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1839
Rev Cuid 2017; 8(2): xxxx-xxx 1839
Rev Cuid 2017; 8(3): 1839-48
Histórico
Recibido:
11 de junio de 2017
Aceptado:
10 de agosto de 2017
1 Mestranda do Programa
de Pós-Graduação em
Enfermagem da Universidade
Estadual de Maringá.
Maringá, Paraná, Brasil.
Autor para Correspondência.
E-mail:
daianetcortez@gmail.com
2 Mestranda do Programa
de Pós-Graduação em
Enfermagem da Universidade
Estadual de Maringá.
Maringá, Paraná, Brasil.
3 Doutoranda do Programa
de Pós-Graduação em
Enfermagem da Universidade
Estadual de Maringá.
Docente da graduação em
Enfermagem da Universidade
Estadual do Paraná. Maringá,
Paraná, Brasil.
4 Doutorando do Programa
de Pós-Graduação em
Enfermagem da Universidade
Estadual de Maringá.
Maringá, Paraná, Brasil.
5 Doutora em Enfermagem.
Docente da Graduação e Pós-
Graduação em Enfermagem
da Universidade Estadual de
Maringá. Maringá, Paraná,
Brasil.
Open Access ARTÍCULO ORIGINAL
Como citar este artigo: Raimondi DC, Bernal SCZ, Souza VS, Oliveira JLC, Matsuda LM. Higienização das mãos: adesão da equipe de enfermagem
de unidades de terapia intensiva pediátricas. Rev Cuid. 2017; 8(3): 1839-48. http://dx.doi.org/10.15649/cuidarte.v8i3.437
©2017 Universidad de Santander. Este es un artículo de acceso abierto, distribuido bajo los términos de la licencia Creative Commons
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y la fuente sean debidamente citados.
http://dx.doi.org/10.15649/cuidarte.v8i3.437
Resumo
Introdução: As mãos constituem uma importante fonte de transmissão de micro-organismos, deste modo este
estudo objetivou investigar a adesão da equipe de enfermagem de Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica à
higienização das mãos. Materiais e Métodos: Estudo descritivo transversal, realizado em três hospitais gerais
públicos da região Sul do Brasil. A coleta de dados foi realizada entre fevereiro e março de 2015, durante 10 dias
consecutivos e aleatórios, por meio da técnica de observação sistemática. Foram observadas 2 horas diárias de
trabalho efetivo dos prossionais de enfermagem, as oportunidades perdidas e aproveitadas para higienização das
mãos. Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva. Resultados: Foram realizadas 42 observações,
que resultaram em 642 oportunidades, dessas a prática de higienização das mãos foi realizada em 360 (56%) das
oportunidades. Discussão: Assim, verica-se que os prossionais da equipe de enfermagem negligenciam na maior
parte das vezes a prática de higienização das mãos, o que pode estar relacionado não diretamente com a falta de
conhecimento, mas a não adesão do conhecimento á prática diária, além de sobrecarga de tarefas, a quantidade de
pacientes sob os seus cuidados e aos procedimentos realizados. Conclusões: A adesão das equipes investigadas
apresentou-se insatisfatória à higienização das mãos e; prossionais técnicos de enfermagem se mostraram menos
aderentes que enfermeiros.
Palavras chave: Higienização das Mãos; Segurança do Paciente; Unidades de Terapia Intensiva; Equipe de
Enfermagem.
Abstract
Introduction: Hands constitute an important source of microorganism transmission; thus, this study sought to
investigate adherence to hand hygiene by the nursing sta in Pediatric Intensive Care Units. Materials and
Methods: Descriptive cross-sectional study, conducted in three public general hospitals in the Southern region of
Brazil. Data was collected between February and March of 2015, during 10 consecutive and random days, through
systematic observation technique. Two hours of eective work of the nursing professionals were observed, as
opportunities lost and used for hand hygiene. Data were analyzed through descriptive statistics. Results: Forty-
two observations were obtained, resulting in 642 opportunities, of which hand hygiene practice was performed in
360 (56%) of the opportunities. Discussion: Thus, it is veried that the nursing sta professionals often neglect
the hand hygiene practice, which may be related not directly to the lack of knowledge, but to non-adherence
of knowledge to the daily practice, in addition to work overload, number of patients under their care, and the
procedures performed. Conclusions: Adhesion to hand hygiene by the sta investigated was unsatisfactory and
technical nursing professionals were less compliant than nurses.
Key words: Hand hygiene; Patient safety; Intensive care units; Nursing team.
Resumen
Introducción: Las manos constituyen una importante fuente de transmisión de microorganismos, de este modo este
estudio objetivó investigar la adhesión del equipo de enfermería de Unidades de Cuidado Intensiva Pediátrica a la
higienización de las manos. Materiales y Métodos: Estudio descriptivo transversal, realizado en tres hospitales
generales públicos de la región Sur de Brasil. La recolección de datos fue realizada entre febrero y marzo de 2015,
durante 10 días consecutivos y aleatorios, por medio de la técnica de observación sistemática. Se observaron 2
horas diarias de trabajo efectivo de los profesionales de enfermería, las oportunidades perdidas y aprovechadas
para higienización de las manos. Los datos fueron analizados por medio de estadística descriptiva. Resultados:
Se realizaron 42 observaciones, que resultaron en 642 oportunidades, de las cuales la práctica de higienización de
las manos fue realizada en 360 (56%) de las oportunidades. Discusión: Así, se verica que los profesionales del
equipo de enfermería descuidan la mayoría de las veces la práctica de higienización de las manos, lo que puede
estar relacionado no directamente con la falta de conocimiento, sino la no adhesión del conocimiento a la práctica
diaria, Además de sobrecarga de tareas, la cantidad de pacientes bajo sus cuidados y los procedimientos realizados.
Conclusiones: La adhesión de los equipos investigados fue insatisfactoria a la higienización de las manos, siendo
que los técnicos de enfermería se mostraron menos adherentes que enfermeros.
Palabras clave: Higiene de las Manos; Seguridad del Paciente; Unidades de Terapia Intensiva; Equipo de
Enfermería.
Revista Cuidarte
Higienização das mãos: adesão da equipe de enfermagem de unidades
de terapia intensiva pediátricas
Hand hygiene: adherence by the nursing sta in pediatric intensive care units
Higienización de las manos: adhesión del equipo de enfermería de las unidades
de cuidado intensiva pediátrica
Daiane Cortêz Raimondi1
ID
, Suelen Cristina Zandonadi Bernal2
ID
, Verusca Soares de Souza3
ID
,
João Lucas Campos de Oliveira4
ID
, Laura Misue Matsuda5
ID
1840 Revista Cuidarte
Rev Cuid 2017; 8(3): 1839-48 Higienização das mãos: adesão da equipe de enfermagem de unidades de terapia intensiva pediátricas
INTRODUÇÃO
Durante a prestação do cuidado as mãos dos
prossionais da saúde são contaminadas por
agentes patógenos, constituindo-se no principal
mecanismo de transmissão de microrganismos
de um local para outro, de um paciente para outro
ou de um local contaminado para os pacientes1,2.
Deste modo, a adesão ao procedimento de
higienização das mãos de forma rotineira é
constantemente associada a práticas seguras
do cuidado à saúde, em especial em setores
de alta complexidade destinados à pacientes
considerados vulneráveis, como crianças3. Sendo
assim, primordial a prática de higienização das
mãos pelos prossionais da área da saúde a m
de evitar e reduzir as Infecções Associadas aos
Cuidados de Saúde (IACS).
Cumpre mencionar que as IACS acometem
milhões de pessoas por ano4. Portanto, estes
eventos adversos compõem um grave problema
de saúde pública, por favorecer sobremaneira a
resistência de microorganismos a terapêuticas
farmacológicas; aumento do período de internação
hospitalar; maior oneração aos sistemas de saúde
e elevação da mortalidade1.
Nos hospitais europeus, a taxa de transmissão de
infecções em decorrência da assistência prestada
pelos prossionais de saúde é de aproximadamente
cinco milhões por ano4. Nessa perspectiva,
estima-se que em países desenvolvidos, sete
a cada 100 pacientes hospitalizados adquirem
IACS e países em desenvolvimento apresentam
em torno de dez pacientes5.
Com relação ao impacto das IACS, a maior parcela
ocorre nos grupos vulneráveis, em especial
em paciente pediátricos, no qual há registros
de cerca de quatro mil mortes de crianças em
consequência dos eventos adversos nos países em
desenvolvimento3. Apesar da gravidade clínica
e epidemiológica das IACS, ressalta-se que tais
infecções podem ser evitadas ou minimizadas,
principalmente quando a higienização das mãos
é realizada de forma frequente e correta4.
Ao reconhecer o papel central da higienização
das mãos para a prevenção de IACS, e ação que
protagoniza a segurança do paciente, em 2005 a
Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou
o desao global da segurança do paciente,
intitulado como “cuidado limpo é cuidado mais
seguro”6. Tal proposta intenta a mobilização
dos países para reduzir as IACS dando amplo
enfoque à prática racional da higiene das mãos
dos prossionais de saúde6.
Com objetivo de orientar os prossionais
de saúde sobre as melhores práticas de
higienização das mãos e prevenir a transmissão
de microrganismos, em 2013 a Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (ANVISA) estabeleceu
o Protocolo para a Prática de Higienização
das Mãos em Serviços de Saúde, o qual indica
a técnica correta e cinco momentos em que os
prossionais da saúde devem higienizar as mãos:
“antes do contato com o paciente”, “antes da
realização de procedimentos”, “após o risco de
exposição a secreções e uidos corporais”, “após
contato com o paciente” e; “após o contato com
áreas próximas ao paciente”7.
Revista Cuidarte
1841
Rev Cuid 2017; 8(3): 1839-48
Daiane Cortêz Raimondi, Suelen Cristina Zandonadi Bernal, Verusca Soares de Souza,
João Lucas Campos de Oliveira, Laura Misue Matsuda
Embora o entendimento acerca da efetividade da
higienização das mãos na precaução de infecções
seja disseminado, destaca-se que a adesão dos
prossionais de saúde a essa prática ainda se
apresenta de forma insuciente1. Neste escopo, a
OMS revela que 70% dos prossionais da saúde
não realizam a higienização das mãos de forma
habitual4.
Comparando-se as oportunidades de higienização
das mãos com a prática efetiva, foi constatado que
enfermeiros e médicos realizam o procedimento
em menos de 50% das vezes em que deveriam2,
e; esse quadro é agravado em situações críticas
em que a limitação de tempo e a carga elevada de
trabalho reduz a adesão a essa prática para 10%2.
Um estudo desenvolvido em Unidades de
Terapia Intensiva (UTI) de hospitais americanos
constatou que a higienização das mãos pelos
prossionais da área da saúde foi realizada apenas
em 26% das ocasiões recomendadas8. No Brasil,
uma pesquisa observacional, realizada com a
equipe médica, de enfermagem e sioterapia de
uma UTI para adultos de hospital de ensino do
Paraná, identicou adesão de 28,6% à prática
de higienização das mãos, implicando assim em
condições de insegurança ao paciente9.
Frente ao panorama que pontua o paciente
pediátrico como aquele de maior vulnerabilidade
à IACS3, aliado ao fato de que situações
assistenciais complexas diminuem a adesão do
prossional à higienização das mãos2, considera-
se que investigar acerca da prática da higienização
das mãos no cuidado em terapia intensiva
pediátrica pode subsidiar decisões que permitam
planejar melhor a oferta de cuidados (mais)
seguros. Com base nisso, questiona-se: Como
se apresenta a adesão da equipe de enfermagem
de Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica
à higienização das mãos? Para responder a
esta questão este estudo objetivou investigar e
confrontar a adesão da equipe de enfermagem
de Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica
(UTI-P) de três hospitais universitários públicos
da região Sul do Brasil quanto à higienização das
mãos, bem como comparar a adesão desta prática
entre os prossionais enfermeiros e técnicos de
enfermagem.
MATERIAIS E MÉTODOS
Estudo descritivo e transversal, realizado em
três UTI-P de hospitais universitários públicos
de médio a grande porte, situados na região Sul
do Brasil. Destes, dois são de regência estadual
(Hospital A e Hospital B) e um, de administração
federal (Hospital C).
A UTI-P do Hospital A possui cinco leitos de
internação e sete pias para higienização das mãos.
Conta com uma equipe prossional composta por
seis enfermeiros, sete técnicos de enfermagem e
nove auxiliares de enfermagem. Já no Hospital
B, a UTI-P conta com seis leitos de internação e
dois leitos de isolamento e pias para higienização
das mãos. A equipe de enfermagem é formada
por 11 enfermeiros e 10 técnicos de enfermagem.
Por sua vez, no Hospital C a UTI-P possui seis
leitos de internamento e seis de isolamento,
contando com oito pias para higienização das
mãos e uma equipe prossional composta por
seis enfermeiros, nove técnicos e 14 auxiliares
de enfermagem. Destaca-se que em todas as
1842 Revista Cuidarte
Rev Cuid 2017; 8(3): 1839-48 Higienização das mãos: adesão da equipe de enfermagem de unidades de terapia intensiva pediátricas
instituições os prossionais realizam escala de
trabalho disposta por seis ou 12 horas por turno,
com plantão de 12 horas nos nais de semana.
Os dados foram coletados por mestrandos e
doutorandos capacitados para tal, entre fevereiro
a março de 2015, durante sete dias consecutivos,
por meio da técnica de Observação não
Participante ou Observação Sistemática, que se
refere à coleta de dados in loco, por pessoa não
envolvida no trabalho10. Para a coleta dos dados
foi elaborado um formulário de observação,
embasado no Manual para observadores:
Estratégia multimodal da OMS para a melhoria da
higienização das mãos2, e também, no Protocolo
para a Prática de Higienização das Mãos em
Serviços de Saúde da ANVISA7.
Participaram da pesquisa os prossionais
enfermeiros e técnicos de enfermagem que
atenderam ao critério de inclusão de atuar na
UTI-P há pelo menos três meses. Ao longo
dos sete dias de observação, os pesquisadores
selecionaram aleatoriamente um prossional de
nível superior e outro de nível médio para serem
observados por turno, com sequenciamento
alternado durante os dias, contemplando-se todos
os turnos de trabalho.
Durante os turnos foram observadas e
contabilizadas durante duas horas de trabalho
efetivas, as oportunidades perdidas e aproveitadas
da equipe de enfermagem das UTI-P, em relação
aos cinco momentos preconizados pela Anvisa
para realização da higienização das mãos.
Foi realizada estatística descritiva, com
frequências absolutas (n) e relativas (%), no
qual a análise dos dados foi desenvolvida com
o software Microsoft Oce Excel, versão 2010.
A pesquisa foi realizada após o parecer favorável
à sua execução pelo Comitê Permanente de
Ética em Pesquisas Envolvendo Seres Humanos
(COPEP), da Universidade Estadual de Maringá,
sob CAAE n0 32206414.6.1001.0104 e Parecer
no 866.802 e depois da concordância e assinatura
dos participantes ao Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido – TCLE.
Cabe ressaltar que todos os aspectos éticos
contidos na Resolução 466/2012 do Conselho
Nacional de Saúde foram respeitados.
RESULTADOS
Foram realizadas 42 horas de observações
nas UTI-P das três instituições, durante os
turnos matutino, vespertino e noturno. Desta
forma, houve 14 horas de observações em cada
instituição, com enfermeiros e técnicos de
enfermagem. Nesse processo houve recusa de
um prossional enfermeiro.
Durante as observações, foram vericadas
642 oportunidades de higienização das mãos e
constatado a adesão dos prossionais da equipe
de enfermagem em 360 (56%) das oportunidades
de higienização das mãos.
Na Tabela 1, constam dados sobre a adesão à
higienização das mãos das equipes de enfermagem
de UTI-P dos hospitais investigados, segundo os
momentos/oportunidades de recomendação à essa
prática, bem como, por categoria prossional.
Revista Cuidarte
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Rev Cuid 2017; 8(3): 1839-48
Daiane Cortêz Raimondi, Suelen Cristina Zandonadi Bernal, Verusca Soares de Souza,
João Lucas Campos de Oliveira, Laura Misue Matsuda
Tabela 1. Oportunidades observadas e adesão à higienização das mãos pela equipe de enferma-
gem de UTI-P, por categoria prossional. Paraná, 2015
Momentos de oportunida de
e adesão à higienização Enfermeiro Técnico de
Enfermagem % %
Oportunidade antes do contato 100
100
102
100 202 100
51
51
47
46
98
48,5
22
100
20
100
42
100
16
72,7
12
60
28
66,6
20
100
34
100
54
100
17 85 22 64,7 39 72,2
118
100
93
100
211
100
86 72,8 53 56,9 139 65,8
57 100 76 100 133 100
33 57,8 23 30,2 56 42,1
Oportunidade após contato
Adesão a Higienização após
contato
Adesão a Higienização antes
do contato
Oportunidade antes do
procedimento
Adesão a Higienização antes
do procedimento
Oportunidade após risco de
exposição
Adesão a Higienização após
risco de exposição
Oportunidade após contato
próximo
Adesão a Higienização após
contato próximo
Total %
Na Tabela 2, constam dados da adesão à higienização das mãos entre a equipe de enfermagem das
UTI-P, por hospital, oportunidade e categoria prossional.
Tabela 2. Adesão à Higienização das mãos pela equipe de enfermagem de UTI-P, por hospital,
oportunidades e categoria prossional. Paraná, 2015
Hospital Enfermeiro Técnico de Enfermagem
Oportunidade Adesão % Oportunidade Adesão %
Hospital A 134 53 39,5 159 26 16,3
Hospital B 107 81 75,7 64 35 54,6
Hospital C 76 69 90,7 102 96 94,1
1844 Revista Cuidarte
Rev Cuid 2017; 8(3): 1839-48 Higienização das mãos: adesão da equipe de enfermagem de unidades de terapia intensiva pediátricas
DISCUSSÃO
Diante do intuito de investigar a adesão da
equipe de enfermagem de UTI-P de três
hospitais universitários públicos da região Sul
do Brasil quanto à prática de higienização das
mãos, este estudo possibilitou a constatação
de que esta prática ainda se apresenta aquém
do ideal e incompatível com o cuidado seguro.
A Tabela 1, que apresenta a comparação entre
oportunidades de higienização das mãos com as
vezes que a mesma é efetivada de acordo com
os momentos recomendados pela OMS e Anvisa,
demonstra que os prossionais negligenciam na
maior parte das vezes a higienização das mãos,
especialmente após contato próximo com o
paciente e antes do contato com o mesmo. Quando
comparado a adesão de enfermeiros e técnicos
de enfermagem, verica-se que os prossionais
técnicos de enfermagem apresentaram uma
menor adesão a higiene das mãos em todos os
momentos preconizados, quando comparados ao
prossional enfermeiro.
Esses dados são preocupantes porque, a
higienização das mãos se relaciona diretamente
com a transmissão de microorganismos e a
simples adesão às medidas de higiene adequadas
podem prevenir entre 20% a 30% das IACS11. É
importante mencionar ainda que além de prevenir
as IACS, a prática adequada da higienização das
mãos, conforme recomendada pela OMS é capaz
de prevenir a resistência bacteriana12, sendo
assim primordial a adesão correta da higiene das
mãos.
Estudos conrmam a baixa adesão a prática de
higienização das mãos pelos prossionais da área
da saúde, no entanto, ressaltam que nas pesquisas
realizadas a adesão a higiene das mãos apresenta-
se menor antes do contato do que após o contato
com o paciente, mobiliário e equipamentos13-15.
Já um estudo observacional realizado em uma
UTI pediátrica no Sul do Brasil identicou que,
dentre as 209 oportunidades dos prossionais da
saúde para higienizar as mãos, antes do preparo
e administração de medicamentos, a prática foi
realizada apenas em 66 (31,58%) oportunidades3.
Tal dado remonta ao fato de que, embora a
importância da higienização das mãos seja
disseminada, a prática ainda não se concretiza no
cotidiano assistencial.
No que diz respeito à adesão dos enfermeiros
à higienização das mãos, reforça-se que estes
apresentaram adesão maior a higienização
das mãos quando comparados ao técnico de
enfermagem, no entanto, no presente estudo, não
apresentaram adesão satisfatória, principalmente
antes do contato com o paciente (51%) e após
contato próximo (57,8%). A maior adesão dos
enfermeiros quando comparados aos prossionais
técnicos de enfermagem pode ter relação com a
elevada responsabilização de tal prossional,
que atua como líder da equipe de enfermagem,
Revista Cuidarte
1845
Rev Cuid 2017; 8(3): 1839-48
Daiane Cortêz Raimondi, Suelen Cristina Zandonadi Bernal, Verusca Soares de Souza,
João Lucas Campos de Oliveira, Laura Misue Matsuda
devendo assim ser exemplo de comprometimento
e de responsabilidade. Além disso, em casos de
eventos adversos associados à assistência, este
pode ser apontado como principal responsável
porque, o enfermeiro é o gestor do cuidado à
saúde.
Em relação as diculdades dos prossionais de
enfermagem de nível médio em aderir de forma
adequada a higienização das mãos, um estudo14,
identicou que a sobrecarga de trabalho e a
rotina de assistência a vários pacientes, eram os
principais fatores que dicultavam a realização
da referida prática. Associado a isso, apontou
outras razões como: educação permanente
inadequada e insuciente, indisponibilidade
de equipamentos e; atendimento emergencial
como fatores que dicultam a adesão destes
prossionais a prática da higienização das mãos
em todas as oportunidades preconizadas pela
OMS e Anvisa14. Apesar disso, é necessário
que a higienização das mãos seja uma prática
que se torne hábito entre os mesmos porque,
diuturnamente estão em contato direto com o
paciente, colocando-os em risco.
Cabe mencionar que a adesão insatisfatória da
higienização pelos prossionais técnicos de
enfermagem também foi constatada em um
estudo que teve como objetivo analisar a adesão
dos prossionais de saúde atuantes em uma UTI,
aos cinco momentos de higienização das mãos
e identicou que os técnicos de enfermagem
apresentavam a menor adesão a prática de
higienização das mãos (29,8%)13. Outro estudo
realizado em uma enfermaria de um Hospital
Universitário de Belo Horizonte também
constatou adesão inadequada, no qual apenas
32,2% dos técnicos de enfermagem aderiram a
prática de higiene das mãos14.
Ressalta-se que a prática da higienização das
mãos em menor frequência do que o recomendado
foi observada também em uma UTI Infantil.
Neste estudo15, a adesão a higienização das
mãos foi investigada entre a equipe médica,
de enfermagem e da equipe complementar e
constatou-se que a equipe médica apresentava
a maior adesão (39,8%), seguida da equipe de
enfermagem (34%). Analisando as categorias
prossionais o estudo constatou que o enfermeiro
é o prossional com maior adesão à higienização
das mãos (45%). Já os auxiliares de enfermagem
e os técnicos de radiologia a menor adesão a
esta prática (16% e 9% respectivamente). Frente
a essas constatações verica-se que a adesão a
prática de higienização ainda é insuciente,
principalmente entre os prossionais de nível
médio.
Neste estudo pode-se identicar ainda que
os enfermeiros e os técnicos de enfermagem
apresentaram maior adesão a higiene das
mãos após o risco de exposição (85% e 64,7%
respectivamente), corroborando com outro
estudo13, que obteve resultado semelhante, no
1846 Revista Cuidarte
Rev Cuid 2017; 8(3): 1839-48 Higienização das mãos: adesão da equipe de enfermagem de unidades de terapia intensiva pediátricas
qual os prossionais apresentaram adesão de
55,6% a higiene das mãos após risco de exposição
a uídos e 58,9% aderiram a prática após
contato com o paciente, sendo os dois principais
momentos que apresentaram uma maior adesão a
prática de higienização das mãos.
Cabe ressaltar que a baixa adesão dos
prossionais para realizar a higienização das
mãos pode não estar diretamente associado ao
conhecimento teórico dessa ação, mas sim, a
inclusão desse conhecimento na prática diária
e no hábito cotidiano do prossional16. Nesta
perspectiva, as instituições de saúde devem
estabelecer estratégias voltadas à maior adesão
do prossional a essa prática como, reduzir
a sobrecarga de trabalho dos prossionais e
aumentar os locais de higienização das mãos que,
de acordo com o preconizado pela Anvisa, na
UTI pediátrica deve conter um lavatório a cada
quatro berços, sejam eles de cuidados intensivos
ou não17.
Em análise da Tabela 2, a qual se refere à adesão
da higienização das mãos por instituição de
saúde, constatou-se que o Hospital C obteve o
melhor percentual entre enfermeiros (90,7%) e
prossionais técnicos de enfermagem (94,1%).
Talvez a maior porcentagem seja justicada
pelo fato de que a UTI pediátrica do referido
hospital possui maior número de isolamentos
quando comparado às outras instituições, o que
pode gerar maior conscientização e cobrança
quanto à prática de higienização das mãos. Em
contrapartida, o Hospital A apresentou a menor
adesão dos enfermeiros (39,5%) e técnicos de
enfermagem (16,3%).
Cabe mencionar, que as diferenças na adesão
à higienização das mãos entre os hospitais
estudados também podem estar relacionadas
com a cultura da instituição, formação dos seus
prossionais, existência e/ou atuação do Núcleo
de Segurança do Paciente e; também, do Serviço
de Educação Permanente.
Um estudo realizado em hospitais da região
Noroeste do Paraná constatou alto percentual
de acertos pelos prossionais da enfermagem
nas questões sobre higienização das mãos,
porém, 86,5% dos prossionais investigados não
conheciam na íntegra, as instruções para a prática
de higienização das mãos18.
Mediante a constatação de que os prossionais
de enfermagem têm pouca adesão à prática da
higienização das mãos, conjectura-se que a
realização de ações educativas e a implantação
de programas de educação permanente nas
instituições de saúde são primordiais para
incentivar e sensibilizar os prossionais para a
adesão de práticas que contribuem à prevenção
das IACS, como a higienização das mãos, em
todos os momentos indicados pela OMS e
Anvisa.
Revista Cuidarte
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Rev Cuid 2017; 8(3): 1839-48
Daiane Cortêz Raimondi, Suelen Cristina Zandonadi Bernal, Verusca Soares de Souza,
João Lucas Campos de Oliveira, Laura Misue Matsuda
Como limitações deste estudo destacam-se a não
inclusão de outras categorias prossionais da área
da saúde e a não avaliação do conhecimento dos
participantes sobre a prática de higienização das
mãos, o que poderia subsidiar a identicação das
falhas e causas da não adesão dos prossionais
a esta prática, colaborando para o planejamento
de ações para sensibilizar os prossionais
sobre a importância e necessidade da adesão
conforme preconizado, a prática de higienização
das mãos. No entanto, cabe ressaltar que este
estudo possibilitou identicar as práticas de
enfermeiros e técnicos de enfermagem atuantes
em UTI-P de três hospitais universitários
públicos da região Sul do Brasil favorecendo
aos gestores e prossionais informações para
subsidiar ações de educação permanente, bem
como o fortalecimento da cultura de segurança
do paciente a m de melhorar a qualidade dos
cuidados, garantindo uma assistência livre de
danos e riscos ao paciente.
CONCLUSÕES
Conclui-se que a adesão à higienização das
mãos pela equipe de enfermagem das UTI-P
dos hospitais investigados é decitária porque
os prossionais da equipe de enfermagem
apresentaram adesão insatisfatória à higienização
das mãos nos momentos preconizados pela OMS
e ANVISA. Além disso, os prossionais técnicos
de enfermagem se mostraram menos aderentes
à prática de segurança do paciente do que os
enfermeiros.
Como sugestão de novas investigações, propõe-
se que diferentes prossionais da área da saúde
e abordagens mistas sejam realizadas para que
se elucidem com mais profundidade as causas
da não adesão à higienização das mãos pelos
prossionais da saúde. Além disso, sugere-se
investigações com foco na responsabilidade
prossional do enfermeiro, relacionada à adesão
de práticas seguras.
Financiamento: Este trabalho foi nanciado
pelo edital PPSUS.
Conito de interesses: Os autores declaram que
não há conito de interesses.
REFERÊNCIAS
1. Santos TCR, Roseira CE, Piai-Morais TH, Figueiredo
RM. Higienização das mãos em ambiente hospitalar: uso
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