A modernização do Brasil é um processo incompleto, e não apenas um processo abortado ou fracassado, como afirmam — ou afirmavam — muitos analistas, influenciados pelas taxas de inflação extremamente elevadas que persistiram até a implantação do Plano Real. Na verdade, desde a eclosão da atual crise, em 1979, e principalmente a partir de 1987, após o fracasso do Plano Cruzado, a economia e o
... [Show full abstract] Estado brasileiros foram objeto de importantes reformas econômicas: a estabilização do balanço de pagamentos foi alcançada, elevados superávits comerciais têm sido obtidos a cada ano, a liberalização comercial foi iniciada, a privatização está avançando, a sociedade tornou-se mais consciente a respeito da crise fiscal e da necessidade do ajuste, e as empresas reestruturaram-se, modernizaram suas fábricas, aumentaram substancialmente sua produtividade, e demonstraram ser capazes de competir internacionalmente. A crise econômica existente desde 1979 e a crise política que emergiu oito anos mais tarde, após o fracasso do Plano Cruzado, são ambas crises de modernização. A partir dos anos 30, o Brasil adotou uma estratégia de desenvolvimento comandada pelo Estado que provou, por algumas décadas, ser um caminho bem-sucedido para a modernidade. Mas desde a década de 60 essa estratégia começou a apresentar problemas crescentes. O regime militar, que assumiu o poder político em 1964, preservou a antiga política de substituição de importações, apesar de sua retórica modernizante. Com a diferença que, nos anos 70, a substituição de importações não foi financiada por recursos internos, mas por poupança externa. O resultado é bastante conhecido: após alguns anos, o Estado foi à falência, foi paralisado, e por volta de 1979 o processo de modernização entrou em colapso.