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Artigo original
Avaliação do conhecimento da equipe de enfermagem sobre as metas
internacionais de segurança do paciente em uma unidade de terapia intensiva
Team knowledge assessment of nursing on international targets patient safety in an
intensive care unit
Equipo de evaluación de conocimiento de la enfermería en international apunta
seguridad del paciente en unidades de cuidados intensivos
Maria Nathália da Silva Souza¹, Viviane de Araújo Gouveia¹
¹Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, Brasil.
Submissão: 23/12/2016
Aceite: 01/05/2017
marianathaliass@hotmail.com
RESUMO
Justificativa e objetivos: A qualidade de assistência hospitalar prestada ao paciente e a
segurança em sua estadia no local, desencadeou discussões acerca do assunto em todo o
mundo após a análise de estudos epidemiológicos realizados nos EUA, que teve como
conclusão o alto índice de eventos adversos em âmbito hospitalar ocasionados por erro
profissional, com isso a temática ganhou forças e motivaram discussões sobre os modelos
assistenciais aplicados aos pacientes. Portanto a pesquisa teve como objetivo avaliar o
conhecimento da Equipe de Enfermagem do setor de Unidade de Terapia Intensiva de um
hospital público de Recife-PE sobre as metas internacionais da segurança do paciente.
Métodos: Estudo transversal com abordagem quantitativa descritiva, realizado no
período de junho a agosto de 2016. A coleta de dados foi realizada através de um
questionário semiestruturado que abordou aspectos sociais e profissionais dos
pesquisados. As variáveis estudadas: o gênero, idade, categoria profissional e tempo de
formação. Os dados foram analisados em software epiinfo versão 3.2.2. Resultados: A
amostra foi constituída por 50 profissionais, sendo 18% Enfermeiros e 82% técnicos de
Enfermagem. A maioria dos pesquisados acertaram mais que 50% das perguntas sobre as
metas internacionais de segurança do paciente e possuem mais de um vínculo
empregatício. Conclusão: Verificou-se que a falta de capacitação, sobrecarga de trabalho
e mais de um vínculo empregatício podem contribuir para uma assistência profissional
precária.
DESCRITORES: Segurança do Paciente. Enfermagem. Gerenciamento de segurança.
Unidade de terapia intensiva.
2
ABSTRACT
Background e Objectives: The quality of hospital care provided to the patient and the
safety of their stay at the site triggered discussions around the world after the analysis of
epidemiological studies conducted in the USA that concluded the high rate of adverse
events in the hospital setting Caused by professional error, with that the theme gained
strength and motivated discussions about the care models applied to the patients.
Therefore the research was aimed at evaluating the knowledge of the Nursing Team of
the Intensive Care Unit sector of a public hospital in Recife-PE on the International
Patient Safety Goals. Methods: A cross-sectional study with descriptive quantitative
approach was carried out from June to August 2016. Data collection was performed
through a semi-structured questionnaire that addressed the social and professional aspects
of the respondents. The studied variables: gender, age, professional category and training
time. The data were analyzed in epiinfo software version 3.2.2. Results: The sample
consisted of 50 professionals, 18% of whom were Nurses and 82% were Nursing
technicians. Most respondents scored more than 50% of questions about international
patient safety goals and had more than one employment relationship. Conclusion: It was
verified that the lack of training, work overload and more of an employment relationship
can contribute to a precarious professional assistance.
KEYWORDS: Patient Safety. Nursing. Safety Management. Intensive Care Units.
RESUMEN
Antecedentes y objetivos: La calidad de la atención de los pacientes del hospital y la
seguridad en su estancia, desencadenaron discusiones sobre el tema en el mundo después
del análisis de los estudios epidemiológicos en los EE.UU. que era completar la elevada
tasa de eventos adversos en ambiente hospitalario causado por negligencia, con este tema
que ganó fuerza y condujo las discusiones acerca de los modelos de atención aplicados a
los pacientes. Por tanto, el objetivo del estudio fue evaluar el conocimiento del personal
de enfermería del sector unidad de cuidados intensivos en un hospital público de Recife-
PE en International apunta a la seguridad del paciente. Métodos: Estudio transversal con
enfoque cuantitativo descriptivo, llevado a cabo de junio a agosto de 2016. La recolección
de datos se realizó mediante un cuestionario semiestructurado que abordó aspectos
sociales y profesionales de los encuestados. Las variables: sexo, edad, categoría
profesional y tiempo de entrenamiento. Los datos se analizaron en el programa Epi Info
versión de software 3.2.2. Resultados: La muestra estuvo constituida por 50
profesionales, 18% enfermeras y 82% de los técnicos de enfermería. La mayoría de los
encuestados coincidieron en más del 50% de las preguntas de los objetivos
internacionales de seguridad del paciente y tener más de un contrato de trabajo.
Conclusión: Se encontró que la falta de formación, la sobrecarga de trabajo y más de una
relación de trabajo puede contribuir a una asistencia profesional precaria.
PALABRAS CLAVE: Seguridad del paciente. Enfermería. Gestión de la seguridad.
Unidades de Cuidados Intensivos.
INTRODUÇÃO
A segurança do paciente é um dos temas mais abordados na atualidade em âmbito
mundial. A qualidade de assistência hospitalar prestada ao paciente e a segurança em sua
internação no local, desencadeou discussões acerca do assunto.¹ O Institute of Medicine
(IOM) há mais de uma década publicou o relatório “To Err is Human: building a safer
3
health system”.² Esse estudo foi feito após a análise de dados epidemiológicos, obtendo
como conclusão que a alta incidência de eventos adversos (EAs) em âmbito hospitalar
prevalece, principalmente por erro profissional. Após esta publicação, a temática ganhou
força e motivaram as discussões sobre os modelos assistenciais aplicados aos pacientes.³
EAs constituem em qualquer acontecimento médico desfavorável ou não intencional ao
paciente que tenham relação clínica com o tratamento do doente.4
Com o aumento da taxa de EAs, alguns pesquisadores realizaram estudos em
países como Estados Unidos, Canadá, Holanda e Suécia, e comprovaram que 2,9 a 16,6%
dos usuários internados em área hospitalar foram vítimas de algum EAs, sendo que,
desses 50% poderiam ser evitados. Além disso, foram constatados que grande parte
resultou em incapacidade leve, porém, vale ressaltar que 4,9 a 13,6% desses EAs
provocaram óbito dos usuários dos serviços.5 Um estudo brasileiro que avaliou os
indicadores de segurança do paciente em um hospital universitário no setor de
emergência, comprovaram que 50% dos usuários em alta hospitalar e 70% dos pacientes
que evoluíram para o óbito foram vítimas de pelo menos um EAs.6 Outro estudo realizado
em três hospitais de ensino do estado do Rio de Janeiro no ano de 2009, mostrou que
7,6% dos usuários foram vítimas de EAs, e destes, 66,7% poderiam ser evitados.² Os EAs,
na maioria das vezes não são notificados, o que dificulta o trabalho dos gestores
hospitalares na busca de caminhos para a resolução dos problemas e direcionamento dos
profissionais para melhoria da qualidade do planejamento assistencial.7
A Organização Mundial de Saúde (OMS), juntamente com a Joint Comission
International estipularam as metas internacionais de segurança do paciente baseados em
evidências e opiniões de especialistas na área. As metas promovem melhorias específicas
na segurança do paciente em âmbito hospitalar, destacam problemáticas na assistência à
saúde e apresentam soluções para tais problemas encontrados. Sabendo-se que para uma
prestação de cuidados seguros e de alta qualidade as metas geralmente agrupam-se em
soluções para todo sistema hospitalar, sempre que possível. As metas são as seguintes:
identificar os pacientes corretamente; melhorar a comunicação efetiva; melhorar a
segurança de medicamentos de alta-vigilância; assegurar cirurgias com local de
intervenção correto, procedimento correto e paciente correto; reduzir o risco de infecções
associadas aos cuidados de saúde; reduzir o risco de lesões ao paciente, decorrentes de
quedas.1,8,9.
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) acolhe pacientes em estado crítico de saúde
que necessitam de inúmeros procedimentos complexos com alto risco para infecções e
4
EAs.10 Alguns fatores presentes na rotina de trabalho da equipe de enfermagem em UTI
podem aumentar o risco para ocorrência de EAs, como o excesso de carga horária na
jornada de trabalho, stress, rotina monótona, cobrança elevada por atenção e zelo durante
os procedimentos de enfermagem, poucas horas de descanso e sobrecarga de trabalho.
Estas condições somadas à deficiência de conhecimento da equipe sobre o uso das metas
internacionais para promoção da segurança do paciente podem interferir no aumento da
vulnerabilidade do paciente aos riscos de EAs.11
Em um estudo realizado em uma unidade de transplante de medula óssea em Santa
Catarina, verificou-se que as atitudes dos profissionais de saúde têm gerado uma
dificuldade no desenvolvimento da cultura de segurança do paciente, sugerindo uma base
fortificada sobre a temática para os profissionais e gestores da unidade, deixando claro
que elaboração e implementação de estratégias eficazes para melhorar a segurança do
paciente é escassa em âmbito nacional, além de evidenciar a falta de capacitação dos
profissionais de saúde sobre as metas internacionais de segurança do paciente.12
A equipe de enfermagem realiza sua prática respaldada por meio de estudos com
evidências no campo do conhecimento científico e, para que a qualidade e a segurança na
assistência em enfermagem sejam eficazes, são necessários estudos e atualizações
frequentes dos profissionais de saúde. O cumprimento das metas internacionais da
segurança do paciente significa um aumento na segurança da assistência ao paciente e
permite as instituições hospitalares uma melhoria assistencial, ou seja, proporcionando
um profissional da saúde que se sinta mais seguro e tranquilo para desempenhar suas
atividades.13
A equipe de enfermagem é a categoria que dedica maior tempo da jornada de
trabalho ao lado dos pacientes. A maioria dos EAs poderiam ser evitados se os
profissionais de enfermagem adotassem as metas internacionais de segurança do paciente
com mais afinco para redução destes riscos. Porém, as pesquisas científicas nesta temática
ainda são recentes e escassas, principalmente no Brasil.13,14
Portanto, é necessário investir na qualificação da equipe de enfermagem que
atuam em UTI, além disso, é necessário mobilizar competências profissionais específicas
que visem principalmente a promoção da saúde e prevenção de agravos, durante a
execução do seu trabalho, que lhes permitam desenvolver suas funções de maneira eficaz,
aliando conhecimento técnico científico, domínio da tecnologia, e, sobretudo, a
humanização, a individualização do cuidado e, consequentemente, a melhoria da
qualidade na assistência prestada.14
5
Deste modo, este estudo tem o objetivo de avaliar o conhecimento da Equipe de
Enfermagem de um hospital público no setor de UTI sobre as metas internacionais da
segurança do paciente.
MÉTODOS
Estudo transversal com abordagem quantitativa descritiva, realizado no Hospital
Otávio de Freitas (HOF), localizado na região metropolitana do Recife, no estado de
Pernambuco. Trata-se de uma instituição de saúde pública, que oferece várias
especialidades médicas de internamento e assistências de urgência e emergência na
cidade e região. A amostra da pesquisa foi composta por todos os profissionais
enfermeiros e técnicos de enfermagem pertencentes ao setor de UTI totalizando 50
pesquisados. A coleta de dados foi realizada no período de junho a agosto de 2016. Foi
utilizado um formulário semiestruturado, previamente testado, com questões de múltipla
escolha baseadas nos critérios adotados pelo Ministério da Saúde do Brasil para o
Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) e nas metas internacionais para
segurança do paciente adotadas pela OMS1,9.. Foram analisadas as variáveis sexo, idade,
quantidade de vínculos empregatícios, tempo de formação na área, tempo de trabalho na
instituição, capacitação permanente e variáveis específicas relacionadas ao conhecimento
da equipe sobre as metas internacionais de segurança do paciente.
Foram incluídos na pesquisa todos os profissionais da equipe de enfermagem da
UTI. Foram excluídos da pesquisa os profissionais que estavam em período de licença ou
férias do serviço durante o período de coleta de dados. Os dados foram coletados a partir
de um formulário previamente testado e foram tabulados no programa epiinfo versão
3.2.2. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa na Área de Saúde do
HOF, sob o número de Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) nº
53995216.9.0000.5200, e Parecer de n° 1.445.456, em consonância com a Resolução
466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Todos os participantes da pesquisa
assinaram o Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) em duas vias, onde
continham todas as informações pertinentes da pesquisa e dados dos pesquisadores para
quaisquer dúvidas em relação ao estudo. Durante todas as fases do estudo não se divulgou
nomes ou dados pessoais dos participantes.
6
RESULTADOS
A amostra foi constituída por 50 profissionais de enfermagem, sendo a maioria
do sexo feminino. Um total de 18% eram enfermeiros e 82% técnicos de enfermagem. A
média de idade foi de 36,2 (±9,2 anos)
Não houve diferença entre as variáveis sociais e de formação profissional em
relação a categoria profissional (Tabela 1). Os achados sugerem que a maioria dos
enfermeiros e técnicos de enfermagem da UTI apresentaram de 1 a 5 anos de exercício
profissional e trabalham há mais de um ano na instituição pesquisada.
Tabela 1: Características dos dados sociais e formação profissional dos pesquisados por categoria.
Recife – PE, Brasil, 2016.
Características
Enfermeiros
n(%)
Técnicos de
enfermagem
n(%)
p
Total
n(%)
Tempo de formatura
0,56
De 1 a 5 anos
5 (55,6)
17 (41,5)
22 (44)
De 6 a 10 anos
1 (11,1)
7 (17,1)
8 (16)
De 11 a 15 anos
0
6 (14,6)
6 (12)
De 16 a 20 anos
2 (22,2)
4 (9,8)
6 (12)
De 21 ou mais
1 (11,1)
7 (17,1)
8 (16)
Tempo de instituição
0,75
Menos de 6 meses
3 (33,3)
13 (31,3)
16 (32)
Há 1 ano
1 (11,1)
9 (22)
10 (20)
Mais de 1 ano
5 (55,6)
19 (46,3)
24 (48)
Vínculos empregatícios
0,39
1 vinculo
5 (55,6)
18 (43,9)
23 (46)
Mais de 1 vínculo
4 (44,4)
23 (56,1)
27 (54)
Em relação as questões sobre as metas internacionais de segurança do paciente,
mesmo sem diferença estatisticamente significante, os participantes da pesquisa
apresentaram maior percentual de acertos de acordo com o questionário que fora
respondido, sendo enfermeiros 100% e técnicos de enfermagem 92,7% (p=0,54).
Em relação à distribuição do número de acertos segundo a participação em cursos
de capacitação profissional, a proporção de profissionais com maior percentual de acertos
no questionário foi maior entre aqueles que confirmaram a participação em cursos de
capacitação promovidos pela instituição (72,3%). Já em relação ao tempo de trabalho na
instituição onde foi desenvolvida a pesquisa a maioria dos profissionais que obtiveram
mais que 50% dos acertos trabalham na mesma instituição há mais de 1 ano,
correspondendo 44,7% dos pesquisados. De acordo com a tabela abaixo o maior
quantitativo de profissionais que apresentaram mais de um vínculo empregatício
7
apresentou maior número de acertos nas questões sobre metas internacionais e segurança
do paciente.
Tabela 2- Distribuição do percentual de número de acertos segundo a participação em cursos de
capacitação profissional, tempo de trabalho na UTI da instituição pesquisada e números de vínculos
empregatícios. Recife-PE, Brasil, 2016.
Características
Profissionais com
<50% de acertos
n(%)
Profissionais
com > 50% de
acertos n(%)
p-valor
Capacitação profissional
Capacitação permanente
1 (33,3)
34 (72,3)
0,21
Sem capacitação permanente
2 (66,7)
13 (27,7)
Tempo de trabalho na UTI da instituição
Menos de 6 meses
0
16 (34)
0,17
Há 1 ano
0
10 (21,3)
Mais de 1 ano
3 (100)
21 (44,7)
Número de vínculos empregatício
0,56
1 vínculo empregatício
1 (33,3)
22 (46,8
Mais de 1 vínculo empregatício
2 (66,7)
25 (53,2)
DISCUSSÃO
O presente estudo traz alguns dados importantes para o campo científico da
enfermagem, destes se destacam que os enfermeiros (55,6%) e técnicos de enfermagem
(41,5%) possuem de 1 a 5 anos de formação. A maioria dos enfermeiros (55,6%) e dos
técnicos de enfermagem (46,3%) possuem um tempo de trabalho na instituição maior de
1 ano, 55,6% dos enfermeiros possuem um vínculo empregatício e 56,1% dos técnicos de
enfermagem possuem mais de um vínculo empregatício.
A maioria (72,3%) dos profissionais que obtiveram mais que 50% dos acertos das
perguntas sobre a metas internacionais de segurança do paciente responderam que existe
capacitação permanente na instituição pesquisada. O déficit de conhecimento da equipe
de enfermagem sobre as metas internacionais de segurança do paciente também é um
alarde perante os profissionais de saúde, sendo que, os mais atingidos por essa falta de
conhecimento são os técnicos e auxiliares de enfermagem ocasionando EAs, isto reforça
que as atualizações por parte das instituições para estes profissionais deve ser primordial
para obter uma qualidade na assistência a saúde.15 O Ministério da Saúde estabeleceu o
Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), pela Portaria MS/GM nº 529, de
1° de abril de 2013, que tem como objetivo geral promover a qualificação do cuidado em
saúde nos estabelecimentos do território nacional.9
A vida dos profissionais de enfermagem é permeada pela vivência e percepção
diária de situações de risco, que podem auxiliar no gerenciamento do cuidado em relação
8
à segurança do paciente.16 O aspecto adulto jovem dos profissionais participantes do
presente estudo em relação ao tempo de formação profissional e ao tempo de trabalho em
UTI pode indicar maior necessidade de aprendizado por não haver ainda uma experiência
no campo de trabalho diversificada, justificando-se uma porcentagem de recomendações
de capacitação permanente na instituição.
No presente estudo, mesmo não havendo diferença estatística, a maioria dos
participantes que acertou mais que 50% das perguntas sobre as metas internacionais de
segurança do paciente correspondeu à categoria dos técnicos de enfermagem. Entretanto,
todos os enfermeiros (100%) obtiveram mais de 50% de acertos no questionário. É
possível que o nível e tempo de escolaridade tenham contribuído neste resultado, uma vez
que em um estudo realizado em um hospital universitário do estado de São Paulo, obteve
uma porcentagem média de acertos no teste de conhecimento para os auxiliares/técnicos
de enfermagem que identificou déficit, o que indica maior necessidade de atenção nas
atividades de educação continuada com estes profissionais.17 Em outro estudo do tipo
qualitativo realizado no Rio Grande do Sul em um hospital de pequeno porte evidenciou-
se que os enfermeiros tem uma facilidade maior de relacionar segurança do paciente à
organização do cuidado da enfermagem, sabendo-se que a qualquer erro pode
comprometer o bem estar do paciente.18
Quanto ao número de profissionais que participavam das capacitações promovidas
pela instituição, a maioria deste grupo apresentou maior número de acertos das questões.
Entretanto, observou-se que 27,7% afirmaram que não frequentam ou a instituição não
oferece capacitação permanente para os profissionais, o que traz dificuldade para uma
assistência de qualidade. Para ser um profissional da equipe de enfermagem e agir de tal
forma, deve-se conduzir o cuidado de forma consciente e com apoio em seus
conhecimentos científicos. Portanto, uma profissão estabelece uma educação ampla dos
que a praticam e torna-se importante e essencial ser dono de um corpo teórico de
conhecimentos que consequentemente gera habilidades e normas determinadas.19 Por isso
a educação continuada torna-se uma importante e grande estratégia fundamental para a
atualização de profissionais que estão em campo de trabalho, acarretando em novos
conceitos e conhecimentos importantes que, por conseguinte, traz uma prática mais
segura e consciente.20 Vale ressaltar que em uma pesquisa quantitativa realizada em um
Hospital de Ensino localizado na cidade de Ribeirão Preto - SP em julho de 2010 que teve
como objetivo avaliar a percepção do clima de segurança dos profissionais de
Enfermagem atuantes nas clínicas médicas e cirúrgicas, os profissionais, em geral, não
9
estão de acordo com os atos tomados pela gerência hospitalar referente às questões sobre
a segurança do paciente, afirmação esta que foi demonstrada pelos baixos escores do
estudo.21
Estudo realizado com 37 enfermeiros em hospital público de Fortaleza – CE,
evidenciaram que os profissionais de enfermagem conseguem identificar os principais
riscos à segurança dos pacientes (físicos, químicos, assistenciais, clínicos e
institucionais), os quais precisam de mais atenção. Deste modo a identificação por parte
dos profissionais de enfermagem sobre os riscos pode ser considerada como a primeira
de muitas estratégias para a instituição hospitalar melhorar a cultura de segurança do
paciente, dando ênfase ao que o presente estudo aponta, que a maioria dos profissionais
de enfermagem acertaram <50% das perguntas sobre as metas internacionais de
segurança do paciente22 A UTI compreende procedimentos complexos com alto índice de
infecções e EAs. Com um alto grau de responsabilidade para tomar decisões, a equipe de
enfermagem compõem um grupo de profissões desgastantes e expostas ao estresse.
Fatores como a elevada cobrança, sobrecarga de trabalho e poucas horas de descanso,
podem colaborar com a negligência no cumprimento das metas internacionais de
segurança do paciente.9
É neste sentido que a equipe de enfermagem que atua em UTI necessita, além de
qualificação adequada, mobilizar competências profissionais específicas que visem
principalmente a promoção da saúde e prevenção de agravos, durante a execução do seu
trabalho, que lhes permitam desenvolver suas funções de maneira eficaz, aliando
conhecimento técnico-científico, domínio da tecnologia, e, sobretudo, humanização,
individualização do cuidado e, consequentemente, melhoria da qualidade na assistência
prestada ao paciente.7
Os participantes que apresentaram maior proporção de acertos nas questões
pertenciam ao grupo que trabalha há mais de um ano na instituição. Este dado reafirma
que é necessário promover o conhecimento sobre a cultura de segurança do paciente.13
Portanto, a instituição necessita motivar a equipe através de estratégias dinâmicas para
atingir o número total de profissionais com cursos de atualização acerca das metas
internacionais de segurança do paciente.
No presente estudo, a maioria dos pesquisados possui mais de um vínculo
empregatício (56%), o que colabora com a sobrecarga de trabalho e exaustão do
profissional, desencadeando uma assistência vulnerável aos riscos de EAs. Em recente
estudo de revisão integrativa, o aumento do número de vínculos empregatícios está
10
relacionado a fatores de risco à segurança do paciente como: erros técnicos da equipe de
enfermagem, a falta de profissionais na área pela instituição, prescrições médicas e de
enfermagem ilegíveis, sobrecarga de trabalho decorrente de altas demandas e
profissionais com vários vínculos empregatícios.22 A equipe de enfermagem, além de
prestar cuidados aos pacientes do seu setor, tem outras atribuições administrativas, que
muitas vezes, ocupam a maior parte do tempo, dificultando a atenção prestada ao cliente,
tudo ocasionado pelo excesso de funções no trabalho e múltiplos vínculos empregatícios,
o que acarreta nos eventos adversos causando-lhes problemáticas no campo de atuação
profissional. Em outra pesquisa realizada em hospital universitário em São Paulo foi
apresentado que aproximadamente 78% dos incidentes sem lesão e de EAs em pacientes
foram relacionados às ações da equipe de enfermagem, essas complicações que foram
atribuídas à sobrecarga de trabalho da equipe aumentaram o número de dias de internação
dos pacientes estudados.23 Grande parte dos EAs resultam da negligência às metas
internacionais de segurança do paciente. Na maioria das vezes os EAs não são notificados,
o que dificulta a atividade dos gestores hospitalares em busca de caminhos para a
resolução dos problemas e direcionamento dos profissionais para um planejamento
assistencial com mais qualidade.24
Destacam-se como limitações deste estudo a resistência dos profissionais da
equipe de enfermagem em responder o questionário da pesquisa por medo de represalias
dos gestores da instituição, assim como evidenciado em estudo realizado em Ribeirão
Preto – SP, onde afirma que os profissionais de enfermagem não notificam os EAs por
medo de punições das instituições.25
Diante dos resultados deste estudo que verificou que a falta de capacitação pelos
profissionais da equipe de enfermagem, sobrecarga de trabalho e mais de um vínculo
empregatício podem contribuir para uma assistência profissional precária, sugere-se que
novas pesquisas científicas possam ser aprimoradas e desenvolvidas no Brasil a fim de
discutir sobre o clima de segurança do paciente nos diversos setores hospitalares, propor
novas iniciativas para a discussão da temática e buscar, assim, a melhor qualidade no
cuidado em saúde.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a direção do Hospital Otávio de Freitas – PE, por abrir as
portas da instituição para a realização da pesquisa e agradecemos também a todas as
11
pessoas que direta ou indiretamente fizeram parte desta pesquisa e ajudaram de alguma
forma na sua construção, implementação e finalização.
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