1. Introdução As margens estuarinas revestem-se de grande importância económica, social e ecológica, que se refletem na forte pressão exercida sobre elas. O espaço reclamado e antropizado de forma não planeada ao longo dos últimos séculos, sob pressão urbana, industrial, portuária, turística e agrícola, tem colocado em risco o equilíbrio natural dos domínios biológico e geológico. A artificialização das margens reduz a capacidade de migração dos diferentes ambientes como medida de adaptação aos agentes forçadores naturais, impedindo o restabelecimento do equilíbrio natural por parte do sistema. Os estuários representam excelentes casos de estudo na temática das alterações climáticas, sendo ambientes de transição muito vulneráveis, devido à interação entre os fatores físicos, químicos, biológicos e antrópicos a que estão sujeitos. As praias e restingas estuarinas (e, consequentemente, os sapais e os rasos de maré, que delas dependem) resultam da acumulação de sedimentos arenosos sob ação de ondas de geração local e correntes de maré, sendo particularmente sensíveis às pequenas modificações ambientais, como sejam a subida do nível médio do mar ou a alteração das suas fontes sedimentares. O objetivo principal deste trabalho consistiu na criação de um método semi-automático de avaliação da evolução das morfologias e da ocupação de zonas marginais estuarinas à mesoescala temporal, com recurso a imagens de satélite de alta resolução. Este estudo foi realizado aproveitando a elevada resolução temporal do programa de observação terrestre Landsat e utilizando técnicas de processamento e análise de imagem em suporte SIG (Esri® ArcMap TM 10.1). 2. Dados e metodologia Foi selecionada uma zona representativa dos elementos morfológicos marginais estuarinos, constituída por uma restinga de areia (a Restinga do Alfeite) e os elementos morfológicos associados, tendo sido definidas seis classes de ocupação marginal: " água " ; " duna, praia e banco arenoso " (areia); " raso de maré externo e canais principais " (areia vasosa); " raso de maré interno " (vasa); " sapal " (vegetação halófita em substrato vasoso orgânico); " vegetação dunar/ transição/ artificial " (áreas antropizadas, árvores e vegetação herbácea dunar). As imagens Landsat compiladas (disponíveis gratuitamente em http://earthexplorer.usgs.gov/) abrangem o intervalo temporal de algumas décadas, tendo sido selecionadas imagens dos sensores MSS, TM, ETM+ e OLI, entre as que combinam menor nebulosidade com menor altura de maré, de forma a exibirem a maior área possível de zona intertidal. A atribuição das classes temáticas foi realizada utilizando o classificador estatístico assistido máxima verosimilhança, a partir do conhecimento prévio das assinaturas espectrais de cada classe de ocupação, definidas nas amostras de treino. O método foi validado por fotointerpretação de fotografia aérea, ortofotomapas, imagens Google EarthTM e levantamento topográfico com equipamento DGPS, utilizando-se ainda cartografia antiga para alargar o intervalo temporal analisado. A precisão do classificador foi avaliada com base numa matriz de confusão e no índice kappa, relativamente ao ground truth criado por fotointerpretação da imagem pancromática Landsat de 2013, validada com uma imagem atual georreferenciada Google Earth TM. Foram desenvolvidos modelos semiautomáticos de pré-processamento (e.g Figura 1) e classificação de imagens (e.g Figura 2) com a ferramenta Model Builder, inserida no programa SIG utilizado, de forma a automatizar os processos, repetindo-os para as diferentes datas. A vetorização das diferentes classes permitiu definir a evolução de superfície de cada classe de ocupação, permitindo caracterizar qualitativa e quantitativamente a evolução da restinga e sua envolvente. 67