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Pensando Famílias, 15(2), dez. 2011; (31-50)
Ciúme Romântico em Casais Heterossexuais: Relatos de
Pessoas Casadas e Unidas Consensualmente¹
Andreia Lobato Gomes²
Graziela Amboni ³
Thiago de Almeida 4
Resumo
Algumas manifestações de ciúme podem funcionar como uma estra-
tégia que une o casal e previne qualquer tendência natural ao afastamento.
Entretanto, quando o ciúme excede os limites do bom senso, ele provoca
sofrimento para as pessoas envolvidas. O objetivo deste estudo foi ana-
lisar as manifestações do ciúme romântico em casais heterossexuais. O
estudo foi qualitativo e foram entrevistadas 12 pessoas casadas ou unidas
consensualmente, a fi m de encontrar as formas que o sentimento de ciúme
se desenhava nas relações amorosas dos pesquisados. Os resultados
encontrados foram que as manifestações e causas do ciúme ocorrem de
acordo com a personalidade do indivíduo e, dessa forma, não podem ser
generalizadas. Os casais pesquisados defi nem o ciúme como o medo de
perder e para alguns, seria uma prova de amor. As diferenças entre homens
e mulheres foram em relação à forma de expressar o ciúme. Sugere-se
com este estudo que o ciúme provavelmente se manifesta conforme a
personalidade de cada pessoa.
Palavras chaves: ciúme; ciúme romântico; amor; sentimento; relação
homem-mulher.
Romantic Jealousy in Heterosexual Couples:
Case Report of Married and United Consensually Persons
Abstract
Some jealousy manifestations can function strategically by uniting the
couple and preventing any natural separation tendencies. However, when
¹Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado para obtenção do grau de bacharel
em Psicologia.
²Acadêmica 10ª fase do curso de Psicologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense
(UNESC).
³Professora orientadora do Trabalho de Conclusão de Curso (UNESC).
4Co-orientador do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), Universidade de São Paulo (USP).
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jealousy exceeds the limits of common sense, it implicates in suffering for
the people involved. The aim of this study was to analyze the manifestations
of romantic jealousy in heterosexual couples. The study was qualitative
and 12 married or consensually united people were interviewed in order
to fi nd the ways in which jealousy manifests itself over the relationships of
the respondents. The results point out that the manifestations and causes
of jealousy occur according to the personality of the individual and thus can
not be generalized. The couples surveyed defi ne jealousy as the fear of
losing and for some it is a proof of love. The differences between men and
women regard to how jealousy is expressed. This study suggests that jea-
lousy is probably expressed according to the personality of each individual.
Keywords: jealousy; romantic jealousy; love; feeling; man-woman;
relationship.
“O ciúme é o meio-termo entre o amor e o ódio”
(Philibert Commerso)
Se por um lado, para muitos, o ciúme representa uma manifestação
de amor, ele também pode ser considerado, por outro lado, para outras
pessoas, como um sentimento que produz angústia e que pode atingir
formas doentias e abalar a saúde física e mental dos envolvidos direta ou
indiretamente com ele. No entanto, também se pode tratá-lo como algo
inevitável, porque em um maior ou menor grau, todas as pessoas estão
sujeitas a ele. Logo, pode-se dizer que o ciúme é um sentimento que tem
a idade do homem.
O sentimento de ciúme pode estar relacionado a quaisquer relações
humanas, como o relacionamento entre mães, pais e fi lhos, nora, genro e
sogra ou sogro, embora esteja mais comumente relacionado às relações
amorosas. O relacionamento amoroso pode ser particularmente mais sus-
ceptível a ameaças. No entender de Bauman e May (2010), “o que torna
uma relação amorosa particularmente vulnerável e frágil é a necessidade
de reciprocidade” (p. 139). O relacionamento amoroso é reconhecido por
alguns teóricos como uma das áreas que afeta a pessoa quando ela não
está satisfeita com sua condição amorosa (Bringle, 1995; Hintz, 2003). Mas,
como o sentimento de ciúme se manifesta nos relacionamentos amorosos?
As pessoas infl uenciadas pelo ciúme sabem defi nir esta emoção? Quais
as causas do ciúme entre os casais? O que fazer quando um ponto frágil,
como a questão do ciúme, torna-se central na relação? Será que existem
diferenças nas formas de sentir ciúme entre homens e mulheres? São as
perguntas que esta pesquisa realizada com pessoas casadas e unidas
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consensualmente pretende responder. Além destas perguntas, a pesquisa
também almeja colaborar com profi ssionais da área da saúde e contribuir
com as pessoas acometidas por esta emoção.
Embora sem a pretensão de esgotar o assunto, este artigo objetiva
enfocar o ciúme romântico heterossexual fundamentado em factuais con-
clusões e percebido por pelo menos um dos componentes do casal, quando
o relacionamento amoroso está ameaçado de alguma forma. Em alguns
casos, o sujeito não está em um relacionamento amoroso ou duradouro
com o objeto de seu desejo e, mesmo assim, tem receio de ser abando-
nado (Buss, 2000; Murray & Holmes, 2000). Segundo Ramos (2000) é
possível o ciúme ocorrer até mesmo em relacionamentos platônicos, em
que há um amor unilateral não correspondido. Para Rosset (2004) ciúme
é um conjunto de emoções desencadeadas por sentimentos de ameaça à
estabilidade ou qualidade de um relacionamento íntimo valorizado. Então,
podemos conceber o ciúme como essa consciência de uma distância ou
de uma interferência numa relação de compromisso. Em geral aparece
quando sentimos que nosso parceiro não está tão ligado a nós como gos-
taríamos. As defi nições de ciúme são muitas, mas todas têm em comum
três elementos: primeiramente o fato de ele ser uma reação frente a uma
ameaça percebida. Posteriormente, a percepção de haver um rival real
ou imaginário. Por último, essa reação visa eliminar/diminuir os riscos da
perda da pessoa amada.
A presença de ciúme é saudável nas relações amorosas quando a
sua intensidade é proporcional ao risco que a situação traz para o seu
relacionamento. O ciúme serve como um sinalizador, uma medida da se-
gurança que se sente na relação. Sua ausência tanto quanto seu excesso
pode prejudicar o relacionamento.
O ciúme romântico pode ser considerado um comportamento emocio-
nal, que resulta de um somatório de sentimentos, pensamentos e ações,
que podem ser desencadeadas por situações reais ou imaginárias (Haslam
& Bornstein, 1996; Knobloch, Solomon, Haunani & Michael, 2001; Parrott,
2001). A ameaça da perda de um relacionamento afetivo valorizado com
alguém para outra pessoa origina na pessoa ciumenta a sensação de
abandono e desvalia. Ocasionalmente, quando a pessoa se sente des-
prestigiada pode tornar-se mais receptiva a quem a trate melhor e, por
ventura, engajar-se em comportamentos relacionados à infi delidade para
que, dessa forma, sinta-se especial.
Sendo assim, considera-se o ciúme de forma aceitável, adaptativa
e justifi cável, quando é baseado em fatos, inaceitável quando é baseado
em suposições constantes, equivocadas e desadaptativas ao se presumir
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a infi delidade, quando esta não está acontecendo ou delírios a respeito do
comportamento do(a) parceiro(a) se engajar em atitudes relacionadas à
infi delidade, quando inexistem. Logo, o ciúme adaptativo e não excessivo
seria aquele transitório e baseado em fatos reais. Em contrapartida, algumas
pessoas podem interpretar erroneamente e conclusivamente evidências
de infi delidade a partir de ocorrências irrelevantes. Essas pessoas ainda
recusam mudar suas crenças mesmo frente a informações confl itantes e
tendem a acusar o parceiro de infi delidade com muitas outras pessoas
(Torres, Ramos-Cerqueira & Dias, 1999; Vauhkonen,1968).
Os psicólogos evolucionistas acreditavam ser o ciúme uma emoção
fi logeneticamente determinada, que evolui e se mantém por ser uma forma
estratégica útil para enfrentar as ameaças à relação. O sentimento de ciúme
nesta teoria é um mecanismo usado por homens e mulheres para garantir
a durabilidade do relacionamento e, consequentemente, o direito à pater-
nidade (Costa, 2005). Pode-se ainda classifi car as formas de manifestação
do ciúme despertada em casais como ciúme excessivo e normal.
Para Freud (1922/1976) o ciúme se origina na projeção, e os ciumentos
projetam no outro o seu próprio desejo de infi delidade ou de sua atração
homossexual pelo suposto rival. Então, de acordo com este autor, o ciúme
projetivo nasce, tanto no homem como na mulher, das próprias infi delidades
do sujeito, ou do impulso de cometê-las, recalcadas no inconsciente e se
manifesta em três categorias distintas. A primeira é o ciúme apontado com
normal cuja origem possui diversos mecanismos inconscientes, os quais vi-
sam proteger a pessoa de um sentimento maior de angústia. Esta expressão
do ciúme pode atingir níveis intoleráveis, embora seja momentâneo e fugaz,
dependendo da qualidade da autoestima da pessoa. A segunda categoria
do ciúme, seguindo o autor, é a neurótica, que está pautada no triângulo
edipiano, e surge na competição que nasce no menino ao disputar o amor
da mãe com o pai, e nas meninas ao disputar o amor do pai com a mãe.
O autor afi rma ainda que a competição tem sempre conteúdos sexuais e
ameaças da perda do objeto amado, causando dor e afl ição, e representa,
em última instância, o medo da castração. A terceira categoria é o ciúme
paranoide, que se apresenta no fato da pessoa ter plena certeza da infi de-
lidade do(a) parceiro(a), mesmo que as evidências se mostrem opostas.
Enquanto Freud (1922/1976) afi rmou sobre três categorias de ciúme,
Seo (2005), posteriormente, descreveu alguns atributos e características
para o ciúme excessivo e o ciúme identifi cado como adequado. O ciúme
excessivo refere-se ao(à) parceiro(a) que investiga a(o) companheira(o),
e afi rma que é traído(a), embora a afi rmação não se baseie em provas
concretas. Então, de um mecanismo protecionista para preservar a quali-
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dade e o bom andamento dos relacionamentos amorosos, o ciúme passa
a se tornar excessivo quando ultrapassa os limites do bom senso, sendo
de difícil controle e compreensão. Na mesma linha de pensamento, Costa
(2005) afi rma que o ciúme excessivo é aquele em relação ao qual não
existem fatos reais e é infl uenciado por delírios, enquanto o dito normal ou
adaptativo ocorre baseado em acontecimentos reais. Consequentemente,
ciúme adaptativo pode ser encarado como um intuito de cuidar do senti-
mento que se tem pelo(a) companheiro(a). Almeida (2007) evidenciou em
sua pesquisa, que o ciúme romântico, em determinados graus, pode atuar
mecanismos tanto de proteção, como infl uenciar negativamente o relacio-
namento contra a infi delidade amorosa.
Para a maioria das pessoas e das uniões a infi delidade é perigosa
e, portanto, o ciúme instala-se, ora como um mecanismo preventivo na
tentativa de se evitá-la, ora como um mecanismo retaliador na tentativa
de se puni-la. Seja em um parceiro ou no outro, seja na relação, algum
distanciamento é denunciado pelo ciúme. Então, o ciúme pode ser benéfi co,
sobretudo se ocorre em uma união consistente e provoca um comportamen-
to de aproximação dos companheiros. Em alguns casos, esse mecanismo
inicialmente protecionista conferido ao ciúme pode terminar em violência
doméstica, causando sofrimento para a vítima, agressor e para o entorno,
como a família dos envolvidos (Almeida, Centeville & Tardivo, 2008; Cen-
teville & Almeida, 2007). Quanto mais intenso e menos controlável, maior
pode ser o problema.
Quando o ciúme ultrapassa os limites do bom senso, provoca sofri-
mento para as pessoas envolvidas, sendo até possível que leve ao término
da relação. Para Santiago e Coelho (2010) um dos causadores de crimes
passionais é o ciúme excessivo. A pessoa excessivamente ciumenta não
consegue manter uma relação de objetividade com os fatos, de maneira
que eles são interpretados, a partir de uma perspectiva obsessiva, viesada
e favorável às suas suspeitas. Neste caso, a pessoa age por narcisismo
(amor próprio) e ao se sentir traído (situação real ou imaginária), comete o
crime, pois considera o(a) parceiro(a) seu objeto de desejo, com sentimento
de posse e realiza o crime sem medir as consequências.
Levando-se em consideração o que foi escrito anteriormente, pode-se
entender que uma emoção intensa como o ciúme excessivo, pode ultrapas-
sar os limites de controle egóico e prejudicar a capacidade de raciocinar
com clareza e objetividade, o que pode conduzir o ciumento excessivo, não
raramente, a atos violentos. Assim, o drama de Shakespeare, “Othelo: O
mouro de Veneza” repete-se atualmente e se atualiza diariamente na lem-
brança e na interação de muitos casais vitimizados pelo ciúme patológico.
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Tanto que a este quadro sintomatológico bastante específi co, deu-se o
nome de Síndrome de Otelo (West, 1968) que se refere ao delírio de ciúme
por parte de um parceiro. A primeira vez que o conceito de Síndrome de
Otelo surgiu foi em um artigo publicado pelo psiquiatra britânico John Todd
(1914-1987), em coautoria com Kenneth Dewhurst, o qual intitularam de
“The Othello Syndrome: a study in the psychopathology of sexual jealousy”
(A Síndrome de Otelo: um estudo em psicopatologia sobre do ciúme se-
xual) dada a constatação dos autores, de que neste quadro as convicções
rígidas acerca de uma infi delidade consumada e as conclusões para tal,
embora equivocadas, não se alteram mesmo diante de provas ou raciocínios
em contrário. Inclusive a primeira denominação para este quadro foi feita
pelos autores como A Síndrome de Alice no País das Maravilhas. Dessa
forma, pode-se dizer que muitos Otelos e Desdêmonas estão situados no
Terceiro Milênio e encenaram e encenam um texto similar em sua relação
afetivossexual com os parceiros na vida real. Para alguns, o ciúme é visto
como uma espécie de zelo, um sinal de amor, como um renovador de re-
lacionamento desgastado e valorização do parceiro; para outros, denota
de insegurança e autoestima rebaixada.
Talvez, a situação mais paradoxal do ciúme, esteja no momento em
que o medo de perder é tanto que a pessoa prefere maltratar o(a) parceiro(a)
à injetar cuidados na relação. O ciúme moderado e proporcional ao risco
de traição ajuda a proteger o relacionamento amoroso. Essa expressão do
ciúme pode ter um papel preventivo ou retaliador frente ao relacionamento
amoroso ameaçado que seriam provocadas pela interferência de um pos-
sível rival. A função preventiva é constituída por medidas que restringem a
exposição do parceiro a uma situação ameaçadora (frequentar juntamente
com o(a) parceiro(a) locais propícios ao envolvimento com possíveis rivais,
pedir para o(a) parceiro(a) deixar de vestir roupas provocantes em ambien-
tes públicos, tentar impedir manifestações de fl erte com rivais, etc.) (Almei-
da, 2007). Segundo este mesmo autor, a função retaliadora é constituída
por aquelas medidas tomadas para punir os casos de infi delidade seja esta
consumada ou presumida (ser infi el também, romper o relacionamento,
denunciar o rival para a sua companheira, ser violento com o(a) parceiro(a)
etc.). Em alguns casos, há parceiros que preferem cometer um crime, a
suportar o desejo do outro não querer mais estar consigo.
Sobre as diferenças nas formas de sentir ciúme entre homens e
mulheres, Buss (2000) expôs que antigamente ambos os sexos depen-
diam exclusivamente uns dos outros para sobreviver, assim, o ciúme
contemplou a manutenção do relacionamento. Dessa forma, os homens
com um determinado grau de ciúme excessivo asseguravam-se de que os
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fi lhos que cuidavam eram realmente seus e preservavam a genética ao
proverem recursos para sua prole. Enquanto as mulheres, pelo ciúme que
sentiam, conseguiam alguém que contribuísse exclusivamente, tanto com
o próprio sustento, como o dos descendentes. No entanto, ao contrário do
que muitos acreditam, homens e mulheres são igualmente ciumentos e os
evocadores de ciúme para homens e mulheres são semelhantes, o que
diferencia um do outro são as formas e manifestações (Buss, 2000; White
& Mullen, 1989).
Oliveira (2005) pesquisou as signifi cações sobre o ciúme e detec-
tou, em sua pesquisa, que 21 homens e mulheres descreveram o ciúme
da mesma forma. Entretanto, a autora afi rmou que para as pessoas com
maior idade, a importância atribuída ao ciúme é a causadora de separa-
ções e empecilho nos relacionamentos amorosos. Para os mais jovens,
o sentimento é visto apenas, como o medo da perda e não tem a mesma
importância dada pelos mais velhos.
Vieira (2008) assegurou que o sentimento de ciúme nas pessoas mais
jovens tem uma conotação de afetividade, ou seja, algumas pessoas fi cam
satisfeitas com manifestações de ciúme do parceiro. Para Ferreira-Santos
(2003) a maioria das pessoas não consegue dissociar o amor do ciúme,
por considerar o sentimento uma demonstração de zelo. No entanto, esta
associação amor/ciúme não é compactuada por todos, pois algumas pes-
soas não toleram as menores demonstrações do sentimento. Desta forma,
os fatores como medo de ser substituído, de ser comparado e de competir,
contribuem para manifestação do ciúme nos relacionamentos amorosos.
Então, com intuito de compreender um pouco mais acerca do ciúme
no relacionamento amoroso, foram entrevistados seis casais, num total de
12 pessoas, a fi m de analisar as manifestações do ciúme nos pesquisados.
Apresentam-se nesse trabalho algumas ideias relevantes para o campo de
terapia familiar, sobretudo, no que concerne às manifestações do ciúme
no cotidiano do casal, suas consequências e desdobramentos para o re-
lacionamento amoroso.
Método
O método escolhido neste estudo acerca do ciúme romântico foi a
pesquisa qualitativa e a exploratória. A pesquisa qualitativa é uma das for-
mas utilizadas no processo de investigação social, parte do entendimento
de que a realidade é constituída pelos indivíduos interagindo em seus
mundos sociais. O pesquisador, em seu trabalho, pode revelar como se
dá a interação entre os diversos atores sociais para a formação do todo, a
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partir da perspectiva destes atores (Gil, 1984).
Segundo Triviños (1992), o que diferencia a abordagem qualitativa
das demais é a crença de que o ambiente exerce grande infl uência sobre
o pensamento e a ação humana. Para Morin (2000) o conhecimento das
informações ou dos dados isolados é insufi ciente; sendo também dentro
do contexto que adquirem sentido. A pesquisa classifi ca-se como explora-
tória, pois tem como fi nalidade, desenvolver e modifi car conceitos e ideias.
Vistos os dados acima, considerou-se esta, a melhor opção para o estudo
em questão. Participaram do presente estudo seis casais, totalizando 12
entrevistados, casados ou amasiados, há pelo menos cinco anos. O levan-
tamento dessa população foi realizado, através da assessoria da clínica de
psicologia da UNESC, localizada no campus da Universidade do Extremo
Sul Catarinense (UNESC), a qual presta atendimento psicológico para
comunidade interna e externa, em que ambos (marido e mulher faziam
psicoterapia).
Os casais foram convidados de forma aleatória, ou seja, os seis
primeiros casais que estavam dentro dos critérios de inclusão e aceitaram
participar da pesquisa foram entrevistados. Os critérios de Inclusão dos
participantes poderiam ser: (1) ser casado ofi cialmente; ou (2) amasiado
(coabitar) há pelo menos cinco anos. Os participantes deveriam também,
ter entre 25 a 45 anos de idade, fazer psicoterapia da clínica de psicologia
da UNESC, independente da queixa, ambos, esposa e marido, aceitarem
participar da pesquisa e assinar o Termo de Consentimento Livre e Escla-
recido. Depois de o convite ser aceito, foi marcado horário para realização
de uma única entrevista, que ocorreu numa sala de atendimento individual
da clínica de psicologia da UNESC, em que esteve presente a pesquisadora
e participantes. Os casais foram entrevistados separadamente. Antes de
iniciar a entrevista, a pesquisadora, explicou o estudo e apresentou o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido, e após compreensão, aceitação e
assinatura, as entrevistas foram realizadas.
A coleta de dados deu-se por meio de uma entrevista semiestru-
turada. Para Triviños (1992) a entrevista semiestruturada favorece não
somente a descrição dos fenômenos sociais, mas também possibilita a
sua explicação e favorece a compreensão de sua totalidade. A entrevista
semiestruturada tem como característica contemplar questionamentos
básicos que são apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam ao
tema do estudo conduzido (Manzini, 2002). Os questionamentos dariam
frutos a novas hipóteses surgidas a partir das respostas dos informan-
tes. Durante a entrevista, foi utilizado um gravador para dispensar que a
pesquisadora realizasse anotações nas questões abertas, concentrando
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sua atenção na entrevista. Depois de transcritas as fi tas, os dados foram
analisados. A entrevista foi elaborada visando atender o objetivo geral e os
objetivos específi cos, com perguntas claras para o entrevistado sentir-se
à vontade e transmitir sua experiência sem qualquer restrição. Na análise
de dados utilizou-se o método de análise categorial, a partir dos objetivos
da pesquisa e do conteúdo descrito pelos entrevistados. “O conceito de
categoria está relacionado aos elementos ou aspectos com características
comuns, e é empregado para estabelecer classifi cações” (Minayo, 1998, p.
70). Na análise de dados, as ideias, as expressões e os elementos foram
agrupados em torno de um conceito, de acordo com a fundamentação
teórica (categoria geral). As categorias específi cas foram formuladas por
meio das respostas dos entrevistados. A análise foi feita a partir da análise
de conteúdo de Bardin (1977). O pesquisador que trabalha seus dados
a partir da perspectiva da análise de conteúdo está procurando um texto
atrás de outro texto, um texto que não está aparente já na primeira leitura
e que precisa de uma metodologia para ser desvendado.
A presente pesquisa foi avaliada e aceita pelo Comitê de Ética da Uni-
versidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, o qual concedeu parecer
favorável para a realização da mesma. A privacidade dos participantes foi
mantida em todos os aspectos da pesquisa.
Resultados e análise dos resultados
Conforme Almeida (2007) o ciúme é uma emoção extremamente co-
mum nos relacionamentos amorosos. Por ser um sentimento que desperta
o medo da perda e estar suscetível às ameaças constantes, normalmente
aparece no relacionamento amoroso.
Pode-se ainda dizer que o sentimento de ciúme é inegável, pois todas
as pessoas, em algum momento da vida, e em graus variáveis, experimen-
taram de alguma forma o ciúme, seja em relação ao parceiro amoroso, ou
em relação a alguém do convívio diário (Shinyashiki & Dumêt, 2002). No
decorrer das entrevistas percebeu-se que mesmo as pessoas que afi rma-
ram não sentir ciúme dos(as) parceiros(as), disseram que já presenciaram
um momento das suas vidas em que o sentimento afl orou. Dessa forma,
verifi cou-se que o sentimento de ciúme desperta nas pessoas, mesmo que
inconscientemente, uma reação de medo da perda, pois todos os entre-
vistados demonstraram isso em suas falas. A análise do que vem a ser o
ciúme, não pode fi xar-se apenas em ser um comportamento aceitável ou
não, tanto para vítima quanto para a pessoa com ciúme, pois, a sua vivência
acarreta uma série de emoções, como: raiva, angústia, ansiedade, mágoa,
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tristeza, agressividade e sentimento de rejeição.
Almeida (2007) confi rmou que o ciúme é uma reação frente a uma
ameaça percebida (real ou imaginária) em relação a um relacionamento
amoroso valorizado. Como mostram as entrevistadas abaixo, ao alegarem
que, provavelmente, sentirão ciúme se detectarem alguma ameaça:
“É como falei, se ele tá conversando alguma mulher e eu vejo que a
coisa muito chegada, me sinto ameaçada” (sic) (Entrevistado sexo femi-
nino – casal 1).
“Eu nunca vi pessoalmente, mas senti ciúme quando ele andou com
relacionamento virtual, eu fi quei muito ofendida, aí eu virei uma jararaca
e não admiti esse comportamento dele” (sic) (Entrevistado sexo feminino
- casal 6).
No decorrer da pesquisa, quando questionados quanto às formas de
reação frente a uma ameaça, uma parte considerável dos entrevistados, ou
seja, nove de 12 pessoas entrevistadas colocaram que conversariam com
os parceiros e falariam sobre a insatisfação do comportamento do outro
frente à terceira pessoa que ameaçava a relação. Enquanto duas das 12
pessoas entrevistadas observariam um pouco mais e, se comprovada a
infi delidade, terminariam o relacionamento. Apenas um dos entrevistados
afi rmou brigar com o cônjuge. Em suma, percebe-se que as formas de
manifestação do sentimento de ciúme variam idiossincraticamente entre
os entrevistados. Diante desses dados, pode-se afi rmar que as pessoas
entrevistadas evidenciam nos seus relatos, em certa medida, o medo da
perda dos relacionamentos porque apenas uma delas citou que se desen-
tenderia com o(a) parceiro(a).
Todas as pessoas são ciumentas em maior ou menor grau, contudo,
as causas da elevação ou não do ciúme são diversas, este aumento no
nível sentido de ciúme de um parceiro por outro pode ser desatrelado ou até
mesmo suscitado pela atitude do outro na relação. Almeida (2007) aponta
que o ciúme pode ser infl uenciado pela força situacional ou disposicional.
O ingrediente disposicional é aquele que faz com que duas pessoas te-
nham diferentes intensidades de ciúme em uma mesma situação (Bringle,
1981; Cavalcante, 1997; Greenberg & Pyszczynski, 1985). Entretanto, o
ciúme situacional é aquele que faz com que uma mesma pessoa experi-
mente diferentes intensidades de ciúme em diferentes situações (Bryson,
1977; Shackelford, Leblanc, & Drass, 2000). Embora a classifi cação como
situacional ou disposicional distinga dois tipos de ciúme, do ponto de vista
funcional pode-se afi rmar que a essência é a mesma nas duas formas de
expressão do sentimento de ciúme, as pessoas sentem medo em maior ou
menor grau da ameaça e reagem diferentemente a ele. Os casais pesqui-
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sados demonstraram transitar entre as duas forças, como se verifi ca:
“Sempre que percebo ele empolgado conversando com alguém,
mesmo que seja um homem já fi co incomodada” (sic) (Entrevistado sexo
feminino – casal 2).
“Olha se vejo ele conversando com qualquer pessoa homem ou mu-
lher, fi co tranquila e não me estresso com a situação” (sic) (Entrevistado
sexo feminino – casal 3).
A fala anterior pode ser interpretada como uma manifestação do ciúme
disposicional. Observa-se que as duas entrevistadas reagem de modos
diferentes frente à mesma ameaça, se o parceiro demonstrar interesse.
“Quando ela fi ca muito próxima de um amigo dela” (sic) (Entrevistado sexo
masculino - Casal 2). Aqui, o entrevistado avisa que sentirá ciúme se a
terceira pessoa envolvida for do ciclo de amizade dela, assim percebe-se
que provavelmente o nível de ciúme sentido poderia se alterar se a ameaça
fosse outra pessoa e, por isso, esta fala exemplifi ca o ciúme situacional.
Quanto à relação do ciúme com amor ou cuidado, Salazar, Couto,
Gonçalves e Pereira (1996), apontaram que o sentimento de ciúme em
porções adequadas serviria para incentivar ainda mais o relacionamento
amoroso. Pode-se constatar esta predisposição no depoimento do entre-
vistado: “Porque se pessoa tem ciúme você percebe que ela sente algo
por você, se ela não tem nenhum tipo de ciúmes eu desacredito que tenha
amor, pois falta interesse” (sic) (Entrevistado sexo masculino - casal 6).
O ciúme pode ainda representar para as pessoas uma demonstração
de interesse e medida do cuidado e preocupação com o outro, e, em algu-
mas situações, até comprovar o quanto deseja e se gosta do(a) parceiro(a).
Essa dinâmica psicológica pode ser observada na seguinte afi rmação: “Mas,
um ciuminho é porque gosta da pessoa sem prender a pessoa, esse eu
acredito que é amor porque não prejudica o outro” (sic) (Entrevistado sexo
feminino - casal 6).
Há de se ressaltar nesta pesquisa que a percepção da ausência de
ciúme por parte de um dos componentes da relação pode causar danos
a um relacionamento amoroso, pois pode signifi car uma baixa adesão
de pelo menos uma das partes envolvidas. Fischer (2006) reforça que o
sentimento de ciúme poderia instigar o indivíduo a acalmar a pessoa que
está com desconfi ança da fi delidade do(a) parceiro(a), contribuindo para a
durabilidade do relacionamento. Na pesquisa os entrevistados comprovam
isso: “Se disser que não tem ciúme da sua esposa tá mentindo, quando
a gente ama sente ciúmes” (sic) (Entrevistado, sexo masculino - casal
5). “Se gosta tem ciúme, se não gosta não liga” (sic) (Entrevistado, sexo
feminino - casal 3).
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Para eles, a percepção do ciúme, por parte do cônjuge, é a demons-
tração de desejo, da adesão do outro ao relacionamento e acaso não se
possa detectar o ciúme de um parceiro por outro, o relacionamento tende
a enfraquecer. Talvez esses participantes da pesquisa esperem dos seus
parceiros uma demonstração amorosa por meio de cenas de ciúme por
entenderem o ciúme como uma demonstração efetiva de amor. Pode-se
ainda afi rmar que a percepção da ausência do ciúme, para estes entre-
vistados, seria destrutiva ao relacionamento, e relaciona-se a brigas e a
desconfi ança. Clanton e Smith (1998) argumentam que, algumas vezes, o
ciúme é capaz de expressar uma revelação amorosa, no entanto, não pode
ser considerada uma comprovação absoluta de amor e de qualidade para
a relação. Este aspecto pode ser evidenciado na fala “Acho que quem ama
de verdade sente ciúmes” (sic) (Entrevistado sexo masculino – casal 2).
Para este entrevistado, o ciúme poderia ser um sinalizador determinante
do amor.
De acordo com Almeida (2007), o ciúme pode estar relacionado com o
amor por representar em alguns casos o zelo, mas não necessariamente um
surge a partir do outro. O sujeito pode sentir ciúme e não amar o parceiro,
apenas sentir medo de perder ou ser enganado pelo outro. O entrevistado
abaixo deixou isso claro, quando questionado se o ciúme estava relacionado
ao amor: “Porque ele está relacionado com o orgulho com a posse, o amor
é mais desprendido” (sic) (entrevistado sexo masculino – casal 1). Com os
dados da pesquisa pode-se verifi car que algumas pessoas acreditam que
o ciúme é relacionado ao amor, enquanto outras como este entrevistado,
pensam que o sentimento de ciúme está relacionado à posse que uma
pessoa tem da outra.
Em relação ao aumento ou diminuição do ciúme no decorrer do rela-
cionamento conjugal, a maioria dos pesquisados relatou que o sentimento
diminuiu, com a justifi cativa de que passaram a confi ar mais no parceiro.
A fala do entrevistado a seguir refere-se a um amadurecimento durante o
relacionamento, e, consequentemente, diminuição do ciúme. A diminuição
do ciúme, no decurso de um relacionamento, de acordo com Vieira (2008),
pode estar relacionado ao fato do indivíduo sentir um grau adequado de
ciúme. A fala, a seguir, evidencia esta situação: “Com o passar do tempo
fui fi cando mais seguro e com o amadurecimento saiu o ciúme bobo para
uma coisa mais madura, e até uma perca do ciúme” (sic) (Entrevistado
sexo masculino – casal 2).
Em alguns casos, o ciúme aumenta no decorrer do relacionamento
amoroso, visto que a pessoa passa a considerar que tem um maior senti-
mento pelo outro e a não querer perdê-lo, enquanto outros casais simples-
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mente possuem a certeza do amor do outro e passam a confi ar tanto, seja
no outro ou em si mesmo(a), que deixam de ter reações ciumentas. Em
relação ao aumento do ciúme durante o relacionamento amoroso, a pessoa
poderia alimentar um sentimento de posse sobre o parceiro, e por vezes,
confundir essa percepção com o aumento da qualidade do vínculo (Vieira,
2008). O entrevistado seguinte nos remete a perceber essa tendência: “O
ciúme aumentou, pois o amor cresceu a cada dia, por isso só aumentou
ainda mais” (sic) (Entrevistado sexo masculino – casal 1). No entanto,
observa-se que a justifi cativa do pesquisado seria um aumento do amor,
pois, acredita que um sentimento estaria relacionado ao outro.
Vieira (2008) relatou em sua pesquisa em relação à idade, que as
pessoas mais jovens descreviam o sentimento de ciúme como um fenô-
meno positivo de cuidado, zelo, e as mais velhas apresentavam situações
desagradáveis, como separações motivadas pelo ciúme. No presente
estudo, os resultados divergiram quanto à quantidade percebida de ciúme
sentido/manifestado ao longo do relacionamento. Nove das 12 pessoas
entrevistadas relataram amadurecimento no decorrer do relacionamento,
quando questionados sobre as diferentes fases do ciúme em suas vidas.
Como descreve a entrevistada a seguir: “Mudou hoje sinto menos ciúme,
pois amadureci como mulher, quando eu casei, eu era muito infantil e
novinha, agora vejo se ele tá há 23 anos comigo, é por que ele quer” (sic)
(Entrevistado sexo feminino – casal 1).
O ciúme se confi gura de maneira diferente dependendo da persona-
lidade de cada sujeito, seja ele homem ou mulher, o que na maioria das
vezes, é parecido, é a forma de reação, que seria cultural. Quanto à forma
de sentir ciúme entre homens e mulheres, ao contrário do que a maioria
das pessoas acredita, homens e mulheres são igualmente ciumentos, o que
diferencia um do outro são as formas de manifestações (Buss, 2000; White
& Mullen, 1989). Comprova a teoria dos autores, a percepção da entrevis-
tada: “Acredito que varia de pessoa para pessoa” (sic) (Entrevistado sexo
feminino – casal 6). O que se percebe como real, com a fala do entrevistado
anterior, quando explicita a diferença de ciúme entre homens e mulheres.
De acordo com André e Lelord (2002), os homens se posicionam algumas
vezes, com ciúme excessivo, em relação à segurança e conhecimento dos
seus possíveis adversários. Entretanto, as mulheres procuram competir em
relação ao aspecto físico das rivais, percebendo-se isso na fala da entre-
vistada: “Ciúme claro tem ciúme do que é teu, claro se ele me ama, eu o
amo, temos que ter um bom convívio e respeito, mas o marido, ele não é
só teu, agora se o meu marido olhar para uma mulher bonita tudo bem, se
ela é bonita qual o problema dele olhar, agora se ele olhar com cobiça é
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diferente. Claro se ele tem um outro relacionamento não vou aceitar, se ele
é casado comigo tem que ter respeito por mim. Ciúme é relacionado a res-
peito” (sic) (Entrevistado sexo feminino – casal 1). Valida a teoria de André
e Lelord (2002) a fala dessa entrevistada que afi rma sentir-se ameaçada,
caso o parceiro olhe com cobiça para uma mulher mais atraente.
O ciúme pode ser demasiado por várias razões. A partir da análise
de conteúdo da fala dos entrevistados, esse estudo corrobora com as três
razões apresentadas por Rosset (2004) para explicar a sua manifestação
excessiva e dinâmica em casais. Em se tratando de relacionamentos de
longo prazo, como casamentos, a primeira das razões apresentadas pe-
los autores é que os parceiros estabeleceram uma interação matrimonial
perturbada. Nesse caso, trata-se de casais que funcionam fundamentados
numa psicodinâmica de “estar no controle”, entre outros padrões que dão
lugar à escalada cada vez maior de crises ciumentas (Rodrigues, 2005).
Uma segunda razão para este sentimento são os contratos implícitos e
explícitos mal elaborados, em que aspectos importantes não são verbaliza-
dos, desejos não deixam margens para ambiguidades, ou mesmo, há casos
em que as restrições à liberdade do outro não são negociadas. Embora
muitas vezes os parceiros concordem aparentemente com este “contrato”
de exclusividade automaticamente, ele se forma a partir de uma, por vezes,
extensa negociação que os componentes desse casal entabulam desde
os primeiros encontros e se atualiza na medida em que diversas situações
surgem no relacionamento (Souza, Santos & Almeida, 2009). Essa negocia-
ção acontece e se atualiza na medida em que diversas situações surgem
no relacionamento. Essa confi guração de fatores conduz frequentemente
a crises repetitivas e profundas na relação (Lillibridge, 1995).
A terceira razão são difi culdades emocionais particulares de cada um
dos parceiros. Indivíduos com sérias defi ciências em sua estruturação de
personalidade terão menos habilidades para lidar com relacionamentos e
com todas as vertentes “perigosas” que existem, como desacertos, rejei-
ções, desavenças. Podem ainda se sentirem perseguidos e traídos, o que
alimenta o excesso de ciúme (Almeida, Rodrigues & Silva, 2008). Para a
pessoa que costuma refl etir a respeito dos próprios sentimentos, o se sentir
dominado pelo ciúme a leva a questionamentos sobre este fenômeno e sua
maneira de se relacionar amorosamente. Pode tirar conclusões importantes
a respeito de sua forma de ser.
Com este estudo pode-se notar que a infl uência negativa do ciúme na
vida dos entrevistados, ocorre apenas quando o ciúme é excessivo; e de
acordo com Ferreira-Santos (2003), a pessoa é devorada pela imaginação
obsessiva de que pode estar sendo ameaçado, de perda e humilhação,
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e quando isto é comprovado, gera sofrimento. Conforme os entrevistados
descrevem a seguir, os sentimentos se misturam em angústia, raiva, des-
confi ança, baixa autoestima, insegurança e tensão, podendo interferir no
casal, e/ou individualmente, abalando até mesmo a saúde mental:
“É ter ciúme eu acho que incomoda muito ela, acho que é aquele
obcecado, um ciuminho, acho que tem que ter” (sic) (Entrevistado sexo
feminino - casal 6).
“Quando eu tinha ciúmes magoava ela, pois ai você fala e magoa a
pessoa, hoje não.” (sic) (Entrevistado, sexo masculino - casal 6).
“Na pessoal interferiu demais, porque quando casei eu era independe
demais e avisei isso a ele, eu gostava de sair para trabalhar e tinha desejo
de estudar, e ele inventava muitas histórias, tipo que alguém ligava dizendo
que eu estava traindo ele. Quer ver quando comecei estudar, ele achava
que era para trair e na verdade eu só buscava um futuro melhor, e isso foi
horrível” (sic) (Entrevistado sexo feminino - casal 6).
“Quando sinto ciúmes fi co estressado e triste” (sic) (Entrevistado sexo
masculino – casal 2).
De acordo com Palermo et al (1997) grande parte dos homicídios
seguidos de suicídio são crimes relacionados às ideias delirantes de ciúme
intenso ou excessivo. Esses crimes, normalmente, foram crimes cometidos
por homens (o que não exclui as mulheres desta problemática) com algum
transtorno psicológico, assim, percebe-se que os excessos e desequilíbrios,
aliados ao ciúme causam as nefastas consequências para os relaciona-
mentos amorosos e não o ciúme em si. Uma das entrevistadas mostra os
danos que podem ocorrer por conta de um ciúme excessivo: ”A mulher às
vezes é ciúme doentio e o homem é ciúmes doido que às vezes até mata”
(sic) (Entrevistado, sexo feminino - casal 5).
Berscheid e Fei (1998) afi rmaram que o sentimento de ciúme pode
estar relacionado à insegurança que cada componente do relacionamento
tem de si mesmo, do(a) parceiro(a) e do(a) relacionamento. As seguintes
falas sinalizam este fator:
“Ciúme é uma coisa, é uma insegurança ou uma posse eu sempre
defi no assim” (sic) (Entrevistado sexo masculino - casal 1).
“É insegurança, se o outro te dá motivo, você tem ciúmes, por exemplo,
com meu ex-marido eu vivia doida de ciúmes, ele vivia recebendo ligações,
a sogra empurrava meninas para ele. Agora com o meu marido atual não
tenho tanto, pois ele não recebe ligação nada e não tenho motivo” (sic)
(Entrevistado sexo feminino - casal 2).
O ciúme também pode ser entendido como um sinal de alerta. Uma
espécie de sinalizador a indicar que algo malogrou; seja em um ou no outro
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parceiro, seja na relação, algum distanciamento é denunciado pelo ciúme.
Quanto mais intenso e menos controlável, maior o problema advindo do
mesmo. Costa (2005) postula que o ciúme pode ser defi nido como uma
emoção despertada pela ameaça percebida e usada para se contrapor
a mesma. O autor aponta ainda que o ciúme é uma expectativa, uma
apreensão de perder o parceiro, ou perder o lugar de afeição por parte do
parceiro. A seguinte fala assinala este aspecto: “Tudo que a gente gosta tem
ciúme, eu creio assim, ciúme é medo de perder” (sic) (Entrevistado sexo
feminino - casal 3). A fala da entrevistada anterior expõe o medo da perda
que as pessoas possuem e que o ciúme gera uma apreensão, a afl ição de
uma terceira pessoa ocupar o lugar junto ao objeto amado.
Considerações fi nais
Os objetivos previstos para este estudo foram contemplados. Perce-
bemos, pelos resultados obtidos, que algumas manifestações tênues de
ciúme podem funcionar como uma estratégia que une o casal e previne
qualquer tendência natural ao afastamento, tal como previsto por muitos
autores citados. Entretanto, quando o ciúme excede os limites do bom
senso, ele provoca sofrimento para as pessoas envolvidas, o que valida a
literatura que dá suporte para este dado. Assim, é até possível que conduza
ao término da relação.
Muito tem sido escrito sobre esse fenômeno chamado ciúme, que
tantas vezes se instala em nós e em quem amamos, e que nos priva da
tranquilidade, da concórdia e da confi ança em relacionamentos que nos
são caros. É importante falarmos a respeito de um tema como este porque
provavelmente, em algum momento da vida, por ele seremos afetados
porque o sentiremos, ou ainda, porque seremos vitimizados como alvo de
uma pessoa ciumenta.
Numa relação afetada pelo ciúme, as pessoas, geralmente, são reifi -
cadas, ou seja, tratadas como objetos pelos próprios parceiros. Muitas se
anulam e, assim, perdem grande parte de sua identidade para serem o que
o ciumento quer que sejam tentando corresponder a todas as suas expec-
tativas. Neste caso, pode-se dizer que não há uma dinâmica de aceitação
mútua. O que mascara esta constatação é a percepção distorcida de que
isso é feito “altruisticamente” pela pessoa ciumenta, pelo bem do outro. Por
esta perspectiva, o ciúme pode ser considerado fundamentalmente egoísta
à medida que leva o seu possuidor a agir visando com isso tolher os direitos
da pessoa a ela vinculada. Isto é, quando o ciúme se manifesta, não visa
proteger o outro, como erroneamente costuma se pensar, e sim preservar
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a si mesmo de futuras preocupações que lhe sejam custosas em relação
ao investimento amoroso realizado.
Observou-se neste estudo que as concepções acerca do ciúme e suas
formas de manifestação variam bastante, este fato fi cou refl etido na fala
dos participantes. Os sentimentos descritos se misturam em insegurança,
medo da perda, tristeza, ansiedade, desvalia, entre outros, relacionados
ao receio de abandono. Podem-se citar ainda, os sentimentos relacionados
aos casais que percebem o ciúme como algo incentivador na existência
do amor, segurança, satisfação, valorização, alívio, e outros. O ciúme foi
percebido pelos casais participantes desse estudo como o desdobramento
de uma mistura de emoções, que resultam em uma reação frente a uma
ameaça. Há de se ressaltar que provavelmente, dentro de certos limites, o
ciúme pode constituir uma demonstração de preocupação e de interesse
pelo outro, e sinalizar um refl exo desse amor.
Verifi cou-se também, neste estudo, que as causas do ciúme dependem
da personalidade de cada indivíduo. Cabe ressaltar que no decorrer da
pesquisa foi possível identifi car que homens e mulheres sentem ciúme da
mesma forma, e o que os diferencia são as maneiras as quais as pessoas o
manifestam. Das falas relatadas, observa-se como um denominador comum
que o ciúme está mais relacionado à questão da insegurança pela percepção
de não se ter a certeza do amor e da fi delidade do(a) parceiro(a), do que a
uma sinalização positiva de sentimentos de um parceiro pelo outro e ainda
de não se sentir capaz de garantir a durabilidade do relacionamento.
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Endereço para correspondência
thalmeida@usp.br / thiagodealmeida@thiagodealmeida.com.br
Enviado em 16/11/2010
1ª revisão em 20/06/2011
2ª revisão em 16/08/2011
Aceito em 13/10/2011
Ciúme Romântico em Casais Heterossexuais – A. L. Gomes, G. Amboni, T. de Almeida