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Centralidade na Avaliação e Educação Customizada: o fim da escola como espaço para transmissão de uma " cultura comum " ?

Authors:

Abstract

Resumo: O presente artigo tem como objetivo examinar e problematizar os significados acerca dos processos de avaliação escolar que, contemporaneamente, são produzidos no interior do discurso pedagógico e os modos pelos quais são visibilizados por revistas brasileiras, contribuindo para a produção de uma educação cada vez mais individual e customizada. Para análise do material empírico toma-se como pano de fundo os estudos sociológicos de Zygmunt Bauman sobre os processos de individualização e responsabilização dos indivíduos dentro de uma racionalidade neoliberal. Mostra-se que a proliferação de mecanismos para avaliação dos estudantes atua, de um lado, produzindo maior controle e intensificação do trabalho docente e, de outro, opera fortalecendo a constituição de uma educação cada vez mais customizada diminuindo as possibilidades para que a escola atue como um espaço de transmissão de uma " cultura comum ". Palavras-chave: Avaliação. Trabalho docente. Individualização. Educação Básica.
http://dx.doi.org/10.21527/2179-1309.2017.102.118-144
Centralidade na Avaliação
e Educação Customizada:
o fim da escola como espaço para transmissão
de uma “cultura comum”?1
Renata Porcher Scherer2
Resumo:
O presente artigo tem como objetivo examinar e problematizar os significados acerca dos
processos de avaliação escolar que, contemporaneamente, são produzidos no interior do
discurso pedagógico e os modos pelos quais são visibilizados por revistas brasileiras,
contribuindo para a produção de uma educação cada vez mais individual e customizada.
Para análise do material empírico toma-se como pano de fundo os estudos sociológicos de
Zygmunt Bauman sobre os processos de individualização e responsabilização dos indivíduos
dentro de uma racionalidade neoliberal. Mostra-se que a proliferação de mecanismos para
avaliação dos estudantes atua, de um lado, produzindo maior controle e intensificação do
trabalho docente e, de outro, opera fortalecendo a constituição de uma educação cada vez
mais customizada diminuindo as possibilidades para que a escola atue como um espaço
de transmissão de uma “cultura comum”.
Palavras-chave: Avaliação. Trabalho docente. Individualização. Educação Básica.
CENTRALITY IN EVALUATION AND CUSTOMIZED EDUCATION:
the end of the school as a space for transmission of a “common culture”?
Abstract:
This article aims to examine and problematize the meanings about the processes of school
evaluation that are produced simultaneously within the pedagogical discourse and the ways
in which they are visualized by Brazilian magazines, contributing to the production of an
1 Este trabalho apresenta parte dos resultados da dissertação de Mestrado da autora, intitulada
“Cada um aprende de um jeito”: das adaptações às flexibilizações curriculares (SCHERER, 2014),
defendida na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, com apoio financeiro do CNPq e realizada
sob a orientação da professora doutora Maria Cláudia Dal`Igna.
2 Doutoranda em Educação. Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos. renata_ps3@yahoo.
com.br
P. 118-144
CONTEXTO & EDUCAÇÃO
Editora Unijuí Ano 32 nº 102 Maio/Ago. 2017
education every time more and more individual and customized. For the analysis of the em-
pirical material, Zygmunt Bauman’s sociological studies on the processes of individualization
and accountability of individuals within a neoliberal rationality are taken as background. It
is shown that the proliferation of mechanisms for student evaluation acts on the one hand
producing greater control and intensification of teaching work and on the other hand it
works by strengthening the constitution of an increasingly customized education, reducing
the possibilities for the school to act as a space for transmission of a “common culture”.
Keywords: Evaluation. Teaching work. Individualization. Basic Education.
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CONTEXTO & EDUCAÇÃO
[…] Se a escola “homogênea” foi construída historicamente, a escola da
heterogeneidade e da diversidade também o será (PÁTIO, 2010, p. 12).3
A epígrafe escolhida para abrir este artigo parece-nos emblemática para
descrever os investimentos que têm sido realizados contemporaneamente para
constituição de uma “educação customizada” (PÁTIO, 2010). Ao investigarmos
os sentidos que têm sido produzidos sobre os processos de avaliação em revistas
pedagógicas brasileiras, mostramos que estes parecem investir cada vez mais em
avaliações personalizadas, contribuindo para o fortalecimento de uma educação
customizada e para o enfraquecimento da escola como espaço onde se transmite
uma “cultura comum” (DUSSEL, 2009).
A produção de uma educação customizada foi examinada por Silva
(2014) que, ao realizar uma pesquisa tendo como base os currículos escolares
para o Ensino Médio no sul do país, mapeia a constituição de “dispositivos de
customização curricular” (SILVA, 2014). De acordo com o autor, nesse processo
os próprios estudantes são acionados e responsabilizados ao serem chamados
para definir seus percursos formativos a partir de seus interesses e suas condi-
ções socioculturais.
Tomando como argumento central a hipótese de que a customização
curricular e, no caso deste artigo, a customização dos processos de avaliação
produzem a responsabilização dos estudantes ao chamá-los para definir seus
percursos formativos, o presente texto tomará como pano de fundo as discus-
sões sociológicas contemporâneas de Zygmunt Bauman sobre os processos de
individualização e responsabilização dos indivíduos, nos quais, nas palavras
do sociólogo, “a individualização é um destino, não uma escolha: na terra da
liberdade individual de escolha, a opção de escapar à individualização e de se
negar a participar do jogo individualizante não faz parte, de maneira alguma,
da agenda” (BAUMAN, 2008, p. 64).
3 Ao utilizarmos como material empírico para este artigo as revistas pedagógicas brasileiras,
entendemos que estas representam o pensamento pedagógico de um tempo. Assim, optamos por
não destacar os jornalistas/autores das matérias utilizadas, pois o que importa para tal empreitada
investigativa é analisar os signicados produzidos por estes artefatos culturais como importantes
veículos de produção/transmissão de conhecimento pedagógico para os professores brasileiros.
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Assim sendo, o texto está organizado em quatro partes. Na primeira
apresentamos nossas escolhas teórico-metodológicas com relação ao material
empírico, bem como os critérios utilizados para seleção e análise. Na segunda
parte exploramos a constituição de uma sociedade de indivíduos (BAUMAN,
2008), considerando-a como contexto para a produção de avaliações cada vez
mais personalizadas. A seguir, na terceira parte, realizamos as análises e bus-
camos mostrar como as revistas pedagógicas têm operado na constituição de
processos avaliatórios cada vez mais individualizados e como essa proliferação
dos mecanismos de avalição tem atuado em uma maior intensificação e controle
do trabalho docente. Na quarta e última parte realizamos uma breve conclusão,
apontando quais possibilidades ainda parecem potentes para justificarmos a
defesa da escola como espaço de transmissão de uma “cultura comum” (DUS-
SEL, 2009).
Das Escolhas Teóricas e Metodológicas
Optamos por utilizar neste artigo a expressão “escolhas teóricas e meto-
dológicas” para marcar que assumimos uma compreensão de que nossas opções
metodológicas englobam, para além de um conjunto de procedimentos de como
fazer, uma perspectiva teórica. Nas palavras de Meyer e Paraíso (2012, p. 15):
Uma metodologia de pesquisa é sempre pedagógica porque se refere a um
como fazer, como fazemos ou como faço minha pesquisa. Trata-se de cami-
nhos a percorrer, de percursos a trilhar, de trajetos a realizar, de formas que
sempre têm por base um conteúdo, uma perspectiva ou uma teoria. Pode se
referir a formas mais ou menos rígidas de proceder ao realizar uma pesqui-
sa, mas sempre se refere a um como fazer. Uma metodologia de pesquisa
é pedagógica, portanto, porque trata de uma condução: como conduzo ou
conduzimos nossa pesquisa (grifos das autoras).
Partimos, então, do entendimento, proposto pelas autoras, de que uma
metodologia de pesquisa é pedagógica, pois se trata de como conduzimos nossa
pesquisa. Nessa seção apresentamos, de forma resumida, como foi realizada a
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CONTEXTO & EDUCAÇÃO
seleção e a organização das revistas pedagógicas como material analítico, com
o objetivo de justificar o trabalho com esse tipo de artefato para pesquisas em
educação.
Antes de apresentar os materiais, acreditamos ser importante marcar que
este artigo, ao situar-se em uma perspectiva pós-estruturalista, olha para esses
materiais como superfícies analíticas que poderão ajudar a contar sobre as prá-
ticas sociais de um determinado tempo. Assim, o que é dito e escrito sobre os
processos de avaliação nas revistas pedagógicas será considerado neste artigo
como espaço de enunciabilidade e visibilidade (DELEUZE, 2005).
Dentro dessa compreensão, cabe marcar que nossa intenção, neste artigo,
não consiste em esgotar analiticamente cada um dos artefatos analisados. As-
sumimos uma postura investigativa, que busca olhar para o material analítico e
suas exterioridades, considerando os diferentes textos como representantes do
pensamento pedagógico do nosso tempo. Assim, não os consideramos enquanto
emissores privilegiados, mas parte constituinte de condições para as enuncia-
bilidades e visibilidades do que tem se dito sobre os processos de avaliação e
como essa constituição de processos avaliativos, cada vez mais individualizados,
parece ter uma relação com os processos de individualização que assistimos
fortalecer-se contemporaneamente.
A escolha das revistas pedagógicas como material empírico se justifica
na esteira de outras pesquisas4 desenvolvidas com estes artefatos chamados pe-
dagógicos, que mostram que essas revistas, ao se proporem a discutir questões
como a avaliação, foco deste artigo, para além de descrever os significados já
existentes para essa temática, têm participado da produção de seus significados
na sociedade contemporânea. Já a opção pelas revistas Nova Escola e Pátio deve-
-se a dois motivos: primeiro, por serem revistas com distribuição gratuita para
a rede pública de ensino brasileira, tendo um grande alcance em todo território
nacional, constituindo-se materiais de referência para professores, gestores e
4 Aqui destacamos duas pesquisas que tiveram como material empírico as revistas Nova-Escola:
Tomio (2013), que investigou o processo de construção do livro didático e Santana (2011), que
analisou como a docência era narrada/construída nas publicações analisadas, articulada com a
noção de empreendedorismo.
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escolas pensarem as temáticas educacionais; segundo, por se encontrar nessas
publicações discussões de maior recorrência, relevância e qualidade acerca do
tema que aqui discutimos.
Para a análise, utilizaremos especificamente duas edições da revista
Nova Escola: a primeira publicada no ano de 2006 com a chamada “Em busca
da qualidade na Educação”, e a segunda editada no ano de 2012, com o título
Turma heterogênea”, tendo como matéria de capa a chamada “Cada um é um!
E agora?”; três edições da revista Pátio: a primeira publicada no ano de 2005:
Aprendizagem para todos”, a segunda no ano de 2009: “A escola flexível” e a
terceira no ano de 2010: “Educação Customizada”. Também integrará o material
empírico alguns excertos extraídos dos site da revista Nova Escola que irão auxi-
liar na argumentação aqui proposta. A escolha desses quatro exemplares ocorreu
após uma longa análise das edições publicadas entre os anos de 2005 e 2015. É
necessário salientar que, embora outras edições dessas revistas possuam artigos
acerca desta temática, as aqui escolhidas têm como chamada central a questão
da individualização dos processos formativos e, principalmente, defendem
que somente seria possível uma educação customizada por meio de processos
avaliatórios mais eficientes. Assim, desejamos mostrar que tais exemplares, ao
defenderem que a qualidade na educação passaria por processos de avaliação
mais eficientes e individualizados, têm produzido novas configurações no campo
pedagógico contemporâneo.
Após justificar a escolha do material e antes de começar a análise dos
processos de avaliação no material empírico, realizamos uma breve contextua-
lização dos processos de individualização, que têm se intensificado contempo-
raneamente, e da responsabilização dos indivíduos como marcas importantes
do nosso tempo e que parecem produzir condições de possibilidade para que os
processos de avaliação se constituam de forma cada vez mais individualizados
e personalizados. Para realizar tal revisão, assumimos como principal fonte
as reflexões sociológicas de Zygmunt Bauman (2008), produzidas na obra “A
sociedade individualizada: vidas contadas e histórias vividas”.
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CONTEXTO & EDUCAÇÃO
Contemporaneidade, Individualização e Educação:
um diagnóstico
Sabemos não existir um consenso para designar a sociedade contempo-
rânea. Bauman cunhou a expressão “Modernidade Líquida” (2001) e também
utiliza a expressão “Pós-Modernidade” (2010) inspirado em Lyotard; Deleuze
(1992) falou em “Sociedade de Controle”; Latour (1994) afirmou que “jamais
fomos modernos”; Bell (1977) menciona a “sociedade pós-industrial”; e Li-
povetsky e Charles (2004) cunharam a expressão “Hipermodernidade”. Cada
autor, ao empregar essas expressões, deseja destacar características marcantes
do período em que estamos inseridos. Com base nos estudos de Veiga-Neto
(2010), Klaus (2011) e Dal’Igna (2011), porém, optamos por utilizar as expres-
sões Modernidade e Contemporaneidade como forma de destacar uma distinção
entre duas formas de pensar, duas formas de ser, duas racionalidades distintas.
Cabe explicar que, ao falar sobre Modernidade e Contemporaneidade,
percebemos uma mudança de ênfase e não a substituição de uma forma de ser
por outra. De acordo com Bauman (2001), a sociedade que entra no século 21
não é menos moderna do que a que entrou no século 20 – poderíamos afirmar
que somos modernos de um modo diferente. Para o autor, duas características
tornam nova e diferente a nossa situação:
a) A primeira seria o “colapso gradual e o rápido declínio da antiga ilusão
moderna: da crença de que há um fim do caminho em que andamos, [...] um
Estado de perfeição a ser atingido amanhã, no próximo ano ou no próximo
milênio [...]” (2001, p. 37).
b) A segunda mudança é a desregulamentação e a privatização das tarefas e
deveres modernizantes” (2001, p. 37), ou seja, o que costumeiramente era
considerada tarefa para a razão humana, foi fragmentada, atribuída agora ao
indivíduo e seus recursos.
Ao trazer essas duas características a partir das reflexões realizadas por
Norbert Elias, Bauman assevera que, quando Elias substitui o “e” e o “versus”
pelo “de” em sua última e póstuma obra “A sociedade dos indivíduos”, desloca
o modo de compreendermos a sociedade e os indivíduos como duas forças
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opostas para uma forma de compreender como a sociedade hoje é constituída
por indivíduos (BAUMAN, 2001). Assim, a Contemporaneidade vai investir
de maneira incessante em processos de individualização, e os indivíduos vão
passar a operar na produção/reformulação/negociação de uma nova rede de
entrelaçamentos que podemos chamar ou não de sociedade.
Nesse processo de individualização, segundo Bauman (2008), a figura
dos grandes líderes que poderiam nos dizer o que fazer e aliviar nossa carga de
responsabilidade pela consequência de nossos atos, parece não mais existir. No
mundo em que vivemos, repleto de indivíduos, temos apenas outros indivíduos
que podemos usar como um exemplo a ser seguido, mas a responsabilização é
de cada um, inclusive pela escolha de que exemplo seguir.
Essa responsabilização última do indivíduo é uma das formas de orga-
nização da sociedade individualizada. Para compreendermos um pouco mais
como essa lógica tem se estabelecido, utilizamos a sistematização realizada por
Bauman (2008), em que ele analisa algumas características da Modernidade
pesada e da Modernidade líquida, contrapondo-as.
A Modernidade pesada tinha um compromisso entre o capital e o trabalho,
como uma dependência mútua. A norma dificilmente era colocada em questão,
pois era esse compromisso entre o capital e o trabalho que gerava a solução
de todas as questões sociais consideradas importantes. Era uma mentalidade
de longo prazo. Já na Modernidade líquida a sociedade é liquefeita, fluída,
dispersa, espalhada, desregulada. Houve um rompimento entre o capital e o
trabalho, tornando a flexibilidade uma necessidade. Assim, podemos observar
uma proliferação de contratos precários e cargos sem estabilidade.
Outra característica importante para compreendermos a Contempora-
neidade é a mudança na forma de relacionarmo-nos com o espaço. O espaço,
na Modernidade, tinha grande importância e, na Contemporaneidade, parece
ter cada vez menos. Como exemplo disso, temos a transmissão eletrônica, que,
nos dias de hoje, é instantânea. Como resultado desse processo ocorre uma des-
valorização do lugar. “O espaço físico, não cibernético, onde as comunicações
não-virtuais ocorrem, é apenas um lugar para entrega, absorção e reciclagem
do ciberespaço, essencialmente extraterritorial” (BAUMAN, 2008, p. 52-53).
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Seguindo essa lógica, podemos observar o quanto estar no mesmo espaço não
significa estar no mesmo lugar físico. Reuniões e conferências, por exemplo,
ocorrem cada vez mais dentro deste ciberespaço. Hoje, estamos cada vez mais
conectados. O que acontece, por exemplo, no Afeganistão, pode ser acompa-
nhado ao vivo por pessoas de todo o mundo. Querendo ou não, todos nós somos
afetados por esses acontecimentos, mas, de forma paradoxal, estamos cada vez
mais sós (des-conectados) – sozinhos em uma multidão. Segundo Bauman (2008,
p. 69), “a individualização veio para ficar; todos os que pensam sobre os meios
de lidar com seu impacto sobre a forma como conduzimos nossas vidas devem
começar entendendo esse fato”.
O processo de individualização contemporâneo traz também um sen-
timento de liberdade nunca antes experimentado, o que torna difícil medir as
consequências dessa experiência. Um dos grandes perigos destes tempos de
incerteza em que vivemos é sermos atingidos pelo que Bauman (2008, p. 70)
denominou de “misteriosas forças”, que hoje recebem o nome de queda de de-
manda de trabalho, recessão, racionalização, redimensionamento, entre tantos
outros exemplos que vêm à mente neste momento. Vivemos assombrados por
esses fantasmas da Contemporaneidade. A mensagem passada para todos parece
simples: todos nos tornamos redundantes, substituíveis, ou seja, vulneráveis.
Nas palavras do autor (2008, p. 72):
As sociedades que um dia lutaram para que seu mundo se tornasse transpa-
rente, à prova de perigos e livre de surpresas, agora encontram suas capa-
cidades de atuação atadas aos anônimos mutáveis e imprevisíveis de forças
misteriosas, como as finanças mundiais e as bolsas de valores, ou observam
de maneira impotente, sem serem capazes de fazer muito, o contínuo enco-
lhimento do mercado de trabalho, a crescente pobreza, a irrefreável erosão
da terra arável, o desaparecimento das florestas, os crescentes volumes de
dióxido de carbono no ar e o aquecimento do planeta. As coisas – sobretudo
as mais importantes de todas – estão “escapando ao nosso controle”.
Cada vez mais criamos e somos apresentados a fórmulas para lidar com
os problemas que estão prestes a acontecer, mas igualmente crescem os novos
riscos e perigos que surgem a cada novo movimento que fazemos. A solução
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recorrente a ser apresentada para combatermos alguns dos efeitos colaterais da
competitividade desregulamentada, por mais controverso que possa parecer, seria
mais desregulamentação, maior flexibilização e menos interferência.
Ganhamos liberdade, porém, perdemos segurança. Como mostra Bau-
man (2008), ao lutarem por mais liberdade nossos ancestrais não poderiam
prever que o preço que pagaríamos por essa liberdade seria a insegurança. Não
sabemos mais em quem confiar, pois ninguém pode dar uma garantia confiável
de que as coisas irão pela direção planejada. Assim, passar por processos de
individualização, na Contemporaneidade, não parece ser uma escolha: “[...] a
individualização é um destino, não uma escolha: na terra da liberdade individual
de escolha, a opção de escapar à individualização e de se negar a participar no
jogo individualizante não faz parte, de maneira alguma, da agenda” (BAUMAN,
2008, p. 64). Desse modo, se ficamos doentes, é porque não seguimos uma dieta,
não fazemos atividades físicas ou não visitamos nosso médico regularmente;
se ficamos desempregados, é porque não desempenhamos nossa atividade com
afinco, não buscamos formação e aperfeiçoamento suficiente, não cultivamos
boas relações interpessoais. Esses são apenas alguns exemplos de uma res-
ponsabilização extrema dos indivíduos que percebemos contemporaneamente.
Essas reflexões realizadas por Bauman (2001) sobre o crescente senti-
mento de insegurança ao refletir sobre a Modernidade Líquida, são retomadas
e ampliadas alguns anos depois para apresentar A Sociedade Individualizada
(BAUMAN, 2008). Nesta obra, o autor aponta algumas características da Con-
temporaneidade que vêm contribuindo para o aumento de nossa insegurança,
resumidas assim:
a) falta de ordem e estrutura. Depois de vivermos muitos anos com divisões
nítidas e objetivos claros, hoje vivemos em um mundo desprovido de uma
estrutura visível, ou de alguma lógica;
b) a desregulamentação universal. O Estado tem abandonado seus deveres tradi-
cionais, deixando a promoção de mercado como uma garantia de uma chance
universal para o autoenriquecimento;
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CONTEXTO & EDUCAÇÃO
c) outras redes de segurança. O apoio que nos era oferecido por familiares e pela
vizinhança, em que tínhamos a oportunidade de curar as feridas causadas pelo
mercado, tem se mostrado cada vez menor e mais fraco;
d) instabilidade dos acontecimentos. Tudo pode acontecer, mas nada irá durar
para sempre. Isso pode estar gerando o que Bauman (2008, p. 115) denominou
de “identidade palimpséstica”, uma identidade que tem facilidade para se
adaptar a este mundo em que a capacidade de esquecer tem se tornado mais
importante do que a arte de memorizar, demandando que nos adequemos
continuamente a novas situações.
Essas são algumas dimensões que Bauman (2008) destaca para explicar
o sentimento de incerteza pós-moderna, os processos de individualização vi-
venciados de forma cada vez mais intensa e a responsabilização dos indivíduos.
Queremos mostrar que tais dimensões parecem operar na produção de outros
significados para diversos elementos educacionais. Entre eles destacamos:
currículo, formação de professores, estratégias de ensino e aprendizagem e
também os processos de avaliação. O acompanhamento constante do aluno e
a construção de procedimentos de avaliação cada vez mais individualizados e
personalizados, parece encontrar condições de emergência no contexto descrito
nessa seção. A seguir passamos para a análise do material empírico, propria-
mente dito, e buscamos dar visibilidade para como a proliferação dos processos
de avaliação tem atuado na intensificação e no controle do trabalho docente,
fortalecendo a necessidade de que a educação se constitua de forma cada vez
mais individualizada.
Observação atenta, registros diários e a construção de portfólios: a proliferação
dos processos de avaliação, a intensificação do trabalho docente e o fortaleci-
mento de uma educação customizada
No ano de 1996 temos a publicação da nova Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. Segundo tal documento, uma nova concepção de avaliação
deveria permear o processo pedagógico. Em seu artigo 24º a lei preverá que a
verificação do rendimento dos estudantes observará alguns critérios específicos,
como avaliação como um processo contínuo e cumulativo, prevalência dos as-
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pectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período
sobre eventuais provas finais. Ressaltamos que com esse artigo não desejamos
nos posicionar contra a avaliação processual, mas mostrar como o deslocamento
para essa nova concepção de avaliação foi traduzido pelo pensamento pedagó-
gico contemporâneo por intermédio das revistas pedagógicas e tem produzido
intensificação e maior controle do trabalho docente e o fortalecimento de uma
educação cada vez mais customizada. Em outras palavras, não negamos neste
escrito a necessidade de que os processos de avaliação necessitem considerar a
singularidade, a diferença e a trajetória escolar dos alunos; mas evidenciar que
as revistas analisadas, ao defenderem a constituição de processos avaliatórios
cada vez mais individualizados, têm colocado em xeque o objetivo maior da
escola, que seria a transmissão de uma cultura comum e universal.
Iniciamos nossas análises apresentando dois excertos da revista Pátio,
em que uma escola flexível e uma educação customizada são defendidos como
princípios que devem orientar uma nova prática pedagógica que considere os
interesses e as necessidades dos alunos como elementos norteadores para a
prática pedagógica do professor:
As práticas de ensino tornam-se flexíveis quando consideram essa emanci-
pação, que é própria de todos os alunos, independentemente da capacidade
de aprender de cada um, e os reconduzem ao lugar de saber do qual foram
excluídos, tanto na escola quanto fora dela. Na mesma direção, as ativida-
des escolares diversificam-se para que todos os alunos possam escolhê-las
livremente, em vez de serem predestinadas e direcionadas para um grupo
ou outro da turma. É preciso coragem e humildade para rever a organização
pedagógica das escolas, à luz de concepções de ensino e de aprendizagem
inovadoras, e para abandonar os arranjos criados para manter as aparências
de práticas que são “bem-intencionadas”, mas que acabam por atribuir ape-
nas ao aluno a responsabilidade por seu fracasso e por sua incapacidade de
acompanhá-las em todos os níveis de ensino.
Fonte: PÁTIO, 2008-2009, p. 18 (grifos nossos).
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CONTEXTO & EDUCAÇÃO
Está na hora de reencontrarmos as necessidades individuais dos alunos e de
repensarmos o nosso papel na sua formação, não só dos ditos “diferentes”,
mas de todos aqueles com os quais temos um compromisso educacional. À
pergunta inicialmente colocada a respeito de como atender os alunos em sua
individualidade, respondo: considerando a diversidade e a heterogeneidade
como elementos essenciais da dimensão criativa dos seres humanos, bem
como reconstruindo a escola que valoriza essa dimensão. Se a escola “ho-
mogênea” foi construída historicamente, a escola da heterogeneidade e da
diversidade também o será. E então poderemos falar em uma escola para todos.
Fonte: PÁTIO, 2010, p. 20 (grifos nossos).
Em ambos os excertos podemos verificar a necessidade de o professor
considerar em sua proposta pedagógica os alunos em sua individualidade e
oferecer atividades diversificadas e escolhas curriculares para que eles possam
optar, a partir desse “cardápio” oferecido pelo professor, qual atividade lhe seria
mais interessante. Desejamos destacar com esses excertos o quanto nos parece
que pautar uma proposta pedagógica a partir dos interesses dos estudantes é
uma forma de transmitir para o aluno a responsabilidade por seu processo for-
mativo. Como buscamos mostrar na seção anterior, essa responsabilização dos
indivíduos é uma das características fundantes do processo de individualização
que vivenciamos contemporaneamente.5
5 Entendemos que a individualização é um processo importante para a constituição e o fortaleci-
mento de uma sociedade democrática, pensamento que se ampara no liberalismo. Na educação,
podemos evidenciar tal pensamento na publicação do Manifesto dos Pioneiros da Educação
Nova (1932) que já defendia que a educação deveria “servir não aos interesses de classe, mas
aos interesses dos indivíduos, e que se funda sobre o princípio da vinculação da escola como
meio social, tem seu ideal condicionado pela vida social atual, mas profundamente humano de
solidariedade, de serviço social e cooperação (AZEVEDO et al. 1932, p. 40-41). Os processos de
individualização, porém, que aqui analisamos, ao responsabilizar os indivíduos tem como base o
pensamento neoliberal e, portanto, configuram um declínio do papel do Estado.
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Para que essa educação personalizada possa se constituir, será necessário
que uma nova forma de docência também seja constituída. Assim, as revistas
pedagógicas aqui analisadas irão defender a constituição de uma docência fle-
xível, em que o professor se constitua como um facilitador das aprendizagens
dos alunos, como podemos observar no excerto a seguir:
O professor é facilitador da aprendizagem, e não fonte de conhecimento. Os
professores são organizadores do ambiente em sala de aula, das experiências
de aprendizagem, dos recursos e das condições procedimentais e práticas de
aprendizagem.
Fonte: PÁTIO, 2004-2005, p. 16.
Assim, o professor flexível, como analisam Masschelein e Simons (2014,
p. 146), “não é mais alguém que é arrebatado por seu assunto e vive para ele,
mas alguém que pode ser arrebatado por tudo – na medida em que a demanda
exija”. Essa necessidade de que o professor constitua o seu trabalho de acordo
com as carências e os interesses dos alunos, é mostrada pelos autores como
uma necessidade de organizar o trabalho docente a partir de uma demanda de
mercado, transformando os processos educacionais em processos cada vez mais
empresariais e comerciais. Ao compreendermos que a lógica do mercado passa
a operacionalizar o trabalho pedagógico, observamos igualmente uma precisão
de maior controle dessa atividade. Assim, desejamos mostrar que a proliferação
dos mecanismos de avaliação aja em dois polos do sistema educacional – se com
relação ao trabalho docente tais mecanismos atuam produzindo maior intensi-
ficação e controle, com relação aos estudantes produz uma responsabilização
destes por seu processo formativo e uma educação cada vez mais individualizada
e personalizada – uma educação customizada.
As revistas analisadas, ao discorrerem sobre uma nova concepção de ava-
liação, vão defender a utilização de diferentes recursos que auxiliem o professor
a acompanhar o desenvolvimento de seus alunos de forma individualizada. Um
dos instrumentos que encontramos bastante recorrência seria o portfólio, como
podemos observar nos excertos a seguir:
RENATA PORCHER SCHERER
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CONTEXTO & EDUCAÇÃO
PORTFÓLIO EXIBE OS AVANÇOS: fazer um portfólio com as produções
da garotada durante sua permanência na escola é fundamental para ajudar a
acompanhar o progresso de cada um e planejar novas intervenções.
Fonte: NOVA ESCOLA, 2006, p. 45.
PORTFÓLIO: Instrumento de avaliação proporciona visão geral e ao mesmo
tempo detalhada sobre o processo de aprendizagem do aluno.
Na educação, o portfólio tomou uma função ainda maior, e se tornou um
instrumento de avaliação, que dá visibilidade ao conhecimento apreendido,
que leva à reflexão, que evidencia os diferentes elementos do desenvolvi-
mento do aluno.
Fonte: NOVA ESCOLA, 2016.
O objetivo de organizar o portfólio, como podemos observar nos excer-
tos anteriormente destacados, seria auxiliar o professor no acompanhamento
de cada aluno de forma individual e também fornecer elementos para que o
docente possa planejar as próximas intervenções pedagógicas para esse aluno.
Para marcar a importância desse instrumento, a revista de 2006 apresenta o
exemplo de um menino, Diogo, ressaltando que foi mediante este instrumento
que se pôde observar seu crescimento. Já a matéria de 2016 apresenta o exemplo
da professora Mara. Ela, a partir de sua experiência, aponta a importância da
utilização do portfólio como estratégia de acompanhamento e avalição indivi-
dual dos alunos. A matéria ressalta que a produção de portfólios historicamente
tem sido associada a uma coletânea organizada de trabalhos executados em um
determinado período de tempo por diferentes profissionais, como fotógrafos,
desenhistas e arquitetos. Assim, esse documento era uma forma de expor suas
qualidades e experiências profissionais. No campo pedagógico, todavia, esse
documento teria um valor ainda maior, por esse material poder constituir-se
como uma ferramenta de avalição. Ao trazermos uma matéria publicada no ano
de 2006 e outra no ano de 2016 sobre a importância de utilização de portfólios
no campo educacional, desejamos mostrar o quanto esse tipo de procedimento
avaliatório cada vez mais tem se consolidado como uma ferramenta importante
para o campo pedagógico.
CENTRALIDADE NA AVALIAÇÃO E EDUCAÇÃO CUSTOMIZADA
133
Ano 32 • nº 102 • Maio/Ago. • 2017
A partir da análise do material empírico fica evidente que outros me-
canismos de avaliação poderão/deverão ser empregados pelos docentes como
forma de acompanhar os estudantes: observação atenta, registros diários e a
construção de portfólios individualizados parecem ser a chave apresentada pelas
revistas para a elaboração de um processo pedagógico de mais qualidade, como
podemos observar no excerto a seguir:
Nesse sentido, vale lembrar que todas as atividades oferecem elementos
para avaliação. A observação de todos no dia a dia é sempre de grande valia
para o professor. Para acompanhar a aprendizagem das crianças é preciso
fazer registros diários sobre o desempenho delas e compilar os trabalhos
que realizam em sala. Esse material pode ser transformado num portfólio
(arquivo da produção dos alunos). A periodicidade com que esses registros
são transformados em notas depende da política educacional de cada escola.
Pode ser bimestral ou trimestral.
Fonte: NOVA ESCOLA, 2009 (grifos nossos).
O que desejamos refletir, com base nos excertos anteriormente destaca-
dos, é que essa transformação na concepção dos processos e dos instrumentos
de avaliação tem operado em uma maior intensificação e controle do trabalho
docente. O processo de intensificação do trabalho docente, segundo Apple
(1995, p. 39), é: “uma das formas tangíveis pelas quais os privilégios dos/as
trabalhadores/as educacionais são degradados”. Isto posto, entendemos que a
criação da necessidade de se ampliar as ferramentas de avaliação por meio da
confecção de tabelas para o acompanhamento individual do aluno, cadernos de
observação com registros diários e organização de portfólios individuais que
apresentem o desenvolvimento de cada aluno, tem produzido uma intensificação
do trabalho docente.
Gandin e Lima (2015, p. 671), ao analisarem as transformações no
trabalho das professoras a partir da introdução de um programa de intervenção
pedagógica, vão mostrar que a intensificação do trabalho docente ocorre “na
medida em que as professoras passam a exercer outras atividades que não
apenas em termos pedagógicos, mas também de gestão da sala de aula.” Com
isso os professores precisariam aprender novas habilidades às quais não estão
RENATA PORCHER SCHERER
134
CONTEXTO & EDUCAÇÃO
habituados para dar conta da nova demanda criada pelo programa analisado.
Acreditamos que a proliferação de mecanismos de avaliação cria a necessidade
de os professores constituírem habilidades que são mais ligadas à gestão da sala
de aula do que dos processos pedagógicos que permeiam a relação professor-
-aluno, produzindo maior intensificação e controle do trabalho docente. Essa
intensificação do trabalho docente parece derivar do novo lugar que a avaliação
tem ocupado no discurso pedagógico contemporâneo. Assim, ao centralizar o
controle do trabalho docente pelas avaliações cada vez mais individualizadas,
visualizamos uma centralidade em habilidades de gestão de sala de aula em
detrimento dos saberes docentes.
Outro aspecto que queremos destacar é a significação atribuída aos co-
nhecimentos no processo de avaliação no material analisado:
A avaliação deve ser planejada para que mostre qualquer progresso obtido
pela criança, mesmo que este seja muito lento. Pequenas etapas de avaliação
demonstram tal progresso, o que passa a ser bastante motivador para o aluno
– assim como para o professor.
Fonte: PÁTIO, 2008-2009, p. 13.
Na sequência, propus que cada jovem escolhesse um material para explorar
mais uma vez – como o que mais gostou ou o mais desafiador. Meu objetivo
era deixar todos irem mais a fundo na experiência. Para encerrar, as produções
foram organizadas em portfólios individuais e a turma pôde ver as criações
e discutir. E, assim, eu vi com clareza o percurso de cada um e avaliei a
aprendizagem do grupo.
Fonte: NOVA ESCOLA, 2012, p. 47.
Dentro dessa nova concepção de avaliação, apresentada por meio de
exemplos nos excetos aqui destacados, será necessário que o professor cons-
trua um documento com o objetivo de mostrar qualquer progresso obtido pela
criança, ou, ainda, que estimule os jovens a optarem por explorar de forma mais
aprofundada as atividades que lhe produzirem maior interesse. Parece-nos que
a adoção dessas novas estratégias de avaliação, ao invés de produzir uma maior
interação com os conhecimentos escolares, têm operado no esmaecimento
da necessidade de transmissão cultural. Essa proliferação de mecanismos de
CENTRALIDADE NA AVALIAÇÃO E EDUCAÇÃO CUSTOMIZADA
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Ano 32 • nº 102 • Maio/Ago. • 2017
avaliação ou controle que vivenciamos contemporaneamente, foi denominada
pelo pesquisador Alfredo Veiga-Neto (2013) de “delírios avaliatórios”, e tem
produzido, além de uma intensificação do trabalho docente, uma nova relação
dos professores e dos alunos com os conhecimentos escolares.
Veiga-Neto (2013), ao analisar essa intensificação dos processos de
avaliação, mostra que parece ter se constituído no campo pedagógico uma
verdade educacional, na qual, se aperfeiçoássemos nosso sistema de avaliação,
de forma imediata melhoraríamos também nosso sistema educacional. Nas
palavras do autor: “Por toda parte, parece que, por si só e num passe de mági-
ca, do aperfeiçoamento da avaliação resultará o aperfeiçoamento da educação
[...]. O salvacionismo pedagógico parece estar apostando, hoje e cada vez mais,
todas as fichas na capacidade de avaliação” (VEIGA-NETO, 2013, p. 9). Desse
modo, entendemos que as revistas pedagógicas, ao defenderem uma avaliação
que mostre e valorize qualquer progresso obtido pela criança e que dê visibi-
lidade a esses progressos por meio de portfólios individuais, têm fortalecido
esse salvacionismo pedagógico que articula melhoria da qualidade na educação
a processos de avaliação mais eficientes.
Articular a ideia de melhoria da qualidade da educação a processos ava-
liativos parece ser uma forma sutil e produtiva de convencer todos os envolvidos
no processo de que esses procedimentos avaliativos são fundamentais. Estamos
avaliando mais, e isto é fato. A questão que se coloca é: Estamos ensinando
mais? Nossos alunos têm aprendido mais? Entendemos ser importante realizar
um breve recuo histórico para mostrar que a relação qualidade na educação e
procedimentos avaliatórios mais eficientes é uma construção histórica datada e
que pode ser problematizada. Tendo isso em vista, apresentamos uma sucinta
reflexão sobre essa construção, tomando como referência os estudos do pesqui-
sador Díaz Barriga (2001), para, após, seguir as análises do material empírico.
Segundo o pesquisador, podemos visualizar que essa relação de imanência
que se estabeleceu entre exame e ação educativa é uma construção histórica a
partir de três motivos: (1) o exame foi um instrumento criado pela burocracia
chinesa para eleger membros de castas inferiores; (2) existem várias evidências
de que, na Idade Média, não existiam exames ligados à prática educativa; (3) a
RENATA PORCHER SCHERER
136
CONTEXTO & EDUCAÇÃO
atribuição de notas a trabalhos escolares é uma herança do século 19. A partir
destes tópicos, apontados por Díaz Barriga (2001), podemos inferir que o exame
não é um problema que se volta historicamente ao conhecimento, mas tem seu
foco voltado para questões sociais, muitas delas sem solução. Nas palavras do
pesquisador:
Assim, o exame é na realidade um espaço de convergência de inúmeros
problemas. Problemas que são das mais diversas ordens. Podem ser socio-
lógicos, políticos e também psicopedagógicos e técnicos. No entanto, por
um reducionismo que no fundo cumpre a função de ocultar a realidade, os
problemas em relação ao exame aparecem agudizados só em sua dimensão
técnica. Desconhecendo os outros âmbitos de estruturação (DÍAZ BARRI-
GA, 2001, p. 56).
Podemos observar que, historicamente, uma amplitude de problemas é
sintetizada pelo exame, depositando-se várias expectativas na ação de examinar.
A solução para diversos problemas que a sociedade não tem conseguido “dar
conta”, como a questão da não aprendizagem dos alunos, poderia ser solucio-
nada com a utilização de um sistema de avaliação eficaz. De acordo com Díaz
Barriga (2001, p. 57), porém, “[...] o exame é só um instrumento que não pode
por si mesmo resolver os problemas gerados por outras instâncias sociais”.
Após essa breve explanação de como se construiu historicamente a rela-
ção qualidade e avaliação e de que a relação entre a construção de conhecimentos
e a avaliação não é uma relação imanente, consideramos importante seguir essa
reflexão analisando como essa proliferação de mecanismos de avaliação parece
estar fortalecendo a constituição de uma educação cada vez mais customizada
e que essa constituição não parece estar atuando no aumento dos processos de
ensino e de aprendizagem na relação pedagógica.
Fabris e Traversini (2013), ao analisarem pareceres descritivos de
professores sobre alunos dos últimos anos do Ensino Fundamental, encontra-
ram resultados semelhantes aos defendidos neste artigo. As autoras mostram
que somente 20% dos pareceres explicitavam conhecimentos aprendidos nas
CENTRALIDADE NA AVALIAÇÃO E EDUCAÇÃO CUSTOMIZADA
137
Ano 32 • nº 102 • Maio/Ago. • 2017
disciplinas. Elas evidenciam também uma centralidade de investimentos em
duas etapas do currículo escolar: metodologias e avaliação, e uma ênfase nos
comportamentos e enfraquecimento do conhecimento das áreas específicas.
Nos materiais analisados também é possível observar uma ênfase na
participação dos alunos em algumas atividades, especialmente com foco na
socialização e no comportamento; assim, o professor é aconselhado a avaliar
cada avanço, cada progresso, como podemos perceber nos excertos apresentados
anteriormente.
O registro diário e a ideia de que todas as atividades oferecem elementos
para a avaliação parecem ser essenciais na Contemporaneidade e têm uma re-
lação com os elementos apontados anteriormente relacionados a uma sociedade
de indivíduos. A avaliação deve considerar todas as atividades realizadas por
aluno e, como já foi apontado anteriormente, deve evidenciar qualquer progres-
so que este obteve. A avaliação focada nesses aspectos nos permite continuar
refletindo sobre a função da escola contemporânea, pois ela parece constituir-se
muito mais como um centro de convivência (FABRIS, 2014) do que como um
espaço onde se produz conhecimento. Será que ainda existe espaço para ensinar
e aprender na escola de hoje?
As análises realizadas por Fabris (2014) em uma pesquisa sobre os
significados atribuídos à escola por alunos e professores, mostram que a ênfase
pedagógica se encontra na convivência e não em conhecimentos, reforçando
o argumento que desejamos desenvolver. A autora também evidencia que os
alunos ainda veem a escola como o espaço que pode ajudá-los a melhorar de
vida, a realizar seus sonhos; portanto, os conhecimentos a serem aprendidos na
escola são entendidos por crianças/jovens como passaporte para a realização
desses sonhos. Esse pode ser um caminho para produzir alguns movimentos
com relação às aprendizagens. Segundo Fabris (2014, p. 65), “a escola ainda é
a instituição que tem compromisso em fazer chegar a todas as classes sociais o
conhecimento culturalmente legitimado. Como as escolas têm assumido esse
compromisso?”
RENATA PORCHER SCHERER
138
CONTEXTO & EDUCAÇÃO
Para concluir essa seção, gostaríamos de retomar a pesquisa sobre os
processos avaliativos de Fabris e Traversini (2013). Conforme as autoras, se, por
um lado, podemos compreender a flexibilidade como uma possibilidade para
entender o tempo atual vivido pelos alunos, por outro essa flexibilidade pode
ser um indício dos mecanismos de controle instaurando-se nas salas de aula.
Juntamente com as autoras, apontamos a importância do conhecimento
na escola pública contemporânea. Acreditamos e defendemos que a centralidade
em processos de avaliação cada vez mais individualizados e a defesa por uma
educação customizada têm produzido um esmaecimento da escola como espaço
para transmissão de uma “cultura comum” (DUSSEL, 2009) e nos perguntamos
o quanto essa configuração pode ser prejudicial, especialmente para uma camada
da população brasileira. Parece-nos que o fortalecimento desses mecanismos tem
contribuído para a constituição de uma “escola em duas velocidades” (NÓVOA,
2009): uma escola que tem como centralidade o acolhimento social, com foco
nos processos de avaliação, que devem considerar qualquer progresso obtido pelo
aluno, voltada para os pobres; e uma escola fortemente ancorada nos processos
de ensino e de aprendizagem para os filhos dos ricos.
A partir do material empírico e das análises apresentadas nessa seção,
desejamos marcar nossa associação às pesquisadoras e pesquisadores que têm
defendido a escola como local onde o conhecimento é ensinado e construído.
Acreditamos que a escola ainda é um dos locais em que as crianças, os jovens e
suas famílias podem depositar a esperança para a construção de uma vida mais
justa e mais feliz; para isso, precisamos assumir o compromisso com o conheci-
mento e olhar com suspeita, investigando os efeitos da centralidade nos processos
de avaliação e os investimentos realizados na produção de uma educação cada
vez mais customizada. Encaminhamo-nos para a última seção, fazendo uma
reflexão dos desdobramentos dos mecanismos analisados e perguntando-nos
se estaríamos nos dirigimos para o fim da escola como espaço de transmissão
de uma “cultura comum” (DUSSEL, 2009).
CENTRALIDADE NA AVALIAÇÃO E EDUCAÇÃO CUSTOMIZADA
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Ano 32 • nº 102 • Maio/Ago. • 2017
Fim da Escola como Espaço para Transmissão
de uma “Cultura Comum”?
O desafio é estruturar uma ideia de cultura comum que possa ser transmitida
e compartilhada, que leve em conta as injustiças e privilégios do passado e
que ao mesmo tempo proponha algumas outras inclusões que não venham
da mão da cultura do mercado ou do indivíduo do autodesenho (DUSSEL,
2009, p. 359).
Terminamos este artigo buscando tecer uma reflexão sobre a pergunta
que é trazida como título de tal empreitada. Estaríamos presenciando o fim da
escola como espaço para transmissão de uma “cultura comum”? Para realizar
tal reflexão, como apresentamos na introdução deste texto, iremos retomar
as contribuições do pensamento de Inés Dussel (2009), quando, em um texto
sobre a crise da transmissão escolar, a pesquisadora, ao investigar os modos
pelos quais o ideal de transmitir uma cultura comum a todos na escola tem sido
posicionado no nosso tempo, mostra que os constantes ataques realizados sobre
a transmissão cultural parecem ter como justificativas centrais duas questões:
1 – o declínio das humanidades; e 2 – a crise da ideia de reprodução cultural.
O primeiro elemento apresentado pela autora teria uma relação com o
declínio da concepção da escola como via para a realização pessoal e para a
ascensão social. Assim, o ideal de cultura comum esteve, em sua origem, ligado
a um núcleo de humanidades modernas que estabelecia o que deveria ser passa-
do às novas gerações. Eram as humanidades que ofereciam “[...] um núcleo de
referências comuns que permitiam às pessoas sentir-se parte de alguma coisa
comum, de uma vida comunitária – com suas hierarquias, inclusões e exclusões...
mas comum enfim” (DUSSEL, 2009, p. 352).
O segundo elemento que tem colocado a transmissão cultural em questão
seria uma crise geral da noção de transmissão e de reprodução cultural. A pesqui-
sadora mostra que, considerando o contexto atual de liquidez e de perspectivas
cada vez mais instáveis, a necessidade de transmissão e reprodução cultural
torna-se um alvo fácil. Dessa forma, as ideias pedagógicas contemporâneas que
festejam a autonomia, a criatividade e a independência, podem estar produzindo
RENATA PORCHER SCHERER
140
CONTEXTO & EDUCAÇÃO
sujeitos que se tornam escravos desse processo, lançando-se sobre “[...] cada
um de nossos ombros a tarefa e a responsabilidade de construir nosso sucesso
ou, o que é mais provável, de suportar e explicar nosso fracasso (DUSSEL,
2009, p. 358).
No cenário brasileiro também evidenciamos estudos que apresentam
uma preocupação com o declínio da transmissão cultural, especialmente nas
discussões relativas aos estudos curriculares. Apontamos as contribuições do
estudo realizado por Silva (2016), que, ao realizar uma problematização acerca
das temáticas de currículo, conhecimento e transmissão cultural, apresenta um
diagnóstico do pensamento social do século 20, que nos ajuda a compreender
como a questão da transmissão escolar tem sido abordada no pensamento
pedagógico contemporâneo. O pesquisador, ao examinar as obras de Émile
Durkhein, Antonio Gramsci e Hannah Arendt, nos convida a um reencontro com
autores significativos para a contemporaneidade pedagógica e que parecem ter
sido esquecidos nas últimas décadas. O autor destaca, em suas conclusões, que,
ao revisitar tais pensadores, ele não evidencia “[...] definições estáticas para a
função da transmissão cultural, nem mesmo cristalizações para o delineamento
dos conhecimentos a serem ensinados” (SILVA, 2016, p. 180). Assim, o texto
apresenta como desafio para o pensamento pedagógico contemporâneo a neces-
sidade de potencializarmos a escolarização e as diferentes formas de transmissão
cultural como uma tarefa do nosso tempo.
Considerando o diagnóstico mais amplo apresentado nesse texto, em que
vivenciamos de forma cada vez mais intensa o individualismo e a responsabiliza-
ção dos indivíduos, e, observando que dentro do recorte educacional defende-se
o estabelecimento de uma educação customizada e de processos formativos e
avaliativos cada vez mais personalizados, nos perguntamos se ainda seria pos-
sível estabelecer alguns elementos que possam agir como referência para todos.
Para enfrentarmos esse desafio que se impõe, Dussel (2009) apresenta
quatro critérios gerais que podem nos auxiliar a repensar a transmissão cultural
a partir da escola. O primeiro critério consiste em compreendermos que a nossa
constituição como sujeitos prescinde de um confronto com a alteridade. Assim,
CENTRALIDADE NA AVALIAÇÃO E EDUCAÇÃO CUSTOMIZADA
141
Ano 32 • nº 102 • Maio/Ago. • 2017
a escola “[...] deveria poder nos ajudar a nos relacionar mais livremente com
uma tradição, e, por isso mesmo, também deveria dar a essa tradição um lugar
para que seja reescrita” (DUSSEL, 2009, p. 360).
O segundo critério seria a necessidade de a escola oferecer resistência à
aceleração dos tempos, da pressão da performance e da necessidade contempo-
rânea de nos reinventarmos o tempo todo. Aqui, caberia às instituições escolares
“[...] oferecer um contexto em que se possa repousar “no outro”, numa herança
acumulada, num saber que o outro nos oferece, num espaço onde se possa errar
e voltar a provar sem maiores consequências”.
O terceiro critério traduz-se na necessidade de a escola oferecer chaves
para que os alunos possam decifrar a experiência comum. Nessa tarefa seria
importante:
[...] recorrer às disciplinas para que nos forneçam modos de abordagem, lin-
guagem, regras, que nos ajudem a construir alguma ordem e algum sentido ou
interpretação que construam uma distância, [...], para que o indivíduo possa
ser também indivíduo estranhando-se, sendo capaz de apor uma distância justa
entre o vivido e a construção de uma experiência (DUSSEL, 2009, p. 360).
O quarto critério apresentado pela pesquisadora seria a busca por en-
contrar um modo de transmissão cultural que não tenha como ponto de partida
um gesto amargo e desencantado. Assim sendo, as escolas, as instituições de-
positárias do passado e responsáveis pelo futuro dos jovens, ao compreenderem
que não são mais o centro das referências culturais, precisam evitar a nostalgia
e a amargura.
Ao nos propormos, nesse breve exercício analítico, a examinar e proble-
matizar os significados acerca dos processos de avaliação escolar que, contem-
poraneamente, são produzidos no interior do discurso pedagógico e os modos
pelos quais são visibilizados por revistas brasileiras, buscamos mostrar como
esses processos têm contribuído para uma educação cada vez mais individual
e customizada. Nossas análises seguiram dois caminhos distintos, porém co-
nectados: em um primeiro momento realizamos um diagnóstico para mostrar
que a produção de avaliações cada vez mais individualizadas, expressas em
RENATA PORCHER SCHERER
142
CONTEXTO & EDUCAÇÃO
nosso material empírico por meio de excertos, como a construção de portfólios
individuais encontra-se ligada à necessidade de acompanhar o progresso de
cada um, parece ter como condição de possibilidade para emergir e se fortale-
cer uma sociedade individualizada, onde os indivíduos são responsabilizados
unilateralmente por seus sucessos e fracassos (BAUMAN, 2008); e no segundo
momento mostramos que a proliferação de mecanismos de avaliação tem atuado
na intensificação e no maior controle do trabalho docente.
Para concluir, retomamos a epígrafe que utilizamos para abrir essa con-
clusão, na qual o desafio que parece se impor é a necessidade de construirmos
uma ideia de cultura comum que, ao mesmo tempo que forneça chaves para os
jovens compreenderem o nosso tempo, possa fomentar a construção de novas
subjetividades que não venham na “mão da cultura do mercado ou do indivíduo
do autodesenho” (DUSSEL, 2009, p. 359).
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... Contemporaneamente, tais análises e críticas aos processos de individualização do ensino centrado em uma suposta liberdade de escolha dada aos estudantes parecem ter se intensificado e assumido novos contornos. Por uma análise da individualização dos processos formativos via estratégias curriculares (Silva, 2014;Scherer e Gräff, 2017), processos de avaliação (Scherer, 2017), deslocamento do ensino para aprendizagem (Biesta, 2013(Biesta, , 2016Masschelein e Simons, 2014a, 2014b ou mesmo dos contornos da autoridade (Aquino, 2014), tais estudos afirmam que a função docente parece se esmaecer com o fortalecimento de propostas pedagógicas cada vez mais individualizantes centradas no interesse de cada aluno em detrimento de uma pauta formativa comum, porém gostaríamos de chamar atenção neste artigo para um aspecto que parece silenciado nas discussões e críticas sobre a individualização dos percursos pedagógicos dos estudantes e de uma pauta formativa centrada nos interesses e nas necessidades deles. ...
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RESUMO O presente ensaio busca problematizar a questão “Por que precisamos da diferenciação pedagógica?”, considerando o debate educacional estabelecido no decorrer do século XX acerca da individualização. Alvo de críticas bastante severas, assim como bandeira de luta de movimentos que apregoam a inovação pedagógica, o conceito de individualização carece de uma reflexão interdisciplinar que efetivamente o mantenha no campo da controvérsia. Ao longo do ensaio, defende-se que a ênfase exclusiva na sociedade pode se converter em violência (na forma dos variados totalitarismos engendrados no século XX), ao mesmo tempo que a ênfase exclusiva no indivíduo, além de pedagogicamente irresponsável, bloqueia as possibilidades de diálogo, a convivência democrática e a constituição de uma pauta formativa comum.
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This paper analyzes the changes in the work of elementary school teachers in public schools of the state of Rio Grande do Sul, after the introduction of a pedagogical intervention program developed from 2007 to 2010. The concepts of disqualification, requalification, intensification, and performativity, based on the work of Michael Apple and Stephen Ball are mobilized in the research. The interviews with teachers, the observations, and the materials from the Alfa and Beto Institute – the program which was implemented – were analyzed through the theoretical focus of these concepts. The text characterizes the transformations that educational policies, based on managerialist configurations of the state – embodied in this program – generate in teachers' work. In the field that was studied, teachers are transformed into executors of a preconceived program and lose their autonomy at the same time that new tasks, dealing with the control of the contents and rhythms, have to be learned. In this transformed work, the choreographed measurement of teachers' actions becomes more important than the content of this action.
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O presente estudo inscreve-se no campo dos Estudos Curriculares e examina as políticas contemporâneas de constituição do conhecimento escolar para o Ensino Médio no Estado do Rio Grande do Sul (Brasil). A partir de uma análise documental, foram estudados os principais documentos curriculares para o Ensino Médio produzidos pelo referido Estado, atribuindo ênfase à recente reforma nomeada como Ensino Médio Politécnico. O estudo justifica-se pelo lugar estratégico ocupado pelo Ensino Médio nas políticas contemporâneas de escolarização e pela relevância social e produtividade acadêmica de investigarmos as políticas de constituição do conhecimento escolar na contemporaneidade. Toma-se como objetivo geral o estabelecimento de um diagnóstico crítico das estratégias políticas que regulam a produção, a seleção e a distribuição do conhecimento escolar no Ensino Médio no referido contexto.
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In this article, I advance some arguments about what is perceived as the crisis of the act of transmitting or passing over culture to new generations. More specifically, I am interested in understanding what is built into the discussion of what a common culture is, and what role schools play in their formation. Schools were institutions that were conceived for producing a core of common references that allowed people to be included in the national society and turn into citizens. Today, both the idea of a 'common culture' and the notion of tradition and cultural reproduction appear to be under siege. First, this siege is linked to the decline of modern humanities as the reference centre for common culture - a decline that has been taking place for over a century. Second, what is taking place is a profound transformation of the ideas of tradition and cultural reproduction, and of the ways in which they are performed. Both elements are discussed in this article. Finally, I suggest some criteria to rethink the passing over of a cultural tradition in schools, taking into account the challenges and questions that have been posed to the construction of a tradition in present conditions
Trabalho docente e textos: economia política e relações de classe e gênero na educação
  • Michael Apple
APPLE, Michael. Trabalho docente e textos: economia política e relações de classe e gênero na educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
Modernidade líquida. Tradução José Gradel
  • Zygmunt Bauman
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Tradução José Gradel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
Família S/A": um estudo sobre a parceria família-escola
  • Maria Dal'igna
  • Cláudia
DAL'IGNA, Maria Cláudia. "Família S/A": um estudo sobre a parceria família-escola.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
  • Tese
Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação, Porto Alegre, 2011.
Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos
  • Díaz Barriga
DÍAZ BARRIGA, Angel. Uma polêmica em relação ao exame. In: ESTEBAN, Maria Teresa (Org.). Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. p. 51-92.
Conhecimentos escolares sob outras configurações: efeitos das movimentações disciplinares e de controle? Currículo e inclusão na escola de Ensino Fundamental
  • Elí Terezinha Henn
  • Clarice Traversini
  • Salete
FABRIS, Elí Terezinha Henn; TRAVERSINI, Clarice Salete. Conhecimentos escolares sob outras configurações: efeitos das movimentações disciplinares e de controle? In: TRAVERSINI, Clarisse Salete et al. (Org.). Currículo e inclusão na escola de Ensino Fundamental. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2013.
Currículo e docência nas políticas de ampliação da jornada escolar
  • Elí Fabris
  • Terezinha Henn
FABRIS, Elí Terezinha Henn. A escola contemporânea: um espaço de convivência? In: SILVA, Roberto Rafael Dias da (Org.). Currículo e docência nas políticas de ampliação da jornada escolar. Porto Alegre: Evangraf, 2014, p. 47-66.