Através deste livro, procuro continuar conversas que, de uma forma ou de outra, tenho tido o privilégio de vivenciar com um conjunto
muito amplo de professores. Estas reflexões decorrem, por um lado, dos cursos de formação inicial e contínua, onde tenho tido a sorte de partilhar perspetivas com profissionais e estudantes, provenientes de variados contextos geográficos e com uma amplitude assinalável de experiências organizacionais e educativas; por outro lado, não poderia deixar de referir a riqueza de pensamentos e práticas educativas que tenho conseguido acompanhar, com grande satisfação e interesse, dada a interação com a (micro-)rede de partilhas, no âmbito da Autonomia e Flexibilidade Curricular e da Cidadania e Desenvolvimento, do município de Vila Nova de Famalicão.
Este livro liga-se, igualmente, ao contexto político-curricular que,
no atual momento, emoldura as práticas e opções pedagógicas consideradas nas várias organizações escolares portuguesas. Dadas as alterações iniciadas em 2017, a reflexão sobre o currículo tem, em Portugal, adquirido um novo ímpeto que, em meu entender, é importante não deixar desvanecer.
O texto está dividido em duas partes, com cinco capítulos diferentes.
A primeira parte − Para um posicionamento conceptual − integra os três primeiros capítulos da obra. Em O currículo avanço com a explicitação do conceito e exploro a forma como o mesmo interage com o quotidiano escolar, além de esclarecer as diferentes influências (internas e externas às realidades escolares) e os múltiplos artefactos nesse domínio. Por fim, e ainda que sumariamente, tenho como
principal intento discutir sobre os diferentes períodos políticos, avançando com uma análise mais detalhada do que se iniciou em 2017. O segundo capítulo, denominado A prática curricular: uma experiênciadialógica, ética e estética, tem, essencialmente, dois propósitos complementares. Por um lado, avançar com uma discussão mais alargada sobre a prática curricular, centrando a reflexão em torno das experiências escolares, fazendo sobressair as
dimensões dialógicas, éticas e estéticas que lhe estão subjacentes. Por outro lado, almejei apresentar e enquadrar um conjunto amplo de opções curriculares, em especial relacionadas com a pluralidade de possibilidades associadas à organização do conhecimento escolar e, ainda, à diversidade de escolhas afetas à arquitetura de uma qualquer experiência formativa. Para finalizar a primeira parte do trabalho, avanço com um capítulo assente na Avaliação. Este apresenta uma dimensão mais conceptual, por vezes fortemente crítica, associada à avaliação, pela qual discuto os seus alicerces epistemológicos e
ideológicos e, nas páginas finais, avanço com um conjunto de mitos avaliativos. Há, aqui, também uma contextualização mais estratégica sobre as funções, tipologias, métodos e instrumentos de avaliação.
A segunda parte − Para uma discussão potencialmente prática − é, talvez, aquela que comporta um contributo mais original ou um posicionamento mais pessoal. No primeiro capítulo, denominado Ultrapassando a linearidade instrumental, critico lógicas mecanicistas associadas ao desenvolvimento curricular, enquadrando-o de acordo com outros princípios pedagógicos, éticos e humanos. Através deles, viso alertar para a importância do projeto curricular se estabelecer como um processo de humanização, de reconhecimento da humanidade em cada um de nós e, também, nos outros. Explorei, ainda, a importância do conhecimento profissional, do reconhecimento do risco inerente a qualquer prática e da necessidade de estabelecermos princípios fundacionais como forma de contrariar uma visão redutora e gerencialista do currículo e da sua elaboração.
No último capítulo − Pensar a experiência escolar − esquematizo o meu pensamento em torno das dinâmicas de desenvolvimento curricular, associando tal processo à construção de uma rede, formada por um conjunto de constituintes que são mutuamente influenciáveis e, por isso, interdependentes. Nesta parte do
texto, analiso com maior detalhe, ainda, cada uma das componentes do currículo e apresento um conjunto de reflexões sobre distintos artefactos curriculares, como um horário ou uma planificação de aula.