1 Resumo: Este artigo analisa as relações da Cristandade européia ocidental com o Império Mongol, em meados do século XIII. As fontes históricas por meio das quais se o faz constituem-se de dois relatos de viagens, cada qual elaborado por um autor. Ambos os viajantes eram religiosos da Ordem dos Frades Menores – franciscanos. A primeira jornada analisada, que ocorreu entre 1245 e 1247, é a do italiano João de Pian de Carpini. Este frade foi incumbido pelo papa Inocêncio IV de realizar uma missão diplomática e religiosa, cujo objetivo era chegar ao grão-cã da Mongólia – o imperador Guiuc Cã – e professar-lhe o ideal cristão, por meio de uma carta do sumo sacerdote. Além disso, a mensagem levada por Carpini condenava, com base nos preceitos da Igreja, as atrocidades cometidas contra os cristãos da Europa oriental, que tanta apreensão proporcionaram à Cristandade como um todo, o que foi tema do Concílio de Lion de 1245, que alertava para possíveis novos ataques mongóis. A segunda viagem estudada é a do frei flamengo Guilherme de Rubruck. Sua duração foi praticamente igual à da jornada de Carpini – um total de dois anos, para a ida e para a volta – e o seu período foi de 1253 a 1255. Rubruck foi ao encontro do grão-cã mongol – que agora era Mangu Cã – como enviado do monarca da França, Luís IX. A Rubruck foi delegada a tarefa exclusiva – pelo menos nominalmente – de pregar, como Carpini, o cristianismo ao imperador – segundo a fonte, não havia o caráter diplomático nesta viagem. Tenta-se aqui interpretar os motivos que levaram os poderosos europeus a empreenderem essas viagens, não só do ponto de vista religioso, que fica mais patente, mas também do ponto de vista político. Tendo em vista o contexto das últimas Cruzadas, buscar-se-á confirmar a hipótese de que as expedições daqueles franciscanos tinham também o intuito de tentar uma aliança entre os cristãos e os mongóis contra os muçulmanos que ocupavam a Terra Santa. Palavras-chave: Império Mongol – História; Europa – século XIII; Relações Oriente-Ocidente; Viajantes – missionários franciscanos; Catolicismo. *** O século XIII ficou marcado como o do período final das Cruzadas. No entanto, segundo o historiador Jacques Le Goff, o grande acontecimento mundial daquele século foi o surgimento do Império Mongol, 2 de características tipicamente asiáticas – mais especificamente as das regiões das estepes –, mas que chegou até a Europa Oriental. O tema deste artigo refere-se às relações entre esse Império e a Cristandade européia ocidental, em meados do século XIII, já durante a Baixa Idade Média. As fontes analisadas neste texto foram dois relatos de viagem, ambos escritos por frades da Ordem Menor, os franciscanos. O primeiro relato é de autoria de Giovanni (João) de Pian de Carpini, que peregrinou pelos domínios mongóis até encontrar-se com o terceiro grão-cã, Guyuk Cã, de 1245 a 1247. O segundo relato diz respeito ao período de viagem de Willelm (Guilherme) de Rubruck, que ocorreu ente 1253 e 1255; seu encontro foi com o terceiro imperador mongol, Mangu Cã. Note-se que, para os nomes de pessoas e lugares, a opção foi aproximá-los ao máximo da língua portuguesa, tentando não perder de vista as suas origens mongóis, como no caso de Caracórum, em vez de Karakorum, ou Oguedai, no lugar de Ögödäi, ou mesmo Djútchi, ao invés de Juchi. No caso de Gêngis Cã, optou-se pela grafia já tradicionalmente aportuguesada, em lugar de Gengis Khan, grafia tão propalada pela comunidade internacional. Quanto aos nomes dos autores das fontes, há, na bibliografia analisada, diversas grafias distintas. Para Pian de Carpini, nome adotado neste texto, há Plano, Plan, Pian, Carpine e Carpini; ou mesmo Plancarpin. Para Rubruck, grafia usada aqui, a variação é bem menor, embora o nome latinizado, 1 Graduando em História UFPR 2 LE GOFF, J. São Luís -Biografia. Rio de Janeiro: Record, 1999. p. 45.