Nesta investigação procuramos perceber as mutações vividas pela rádio informativa em Portugal nas décadas de 1960 e 1970, a partir do projeto jornalístico do Rádio Clube Português (RCP). A criação do Serviço de Noticiários do RCP, em 1960, sob a liderança de Luís Filipe Costa, e por iniciativa da cúpula diretiva da estação, é o móbil imediato que desencadeia a investigação, mas, necessariamente, ela convoca olhares mais amplos e perspetivas questionadoras. O projeto do RCP é enquadrado no regime do Estado Novo de Oliveira Salazar e Marcello Caetano, para o qual a censura aos média era forma de vida e garantia de sobrevivência. A experiência jornalística da estação de Botelho Moniz é olhada sob o prisma das transformações vividas pelo campo jornalístico neste período, particularmente visíveis na imprensa. Do ponto de vista do panorama radiofónico, situamos o projeto do RCP no seio da “rádio nova” que, na década de 1960 e, em particular, na viragem para os anos 1970, traz novos ritmos e novos programas, numa linguagem mais informal e mais próxima do ouvinte. Centrados no projeto do RCP, vemos como para ele confluem mudanças organizativas, editoriais, de estilo e linguagem tais, que, sobretudo por comparação com a realidade da Emissora Nacional, nos levam a concluir estarmos perante a primeira experiência moderna de jornalismo radiofónico em Portugal. Do ponto de vista epistemológico, olhamos para o projeto do RCP, considerando a sua produção noticiosa, e auscultamo-la através dos testemunhos dos profissionais de então, da imprensa da época e de documentação escrita de arquivo. Não obstante, o nosso objetivo, desde o início, foi o de mobilizar, o mais possível, os materiais sonoros conservados em arquivo. Os obstáculos encontrados conduziram-nos a um caminho de reflexão sobre a epistemologia da história da rádio na sua relação com os arquivos sonoros. O som, muitas vezes silencioso, fragmentário e volátil pode constituir-se como bloqueio irreversível à investigação da rádio na sua especificidade sonora, mas não deixa de ser matéria-prima pertinente e necessária. A constituição e maturação da história da rádio dependem, na nossa perspetiva, da existência de arquivos sonoros que a expliquem a partir do seu próprio material acústico. A natureza sonora do meio exige que o seu estudo não se acomode à documentação escrita e aos testemunhos orais que, embora essenciais, por vezes os únicos recursos existentes, são apenas uma das facetas que ajudam à construção da memória da rádio.