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Biossemiótica como nova fronteira e sua aplicação na Comunicação Ambiental
Intexto, Porto Alegre, UFRGS, n. 37, p. 132-151, set/dez. 2016.
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Biossemiótica como nova
fronteira e sua aplicação na
Comunicação Ambiental
Francisco José Paoliello Pimenta
Doutor; Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG, Brasil
paoliello@acessa.com
Resumo
O objetivo desse artigo é apresentar a biossemiótica derivada do
Pragmaticismo de Peirce como um desenvolvimento teórico
capaz de ampliar a atual concepção do campo da Comunicação
em seus propósitos práticos. Por meio da descrição de hipótese
relativa à esfera da Comunicação Ambiental, aplicada em
seguida a dois testes empíricos, buscamos descrever de que
forma essas aproximações podem ser realizadas. Ao final, a
partir dos resultados obtidos, defendemos que a biossemiótica
poderá constituir uma extensão produtiva do campo na medida
em que conseguir superar resistências de concepções
autorrestritivas dos processos comunicacionais.
Palavras-chave
Comunicação. Epistemologia. Biossemiótica.
1 Introdução
Nos últimos anos, o campo da Comunicação tem se ampliado em direção às áreas da
biologia e das demais ciências ligadas à esfera ambiental por meio da semiótica, em especial
aquela fundada pelo Pragmaticismo do lógico norte-americano Charles S. Peirce (KULL et al.,
2009, p. 172). Esses processos são vistos, então, operando a partir de lógicas infinitamente
mais amplas e complexas do que as humanas, e derivadas, por sua vez, de regularidades
universais, que constituem uma ‘mente’ ou ‘razão’, ou seja, de uma ‘razoabilidade’ da
natureza. Tal compreensão decorre, ainda, do conceito peirceano de sinequismo, que
defende a continuidade entre os fenômenos físicos e psíquicos, e da matéria em direção à
mente (PIMENTA, 2016, p. 102).
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De fato, a multiplicidade da vida nos indica a existência de inúmeras outras formas
de apreensão dessa razoabilidade lógica da natureza, envolvendo processos perceptivos,
comportamentos e pensamentos, sendo, portanto, a participação humana nesses fluxos
semióticos limitada a uma determinada esfera. Naturalmente, conforme já defendia Peirce
(1931-58, parag. 4.551) em ambientes biossemióticos complexos existem processos com
pouca vivacidade, se cristalizando em hábitos mecânicos e de rotina. Assim, a participação
humana é muito mais significativa do que a de uma rocha, por exemplo, nas trocas
ecológicas que ocorrem num determinado meio ambiente, embora outros componentes
minerais, como a água, exerçam um papel de alta relevância.
Nesse sentido, da mesma forma que ocorre uma constante mudança de hábitos na
espécie humana visando melhor comunicabilidade, como regra da própria vida, outros
elementos inseridos nessa regularidade também devem, dentro de suas condições, buscar
efetividade comunicacional com base na mesma lógica universal da ‘mente’, ‘razão’, ou
‘razoabilidade’ da natureza.
A partir dessa perspectiva biossemiótica e com base em trabalhos anteriores
(PIMENTA, 2016, p. 143-144), propomos aqui a hipótese de que a efetividade
comunicacional em ambientes biossemióticos complexos pode estar associada à capacidade
de seus componentes articularem, ao máximo, seus processos sígnicos aos fundamentos
estéticos, fins éticos e meios lógicos da própria natureza.
Uma esfera adequada para testarmos empiricamente tal hipótese é a das áreas de
risco dependentes de programas de desenvolvimento sustentável. É possível conceber que a
efetividade dos procedimentos comunicacionais localizados nesses ambientes
biossemióticos complexos se dá quando os agentes em interação: (1) apresentam plenas
possibilidades de perceber as qualidades sígnicas, como princípios estéticos, daquele espaço
compartilhado; (2) têm a capacidade de exercer, nas trocas semióticas, suas características
existenciais de forma ampla, correspondentes às suas necessidades e às referências e fins
desejáveis para a comunicação naquele ambiente; (3) demonstram o domínio da articulação
de suas trocas sígnicas com os processos da lógica natural das mudanças que ocorrem
naquele ambiente.
O lançamento dessas sub-hipóteses segue a lógica derivada da Máxima Pragmática
de deduzir possíveis consequências práticas a partir de uma ideia geral hipotética, de forma
a testar sua taxa de ocorrência por meio de experimentos empíricos. A seguir,
apresentaremos algumas justificativas que sustentam a proposição dessas sub-hipóteses.
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2 A percepção compartilhada do ambiente biossemiótico
A partir da lógica do Pragmaticismo, a efetividade de processos comunicacionais
visando a sustentabilidade de um ambiente biossemiótico complexo compreende, em
primeiro lugar, a articulação das trocas sígnicas de seus componentes com os princípios
qualitativos, sensíveis, estéticos, por eles compartilhados. Estes são percebidos como
qualidades universalmente desejáveis, pela adoção espontânea de seu princípio geral pela
mente coletiva como o mais adequado, sem nenhuma razão especial além da noção
instintiva dessa adequação. Diz Peirce (1931-58, parag. 2.199): “A questão da estética é,
usando o termo Kalós (do grego, “admirável”): Qual é aquela qualidade que, na sua presença
imediata, é Kalós?”.
Nesse ponto, ao enfocarmos signos em relação às suas próprias características,
podemos vir a verificar que uma classe de agentes apenas perceba tal compartilhamento,
porém não reconheça nele nenhum padrão formal, limitando sua compreensão do ambiente.
Isso ocorre, por exemplo, com nossa incapacidade de perceber signos que orientam aves
migratórias, quanto mais operar segundo esse padrão.
Em componentes inorgânicos, minerais e similares, a participação num universo
sígnico é mais difícil de conceber, porém é possível que se aceite, no mínimo, sua inclusão
nessa lógica natural de interações qualitativamente compartilhadas. Na proposição
sinequista de Peirce, todos os fenômenos encontram-se sob a lei da continuidade, embora os
processos variem em vivacidade e efetividade comunicacional.
Sobre a universalidade desse compartilhamento, afirma Sebeok (1999a):
Os estoicos eram bem conscientes de que “animais... comunicam-se uns
com os outros por meio de signos” (Sebeok, 1977, p. 182
1
). No decorrer do
século XIII, Tomás de Aquino concluiu que animais fazem uso de signos,
sejam os naturais ou aqueles baseados numa segunda natureza, ou
costumes. Virtualmente todos os principais pensadores sobre temas
semióticos desde então, de Peirce a Morris e Thom, e, sobretudo, Jakob
Von Uexkull, reafirmaram e generalizaram esse fato para abarcar a
totalidade da vida. Somente uma teimosa, porém declinante minoria ainda
acredita que a província da semiótica é coextensiva com o universo
semântico conhecido como cultura humana; sem que isso, é claro, negue o
dictum de Eco (1976, p. 22
2
) de que “o todo da cultura deve ser estudado
como um fenômeno comunicativo baseado em sistemas de significação”.
(SEBEOK, 1999a, p. 93).
1
[SEBEOK, T. A. How animals communicate. Bloomington: Indiana University, 1977.]
2
ECO, Umberto. A theory of Semiotics. Bloomington: Indiana University, 1976.
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Assim, é importante verificar o grau de percepção dos padrões de qualidades de um
ambiente por seus componentes, incluindo os humanos, e prováveis limitações. De acordo
com nossa sub-hipótese, caso essas restrições sejam significativas em projetos de
preservação, a efetividade comunicacional requerida já estaria diminuída, afetando as
demais fases dos processos sígnicos em questão.
3 A capacidade de exercer suas características no ambiente
A efetividade de processos comunicacionais visando a sustentabilidade pode ser
avaliada também pela capacidade de seus componentes exercerem, nas trocas sígnicas, suas
características existenciais em função de suas necessidades. Tal capacidade deve estar
articulada à adoção deliberada dos fins ‘éticos’ mais gerais daquele ambiente, lhes dirigindo
sua força de vontade (PEIRCE, 1998, parag. 2:200). Segundo o Pragmaticismo, ser ético é
buscar experiências comunicacionais adequadas aos objetivos gerais daquele ambiente ao
estabelecer relações entre signos e seus objetos. No caso de um ecossistema, o objetivo mais
razoável é a própria preservação da vida.
Como operam com sistemas perceptivos diferentes, desde a etapa de possível
apreensão sígnica, os processos representativos dos variados componentes ocorrem de
forma diversa. Tal ideia é coerente com o conceito de Umwelt, estabelecido por Uexküll nos
primórdios da biossemiótica, em referência aos seres vivos. Assim, dadas as especificidades
dos organismos em função de suas capacidades, necessidades e perspectivas frente ao meio
ambiente, cada um desenvolve processos perceptivos próprios, que os conduzem a
interpretações particulares (UEXKÜLL, 1982, p. 30).
A partir das possibilidades do meio ambiente comum, ocorrem, então, os processos
comunicacionais dos componentes bióticos e abióticos em vista de suas necessidades
ecológicas. De acordo com o subcampo da Físicosemiótica (NOTH; KULL, 2001, p. 10)
mesmo no caso dos recursos minerais, dos minerais e similares, “percepções” de alterações
de qualidades conduzem a reações comunicativas, sejam físicas, químicas, ou de outra
ordem, como efeitos de “interpretações” relativas aos signos “percebidos”. Entretanto, por
operarem sob uma lógica cristalizada em relação à razoabilidade imaterial da Terceiridade,
do pensamento e das leis do universo, a participação nos processos comunicacionais dos
ecossistemas é precária, afetando suas necessidades ecológicas.
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Além disso, ao que tudo indica, apenas um dos cinco reinos dos seres vivos do
planeta, o dos animais, é capaz de operar relações mais complexas, simbólicas, com os
objetos. Os demais reinos bióticos, das bactérias, protistas, fungos e plantas (TREWAVAS,
2003, p. 1), a exemplo dos recursos minerais e similares, atingem o simbólico somente por
meio da inteligência “embarcada” decorrente de sua natural inserção na lógica geral da
razoabilidade. No caso da espécie humana, a capacidade simbólica inclui responsabilidades
frente aos objetivos mais gerais de conservação da vida desejáveis para o meio ambiente,
que, no entanto, muitas vezes não são cumpridas.
4 O domínio das trocas sígnicas na lógica das mudanças
Finalmente, um terceiro aspecto a ser considerado na busca da efetividade de
processos comunicacionais visando sustentabilidade num ambiente biossemiótico complexo
consiste no grau de domínio, por parte de seus componentes, da articulação de seus
procedimentos sígnicos com a lógica natural das mudanças que ocorrem naquele ambiente.
De acordo com o Pragmaticismo, esse patamar de articulação com a mudança decorre dos
dois primeiros aspectos já tratados acima, ou seja, do grau de percepção compartilhada e da
capacidade dos componentes do ecossistema exercerem suas características frente às suas
necessidades ecológicas.
No caso da esfera humana, o impacto transformador que os signos híbridos das
tecnologias digitais podem causar em hábitos de sentimento, ação e pensamento tem nos
colocado frente à possibilidade de uma compreensão crescente dos complexos padrões da
natureza. Entretanto, mesmo no caso das demais esferas não humanas também ocorre, em
algum grau, a articulação de seus procedimentos sígnicos, mesmo que cristalizados, com a
lógica natural dos processos de mudança. Nas palavras de Peirce (1931-58):
Parece uma coisa estranha, quando alguém pensa sobre isso, que um signo
deve deixar seu intérprete fornecer uma parte de seu significado; mas a
explicação do fenômeno está no fato de que o universo inteiro – e não
apenas o universo de existentes, mas todo aquele universo mais amplo,
abrangendo o universo de existentes como uma parte, o universo que
todos nós estamos acostumados a chamar de ‘a verdade’ - que todo este
universo é permeado de signos, se não for composto exclusivamente por
signos. (PEIRCE, 1931-58, parag. 5.448, nota 1).
O grau de vivacidade dos processos às vezes se reduz até o extremo dos elementos
rochosos, cujos propósitos são expressos por simples presenças físicas no ambiente, e, no
máximo, pelos intercâmbios de caráter material delas decorrentes. A mínima compreensão
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da mudança, contudo, já envolve fenômenos da categoria peirceana da Terceiridade e
conduz à generalidade, continuidade, difusão, crescimento e inteligência, no sentido da
razoabilidade, do ‘pensamento’ do universo. Ao tratar dessa postura realista adotada por
Peirce, Ibri (2014) destaca seu caráter pervasivo:
A realidade vista sob a lente dessas doutrinas torna possível a justificação
de procedimentos naturais que têm um propósito, e são, portanto,
necessariamente interpretativos, mostrando inteligência na criação de
mediações relativas ao ambiente, e envolvendo processos de cognição que
procuram representar a conduta da alteridade a fim de adequar melhor a
sua própria conduta. Se considerarmos como inteligente cada
procedimento que, de alguma forma, envolve propósito e conduta
deliberada, veríamos que a Natureza está cheia deles, e os seres que a
coabitam compartilham um propósito comum e geral, ou seja, a
continuidade da vida. (IBRI, 2014, p. 48).
Já o domínio das articulações mais complexas de procedimentos sígnicos com os
processos de mudança implica a formação de novos hábitos mentais, envolvendo signos
simbólicos, e conduzindo a interpretantes lógicos. Além de afirmar que ideias gerais, ou
símbolos, são realidades vivas (PEIRCE, 1931-58, parag. 6.152), Peirce defende que eles se
desenvolvem e se auto-replicam, da mesma forma que os seres bióticos (PEIRCE, 1931-58,
parag. 2.302). Habitamos o universo simbólico, estamos nele, isto é, “[...] nós estamos no
Pensamento e não ele em nós.” (PEIRCE, 1931-58, parag. 8.256-7).
A inserção dos mais diversos processos comunicacionais nessa lógica da
razoabilidade consiste, então, no “summum bonum” da biossemiótica (DEELY, 2001, p. 43).
Isso significa a adoção, por parte de seus componentes, de atitudes éticas visando a
sustentabilidade do ecossistema, apoiadas no compartilhamento sensível e estético de suas
qualidades, com o máximo de domínio da articulação lógica de seus procedimentos sígnicos
com os processos de mudança.
Contudo, a realidade que observamos, em especial nas áreas de risco ambiental, é a
soma de diversas limitações. Desde a precária expressão comunicacional dos fatores
abióticos e dos vegetais, à perda dos instintos de compartilhamento com o meio ambiente, à
falta da ética visando a sustentabilidade, e a uma lógica inconsistente por parte dos seres
humanos, a consequência é a crescente pauperização dos ecossistemas.
A seguir, apresentaremos resultados de pesquisas na esfera da Comunicação
Ambiental para o teste dessas hipóteses e de sua própria base biossemiótica, realizadas com
a participação do bolsista de Iniciação Científica Lucas Delecrode Alves. Dado o
pampsiquismo do qual Peirce (1998, parag. 1:349) parte, essas hipóteses estariam aptas a
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servir para a análise de trocas sígnicas entre quaisquer componentes de um meio ambiente,
inclusive não humanos, até complexos processos entre humanos, abrangendo intercâmbios
comunicacionais metalinguísticos, se referindo a como essas trocas se dão. Esse último é o
caso das pesquisas apresentadas a seguir, ou seja, analisamos o grau de eficiência
comunicacional de sites ao representarem determinado meio ambiente.
5 O site do Inea e seu impacto na preservação ambiental
O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) é um órgão criado em 2007 para executar as
políticas do meio ambiente, de recursos hídricos e florestais do estado do Rio de Janeiro. O
Inea monitora treze parques, uma estação e quatro reservas ambientais e provê
informações em seu portal na Internet, principal canal de comunicação com a população e
instrumento importante nas estratégias de conservação.
Para avaliarmos a efetividade do portal, analisamos a relação entre as imagens
apresentadas e possíveis interpretações de usuários, com base nas sub-hipóteses descritas
acima. Assim, nessas imagens deveriam aparecer signos sobre: (1) o compartilhamento do
ambiente pelos diferentes componentes; (2) ações necessárias aos fins requeridos por eles;
(3) trocas informacionais relativas às dinâmicas de mudança daquele ambiente.
A amostra foi constituída por nove imagens referentes aos parques da Costa do Sol,
da Lagoa do Açu e da Serra da Tiririca, tomados ao acaso, sem observação prévia. O primeiro
extrato são as fotos principais da página de cada um deles, com uma visão panorâmica
(Figuras 1, 2 e 3). Um segundo tipo é o selo de identificação na página principal do portal,
conduzindo à página daquele parque (Figura 4). Em cada uma delas existe, ainda, um link
para os respectivos mapas (Figuras 5, 6 e 7).
Figura 1 - Foto principal da página do Parque Estadual Costa do Sol.
Fonte: Instituto
Estadual do
Ambiente (2015).
Figura 2 - Foto principal da página do Parque Estadual da Lagoa do Açú.
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Fonte: Instituto Estadual do Ambiente (2015).
Figura 3 - Foto principal da página do Parque Estadual da Serra da Tiririca.
Fonte: Instituto Estadual do Ambiente (2015).
Figura 4 - Selos de identificação dos Parques Costa do Sol, Lagoa do Açu e Serra da Tiririca.
Fonte: Instituto Estadual do Ambiente (2015).
Figura 5 - Mapa de localização do Parque Estadual da Costa do Sol.
Fonte: Instituto Estadual do Ambiente (2015).
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Figura 6 - Mapa de localização do Parque Estadual da Lagoa do Açu.
Fonte: Instituto Estadual do Ambiente (2015).
Figura 7 - Mapa de localização do Parque Estadual da Serra da Tiririca.
Fonte: Instituto Estadual do Ambiente (2015).
5.1 O teste da primeira sub-hipótese: o site do Inea e signos de
compartilhamento
Em primeiro lugar, analisamos se as imagens do site têm signos e, portanto,
capacidade de desencadearem processos perceptivos sobre o compartilhamento do
ambiente pelos seus diversos componentes. Foi observado, então, que o site não se preocupa
com tais qualisignos, ou eles não são apresentados realisticamente. Para Peirce (1931-58,
parag. 2.244), “[...] um qualisigno é uma qualidade que é um signo [...]” e, no caso de
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imagens, são representadas por meio das cores, formas, texturas, volumes, etc., que as
constituem como signos, em si mesmos.
Fotos, selos e mapas sugerem, apenas, um excelente compartilhamento entre os
componentes dos ambientes, sem dedicar a isso maior atenção. As figuras 1, 2 e 3 mostram
imagens de verdadeiros paraísos para todos os fatores bióticos da vida aeróbica e
anaeróbica, constituídos pela flora, fauna e os microorganismos, e para os fatores abióticos,
como rochas e recursos minerais, incluindo as águas. Tomadas à distância, sugerem locais
em perfeita harmonia, incluindo o parque da Costa do Sol, na Região dos Lagos, onde estão
cidades turísticas como Cabo Frio, Búzios, Arraial do Cabo e Araruama, que vivem graves
problemas ambientais; e o da Serra da Tiririca, espremido entre bairros densamente
populados de Niterói.
Embora as fotos permitam que se percebam, ao fundo, ocupações antrópicas que
podem estar afetando de maneira não sustentável outras formas de vida que compartilham
aqueles locais, ao enfatizarem qualidades como o azul intenso do mar e muitas áreas verdes,
passam a ideia de ambientes perfeitamente preservados. Da mesma forma, os selos da
Figura 4 trazem apenas qualisignos de grande harmonia entre a ocupação humana, a flora, a
fauna e os recursos minerais.
Portanto, quando o usuário se depara com essas imagens, e é conduzido ao que
Peirce intitulou de sinsigno (PEIRCE, 1931-58, parag. 2.245), dando início ao processo
comunicacional propriamente dito, ele somente percebe ambientes harmônicos, pois sequer
tem à disposição signos de qualquer problema. Nos parques à beira-mar, todo o ecossistema
marinho é incluído nessa representação paradisíaca.
Ao analisarmos um terceiro aspecto, dos legisignos (PEIRCE, 1931-58, parag. 2.246)
de compartilhamento ambiental propiciados pelas imagens, os padrões que se apresentam
são de perfeita integração ecológica. Fotos e selos não fornecem signos típicos de danos
causado por seres humanos, como desmatamentos, poluições e erosões. Apenas os mapas
apresentam com veracidade regularidades de seus objetos dinâmicos, porém sem relações
com a preservação, que deveria ser o objetivo principal do Inea, ou com compartilhamentos
entre componentes daqueles ambientes.
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5.2. Teste da segunda sub-hipótese: o site do Inea e signos de ações
visando fins
Em seguida, analisamos se o site traz imagens das ações sígnicas relativas aos fins
requeridos pelas diferentes espécies. Num ambiente compartilhado, as espécies devem
exercer suas formas peculiares de expressão por meio de ações comunicativas de acordo
com os objetivos gerais de preservação da vida. Como o foco é a relação entre o site e
possíveis usuários, perguntamos: as espécies são vistas exercendo ações comunicativas
necessárias às suas necessidades, inseridas no meio ambiente geral?
As primeiras relações a se considerar são as meras sugestões icônicas (PEIRCE,
1931-58, parag. 2.276-82) ao usuário do site. Como fotos e selos somente apresentam
parques em excelentes condições, o que se sugere é a inexistência de problemas para que os
componentes exerçam ações sígnicas visando seus objetivos ecológicos. Nos selos, as figuras
do pássaro, da tartaruga e da rã, os cactus, os manguezais e as matas, e os ambientes, tais
como aparecem nas fotos, dão a impressão de que os objetivos comunicacionais dos
animais, da vegetação e das águas estão preservados, apesar da grande interferência
humana.
Ao considerarmos as relações indiciais (PEIRCE, 1931-58, parag. 2.283-91), as fotos
poderiam indicar a real situação sobre as ações visando fins ecológicos, por constituírem
signos com fortes relações existenciais com seus objetos, o que não acontece com os selos,
que podem exibir desenhos totalmente arbitrários. Contudo, por suas características de
sobrevoo, as fotos mostram apenas um ambiente com ações aparentemente harmonizadas
com os objetivos gerais. Somente os mapas permitem uma relação existencial mais autêntica
com o objeto, ao indicarem cidades populosas e estradas com volume de tráfego e de
turistas, porém não os relacionam com problemas.
As relações entre os signos e seus objetos podem ocorrer, ainda, por meio de algum
padrão convencional, simbólico (PEIRCE, 1931-58, parag. 2.292-302). Nesse caso, o usuário
parte de legisignos para estabelecer uma relação convencional com o objeto. Os selos se
enquadrariam nessa relação, já que se fundamentam em símbolos convencionados de
vegetação, pássaros, mar, montanhas, etc., além, é claro, de palavras. No caso dos mapas, o
usuário também reconhece símbolos de montanha, lagoa ou cidade. As fotos, da mesma
forma, trazem imagens culturalmente codificadas.
Entretanto, como estamos diante somente de convenções imagéticas de ambientes
aparentemente preservados, infere-se que devam ser bastante adequados em vista das
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necessidades de seus componentes. Como as imagens propiciam padrões formais de grande
harmonia ecológica, o usuário só poderá chegar a símbolos desse mesmo tipo, seja pelos
selos enganadores, imagens de sobrevoo, ou mapas superficiais.
5.3. Teste da terceira sub-hipótese: o site do Inea e signos da mudança
Finalmente, analisamos possíveis interpretações (PEIRCE, 1931-58, parag. 1.339) a
que os usuários do site do Inea (2015) podem chegar, observando se as imagens do site têm
signos sobre trocas biossemióticas de acordo com as dinâmicas de mudança daquele
ambiente. Num processo comunicacional pouco desenvolvido, o usuário não chegará a
nenhuma compreensão do permanente processo de mudança existente nesses ambientes e
ficará, então, somente na latência do interpretante imediato. Este, possivelmente, é o caso da
maioria dos usuários.
Alguns podem chegar a interpretantes dinâmicos dessas mudanças, por meio de
significações que as imagens efetivamente produzam neles, sejam emocionais, energéticas
ou lógicas. Acreditamos, contudo, que a mudança mais significativa a ser apreendida a partir
das imagens dos parques no portal do Inea (2015) é de que houve ocupação humana
naqueles ambientes. Entretanto, como as fotos são panorâmicas, não é possível saber, a
partir delas, se as mudanças são ou não harmônicas com aquele meio ambiente. Os selos
passam somente a ideia agradável de paraísos intocados.
A constatação é de que os produtores do site pretendem, assim, gerar somente
interpretantes emocionais de tranquilidade quanto ao estado de preservação dos parques. A
ausência de signos de mudança ambiental torna pouco provável que os usuários sejam
conduzidos a ações concretas, ou interpretantes energéticos, visando a preservação desses
ambientes, que, acreditamos, deveria ser um dos objetivos do Inea. Se tanto, o site cumpre,
mais do que de qualquer outro, o papel de promotor de ações de caráter meramente
turístico.
Também é improvável a compreensão lógica e, portanto, crítica, dos processos de
mudança articulada às políticas preservacionistas. Mais distante, ainda, fica a possibilidade
dos usuários serem conduzidos a um interpretante lógico último, que consistiria numa
mudança de hábitos, afetando modos de pensar, ações e sentimentos acerca da atual
dinâmica de mudanças nesses ambientes.
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5.4. Conclusões relativas ao site do Inea: uma baixa efetividade
comunicacional
Verificamos, assim, que o principal efeito sígnico a ser produzido nos usuários do
site do Inea (2015) estará na esfera dos interpretantes imediatos e emocionais. Não
observamos representações com conexões existenciais mais consistentes com a realidade
ambiental dos parques. Na falta dessas conexões indiciais, as convenções simbólicas
transmitem uma ideia falsa de que naquele ambiente não há qualquer interferência humana
negativa, contrariando os objetivos preservacionistas do Inea.
6 O site da Prefeitura de Búzios e sua efetividade na preservação
ambiental
Armação dos Búzios é uma das cidades relacionadas ao Parque Estadual Costa do
Sol, importante espaço de conservação ambiental do estado do Rio de Janeiro. O parque
possui área de 9.841 hectares e cobre, também, partes de outros municípios da região dos
Lagos. Num projeto desse tipo, é de especial relevância que os processos comunicacionais
disponíveis propiciem à população certo grau de consciência sobre as questões que
envolvem a proximidade com um parque estadual, tais como a preservação dos elementos
do ecossistema e o uso sustentável dos recursos naturais.
O governo local possui, assim, um papel central nessa função. Dessa forma, a
efetividade comunicacional do projeto está relacionada à veiculação, pelo site da Prefeitura
de Búzios (2015), de imagens e textos que despertem pensamentos voltados à preservação.
Portanto, para avaliar o grau de efetividade comunicacional nesse propósito, analisamos
três notícias na página da Secretaria de Meio Ambiente e Pesca, tomadas ao acaso. Cada uma
delas era composta por um título, uma foto principal, um texto e imagens complementares.
As imagens disponíveis ocupavam o lugar de destaque de forma rotativa.
Figura 8 - Foto principal da notícia “Feira orgânica de Búzios terá uma programação especial neste
sábado”.
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Fonte: Ascom Búzios (2015a).
Figura 9 - Foto principal da notícia “Prefeitura de Búzios recolhe cerca de oito mil pneus das ruas”.
Fonte: Ascom Búzios (2015b).
Figura 10 - Foto principal da notícia “Projeto Coleta de Óleo é implantando em escolas de Búzios”.
Fonte: Ascom Búzios (2015c).
Foram testadas, então, as três sub-hipóteses propostas acima de forma a analisar
signos sobre: (1) o compartilhamento do ambiente por seus diversos elementos; (2) as
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ações necessárias em vista dos fins de preservação dos elementos do ecossistema; (3) trocas
informacionais relativas às dinâmicas de mudanças daquele ambiente.
6.1. O teste da primeira sub-hipótese: o site e signos de
compartilhamento
Em um primeiro momento, analisamos se imagens e textos das notícias trazem
signos sobre o compartilhamento do ambiente por seus elementos. Observamos, então, que
os usuários não são sequer conduzidos a uma percepção inicial, qualitativa, desse
compartilhamento. As imagens se apresentam muito mais como propaganda política,
destacando membros do governo relacionados a um determinado projeto (Figura 10),
ignorando a complexidade do meio ambiente e seus componentes não humanos.
Embora a imagem da notícia sobre o recolhimento de pneus possua qualisignos que
possam levar a uma percepção de ambiente degradado e poluído, pelo tom escuro dos pneus
recolhidos em contraste com o fundo verde da mata, e, eventualmente, conduzam à ideia de
que o meio ambiente e outras espécies estejam sofrendo consequências de ações humanas
negativas, nas imagens das outras notícias sequer sugestões vagas desse tipo são
observadas. Dessa forma, o usuário deixa de ter signos disponíveis que despertem
pensamentos relativos à preservação ambiental.
Nos textos, apenas a segunda notícia, quando se refere à dengue, associada à imagem
dos pneus recolhidos, pode, eventualmente, levar o usuário à ideia de degradação do meio
ambiente. A matéria sobre a coleta de óleo faz, apenas, uma referência mínima a “[...]
prejuízos ao meio ambiente [...]”. Na terceira notícia, embora signos sobre outras espécies
apareçam na frase “[...] os resíduos despejados nos ralos das pias podem atrair alguns
animais peçonhentos e corroer a rede de esgoto [...]”, a preocupação não é de preservar as
espécies e sim de afastá-las da convivência humana.
Já ao enfocarmos padrões sígnicos que remetam ao compartilhamento ambiental,
percebemos que os legisignos passam ideias antropocêntricas. Nas imagens, o destaque é
para seres humanos. Nos textos, a grande preocupação é com a qualidade de vida dos
habitantes da cidade, e muito pouco com a preservação do ecossistema em geral.
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Intexto, Porto Alegre, UFRGS, n. 37, p. 132-151, set/dez. 2016.
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6.2. Teste da segunda sub-hipótese: o site e signos sobre ações visando
fins
Ao enfatizarmos relações entre signos e objetos, analisamos se as notícias possuem
signos sobre as ações necessárias aos fins de preservação dos elementos do ecossistema. Os
usuários do site poderiam, a partir dos qualisignos, receber sugestões icônicas que os signos
apresentados lhes ofereceriam. Do tema da primeira notícia, por exemplo, seria possível
pensar que, por haver uma feira orgânica, existe na cidade a preocupação em preservar
aquele ecossistema. Entretanto, tal associação é improvável, pois no texto e na imagem estão
representados apenas benefícios que a agricultura orgânica gera para os próprios seres
humanos.
Ao analisarmos as relações de caráter existencial entre as imagens e seus objetos, as
fotos poderiam ser bastante eficientes por sua força indicial, porém a preocupação principal
é mostrar agentes humanos e consequências a eles causadas. Na matéria sobre recolhimento
de pneus, por exemplo, é informado que o “[...] tempo de degradação do pneu é
indeterminado e o descarte indevido em rios e lagos, contribui para o assoreamento e
enchentes, além da dificuldade de compactação dos mesmos em aterros e a redução da
expectativa de vida.” (ASCOM BÚZIOS, 2015b).
Um pouco mais à frente, aparece uma preocupação com o ecossistema: “A queima do
pneu libera inúmeras substâncias preocupantes e metais pesados. Quando queimado, o
pneu pode causar a contaminação do lençol freático pela cinza e fração liquida produzida
com esta atividade.” (ASCOM BÚZIOS, 2015b). Também em outros trechos há referências a
lagos e rios. Embora persista o tom antropocêntrico, pelo menos nesse caso considera-se a
existência de um ecossistema complexo. Além disso, na matéria sobre o recolhimento de
óleo usado, ao informar que a Secretaria de Meio Ambiente e Pesca premia as escolas com o
valor de R$ 2,00 e uma muda de árvore por litro de óleo recolhido, há a preocupação em
destacar que “[...] todas as espécies são nativas da região [...]”.
Considerando-se os aspectos simbólicos, nos vemos, mais uma vez, diante de signos
antropocêntricos, na medida em que os legisignos das imagens, títulos e textos das notícias
se referem somente à vida humana. Não são fornecidos signos que possam levar a uma
compreensão mais ampla de como os demais componentes do meio ambiente exercem suas
formas peculiares de comunicação.
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6.3. Teste da terceira sub-hipótese: o site e signos da mudança
Finalmente, ao analisarmos possíveis interpretações, pesquisamos a ocorrência de
signos sobre trocas informacionais referidas às dinâmicas de mudanças daquele ambiente.
Contudo, assim como ocorreu no site do Inea (2015), os usuários do site da Prefeitura de
Búzios (2015) são conduzidos apenas a interpretantes imediatos e emocionais frente às
questões das mudanças ambientais. Poucos devem ser os usuários que, ao lerem as notícias,
ou observarem as imagens, serão levados a ações ou desenvolverão uma consciência sobre
as transformações do Parque Estadual Costa do Sol.
Mais improvável ainda seria uma compreensão lógica crítica dos processos de
mudanças nesses ambientes, uma vez que não há argumentações mais complexas nesse
sentido. Outro fator que afeta a capacidade das notícias de desenvolver nos usuários um
“interpretante lógico último”, que causaria, de fato, mudanças de hábitos, é a fragilidade dos
estágios anteriores de relações semióticas, descritos acima.
6.4. Conclusões relativas ao site da Prefeitura de Búzios: o
antropocentrismo
Observamos, portanto, por meio das notícias, que não há preocupação em despertar
sentimentos, ações ou pensamentos críticos voltados para a preservação ambiental, em
especial com o Parque Estadual Costa do Sol, nos usuários do site da Prefeitura de Búzios
(2015), cidade sob risco ambiental dado o impacto da ocupação humana. As referências aos
componentes humanos ocorrem numa escala muito maior do que aos demais elementos do
ecossistema, principalmente nas imagens, onde se percebe um tom de exploração política de
um órgão que deveria ser voltado ao interesse público.
7 Considerações finais
Após a apresentação dessas pesquisas, retomamos o tema da construção do campo
da comunicação, recorrente nos atuais estudos epistemológicos. Ampliações, como a
proposta aqui, tem caráter bastante polêmico, uma vez que ainda predominam concepções
dos processos de comunicação como culturais, tomando-se esse termo em sua acepção
estritamente humana, em lugar de integrá-los à esfera da vida em geral (SEBEOK et al.,
1999b). Esse tipo de autolimitação já aparecia nas concepções renascentistas da “navalha de
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Ockham” e se reforçaram com o desenvolvimento da semiologia e suas vertentes
estruturalista e pós-estruturalista (PIMENTA, 1993, p. 74).
Contudo, com o impacto das tecnologias digitais sobre a esfera da Comunicação, é
possível observar o início de um processo de mudança de hábitos, tanto nas práticas
cotidianas de seus mais variados processos, como nas concepções epistemológicas sobre o
campo (PIMENTA, 2016, p. 123). Tais mudanças também são influenciadas por outros
desdobramentos relevantes, como as alterações ambientais, que passam a exigir novas
elaborações em diversas áreas do saber.
A biossemiótica tem se desenvolvido a partir dessas demandas. Como área de
fronteira do conhecimento humano, constitui esfera controvertida, em especial no âmbito
da Comunicação, porém pode constituir um desenvolvimento necessário frente à crescente
ampliação da semiosfera (LOTMAN, 2005, p. 205-229). As pesquisas apresentadas acima
demonstram a produtividade da biossemiótica para o tratamento de questões e hipóteses
que emergem desse campo ampliado para além da cultura humana, por meio do
Pragmaticismo e seu pampsiquismo (BRIER, 2006, p. 32).
Em vista disso, e da atual relevância da esfera da Comunicação Ambiental frente à
crise climática, ao aumento das epidemias e outros desequilíbrios ambientais, observamos
que a biossemiótica pode enriquecer o campo tradicional dos estudos comunicacionais. Essa
integração entre ciências também é defendida por Kull, Deacon, Emmeche, Hoffmeyer e
Stjernfelt, autores que constituem, hoje, algumas das principais referências nessa nova área
(KULL et al., 2009, p. 172). Estamos conscientes, contudo, de que tal expansão encontra
variadas resistências, decorrentes das dificuldades das mudanças de hábitos e dos
processos de fixação das crenças, temas frequentes nos estudos lógicos do Pragmaticismo
de Peirce, e de que será necessário superá-las.
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Biosemiotics as new frontier and its
application in Environmental
Communication.
Abstract
The aim of this article is to present the biosemiotics derived
from Peirce’s Pragmaticism as a theoretical development able to
expand the current concept of communication field in its
practical purposes. Through the description of hypothesis
concerning the sphere of Environmental Communication, then
applied to two empirical tests, we seek to describe how these
approaches can be performed. Finally, from the results, we
argue that biosemiotics may be a productive extension of the
field if it can overcome resistances from self-restrictive
conceptions of communication processes.
Keywords
Communication. Epistemology. Biosemiotics.