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Gato preto não dá azar – Como a cultura pop pode ajudar a quebrar crendices populares

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Abstract and Figures

Black cat, not bad luck - As pop culture can help break popular beliefs. Crendice is a belief in things that logic does not explain, while superstition is this same belief when it involves the fear of consequences. Many crendices and superstitions involving animals with them both hanging to the side of good or bad luck. The cat (Felis silvestris catus - Carnivora: Felidae) is an interesting case: if for some cultures it is a symbol of luck, for others it was associated with curses, something that happens especially in relation to black cats. The existence of fictional characters, loved by the public, inspired by inauspicious animals can be a useful tool in order to demystify beliefs and superstitions. Keywords: animation; comics; cultural Zoology.
Content may be subject to copyright.
Editoração: Luci Boa Nova Coelho
C672i Coelho, Luci Boa Nova, 1960-
I Colóquio de Zoologia Cultural Livro do Evento / Luci
Boa Nova Coelho, Elidiomar Ribeiro Da-Silva. Rio de Janeiro:
Perse, 2016.
230 f.
ISBN 978-85-464-0413-1
1. Zoologia. 2. Divulgação Científica. 3. Ensino.
I. Título. II. Autor.
CDD. 590
CDU. 59
FICHA CATALOGRÁFICA FEITA PELOS ORGANIZADORES
08 de setembro de 2016 I Colóquio de Zoologia Cultural Rio de Janeiro/RJ
Gato preto não azar Como a cultura pop pode ajudar a quebrar crendices populares
Elidiomar Ribeiro Da-Silva
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências,
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Contato: elidiomar@gmail.com
Resumo
Crendice é uma crença em coisas que a lógica não explica, enquanto que superstição é essa mesma crença
quando envolve o medo das consequências. Muitas crendices e superstições envolvem animais, com eles
pendendo tanto para o lado da sorte ou do azar. O gato (Felis silvestris catus Carnivora: Felidae) é um caso
interessante: se para algumas culturas ele éum símbolo de sorte, para outras ele está associado a maldições,
coisa que acontece especialmente com relação aos gatos pretos. A existência de personagens fictícios,
queridos pelo público, inspirados em animais de mau agouro pode ser um interessante instrumento no sentido
de se desmistificar crendices e superstições.
Palavras-chave: animações; HQs; Zoologia cultural.
Abstract
Black cat, not bad luck - As pop culture can help break popular beliefs.
Crendice is a belief in things that logic does not explain, while superstition is this same belief when it involves
the fear of consequences. Many crendices and superstitions involving animals with them both hanging to the
side of good or bad luck. The cat (Felis silvestris catus - Carnivora: Felidae) is an interesting case: if for some
cultures it is a symbol of luck, for others it was associated with curses, something that happens especially in
relation to black cats. The existence of fictional characters, loved by the public, inspired by inauspicious animals
can be a useful tool in order to demystify beliefs and superstitions.
Keywords: animation; comics; cultural Zoology.
Introdução
A origem das crendices e superstições é tão antiga quanto a própria humanidade. Diante da
impossibilidade de entender determinados fenômenos, os antigos buscavam outras explicações para
amenizar seus medos, dúvidas e angústias. Determinadas crenças fazem parte, até hoje, da nossa
cultura e influenciam fortemente nossa forma de pensar. No Brasil, muitas crendices chegaram com
os colonizadores portugueses, foram mescladas às crenças dos indígenas, dos negros escravizados e,
posteriormente, dos demais imigrantes que aqui aportaram (FELTRIN,2016). Crendice é uma crença
em coisas que a lógica não explica, enquanto que superstição é essa mesma crença quando envolve o
medo das consequências (BARCALA,2016). Assim, acreditar que um gato preto azar, por exemplo,
é uma superstição, pois envolve o medo da sorte (RIBEIRO,2002).
Muitas crendices e superstições envolvem animais, com eles pendendo tanto para o lado da
sorte ou do azar. Dentre aqueles considerados como símbolos positivos estão, por exemplo, o
uirapuru (Passeriformes: Pipridae) (MARCELIANO,1988), as aranhas (Arachnida: Araneae) (ZACARIAS,
2011) e alguns insetos, como libélulas (Odonata) (CORREARD,2010), esperanças (Orthoptera:
Tettigonioidea), borboletas (Lepidoptera: Rhopalocera) (OVERAL et al.,1995) e joaninhas (Coleoptera:
Coccinelidae) (GUERREIRO,2004). Por outro lado, dentre os animais com conotação simbólica negativa
estão as corujas (Strigiformes) (SANTOS et al.,2015), os morcegos (Chiroptera), o lobo (Canis lupus
Linnaeus, 1758 - Carnivora: Canidae) e as mariposas (Lepidoptera) (KNIGHT,2008).
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O gato (Felis silvestris catus Linnaeus, 1758 Carnivora: Felidae) é um caso interessante: se
para algumas culturas ele é um símbolo de sorte, como no Japão, na China e no Antigo Egito, para
outras ele está associado a maldições, coisa que acontece especialmente com relação aos gatos
pretos. O presente trabalho contempla a longa estrada em que bichanos e humanos percorrem
juntos, enfatizando a presença do gato preto a variação cromática mais plena em simbolismos -
como inspiração a personagens da cultura pop.
Material e Métodos
Para o presente trabalho, a coleta de dados e informações foi realizada através de um
levantamento teórico, buscando bibliografia especializada, sob forma de livros, revistas, artigos,
reportagens e informações de internet.
O simbolismo que cerca o gato
Os integrantes da família Felidae (Mammalia: Carnivora) são, possivelmente, os mais belos e
graciosos de todos os animais (CLUTTON-BROCK,1997). Tendo surgido cerca de 25 milhões de anos,
estão entre os animais melhor adaptados à predação (DEBECKER,2008). No norte da África, cerca
de 9.000 a10.000 anos (VIGNE et al., 2004; BLANCO & AMORIM,2011), ainda antes da invenção da roda
eda escrita, surgiram os primeiros laços afetivos entre homens e gatos. Exemplares de Felis silvestris
lybica Forster, 1780 provavelmente começaram a se aproximar dos humanos e, aqueles que
demonstravam menos medo e eram mais amigáveis, conseguiam mais comida e se reproduziam
mais. Nascia assim a forma doméstica, o Felis silvestris catus (BLANCO & AMORIM,2011). Os gatos
provavelmente começaram a viver perto de povoações humanas porque era fácil caçar ratos e
camundongos (Rodentia: Muridae) que se alimentavam de cereais estocados. Logo, as pessoas
perceberam sua utilidade e os encorajaram a ficar (CLUTTON-BROCK,1997).
A bordo de navios mercantes e expedições colonizadoras, o gato se espalhou pelo mundo
(BLANCO & AMORIM,2011). Desde então, passou progressivamente a ser um dos mais destacados
animais de estimação. De personalidade independente, cativante e misteriosa, se tornou animal de
companhia em diversos lares ao redor do mundo, para pessoas dos mais diversificados estilos de
vida. Atualmente em torno de 42 milhões de gatos vivendo em lares da Europa (PIERSON et al.,
1996). Tudo isso sem perder suas características básicas, pois o comportamento do F. s. catus pouco
variou em relação ao de seus ancestrais (MONTAGUEET al.,2014), a ponto de EDGAR et al.(2007)
afirmarem que o gato é o seu dono, não o contrário.
Dificilmente alguém é indiferente ao gato. Em muitos lugares, eles ganharam ares de divindade
ou de representantes das trevas. Eram divindades no Antigo Egito, são sagrados no Camboja e em
templos budistas do extremo Oriente, e símbolos de sorte no Japão (BLANCO & AMORIM,2011). Nos
últimos 3.000 anos, o gato vem desempenhando um papel importante no folclore de muitos países
ao redor do mundo. Coisa que, por exemplo, não acontece tanto com o cão. Dentre as prováveis
causas disso, está o fato do gato ser enigmático; de dia é meigo, afetuoso e sonolento, à noite torna-
se um caçador eficiente (CLUTTON-BROCK,1997). Os gatos causaram um profundo impacto na
imaginação humana desde que a nossa espécie começou a dar os primeiros passos (SAUNDERS, 1997).
Em muitos países da Europa, um número elevado de gatos foi cruelmente assassinado durante a
Idade Média, pois se acreditava que eles estivessem ligados à feitiçaria. A partir do ano de 1400,
durante cerca de 300 anos, o gato foi considerado um “familiarde bruxas, seu elo de ligação com o
demônio. Acreditava-se também que elas podiam se transmutar em gatos (CLUTTON-BROCK,1997;
SAUNDERS,1997).
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A superstição do gato preto
A crença popular de que os gatos de pelagem preta dão azar surgiu na Europa, durante a Idade
Média, quando os hábitos noturnos e a cor escura os associaram às trevas e ao demônio, além da
crença que eles seriam bruxas, transmutadas em animais (CLUTTON-BROCK, 1997). Os gatos pretos
sempre foram associados a práticas de magia negra (O’CONNELL& AIREY, 2010). Remonta daí a
superstição de que cruzar com um gato preto, sobretudo em dias considerados de azar (como uma
sexta-feira 13), ou encontrá-los à meia-noite junto a uma encruzilhada, seja sinal de mau presságio.
Em alguns lugares de Portugal, curiosamente, se alguém tiver uma maldição em casa e se nessa casa
houver um gato preto, o mal vai para o gato (ZACARIAS,2011). A crença de que gato preto azar (ou
sorte) variou no decorrer dos séculos, de país a país. Na Grã-Bretanha um gato preto que cruze o
caminho de alguém traz sorte, ao passo que nos Estados Unidos traz sorte se passar por uma casa,
mas azar se resolver ficar (CLUTTON-BROCK,1997).
Ainda com relação ao fato deles terem sido considerados “familiares” de bruxas (Figura 1), ou
até mesmo bruxas transmutadas, isso foi motivo para que, a partir do século XIII, por 400 anos os
gatos pretos terem sido perseguidos (SAYER,1979). A imagem europeia da bruxa era a de uma
mulher de idade avançada e seu gato preto (SAUNDERS,1997). Curiosamente, o gato da transfiguração
da professora Mc Gonagall, da série cinematográfica Harry Potter, é representado como listrado
(MENEZES,2014).
Figura 1. Ilustração, de domínio público, mostrando uma bruxa e seu gato preto, dentro de
um círculo de animais e itens de feitiçaria (fonte: Google Imagens).
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Em 1484 o Papa Inocêncio VIII incluiu os gatos pretos na lista de hereges perseguidos pela
Inquisição. Morreram tantos deles nas fogueiras da Idade Média que os ratos começaram a se
multiplicar rapidamente. Por causa das pulgas Xenopsylla cheopis (Rothschild, 1903) (Siphonaptera:
Pulicidae) que carregavam, e que transmitiam a peste bubônica, a população europeia foi devastada
em meados do século XIV. Estima-se que tenham morrido de cerca de 75 milhões de pessoas. Com a
escalada da peste, o gato retomou o seu status de controlador de ratos (FUOCO,2005). Ainda em
termos simbólicos, o gato preto era ligado à esperteza maldosa no mundo celta, aos gênios
prejudiciais no islamismo e à sorte no Japão (O’CONNELL& AIREY,2010).
O gato preto na cultura pop
A admiração que temos para com o gato se reflete nas manifestações culturais, estando ele
representado em personagens de grande popularidade, como Jambo, Chuvisco, Olho Vivo, Tom,
Manda-Chuva e sua turma, Bacamarte, Frajola, Oliver, Gato de Botas, Garfield, Sagwa e sua família,
além dos gatos do desenho Aristogatas(LEIVA,2014). Especificamente os famigerados gatos pretos
são pouco representativos (Figura 2). Curiosamente, entretanto, alguns deles são agraciados pela
sorte nas histórias das quais participam.
Talvez o primeiro personagem gato preto de popularidade tenha sido o Gato Félix (Felix, The
Cat Pat Sullivan Studies, 1919), criado pelos animadores Otto Messmer e Pat Sullivan. De traços
clássicos, Félix é gentil e alegre, possuindo uma característica bolsa mágica, da qual retira objetos
que o salvam das mais estranhas situações. No início de sua trajetória, Félix era considerado
azarado, que em suas mais recentes aparições o jogo parece ter virado, com o personagem
passando a ser favorecido pela sorte. Sua primeira aparição foi em tirinhas de humor dos jornais, no
início do século XX, ainda como um personagem sem nome. Na película Feline Follies”, de 1919, fez
sua estreia em animação. Em 1922, assumiu o protagonismo da série de desenhos animados. Na
década de 1960,em uma nova série de animações, apresentou pela primeira vez a sua sacola mágica
(LEIVA,2014).
Outros personagens são humanos, usando vestimentas representativas de gato. Duas muito
tradicionais e queridas pelos fãs são a Mulher-Gato (Catwoman DC Comics, 1940), e a Gata Negra
(Black Cat Marvel Comics, 1979), respectivamente álter ego das ladras Selina Kyle e Felicia Hardy.
Mulheres atraentes, ambas oscilam entre os papéis de vilã e heroína, sendo interesse romântico dos
maiores super-heróis das duas grandes editoras estadunidenses de HQs, a DC e a Marvel,
respectivamente o Batman e o Homem-Aranha.
Selina Kyle, a Mulher-Gato, foi criada por Bill Finger e Bob Kane, tendo sua primeira aparição
em Batman #001 (1940). É uma comissária de bordo que teve amnésia após bater a cabeça, durante
um acidente de avião, e se transformou em criminosa. A princípio, a Mulher-Gato era caracterizada
trajando um vestido longo na cor roxa, com detalhes em verde. Com o passar do tempo, a roupa foi
sendo modernizada, e a personagem passou a usar um collant negro. Com um fraco por joias, Selina
éum personagem moralmente ambíguo, geralmente sendo retratada como uma anti-heroína
extremamente sensual e sedutora, uma femme fatale. Deve-se destacar que, apesar de Selina Kyle
ser a Mulher-Gato original, o manto foi compartilhado por outras personagens da DC Comics
(BEATTY et al.,2009).
Felícia Hardy, a Gata Negra, foi criada por Keith Pollard e Marv Wolfman, tendo sua primeira
aparição foi em Amazing Spider-Man #194 (1979). Felicia era uma menina de classe alta, com uma
mãe extremamente exigente. Quando estava no colégio, sua mãe lhe contou que seu pai havia
morrido em um acidente de avião. Certo dia ela encontrou um diário de seu pai na biblioteca da casa
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e descobriu que ele era o ladrão conhecido como "O Gato". Com o passar do tempo, Felicia a se
sentir cada vez mais atraída pela sensação de perigo e, mesmo sendo rica, decidiu seguir os passos
do pai, o que a fez passar a ser perseguida pelo Homem-Aranha. Em uma reviravolta na sua
trajetória pessoal, Felicia descobriu que seu pai estava vivo, embora muito doente. Após a real morte
do pai, recebeu uma carta do mesmo, na qual ele pedia que ela não continuasse no caminho do
crime. A Gata Negra decidiu então mudar de lado, abandonando a vida de roubos e passando a atuar
como heroína ou justiceira, trabalhando como detetive particular e se aliando ao Homem-Aranha em
diversas ocasiões. Para essa nova etapa, a Gata Negra desejava ter superpoderes, que facilitariam
sua atuação. Tentando obtê-los, foi enganada pelo Rei do Crime, que lhe deu, curiosamente, o
"poder" de causar azar em quem ela toca e com quem convive, um estigma típico dos gatos pretos.
Isso atrapalhou que ela atuasse junto com o Homem-Aranha no combate ao crime. Para conseguir se
livrar dessa verdadeira maldição, Felicia recorreu à ajuda do Doutor Estranho, o mago supremo da
Marvel (DEFALCO et al.,2009).
Personagem mais recente, dentre os inspirados em gatos pretos, é o Cat Noir (ZagToon, 2015),
parceiro da heroína Ladybug, do desenho animado francês Miraculous As Aventuras de Ladybug.
Nesse desenho, os adolescentes Marinette Dupain-Cheng e Adrien Agreste se transformam,
respectivamente, em Ladybug e Cat Noir para combater o crime em Paris (BINOIST,2015; MARTINS,
2015). Nas histórias, interessantíssimos simbolismos animais, a começar pelos protagonistas: uma
“joaninha” (símbolo de sorte) e um “gato preto” (símbolo de azar). Ter sorte, por sinal, é um dos
principais poderes de Ladybug, mas Cat Noir não tem qualquer ligação com o azar. Muito pelo
contrário, ele acaba sendo beneficiado pela sorte da parceira. O principal antagonista da dupla de
heróis é o vilânico Hawk Moth. Ele lança borboletas escuras que se incorporam a objetos, os quais
influenciam pessoas normais, que ganham poderes e ficam sob o domínio mental de Hawk Moth.
Impreterivelmente, ao final de cada episódio, a borboleta escura é capturada, sua maldade é
dissipada (sob a simbólica transmutação em borboleta branca) e a pessoa fica livre do controle
mental de Hawk Moth.
Figura 2. Personagens da cultura pop inspirados no gato preto. A partir da esquerda: Gato Félix, Mulher-Gato,
Gata Negra e Cat Noir (fonte: Google Imagens). Interessantemente, os personagens humanos com
vestimentas de gato usam objetos com forma e movimentação que lembram a cauda de um gato real, o
chicote (Mulher-Gato e Gata Negra) e o cinto (Cat Noir).
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Considerações Finais
Os animais têm aspectos simbólicos interessantes que, muitas vezes, variam ao longo do tempo
e nas diferentes civilizações. No Egito Antigo, por exemplo, os gatos eram admirados e venerados
como deuses. Na Europa medieval, ao contrário, eram compreendidos como a representação
simbólica do mal e a sua perseguição e morte eram comuns. Contudo, durante as Cruzadas, o gato foi
novamente aceito dentro da sociedade europeia, por conta de seu valor utilitário como caçador de
ratos transmissores de doenças. Na Idade Moderna, os gatos voltaram a ser perseguidos, repetindo a
percepção simbólica negativa que lhes era atribuída na Idade Média. É interessante se perceber que
esse simbolismo oscilante - ora positivo, ora negativo - se repetiu. Excluindo as justificativas místicas
e/ou fantasiosas, alguns comportamentos do Felis silvestris catus parecem ter despertado o
amor/ódio dos seres humanos, dentro de diferentes contextos culturais. Alguns dos comportamentos
aprovados seriam a autolimpeza, representativa de higiene, e a independência, ao passo que o
espírito caçador dos bichanos é normalmente reprovado popularmente (PAIXÃO & MACHADO,2015).
Em países com forte influência do misticismo, como o Brasil, as representações simbólicas
tendem a ser mais efetivas. Somos um povo miscigenado, formado pelo acúmulo de lendas e saberes
de índios autóctones, portugueses, africanos, imigrantes eurasianos. A religiosidade e a crença no
sobrenatural estão em nosso DNA. Nesse cenário, lendas, contos e superstições encontram um
terreno fértil para a sua perpetuação. Ainda hoje em dia, e mesmo em núcleos urbanos, onde as
lendas parecem “coisas da vovó”, pessoas que não passam por baixo da escada ou não deixam o
chinelo virado (para a mãe não “morrer”).E, claro, acreditam que se encontrarem um gato preto
terão azar. Com isso, em períodos em que o misticismo fica em alta, como o Dia das Bruxas, o Dia de
Finados e as sextas-feiras 13,quem se sinta estimulado a exercitar sua maldade pessoal, judiando
dos felinos azarados que lhe cruzam o caminho. Isso motiva a existência de campanhas que visam
combater essa atrocidade (Figura 3). A existência de personagens fictícios voltados ao público
infanto-juvenil pode ser um caminho interessante para se desmistificar crendices e superstições,
especialmente aquelas que causam danos aos animais. Ainda especificamente no caso dos gatos
pretos, personagens queridos pelo público, populares e que não deem “azar” podem ser
instrumentos úteis para se banir superstições diretamente para o lugar ao qual elas pertencem: o
mundo das lendas e do imaginário.
Figura 3. Ilustração de campanha de Facebook (fonte: Google Imagens).
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Referências
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Pôster apresentado no I Colóquio de Zoologia Cultural.
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Butterflies (Lepidoptera: Papilionoidea) are considered one of the most charismatic, best-known and most widely admired groups of insects, and they are used in different ways in popular culture, such as in artistic iconography, myths and rituals, among other artistic and cultural uses. Here we identify the butterfly species that illustrate the tracks of the album "Goela Abaixo" by Liniker e os Caramelows, showing the presence and importance of lepidopterans in popular culture. Of the thirteen tracks that make up the album "Goela Abaixo", eleven feature butterflies in some of their different life stages (larva, pupa and/or adult). Twenty images of butterflies are used in the covers of the album's tracks, with seven identified to the specific level and four to the generic level. Most of the butterflies belong to the Nymphalidae, with six species and one genus illustrated, followed by the Papilionidae with a single genus. The relevance of the present study is directly associated with the investigation of the use of representations of lepidopterans in the most diverse cultural contexts, and may be a source of future studies and discussions related to the topic.
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Resumo - Ao logo da história, tem-se creditado às bruxas uma sabedoria secreta, frequentemente ridicularizada e temida. De certa forma, isso causou o extermínio das bruxas ao longo do tempo. Ainda assim, a figura da bruxa é recorrente na cultura popular e está presente em diferentes mídias. O nome comum associado à bruxa traz aos animais, na maioria das vezes, uma conotação negativa. Isso é particularmente efetivo em relação aos insetos, especialmente as mariposas. Por outro lado, a maioria das plantas associadas às bruxas, com exceção das orquídeas, têm propriedades medicinais e um histórico de utilização popular para diversos fins. Tal fato aproxima essas plantas da persona das bruxas enquanto mantenedoras da sabedoria popular. Abstract "The witch is loose": animals and plants with common name alluding to the term "witch" and derivatives. At the turn of history, witches have been credited with secret wisdom, often ridiculed and feared. In a way, this has caused witches to be exterminated over time. Still, the figure of the witch is recurrent in popular culture and is present in different types of media. The common name associated with the witch brings the animals, most of the time, a negative connotation. This is particularly effective for insects, especially moths. On the other hand, most plants associated with witches, with the exception of orchids, have medicinal properties and a history of popular use for various purposes. Such fact brings these plants closer to the witches' persona as maintainers of popular wisdom.
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Os insetos chamados, vulgarmente, de joaninhas são pertencentes à família Coccinellidae, organismos admirados por pesquisadores, coletores de insetos e pessoas em geral, por apresentarem diferentes padrões de colorações, e por serem organismos símbolos de bons sentimentos como: sorte, serenidade e felicidade. No entanto, a atuação no controle biológico de pragas como predadores, é a principal característica que faz com que estes insetos se destaquem. São conhecidas aproximadamente 5000 espécies de coccinelídeos em todo mundo, apresentando distribuição cosmopolita. A família Coccinellidae é composta por insetos predadores de pulgões, cochonilhas, moscabranca, ácaros, que são considerados pragas primárias e secundárias em ambientes agrícolas. Em épocas de diminuição ou falta das principais presas, os coccinelídeos podem se alimentar de néctar, pólen, “honeydew”, ou a combinação de vários alimentos como estes, que podem propiciar a permanência destes insetos nestes ambientes, mesmo em épocas de entressafra. Portanto, os coccinelídeos são insetos importantíssimos no agroecossistema agrícola, sendo que, condições favoráveis como a manutenção da diversidade de plantas e a liberação de novos insetos provindos de sistemas de criações massais podem aumentar a eficiência destes importantes predadores no agroecossistema.
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Significance We present highlights of the first complete domestic cat reference genome, to our knowledge. We provide evolutionary assessments of the feline protein-coding genome, population genetic discoveries surrounding domestication, and a resource of domestic cat genetic variants. These analyses span broadly, from carnivore adaptations for hunting behavior to comparative odorant and chemical detection abilities between cats and dogs. We describe how segregating genetic variation in pigmentation phenotypes has reached fixation within a single breed, and also highlight the genomic differences between domestic cats and wildcats. Specifically, the signatures of selection in the domestic cat genome are linked to genes associated with gene knockout models affecting memory, fear-conditioning behavior, and stimulus-reward learning, and potentially point to the processes by which cats became domesticated.
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It is generally accepted that cats were first domesticated in ancient Egypt ([ 1 ][1]–[ 3 ][2]), at the latest by the 20th to 19th century B.C. (Middle Kingdom, 12th dynasty) ([ 4 ][3]). However, several finds from Cyprus suggest that the origins of cat taming were earlier. A cat mandible at the
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Ao lado do cão o gato doméstico desempenha atualmente um papel significativo na categoria de animal de companhia, no Brasil e no mundo. Todavia, a relação que a sociedade mantém com o gato é bastante ambígua, pois ao mesmo tempo em que cresce o número de gatos como animais de estimação, existem muitos registros de maus-tratos, abandono, reduzida taxa de adoção e alto índice de mortalidade. Sabe-se que o comportamento do gato é motivo de muitas dúvidas e julgamentos equivocados. Portanto, o objetivo deste trabalho foi apresentar como são as situações de maus-tratos, abandono e não adoção que ocorrem atualmente com o gato doméstico buscando uma conexão entre estes atos e os comportamentos por ele exibidos. Ao realizar uma revisão de trabalhos que abordam este tema, foi possível inferir que cada ação humana eticamente reprovável direcionada ao gato pode ser influenciada, entre outros fatores, pela compreensão equivocada ou não aceitação do comportamento deste animal. O modo como esta conexão pode acontecer é discutido neste trabalho.
A importância do planejamento sucessório
  • R Feltrin
FELTRIN, R. 2016. A importância do planejamento sucessório. Revista O Empresário 8(47): 59.
The Marvel encyclopedia
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Felinos – O mundo fascinante dos animais
  • De Becker
DE BECKER, G. 2008. Felinos – O mundo fascinante dos animais. Girassol Brasil Edições, Barueri.
The DC Comics Encyclopedia -The definitive guide to the characters of the DC Universe -Updated and expanded
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BEATTY, S.; GREENBERGER, R.; JIMINEZ, P.; WALLACE, D. 2009. The DC Comics Encyclopedia -The definitive guide to the characters of the DC Universe -Updated and expanded. DK, London.
Almanaque ilustrado – Símbolos. Livros Escala, São Paulo
  • M Airey
O'CONNELL, M.; AIREY, R. 2010. Almanaque ilustrado – Símbolos. Livros Escala, São Paulo. 08/09/2016 – I CZC -RJ Da-Silva, 2016
Eu amo gatos – Com imagens de Catherine Ledner
  • A Pinto
PINTO, A. 2011. Eu amo gatos – Com imagens de Catherine Ledner, Rachel McKenna & Glandee Vasan. Alles Trade, São Paulo.