Visando contribuir com a educação linguística para surdos no Sul Global, a partir de posturas críticas e/ou decoloniais (Anzaldúa,1987; Quijano, 2005; Maldonado-Torres,2020; Santos,2015; Sousa-Santos, 2014), a intencionalidade do presente dossiê foi inspirada em estudos e/ou pesquisas realizadas sob o prisma da Linguística Aplicada Crítica (Pennycook; Makoni, 2019; Penycook, 2019, 2001; Menezes de Sousa, 2019; Kumaravadivelu, 2012; Makoni; Pennycook, 2006; Moita Lopes, 2006; Rajagopalan, 2003), além de outras abordagens teóricas. O objetivo foi problematizar e analisar a crença na concepção de linguagem como uma entidade estática para enfatizar a mobilidade e fluidez entre as línguas, a mescla de identidades e culturas sem o cerco das fronteiras. O comportamento de falantes multilíngues mostra um uso móvel, ilimitado e versátil de mais de uma língua ao mesmo tempo para dar sentido ao mundo ao seu redor. A educação linguística tem assumido muitas formas que continuam a intrigar os/as educadores/as e pesquisadores/as em todo o mundo interpelando o viés monolíngue em salas de aula complexas e multilíngues. Com base em uma perspectiva indisciplinar (Moita Lopes, 2006), acreditamos que nas práticas de salas de aula bi/multilíngues se estabelece um regime meta-discursivo entre falantes dentro e fora da escola. (Garcia, 2009). Através das lentes da criticidade e da decolonialidade, importa o que as pessoas fazem com as suas línguas, em vez de como as línguas são. Nesta edição da Revista Linguagem & Ensino, apresentam-se contribuições de pesquisadores/as do Sul Global, que buscam discutir temas direcionados a uma comunidade que é minoritarizada/marginalizada no Sul Global, a saber - a comunidade surda (Favorito; Silva, 2023). Além disso, problematiza-se o acesso epistêmico e a afirmação de identidades de surdos em em espaços formais e não formais de educação em países do Sul Global. Visa-se apresentar, refletir e discutir estudos desenvolvidos em/fora de sala de aula com o intuito de fomentar e promover iniciativas para ensino-aprendizagem de/para surdos e a valorização das línguas de sinais, em contextos dinâmicos e complexos. São muitos os desafios educacionais, sociais, culturais que instigam nos pesquisadores da área da língua(gem) o desejo de se posicionarem em busca de inovações e de proposições teóricas, metodológicas, didáticas e epistêmicas. Em síntese, esse dossiê é (re)pensado crítica e decolonialmente nesse horizonte, em que a (trans)linguagem se evidencia em suas pluralidades e, por decorrência, realiza-se como espaço de crise e criatividade, como um conjunto de práticas pedagógicas, como discursos, ideologias e políticas potencialmente indisciplinares, transgressoras, híbridas e mestiças (Rocha; Tanzi Neto, 2019; Moita Lopes, 2006), expandindo assim a noção de comunicação para além das palavras e línguas individuais ou nominadas, em favor de processos e práticas de (re)construção de sentidos, ideológica e historicamente situados e ecologicamente constituídos (Canagarajah, 2013, 2017; Rocha; Tanzi Neto, 2019; Ndlovu; Makalela, 2021; Silva; Makalela, 2023). Por fim, esse dossiê se organiza em dois blocos temáticos denominados Translinguagem, decolonialidade e educação bi/multilíngue de surdos e Acesso epistêmico e afirmação de identidades, além de uma seção que apresenta a resenha da obra intitulada Decolonising Multilingualism: recentering silenced voices from the Global South, de autoria de Mércia Regina Santana Flannery.