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DOI: 10.18363/rbo.v74n1.p.51
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Artigo de Revisão de Literatura/Estomatologia
Rev. Bras. Odontol., Rio de Janeiro, v. 74, n. 1, p. 51-5, jan./mar. 2017
Leucoplasia Oral: conceitos e repercussões clínicas
Ruth Tramontani Ramos,1 Camilla Rodrigues Paiva,2 Andreza Maria de Oliveira Filgueiras,3 Geraldo Oliveira Silva-Junior,4 Marília Heffer Cantisano,4 Dennis de
Carvalho Ferreira,5 Marcia Ribeiro6
1Pos-gradução em Clínica Médica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
2Especialização em Estomatologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
3Pós-graduação em Odontologia, Faculdade de Odontologia, Universidade Federal Fluminense, Nova Friburgo, RJ, Brasil
4Departamento de Diagnóstico e Terapêutica, Faculdade de Odontologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
5Pós-graduação em Odontologia da Universidade Veiga de Almeida e Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
6Serviço de Genética Médica - IPPMG - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
• Os autores declara m que não há conflito de int eresse.
Resum o
Objetivo: o trabalho tem por objetivo revisar a literatura contemplando a atualização dos conceitos atuais sobre a leuc oplasia oral (LO) e as suas repercussões clínicas.
Material e Métodos: foram selecionados artigos científicos publicados entre os anos de 2010 e 2016, através dos bancos de dados MEDLINE (
Medical Literature Analysis
and Retrievel Sistem online
), PUBMED (Publicações Médicas) e LILACS (Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde) utilizando como palavras-chave:
Leucoplasia, carcinoma de células escamosas, desordens potencialmente malignas, lesões pré-malignas, terminologia. Foram selecionados 30 artigos em português e inglês
em sua versão completa. Resultados: o termo leucoplasia deve ser usado para identificar placas brancas com possibilidade de malignização excluindo outras doenças
ou desordens conhecidas que não demonstrem um risco aumentado para o câncer. Conclusão: concluiu-se que os conceitos sobre leucoplasia oral dentro das desordens
potencialmente malígnas insere o potencial de transformação maligna, ressaltando a importância do reconhecimento e diagnóstico precoce.
Palavras-chave: Leucoplasia; Carcinoma de células escamosas; Desordens potencialmente malignas; Lesões pré-malignas; Terminologia.
Abstr Act
Objective: tthe objective of this study is to review a literature on the update of recent concepts on oral leukoplakia (LO) and its clinical repercussions. Mat erial a nd
Methods: the articles found between the years 2010 and 2016, using the MEDLINE, PUBMED (Medical Publications), and LILACS (Latin American and Caribbean Literature
in Health Sciences) databases were selected using the following keywords: leukoplakia, squamous cell carcinoma, potentially malignant disorders, premalignant lesions, termi-
nology. We selected 30 articles in Portuguese and English in their full versions. Results: the term leukoplakia represents white plaques that may be malignant, excluding other
known diseases or disorders that do not show an increased risk for cancer. Conclusion: it was concluded that the concepts about oral leukoplakia raise a possibility for the
potential for malignant transformation, highlighting the importance of diagnosis and treatment.
Keywords: Leukoplakia; Squamous cell carcinoma; Potentially malignant disorders; Premalignant lesions; Terminology.
Oral Leukoplakia: concepts and clinical repercussions
Introdução
A Leucoplasia Oral (LO), atualmente, é classicada como
uma desordem potencialmente maligna, sendo a mais
comum das lesões com potencial de malignização que
podem ocorrer na cavidade oral.1-17 Com relação à etiologia, o ter-
mo vem do Grego que é a combinação de duas palavras: λευχο
(leuko – branco) e πλακοσ (plakos – placa). Foi descrita pela pri-
meira vez por Erno Schwimmer, em 1877, como uma lesão de co-
loração branca localizada em língua, que provavelmente estava
ligada à Sílis (glossite silítica).1
A Organização Mundial de Saúde (OMS) propôs a primeira
denição para a LO em 1978, denindo-a como uma mancha ou
placa branca que não pode ser identicada clínica ou patologica-
mente como nenhuma outra lesão branca.8
A denição mais recente, proposta por Warnakulasuriya,9
apresenta as LOs como placas brancas de malignização possível
após excluídas daquelas que não transportam tal risco.
O termo que é estritamente clínico e não implica uma altera-
ção tecidual histopatológica especíca visa a um diagnóstico por
exclusão de outras alterações que surgem como placas brancas
orais.10 A mais recente denição proposta por Warnakulasuriya9
coloca o termo risco acrescentando subsídios diagnósticos a esta
lesão. Desta forma se passa a raciocinar que a leucoplasia é geral-
mente constituída por um tecido benigno, no entanto, alterações
morfológicas podem oferecer um risco maior do que o normal de
transformação maligna. O potencial de transformação maligna,
por sua vez, é quem vai denir o risco de um câncer estar pre-
sente em uma lesão ou condição pré-maligna, seja no diagnóstico
inicial ou no futuro. É sabido que o termo “risco relativo” é uma
medida epidemiológica especíca da associação entre a exposição
a um fator em particular e o risco de adquirir uma doença, ex-
presso como uma taxa entre a incidência ou prevalência de uma
doença entre aqueles indivíduos expostos e os nãos expostos ao
fator. Neste caso o potencial estaria também relacionado ao risco
relativo.9,10
Assim, a LO possui características clínicas básicas que a de-
nem ser uma placa branca aderente à mucosa que não pode ser
removida por raspagem, não pode estar associada a outra doença
e não poder ser diagnosticada histopatologicamente, devido aos
inúmeros aspectos que possui neste âmbito.11
Portanto, apesar da LO não estar vinculada a um diagnóstico
anatomopatológico especíco, é tipicamente considerada como
uma lesão que pode vir a sofrer transformação maligna. A frequ-
ência dessa transformação é maior do que o risco associado a uma
mucosa normal. Microscopicamente, a LO pode ou não apresen-
tar displasia epitelial, assim como já pode determinar a presença
de um carcinoma in situ.10
Diante das evidências de que os fatores de risco para a leuco-
plasia são coincidentes com os fatores de risco para o carcinoma
de células escamosas (CCE) a neoplasia maligna mais encontrada
na cavidade oral em todo mundo, ca evidente a associação dessas
lesões, que têm em comum o tabaco e o álcool como fatores de ris-
co mais importantes em ambos, separada ou sinergicamente.4,12 -16
O trabalho tem por objetivo realizar uma revisão da literatura
contemplando a atualização dos conceitos atuais da LO e as suas
repercussões clínicas.
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RAMOS RT et al.
Rev. Bras. Odontol., Rio de Janeiro, v. 74, n. 1, p. 51-5, jan./mar. 2017
Figura 1. Fluxograma (Flowchar t) norteador que determinou a exclusão e inclusão dos artigos na presente revisão
Revisão de Literatura
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1978, as lesões precursoras do câncer eram nomeadas como lesões e
condições pré-cancerosas. As lesões eram subdivididas em leucoplasia, eritroplasia e lesões palatinas em fumantes reversos, enquanto
as condições contemplavam a brose submucosa oral, a queilite actínica, o líquen plano e o lúpus eritematoso discoide.8
Em 2005, a OMS determinou uma nova classicação, na qual a nomenclatura foi alterada para lesões com potencial de malignização
ou lesões epiteliais precursoras, sendo assim classicadas em: leucoplasia, leucoplasia verrucosa proliferativa (gura 2), eritroplasia,
queilite actínica, brose submucosa oral, líquen plano e atroa por deciência de ferro.18
A definição mais atual é a de 2007, que de-
fine as lesões precursoras do câncer como de-
sordens potencialmente malignas e sendoelas
a leucoplasia, queilite actínica, eritroplasia,
líquen plano, fibrose submucosa oral, lesões
palatinas em fumantes reversos, lúpus erite-
matoso discóide e desordens hereditárias.9
Até esta última conclusão muitas foram
as definições propostas ao longo do tempo
para designar a LO de modo a uniformizar
internacionalmente, facilitando a comunica-
ção entre os diversos pesquisadores, epide-
miologistas e patologistas.9 Em 1978, a OMS
propôs sua primeira definição, como sendo
uma mancha ou placa branca que não pode
ser caracterizada clínica ou patologicamente
como nenhuma outra doença.8
Em 1984, durante a Primeira Conferên-
cia Internacional sobre Leucoplasia Oral, em
Malmo, Suécia, foi proposto um complemen-
to à definição de 1978: uma mancha ou placa
branca que não pode ser caracterizada clínica
ou patologicamente como nenhuma outra do-
ença e não pode ser associada com nenhum
agente causador físico ou químico exceto o
tabaco.9
Em 1996, no Simpósio Internacional de Uppsala, Suécia, houve a seguinte mudança: uma lesão predominantemente branca da mucosa
oral que não pode ser caracterizada como nenhuma outra doença.9
A OMS, em 1997, apenas modicou o termo “doença” da denição anterior para “lesão”.9 Já em 2005, armou que não havia distinção
entre a LO e outras placas brancas.18
Na denição mais atual, escrita em 2007 por Warnakulasuriya,9 o termo leucoplasia deve ser usado para identicar placas brancas de
malignização possível excluindo outras doenças ou desordens conhecidas que não demonstrem um risco aumentado para o câncer, correla-
Figura 2. Formas clínicas da Leucoplasia Oral com variações em sua coloração. Em “A” temos a Leucoplasia
Verrucos a Proliferativa localizada em palato, “B” Leucoplasia homôgenea localizada em soalho da cavidade
oral, já em “C” temos leucoplasia associada com áre as verme lhas (eritroleucoplasia) localizada em soalho
da cavidade oral, bem como em “D” encontrada em mucosa jugal direita
Material e Métodos
Para a presente revisão foram selecionados artigos cientícos publicados entre os anos de 2010 e 2016, através dos bancos de dados
MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrievel Sistem Online), PUBMED (Publicações Médicas) e LILACS (Literatura Latino-a-
mericana e do Caribe em Ciências da Saúde) utilizando como palavras-chave: leucoplasia, carcinoma de células escamosas, desordens
potencialmente malignas, lesões pré-malignas, terminologia. Foram selecionados 30 artigos em português e inglês em sua versão
completa e lidos pelo mesmo indivíduo, sendo realizado um uxograma norteador que determinou a exclusão e inclusão de artigos na
presente revisão (gura 1).
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Leucoplasia Oral: conceitos e repercussões clínicas
Rev. Bras. Odontol., Rio de Janeiro, v. 74, n. 1, p. 51-5, jan./mar. 2017
cionando a LO com o risco de transformação maligna.9
Segundo Torras et al.,2 Wang et al.19 e Mortazavi et al.,20 o CCE re-
presenta mais de 90% das lesões malignas localizadas na boca, con-
gurando sua importância para a Odontologia. De acordo com Neville
et al.,10 a etiologia do CCE é multifatorial. Nenhum agente ou fator
etiológico único tem sido denido, porém tanto fatores extrínsecos
como intrínsecos podem atuar. São fatores extrínsecos o tabaco com
fumaça, álcool e, somente para cânceres do vermelhão do lábio, luz
solar. Os fatores intrínsecos incluem estados sistêmicos ou generali-
zados, tais como desnutrição gera l ou anemia por deciência de ferro.
A hereditariedade parece não desempenhar um papel principal na
causalidade do carcinoma.
Os CCE orais têm sido documentados em associação ou tem sido
precedidos por uma lesão pré-cancerosa, especialmente a leucopla-
sia.2,4,5,10,21
Segundo o Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da
Silva (INCA),22 o número de casos novos de câncer em cavidade oral
estimado no Brasil para o ano de 2016 é de 11.140 casos em homens e
de 4.350 em mulheres. Sem considerar os tumores de pele não mela-
noma, o câncer da cavidade oral em homens é o quarto mais frequen-
te na região Sudeste. Nas regiões Nordeste e Centro-Oeste ocupa a
quinta posição. Na região Sul ocupa a sexta posição e na região Norte
é o sétimo mais frequente. Para as mulheres é o nono mais frequente
na região Nordeste. Na região Sudeste, o CCE ocupa a 10ª posição.
Nas regiões Norte e Centro-Oeste, este câncer é o 12º mais frequente
e na região Sul ocupa a 15ª posição.22
Tor ra s et al.2 escreveu em sua revisão sistemática relatando que a
sobrevida em 5 anos para o CCE é de menos de 50% e o diagnóstico
precoce e tratamento são decisivos. Em estágios avançados (estágios
III-IV), o prognóstico encontra-se entre 30-50%; quando descoberto
em estágio inicial (estágio I), a taxa é de 80%. Portanto, o diagnóstico
precoce de lesões pré-malignas ou do CCE é primordial, consideran-
do a taxa de mortalidade nos estágios avançados.
A signicância da leucoplasia consiste em sua alta propensão à
transformação maligna quando comparada as outras lesões orais.21
Sua natureza pré-cancerosa tem sido estabelecida, não somente pela
associação com displasia ou pela íntima proximidade entre carcino-
mas orais e leucoplasia mas, principalmente, devido aos resultados
de investigações clínicas que monitoraram lesões leucoplásicas por
longos períodos.10
A etiologia da LO é considerada mul-
tifatorial, mas o tabaco é considerado o
fator mais envolvido.2 ,4,5,10,21 É muito mais
comum entre fumantes do que entre não
fumantes, sendo a quantidade de lesões
diretamente proporcional a quantidade
de consumo de tabaco.4 ,5,10 ,21 Além disso,
uma grande proporção de leucoplasias
em pessoas que param de fumar desa-
parecem ou tornam-se menores dentro
do primeiro ano após o hábito ter cessa-
do.10,21
O álcool pode ser pensado como um
fator de risco independente, mas ainda
faltam dados denitivos.4 É mais aceito
que há um efeito sinérgico ao tabaco no
desenvolvimento tanto da leucoplasia
quanto do câncer oral.2,10,21
A radiação ultravioleta é aceita como
um fator causal da leucoplasia de verme-
lhão de lábio inferior, sendo geralmente
associada à queilite actínica.
Fungos como a Candida albicans podem colonizar as camadas
superciais do epitélio da mucosa oral, produzindo placa espessa,
granular, de coloração mista leucoeritroplásica (gura 2).10 Estudos
notaram que a transformação maligna das leucoplasias infectadas
por Candida é alta, sugerindo que a associação com esse fungo pode
ser um fator signicante para a oncogênese.21
O papilomavírus humano (HPV), em particular os subtipos 16 e
18, tem sido identicado em algumas leucoplasias orais. São os mes-
mos subtipos do HPV associados ao carcinoma de colo de útero e a
um subgrupo do carcinoma de células escamosas oral, localizado em
orofaringe. Esses vírus, também, podem ser encontrados em células
normais do epitélio oral, de modo que sua presença talvez não seja
mais do que uma coincidência. Contudo, pode ser importante o fato
de ter sido demonstrado que o HPV-16 induz alterações semelhantes
à displasia no epitélio escamoso, diferenciando-se normalmente em
um ambiente in vitro estéril.10 Existem estudos relacionados ao possí-
vel papel do vírus, porém os resultados ainda não são claros.24
A LO geralmente afeta indivíduos acima dos 40 anos, principal-
mente entre as quinta e sétima décadas, e a prevalência aumenta ra-
pidamente com a idade, especialmente para os homens, com razão
de 2:1.4,5,10,21,25
Há predileção pelo gênero masculino (70%), contudo, tem sido ob-
servada uma diminuição na proporção de homens afetados ao longo
da última metade do século.4,6,10,25
As localizações variam de acordo com os hábitos de cada indiví-
duo e sua região de origem. Para Rodrigues et al.,6 mucosa juga l, lábio
inferior e língua têm sido as áreas mais afetadas. Segundo Parise,26
são língua, mucosa jugal, palato duro, assoalho (Figura 2) e gengiva.
Enquanto Abidullah et al.21 armaram que os principais locais são
lábios, mucosa bucal, língua e gengiva.
A aparência clínica é diversa e se modica ao longo do tempo. Ini-
cialmente surge como uma placa branca translúcida ou acinzentada,
na e ligeiramente elevada. A lesão é, caracteristicamente, suave e
plana e, por vezes, enrugada ou ssurada (gura 3). Essas lesões ge-
ralmente apresentam bordas bem demarcadas, porém, podem mis-
turar-se de forma gradual à mucosa normal. Com o tempo as lesões
tornam-se mais espessas, extensas lateralmente e com a coloração
mais esbranquiçada.10, 21 O tamanho pode variar de alguns milíme-
tros até lesões que abrangem toda a mucosa oral.11
Figura 3. Esquema ilustrativo dos diversos aspectos clínicos da Leucoplasia Oral (homôgenea e
não homôgena) versus sua natureza morfológica. (adaptado de Robert O. Greer e Terri Tilliss em
http://www.dimensionsofdentalhygiene.com/2012/12_December/Features/Rare_but_Deadly.aspx)
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A relação entre o aspecto clínico e as características histopa-
tológicas das leucoplasias orais foram avaliadas por Rodrigues et
al.6 em 28 pacientes adultos que apresentaram lesões leucoplásicas
na mucosa oral. As lesões foram divididas em homogêneas e não
homogêneas (gura 3) e classicadas segundo suas características
histopatológicas em seis grupos: hiperceratose com ausência de
displasia epitelial; displasia epitelial leve; displasia epitelial mo-
derada; displasia epitelial severa, carcinoma in situ e carcinoma
invasivo. As leucoplasias homogêneas apresentaram alterações
celulares discretas, enquanto as leucoplasias não homogêneas
evidenciaram displasia epitelial severa e carcinoma invasivo.6 A
presença de displasia moderada ou severa tem sido aceita como a
principal indicação de transformação maligna, dentre os diversos
fatores relacionados, como o gênero feminino, a duração da lesão,
o tamanho e outros.2,3,5,21,26
O protocolo atual para detecção de lesões como a LO envolve
inspeção visual da cavidade oral e palpação dos linfonodos de ca-
beça e pescoço.2,4 Contudo, identicar clinicamente uma LO não
é difícil quando comparada a uma tentativa de denição do risco
de malignização que ela pode manifestar.26
O diagnóstico inicial deve ser seguido de identicação e afas-
tamento de fatores que possam estar relacionados à lesão. Provi-
soriamente, deve ser chamada de leucoplasia toda lesão branca na
mucosa. Devem ser identicados fatores irritativos que não o ta-
baco e seus derivados e, posteriormente, os fatores devem ser afas-
tados do paciente. Caso haja desaparecimento, a lesão tem relação
com os fatores identicados e um baixo potencial maligno.26,28
O uso do azul de toluidina, um corante que identica DNA mi-
tocondrial em células com atividade replicativa, sugerindo pro-
liferação celular, é um precioso método de orientação (gura 4)
para a realização das biópsias que são mandatórias para tais lesões
que podem guardar carcinomas. 2-4,15,21,29,30
Figura 4. Aplicação da técnica do azul de toluidina (Técnica de Mashberg). Em “A” identicação da
lesão branca suspeita de Leucoplasia em borda lateral de lingua e em “B” aplicação do corante com
remoção do seu excesso
Discussão
São oportunas as discussões feitas ao longo do tempo a res-
peito da denição das leucoplasias, bem como a sua inserção nas
desordens potencialmente malignas, tendo em vista a sua correla-
ção com o CCE e a multiplicidade de agentes concorrentes nessa
malignização, conferindo um caráter multifatorial, como se viu
nessa revisão.3,5,8,9,18,21
Não há dúvidas de que o CCE representa 90% dos cânceres de
boca, tendo em vista sua alta incidência em nosso meio, caracte-
rizando-o como a neoplasia maligna mais comum na cavidade
oral.2,4 ,12-16,19,20 Isso se conrma com as expectativas do INCA22
para 2016 no Brasil, onde câncer bucal revela-se como um proble-
ma de saúde pública.
O que dene a importância do diagnóstico precoce, tanto das
desordens pré-malignas quanto do CCE, é a taxa de mortalidade
que observamos em estágios avançados da doença, tornando o
câncer de cavidade oral relevante em todo o mundo. A LO, como
uma possível lesão precursora, deve ser estudada e detectada o
mais precocemente possível. Starzyńska et al.,1 Tor ra s et al.,2 Fari-
nelli et al.,3 Parlatescu et al.,4 Patrício5 e Rodrigues et al.6 concor-
dam que se trata da lesão pré maligna mais comum. Torras et al.,2
Parlatescu et al.,4 Patrício,5 Neville et al.10 e Abidullah et al.21 jus-
ticam sua signicância ao armarem que CCEs orais vêm sendo
associados ou precedidos de lesões pré-malignas, com destaque
para a LO. Com isso, as LOs são reconhecidas, na literatura, com
as de maior propensão à malignização.2,4,5,10,21
Desse modo, conhecer a etiologia é fundamental. É reconhe-
cido pela comunidade cientíca como sendo fatores etiológicos
da LO: o tabaco, o álcool, a radiação ultravioleta, a Candida e o
HPV. 2,4,10,21,24 Apesar de multifatorial, existe um consenso sobre
o tabaco ser o principal fator envolvido com o surgimento da
LO.2,4 ,5,10,21 Os autores armam que as LOs são mais vistas em pa-
cientes fumantes e a maioria delas desaparece ou regride já no
primeiro ano após o paciente largar o hábito.4,10 ,21
As características vistas na literatura baseiam-se no comporta-
mento clínico das LOs acompanhadas ao longo do tempo, auxi-
liando na identicação de um possível grupo de risco levando em
condição a taxa de exposição.4 ,10,11,21,2 5
Em relação ao diagnóstico, foi visto que o termo leucoplasia
é usado apenas para nomear clinicamente, não tendo nenhuma
conotação quanto às alterações histológicas que as lesões podem
apresentar.6,10 Dessa forma, o diagnóstico de “leucoplasia” é estri-
tamente clínico e usado para ex-
cluir outras condições de colora-
ção branca que podem surgir na
cavidade oral.10
Para uma completa classi-
cação diagnóstica, as alterações
histopatológicas devem ser ana-
lisadas, uma vez que elas podem
denir qual será o comportamen-
to biológico da LO, segundo Ro-
drigues et al.6
Parlatescu et al.4 armaram
que a displasia epitelial é consi-
derada o padrão ouro para deter-
minar o risco de transformação
maligna. Além disso, é essencial, para a correta classicação, de-
terminar a displasia encontrada, leve, moderada ou severa, e o ris-
co de malignização, sem risco ou baixo risco e moderado ou risco
severo. Apenas uma classicação completa poderá denir qual o
possível comportamento da LO.
Patrício5 e Parise26 armaram que, em mulheres, o risco apre-
senta-se maior nas não fumantes e em lesões heterogêneas. A
questão do gênero envolve uma maior procura das mulheres por
tratamento em relação aos homens.
RAMOS RT et al.
Rev. Bras. Odontol., Rio de Janeiro, v. 74, n. 1, p. 51-5, jan./mar. 2017
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Recebido em: 01/10/2016 / Aprovado em: 08/03/2017
Autor Correspondente
Ruth Tramontani Ramos
E-mail: tramontaniramos@gmail.com
Mini Currículo e Contribuição dos Autores
1. Ruth Tramontani Ramos - cirurgiã-dentista e mestre. Contribuição: concepção e delineamento; redação do manuscrito; revisão crítica e aprovação nal.
2. Camilla Rodrigues Paiva - cirurgiã-dentista e especialista em Estomatologia. Contribuição: redação do manuscrito e aprovação nal.
3. Andreza Maria de Oliveira Filgueiras - cirurgiã-dentista e especialista em Estomatologia. Contribuição: revisão crítica e aprovação nal.
4. Geraldo Oliveira Silva-Junior - cirurgião-dentista e PhD. Contribuição: concepção e delineamento; redação do manuscrito; revisão crítica e aprovação nal.
5. Marília Heer Cantisano - cirurgiã-dentista e PhD. Contribuição: concepção e delineamento; redação do manuscrito; revisão crítica e aprovação nal.
6. Dennis de Carvalho Ferreira - cirurgião-dentista e PhD. Contribuição: revisão crítica e aprovação nal.
7. Marcia Ribeiro - médica e PhD. Contribuição: revisão crítica e aprovação nal.
Leucoplasia Oral: conceitos e repercussões clínicas
Rev. Bras. Odontol., Rio de Janeiro, v. 74, n. 1, p. 51-5, jan./mar. 2017
Conclusão
A evolução do conceito da leucoplasia oral dentro das desor-
dens potencialmente malignas insere o risco suscetível de trans-
formação maligna, que, por sua vez, é quem vai denir a ameça de
um câncer estar presente em uma lesão ou condição pré-maligna,
seja no diagnóstico inicial ou no futuro.
O estudo ressalta a importância do reconhecimento e diagnós-
tico precoce da LO dentro das desordens potencialmente malignas.