... Através de desigualdades socioespaciais, a conjuntura da cidade de Belém "que se agiganta em termos de extensão territorial e número populacional se torna relativamente mais esvaziada quanto ao número de cidadãos" (TRINDADE JR., 1994). Como ressalta Trindade Jr. (2016), no subúrbio o cidadão convive no cotidiano com a perda do direito à cidade, "as ocupações "espontâneas" (...) tornaram-se espaços verdadeiramente vazios de cidadania" (TRINDADE JR., 2016, p. 363), verdadeiros "espaços sem cidadãos" (SANTOS, 1987) na medida em que as pessoas são tidas como meros "eleitores" ou como agentes sociais com canais de participação social reduzidos nas tomadas de decisões sobre a cidade.Como vem sendo exposto, as contradições na cidade produzida e disputada pelo Estado-capital e pelos alijados urbanos geram as dissensões, as tensões, enfrentamentos e os conflitos entre os agentes da produção do espaço urbano-metropolitano. De um lado temos o grande capital em forma imobiliária-financeira que visa à mercantilização de parcelas da cidade; do outro, temos as ações do Estado em dar vazão a esta mercantilização da moradia nas cidades; e, noutra ponta, a das resistências, concentra-se uma população de renda altamente achatada que vê nas ocupações um meio de acesso à cidade por via da "lógica de necessidades" básicas de sobrevivência(ABRAMO, 2007), isto é,[A] única possibilidade de sobrevivência e de existênciaainda que precária -de uma moradia, mesmo que isso implique limitações para o deslocamento e o acesso aos bens produzidos na cidade como infraestrutura básica (água, luz, esgoto), sistemas de educação e saúde, bem como de possibilidades de empregos que em geral se concentram nas centralidades(CANETTIERI, 2014, p. 28). Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.2, p.19140-19159 feb. ...