A memória é um dos temas que se encontra na zona fronteiriça entre diferentes campos do saber. Gesto essencialmente humano por somar afetividade, cognição, historicidade e cultura, tendo como figura central a pessoa que narra o que recorda, na memória estão contidas as marcas do tempo e dos grupos sociais aos quais pertencemos. Tema caro à psicologia, à psicofisiologia, às neurociências e à biologia, passou a ser do interesse da antropologia, da sociologia e da história, quando o entendimento da memória saltou do campo da aprendizagem, da subjetividade e da educação e alcançou o campo social com a memória coletiva.
A memória social é a essência do conhecimento coletivo, reconhecido por um grupo específico balizado por um contexto. É um fenômeno construído social e individualmente.
Esse livro traz uma reflexão de um grupo de pessoas que se dispôs a sair da zona de conforto das metodologias descritas nos manuais acadêmicos. Claro está que para chegar a essa afirmação esses manuais foram estudados e discutidos à exaustão, para ao final se concluir que os métodos ali
descritos ainda não eram suficientes para explicar ou apreender aquilo que desejávamos apresentar. Mesmo sem ter a resposta final para nossas dúvidas continuamos indo a campo ouvir, interagir, se emocionar com as histórias, estivessem nossos atletas onde estivessem. A cada nova viagem, a cada novo contato, a cada nova descoberta a certeza da necessidade da busca pela subjetividade, pelo imaginário, pela memória - imprecisa, incompleta, falaciosa, demasiadamente humana - se impunha a cada um de nós. Vivemos em muitos momentos a certeza da dúvida que habita cada um que recorda e a dúvida pela certeza de um fato compartilhado socialmente e que a cada nova narrativa é
recriado com elementos que nos fazem duvidar, ou não, de versões anteriormente elaboradas.