja, essa fração da área central, que nos primórdios foi destinada à habita-
ção das classes operárias, e que no início da década ainda apresenta traços
populares, vem se tornando cada vez mais ocupado por novos produtos
imobiliários oferecidos às classes médias altas.
Em contraposição, a UP Centro apresentou evidências de um movi-
mento contrário: de predominantemente pertencente ao cluster 3 (médio
alto) passou para predominantemente pertencente ao cluster 2 (médio).
Dessa maneira, esses dados refl etem uma decadência dessa UP (que é
composta apenas pelo próprio bairro Centro), o que contraria retóricas
sobre um eventual processo de gentrifi cação do Centro de Belo Hori-
zonte. As elites, no século XXI, parecem ainda estar longe de habitar os
velhos apartamentos e as fachadas mofadas dos arranha-céusdo antigo
centro da capital planejada.
posta alternativa podem ser encontradas em Abramo (2007).
341v.27 n.2 2017 Nova Economia�
Almeida, Monte-Mór & Amaral
No caso das UPs Francisco Sales e Savassi, os métodos ilustraram um
período mais de inércia do que de dinâmica, isto é, essas UPs continuaram
com graus de pertencimento semelhantes nos dois períodos. Dessa forma,
a Francisco Sales continua pertencendo majoritariamente ao cluster 3 (mé-
dio alto), e a Savassi continua se destacando no cluster 4 como área de luxo
que é. É fundamental destacar, entretanto, que essas UPs, e em especial a
Francisco Sales18, possuem grande heterogeneidade interna, de modo que
esses resultados podem não refl etir o comportamento de áreas específi cas
dentro de cada uma dessas unidades espaciais.
Para a hipótese específi ca da explosão (H2), foram elaboradas a Figura 4
e a Tabela 4, nas quais se visualizam quatro clusters, sendo que BH constitui
um cluster de um único elemento. Na Tabela 4, isso é refl etido pelo grau de
pertencimento de 99% ao cluster 1. O único município que de certa manei-
ra se aproxima desse cluster é Contagem, com grau de pertencimento de
22%, ainda assim muito distante do valor apresentado para BH. Dessa for-
ma, esse resultado corrobora a natureza hipercentral da RMBH, segundo a
qual a capital apresenta-se de maneira muito distinta dos demais municí-
pios. Para o mercado de casas, esses dados mostram que BH se difere em
ambos os componentes analisados.
Tabela 4 Graus de pertencimento para casas dos municípios aos
clusters
– RMBH (2014)
Município
Cluster
1 (%)
Capital
Cluster
2 (%)
Industrial
Cluster
3 (%)
Condo.
Cluster
4 (%)
Popular
Distância do
CBD
(km)
Belo Horizonte 99 0 0 0 -
Betim 6 45 21 28 33
Brumadinho 1 8 86 5 57
Contagem 22 29 27 23 20
Esmeraldas 3 39 10 49 60
Ibirité 2 66 15 17 30
Igarapé 1 9 3 88 47
Jaboticatubas 5 18 64 12 62
Juatuba 2 33 7 59 52
Lagoa Santa 3 30 52 14 38
18 Esta UP é marcada pela presença da área hospitalar de Belo Horizonte, e no planejamento
inicial da cidade, em 1897, havia sido destinada principalmente aos militares. Ademais, é
ao mesmo tempo muito próxima ao centro, às zonas boêmias de Santa Teresa e Floresta, e
também contígua às áreas nobres do sul de BH.
342 Nova Economia� v.27 n.2 2017
Implosão e explosão na exópolis
Município
Cluster
1 (%)
Capital
Cluster
2 (%)
Industrial
Cluster
3 (%)
Condo.
Cluster
4 (%)
Popular
Distância do
CBD
(km)
Mario Campos 1 15 5 79 45
Mateus Leme 1 9 3 87 59
Nova Lima 12 25 44 19 32
Rib. das Neves 120 574 40
Sabará 1 8 86 5 20
Santa Luzia 2 46 7 45 18
São J. de Bicas 1 8 3 88 43
Sarzedo 2 63 8 28 32
Vespasiano 2 68 11 19 29
Fonte: Resultados da pesquisa.
Nesse contexto, o cluster 2 (“industrial”) é composto pelos municípios de
Contagem, Betim, Santa Luzia, Sarzedo, Ibirité e Vespasiano. Esses mu-
nicípios são densamente povoados, vinculados à produção industrial da
metrópole, seja pela presença das indústrias em seus territórios, seja como
reservatórios de mão de obra para outros municípios. Em outras palavras,
são espaços habitados por trabalhadores de “colarinho azul”, classes mé-
dias industriais, e de serviços destinados a elas. Além disso, todos são con-
tíguos a BH, às exceções de Betim e Sarzedo.
Com características semelhantes ao cluster 2 (“industrial”), porém em
posição hierárquica inferior, o cluster 4 (“popular”) agrupa os municípios de
Ribeirão das Neves, Esmeraldas, Mateus Leme, Igarapé, São Joaquim de
Bicas, Mário Campos e Juatuba, pertencentes aos vetores sudoeste e no-
roeste da RMBH. Nesse caso, trata-se de espaços associados aos reservató-
rios de mão de obra do eixo industrial, espaços de moradias precárias e ei-
xos de expansão ao longo das rodovias federais (BR-381, BR-040 e BR-262).
Diferentemente dos clusters 2 e 4, o Cluster 3 (“condomínios”) representa
municípios que possuem preços médios mais elevados do que a média
da RMBH. Neste grupo de municípios de preços médios mais elevados
relativamente, Sabará foi agrupado devido à contiguidade a BH, e a al-
guns lançamentos de condomínios e sítios em seus distritos. Nova Lima,
Jaboticatubas, Brumadinho e Lagoa Santa refl etem a lógica dos espaços da
hipersimulação19 fornecidos pelos empreendedores dos condomínios – ou
19 O processo de hipersimulação refere-se ao Novo Urbanismo, que visa vender uma ima-
gem de espaços bucólicos para classes desgastadas pela vida metropolitana. Sobre isso, ver
343v.27 n.2 2017 Nova Economia�
Almeida, Monte-Mór & Amaral
seja, residências em condomínios fechados próximos a reservas naturais,
destinados às classes altas da capital como sítio de fi m de semana ou, de
maneira cada vez mais frequente, moradia.
Figura 4 Visualização dos
clusters
para casas dos municípios – RMBH (2014)
Fonte: Resultados da pesquisa.
Esses resultados mostram, portanto, que a distância também não é res-
trição para o espraiamento daqueles espaços ligados à capital, seja no
caso dos condomínios fechados, seja no caso dos trabalhadores que
necessitam realizarmovimento pendular. Municípios como Jaboticatu-
bas e Esmeraldas, que distam 62 e 60 km do centro capital20, respectiva-
mente, apresentam-se como integrados na dinâmica do funcionamento
do capitalismo nessa metrópole. Ademais, corroboram a hipótese da
explosão nessa Exópolis, com o urbano se estendendo em várias dire-
ções no crescimento urbano precisamente ordenado e dirigido a grupos
sociais muito específi cos.
Nesse amplo panorama de reestruturação do mercado residencial, tra-
ços gerais da economia global(izada), e do modelo brasileiro sobremanei-
ra, são percebidos. Grandes incorporadoras e construtoras, inseridas na
Soja (2000). Sobre os condomínios na RMBH, ver Costa et al. (2006).
20 Neste caso, as distâncias também foram medidas a partir do Google Maps, usando a sede
dos municípios como referência. Reconhece-se, entretanto, que em alguns casos a dinâmica
imobiliária captada por esses dados se dão em áreas relativamente distantes dessas sedes. No
caso de Nova Lima, a distância foi calculada até o Condomínio Alphaville Lagoa dos Ingleses,
por representar centralidade mais evidente do que a sede do município.
344 Nova Economia� v.27 n.2 2017
Implosão e explosão na exópolis
dinâmica da fi nanceirização mundial a partir da participação dos fundos
de investimentos em suas composições acionárias, e empresas médias
e pequenas, alavancadas pela grande liquidez internacional do período
pós-crise de 2008, reconfi guram o morar do cidadão metropolitano no
século XXI. Aliadas a um Estado em grande medida capturado, deter-
minam os espaços de moradia, segmentando-os e segregando-os a par-
tir dos perfi s de demanda, reproduzindo no espaço as disparidades das
metrópoles de estrutura desigual e combinada21, segregada, contendo “Al-
phavilles e Alfavelas” (Tonucci Filho, 2008). Como dizia Carlos Nelson
Santos, “nas cidades, desordem é só a ordem que não é transparente”.
4 Conclusões
Centro e periferia, centralidade e subúrbio, Inner e Outer City, espaços pri-
vilegiados e tecido urbano. A metáfora da implosão-explosão busca captar
a história dessas narrativas sobre o espaço urbano contemporâneo. A Exó-
polis, o conceito que representa um desvio da cidade “Pré-Pós-Metropoli-
tana”, apresenta outra possibilidade de entendimento dessas novas mor-
fologias e tendências espaciais das cidades. Uma miríade de termos, que
variam em originalidade ou mesmo criatividade, e que de alguma maneira
buscam traçar o mesmo quadro analítico: aquilo que estava “dentro” da
cidade e aquilo que estava “fora” dela são dependentes das fases e da di-
nâmica de acumulação do capitalismo e do processo de desenvolvimento
econômico, e que as últimas décadas subverteram muito do entendimento
convencionado que havia sobre essas categorias.
Diante desses fenômenos, este trabalho, além de apresentá-los e buscar
dar alguma clareza a esses termos, procurou evidências empíricas de suas
ocorrências para um caso específi co – Belo Horizonte e sua região metro-
politana. Os resultados mostraram que há uma elevada heterogeneidade
interna na área defi nida como central dessa cidade, e que as trajetórias cap-
tadas também são distintas. Além de tornar de certa maneira inconclusiva
a hipótese da implosão, essa heterogeneidade pode difi cultar discursos em
qualquer uma das direções do desenvolvimento urbano local e da política
urbana para essas áreas.
21 Ver Dunford e Liu (2017); Oliveira (1981).
345v.27 n.2 2017 Nova Economia�
Almeida, Monte-Mór & Amaral
Caso se considere apenas o Centro, ao invés de toda área defi nida pela
Avenida do Contorno, as narrativas sobre gentrifi cação (Betancur, 2014;
Siqueira, 2014; Smith, 1996), cada vez mais presentes no debate acadêmi-
co e político, não parecem se verifi car através do mercado imobiliário de
apartamentos dessa área. Obviamente, para que se discuta com proprieda-
de esse processo, variáveis demográfi cas e dos setores de serviços devem
ser incluídas na análise – tarefa que este trabalho não realiza, e deixa como
possibilidade para futuras pesquisas. Ademais, é possível que o processo
de implosão seja potencialmente mais viável em metrópoles globais, como
São Paulo, do que em Belo Horizonte, proporcionalmente menos conecta-
da como ponto nodal da globalização.
Para a hipótese da explosão, vê-se claramente um padrão urbano orde-
nado por um mercado que oferece produtos específi cos para públicos dis-
tintos em locais determinados. Dessa maneira, além da “opção” de mora-
dia em Belo Horizonte, o cidadão metropolitano possui como alternativas
as aglomerações destinadas às classes médias e populares historicamente
industriais, em municípios como Contagem, Betim, Ibirité, Vespasiano,
Sarzedo e Santa Luzia; as aglomerações em municípios hierarquicamente
inferiores a estes, mas com lógicas semelhantes, como Juatuba, Ribeirão
das Neves, Esmeraldas, Mateus Leme, Igarapé, S. J. de Bicas e Mário Cam-
pos; ou nos condomínios e casas (sítios) em municípios como Nova Lima,
Jaboticatubas, Brumadinho e Lagoa Santa, porém esses imóveis têmperfi s
muito diferentes. Nesse processo, as aspas na palavra opção são clarividen-
tes: para a imensa maioria da população, não há uma escolha livre sobre o
local de moradia, mas uma adequação às necessidades diante das ofertas
cirurgicamente direcionadas pelo mercado. Vale notar, também, que há
uma variabilidade interna dentro desses municípios, de modo que osdados
não capturaram na média as moradias populares que existem em municí-
pios como Nova Lima, Brumadinho, Sabará, Jaboticatubas e Lagoa Santa.
Nos termos da hipótese da explosão em si, esses dados mostram que
de fato o mercado imobiliário residencial da RMBH se estendeu enorme-
mente, seja nas moradias populares ou no caso dos condomínios fechados.
Os imóveis destinados aos moradores das cidades de “vocação industrial”
podem ser captados em distâncias superiores a 60 quilômetrosda capital,
bem como as casas nos condomínios fechados destinados às elites belori-
zontinas que buscam as amenidades desses locais. Como no caso da im-
plosão, a inclusão de variáveis demográfi cas pode tornar a descrição deste
346 Nova Economia� v.27 n.2 2017
Implosão e explosão na exópolis
processo muito mais rica. Neste caso, questões relativas a quem se desti-
nam esses imóveis, e mesmo se há demanda sufi ciente (já que a população
cresceu muito menos do que a oferta), podem ser esclarecidas. Ademais,
a atualização desse banco de dados pode fi nalmente permitir uma análise
dinâmica de um fenômeno que é dinâmico – uma das limitações mais se-
veras deste trabalho.
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Sobre os autores
Renan Pereira Almeida - ralmeida@cedeplar.ufmg.br; renanp.almeida@gmail.com
Doutorando em Economia. Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional - Cedeplar da Universidade Federal
de Minas Gerais - UFMG. Belo Horizonte/MG.
349v.27 n.2 2017 Nova Economia�
Almeida, Monte-Mór & Amaral
Roberto Luís de Melo Monte-Mór - montemor@cedeplar.ufmg.br
Professor Associado – Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional - Cedeplar e Programa de Pós-Graduação
em Arquitetura e Urbanismo - NPGAU da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. Belo Horizonte/MG.
Pedro Vasconcelos Maia do Amaral - pedrovma@cedeplar.ufmg.br.
Professor Adjunto. Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional - Cedeplar da Universidade Federal de Minas
Gerais - UFMG. Belo Horizonte/MG.
Os autores agradecem aos comentários recebidos de Bernardo A. Furtado e Ricardo M. Ruiz, além de dois pareceristas
anônimos. A dissertação de mestrado que originou o trabalho só foi possível por meio do apoio fi nanceiro (bolsa)
concedido pelo Cnpq.
Sobre o artigo
Recebido em 17 de novembro de 2015. Aprovado em 22 de março de 2016.
This article is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.
350 Nova Economia� v.27 n.2 2017
... Belo Horizonte (BH), the planned state capital of Minas Gerais, inaugurated in 1897, was constituted from the Curral del Rey settlement, located in the basin of the Arrudas River, an area with a history of frequent flooding on its marshlands. As detailed in the literature review, the problem of urban flooding has accompanied BH throughout its entire history and is associated with the formation of the urban-industrial metropolis (Villaça, 1998;Borsagli, 2016;Almeida, Monte-Mór and Amaral, 2017), the exclusionary functioning of the real estate market (Nabuco, 2019), the occupation of the valley floors and canalization projects (Borsagli, 2016;Calazans, 2021) and a generalized lack of various types of infrastructure (Pinheiro, 2019;Nascimento, Bertrand-Krajewski and Brito, 2013;Rosa et al., 2020;Rosa et al., 2022a). ...
... The planning of Belo Horizonte ignored the various streams that drain the region, which, during the early years of the city, resulted in problems of flooding and water pollution. The valley of the Arrudas Stream runs east to west, while the city, in the early years, following its planning, was formed in a northsouth direction, with the planned area destined for the included to the south of the stream, and the first favelas forming in the north (Villaça, 1998;Borsagli, 2016;Almeida, Monte-Mór and Amaral, 2017). Another factor that contributed to the spread of the city beyond its planned urban zone were the high prices of urbanized land, associated with restrictive legislation on land use and occupation and the speculative processes of real estate capital (Nabuco, 2019). ...
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The UN's New Urban Agenda has penetrated urban planning at the same time as extreme events caused by climate change. In view of the scenario of increased flooding in Belo Horizonte, state of Minas Gerais, the Master Plan approved instruments to mitigate the impacts through discounts on the fees charged for additional building rights for new buildings that use “green and blue infrastructure.” The applicability of this incentive is analyzed across the territory based on a comparison between the discounts and the costs of new sustainable techniques. It is concluded that the instruments tend to be adopted where land value is higher, being insufficient for a large part of the city, mainly areas with greater climate vulnerability, which demand more direct interventions from the government.
... Belo Horizonte (BH), the planned state capital of Minas Gerais, inaugurated in 1897, was constituted from the Curral del Rey settlement, located in the basin of the Arrudas River, an area with a history of frequent flooding on its marshlands. As detailed in the literature review, the problem of urban flooding has accompanied BH throughout its entire history and is associated with the formation of the urban-industrial metropolis (Villaça, 1998;Borsagli, 2016;Almeida, Monte-Mór and Amaral, 2017), the exclusionary functioning of the real estate market (Nabuco, 2019), the occupation of the valley floors and canalization projects (Borsagli, 2016;Calazans, 2021) and a generalized lack of various types of infrastructure (Pinheiro, 2019;Nascimento, Bertrand-Krajewski and Brito, 2013;Rosa et al., 2020;Rosa et al., 2022a). ...
... The planning of Belo Horizonte ignored the various streams that drain the region, which, during the early years of the city, resulted in problems of flooding and water pollution. The valley of the Arrudas Stream runs east to west, while the city, in the early years, following its planning, was formed in a northsouth direction, with the planned area destined for the included to the south of the stream, and the first favelas forming in the north (Villaça, 1998;Borsagli, 2016;Almeida, Monte-Mór and Amaral, 2017). Another factor that contributed to the spread of the city beyond its planned urban zone were the high prices of urbanized land, associated with restrictive legislation on land use and occupation and the speculative processes of real estate capital (Nabuco, 2019). ...
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Resumo A Nova Agenda Urbana da ONU penetra o planejamento urbano ao mesmo tempo que eventos extremos causados pelas mudanças climáticas. Diante do cenário de intensificação de inundações em Belo Horizonte – MG, o Plano Diretor aprovou instrumentos para mitigar tais impactos. por meio de descontos na Outorga Onerosa do Direto de Construir para novas edificações que utilizem “infraestruturas verdes e azuis”. Analisa-se a aplicabilidade desse incentivo pelo território, com base na comparação entre esses descontos e os custos das novas técnicas sustentáveis. Conclui-se que os instrumentos tendem a ser adotados onde o solo é mais valorizado, sendo insuficientes para grande parte da cidade, em especial as áreas de maior vulnerabilidade climática, que demandam intervenções mais diretas do poder público.
... Além disso, destaca-se a considerável relevância crescente dos meios eletrônicos nesses tipos de anúncio. Outros aspectos positivos a serem considerados são a fácil verificação dos dados, tendo em vista a disponibilidade de fotos e a rapidez com que se pode entrar em contato com o anunciante; e que os anúncios são facilmente atualizados (Almeida et al., 2017). ...
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Resumo Diante da crescente urbanização e expansão da fronteira urbano-imobiliária sobre o território das metrópoles, este trabalho analisa o mercado informal de moradia na Colônia Juliano Moreira, bairro localizado na região de Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro. Investigam-se as características desse mercado quanto à sua estrutura, aos bens transacionados, às instituições atuantes e aos agentes participantes. Essa análise utiliza dados de anúncios de imóveis e entrevistas semiestruturadas com agentes-chave locais. A partir das entrevistas realizadas, nota-se que a falta de segurança nos contratos firmados é uma característica fundamental do mercado analisado. Há uma estrutura oligopólica e alta demanda pelos imóveis ofertados, conferindo enorme poder de mercado aos ofertantes. A população vulnerável que demanda moradia nessa área depende sobremaneira de laços de lealdade e confiança, que surgem como instituições importantes para o funcionamento da dinâmica imobiliária local. Três instituições mostram-se particularmente relevantes: a associação dos moradores, a milícia e a relação de confiança e lealdade presente nos acordos mercantis.
... In Brazil, the heterogenization of the metropolitan space has produced disjunct urban fragments as the implosion/explosion process mirrors the socio-spatial inequalities that shape contemporary urban land markets (HERZOG, 2015;ALMEIDA et al., 2017). Scholars argued that, over the past two decades, the binary center-periphery model that marked urbanization in Brazil has given way to complex structures with the increasing dispersion of activities and the emergence of secondary subcenters in peripheral areas (LIMONAD; COSTA, 2015). ...
Article
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This research provides novel exploration of the distribution of urban facilities in the Metropolitan Region of Belo Horizonte, to identify primary and secondary centralities. The main findings are based on a Kernel Density, using Google Places of Interest data. Primary and secondary metropolitan centers are detected in the largest municipalities in the Metropolitan Area, as well as smaller suburban subcenters in peripheral municipalities. Moreover, the analysis of five categories of facilities illustrates different centralities structures and inequalities in the distribution of different types of activities. Keywords: Urban Sprawl, Post-Suburbia, Centralities, POI Data.
Conference Paper
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RESUMO: O presente texto pretende problematizar a questão do avanço da urbanização para além das fronteiras metropolitanas e de cidades-regiões. Ou, formulado de outra maneira: mostrar abordagens e perspectivas que conseguem diferenciar uma forma "não-capitalista" e "não-metropolitana" de urbanização em relação ao padrão dominante em metrópoles e grandes cidades. Após uma rápida problematização dessa questão, a argumentação vai se dedicar à identificação de uma urbanização inter-metropolitana por meio do conceito de "campo urbano" de Friedmann/Miller e à discussão da transição de uma estrutura espacial industrial à uma marcada pelo urbano de Lefebvre. Sua articulação permite estabelecer elementos para uma compreensão da expressão de uma "urbanização regional" que propõe agregar áreas urbanas e rurais em cidades de regiões inter-metropolitanas. Diante das reflexões "otimistas" destes autores terminamos a atual reflexão com uma breve indicação das dificuldades de apropria-las para uma urbanização dependente como a brasileira.
Article
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Based on urban land prices and the spatialization of state investments, this study aims to discuss the urban hierarchical structure of a medium- -sized city: Uberlândia, in Minas Gerais. To this end, we investigate how urban land rent is shaped and describe its composition by different modalities, according to diverse potential capitalist land uses. In this sense, the main contribution of this article is the empirical analysis of urban land prices, using the methodology of web scraping with real estate advertisements, as well as the systematization and spatialization of state investments, which, together with the theoretical framework of the political economy of urbanization, allow a more accurate reading of the urban hierarchies of cities.
Article
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Resumo O objetivo deste trabalho é, a partir dos preços da terra urbana e da espacialização dos investimentos estatais, discutir a estrutura hierárquica urbana de uma cidade média brasileira: Uberlândia, em Minas Gerais. Para tanto, faz-se uma discussão de como se conforma a renda fundiária urbana e da sua composição por diferentes modalidades, segundo os diferentes usos capitalistas potenciais do solo. Nesse sentido, a principal contribuição deste artigo é a análise empírica dos preços da terra urbana, a partir da metodologia de web scraping com os anúncios das imobiliárias, bem como a sistematização e espacialização das inversões estatais, que, aplicadas junto com arcabouço teórico da economia política da urbanização, permitem uma leitura mais apurada das hierarquias urbanas das cidades
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Dada a crescente demanda por infraestrutura e serviços sociais, e o contexto de austeridade fiscal ainda presente no Brasil, o debate entre tributação fundiária e preço dos imóveis é crucial para investigar possibilidades de recuperação de receitas para o setor público local. Partindo do resgate da relação teórica entre tributos sobre o solo urbano e preço de venda dos imóveis, a qual supõe que esses tributos não são repassados para o preço dos imóveis, este artigo investiga essa relação em 20 municípios das aglomerações de Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Salvador (BA), Vitória (ES), Cachoeiro de Itapemirim (ES) e Criciúma (SC), a partir de análises econométricas usando dados de anúncios. Os resultados corroboram a hipótese de que níveis mais altos de IPTU não estão associados a níveis mais altos de preços de vendas de imóveis. Ademais, boa parte da variabilidade dos preços imobiliários foi explicada por aspectos relacionados ao nível do município e da aglomeração.
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Este artigorelata a realidade de uma das mais dinâmicas e complexas periferias metropolitanasda Região Metropolitana de Belo Horizonte: aregião de Bandeirinhas, localizada na porção central do município de Betim, cujo espaço geográfico é marcado por múltiplas formas de uso e ocupação, caracterizadas pela precariedade das habitações,falta de espaços de lazer e entretenimento, além de grande dependênciafuncional dasáreascentrais de Betim e Belo Horizonte. Seu processo de ocupação históricavem sendo fortemente impactado pela expansão do setor industrialdeBetim, sendo marcantes emBandeirinhas a presença de profundas desigualdades socioespaciais e contradições.Os grandes projetos de intervenção que se anunciam para a região deverão provocar substantivas alterações nas formas de uso e ocupação do solo, além de uma recomposição da estrutura social.
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Opondo-se à importação direta de teorias, este artigo desenvolve um modelo analítico para o estudo da gentrificação que abarca tanto sua generalização como principal política do urbanismo neoliberal quanto sua localização em contextos urbanos específicos. O modelo analítico baseia-se em três dimensões necessárias e definidoras do processo: 1) produção do espaço gentrificável; 2) elitização social com expulsão de grupos vulneráveis; e, 3) transformação da paisagem construída. O estudo das operações urbanas em São Paulo demonstra que estas dimensões fundamentais são mediadas por estruturas locais e, nestes casos, contextualizadas em projetos urbanísticos individuais. Este artigo, portanto, explora as múltiplas escalas de promoção da gentrificação, enfatizando que formas de produção desigual do espaço e resistência às mesmas também são produzidas localmente.
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O Projeto Eixo-Sul teve início em junho de 2002 e estará concluído no segundo semestre de 2006, tendo contado com financiamentos da Pró-Reitoria de Pesquisa da UFMG, do CNPq e da FAPEMIG. Em linhas gerais, pode ser considerado bastante bem sucedido em dois aspectos: a) tem propiciado uma reflexão importante sobre a dinâmica metropolitana recente, em particular no que se refere tanto aos processos de expansão urbana quanto às tentativas de regulação de tais processos nos campos urbano e ambiental; b) tem possibilitado a articulação de professores, pesquisadores e alunos de pós-graduação e graduação de diferentes cursos e unidades da UFMG e fora dela, consolidando a pesquisa em caráter interdisciplinar e permanente em torno dos estudos urbanos e regionais. O projeto de pesquisa envolve onze professores pesquisadores de Programas de Pós-graduação (Geografia, Demografia, Economia e Arquitetura e Urbanismo da UFMG e Ciências Sociais da PUC-Minas), da FAFICH/UFMG, um professor visitante (CSU, Chico, CA), além de alunos de graduação e pós-graduação. (...)
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This paper offers a critical review and interpretation of gentrification in Latin American cities. Applying a flexible methodology, it examines enabling conditions associated with societal regime change and local contingencies to determine its presence, nature, extent, and possibilities. Questioning the uncritical transfer of constructs such as gentrification from the Global North to the Global South, the paper advocates analyses of mediating structures and local conditions to determine their applicability and possible variations. Overall, the review questions the feasibility of self-sustained, large scale gentrification in central areas of the region’s cities today tying it to each city’s level of incorporation into global circuits and the role of local governments. Rather than an orthodox hypothesis testing, this is an exercise in interpretation that calls for nuanced approaches to the study of urban restructuring in cities of the global South.
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This paper examines the proliferation of soft spaces of governance, focusing on planning. We move beyond more functional explanations to explore the politics of soft spaces, more specifically how soft space forms of governance operate as integral to processes of neoliberalisation, highlighting how such state forms facilitate neoliberalisation through their flexibility and variability. Recent state restructuring of the planning sector and emerging trends for soft spaces in England under the Coalition government proposals are discussed.
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Três recentes desdobramentos criaram novos desafios e oportunidades para a geografia urbana e os geógrafos,que incluem a redescoberta do poder gerativo das cidades, a difusão transdisciplinar das perspectivas espaciais críticas e ocrescente interesse em regiões e no regionalismo. Tendo esses novos desdobramentos como pano de fundo, reflito sobrealgumas ideias e temas introduzidos em Postmetropolis: Critical Studies of Cities and Regions, publicado em 2000. Como olivro, esta prospecção além de Postmetropolis divide-se em três partes: Remapeando a geohistória do espaço-cidade, Seisdiscursos sobre a pós-metrópole, e Espaço vivido: lembrando 1992 em Los Angeles.
Article
Uneven and combined development. Regional Studies. The concept of uneven and combined development (U&CD) interprets dynamic historical change and comparative geographical differentiation in terms of the co-existence of tendencies towards differentiation and equalization of the conditions of production, consumption, distribution and exchange, deriving from capital accumulation and political multiplicity. U&CD entails a conception of the global system as a constellation of interdependent, national institutional configurations and interests that shape international/national/regional trends. To explain geographies of industrialization and urbanization and current trends towards a pluri-centric world, U&CD requires, however, a specification of the underlying causal mechanisms, examined in economic geography, international relations and developmental state theories.
Book
This completes Ed Sojaa s trilogy on urban studies, which began with Postmodern Geographies and continued with Thirdspace. It is the first comprehensive text in the growing field of critical urban studies to deal with the dramatically restructured megacities that have emerged world--wide over the last half of the twentieth--century.
Article
Over the last few decades we have witnessed a global U-turn in prevailing housing and urban policy agendas, spread around the world by the driving forces of globalization and neoliberalism. The new paradigm was mainly based on the withdrawal of states from the housing sector and the implementation of policies designed to create stronger and larger market-based housing finance models. The commodification of housing, together with the increased use of housing as an investment asset within a globalized financial market, has profoundly affected the enjoyment of the right to adequate housing. Taking the World Bank's 1993 manifesto as a starting point and the subprime crisis as its first great international flashpoint, this essay traces some key elements of the neoliberal approach to housing and its impact on the enjoyment of the right to housing in different contexts and times. The reform of housing policy — with all its components of homeownership, private property and binding financial commitments — has been central to the political and ideological strategies through which the dominance of neoliberalism is maintained. Conversely, the crisis (and its origins in the housing market) reflects the inability of market mechanisms to provide adequate and affordable housing for all.