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ARTIGO ORIGINAL
9
R. bras. Med. Fam. e Comun., Florianópolis, v. 5, n. 17, p. 9-15, jan./dez. 2010
Autopercepção da saúde entre
usuários da Atenção Primária em
Porto Alegre, RS
Self-perceived health of adults users of Primary Health Care Services in
Porto Alegre, RS, Brazil
Milena Rodrigues Agostinho1, Mônica Celestina Oliveira2, Maria Eugênia Bresolin Pinto3,
Giuliano Uhlein Balardin4, Erno Harzheim5
Resumo
A autopercepção da saúde baseia-se em critérios subjetivos e objetivos, sendo inuenciada por fatores como sexo, idade, classe social e
presença de doenças crônicas. Este trabalho descreve a autopercepção da saúde de usuários adultos adscritos à rede de Atenção Primária
à Saúde (APS) de Porto Alegre (RS). Trata-se de um estudo transversal de base populacional, que avaliou a autopercepção da saúde por
meio da pergunta “Comparado com alguém de sua idade e sexo, como você considera sua saúde?”. As respostas foram agrupadas em
“boa” ou “ruim”. Variáveis sociodemográcas e econômicas, biológicas, de estilo de vida, do estado de saúde e da relação com o Serviço
de Saúde ou médico referido foram utilizadas no modelo hierárquico conceitual para auxiliar na descrição da autopercepção de saúde por
meio de regressão de Poisson modicada. De 3.009 usuários, 2.355 (78,3%; IC: 74,9-81,3) referiram ter boa autopercepção de saúde,
dos quais 1.013 (43%; IC: 39,3-46,9) eram homens, 1.229 pertenciam às classes sociais C, D e E (52,2%; IC: 40,2-63,9), 629 (26,7%;
IC: 26,5-30,1) pertenciam à faixa etária de 18 a 30 anos e 626 (26,6%; IC: 21,5-31,5) à faixa etária de 30 a 45 anos. Dos que referiram
boa autopercepção de saúde, 1.075 eram tabagistas (45,7%; IC: 40,9-50,6), 276 consumiam mais de 175g de álcool/semana (11,7%;
IC: 10,2-13,4), 1.197 eram sedentários (51,4%; IC: 49,1-53,7) e 573 possuíam pelo menos uma doença crônica (24,4%; IC: 20,9-28,2).
Pelo modelo hierárquico, observa-se que sexo feminino (RP: 0,92; IC: 0,88-0,95), tabagismo (RP: 0,92; IC: 0,88-0,96), presença de doença
crônica (RP: 0,78; IC: 0,72-0,84) e utilização do Serviço – pelo menos quatro consultas/ano (RP: 0,85; IC: 0,82-0,92) foram fatores que
diminuem a probabilidade de uma pessoa referir boa autopercepção de saúde. Não ter hospitalização (RP: 1,14; IC: 1,06-1,25) e estar
satisfeito com a última consulta (RP: 1,19; IC: 1,11-1,27) aumentaram signicativamente a probabilidade de o usuário avaliar sua saúde
como boa. A autopercepção da saúde mostra-se inuenciada por fatores biológicos, socioeconômicos e de vínculo com o Serviço. Cabe
ressaltar que maior satisfação com Serviço de APS estava associada à melhor autopercepção de saúde, justicando a reorganização do
Sistema Único de Saúde pela ampliação da rede de Serviços de APS, como a Estratégia Saúde da Família.
1 Acadêmica do Curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Bolsista do Grupo de Pesquisa em Atenção
Primária à Saúde de Porto Alegre, Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFRGS, Porto Alegre (RS), Brasil.
2 Estatística; Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFRGS; Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em
Atenção Primária à Saúde de Porto Alegre, Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFRGS, Porto Alegre (RS), Brasil.
3 Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Epidemiologia da UFRGS; Médica de Família e Comunidade; Professora Assistente do
Departamento de Saúde Coletiva da Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA); Pesquisadora do
Grupo de Pesquisa em Atenção Primária à Saúde de Porto Alegre, Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFRGS, Porto
Alegre (RS), Brasil.
4 Psicólogo; Integrante do Grupo de Pesquisa em Atenção Primária à Saúde de Porto Alegre, Programa de Pós-Graduação em
Epidemiologia da UFRGS, Porto Alegre (RS), Brasil.
5 Doutor em Medicina Preventiva e Saúde Pública pela Universidade de Alicante, Espanha; Médico de Família e Comunidade; Professor
Adjunto do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina da UFRGS e do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia
da UFRGS; Líder do Grupo de Pesquisa em Atenção Primária à Saúde de Porto Alegre, Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia
da UFRGS, Porto Alegre (RS), Brasil.
Endereço para contato: Milena Rodrigues Agostinho, Rua Coronel João Correa, 110, apto. 105 – Passo da Areia, Cep: 91350-190 –
Porto Alegre/RS, Telefone: (51) 9293-7559, E-mail: milena.rodrigues.agostinho@gmail.com
Palavras-chave:
Atenção Primária à Saúde
Autoimagem
Estudo transversais
Autopercepção da saúde entre usuários da Atenção Primária em Porto Alegre, RS
10 R. bras. Med. Fam. e Comun., Florianópolis, v. 5, n. 17, p. 9-15, jan./dez. 2010
Abstract
Self-perceived health is based on both subjective and objective criteria and can be inuenced by factors such as gender, age, social
class and existing chronic disease. This paper describes self-perceived health in adults afliated to the network of Primary Health Care
(PHC) in the city of Porto Alegre (RS), Brazil. This is a population-based cross-sectional study. Self-perceived health was assessed based
on the question: “Compared to someone from your age and gender, how would you rate your health?”. Responses were assembled as
“good” or “bad”. Socioeconomic and demographic variables, as well as biological effects, lifestyle, health status and the relationship
between patients and the Health Care System or doctors have been used in the hierarchical conceptual model in order to help the
description of self-perception of health through modied Poisson regression. From 3,009 users, 2,355 (78.3%; CI: 74.9-81.3) believed
to have good self-perceived health. Out of the total 1,013 (43%; CI: 39.3-46.9) were men, 1,229 belonged to C, D and E social classes
(52.2%; CI: 40.2-63.9), 629 (26.7 %; IC: 26.5-30.1) belonged to age 18 to 30 years and 626 (26.6%; IC: 21.5-31.5) to 30 to 45 years
of age. From those having self-perceived their health as “good”, 1,075 smoked (45.7%; CI: 40.9-50.6), 276 consumed more than
175g of alcohol per week (11.7%; CI: 10.2-13.4), 1,197 were sedentary (51.4%; CI: 49.1-53.7) and 573 suffered at least from one
chronic disease (24.4%; CI: 20.9-28.2). By means of hierarchical model, we have observed that the probability of a person referring to
his/her self-perceived health as good, diminished if they were women (PR: 0.92; CI: 0.88-0.95), smokers (PR: 0.92; CI: 0.88-0.96), had
a chronic disease (PR: 0.78; CI: 0.72-0.84), or were users of the Health Services – at least four appointments per year (PR: 0.85; CI:
0.82-0.92). Conversely, not having been hospitalized (PR: 1.14; CI: 1.06-1.25) or been satised with the latest appointment (PR: 1.19;
CI: 1.11-1.27) increased signicantly the probability of a user to assess its health as “good”. Self-perceived health has proved to be
inuenced by biological and socialeconomic factors as well as existing attachment to health services. It should be noted that the more
satised a patient was with PHC services, the better self-perception of health he had, which justies the reorganization of the Brazilian
national health care service (Sistema Único de Saúde) through the extension of present PHC network services, such as the Family Health
Strategy (Estratégia Saúde da Família) program.
Key Words:
Primary Health Care
Self Concept
Cross-sectional Studies
Introdução
A Atenção Primária à Saúde (APS) constitui-se como a por-
ta de entrada do sistema de saúde. Suas principais caracte-
rísticas são: acesso de primeiro contato, a longitudinalidade,
integralidade e coordenação do cuidado, além da orientação
familiar e comunitária e da competência cultural1. A reor-
ganização do Sistema Único de Saúde (SUS), com o forta-
lecimento da APS por meio da Estratégia Saúde da Família
(ESF)2, está auxiliando na diminuição das iniquidades no
acesso aos Serviços de Saúde3 e também na saúde da popu-
lação em geral4-6. Avaliar a saúde da população adscrita às
unidades de Atenção Primária é condição fundamental para
o reconhecimento do território de ação dessas equipes. En-
tre os indicadores recomendados pela Organização Mundial
de Saúde (OMS) para esse processo estão a autopercepção
do estado de saúde, a percepção de doença de longa duração
e a qualidade de vida, ressaltando que os resultados desses
indicadores podem ser comparados a outras populações e
diferentes momentos no tempo7.
A autopercepção da saúde baseia-se em critérios subje-
tivos e objetivos, sendo um bom preditor de mortalidade e
reetindo uma percepção individual, que inclui aspectos bio-
lógicos, psicológicos e sociais8. Ela tem inuência de fatores
como condições socioeconômicas, sexo, idade e presença de
doenças crônicas9,10. É essencial entender como a pessoa per-
cebe sua saúde, pois o seu comportamento é condicionado
pela percepção e pela importância dada a esta11. Muitas ve-
zes, portadores de doenças crônicas não se percebem doentes,
principalmente por não apresentarem sintomas (por exemplo,
hipertensão arterial sistêmica), não serem, ainda, portadores
de incapacidades ou não apresentarem, em dado momento,
outras comorbidades. Em estudo10 que avaliou a percepção de
saúde, evidenciou-se que homens percebem menos sua saúde
como ruim quando comparado às mulheres, o que afeta a uti-
lização dos Serviços de Saúde por esses usuários.
A APS permite aos prossionais formarem um forte e con-
tínuo vínculo com a população atendida (longitudinalidade),
o que favorece a promoção de saúde, a prevenção de doenças
e o diagnóstico precoce. Um dos recursos que favorece o de-
sempenho dos prossionais de saúde é o conhecimento da co-
munidade em que o paciente habita, focando seu trabalho não
na doença, mas nas pessoas e em seu ambiente físico, social e
cultural (orientação comunitária). Desse modo, exploram-se
as inter-relações entre as várias dimensões da saúde, obtendo
uma percepção integrada do indivíduo10 (integralidade). A
doença não se refere apenas à dor física e ao desconforto, mas
também às consequências sociais e psicológicas de conviver
com o processo de adoecimento.
O presente estudo teve por objetivo descrever a autoper-
cepção da saúde de usuários adultos adscritos à rede de APS
de Porto Alegre (RS), identicando os fatores associados à
boa percepção de saúde.
Métodos
Foram utilizados os dados de um estudo transversal de base
populacional realizado nos Serviços de APS do município de
Porto Alegre12. Participaram deste estudo usuários adultos,
Agostinho MR, Oliveira MC, Pinto MEB, Balardin GU, Harzheim E
11
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maiores de 18 anos, residentes nas áreas geográcas cobertas
pela rede pública de APS e de um Serviço privado. A amostra-
gem foi realizada por conglomerados, sendo calculada para es-
tudos transversais comparativos e para descrição de proporções,
com amostra total igual a 3.009 usuários. A coleta dos dados
foi realizada no período de agosto de 2006 a junho de 2007.
Entre as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e a ESF, foram
selecionados aleatoriamente 50% das equipes de cada gerên-
cia distrital. Todas as unidades de APS do Grupo Hospitalar
Conceição (GHC), que conta com 12 unidades, do Centro
de Saúde Escola Murialdo (CSEM), que tem 7 unidades, e
da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Bra-
sil (CASSI), que conta com 5 unidades, foram incluídas na
avaliação. Com base na estimativa de adultos por domicílio,
foram sorteados aleatoriamente setores censitários para cada
unidade de serviço amostrado. Dentro do setor censitário
amostrado, foram selecionados domicílios de forma siste-
mática, sendo entrevistados todos os moradores adultos que
preencheram os critérios de inclusão. Na CASSI, a amos-
tragem dos adultos ocorreu proporcionalmente ao número
de usuários cadastrados nas equipes e também foi obtida
por amostragem aleatória simples. Todos os adultos dessas
famílias foram contatados para participar do estudo.
Os adultos que preenchiam os critérios de inclusão e
aceitaram participar da pesquisa, após leitura e assinatura
do termo de consentimento livre e esclarecido, foram entre-
vistados. Foram excluídos os indivíduos que não apresenta-
ram condições físicas ou mentais para responder ao questio-
nário, que realizaram sua última consulta em um Serviço de
Saúde de Porto Alegre antes de janeiro de 1996 (antes da
municipalização) ou que referiram um Serviço de Saúde fora
de Porto Alegre. Maior detalhamento da metodologia utili-
zada pode ser livremente acessado no artigo de referência12.
Utilizou-se, para a coleta das informações, um questionário
geral, estruturado e composto por três instrumentos distintos:
1. questionário sobre a qualidade da APS: Instrumento
de Avaliação da Atenção Primária, na sua versão adulto
(PCATool-Brasil, Adult Primary Care Assessment Tool),
composto por blocos de perguntas que correspondem aos
atributos da APS (acesso, longitudinalidade, integralidade,
coordenação, orientação familiar e orientação comunitária)
e por três perguntas iniciais que medem o grau de aliação
ao Serviço de Saúde. As respostas são do tipo Likert13;
2. questionário estruturado com variáveis sociodemográ-
cas e sobre os fatores de risco cardiovasculares;
3. questionário de satisfação do usuário (validado no Brasil,
composto por 12 perguntas sobre os distintos aspectos
da atenção – acesso, cordialidade, conança, atuação do
médico, orientações, marcação de consultas, avaliação
geral – e com respostas tipo Likert de 1-5, representadas
por guras de faces com cinco expressões distintas de
satisfação, que variam de “muito ruim” a “muito boa”)14.
A autopercepção da saúde foi avaliada por meio da per-
gunta “Comparado com alguém de sua idade e sexo, como
você considera sua saúde?”. As respostas foram agrupadas
em duas categorias: boa autopercepção de saúde foi denida
pelas respostas “muito boa” e “boa”, e ruim, pelas respostas
“regular”, “ruim” e “muito ruim”. O estrato social foi de-
nido por meio do Critério Brasil 2008 da Associação Brasi-
leira de Institutos de Pesquisa de Mercado (Abipeme). Para
cor da pele, utilizou-se a cor referida pelo entrevistado, mes-
ma estratégia utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geogra-
a e Estatística (IBGE). A comorbidade expressa a presença
de pelo menos um dos desfechos crônicos avaliados (diabetes
mellitus, hipertensão, cardiopatia isquêmica e obesidade).
Escolaridade foi denida por número de anos completos de
estudo. Foi estipulado um ponto de corte como prejudicial
à saúde o consumo de álcool acima de 175g por semana15.
Moradia era considerada não-segura quando construída com
papelão, lata ou madeira irregular.
As variáveis utilizadas no modelo hierárquico conceitual
(Figura 1) para auxiliar na descrição da autopercepção de
saúde foram: idade, sexo, cor da pele, estado marital, classe
Nível 1 Socioeconômico Biológico
Classe social Idade
Escolaridade Sexo
Renda Cor
Estado marital
Renda familiar
Ocupação
Nível 2 Fatores ambientais Assistência a Saúde
Falta de
saneamento básico
Frequência de utilização
do Serviço de Saúde
Aglomerado
familiar
Hospitalização
Tipo de moradia Satisfação
Imunização
Médico de referência
Nível 3 Estilo de vida
Sedentarismo
Tabagismo
Consumo de álcool
Nível 4 Presença de
doença crônica
Hipertensão
Diabete melitus
Cardiopatia isquêmica
Desfecho Percepção de saúde
Figura 1: Modelo hierárquico conceitual.
Autopercepção da saúde entre usuários da Atenção Primária em Porto Alegre, RS
12 R. bras. Med. Fam. e Comun., Florianópolis, v. 5, n. 17, p. 9-15, jan./dez. 2010
com o desfecho (grau de autopercepção de saúde) foi avalia-
da no nível hierárquico a que estas pertencem. Uma signi-
cância )0,20 foi adotada para permanência da variável no
modelo multivariado, de acordo como ajuste observado no
seu nível hierárquico. As análises estatísticas foram realiza-
das no programa STATA versão 9, por meio da regressão de
Poisson modicada, controlando-se para efeito de clusters
do processo de amostragem. Foi adotado nível de signicân-
cia de 5% em todas as análises12.
Resultados
Foram entrevistados 3.009 usuários adultos, apresentando
idade média de 45,7 anos (DP: 17,3), cor autorreferida pre-
dominantemente branca (68,5%; IC95%: 61,4-74,8%) e
59,5% (IC95%: 55,8-63%) eram mulheres. A escolaridade
média encontrada foi de 9,5 anos (DP: 4,69). A popula-
ção apresentou renda per capita média de R$ 956,20 (DP:
R$1.286,5) e renda familiar média de R$2.776,70 (DP:
R$3.251,50), sendo que classes sociais C, D ou E continham
55,3% dos entrevistados. As características sociodemográ-
cas e econômicas da população podem ser encontradas na
Tabela 1. Observa-se que 30,6% (IC95%: 26,8-34,6%) dos
entrevistados estavam empregados (com carteira assinada
ou não), 25,2% (IC95%: 20-31,1%) recebiam algum tipo
de benefício (aposentadoria, auxílio-doença ou pensionista),
e 7,14% (IC95%: 5,1-9,9%) eram desempregados. Sane-
amento básico, água encanada e coleta adequada de lixo
por caminhão estavam presentes em 98,2% (IC95%: 97,3-
98,8%) das casas visitadas, sendo essas moradias qualica-
das como construídas com segurança em 97,27% (IC95%:
95,6-98,3%) dos casos.
O estado de saúde da população também está apresenta-
do na Tabela 1, abordando alguns aspectos como presença
de doenças crônicas e fatores de risco à saúde. Hipertensão
atingiu valores de 25%, enquanto diabetes mellitus e cardio-
patia isquêmica 7,1 e 5,8%, respectivamente. Relevante
presença de fatores de risco, como sedentarismo (51,9%;
IC95%: 49,5-54,3%), tabagismo (47,6%; IC95%: 43,1-
52,2%) e consumo de álcool a cima de 175g por semana
(11,3%; IC95%: 10,0-12,8%) foram encontrados nessa
amostra. Ao se observar a utilização do Serviço de Saúde,
os usuários realizaram, em média, 3,8 (DP: 5,523) consul-
tas nos últimos 12 meses, sendo que a satisfação na última
consulta atingia valores de 84,3% (IC95%: 77,5-89,4%).
Cerca de 50% dos entrevistados possuíam médico de re-
ferência, sendo principalmente atendidos por equipes de
ESF (19,2%; IC95%: 9,6-34,7%), atendimento particular
(19,2%; IC95%: 3,3-62,7%) ou hospitais e pronto atendi-
Variáveis Sociodemográcas Média (DP)/%(IC)
Idade (anos) 45,8 (17,3)
Sexo
Masculino 40,5 (37,0-44,2)
Feminino 59,5 (55,8-63,0)
Escolaridade (anos completos) 9,5 (4,7)
Cor da pele
Brancos 68,5 (61,4-74,8)
Não brancos 31,5 (25,2-38,6)
Classe Social
AB 44,7 (33,5-56,5)
CDE 55,3 (43,5-66,5)
Estado marital
Casado 61,1 (59,3-62,9)
Solteiro 22,1 (19,9-24,5)
Viúvo/divorciado 16,8 (15,3-18,3)
Renda per capita (R$) 956,2 (1.286,5)
Renda familiar (R$) 2776,7 (3251,5)
Ocupação
Empregado 30,5 (26,8-34,5)
Autônomo/dono 14,3 (12,5-16,2)
Com benefício 25,2 (20,0-31,1)
Estudante/dona de casa 22,9 (21,0-24,9)
Desempregado 7,1 (5,1-9,9)
Saneamento básico 98,2 (97,2-98,8)
Moradores por casa 3,6 (1,6)
Moradia segura 97,3 (95,6-98,3)
Estado de saúde Média (DP)/%(IC)
Hipertensão arterial 25,2 (22,2-28,6)
Diabetes mellitus 7,1 (5,8-8,6)
Cardiopatia isquêmica 5,8 (4,6-7,4)
Sedentarismo 51,9 (49,5-54,3)
Tabagismo 47,6 (43,1-52,2)
Consumo de álcool (≥175g/sem) 11,3 (10,0-12,8)
Utilização do serviço Média (DP)/%(IC)
Consultas nos últimos 12 meses 3,82 (5,523)
Satisfação na última consulta 84,3 (77,5-89,3)
Serviço aliado
ESF 19,2 (9,6-34,7)
US 9,9(4,8-19,5)
CSE Murialdo 6,2 (2,3-15,4)
SSC-HNSC 4,4 (1,8-10,3)
CASSI 6,4 (2,2-17,3)
Ambulatório/PS 9,9 (1,4-46,6)
Particular 19,2 (3,3-62,7)
SMET 2,1 (0,4-9,8)
Clínica Domiciliar 2,3 (0,4-11,1)
Hospitais e Pronto Atendimento 20,2 (6,9-46,2)
Médico de referência 48,1 (41,4-54,9)
Imunização Gripe/pneumococo 16,1 (13,2-19,4)
Hospitalização em 12 meses 10,3 (8,4-12,5)
Tabela 1: Características da população adscrita aos Serviços de
Atenção Primária à Saúde, Porto Alegre, 2007
DP: Desvio-padrão; IC: intervalo de conança; ESF: Estratégia Saúde da Família; US: Unidade de Saúde;
CSE Murialdo: Centro de Saúde Escola Murialdo; SSC-HNSC: Serviço de Saúde Comunitária do Hospital
Nossa Senhora da Conceição; CASSI: Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil.
social, educação, renda, ocupação, saneamento básico, aglo-
merado familiar, tipo de moradia, imunização (vacina para
gripe e pneumococo), tabagismo, consumo de álcool, seden-
tarismo, presença de doenças crônicas, hospitalizações, tipo
de Serviço, médico de referência, frequência de utilização do
serviço e satisfação. A associação das variáveis explicativas
Agostinho MR, Oliveira MC, Pinto MEB, Balardin GU, Harzheim E
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R. bras. Med. Fam. e Comun., Florianópolis, v. 5, n. 17, p. 9-15, jan./dez. 2010
Tabela 2: Associação entre variáveis demográcas e socioeconômicas com autopercepção de saúde, Porto Alegre, 2007
ESF: Estratégia Saúde da Família; US: Unidade de Saúde; CSE Murialdo: Centro de Saúde Escola Murialdo; SSC-HNSC: Serviço de Saúde Comunitária do Hospital Nossa Senhora da Conceição ; CASSI: Caixa de
Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil.
Variáveis socioeconômicas
e sociodemográcas
Autopercepção de Saúde
Ruim %(IC) Boa %(IC) Valor de p
Sexo <0,001
Masculino 31,7 (27,3-36,4) 43,0 (39,3-46,9)
Feminino 68,3 (63,6-72,7) 57,0 (53,2-60,7)
Classe social <0,001
AB 33,6 (24,9-43,7) 47,8 (36,1-59,8)
CDE 66,4 (56,3-75,2) 52,2 (40,2-63,9)
Escolaridade (anos completos) <0,001
0 5,8 (3,9-8,5) 1,9 (1,3-2,8)
1-8 49,0 (40,6-57,4) 38,8 (29,4-49,2)
9-12 29,7 (25,2-34,7) 35,2 (32,5-38,0)
≥13 anos 15,5 (9,8-23,6) 24,1 (14,8-36,7)
Idade estraticada (anos)
18-30 24,9 (19,7-31,0) 26,7 (26,5-30,1) 0,02
31-45 20,5 (17,4-24,0) 26,6 (21,5-32,5)
46-57 27,8 (23,1-33,1) 23,7 (21,4-26,3)
≥58 26,8 (20,2-34,5) 23,0 (17,5-29,6)
Cor autorreferida 0,18
Branca 65,39 (59,2-71,1) 69,4 (61,6-76,2)
Não-branca 34,6 (28,9-40,8) 30,6 (23,8-38,4)
Estado narital 0,05
Casado 59,1 (55,1-62,96) 61,7 (59,7-63,6)
Solteiro 20,7 (16,9-25,0) 22,5 (20,4-24,8)
Viúvo/divorciado 20,2 (16,2-24,9) 15,8 (14,6-17,1)
Renda familiar (R$) <0,001
>3.200 16,1 (9,7-25,7) 27,3 (16,2-42,2)
1.601 | - |3.200 19,3 (15,0-24,3) 25,7 (22,5-29,1)
831 | - | 1.600 30,6 (25,8-35,8) 24,4 (19,0-30,9)
361| - |830 24,0 (18,2-31,0) 16,0 (11,4-21,8)
0| - |360 10,03 (7,2-13,8) 6,6 (5,37-8,08)
Ocupação <0,001
Empregado 25,3 (20,8-30,3) 32,0 (28,0-36,4)
Autônomo/dono 11,8 (9,4-14,7) 15,0 (13,1-17,0)
Com benefício 31,1 (24,6-38,4) 2,4 (18,3-29,6)
Estudante/do lar/outros 24,0 (21,2-27,1) 22,6 (20,5-24,7)
Desempregado 7,8 (5,4-11,2) 7,0 (4,8-9,9)
Saneamento básico
Presença 97,4 (95,2-98,6) 98,4 (97,5-99,0) 0,09
Ausência 2,6 (1,4-4,8) 1,6 (1,0-2,5)
Moradores por casa
1| - |2 28,1 (23,7-33,0) 26,0 (20,8-31,9) 0,022
3| - |5 57,8 (54,5-61,0) 63,3 (59,9-66,5)
6| - |13 14,1 (10,16-19,3) 10,7 (7,3-15,5)
Tipo de moradia
Material seguro 95,9 (92,7-97,7) 97,7 (96,0-98,6) 0,054
Material não seguro 4,1 (2,3-7,2) 2,3(1,4-4,0)
Estado de saúde Ruim %(IC) Boa %(IC) Valor de p
Imunização (gripe/
pneumococo)
0,2
Não vacinado 82,2 (77,0-86,4) 84,4 (81,2-87,1)
Vacinado 17,8 (13,6-23,0) 15,6 (12,8-18,8)
Tabagismo <0,001
Não tabagista 45,5 (41,8-49,2) 54,3 (49,4-59,1)
Tabagista 54,5 (50,8-58,1) 45,7 (40,9-50,6)
Consumo de álcool (g/
semana)
0,2
0| - 175 90,1 (87,4-92,2) 88,3 (86,6-89,7)
≥175 9,9 (7,8-12,6) 11,7(10,3-13,4)
Sedentarismo 0,3
Não Sedentário 46,2 (41,6-51,0) 48,6 (46,3-50,9)
Sedentário 53,7 (49,0-58,4) 51,4 (49,1-53,7)
Doença crônica <0,001
Ausência 53,36 (47,8-58,9) 75,6 (71,8-79,1)
Presença 46,6 (41,1-52,2) 24,4 (20,9-28,2)
Hospitalização nos últimos
12 meses
<0,001
Sim 15,4 (12,6-18,8) 8,84 (7,0-11,1)
Não 84,6 (81,2-87,4) 91,2 (88,9-93,0)
Utilização do serviço Ruim % (IC) Boa % (IC) Valor de p
Serviço aliado <0,001
ESF 22,5 (12,3-37,5) 18,3 (8,9-34,0)
US 11,3 (6,0-20,2) 9,6 (4,4-19,5)
CSE Murialdo 8,1 (3,3-18,5) 5,7 (2,1-14,6)
SSC-HNSC 6,3 (2,8-13,5) 4,0 (1,6-9,6)
CASSI 5,2 (1,7-14,6) 6,7 (2,3-18,2)
Ambulatório/PS 9,0 (1,3-43,3) 10,1 (1,4-47,6)
Particular 13,6 (2,1-53,0) 20,8 (3,6-64,8)
Serviço Médico no
Trabalho
1,7 (0,3-8,3) 21,7 (0,4-10,2)
Clínica Domiciliar 1,7 (0,3-8,3) 2,4 (0,4-11,9)
Hospitais e Pronto
Atendimento
20,6 (7,3-46,2) 20,1 (6,8-46,4)1
Médico de referência 0,006
Possui 52,0 (45,1- 58,9) 47,0 (40,2-54,0)
Não possui 48,0 (4,1-54,9) 53,0 (46,0-59,8)
Consultas nos últimos 12
meses
<0,001
<4 63,7 (58,4-68,6) 77,2 (71,8-81,9)
≥4 36,3 (31,3-41,5) 22,8 (18,1-28,2)
Satisfação na última
consulta
<0,001
Não satisfeito 22,8 (17,5-29,1) 13,6 (8,8-20,4)
Satisfeito 7,7 (70,8-82,5) 86,4 (79,6-91,2)
mento (20,2%; IC95%: 7-46,2%). Hospitalização nos últi-
mos 12 meses, por qualquer motivo, foi observada em cerca
de 10% dos entrevistados.
Boa autopercepção de saúde foi referida por 2.355
(78,3%; IC95%: 74,9-81,3%), dos quais 1.013 (43%;
IC95%: 39,3-46,9%) eram homens, como pode ser obser-
vado na Tabela 2. Indivíduos na faixa etária de 18 a 45 anos
perceberam a sua saúde melhor do que os com idade supe-
rior a 46 anos. As classes sociais C, D e E (52,2%; IC95%:
40,2-63,9%) apresentaram melhor autopercepção de saúde.
Em relação aos hábitos de vida, 1.075 indivíduos eram ta-
bagistas (45,7%; IC95%: 40,9-50,6%), 1.197 eram seden-
tários (45,7%; IC95%: 40,9-50,6%), 276 consomem mais
de 175g de álcool/semana (11,7%; IC95%: 10,2-13,4%)
Autopercepção da saúde entre usuários da Atenção Primária em Porto Alegre, RS
14 R. bras. Med. Fam. e Comun., Florianópolis, v. 5, n. 17, p. 9-15, jan./dez. 2010
Tabela 3: Variáveis associadas a boa autopercepção de saúde entre
os usuários da rede de Atenção Primária à Saúde, Porto Alegre, 2007
Socioeconômicas
Modelo de Poisson
Univariado
Modelo de Poisson
Multivariado
RP Valor de p RP IC (95%) Valor de p
Classe social
CDE 1 - 1 - -
AB 1,13 0,000 1,01 0,97-1,06 0,470
Renda familiar (R$)
> 3.200 1 - 1 - -
1.601 | - |3.200 0,96 0,154 0,93 0,82-1,06 0,277
831 | - | 1.600 0,86 <0,001 0,98 0,89-1,08 0,708
361| - |830 0,82 <0,001 1,07 0,94-1,20 0,274
0| - |360 0,82 <0,001 1,09 0,99-120 0,069
Escolaridade
(anos completos)
01-1 - -
1-8 anos 1,38 <0,001 1,24 1,03-1,50 0,021
9-12 anos 1,51 <0,001 1,28 1,06-1,53 0,008
≥13 anos 1,58 <0,001 1,26 1,04-1,52 0,014
Idade (anos)
18-30 1 - 1 - -
31-45 1,03 0,145 1,04 0,99-1,10 0,086
46-57 0,95 0,186 1,01 0,92-1,05 0,551
≥58 0,95 0,065 1,03 0,97-1,08 0,359
Sexo
Masculino 1 - 1 - -
Feminino 0,90 <0,001 0,94 0,91-0,97 <0,001
Tipo de moradia
Material seguro 1 - 1 - -
Material não-seguro 0,85 0,102 0,91 0,74-1,12 0,381
Estado de saúde
Modelo de Poisson
Univariado
Modelo de Poisson
Multivariado
RP Valor de p RP IC (95%) Valor de p
Tabagismo
Não tabagista 1 - 1 - -
Tabagista 0,92 <0,001 0,96 0,92 - 1,00 0,059
Consumo de álcool (g/
semana)
0| - 175 1 - - - -
≥175 0,98 0,351 - - -
Doenças crônicas
Ausência 1 - 1 - -
Presença 0,78 <0,001 0,81 0,76-0,87 <0,001
Hospitalização nos últimos
12 meses
Sim 1 - 1 - -
Não 1,18 <0,001 1,09 1,01 -1,19 0,040
Utilização do Serviço
Modelo de Poisson
Univariado
Modelo de Poisson
Multivariado
RP Valor de p RP IC (95%) Valor de p
Consultas nos últimos 12
meses
<4 1 - 1 - -
≥4 0,86 <0,001 0,89 0,85-0,93 <0,001
Satisfação na última
consulta
Não satisfeito 1 - 1 - -
Satisfeito 1,19 <0,001 1,17 1,10-1,24 <0,001
e 573 possuem pelo menos uma doença (24,4%; IC95%:
20,9-28,2%); todos esses perceberam sua saúde como boa
(Tabela2). Em moradias com três a cinco habitantes, encon-
trou-se a maior porcentagem de boa autoperceção (63,3%;
IC95%: 59,9-66,5%) bem como em famílias cuja renda
era superior a R$3.200,00 por mês (27,3%; IC95%: 16,2-
42,2%) e entre indivíduos que estavam empregados (32%;
IC95%: 28-36,4%) (Tabela 2).
Pelo modelo hierárquico univariado, observa-se que
variáveis dos diferentes níveis, como sexo feminino (RP:
0,92; IC95%: 0,88-0,95), tabagismo (RP: 0,92; IC95%:
0,88-0,96), presença de doença crônica (RP: 0,78; IC95%:
0,72-0,84) e utilização do Serviço – pelo menos quatro con-
sultas/ano (RP: 0,85; IC95%: 0,82-0,92), são fatores que
diminuem a probabilidade de uma pessoa referir boa auto-
percepção de saúde. Não ter hospitalização no último ano
(RP: 1,14; IC95%: 1,06-1,25) e estar satisfeito com a úl-
tima consulta (RP: 1,19; IC95%: 1,11-1,27) aumentaram
signicativamente a probabilidade de o usuário avaliar sua
saúde como boa (Tabela 3).
Ajustando um modelo multivariado com essas variáveis,
identica-se que algumas delas perdem a signicância es-
tatística, mas a relação com a boa autopercepção em saú-
de se mantém na mesma direção. Nessa análise, as variá-
veis “ter hospitalização no último ano” (RP: 1,09; IC95%:
1,01-1,19), “satisfação com a última consulta” (RP: 1,17;
IC95%: 1,10-1,24) e escolaridade (1 a 8 anos, RP: 1,24;
IC95%: 1,03-1,50; 9 a 12 anos, RP: 1,28; IC95%: 1,06-
1,53; * 13 anos, RP: 1,26; IC95%: 1,04-1,52) foram as
mais signicativas (Tabela 3).
Discussão
Neste estudo, a autopercepção de saúde foi considerada
boa pela maioria dos indivíduos, semelhante ao que foi
encontrado para Porto Alegre em estudo realizado pelo
Instituto Nacional do Câncer (INCA) em 2002-20039.
Entretanto, neste estudo, não ocorreu associação signica-
tiva entre a ausência de doenças crônicas e fatores de risco
à saúde, que em outros estudos apresentavam associação
independente9,16.
Fatores socioeconômicos, como escolaridade, classe social
e renda, atuaram de maneira signicativa na descrição da au-
topercepção da saúde. Em indivíduos com escolaridade mais
elevada (acima de 13 anos), a boa autopercepção de saúde foi
menos referida (18%) em comparação àqueles de menor esco-
laridade (1 a 8 anos) que apresentaram 30% de boa percepção
de saúde. Esse fato se repetiu quando foi avaliada a amostra
por classe social, pois classes sociais A e B referiram ter boa
Agostinho MR, Oliveira MC, Pinto MEB, Balardin GU, Harzheim E
15
R. bras. Med. Fam. e Comun., Florianópolis, v. 5, n. 17, p. 9-15, jan./dez. 2010
autopercepção de saúde em menor proporção do que as classes
C, D e E. Isso poderia ser atribuído a uma maior expectativa
do signicado de boa saúde para as classes sociais mais altas,
inuenciada diretamente pela menor prevalência e incidência
de doença nesses segmentos sociais3,17-19.
Os indivíduos em faixas etárias mais elevadas referiram
pior autopercepção de saúde do que os mais novos, assim
como em outros estudos20,21. Segovia et al.22 mostraram
que a percepção do nível de saúde está associada à adoção
de comportamentos promotores de saúde, e as evidências
indicam que a prevalência de comportamentos de risco é
maior entre sujeitos com percepção negativa de saúde, isto
é, aqueles que consideram sua saúde atual como regular
ou ruim22. Neste estudo, observamos que indivíduos com
fatores de risco à saúde como tabagismo e sedentarismo,
além da presença de doenças crônicas já estabelecidas,
consideravam sua saúde de maneira positiva, evidenciando
uma variação entre o estado real de saúde do paciente e sua
autopercepção.
Essa avaliação contemplou apenas a experiência dos usu-
ários e de forma quantitativa, não abordando questões que
podem ser avaliadas qualitativamente. Por se tratar de um
estudo transversal, os resultados aqui discutidos não estão
livres da causalidade reversa. Quando dene-se no modelo
hierárquico “doença crônica” como determinante da auto-
percepção de saúde, não se há garantia de que essa relação
seja inversa, isto é, que ter boa autopercepção de saúde leve
à ausência de doenças crônicas.
Conclusões
A utilização da autopercepção de saúde para explicar o pro-
cesso saúde-doença depende de suas características subjeti-
vas, nas quais também se inserem suas limitações. Esta tam-
bém pode ser inuenciada pela cultura, expectativas, visão
de mundo e pela personalidade dos indivíduos, entretanto,
por ser de fácil aplicação, pode ser usada tanto em pesquisa,
como na prática clínico-assistencial, em diferentes momen-
to para acompanhar a evolução da saúde dos pacientes.
Neste estudo, a boa autopercepção da saúde mostra-se
inuenciada por fatores biológicos, socioeconômicos e de
vínculo com o Serviço. Cabe ressaltar que maior satisfação
com Serviço de APS estava associada à melhor autopercep-
ção de saúde, justicando a reorganização do Sistema Único
de Saúde (SUS) por meio da ampliação da rede de serviços
de APS, como a ESF.
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