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einstein. 2016;14(4):473-9
ARTIGO ORIGINAL
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.
1 Fundação Antônio Prudente, Hospital A. C. Camargo, São Paulo, SP, Brasil.
2 Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil.
Autor correspondente: Igor Yoshio Imagawa Fonseca – Rua Professor Antônio Prudente, 211 – Liberdade – CEP: 01509-010 – São Paulo, SP, Brasil – Tel.: (11) 2189-5000 – E-mail: igor.fonseca@accamargo.org.br
Data de submissão: 5/1/2016 – Data de aceite: 30/6/2016
Conflitos de interesse: não há.
DOI: 10.1590/S1679-45082016AO3606
RESUMO
Objetivo: Avaliar prospectivamente segurança perioperatória,
complicações precoces e grau de satisfação de pacientes submetidos
ao implante de cateteres centrais de inserção periférica pela veia
basílica. Métodos: Foram acompanhados prospectivamente e
submetidos ao implante de cateteres de longa permanência de
inserção periférica, entre novembro de 2013 e junho de 2014, 35
pacientes consecutivos com doença oncológica ativa necessitando
de quimioterapia. Os procedimentos foram realizados em centro
cirúrgico por uma mesma equipe composta por três cirurgiões
vasculares. Os desfechos primários avaliados foram as complicações
pós-operatórias precoces, ocorridas em até 30 dias após o
implante. A avaliação do grau de satisfação foi realizada com base
na aplicação de um questionário específico já utilizado em estudos
prévios. Resultados: Em todos os casos, a punção ecoguiada da veia
basílica foi possível, e o procedimento foi concluído com sucesso.
As complicações precoces observadas incluíram um caso de
tromboflebite de basílica e um de infecção de bolsa, ambos tratados
clinicamente sem necessidade de retirada do dispositivo. Dos 35
pacientes interrogados, 33 (94,3%) recomendariam o dispositivo para
outras pessoas. Conclusão: A implantação do port braquial é uma
opção factível, com baixo risco intraoperatório e taxas semelhantes
de complicações pós-operatórias imediatas quando comparada a
dados já existentes da técnica convencional. Os pacientes estudados
apresentaram-se satisfeitos com o dispositivo e recomendariam o
procedimento para outras pessoas.
Descritores: Cateteres de demora/efeitos adversos; Quimioterapia;
Satisfação do paciente; Segurança do paciente
ABSTRACT
Objective: To prospectively evaluate the perioperative safety,
early complications and satisfaction of patients who underwent
the implantation of central catheters peripherally inserted via
basilic vein. Methods: Thirty-five consecutive patients with active
oncologic disease requiring chemotherapy were prospectively
followed up after undergoing peripheral implantation of indwelling
venous catheters, between November 2013 and June 2014. The
procedures were performed in the operating room by the same team
of three vascular surgeons. The primary endpoints assessed were
early postoperative complications, occurring within 30 days after
implantation. The evaluation of patient satisfaction was based on a
specific questionnaire used in previous studies. Results: In all cases,
ultrasound-guided puncture of the basilic vein was feasible and the
procedure successfully completed. Early complications included one
case of basilic vein thrombophlebitis and one case of pocket infection
that did not require device removal. Out of 35 patients interviewed, 33
(94.3%) would recommend the device to other patients. Conclusion:
Implanting brachial ports is a feasible option, with low intraoperative
risk and similar rates of early postoperative complications when
compared to the existing data of the conventional technique. The
patients studied were satisfied with the device and would recommend
the procedure to others.
Keywords: Catheters, indwelling/adverse effects; Drug therapy; Patient
satisfaction; Patient safety
Inserção braquial de cateteres venosos totalmente
implantáveis para quimioterapia: complicações
e avaliação da qualidade de vida em 35 pacientes
Brachial insertion of fully implantable venous catheters for chemotherapy:
complications and quality of life assessment in 35 patients
Igor Yoshio Imagawa Fonseca1, Mariana Krutman2, Kenji Nishinari1, Guilherme Yazbek1, Marcelo Passos Teivelis2,
Guilherme André Zottele Bomfim1, Rafael Noronha Cavalcante1, Nelson Wolosker2
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Fonseca IY, Krutman M, Nishinari K, Yazbek G, Teivelis MP, Bomfim GA, Cavalcante RN, Wolosker N
INTRODUÇÃO
Acessos venosos centrais de longa permanência são es-
senciais para pacientes com necessidade de quimiote-
rapia. O cateter totalmente implantável de longa per-
manência conhecido como port-cath, port-a-cath ou
sim plesmente port, é atualmente o dispositivo de escolha,
cuja inserção apresenta elevadas taxas de sucesso.
(1-3)
Os cateteres totalmente implantáveis podem ser in-
seridos por veias do sistema cava superior, por catete-
rização de veias profundas (jugular interna, subclávia,
inominada e axilar) ou superficiais (jugular externa, cefá-
lica e basílica).(4) Em situações de exceção, as veias femo-
ral ou safena magna também podem servir como acesso,
quando existe trombose do sistema cava superior.(5)
Quando esses dispositivos são inseridos pelas veias
cervicais do sistema cava superior, o reservatório é mais
frequentemente posicionado na região anterior do tó-
rax. Quando inseridas pelas veias de membros inferiores,
o reservatório pode ser implantado no abdome, anterior
à crista ilíaca ou em região femoral.(6)
Uma alternativa a esses cateteres é a utilização de
ca teteres totalmente implantáveis de inserção periféri-
ca, introduzidos pela veia basílica ou outra veia axial do
braço(7-12) com posicionamento do reservatório no braço.
As possíveis vantagens que justificam um melhor estudo
dessa técnica incluem menor risco de complicações intrao-
peratórias, como pneumotórax ou hemotórax, não inter-
ferência em exames de imagem da mama, maior facili-
dade de acesso para punção e melhor resultado estético.
Até os limites do nosso conhecimento, não existem,
na literatura, relatos ou séries de casos documentando
complicações e desfechos de satisfação e qualidade de
vida relacionados à implantação de ports inseridos por
via periférica e posicionados no braço.
OBJETIVO
Avaliar prospectivamente segurança perioperatória, com-
plicações precoces e o grau de satisfação de pacientes com
neoplasia maligna e necessidade de quimioterapia sub-
metidos ao implante de cateteres centrais de inserção
periférica pela veia basílica.
MÉTODOS
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética Medica
do Hospital A. C. Camargo Cancer Center, número
1.878/14 e todos os pacientes incluídos assinaram o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido. Trinta e cinco
pa cientes consecutivos, com doença oncológica ativa e ne-
cessitando de quimioterapia, foram acompanhados pros -
pectivamente e submetidos ao implante de cateteres de
longa permanência de inserção periférica, entre novem-
bro de 2013 e junho de 2014. Os critérios de inclusão uti-
lizados foram idade maior ou igual a 18 anos; neoplasia
ma ligna e necessidade de cateter exclusivamente para
quimioterapia. Foram excluídos do estudo pacientes
em uso de anticoagulação; com veia basílica menor que
2mm; com antecedente de cateter de longa permanên-
cia prévio em sistema cava superior e com evolução para
óbito em menos de 30 dias. A medida do diâmetro trans-
verso da veia (em seu maior eixo) foi realizada imediata-
mente antes do procedimento, utilizando o ultrassom no
modo bidimensional.
Técnica de implantação
Todos os procedimentos foram realizados em centro
cirúrgico e por uma mesma equipe composta por três
cirurgiões vasculares experientes em acessos venosos e
acompanhados por anestesista. A maioria dos pacientes
apresentava condições clínicas favoráveis e foi submeti-
da a sedação e a anestesia local (88,67%). Em três casos
(8,57%), optou-se apenas por anestesia local, em de-
corrência de condições clínicas desfavoráveis, e em um
caso, o paciente foi submetido a anestesia geral. Sempre
que possível, a via de acesso de escolha foi o braço não
dominante, e a veia utilizada para implante do cateter
foi a basílica. Em pacientes com neoplasia de mama sub-
metidos à linfadenectomia ou em casos de veias basílicas
menor do que 2mm, optamos por acesso no membro mais
favorável, mesmo sendo este o dominante.
O preparo para cirurgia incluiu tricotomia no local
de implante do cateter, quando necessário, e degerma-
ção de todo o membro com clorexidina degermante 2%,
seguida de antissepsia com clorexidina alcoólica. Não uti-
lizamos antibiótico na indução e nem no pós-operatório.
O cateter utilizado em todos os casos do estudo
foi da marca Medcomp® modelo Dignity® CT 6.6F
(Harleysville, Pensilvânia, EUA), de poliuretano e que
possui um reservatório radiopaco de baixo perfil.
Anestesia local foi realizada com solução de xilocaí-
na 2% e ropivacaína 2%. A punção da veia basílica foi
realizada com técnica ecoguiada, com agulha de 21 gau-
ge, seguida de implante de fio guia 0.018”. Um pequeno
corte foi realizado no local da punção, e o introdutor
6.6F foi implantado na veia com auxílio de radioscopia.
Após retirada do fio guia em conjunto com o intro-
dutor guia, o cateter foi implantado e direcionado para
posição central, novamente sob visualização radioscópi-
ca, e a bainha peel away foi removida. O cateter foi tu-
nelizado do local da punção até a região da bolsa subcu-
tânea, confeccionada com incisão de aproximadamente
3cm de extensão, localizada no terço distal do braço, 3 a
4cm acima da prega do cotovelo.
Após secção do cateter em um comprimento ade-
quado, ele foi conectado ao reservatório implantado na
bolsa. O reservatório foi, então, fixado ao plano muscular,
com pontos laterais de nylon 4.0.
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Inserção braquial de cateteres venosos totalmente implantáveis para quimioterapia
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A incisão do reservatório foi fechada em dois pla-
nos, com fio absorvível no subcutâneo, e pontos intra-
dérmicos na pele. A incisão sobre o local da punção foi
fechada apenas com ponto intradérmico.
Dados intraoperatórios, como tempo de operação,
tipo de anestesia, necessidade de mudança da via de
acesso e complicações intraoperatórias (pneumotórax,
hemotórax, lesão vascular, arritmia cardíaca e hemato-
ma) foram anotados para futura avaliação.
Os pacientes foram orientados a manter curativo
oclusivo estéril por 3 dias após o procedimento. Em ca-
sos de necessidade de utilização imediata do dispositi-
vo, a punção foi feita em sala cirúrgica, conforme apre-
sentado na figura 1.
analisa, sob a perspectiva do paciente, dados que envol-
vem reconhecimento da necessidade do dispositivo;
as pectos de conforto; ansiedades geradas pelo uso do
dispositivo; interferência em atividades do dia a dia; es-
tética e satisfação geral baseadas no grau de recomen-
dação indicado pelo paciente.
Os pacientes foram questionados se concordavam
ou discordavam com as afirmações relativas aos dife-
rentes aspectos de satisfação analisados. Os resultados
do questionário foram comparados aos achados disponí-
veis no estudo de Goltz et al.(8) para ports braquiais, que
utilizou a mesma ferramenta de análise.
Análise estatística
As comparações entre nossos resultados do questioná-
rio e os achados de Goltz et al.(8) foram realizadas utili-
zando teste de frequências de χ2 ou teste exato de Fisher.
Quando p>0,05, consideramos que os resultados (fre-
quências) do estudo foram concordantes com os acha-
dos já publicados. Quando p<0,05, consideramos que
houve divergência no estudo com relação ao publicado.
Não tivemos dados comparativos no estudo de Goltz
et al.(8) para três perguntas do questionário: uma rela-
cionada à indicação do dispositivo e duas associadas ao
implante e a aspectos de conforto. Isso porque esses
parâmetros não foram avaliados pelos autores 30 dias
após o procedimento, mas apenas imediatamente após
o implante.
RESULTADOS
Um total de 35 cateteres foram implantados em 35 pa-
cientes. Em todos os casos, a punção da veia basílica foi
possível, e o procedimento foi concluído com sucesso.
A tabela 1 evidencia os dados demográficos dos pacien-
tes e o tipo de neoplasia em tratamento.
Seguimento
Os pacientes incluídos na casuística foram avaliados cli-
nicamente de forma eletiva 10 e 30 dias após o procedi-
mento, ou em qualquer outro momento do estudo, caso
houvesse alguma intercorrência relacionada ao cateter.
Exames complementares como raio X ou ultrassom
Doppler foram solicitados somente para investigação
de eventuais queixas ou sintomas relacionadas ao cateter
(por exemplo: disfunção, edema ou alterações relacio-
nadas à ferida cirúrgica).
Os desfechos primários avaliados foram as compli-
cações pós-operatórias precoces, definidas como even-
tos ocorridos em até 30 dias após o implante.
Um questionário de satisfação já utilizado e vali-
dado em publicações prévias(8) foi aplicado na segunda
avaliação, após 30 dias do implante. Esse questionário
Tabela 1. Dados demográficos e tipo de neoplasia
Numero de cateteres implantados n=35
Sexo
Feminino 18
Masculino 17
Idade
Média 62
Mediana 59,0
Tipo de neoplasia
Neoplasia do trato gastrintestinal 20
Neoplasia de cabeça e pescoço 5
Neoplasia de pulmão 3
Neoplasia de mama 1
Neoplasia ginecológica (não mama) 2
Neoplasia hematológica 2
Sarcomas (retroperitoneal/membros) 2
Figura 1. Resultado do pós-operatório imediato com port puncionado
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Fonseca IY, Krutman M, Nishinari K, Yazbek G, Teivelis MP, Bomfim GA, Cavalcante RN, Wolosker N
Tabela 2. Resultados do questionário de grau de satisfação (perspectiva do paciente) comparado com estudo Goltz et al.(8)
Estudo Estudo Goltz et al.(8)
30 dias (port braquial) Valor
de p
Concordo
n (%) Discordo
n (%) Concordo
n (%) Discordo
n (%)
Indicação e dispositivo
Eu sei porque o cateter foi implantado 32/35 (91,4) 3/35 (8,6) - -
Eu sei como o dispositivo funciona 24/35 (68,6) 11/35 (31,4) 25/25(100,0) 0/25 (0,0) 0,002
Implante e aspectos de conforto
O desconforto durante o procedimento foi aceitável 34/35 (97,1) 1/35 (2,9) - -
Eu preferiria anestesia geral ao invés de anestesia local se eu fosse submetido novamente ao procedimento 2/35 (5,7) 33/35 (94,3) - -
Eu preferiria punções venosas periféricas repetidas a ter o dispositivo de port 7/35 (20,0) 28/35 (80,0) 0/25 (0,0) 25/25(100,0) 0,035*
O port causa uma sensação desagradável 7/35 (20,0) 28/35 (80,0) 15/25 (60,0) 10/25 (40.0) 0,002
O port causa dor 5/35 (14,3) 30/35 (85,7) 6/25 (24,0) 19/25 (76,0) 0,338
Após um período, nem sinto mais o port 25/35 (71,4) 10/35 (28,6) 15/25 (60,0) 10/25 (40,0) 0,355
A injeção de grandes volumes rapidamente é importante para mim, como, por exemplo, para realização de
exames com contraste
10/35 (28,6) 25/35 (71,4) 17/25 (68,0) 8/25 (32,0) 0,002
O acesso até o cateter dói 15/35 (42,9) 20/35 (57,1) 6/25 (24,0) 19/25 (76,0) 0,131
Sentimentos de ansiedade (“Eu tenho receio que o port...”)
Não vá funcionar um dia 13/35 (37,1) 22/35 (62,9) 13/25 (52,0) 12/25 (48,0) 0,252
Possa sair do lugar 9/35 (25,7) 26/35 (74,3) 4/25 (16,0) 21/25 (84,0) 0,368
Possa ser danificado enquanto brinco com as crianças 10/35 (28,6) 25/35 (71,4) 6/25 (24,0) 19/25 (76,0) 0,693
Possa ser danificado enquanto sou abraçado 8/35 (22,9) 27/35 (77,1) 5/25 (20,0) 20/25 (80,0) 0,791
Possa ser uma fonte de infecção 13/35 (37,1) 22/35 (62,9) 10/25 (40,0) 15/25 (60,0) 0,822
Impacto nas atividades do dia a dia (“O cateter me incomoda se...”)
Eu tomo banho de chuveiro 4/35 (11,4) 31/35 (88,6) 4/25 (16,0) 21/25 (84,0) 0,608
Eu tomo banho de banheira 3/35 (8,6) 32/35 (91,4) 4/25 (16,0) 21/25 (84,0) 0,377
Eu me exercito 3/35 (8,6) 32/35 (91,4) 7/25 (28,0) 18/25 (72,0) 0,046
Eu mexo os meus braços 3/35 (8,6) 32/35 (91,4) 10/25 (40,0) 15/25 (60,0) 0,004
Eu me visto ou tiro minha roupa 3/35 (8,6) 32/35 (91,4) 10/25 (40,0) 15/25 (60,0) 0,004
Eu dirijo meu carro (usando cinto de segurança) 2/35 (5,7) 33/35 (94,3) 1/25 (4,0) 24/25 (96,0) 0,764
Eu uso sutiã 0/35 (0) 18/35 (51,4) 0/12 (0,0) 12/12(100,0) -
Eu tento me sentar em uma certa posição para que o cateter não possa se movimentar 5/35 (14,3) 30/35 (85,7) 1/25 (4,0) 24/25 (96,0) 0,190
Aspectos cosméticos
A cicatriz me preocupa 4/35 (11,4) 31/35 (88,6) 12/25 (48,0) 13/25 (52,0) 0,002
Satisfação geral
Eu recomendaria que outras pessoas implantassem um cateter como o meu 33/35 (94,3) 2/35 (5,7) 25/25(100,0) 0/25 (0,0) 0,224
Valor de p obtido pelo teste de frequências do χ2. * Valor de p obtido pelo teste exato de Fisher.
Os tempos médio e mediano para realização do pro -
cedimento foram, respectivamente, 36 e 35 minutos.
Foram implantados na veia basílica esquerda 31 ports e
apenas 4 na basílica direita. Em apenas um caso, houve
necessidade de injeção de contraste (15mL), devido a
não progressão do guia para posição central, em decor-
rência de tortuosidade no sistema cava superior.
Não foram observadas complicações intraoperató-
rias significativas, houve apenas um caso de equimose
local em região da bolsa subcutânea, que não gerou com-
plicações maiores.
Com relação às complicações pós-operatórias pre-
coces (até 30 dias após implante), observamos um caso
de tromboflebite de basílica associada ao cateter, tratada
clinicamente com anticoagulação, não sendo necessária
a retirada do dispositivo.
Em um caso observamos a formação de seroma ao
redor do reservatório na bolsa subcutânea, com saída
de pequena quantidade de líquido seroso através do
orifício da agulha de punção. Esse paciente foi mantido
com curativo compressivo por 1 semana, com resolução
satisfatória do quadro.
Até o final deste seguimento, observamos um caso
de infecção de bolsa, tratada com ciprofloxacina por 7
dias, não sendo necessária a retirada do dispositivo.
A tabela 2 mostra os resultados do questionário de
satisfação com o port braquial para os 35 pacientes do
estudo em comparação com os achados de Goltz et al.(8)
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Inserção braquial de cateteres venosos totalmente implantáveis para quimioterapia
einstein. 2016;14(4):473-9
Dos 35 pacientes interrogados, 33 (94,3%; p=0,22) re-
comendariam o dispositivo para outras pessoas. Em
quase a totalidade dos casos (97,1%), os pacientes fica-
ram satisfeitos com o tipo de anestesia empregada e
não referiram desconforto durante o procedimento do
implante. Mais de 88,6% dos casos, o cateter com sítio
de implante braquial não interferiu de maneira signifi-
cativa nas atividades do dia a dia. O resultado estético
foi considerado favorável em 88,6% dos pacientes,
não sendo concordante com o estudo de Goltz et at.(8)
(p=0,002). A figura 2 mostra o resultado estético final
três meses após o procedimento.
nicas são comprovadamente seguras(10) e tornaram-se
ainda mais efetivas após a adoção do uso sistemático
do ultrassom bidimensional, determinando redução sig-
nificativa nas taxas de insucesso de canulação, punção
inadvertida de carótida e formação de hematomas, quan-
do comparadas a técnica baseada no uso de reparo ana-
tômico.(11) A incidência de complicações como hemotó-
rax ou pneumotórax também é drasticamente reduzida
após o domínio da técnica da punção ecoguiada, que
geralmente é adquirida com 5/10 casos/cirurgião.(12)
Ports de inserção braquial são implantados de forma
segura em veias periféricas, principalmente veia basílica,
apresentando fácil manutenção e mínima morbidade,
uma vez que os índices de complicações perioperatórias
graves relacionadas a punção, como hemotórax ou pneu-
motórax, são nulos. Riscos associados a fratura de cateter
entre a clavícula e primeira costela (pinch-off syndrome)
que ocorrem com o implante em veia subclávia também
parecem estar reduzidos pelo uso dessa técnica.(9)
Dispositivos com o reservatório implantado no braço
oferecem ainda uma alternativa interessante para pa-
cientes com tumorações grosseiras ou exposição à ra-
dioterapia em região cervical e/ou anterior do tórax,
que contraindicam o implante do port na posição con-
vencional, poupando-os da cateterização de veia femo-
ral, mais associada a complicações infecciosas.(13) Outra
possível vantagem da inserção no port no braço inclui
melhor resultado estético, evitando cicatrizes em regiões
mais expostas e visíveis.
Foram observados um (2,9%) caso de complicação
trombótica e um (2,9%) caso de complicação infecciosa
nos casos estudados. Estudos recentes mostram que as
taxas de complicações trombóticas e infecciosas relacio-
nadas a ports implantados em região torácica anterior
variam entre zero a 3,2%(3,9,12,14-16) e 1,1 a 9%,(3,9,12,15-17)
respectivamente. Nossa casuística inicial, apesar de pe-
quena, mostrou dados compatíveis com os da literatura,
sugerindo equivalência das técnicas.
A hipótese do maior risco de desenvolvimento de
complicações trombóticas em ports braquiais, devido ao
calibre reduzido da veia basílica e ao maior comprimento
do cateter, seria uma das potenciais desvantagens dessa
técnica em comparação com os dispositivos de inserção
cervical. Enquanto os estudos iniciais evidenciavam ta-
xas de trombose venosa variando entre zero e 26%,(17,18)
a literatura atual demonstra resultados mais favoráveis e
consistentes com nossos achados, com taxas de trombose
variando entre zero e 4,5%.(9,19)
A única complicação trombótica observada foi
uma tromboflebite superficial de veia basílica em uma
paciente do sexo feminino, confirmada por ultrassom
Doppler realizado na primeira semana após implante
DISCUSSÃO
Os cateteres de longa permanência são dispositivos de
grande importância amplamente utilizados para admi-
nistração de quimioterapia em pacientes com neoplasia
em todo o mundo.(9) Permitem conforto, praticidade e
segurança na aplicação de quimioterápicos que, quan-
do administrados por via periférica, podem cursar com
complicações, como flebites, dor e até consequências
mais severas, como necrose de pele e síndrome compar-
timental do membro por extravasamento da medicação.
Essas intercorrências acabam por atrasar o tratamento
proposto e causam preocupações desnecessárias, inter-
ferindo na qualidade de vida do paciente oncológico.
Os locais mais utilizados para inserção desses dis-
positivos são atualmente as veias do sistema cava supe-
rior (jugular interna e subclávia), com posicionamento
do reservatório na região anterior do tórax. Essas téc-
Figura 2. Resultado estético final 3 meses após o procedimento (seta apontando
local da cicatriz cirúrgica)
einstein. 2016;14(4):473-9
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Fonseca IY, Krutman M, Nishinari K, Yazbek G, Teivelis MP, Bomfim GA, Cavalcante RN, Wolosker N
do dispositivo, por queixa de edema no membro. Essa
paciente tinha 51 anos de idade e era portadora de neo-
plasia de reto. Após uma semana de anticoagulação
plena, apresentou remissão completa do edema, e o
tratamento foi mantido por 3 meses sem intercorrên-
cias. O cateter permaneceu funcionante durante todo o
período do tratamento.
Devido ao calibre reduzido da veia basílica quando
comparado ao de veias do sistema cava superior, a agu-
lha de punção mais fina é fundamental para garantir
sucesso na punção para o acesso periférico. A utilização
da agulha de 21 gauge evita a formação de hematomas
e espasmos da veia, que dificultam e até inviabilizam
novas punções, quando a cateterização não é obtida na
primeira tentativa.
Encontramos diferenças relevantes para algumas
perguntas contempladas no questionário, quando com-
paradas aos achados de Goltz et al.(8) Nossos pacientes
apresentaram menor grau de conhecimento sobre o
fun cionamento do dispositivo, e 20% deles relataram
preferir punções venosas periféricas repetidas ao ter o
port − afirmativa que não foi corroborada por nenhum
paciente do estudo comparativo. Por outro lado, os pa-
cientes do nosso estudo queixaram-se menos de sensa-
ção desagradável associada ao port e referiram menor
impacto causado pelo dispositivo em atividades diárias,
como movimentação do braço e para vestir roupa. O ín-
dice de satisfação com o resultado estético observado
entre os pacientes do nosso estudo foi maior (88,6%
contra 52,0%; p=0,002).
Nossos pacientes não julgaram importante a função
de injeção rápida de grandes volumes pelo cateter, como
para realização de exames contrastados com bomba in-
jetora. Isso pode ser explicado pelo fato de não haver
ro tina para infusão de contraste pelo port em estudos
radiológicos realizados no nosso serviço.
Na literatura atual, existem casuísticas maiores que
divulgam resultados de ports implantados no braço. A
maior delas envolveu 154 pacientes.(20) Nenhum estudo
avaliou simultaneamente as complicações e os resultados
de qualidade de vida, conforme a perspectiva do paciente.
Nossa casuística revelou um alto grau de satisfação dos
pacientes com relação à qualidade de vida em geral com
o uso do cateter de inserção braquial e que quase a to-
talidade dos pacientes analisados recomendaria esse
dispositivo para outras pessoas.
Nosso estudo demonstrou apenas uma avaliação ini-
cial de uma técnica pouco difundida em nosso meio, mas
que pode ser empregada com segurança e que apresen-
tou resultados satisfatórios. Ela pode ser utilizada como
alternativa em situações que impossibilitam o implante
do reservatório na posição habitual, ou oferecida como
primeira escolha, conforme a preferência do paciente.
Faltam estudos comparativos entre cateteres implantados
no braço e veias do sistema cava superior, que estão em
desenvolvimento pelo nosso grupo.
CONCLUSÃO
A implantação do port braquial foi uma opção factível,
com baixo risco intraoperatório e semelhantes taxas de
complicações pós-operatórias imediatas, quando compa-
rada a dados já existentes da técnica convencional. Os
pacientes estudados apresentaram-se satisfeitos com o
dispositivo e recomendariam o procedimento para outras
pessoas.
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