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CRENÇAS DE PROFESSORES DE INGLÊS
SOBRE O USO DO FACEBOOK
Kyria Finardi*
Beatriz Pimentel**
Abstract: The aim of this study is to reflect about the use of social networks for educational
purposes in general and for foreign language (L2) education in particular. In order to do so, the
study analyzed L2 teachers’ beliefs regarding the use of Facebook as an educational tool. A
group of thirty L2 teachers answered a semi-structure questionnaire sent by email. Results of the
study suggest that most of the L2 teachers who participated in the study use Facebook for
personal and professional reasons though they tend to view this tool as still playing a supporting
rather than an integrative role in L2 teaching practices and methodologies.
Keywords: Facebook, beliefs, L2 education
Resumo: O objetivo deste trabalho é refletir sobre o uso de redes sociais na educação em geral e
no ensino de língua estrangeira (L2) em particular. Com esse objetivo o estudo analisou as
crenças de professores de inglês (L2) sobre o uso do Facebook como ferramenta educacional.
Um grupo de 30 professores de inglês responderam um questionário semi-estruturado enviado
por email. Os resultados do estudo sugerem que a maior parte dos professores de inglês que
participou no estudo usa o Facebook por motivos pessoais e profissionais ainda que essa
ferramenta seja vista por eles como tendo um papel periférico e não integrante nas práticas e
metodologias de ensino de L2.
Palavras-chave: Facebook, crenças, aprendizado de L2
Introdução
No início dos anos 90, os usuários da internet, na época denominados
internautas, tinham como meios de comunicação virtual o correio eletrônico (e-mail) e
chats como MIRC e ICQ. Apesar de a interação por meios dessas ferramentas serem em
tempo real, esses aplicativos não ofereciam aos usuários possibilidades de criação de
conteúdos.
* Mestre e doutora em Linguística Aplicada em Inglês e professora efetiva do Departamento de
Linguagens, Cultura e Educação e dos Programas de Pós Graduação em Linguística (PPGEL) e Educação
(PPGE) da UFES.
** Graduada em jornalismo, especialista em Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Inglesa e
graduanda em Letras Inglês – UFES.
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Com a popularização da internet surgiram novas possibilidades de interação. A
internet conhecida como 1.0 foi aos poucos perdendo espaço para a internet 2.0 que
permite aos usuários criar e compartilhar conteúdos com outros usuários. Dentre as
várias possibilidades de interação ofertadas pela web 2.0, as redes sociais tem se
tornado cada vez mais populares mudando a forma como nos relacionamos com os
outros e com o mundo.
Outro fenômeno que alterou significativamente nossa interação social na
atualidade é a expansão da língua inglesa com o consequente aumento de possibilidades
de acesso à informação disponível na internet (por exemplo FINARDI & FERRARI,
2008; FINARDI, PREBIANCA, MOMM, 2013). De acordo com Graddol (2006), em
aproximadamente 5 anos (ou seja, em 2011 já que o estudo foi publicado em 2006)
haveriam por volta de 2 bilhões de falantes de inglês no mundo. Este fenômeno altera o
status do inglês que já não é uma língua estrangeira e sim um idioma internacional. A
mudança no status do inglês afeta, por sua vez a abordagem de ensino de língua inglesa
que se depara com a seguinte realidade no mundo globalizado que vivemos: a língua
internacional e mais falada no mundo hoje (como L2) é o inglês e o meio de
comunicação mais utilizado para transmissão e acesso à informação é a internet. Nesse
cenário, novas metodologias de ensino de inglês como língua estrangeira terão que
incorporar técnicas de desenvolvimento de letramento digital ao mesmo tempo em que
ensinam o inglês como língua internacional de acesso à informação (FINARDI,
PREBIANCA, MOMM, 2013).
Podemos dizer que a comunicação contemporânea é multimodal e inclui som,
vídeo, imagem, palavra e tem a internet como principal veículo. Nesse cenário, a
educação atual requer uma mudança de paradigmas com a consequente reavaliação de
métodos tradicionais de ensino. Como já apontado em vários estudos (por exemplo,
FINARDI, 2012), a educação precisa pensar em abordagens híbridas que conjuguem o
método tradicional de ensino com o uso de computadores e tecnologias da informação e
comunicação (doravante TICs) para fins educativos. No caso da educação de línguas,
Kawer e Chun (1996) alertam que aprendizagem de línguas mediada por computador
(doravante CALL) levanta a questão crítica de se existe ou não uma mudança no
modelo de como as línguas são pensadas e aprendidas.
Em relação ao ensino de línguas mediado por computador (CALL), Kassop
(2003) enfatiza que um dos benefícios dessa abordagem (CALL) é que ela pode resultar
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numa contribuição mais equilibrada entre professores e estudantes, tornando os alunos
mais autônomos no processo de aprendizagem. Além disso, a linguagem usada pelos
alunos que utilizam essa abordagem (CALL) é comparativamente mais formal e bem
estruturada do que a linguagem utilizada na sala de aula de língua presencial. Podemos
extrapolar a sugestão de Kassop (2003) e dizer que se o CALL desenvolve a autonomia
dos alunos de L2 a internet pode desenvolver muito mais, uma vez que pode ser usada
tanto para o lazer quanto para o estudo, aumentando o contato com a cultura e língua
alvo. Outro benefício que a internet pode oferecer para o aprendizado de L2 é que ela
não apenas fornece linguagem estruturada e formal em L2, mas também linguagem
autêntica e informal, em quantidades e qualidades imensuráveis.
A internet influenciou não só a forma como nos comunicamos no mundo
globalizado, mas também o ensino e aprendizagem de inglês como língua estrangeira.
Novas tecnologias da informação (doravante NTIs) tem mudado o conceito de
letramento para incluir o letramento digital, além do conhecimento de inglês, como
ferramentas de acesso à informação e inclusão social no mundo globalizado (FINARDI,
PREBIANCA & MOMM, 2013). As novas tecnologias móveis das redes sociais, wikis
e blogs, fazem com que a tecnologia seja usada tanto de forma pessoal quanto
academicamente, diminuindo as fronteiras entre o que é pessoal e o que é acadêmico
(KASSOP, 2003). Diante do cenário exposto acima e da urgência de pensarmos em
formas de incluir novas tecnologias na educação em geral e no ensino de inglês (L2)
especificamente, o objetivo deste estudo é refletir sobre o uso de uma rede social –
Facebook- no contexto da educação de L2 – inglês. Para tanto, o estudo analisa os tipos
de interações que os professores de L2 estabelecem através do Facebook para desvendar
as crenças que professores tem com relação ao uso dessa ferramenta nesse contexto.
Processo da formação de crenças de professores
Segundo Pajares (1993, p.316) crenças são criadas através de um processo de
enculturação onde tudo que aprendemos incidentalmente durante a vida, além dos
elementos culturais (costumes, valores, pensamentos, sentimentos) presentes no mundo
interagem formando nosso sistema de crenças.
Sendo as crenças construções sociais, o aluno e professor de língua estrangeira
vão construindo as suas próprias crenças através de discursos e experiências com a
língua estrangeira (BARCELOS, 1995) e com outros agentes do processo de ensino e
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aprendizagem de língua estrangeira. Sabemos que no caso de professores, as crenças
muitas vezes determinam a prática já que os professores parecem guiar sua prática
pedagógica mais pelas crenças do que pela teoria estudada durante a formação
profissional (por exemplo, FINARDI, 2010). Nesse sentido, Finardi (2010) aponta para
a necessidade de haver estudos que investiguem como as crenças se formam nos
professores e como acontece a mudança das crenças, conhecimento e experiência, já que
as crenças dos professores afetam as decisões que eles tomam na sala de aula afetando
também o resultado da aprendizagem (FINARDI, 2010, p.6)
Numa pesquisa realizada Kagan (1992) sobre crenças de professores revisando
40 estudos, artigos e dissertações, o autor confirmou que ao entrar nos programas de
estágio durante a universidade os futuros professores já trazem consigo algumas crenças
pessoais sobre o que é ser um bom professor, além de imagens deles como professores,
imagens e memórias deles como estudantes. Caracterizado como um país paternalista
(BARCELOS, 1995), o Brasil é formado por pessoas que tem uma atitude passiva em
relação à sociedade, inclusive no ensino. Devido a esse fato, algumas crenças originadas
na infância, tais como o papel do professor como transmissor de conhecimento,
continuam vigentes mesmo com o passar dos tempos. Os professores já esperam uma
atitude passiva dos alunos, e os alunos criam uma resistência num ensino com maior
autonomia por parte dele (BARCELOS, 1995).
Barcelos (1995), em uma pesquisa etnográfica realizada com o objetivo de
caracterizar a cultura de aprender língua estrangeira, conclui que: 1) os alunos de Letras
e alunos de outros cursos, não enxergam o curso de letras com bons olhos; 2) os alunos
de Letras consideram o curso fraco e muitos afirmaram que entraram no curso por ser
uma área menos concorrida; 3) muitos estudantes julgam a língua pelo seu valor estético
e afirmaram cursar Letras Inglês por acharem a língua bonita; 4) somente a minoria dos
alunos entrevistados demonstrou a vontade de querer lecionar o idioma ao final do
curso; 5) com relação às expectativas de aprendizagem de inglês durante o curso de
Letras, os alunos são motivados pelo desejo de dominar a língua estrangeira e; 6) os
alunos tem uma expectativa positiva do curso livre de idiomas (em relação ao curso
regular no ensino básico), referindo-se à essas instituições como o lugar ideal para
aprender inglês (BARCELOS, 1995). Barcelos sugere (1995, p. 39), que alunos de
Letras que desejem ser professores de línguas, tenham mais oportunidades para refletir
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sobre suas crenças sobre a língua, o papel do professor de línguas e o processo de
ensino e aprendizagem de línguas.
Tecnologias no ensino de L2
O boom digital do século XXI fez com que alguns autores (por exemplo THE
NEW LONDON GROUP, 2000) enfatizassem que os educadores deveriam estar cientes
da diversidade de contextos e culturas ao ensinar uma língua estrangeira (L2). Para isso,
educadores deveriam levar em consideração a variedade de formas de textos e
tecnologias disponíveis na atualidade. Guth e Helm (2011) afirmam que há mais de uma
década já se sabe que apesar do ensino/letramento tradicional ainda serem necessários,
eles já não são suficientes para dar conta de formar cidadãos preparados para atuar num
mundo globalizado.
O cidadão contemporâneo deve ser letrado também digitalmente (ESHET-
ALKALI, et al. 2004 apud FINARDI, 2012). Ser digitalmente letrado não é somente
saber usar os diversos aparelhos tecnológicos, mas ter habilidades digitais tais como a
construção de um conhecimento não linear, através do uso de hipertexto, e também o
que Eshet-Alkal (2004) chama de “reproduction skills” – ou a utilização de produção
digital que já existe para criar algo novo e significativo.
Blake (2008) sugere que a máquina não substituirá o professor no futuro, porém
os professores que não forem digitalmente letrados serão substituídos por aqueles que
saibam fazer uso dessas tecnologias. Teixeira e Finardi (no prelo, nesta edição)
descrevem um curso de formação de professores universitários para o uso de TICs
concluindo que o maior desafio ao uso de tecnologias na educação hoje não está no
acesso à tecnologia mas sim na formação de professores. Assim, é preciso investir na
formação de professores para o uso de NTIs.
Finardi (2012) sugere que muito ainda precisa ser feito e estudado sobre o
impacto de diferentes aspectos da tecnologia no processo de aprendizagem em geral e
na aprendizagem de L2 especificamente no que ela é corroborada por Towner e Muñoz
(2011) quando afirmam que apesar da ubiquidade da internet e das redes sociais, o papel
das redes sociais na educação e seu uso na sala de aula foi pouco explorado
empiricamente até o momento. Os trabalhos apresentados no V Encontro Nacional de
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Hipertexto e Tecnologia Educacional e publicados nesta edição especial representam
uma tentativa de sanar essa lacuna na literatura.
Com o intuito de ajudar os professores de língua inglesa a tomar decisões
informadas no tocante ao uso das TICs combinadas ao ensino tradicional, Finardi
(2012) revisou quatro estudos de caso do uso de diferentes recursos digitais (ebook,
software educacional, voicethread e CALL) para o ensino e aprendizagem de inglês
como língua estrangeira. O primeiro estudo revisado por Finardi (2012) foi sobre o uso
de livros digitais (ebook) e aplicou um questionário para coletar dados de 30 estudantes
universitários com o objetivo de investigar as percepções de alunos sobre o livro digital.
Resultados do estudo mostraram que os alunos acharam o livro digital uma ferramenta
valiosa para o aprendizado e o uso da tecnologia fez com que os estudantes
participassem mais na sala de aula, tornando a aula mais interativa. O segundo estudo
revisado por Finardi (2012) investigou o impacto de um recurso digital da web 2.0- o
Voicethread – no desenvolvimento da produção oral em L2. O voicethread é uma
ferramenta de prática oral colaborativa assíncrona através da qual o usuário pode gravar
a sua fala e postar em um fórum onde interage com outros participantes. Weissheimer
(2012, apud FINARDI, 2012) utilizou essa ferramenta numa abordagem híbrida de
ensino de L2 com o objetivo de medir variações na fluência e na acurácia na fala de L2
dos participantes que usaram o Voicethread e concluiu que a combinação de métodos
tradicionais usados na sala de aula com as tarefas online através do Voicethread
contribuíram para o desenvolvimento da fluência dos aprendizes. O terceiro estudo
revisado por Finardi (2012) analisou a validez de um software educacional criado com o
objetivo de ensinar inglês para iniciantes focando em aspectos da interação entre o
software e o aprendiz. Os resultados do estudo mostraram que o software foi uma
ferramenta eficiente no ensino da L2. O último estudo revisado por Finardi (2012)
analisou a aquisição de vocabulário em inglês através do ensino mediado por
computador (CALL). Estudantes de inglês instrumental mesclaram aulas tradicionais
com o uso de atividades mediadas por computador através de uma plataforma
MOODLE. Os participantes alegaram que o acesso direto a dicionários online e sites de
pesquisa do CALL contribuiu para o processo de aprendizagem.
Depois de analisar os quatro estudos Finardi (2012) concluiu que as abordagens
que mesclam aulas tradicionais com internet e tecnologia, denominadas abordagens
mistas ou híbridas, são apontadas como a melhor opção para lidar com o ensino de
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inglês na atualidade, já que promovem o desenvolvimento de novas habilidades,
autonomia por parte do aprendiz e a criação de novos espaços educacionais onde o
aluno pode desenvolver o letramento digital ao mesmo tempo em que aprende uma L2
(FINARDI, 2012).
Redes Sociais
As plataformas de redes sociais como Facebook e Orkut fazem parte da geração
internet 2.0 (STEVENSON & LIU, 2010) e possibilitam que usuários utilizem seu perfil
para postar vídeos, fotos, compartilhar arquivos, participar de grupos e chats em tempo
real. Baralt (2010) define redes sociais como ambientes online de interação social onde
as pessoas podem se comunicar, estabelecer uma rede de contatos e promover o
multiculturalismo.
Lima e Finardi (no prelo) enfatizam o fato das redes sociais proporcionarem
recursos que promovem interatividade, criatividade, colaboração e autonomia para
produzir conhecimento, de tal sorte que as redes sociais devam ser consideradas
ferramentas com grande potencial pedagógico para o ensino de L2. De acordo com
Baralt (2010) o uso das redes sociais na aprendizagem do Inglês possibilita que os
alunos observem formas específicas de uso da L2 como a linguagem cotidiana e
pessoal.
Towner e Muñoz (2011) realizaram uma pesquisa com alunos de uma faculdade
privada nos Estados Unidos sobre as percepções que eles tinham sobre o Facebook.
Mais de 100 questionários foram respondidos e os resultados mostraram que 22,5% dos
alunos entrevistados acredita que o Facebook deve ser usado socialmente e não com fins
acadêmicos. Esse resultado aponta para a constatação de que ainda existe uma
resistência muito grande por parte dos alunos em relação à possibilidade de uso do
Facebook como instrumento pedagógico. Nesta mesma pesquisa foi constatado que em
média os professores passam a mesma quantidade de tempo no Facebook que os alunos,
entre 31-60 minutos diários. Isto é um indicativo de que os professores também estão
integrados nas redes sociais e fazem uso da plataforma regularmente, mas assim como
os alunos, os professores só enxergam o Facebook como um meio de comunicação
social e entretenimento, desconfiando de seu potencial acadêmico.
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Estatísticas do grupo Social Bakers (2012) mostram que o total de usuários do
Facebook em 2012 no Brasil era de 66.552.40. Atualmente o Brasil ocupa a segunda
posição no ranking de países com maior número de usuários. O maior grupo é o da
faixa-etária entre 18-24 anos com um total de 21.733.760 usuários, seguido pelos
usuários que tem entre 25 a 34 anos. As novas gerações de alunos do ensino médio no
Brasil usam comunidades virtuais como Facebook e Twitter para comunicação e
diversão (LIMA & FINARDI, no prelo). Com vistas a esses números e seguindo Baralt
(2010) podemos sugerir que professores de L2 no Brasil tem um quadro favorável uma
vez que grande parte da população tem um perfil na comunidade virtual. Assim,
professores e pesquisadores podem escolher entre centenas de sites de rede social a
melhor opção para a sala de aula, dependendo do objetivo, dificuldade e necessidade do
aluno.
Downes (2005) constata que o uso das tecnologias da Web 2.0 na sala de aula
pode ajudar professores a atingir a última geração de aprendizes (nativos digitais) que já
está fortemente imersa no mundo da Web 2.0 fora da sala de aula (DOWNES, 2005,
apud STEVENSON & LIU, 2010). Além da vantagem de atingir a geração de nativos
digitais (PRENSKY, 2001), o uso das redes sociais pode tornar o processo de
aprendizagem da língua mais real e significativo desde que usado com referenciais
adequados (LIMA & FINARDI, no prelo).
Metodologia
Este estudo tem como objetivo refletir sobre o uso de redes sociais na educação
em geral e no aprendizado de L2 especificamente. Para tanto o estudo analisa o tipo de
interação realizada através do Facebook por professores de inglês a fim de desvendar as
crenças que subjazem essas interações. Um questionário com três perguntas, duas
perguntas fechadas e uma pergunta aberta foi aplicado via email para 30 professores de
inglês como língua estrangeira de um centro de línguas e de um curso de licenciatura
em Letras e Literatura da língua Inglesa. O questionário aplicado continha três
perguntas, quais sejam: 1) se ele usava o Facebook para se comunicar com alunos, 2) o
tipo de interação que ele tinha no Facebook, 3) como a interação era realizada.
O estudo utilizou uma abordagem híbrida (DORNYEI, 2007) analisando os
dados oriundos do questionário de forma qualitativa e quantitativa. Dos 30 participantes
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que responderam ao questionário semi-estruturado, todos são ou foram estudantes de
Letras e apenas 5 não são ou nunca foram professores do centro de línguas. Os trinta
participantes do estudo tem faixa etária entre 20 a 30 anos de idade, sendo 13 deles do
sexo masculino e 17 do sexo feminino.
Resultados
Análise quantitativa
Com relação à primeira pergunta do questionário aplicado, temos os seguintes
dados:
Quadro 1: Voce usa Facebook para falar com alunos e professores?
Respostas
N
Sim
12
Não
2
Só professores
8
Só alunos
2
Só interajo com alunos quando eles solicitam
6
O quadro acima mostra que a maior parte dos participantes tem como “amigos”
no Facebook professores e alunos. Entretanto, 10% dos participantes não adicionam
alunos por acreditar que o Facebook expõe muito a vida pessoal deles. Esses
professores afirmaram preferir manter certa distância entre vida pessoal e profissional.
Na pesquisa realizada em 2010 por Towner e Muñoz, os resultados também
indicaram que um dos fatores que prejudica a interação entre professores e alunos é a
distância que deveria ser mantida, segundo a percepção de alguns participantes, entre
profissional-pessoal. Os professores temem acabar se expondo muito sabendo demais
sobre a vida do aluno, o que pode afetar a relação aluno-professor (TOWNER &
MUÑOZ, 2010).
A segunda pergunta do questionário tinha como objetivo verificar o tipo de
interação realizada através do Facebook. O quadro 2 abaixo mostra os resultados
quantitativos dessa pergunta.
Quadro 2: Para quê você usa o Facebook?
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Utilidades do facebook
N
Interação
30
Diversão
30
Fins profissionais/acadêmicos
10
Ferramenta extra/fora da sala de aula
10
Fins pedagógicos
1
O quadro acima mostra que todos os participantes da pesquisa usam o Facebook
para entretenimento e diversão. Os participantes acreditam que a rede social é uma
maneira de manter as relações que eles têm fora do mundo virtual. Dessa forma, pode-se
sugerir que os professores de inglês que responderam ao questionário acreditam que o
Facebook é em primeiro lugar uma ferramenta de comunicação para ser usada com
amigos feitos fora das redes sociais, colegas de classe e familiares, onde as distâncias
geográficas deixam de existir.
Apesar de 90% dos participantes terem alunos entre os “amigos” do Facebook,
apenas 33% utilizam o Facebook como uma ferramenta de apoio à aula tradicional.
Grupos específicos foram criados por 20% dos professores, entretanto, a interação que
acontece nesse espaço é informal (lembretes de provas, festinhas, post de música,
curiosidades, dúvidas) sem ter, necessariamente, fins pedagógicos. Towner e Muñoz
(2011) definem como aprendizado informal aquele onde não tem nota, certificado ou
pontos e onde a comunicação do professor é espontânea, não planejada. Exemplos de
aprendizado informal são datas de prova, marcar encontro com alunos, passar nota por
mensagens inbox, entre outros (TOWNER & MUÑOZ, 2011).
Análise qualitativa
Em relação à interação no Facebook, a interação do tipo informal foi o tipo mais
frequentemente encontrado entre os participantes do estudo como relatou o participante
14:
“Com alunos converso 95% do tempo em inglês. Conversamos sobre coisas que postei
ou que eles postaram e também temos grupos fechados para as turmas que leciono. Daí
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combinamos festinhas, praticamos a língua, lembro das datas das provas, etc...”
(Professor de inglês, 30 anos).
Como se pode notar na fala do participante 14, apesar da comunicação via
Facebook ser do tipo informal (e não necessariamente pedagógica ou formal), no caso
do ensino de L2, podemos dizer que a interação via Facebook pode alcançar um
objetivo bem pedagógico já que a interação é feita, em sua maior parte, através do
conteúdo do aprendizado, neste caso, o inglês.
Com relação ao uso do Facebook como uma extensão da sala de aula, apenas 10
participantes alegaram utilizar o Facebook como uma extensão do que foi visto em sala
de aula como mostra a fala do participante 5 que foi minoria nesse quesito:
“Recebo writing assigments pelo facebook e no mesmo os corrijo. Posto dicas, musicas,
pe uso para interagir e melhorar o relacionamento aluno - professor.” – (Professora e
estudande de Letras – 23 anos).
O fato de a participante 5 receber e corrigir trabalhos no Facebook sugere que
apesar do pontencial do Facebook para desenvolver dois conteúdos ao mesmo tempo, a
aprendizagem de inglês e o desenvolvimento do letramento digital já que os alunos tem
que saber salvar, enviar e postar mensagens para interagir nesse ambiente; poucos
professores fazem uso dessa possibilidade da rede.
Pelo discurso da participante 5, podemos ainda observar que mesmo aqueles
professores que exploram o Facebook como uma ferramenta de aprendizagem para
receber e corrigir trabalhos, a maior parte das interações via Facebook acaba sendo
informal, sem um planejamento pedagógico, o que resulta num hibridismo de
aprendizagem formal e informal, talvez a melhor forma de aprendizado. Entretanto, essa
sugestão não passa de especulação já que, como dito na introdução este estudo, pouco
tem se estudado e provado empiricamente sobre o potencial das redes sociais na
educação em geral (TOWNER & MUÑOZ, 2011).
Apenas o participante 16 parece fazer uso do Facebook se aproximando da
noção de aprendizagem formal uma vez que avalia os alunos pelo que produzem tanto
no Facebook quanto na sala de aula tradicional:
249
“em algumas turmas avançadas, os alunos publicaram “diários de aula” como parte
da tarefa de casa. Sempre um aluno escrevia um tipo de resumo e avaliação da aula
dada recentemente”.
(Professora do centro de línguas, 30 anos).
Há ainda, professores que acreditam que a interação no Facebook não só não é
pedagógica como também pode atrapalhar o desempenho acadêmico por oferecer uma
distração, como fica evidente na fala da participante 7.
“Apesar de ter facebook não gosto de utilizá-lo como fonte de estudos, pois a meu ver,
nem todos são adeptos ao facebook, já que os que acessam frequentemente fazem por
diversão. Geralmente, quando tento acessar a minha conta do “face” para estudar
algo, acabo me distraindo com as postagens que vejo ou com alguém que me chama no
chat, e consequentemente os estudos ficam de lado. Sendo assim, costumo me
comunicar com os alunos por e-mail. De acordo com eles, o e-mail é muito mais
acessado que o facebook.” (Professora e graduanda – 27 anos)
A análise das falas dos professores entrevistados acima mostra que apesar da
internet 2.0 oferecer um bom potencial para desenvolver a autonomia do aprendiz e o
contato com a língua alvo no caso da aprendizagem de L2, e apesar de todos os recursos
potencialmente pedagógicos que o Facebook oferece aos usuários como postagem de
vídeos, fotos, artigos, compartilhamento de documentos, para citar apenas alguns,
muitos professores ainda resistem seu uso de forma acadêmica em geral e no ensino de
segunda língua especificamente.
A análise das falas dos professores também nos permite identificar algumas
crenças com relação ao uso do Facebook . A primeira crença identificada se relaciona
com o uso do Facebook com fins de diversão apenas. A participante 7 acredita que redes
sociais atrapalham os estudos e não deveriam ser usadas como ferramenta de
aprendizagem. Baseado na sua própria crença ela prefere nem tentar usar a rede como
um método de aprendizagem da L2, já que considera que seria um fracasso. Deriva
dessa crença que o Facebook não é educacional e pode até atrapalhar o desempenho
acadêmico através da distração possibilitada pelo uso de chats e aplicativos (jogos).
250
Outra crença identificada se relaciona com a preferência dos alunos. Segundo relatou a
participante 7 acima, os próprios alunos parecem preferir o uso do e-mail para fins
acadêmicos.
Também podemos identificar que aqueles professores que fazem uso do
Facebook como ferramenta extra se limitam a usar o Facebook para receber tarefas
apenas, apesar da plataforma oferecer diversas possibilidades, como envio de áudio e
vídeo. Isto indica que talvez exista um desinteresse dos professores em promover o uso
de forma mais comunicativa entre os usuários dos grupos. Também pode ser pelo fato
de ser mais fácil dar o feedback na produção escrita que oral, no caso se L2.
Conclusão
O objetivo desta pesquisa foi refletir sobre as possibilidades de uso do Facebook
no contexto de ensino de L2 analisando a forma como os professores de inglês
interagem com os alunos através das redes sociais e as crenças que norteiam essa
interação. Desde a chegada da internet 2.0 os usuários da rede tiveram a possibilidade
de compartilhar conteúdos, criar e interagir de uma forma não vista anteriormente. O
potencial tecnológico no ensino da língua inglesa tem levado pesquisadores a investigar
a conexão entre tecnologia e ensino. Entretanto, a análise de dados coletadas nesta
pesquisa apontou que apesar de todos os participantes da pesquisa fazerem parte do
Facebook e interagirem diariamente, o Facebook é visto como um suporte extra que
pode ajudar na interação aluno-professor, mas ainda não é reconhecido como uma
ferramenta relevante de suporte ao ensino em geral e ao ensino da língua inglesa
especificamente.
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Anexo
Transcrição da resposta dos professores para a seguinte pergunta: como é
realizada a interação com os alunos?
Participante 1 - “Participo de grupos de discussões, agendamento de aulas e
planejamento coletivo. Nunca usei como uma ferramenta pedagógica”.
Participante 2 - “Só falo com meus alunos quando é aniversário de algum deles. Gosto
de escrever alguma mensagem em inglês”.
Participante 3 - “Procuro através do facebook levar o aprendizado além da sala de aula
fazendo um link com a teoria e a prática”.
Participante 5 - “Recebo writing assignments pelo Facebook e no mesmo os corrijo.
Posto dicas, música e uso para interagir e melhorar o relacionamento aluno-professor”.
Participante 7 - “Apesar de ter Facebook, não gosto de utilizá-lo como fonte de estudos,
pois ao meu ver, nem todos são adeptos ao Facebook (tem muita gente que tem, mas
raramente acessa). Já os que acessam frequentemente o faz por diversão. Geralmente,
quando tento acessar minha do Facebook para estudar algo, acabo me distraindo com as
postagens que vejo ou com alguém que me chama no chat, e consequentemente os
estudos ficam de lado. Costumo me comunicar com meus alunos por e-mail. De acordo
com eles, o e-mail será muito mais acessado do que o Facebook”.
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Participante 10 - “Só tenho conversas informais. Quando os alunos “falam” em inglês,
respondo em inglês, mas nunca começo uma conversa na língua inglesa”.
Participante 15 - “Através do grupo os alunos tiram dúvidas e compartilham alguns
materiais. Participo de grupo de professores nos quais há compartilhamento de arquivos,
mas geralmente participo passivamente”.
Participante 17 – “Normalmente formamos um grupo no Facebook para responder
perguntas e tirar dúvidas que surgiram depois da aula. Em algumas turmas avançadas,
os alunos publicaram “diários de aula” como parte do dever de casa. Toda semana um
aluno escrevia um tipo de resumo e avaliação da aula dada”.
Participante 22 - “Geralmente envio links interessantes relacionados aos conteúdos
trabalhados em sala de aula e aviso sobre oportunidades de cursos e bolsas de estudo”.
Participante 24 – “Converso 95% do tempo em inglês sobre coisas que postei ou que
eles postaram. Temos grupos fechados para as turmas que leciono”.
Participante 25 - “Uso o Facebook para corrigir writing assigments, crio um grupos para
as turmas que leciono para interação e dúvidas sobre a aula”.
Participante 27 – “Criei um grupo para meus alunos onde lembro de provas, dias que
não haverão aula, algum texto ou homework. Às vezes até pequenas dúvidas são tiradas
via Facebook”.
Participante 30 - “As interações que tenho no Facebook são para fins sociais e
acadêmicos, nunca criei grupo para os alunos e evito adicionar alunos na minha página
pessoal”.