Como parte das atividades que compunham a programação do 5º Seminário Internacional de Estudos sobre Discurso e Argumentação – SEDiAr, contamos com o minicurso Problems in the Anthropology of Argument, ministrado, em língua inglesa, pelo Professor Dr. Christopher W. Tindale, da Universidade de Windsor, Canadá. Ao longo de duas manhãs de muita reflexão, Prof. Tindale nos convidou a pensar acerca de alguns parâmetros e conceitos referentes aos estudos argumentativos a partir de um ponto de vista filosófico e de um contexto intercultural, tendo como norte – especialmente – a dimensão retórica do ato de argumentar. Fomos levados a reconsiderar parâmetros concernentes a nós, enquanto atores envolvidos em uma comunidade, no que diz respeito à perspectiva que nos enquadra enquanto seres argumentativos e retóricos, de modo a expandir nossos horizontes em relação aos processos de percepção do outro, culminando em uma reformulação da percepção que temos de nós mesmos. Isso jogou luz sobre um dos pontos trabalhados no minicurso, a saber, as possibilidades de abordagem êmica e ética do fazer argumentativo. A perspectiva, herdada dos estudos antropológicos, nos fez refletir acerca do sistema de crenças a partir das quais se pode perspectivar a argumentação, isto é, se a partir de nosso próprio sistema – o ponto de vista ético – ou a partir dos termos de um sistema outro em foco – o ponto de vista êmico. Este capítulo busca sintetizar alguns dos tópicos abordados e discutidos ao longo do minicurso, assim como externalizar reflexões nossas derivadas das discussões lá realizadas. Buscaremos tratar de um movimento orientado a compreender formas distintas de argumentar que possam extrapolar os moldes já conhecidos, e até mesmo canônicos, de um ponto de vista ocidental – e, por que não, do Norte Global. Nesse sentido, faz-se pertinente reconsiderar os parâmetros que outras Culturas possam, porventura, assumir no processo de argumentar. Em outros termos, reconsiderar o lugar necessário para que tal atividade seja empreendida, assim como aquilo que pode, em outras redes de valores, ser considerado evidência, dentre outros componentes que se tornam relevantes ao adotar uma postura emicista. Dialeticamente complementar e paralelo, torna-se necessário revisitar alguns conceitos que constituem nossa própria cultura argumentativa, em um movimento que tensiona a visão ética, que tende a reger o olhar sobre o diferente, e a necessidade de reconsiderar determinados aspectos fundantes de comunidade, como a caracterização de uma ‘pessoa razoável’, ao estabelecer contato com outros lugares argumentativos, outras culturas. Isso joga luz sobre a problemática que rege a discussão proposta neste capítulo como um todo: “somos seres colocados; não há vista do nada; o viés ético é inevitável” (TINDALE, 2023). Isso nos leva a repensar sobre como abordar tais problemáticas, o que torna indispensável recorrer ao conceito de Cultura e interculturalidade.