Para falar sobre a experiência filosófica e o experimento filosófico em Marcel é preciso lembrar de temas muito sugestivos que ajudam a entender o homem do século XXI. A primeira delas é problema e mistério que em meio a visão tecnicista, consumista e utilitarista que se vive hoje, parece ser complicado entender algo como sendo mistério. Sendo assim, Marcel divide bem essa questão. Para ele, o problema faz parte da reflexão primeira, já o mistério faz parte da segunda reflexão. Essa redução do mistério ao problema é, na verdade, uma característica muito própria do mundo atual, no qual há coisificação de tudo, inclusive do próprio homem, estando assim imerso na sociedade do descartável. Sendo assim, o ser humano é uma peça, um número. Olhar as redes sociais é perceber que não importa quem está por trás das telas, mas sim a quantidade de seguidores do perfil. O homem não pode ser só isso. O problema carrega em si a necessidade de uma solução. Por isso, o ser, nessa perspectiva, é algo que somente consegue realizar o que a técnica realiza. Isso é regido pela imanência, mas não se pode esquecer que ele também é mistério. Existe uma perspectiva existencial a partir do ser encarnado e, assim, vigora também a dimensão da transcendência. O ser não é um objeto e, portanto, precisa de uma aproximação de conduta fiel ao ser. Essa reflexão desemboca no próximo tópico que é a diferença e a relação do ser e do ter, que é um tema bastante comentado ainda hoje, mesmo sendo tão pouco compreendido e muito menos refletido com seriedade que lhe é devida, como o fez o filósofo francês que é a base deste artigo. Sempre quando se pensa nesse paradoxo do ser e ter, pensa-se no que se tem e no que se é. Não se pode negar que o ter tem gerado um esvaziamento muito grande nas pessoas, tendo a aparência prevalecido sobre a realidade. Fato é que a sociedade tem reduzido o homem ser ao ter. Não causa estranhamento nem é um pensamento novo ao se dizer que o ter encontra-se no plano da técnica, da objetividade e quanto mais se tem, mais se quer ter: situação essa que tem levado o homem ao desespero e angústia, por não possuir tudo que o consumismo produz. Em Marcel, filosofar é buscar insistentemente o ser. Se, na reflexão primeira, ele apresenta a degradação do ser, na reflexão segunda ele revela e restaura o seu degradado, pois para ele o que mais importa é relacionar o ser com o existir, sendo o ser sempre a potência, o poder da existência. Ele é sempre o que percorreu, o que está percorrendo e o que ainda almeja alcançar. Encerrando com dois temas que estão interligados ao que foi escrito: espírito de curiosidade e espírito de inquietude. Como já foi dito, Marcel insiste na dimensão da reflexão do ser humano, sendo essa uma característica marcante de tantos filósofos do passado. Por fim, ele não deixa de insistir que a verdadeira filosofia é a que os gregos viviam na antiguidade, a qual é fruto do espanto e não apenas da mera curiosidade, que é uma característica da filosofia hoje. Sendo assim, na experiência filosófica e no experimento científico, Marcel deixa claro que a inquietude humana reforça e sustenta a vida superior do espírito, já a curiosidade humana a paralisa.