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Na batalha contra o percevejo-do-colmo Tibraca limbativentris, os produtores de arroz devem
dar preferência a aplicações de inseticidas no período da tarde, quando os insetos estão
mais expostos à ação de contato. Além do horário, a forma de pulverização e o defensivo
escolhido interferem na eficiência do controle da praga
Arroz
36 Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br
Hora de aplicar
Com trabalho na Fronteira Oeste do
Rio Grande do Sul, o Núcleo de
Estudos e Pesquisas em Manejo
Integrado de Pragas (Nemip) da Universi-
dade Federal do Pampa (Unipampa) campus
Itaqui, coordenado pelo professor Fernando
Felisberto da Silva, verificou que a maioria
das pesquisas com inseticidas químicos tem
se limitado ao estudo de sua eficiência, seleti-
vidade e toxicidade, desconsiderando aspectos
relacionados à bioecologia do inseto-praga
a ser controlado, bem como as implicações
da forma de aplicação e translocação destes
produtos na planta. Por isto, partiu-se da
hipótese de que a eficiência do inseticida varia
de acordo com seu grupo químico, horário e
forma de aplicação. A partir daí realizou-se
experimento em uma lavoura de arroz irri-
gado da Estância Pitangueira, localizada no
Km 78 da BR-472, no município de Itaqui,
Rio Grande do Sul, no sistema de cultivo
mínimo com taipas niveladas semeada com a
cultivar BR Irga 417. O objetivo foi avaliar a
eficiência de controle do percevejo-do-colmo,
relacionando aspectos bioecológicos do inseto
com aplicação de diferentes inseticidas em
períodos diversos do dia.
Em relação à identificação do método e da
forma de aplicação de inseticidas para o con-
trole do percevejo-do-colmo do arroz foram
realizadas entrevistas livres, abrangendo 16%
dos orizicultores do município.
Para determinar a eficiência de inseticidas
aplicados em diferentes horários para o contro-
le do percevejo-do-colmo, antecipadamente à
aplicação dos controles avaliou-se a ocorrência
de infestação do percevejo-do-colmo na la-
voura. O experimento foi montado sobre as
taipas, testando quatro tratamentos (Tabela
1) em dois horários de aplicação (7h30min e
16h30min), formando um fatorial 4 x 2, em
quatro repetições dispostas em blocos ao acaso
correspondendo ao topo das taipas.
A aplicação dos tratamentos foi feita com
o auxílio de pulverizador costal, com pressão
constante (mantida por CO2 comprimido),
equipado com uma barra contendo quatro
bicos (marca Teejet, com jato em ângulo de
110°, vazão de 0,2gal/mine pressão de 40
PSI), utilizando um volume de calda de 150L/
ha. Durante a instalação do experimento,
a cultura encontrava-se no estádio entre
emborrachamento e emissão da panícula. As
parcelas tinham 5m de comprimento sobre as
taipas que tinham em média 0,5m de largura.
Entre parcelas foi deixado um espaçamento
de 2m. As amostragens foram realizadas nos
dois metros centrais da parcela em intervalos
de sete dias, encerrando aos 21 DAA (Dias
Após Aplicação). A avaliação da eficiência
dos inseticidas foi calculada pela Fórmula de
Henderson-Tilton.
Em 100% dos orizicultores entrevistados
a aplicação aérea do inseticida foi o método
utilizado. Normalmente os orizicultores da
região Fronteira Oeste realizam pulverizações
aéreas no horário da manhã, porém, a alta
umidade sobre as folhas das plantas (orvalho)
e a localização do inseto neste horário são
situações desfavoráveis para obter sucesso
no controle.
Outro fato observado é que geralmente
esta aplicação não é realizada no momento
adequado, em relação ao nível de dano, pois
verificam-se carências no monitoramento
populacional do percevejo-do-colmo.
Com base nesta constatação, procuramos
avaliar também o efeito desta prática na efi-
ciência de controle de Tibraca limbativentris,
através de inseticidas registrados e da sua
combinação.
Os resultados demonstram que o controle
no período da tarde é mais eficiente, possivel-
mente por coincidir com o momento que a
maioria de adultos e ninfas acima de 3° instar
se encontram em partes superiores das folhas
da cultura (Tabela 2), ao contrário do período
Para aplicações de inseticidas contra Tibraca limbativentris, o orizicultor deve estar atento ao fato
de que em alguns períodos poucos adultos estarão expostos ao alcance do defensivo
Fotos Fernando Felisberto da Silva
38 Dezembro 2011 / Janeiro 2012 • www.revistacultivar.com.br
da manhã e início da noite onde estes insetos
localizam-se abrigados entre os colmos da cul-
tura. Nestas condições, porém, é interessante
lembrar que são necessários cuidados para se
evitar a evaporação da gota.
A eficiência do tiametoxam pode ser ex-
plicada devido ao fato de se tratar de produto
altamente sistêmico, o que permite utilizá-lo
em doses relativamente baixas. Apresenta,
ainda, alta solubilidade em água (4.100mg/L)
e baixo coeficiente de partição octanol/água
(-0,13). Cabe observar que quanto mais alta
for a solubilidade e mais baixo for o coeficiente
de partição, mais sistêmico será o produto.
Porém, na formulação para aplicação no solo
ou pulverização foliar o transporte do ingre-
diente ativo é acropetal (via xilema) e ocorre
rapidamente após a aplicação, distribuindo-se
por toda a planta a partir do local de aplicação
e acumulando-se nas pontas das folhas, além
de uma pequena quantidade do produto ser
transportada via floema (basipetal). O pro-
duto formulado degrada-se rapidamente nas
superfícies tratadas e a sua ação pode ocorrer
por contato e ingestão.
Em estudos com mamoneira constatou-
se a translocação do tiametoxam tanto no
xilema como no floema, se redistribuindo
pela planta, sugerindo que insetos sugadores
de seiva elaborada podem ser controlados
pelo inseticida quando aplicado nas folhas,
mas não os mastigadores presentes em raízes
ou folhas emergidas após a aplicação. Porém,
raríssimos são os inseticidas que se translocam
a longas distâncias via floema, sendo esta
condição comum somente em herbicidas,
como exemplo do glifosato, que apresenta um
coeficiente de partição octanol/água bastante
baixo (-3,20) e uma alta solubilidade em água
(10.500mg/L).
Ao contrário do tiametoxam a lambda-
cialotrina é uma substância essencialmente
insolúvel em água (0,005mg/L), com elevado
coeficiente octanol/água (6,90), ou seja, não
sistêmica e com atuação nos insetos por conta-
to ou ingestão. Além disso, há evidências de rá-
pida fotodegradação tanto em solo, água, como
em superfícies expostas à radiação solar.
Ninfas de percevejos, além de serem
desprovidas de asas, alimentam-se da seiva
como os adultos, assim podem ser controladas
quando o inseticida aplicado é sistêmico. Ob-
servamos que o neonicotinoide comportou-se
como um ingrediente ativo (i.a.) eficiente
no controle de ninfas e o piretroide para
adultos. Este fato deve-se em grande parte ao
comportamento do inseto que, na fase ninfal
movimenta-se pouco e permanece agregado
próximo ao local da postura, ou seja, próximos
à base das plantas, com difícil acesso pelos i.a.
com característica de contato e não sistêmicos.
Os adultos, por sua vez, apresentam maior
movimentação nas plantas e podem entrar
em contato com os produtos não sistêmicos
depositados na superfície das plantas. Quando
estes dois inseticidas são utilizados em con-
junto, porém em concentrações reduzidas do
neonicotinoide e aumentadas do piretroide,
observou-se efeito potencializador de controle.
Ainda, associado a este fato, verificou-se que
no período da tarde houve maior eficiência,
uma vez que os insetos adultos estavam mais
expostos à ação de contato.
A ação do tiametoxam está em fase de
quantificação em plantas de arroz irrigado
pela equipe do Nemip/Unipampa.
Na escolha da prática da aviação agrícola,
principalmente no turno da manhã, para
aplicações de inseticidas contra Tibraca limba-
tiventris, o orizicultor deve estar atento para o
fato de que este é um período em que poucos
adultos estarão expostos ao inseticida e, apesar
desta possível ação sistêmica pela transloca-
ção basipetal do tiametoxam, a eficiência é
limitada, não correspondendo a um controle
eficiente na maioria das ocasiões. Desta forma,
é necessário considerar questões como as ca-
racterísticas físico-químicas dos agroquímicos
utilizados, as condições climáticas e fisiológicas
da planta, além dos aspectos relacionados à
bioecologia dos insetos-praga a serem con-
trolados. Todos estes cuidados refletirão em
maior eficiência de controle, redução do im-
pacto ambiental e consequente maximização
da lucratividade da cultura, uma vez que estes
cuidados implicarão na redução do custo para
o manejo de pragas na cultura.
Fernando, Nereu, Naymã, Juliano e Robson
abordam como manejar o percevejo-do-colmo
Tibraca limbativentris
)
Concentração
50g/L
250g/L
141g/L+106g/L
Dose
150 ml/ha
125 g/ha
175 ml/ha
Piretroide
Neonicotinoide
Piretroide + neonicotinoide
Ingrediente ativo
Lambda-cialotrina
Tiametoxam
Tiametoxam+lambda-cialotrina*
*combinação não registrada para a cultura.
em diferentes turnos de aplicação
Manhã
43,8
0
94,2
0
Tarde
55
0
80
0
7 DAA
Ingrediente
ativo
Tiametoxam
Lambda-cialotrina
Tiametoxam+lambda-cialotrina
Testemunha
Manhã
0
65,7
7,7
0
Tarde
78,6
82,4
71,4
0
14 DAA
Manhã
50
0
53,8
0
Tarde
92,5
76,9
100
0
21 DAA
Nereu Carpes Meus,
Juliano Bastos Pazini,
Robson Antonio Botta,
Naymã Pinto Dias e
Fernando Felisberto da Silva,
Nemip/Unipampa Campus Itaqui
As ninfas, além de serem desprovidas de asas,
alimentam-se da seiva como os adultos
C
C
Fotos Fernando Felisberto da Silva