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Abstract and Figures

Self-perceived health is based on both subjective and objective criteria and can be influenced by factors such as gender, age, social class and existing chronic disease. This paper describes self-perceived health in adults affiliated to the network of Primary Health Care (PHC) in the city of Porto Alegre (RS), Brazil. This is a population-based cross-sectional study. Self-perceived health was assessed based on the question: “Compared to someone from your age and gender, how would you rate your health?”. Responses were assembled as “good” or “bad”. Socioeconomic and demographic variables, as well as biological effects, lifestyle, health status and the relationship between patients and the Health Care System or doctors have been used in the hierarchical conceptual model in order to help the description of self-perception of health through modified Poisson regression. From 3,009 users, 2,355 (78.3%; CI: 74.9-81.3) believed to have good self-perceived health. Out of the total 1,013 (43%; CI: 39.3-46.9) were men, 1,229 belonged to C, D and E social classes (52.2%; CI: 40.2-63.9), 629 (26.7 %; IC: 26.5-30.1) belonged to age 18 to 30 years and 626 (26.6%; IC: 21.5-31.5) to 30 to 45 years of age. From those having self-perceived their health as “good”, 1,075 smoked (45.7%; CI: 40.9-50.6), 276 consumed more than 175g of alcohol per week (11.7%; CI: 10.2-13.4), 1,197 were sedentary (51.4%; CI: 49.1-53.7) and 573 suffered at least from one chronic disease (24.4%; CI: 20.9-28.2). By means of hierarchical model, we have observed that the probability of a person referring to his/her self-perceived health as good, diminished if they were women (PR: 0.92; CI: 0.88-0.95), smokers (PR: 0.92; CI: 0.88-0.96), had a chronic disease (PR: 0.78; CI: 0.72-0.84), or were users of the Health Services – at least four appointments per year (PR: 0.85; CI: 0.82-0.92). Conversely, not having been hospitalized (PR: 1.14; CI: 1.06-1.25) or been satisfied with the latest appointment (PR: 1.19; CI: 1.11-1.27) increased significantly the probability of a user to assess its health as “good”. Self-perceived health has proved to be influenced by biological and socialeconomic factors as well as existing attachment to health services. It should be noted that the more satisfied a patient was with PHC services, the better self-perception of health he had, which justifies the reorganization of the Brazilian national health care service (Sistema Único de Saúde) through the extension of present PHC network services, such as the Family Health Strategy (Estratégia Saúde da Família) program.
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ARTIGO ORIGINAL
9
R. bras. Med. Fam. e Comun., Florianópolis, v. 5, n. 17, p. 9-15, jan./dez. 2010
Autopercepção da saúde entre
usuários da Atenção Primária em
Porto Alegre, RS
Self-perceived health of adults users of Primary Health Care Services in
Porto Alegre, RS, Brazil
Milena Rodrigues Agostinho1, Mônica Celestina Oliveira2, Maria Eugênia Bresolin Pinto3,
Giuliano Uhlein Balardin4, Erno Harzheim5
Resumo
A autopercepção da saúde baseia-se em critérios subjetivos e objetivos, sendo inuenciada por fatores como sexo, idade, classe social e
presença de doenças crônicas. Este trabalho descreve a autopercepção da saúde de usuários adultos adscritos à rede de Atenção Primária
à Saúde (APS) de Porto Alegre (RS). Trata-se de um estudo transversal de base populacional, que avaliou a autopercepção da saúde por
meio da pergunta “Comparado com alguém de sua idade e sexo, como você considera sua saúde?”. As respostas foram agrupadas em
“boa” ou “ruim”. Variáveis sociodemográcas e econômicas, biológicas, de estilo de vida, do estado de saúde e da relação com o Serviço
de Saúde ou médico referido foram utilizadas no modelo hierárquico conceitual para auxiliar na descrição da autopercepção de saúde por
meio de regressão de Poisson modicada. De 3.009 usuários, 2.355 (78,3%; IC: 74,9-81,3) referiram ter boa autopercepção de saúde,
dos quais 1.013 (43%; IC: 39,3-46,9) eram homens, 1.229 pertenciam às classes sociais C, D e E (52,2%; IC: 40,2-63,9), 629 (26,7%;
IC: 26,5-30,1) pertenciam à faixa etária de 18 a 30 anos e 626 (26,6%; IC: 21,5-31,5) à faixa etária de 30 a 45 anos. Dos que referiram
boa autopercepção de saúde, 1.075 eram tabagistas (45,7%; IC: 40,9-50,6), 276 consumiam mais de 175g de álcool/semana (11,7%;
IC: 10,2-13,4), 1.197 eram sedentários (51,4%; IC: 49,1-53,7) e 573 possuíam pelo menos uma doença crônica (24,4%; IC: 20,9-28,2).
Pelo modelo hierárquico, observa-se que sexo feminino (RP: 0,92; IC: 0,88-0,95), tabagismo (RP: 0,92; IC: 0,88-0,96), presença de doença
crônica (RP: 0,78; IC: 0,72-0,84) e utilização do Serviço – pelo menos quatro consultas/ano (RP: 0,85; IC: 0,82-0,92) foram fatores que
diminuem a probabilidade de uma pessoa referir boa autopercepção de saúde. Não ter hospitalização (RP: 1,14; IC: 1,06-1,25) e estar
satisfeito com a última consulta (RP: 1,19; IC: 1,11-1,27) aumentaram signicativamente a probabilidade de o usuário avaliar sua saúde
como boa. A autopercepção da saúde mostra-se inuenciada por fatores biológicos, socioeconômicos e de vínculo com o Serviço. Cabe
ressaltar que maior satisfação com Serviço de APS estava associada à melhor autopercepção de saúde, justicando a reorganização do
Sistema Único de Saúde pela ampliação da rede de Serviços de APS, como a Estratégia Saúde da Família.
1 Acadêmica do Curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Bolsista do Grupo de Pesquisa em Atenção
Primária à Saúde de Porto Alegre, Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFRGS, Porto Alegre (RS), Brasil.
2 Estatística; Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFRGS; Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em
Atenção Primária à Saúde de Porto Alegre, Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFRGS, Porto Alegre (RS), Brasil.
3 Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Epidemiologia da UFRGS; Médica de Família e Comunidade; Professora Assistente do
Departamento de Saúde Coletiva da Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA); Pesquisadora do
Grupo de Pesquisa em Atenção Primária à Saúde de Porto Alegre, Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFRGS, Porto
Alegre (RS), Brasil.
4 Psicólogo; Integrante do Grupo de Pesquisa em Atenção Primária à Saúde de Porto Alegre, Programa de Pós-Graduação em
Epidemiologia da UFRGS, Porto Alegre (RS), Brasil.
5 Doutor em Medicina Preventiva e Saúde Pública pela Universidade de Alicante, Espanha; Médico de Família e Comunidade; Professor
Adjunto do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina da UFRGS e do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia
da UFRGS; Líder do Grupo de Pesquisa em Atenção Primária à Saúde de Porto Alegre, Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia
da UFRGS, Porto Alegre (RS), Brasil.
Endereço para contato: Milena Rodrigues Agostinho, Rua Coronel João Correa, 110, apto. 105 – Passo da Areia, Cep: 91350-190 –
Porto Alegre/RS, Telefone: (51) 9293-7559, E-mail: milena.rodrigues.agostinho@gmail.com
Palavras-chave:
Atenção Primária à Saúde
Autoimagem
Estudo transversais
Autopercepção da saúde entre usuários da Atenção Primária em Porto Alegre, RS
10 R. bras. Med. Fam. e Comun., Florianópolis, v. 5, n. 17, p. 9-15, jan./dez. 2010
Abstract
Self-perceived health is based on both subjective and objective criteria and can be inuenced by factors such as gender, age, social
class and existing chronic disease. This paper describes self-perceived health in adults afliated to the network of Primary Health Care
(PHC) in the city of Porto Alegre (RS), Brazil. This is a population-based cross-sectional study. Self-perceived health was assessed based
on the question: “Compared to someone from your age and gender, how would you rate your health?”. Responses were assembled as
“good” or “bad”. Socioeconomic and demographic variables, as well as biological effects, lifestyle, health status and the relationship
between patients and the Health Care System or doctors have been used in the hierarchical conceptual model in order to help the
description of self-perception of health through modied Poisson regression. From 3,009 users, 2,355 (78.3%; CI: 74.9-81.3) believed
to have good self-perceived health. Out of the total 1,013 (43%; CI: 39.3-46.9) were men, 1,229 belonged to C, D and E social classes
(52.2%; CI: 40.2-63.9), 629 (26.7 %; IC: 26.5-30.1) belonged to age 18 to 30 years and 626 (26.6%; IC: 21.5-31.5) to 30 to 45 years
of age. From those having self-perceived their health as “good”, 1,075 smoked (45.7%; CI: 40.9-50.6), 276 consumed more than
175g of alcohol per week (11.7%; CI: 10.2-13.4), 1,197 were sedentary (51.4%; CI: 49.1-53.7) and 573 suffered at least from one
chronic disease (24.4%; CI: 20.9-28.2). By means of hierarchical model, we have observed that the probability of a person referring to
his/her self-perceived health as good, diminished if they were women (PR: 0.92; CI: 0.88-0.95), smokers (PR: 0.92; CI: 0.88-0.96), had
a chronic disease (PR: 0.78; CI: 0.72-0.84), or were users of the Health Services – at least four appointments per year (PR: 0.85; CI:
0.82-0.92). Conversely, not having been hospitalized (PR: 1.14; CI: 1.06-1.25) or been satised with the latest appointment (PR: 1.19;
CI: 1.11-1.27) increased signicantly the probability of a user to assess its health as “good”. Self-perceived health has proved to be
inuenced by biological and socialeconomic factors as well as existing attachment to health services. It should be noted that the more
satised a patient was with PHC services, the better self-perception of health he had, which justies the reorganization of the Brazilian
national health care service (Sistema Único de Saúde) through the extension of present PHC network services, such as the Family Health
Strategy (Estratégia Saúde da Família) program.
Key Words:
Primary Health Care
Self Concept
Cross-sectional Studies
Introdução
A Atenção Primária à Saúde (APS) constitui-se como a por-
ta de entrada do sistema de saúde. Suas principais caracte-
rísticas são: acesso de primeiro contato, a longitudinalidade,
integralidade e coordenação do cuidado, além da orientação
familiar e comunitária e da competência cultural1. A reor-
ganização do Sistema Único de Saúde (SUS), com o forta-
lecimento da APS por meio da Estratégia Saúde da Família
(ESF)2, está auxiliando na diminuição das iniquidades no
acesso aos Serviços de Saúde3 e também na saúde da popu-
lação em geral4-6. Avaliar a saúde da população adscrita às
unidades de Atenção Primária é condição fundamental para
o reconhecimento do território de ação dessas equipes. En-
tre os indicadores recomendados pela Organização Mundial
de Saúde (OMS) para esse processo estão a autopercepção
do estado de saúde, a percepção de doença de longa duração
e a qualidade de vida, ressaltando que os resultados desses
indicadores podem ser comparados a outras populações e
diferentes momentos no tempo7.
A autopercepção da saúde baseia-se em critérios subje-
tivos e objetivos, sendo um bom preditor de mortalidade e
reetindo uma percepção individual, que inclui aspectos bio-
lógicos, psicológicos e sociais8. Ela tem inuência de fatores
como condições socioeconômicas, sexo, idade e presença de
doenças crônicas9,10. É essencial entender como a pessoa per-
cebe sua saúde, pois o seu comportamento é condicionado
pela percepção e pela importância dada a esta11. Muitas ve-
zes, portadores de doenças crônicas não se percebem doentes,
principalmente por não apresentarem sintomas (por exemplo,
hipertensão arterial sistêmica), não serem, ainda, portadores
de incapacidades ou não apresentarem, em dado momento,
outras comorbidades. Em estudo10 que avaliou a percepção de
saúde, evidenciou-se que homens percebem menos sua saúde
como ruim quando comparado às mulheres, o que afeta a uti-
lização dos Serviços de Saúde por esses usuários.
A APS permite aos prossionais formarem um forte e con-
tínuo vínculo com a população atendida (longitudinalidade),
o que favorece a promoção de saúde, a prevenção de doenças
e o diagnóstico precoce. Um dos recursos que favorece o de-
sempenho dos prossionais de saúde é o conhecimento da co-
munidade em que o paciente habita, focando seu trabalho não
na doença, mas nas pessoas e em seu ambiente físico, social e
cultural (orientação comunitária). Desse modo, exploram-se
as inter-relações entre as várias dimensões da saúde, obtendo
uma percepção integrada do indivíduo10 (integralidade). A
doença não se refere apenas à dor física e ao desconforto, mas
também às consequências sociais e psicológicas de conviver
com o processo de adoecimento.
O presente estudo teve por objetivo descrever a autoper-
cepção da saúde de usuários adultos adscritos à rede de APS
de Porto Alegre (RS), identicando os fatores associados à
boa percepção de saúde.
Métodos
Foram utilizados os dados de um estudo transversal de base
populacional realizado nos Serviços de APS do município de
Porto Alegre12. Participaram deste estudo usuários adultos,
Agostinho MR, Oliveira MC, Pinto MEB, Balardin GU, Harzheim E
11
R. bras. Med. Fam. e Comun., Florianópolis, v. 5, n. 17, p. 9-15, jan./dez. 2010
maiores de 18 anos, residentes nas áreas geográcas cobertas
pela rede pública de APS e de um Serviço privado. A amostra-
gem foi realizada por conglomerados, sendo calculada para es-
tudos transversais comparativos e para descrição de proporções,
com amostra total igual a 3.009 usuários. A coleta dos dados
foi realizada no período de agosto de 2006 a junho de 2007.
Entre as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e a ESF, foram
selecionados aleatoriamente 50% das equipes de cada gerên-
cia distrital. Todas as unidades de APS do Grupo Hospitalar
Conceição (GHC), que conta com 12 unidades, do Centro
de Saúde Escola Murialdo (CSEM), que tem 7 unidades, e
da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Bra-
sil (CASSI), que conta com 5 unidades, foram incluídas na
avaliação. Com base na estimativa de adultos por domicílio,
foram sorteados aleatoriamente setores censitários para cada
unidade de serviço amostrado. Dentro do setor censitário
amostrado, foram selecionados domicílios de forma siste-
mática, sendo entrevistados todos os moradores adultos que
preencheram os critérios de inclusão. Na CASSI, a amos-
tragem dos adultos ocorreu proporcionalmente ao número
de usuários cadastrados nas equipes e também foi obtida
por amostragem aleatória simples. Todos os adultos dessas
famílias foram contatados para participar do estudo.
Os adultos que preenchiam os critérios de inclusão e
aceitaram participar da pesquisa, após leitura e assinatura
do termo de consentimento livre e esclarecido, foram entre-
vistados. Foram excluídos os indivíduos que não apresenta-
ram condições físicas ou mentais para responder ao questio-
nário, que realizaram sua última consulta em um Serviço de
Saúde de Porto Alegre antes de janeiro de 1996 (antes da
municipalização) ou que referiram um Serviço de Saúde fora
de Porto Alegre. Maior detalhamento da metodologia utili-
zada pode ser livremente acessado no artigo de referência12.
Utilizou-se, para a coleta das informações, um questionário
geral, estruturado e composto por três instrumentos distintos:
1. questionário sobre a qualidade da APS: Instrumento
de Avaliação da Atenção Primária, na sua versão adulto
(PCATool-Brasil, Adult Primary Care Assessment Tool),
composto por blocos de perguntas que correspondem aos
atributos da APS (acesso, longitudinalidade, integralidade,
coordenação, orientação familiar e orientação comunitária)
e por três perguntas iniciais que medem o grau de aliação
ao Serviço de Saúde. As respostas são do tipo Likert13;
2. questionário estruturado com variáveis sociodemográ-
cas e sobre os fatores de risco cardiovasculares;
3. questionário de satisfação do usuário (validado no Brasil,
composto por 12 perguntas sobre os distintos aspectos
da atenção – acesso, cordialidade, conança, atuação do
médico, orientações, marcação de consultas, avaliação
geral – e com respostas tipo Likert de 1-5, representadas
por guras de faces com cinco expressões distintas de
satisfação, que variam de “muito ruim” a “muito boa”)14.
A autopercepção da saúde foi avaliada por meio da per-
gunta “Comparado com alguém de sua idade e sexo, como
você considera sua saúde?”. As respostas foram agrupadas
em duas categorias: boa autopercepção de saúde foi denida
pelas respostas “muito boa” e “boa”, e ruim, pelas respostas
“regular”, “ruim” e “muito ruim”. O estrato social foi de-
nido por meio do Critério Brasil 2008 da Associação Brasi-
leira de Institutos de Pesquisa de Mercado (Abipeme). Para
cor da pele, utilizou-se a cor referida pelo entrevistado, mes-
ma estratégia utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geogra-
a e Estatística (IBGE). A comorbidade expressa a presença
de pelo menos um dos desfechos crônicos avaliados (diabetes
mellitus, hipertensão, cardiopatia isquêmica e obesidade).
Escolaridade foi denida por número de anos completos de
estudo. Foi estipulado um ponto de corte como prejudicial
à saúde o consumo de álcool acima de 175g por semana15.
Moradia era considerada não-segura quando construída com
papelão, lata ou madeira irregular.
As variáveis utilizadas no modelo hierárquico conceitual
(Figura 1) para auxiliar na descrição da autopercepção de
saúde foram: idade, sexo, cor da pele, estado marital, classe
Nível 1 Socioeconômico Biológico
Classe social Idade
Escolaridade Sexo
Renda Cor
Estado marital
Renda familiar
Ocupação
Nível 2 Fatores ambientais Assistência a Saúde
Falta de
saneamento básico
Frequência de utilização
do Serviço de Saúde
Aglomerado
familiar
Hospitalização
Tipo de moradia Satisfação
Imunização
Médico de referência
Nível 3 Estilo de vida
Sedentarismo
Tabagismo
Consumo de álcool
Nível 4 Presença de
doença crônica
Hipertensão
Diabete melitus
Cardiopatia isquêmica
Desfecho Percepção de saúde
Figura 1: Modelo hierárquico conceitual.
Autopercepção da saúde entre usuários da Atenção Primária em Porto Alegre, RS
12 R. bras. Med. Fam. e Comun., Florianópolis, v. 5, n. 17, p. 9-15, jan./dez. 2010
com o desfecho (grau de autopercepção de saúde) foi avalia-
da no nível hierárquico a que estas pertencem. Uma signi-
cância )0,20 foi adotada para permanência da variável no
modelo multivariado, de acordo como ajuste observado no
seu nível hierárquico. As análises estatísticas foram realiza-
das no programa STATA versão 9, por meio da regressão de
Poisson modicada, controlando-se para efeito de clusters
do processo de amostragem. Foi adotado nível de signicân-
cia de 5% em todas as análises12.
Resultados
Foram entrevistados 3.009 usuários adultos, apresentando
idade média de 45,7 anos (DP: 17,3), cor autorreferida pre-
dominantemente branca (68,5%; IC95%: 61,4-74,8%) e
59,5% (IC95%: 55,8-63%) eram mulheres. A escolaridade
média encontrada foi de 9,5 anos (DP: 4,69). A popula-
ção apresentou renda per capita média de R$ 956,20 (DP:
R$1.286,5) e renda familiar média de R$2.776,70 (DP:
R$3.251,50), sendo que classes sociais C, D ou E continham
55,3% dos entrevistados. As características sociodemográ-
cas e econômicas da população podem ser encontradas na
Tabela 1. Observa-se que 30,6% (IC95%: 26,8-34,6%) dos
entrevistados estavam empregados (com carteira assinada
ou não), 25,2% (IC95%: 20-31,1%) recebiam algum tipo
de benefício (aposentadoria, auxílio-doença ou pensionista),
e 7,14% (IC95%: 5,1-9,9%) eram desempregados. Sane-
amento básico, água encanada e coleta adequada de lixo
por caminhão estavam presentes em 98,2% (IC95%: 97,3-
98,8%) das casas visitadas, sendo essas moradias qualica-
das como construídas com segurança em 97,27% (IC95%:
95,6-98,3%) dos casos.
O estado de saúde da população também está apresenta-
do na Tabela 1, abordando alguns aspectos como presença
de doenças crônicas e fatores de risco à saúde. Hipertensão
atingiu valores de 25%, enquanto diabetes mellitus e cardio-
patia isquêmica 7,1 e 5,8%, respectivamente. Relevante
presença de fatores de risco, como sedentarismo (51,9%;
IC95%: 49,5-54,3%), tabagismo (47,6%; IC95%: 43,1-
52,2%) e consumo de álcool a cima de 175g por semana
(11,3%; IC95%: 10,0-12,8%) foram encontrados nessa
amostra. Ao se observar a utilização do Serviço de Saúde,
os usuários realizaram, em média, 3,8 (DP: 5,523) consul-
tas nos últimos 12 meses, sendo que a satisfação na última
consulta atingia valores de 84,3% (IC95%: 77,5-89,4%).
Cerca de 50% dos entrevistados possuíam médico de re-
ferência, sendo principalmente atendidos por equipes de
ESF (19,2%; IC95%: 9,6-34,7%), atendimento particular
(19,2%; IC95%: 3,3-62,7%) ou hospitais e pronto atendi-
Variáveis Sociodemográcas Média (DP)/%(IC)
Idade (anos) 45,8 (17,3)
Sexo
Masculino 40,5 (37,0-44,2)
Feminino 59,5 (55,8-63,0)
Escolaridade (anos completos) 9,5 (4,7)
Cor da pele
Brancos 68,5 (61,4-74,8)
Não brancos 31,5 (25,2-38,6)
Classe Social
AB 44,7 (33,5-56,5)
CDE 55,3 (43,5-66,5)
Estado marital
Casado 61,1 (59,3-62,9)
Solteiro 22,1 (19,9-24,5)
Viúvo/divorciado 16,8 (15,3-18,3)
Renda per capita (R$) 956,2 (1.286,5)
Renda familiar (R$) 2776,7 (3251,5)
Ocupação
Empregado 30,5 (26,8-34,5)
Autônomo/dono 14,3 (12,5-16,2)
Com benefício 25,2 (20,0-31,1)
Estudante/dona de casa 22,9 (21,0-24,9)
Desempregado 7,1 (5,1-9,9)
Saneamento básico 98,2 (97,2-98,8)
Moradores por casa 3,6 (1,6)
Moradia segura 97,3 (95,6-98,3)
Estado de saúde Média (DP)/%(IC)
Hipertensão arterial 25,2 (22,2-28,6)
Diabetes mellitus 7,1 (5,8-8,6)
Cardiopatia isquêmica 5,8 (4,6-7,4)
Sedentarismo 51,9 (49,5-54,3)
Tabagismo 47,6 (43,1-52,2)
Consumo de álcool (≥175g/sem) 11,3 (10,0-12,8)
Utilização do serviço Média (DP)/%(IC)
Consultas nos últimos 12 meses 3,82 (5,523)
Satisfação na última consulta 84,3 (77,5-89,3)
Serviço aliado
ESF 19,2 (9,6-34,7)
US 9,9(4,8-19,5)
CSE Murialdo 6,2 (2,3-15,4)
SSC-HNSC 4,4 (1,8-10,3)
CASSI 6,4 (2,2-17,3)
Ambulatório/PS 9,9 (1,4-46,6)
Particular 19,2 (3,3-62,7)
SMET 2,1 (0,4-9,8)
Clínica Domiciliar 2,3 (0,4-11,1)
Hospitais e Pronto Atendimento 20,2 (6,9-46,2)
Médico de referência 48,1 (41,4-54,9)
Imunização Gripe/pneumococo 16,1 (13,2-19,4)
Hospitalização em 12 meses 10,3 (8,4-12,5)
Tabela 1: Características da população adscrita aos Serviços de
Atenção Primária à Saúde, Porto Alegre, 2007
DP: Desvio-padrão; IC: intervalo de conança; ESF: Estratégia Saúde da Família; US: Unidade de Saúde;
CSE Murialdo: Centro de Saúde Escola Murialdo; SSC-HNSC: Serviço de Saúde Comunitária do Hospital
Nossa Senhora da Conceição; CASSI: Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil.
social, educação, renda, ocupação, saneamento básico, aglo-
merado familiar, tipo de moradia, imunização (vacina para
gripe e pneumococo), tabagismo, consumo de álcool, seden-
tarismo, presença de doenças crônicas, hospitalizações, tipo
de Serviço, médico de referência, frequência de utilização do
serviço e satisfação. A associação das variáveis explicativas
Agostinho MR, Oliveira MC, Pinto MEB, Balardin GU, Harzheim E
13
R. bras. Med. Fam. e Comun., Florianópolis, v. 5, n. 17, p. 9-15, jan./dez. 2010
Tabela 2: Associação entre variáveis demográcas e socioeconômicas com autopercepção de saúde, Porto Alegre, 2007
ESF: Estratégia Saúde da Família; US: Unidade de Saúde; CSE Murialdo: Centro de Saúde Escola Murialdo; SSC-HNSC: Serviço de Saúde Comunitária do Hospital Nossa Senhora da Conceição ; CASSI: Caixa de
Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil.
Variáveis socioeconômicas
e sociodemográcas
Autopercepção de Saúde
Ruim %(IC) Boa %(IC) Valor de p
Sexo <0,001
Masculino 31,7 (27,3-36,4) 43,0 (39,3-46,9)
Feminino 68,3 (63,6-72,7) 57,0 (53,2-60,7)
Classe social <0,001
AB 33,6 (24,9-43,7) 47,8 (36,1-59,8)
CDE 66,4 (56,3-75,2) 52,2 (40,2-63,9)
Escolaridade (anos completos) <0,001
0 5,8 (3,9-8,5) 1,9 (1,3-2,8)
1-8 49,0 (40,6-57,4) 38,8 (29,4-49,2)
9-12 29,7 (25,2-34,7) 35,2 (32,5-38,0)
≥13 anos 15,5 (9,8-23,6) 24,1 (14,8-36,7)
Idade estraticada (anos)
18-30 24,9 (19,7-31,0) 26,7 (26,5-30,1) 0,02
31-45 20,5 (17,4-24,0) 26,6 (21,5-32,5)
46-57 27,8 (23,1-33,1) 23,7 (21,4-26,3)
≥58 26,8 (20,2-34,5) 23,0 (17,5-29,6)
Cor autorreferida 0,18
Branca 65,39 (59,2-71,1) 69,4 (61,6-76,2)
Não-branca 34,6 (28,9-40,8) 30,6 (23,8-38,4)
Estado narital 0,05
Casado 59,1 (55,1-62,96) 61,7 (59,7-63,6)
Solteiro 20,7 (16,9-25,0) 22,5 (20,4-24,8)
Viúvo/divorciado 20,2 (16,2-24,9) 15,8 (14,6-17,1)
Renda familiar (R$) <0,001
>3.200 16,1 (9,7-25,7) 27,3 (16,2-42,2)
1.601 | - |3.200 19,3 (15,0-24,3) 25,7 (22,5-29,1)
831 | - | 1.600 30,6 (25,8-35,8) 24,4 (19,0-30,9)
361| - |830 24,0 (18,2-31,0) 16,0 (11,4-21,8)
0| - |360 10,03 (7,2-13,8) 6,6 (5,37-8,08)
Ocupação <0,001
Empregado 25,3 (20,8-30,3) 32,0 (28,0-36,4)
Autônomo/dono 11,8 (9,4-14,7) 15,0 (13,1-17,0)
Com benefício 31,1 (24,6-38,4) 2,4 (18,3-29,6)
Estudante/do lar/outros 24,0 (21,2-27,1) 22,6 (20,5-24,7)
Desempregado 7,8 (5,4-11,2) 7,0 (4,8-9,9)
Saneamento básico
Presença 97,4 (95,2-98,6) 98,4 (97,5-99,0) 0,09
Ausência 2,6 (1,4-4,8) 1,6 (1,0-2,5)
Moradores por casa
1| - |2 28,1 (23,7-33,0) 26,0 (20,8-31,9) 0,022
3| - |5 57,8 (54,5-61,0) 63,3 (59,9-66,5)
6| - |13 14,1 (10,16-19,3) 10,7 (7,3-15,5)
Tipo de moradia
Material seguro 95,9 (92,7-97,7) 97,7 (96,0-98,6) 0,054
Material não seguro 4,1 (2,3-7,2) 2,3(1,4-4,0)
Estado de saúde Ruim %(IC) Boa %(IC) Valor de p
Imunização (gripe/
pneumococo)
0,2
Não vacinado 82,2 (77,0-86,4) 84,4 (81,2-87,1)
Vacinado 17,8 (13,6-23,0) 15,6 (12,8-18,8)
Tabagismo <0,001
Não tabagista 45,5 (41,8-49,2) 54,3 (49,4-59,1)
Tabagista 54,5 (50,8-58,1) 45,7 (40,9-50,6)
Consumo de álcool (g/
semana)
0,2
0| - 175 90,1 (87,4-92,2) 88,3 (86,6-89,7)
≥175 9,9 (7,8-12,6) 11,7(10,3-13,4)
Sedentarismo 0,3
Não Sedentário 46,2 (41,6-51,0) 48,6 (46,3-50,9)
Sedentário 53,7 (49,0-58,4) 51,4 (49,1-53,7)
Doença crônica <0,001
Ausência 53,36 (47,8-58,9) 75,6 (71,8-79,1)
Presença 46,6 (41,1-52,2) 24,4 (20,9-28,2)
Hospitalização nos últimos
12 meses
<0,001
Sim 15,4 (12,6-18,8) 8,84 (7,0-11,1)
Não 84,6 (81,2-87,4) 91,2 (88,9-93,0)
Utilização do serviço Ruim % (IC) Boa % (IC) Valor de p
Serviço aliado <0,001
ESF 22,5 (12,3-37,5) 18,3 (8,9-34,0)
US 11,3 (6,0-20,2) 9,6 (4,4-19,5)
CSE Murialdo 8,1 (3,3-18,5) 5,7 (2,1-14,6)
SSC-HNSC 6,3 (2,8-13,5) 4,0 (1,6-9,6)
CASSI 5,2 (1,7-14,6) 6,7 (2,3-18,2)
Ambulatório/PS 9,0 (1,3-43,3) 10,1 (1,4-47,6)
Particular 13,6 (2,1-53,0) 20,8 (3,6-64,8)
Serviço Médico no
Trabalho
1,7 (0,3-8,3) 21,7 (0,4-10,2)
Clínica Domiciliar 1,7 (0,3-8,3) 2,4 (0,4-11,9)
Hospitais e Pronto
Atendimento
20,6 (7,3-46,2) 20,1 (6,8-46,4)1
Médico de referência 0,006
Possui 52,0 (45,1- 58,9) 47,0 (40,2-54,0)
Não possui 48,0 (4,1-54,9) 53,0 (46,0-59,8)
Consultas nos últimos 12
meses
<0,001
<4 63,7 (58,4-68,6) 77,2 (71,8-81,9)
≥4 36,3 (31,3-41,5) 22,8 (18,1-28,2)
Satisfação na última
consulta
<0,001
Não satisfeito 22,8 (17,5-29,1) 13,6 (8,8-20,4)
Satisfeito 7,7 (70,8-82,5) 86,4 (79,6-91,2)
mento (20,2%; IC95%: 7-46,2%). Hospitalização nos últi-
mos 12 meses, por qualquer motivo, foi observada em cerca
de 10% dos entrevistados.
Boa autopercepção de saúde foi referida por 2.355
(78,3%; IC95%: 74,9-81,3%), dos quais 1.013 (43%;
IC95%: 39,3-46,9%) eram homens, como pode ser obser-
vado na Tabela 2. Indivíduos na faixa etária de 18 a 45 anos
perceberam a sua saúde melhor do que os com idade supe-
rior a 46 anos. As classes sociais C, D e E (52,2%; IC95%:
40,2-63,9%) apresentaram melhor autopercepção de saúde.
Em relação aos hábitos de vida, 1.075 indivíduos eram ta-
bagistas (45,7%; IC95%: 40,9-50,6%), 1.197 eram seden-
tários (45,7%; IC95%: 40,9-50,6%), 276 consomem mais
de 175g de álcool/semana (11,7%; IC95%: 10,2-13,4%)
Autopercepção da saúde entre usuários da Atenção Primária em Porto Alegre, RS
14 R. bras. Med. Fam. e Comun., Florianópolis, v. 5, n. 17, p. 9-15, jan./dez. 2010
Tabela 3: Variáveis associadas a boa autopercepção de saúde entre
os usuários da rede de Atenção Primária à Saúde, Porto Alegre, 2007
Socioeconômicas
Modelo de Poisson
Univariado
Modelo de Poisson
Multivariado
RP Valor de p RP IC (95%) Valor de p
Classe social
CDE 1 - 1 - -
AB 1,13 0,000 1,01 0,97-1,06 0,470
Renda familiar (R$)
> 3.200 1 - 1 - -
1.601 | - |3.200 0,96 0,154 0,93 0,82-1,06 0,277
831 | - | 1.600 0,86 <0,001 0,98 0,89-1,08 0,708
361| - |830 0,82 <0,001 1,07 0,94-1,20 0,274
0| - |360 0,82 <0,001 1,09 0,99-120 0,069
Escolaridade
(anos completos)
01-1 - -
1-8 anos 1,38 <0,001 1,24 1,03-1,50 0,021
9-12 anos 1,51 <0,001 1,28 1,06-1,53 0,008
≥13 anos 1,58 <0,001 1,26 1,04-1,52 0,014
Idade (anos)
18-30 1 - 1 - -
31-45 1,03 0,145 1,04 0,99-1,10 0,086
46-57 0,95 0,186 1,01 0,92-1,05 0,551
≥58 0,95 0,065 1,03 0,97-1,08 0,359
Sexo
Masculino 1 - 1 - -
Feminino 0,90 <0,001 0,94 0,91-0,97 <0,001
Tipo de moradia
Material seguro 1 - 1 - -
Material não-seguro 0,85 0,102 0,91 0,74-1,12 0,381
Estado de saúde
Modelo de Poisson
Univariado
Modelo de Poisson
Multivariado
RP Valor de p RP IC (95%) Valor de p
Tabagismo
Não tabagista 1 - 1 - -
Tabagista 0,92 <0,001 0,96 0,92 - 1,00 0,059
Consumo de álcool (g/
semana)
0| - 175 1 - - - -
≥175 0,98 0,351 - - -
Doenças crônicas
Ausência 1 - 1 - -
Presença 0,78 <0,001 0,81 0,76-0,87 <0,001
Hospitalização nos últimos
12 meses
Sim 1 - 1 - -
Não 1,18 <0,001 1,09 1,01 -1,19 0,040
Utilização do Serviço
Modelo de Poisson
Univariado
Modelo de Poisson
Multivariado
RP Valor de p RP IC (95%) Valor de p
Consultas nos últimos 12
meses
<4 1 - 1 - -
≥4 0,86 <0,001 0,89 0,85-0,93 <0,001
Satisfação na última
consulta
Não satisfeito 1 - 1 - -
Satisfeito 1,19 <0,001 1,17 1,10-1,24 <0,001
e 573 possuem pelo menos uma doença (24,4%; IC95%:
20,9-28,2%); todos esses perceberam sua saúde como boa
(Tabela2). Em moradias com três a cinco habitantes, encon-
trou-se a maior porcentagem de boa autoperceção (63,3%;
IC95%: 59,9-66,5%) bem como em famílias cuja renda
era superior a R$3.200,00 por mês (27,3%; IC95%: 16,2-
42,2%) e entre indivíduos que estavam empregados (32%;
IC95%: 28-36,4%) (Tabela 2).
Pelo modelo hierárquico univariado, observa-se que
variáveis dos diferentes níveis, como sexo feminino (RP:
0,92; IC95%: 0,88-0,95), tabagismo (RP: 0,92; IC95%:
0,88-0,96), presença de doença crônica (RP: 0,78; IC95%:
0,72-0,84) e utilização do Serviço – pelo menos quatro con-
sultas/ano (RP: 0,85; IC95%: 0,82-0,92), são fatores que
diminuem a probabilidade de uma pessoa referir boa auto-
percepção de saúde. Não ter hospitalização no último ano
(RP: 1,14; IC95%: 1,06-1,25) e estar satisfeito com a úl-
tima consulta (RP: 1,19; IC95%: 1,11-1,27) aumentaram
signicativamente a probabilidade de o usuário avaliar sua
saúde como boa (Tabela 3).
Ajustando um modelo multivariado com essas variáveis,
identica-se que algumas delas perdem a signicância es-
tatística, mas a relação com a boa autopercepção em saú-
de se mantém na mesma direção. Nessa análise, as variá-
veis “ter hospitalização no último ano” (RP: 1,09; IC95%:
1,01-1,19), “satisfação com a última consulta” (RP: 1,17;
IC95%: 1,10-1,24) e escolaridade (1 a 8 anos, RP: 1,24;
IC95%: 1,03-1,50; 9 a 12 anos, RP: 1,28; IC95%: 1,06-
1,53; * 13 anos, RP: 1,26; IC95%: 1,04-1,52) foram as
mais signicativas (Tabela 3).
Discussão
Neste estudo, a autopercepção de saúde foi considerada
boa pela maioria dos indivíduos, semelhante ao que foi
encontrado para Porto Alegre em estudo realizado pelo
Instituto Nacional do Câncer (INCA) em 2002-20039.
Entretanto, neste estudo, não ocorreu associação signica-
tiva entre a ausência de doenças crônicas e fatores de risco
à saúde, que em outros estudos apresentavam associação
independente9,16.
Fatores socioeconômicos, como escolaridade, classe social
e renda, atuaram de maneira signicativa na descrição da au-
topercepção da saúde. Em indivíduos com escolaridade mais
elevada (acima de 13 anos), a boa autopercepção de saúde foi
menos referida (18%) em comparação àqueles de menor esco-
laridade (1 a 8 anos) que apresentaram 30% de boa percepção
de saúde. Esse fato se repetiu quando foi avaliada a amostra
por classe social, pois classes sociais A e B referiram ter boa
Agostinho MR, Oliveira MC, Pinto MEB, Balardin GU, Harzheim E
15
R. bras. Med. Fam. e Comun., Florianópolis, v. 5, n. 17, p. 9-15, jan./dez. 2010
autopercepção de saúde em menor proporção do que as classes
C, D e E. Isso poderia ser atribuído a uma maior expectativa
do signicado de boa saúde para as classes sociais mais altas,
inuenciada diretamente pela menor prevalência e incidência
de doença nesses segmentos sociais3,17-19.
Os indivíduos em faixas etárias mais elevadas referiram
pior autopercepção de saúde do que os mais novos, assim
como em outros estudos20,21. Segovia et al.22 mostraram
que a percepção do nível de saúde está associada à adoção
de comportamentos promotores de saúde, e as evidências
indicam que a prevalência de comportamentos de risco é
maior entre sujeitos com percepção negativa de saúde, isto
é, aqueles que consideram sua saúde atual como regular
ou ruim22. Neste estudo, observamos que indivíduos com
fatores de risco à saúde como tabagismo e sedentarismo,
além da presença de doenças crônicas já estabelecidas,
consideravam sua saúde de maneira positiva, evidenciando
uma variação entre o estado real de saúde do paciente e sua
autopercepção.
Essa avaliação contemplou apenas a experiência dos usu-
ários e de forma quantitativa, não abordando questões que
podem ser avaliadas qualitativamente. Por se tratar de um
estudo transversal, os resultados aqui discutidos não estão
livres da causalidade reversa. Quando dene-se no modelo
hierárquico “doença crônica” como determinante da auto-
percepção de saúde, não se há garantia de que essa relação
seja inversa, isto é, que ter boa autopercepção de saúde leve
à ausência de doenças crônicas.
Conclusões
A utilização da autopercepção de saúde para explicar o pro-
cesso saúde-doença depende de suas características subjeti-
vas, nas quais também se inserem suas limitações. Esta tam-
bém pode ser inuenciada pela cultura, expectativas, visão
de mundo e pela personalidade dos indivíduos, entretanto,
por ser de fácil aplicação, pode ser usada tanto em pesquisa,
como na prática clínico-assistencial, em diferentes momen-
to para acompanhar a evolução da saúde dos pacientes.
Neste estudo, a boa autopercepção da saúde mostra-se
inuenciada por fatores biológicos, socioeconômicos e de
vínculo com o Serviço. Cabe ressaltar que maior satisfação
com Serviço de APS estava associada à melhor autopercep-
ção de saúde, justicando a reorganização do Sistema Único
de Saúde (SUS) por meio da ampliação da rede de serviços
de APS, como a ESF.
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22. Segovia J, Bartlett RF, Edwards AC. The association between self-
assessed health status and individual health practices. Can J Public
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... A prevalência de autopercepção da saúde regular/ruim encontrada (23%) assemelha-se à de estudo realizado com adultos no Sul do Brasil (22,3%), que a comparou, com a de adolescentes e idosos, (9) porém divergiu da prevalência evidenciada no Norte brasileiro. (10) Em sua maioria, os estudos abordam, também, a população idosa e apresentam em geral prevalências maiores do que 30%. (9,10) Destaca-se, assim, a lacuna referente à investigação de fatores associados à mesma enquanto indicador de necessidades em saúde, sobretudo na população adulta, e, ainda mais, entre os homens. ...
... (10) Em sua maioria, os estudos abordam, também, a população idosa e apresentam em geral prevalências maiores do que 30%. (9,10) Destaca-se, assim, a lacuna referente à investigação de fatores associados à mesma enquanto indicador de necessidades em saúde, sobretudo na população adulta, e, ainda mais, entre os homens. ...
... (13) A despeito de a classe econômica não manter associação, constata-se em outros estudos que essa variável é importante no que tange à autopercepção da saúde. (9,10) A literatura revela que a escolaridade e a posição socioeconômica confluem na formação de determinados contextos sociais e culturais, implicando crenças em saúde, percepções e motivação para agir, determinando comportamentos e estilos de vida. (13) Por isso, vale ressaltar a necessidade de os profissionais de saúde conhecerem essas características dos homens a fim de contextualizarem suas atuações, pois o suporte profissional adequado também pode ser fator determinante da autopercepção de saúde. ...
Article
Full-text available
Objective To identify associated factors as indicators of health needs of adult men. Methods Cross-sectional study, type of population-based household survey, conducted with 421 men aged between 20 and 59 years selected at random and systematic way. The research instrument was structured in a form based on the variables of study. For the analysis, we used multiple logistic regression models. Results Unemployed men, aged between 30 and 39 years and with lower levels of education reported a greater proportion of self-perceived health as fair/poor, being economic class, an important variable, adjusted for the multiple model. Retired men or on sick leave, aged between 40 and 49 years old and white, had higher frequency of morbidity. Conclusion The age group and occupational status were associated with self-perceived health and morbidity, the latter being also associated with skin color.
... The subjective assessment of self-perceived health is limited by the influence of culture, the subject's expectations, his worldview and personality. However, it is easy to apply [44] and is associated with objective health indicators, both Table 4 Variables independently associated with health self-perception, considering the scale's scores n number of individuals, OR odds ratio, CI confidence interval, P P value, Pcorr Benjamini-Hochberg corrected P value a Witmarsum (Palmeira-PR)/Curitiba (PR). For the logistic regression, we considered WIT as "1" and CTB as "2" b At higher risk for cardiovascular diseases: women > 80 cm; men > 94 cm [16,17] c Relevant anxiety scores at the clinical level (31-94) and with a severe level (94-144) were grouped into a single category (based on [9]) d Scores referring to mild (12)(13)(14)(15)(16)(17)(18)(19) and moderate (20)(21)(22)(23)(24)(25)(26)(27)(28)(29)(30)(31)(32)(33)(34)(35) depression were grouped into a single categoryno individual scored severe depression [10] Probability of the multivariate logistic regression reduced model: P < 0.0001 ...
... In general, although the results obtained are free of reverse causality (a good health self perception does not necessarily lead to the absence of chronic and mental illnesses) [44], variables associated with worsening the self perceived health should be considered as risk factors in the Mennonite population. Those that may be modulated by preventive medicine deserve more attention, as spine integrity, waist circumference, and mental health. ...
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The Mennonite population suffered several bottlenecks due to religious/political persecution, increasing the frequency of diseases with a strong genetic component. We evaluated health self-perception in 430 Mennonites from South Brazilian settlements (two rural, one urban), along with life habits, xenobiotic exposure, and chronic ilnesses, using a modified version of the 2013 Brazilian National Health Survey and eight psychometric tests (applied in 2016–2018). Mennonites from rural settlements considered their health worse (P < 0.0001). This was independently associated with any psychiatric disease (OR 3.10, P = 0.037), depression diagnosis (OR 2.39, P = 0.002), spinal pain (OR 1.76, P = 0.015), waist circumference (OR 1.02, P = 0.009) and geographic origin (OR 0.64, P = 0.003). In the multivariate analysis including the scales, independent association also occurred with higher anxiety (ASI-R: OR 6.48, P = 0.014) and depression scores (BDI: OR 6.72, P = 0.008). Thus, a worse health self-perception was unequivocally associated with diagnosed or present depression/anxiety, independent of other contributors, suggesting a strong link between both.
... Since the self-perception of an individual's health status considers his/her culture, hopes, worldview, and identity (Agostinho, 2010), it is possible to establish a connection between this selfperception and the conception of health. A study which was carried out with elderly subjects in another middle-income municipality of Bahia (Pedreira, 2016), reports that individuals with morbidities like arterial hypertension are more likely to present a negative self-perception of their health. ...
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Objetivo: Conhecer os problemas de saúde autorreferidos pelas famílias assistidas pelo Núcleo de Apoio à Saúde Família. Método: Estudo descritivo-transversal, realizado num município polo econômico e de referência na área da saúde no Oeste do estado de Santa Catarina. Foram entrevistadas 1.023 famílias, selecionadas de forma sistemática, por meio de um questionário estruturado. Os dados tiveram análise por técnica descritiva. Resultados: Na análise dos dados obteve-se que 62% das famílias classificam sua saúde como boa. Verificou-se que em 56,5% delas têm algum familiar com problema de saúde, como dor na coluna (47,6%), hipertensão (42,9%), artrite e reumatismo (28,6%). Conclusão: O estudo mostra que as principais doenças que acometem as famílias são crônicas e não transmissíveis e que na autoavaliação as famílias, mesmo tendo algum de seus membros em estado mórbido, classificam a saúde familiar como boa.
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OBJETIVO: Identificar os grupos populacionais não alcançados pelo programa local de saúde materno-infantil, buscando caracterizar os possíveis pontos de exclusão, com vistas ao estudo de intervenções capazes de ampliar o acesso e a utilização das principais ações de saúde oferecidas pelo programa. MÉTODOS: Estudou-se uma amostra de 465 menores de um ano residentes no Município de Embu, SP (Brasil). A análise estatística, orientada pela hipótese que esperava maior disponibilidade de planos de saúde entre as famílias que não usavam o programa local de saúde infantil, consistiu em análises de associação estratificadas que buscaram detectar heterogeneidade entre os quatro estratos de famílias e no interior deles, definidos segundo diferentes padrões de condições de vida. RESULTADOS: Apesar de apenas 85,4% das crianças estudadas serem matriculadas nas unidades básicas de saúde, 91,2 % eram assistidas pelas principais ações de saúde. No estrato 3, onde reside a população periférica, estão concentradas as crianças não alcançadas pelo programa. O estudo de diferenças dentro dos estratos revelou que também no estrato 3 encontra-se a possibilidade de que algumas famílias estejam usando convênios ou planos de saúde como alternativa ao programa local de saúde. Os resultados apontam ainda que a população com piores condições de vida (favelas) dispõe do sistema público do município como única alternativa para cuidar de sua saúde. CONCLUSÕES: É na população residente na periferia do município que se concentram as crianças não assistidas pelo programa local de saúde infantil e existe maior heterogeneidade entre as famílias quanto à disponibilidade de outros recursos para os cuidados de saúde de suas crianças.
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To establish the geographical relation of health conditions to socioeconomic status in the city of Rio de Janeiro, Brazil. All reported deaths in the municipality of Rio de Janeiro, from 1987 to 1995, obtained from the Mortality Information System, were considered in the study. The 24 "administrative regions" that compose the city were used as the geographical units. A geographical information system (GIS) was used to link mortality data and population census data, and allowed the authors to establish the geographical pattern of the health indicators considered in this study: "infant mortality rate"; "standardised mortality rate"; "life expectancy" and "homicide rate". Information on location of low income communities (slums) was also provided by the GIS. A varimax rotation principal component analysis combined information on socioeconomic conditions and provided a two dimension basis to assess contextual variation. The 24 administrative regions were aggregated into three different clusters, identified as relevant to reflect the socioeconomic variation. Almost all health indicator thematic maps showed the same socioeconomic stratification pattern. The worst health situation was found in the cluster composed of the harbour area and northern vicinity, precisely in the sector where the highest concentration of slum residents are present. This sector of the city exhibited an extremely high homicide rate and a seven year lower life expectancy than the remainder of the city. The sector that concentrates affluence, composed of the geographical units located along the coast, showed the best health situation. Intermediate health conditions were found in the west area, which also has poor living standards but low concentration of slums. The findings suggest that social and organisation characteristics of low income communities may have a relevant role in understanding health variations. Local health and other social programmes specifically targeting these communities are recommended.
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We report the association between single health practices and self-assessed health status. Data were collected by telephone survey applied to all adults in a sample of households in metropolitan St. John's; questionnaires were completed for 3,300 subjects. Five health practices--smoking, exercise, sleep, weight and drinking--as defined by previous studies were compared with self-assessed health status--good or poor--using logistic regression; linear and quadratic functions were fitted, plots were prepared and the direction and strength of the associations studied using odds and odds ratios. For sleep, smoking, weight and exercise, our results confirm the definitions used in previous studies. Current non-drinkers in our sample do not report good health as frequently as moderate drinkers. Breakfast--which was analyzed by conventional cross-tabulation--showed no association with health status.
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The objective of this study is to verify empirically the existence of separate dimensions in the overall concept of health status by analyzing 10 variables included in a questionnaire that was applied to all adults in a simple random sample of households in St John's, Newfoundland. The response rate was 85% for a total of 3300 subjects. These data were analyzed by frequencies and by associations with sex, age and education. Nonparametric correlation, factor and cluster analyses on variables were used to verify if health status had identifiable dimensions. All these methods produced similar results showing five distinct factors. The first factor is composed of variables related to disease (disability/chronic conditions/worry about health); the second, to happiness (happiness/emotional); the third, to subjective appraisal of health (physical condition/comparative level of energy/self-rated health status). Finally, the fourth and fifth factors were single variables; restriction of normal activities and social contacts. An interesting finding was that self-rated health status was distributed with almost equal weight in both the first and third factors. A validation of the 10 variables and the 5 factors was undertaken by studying their association with health care utilization. Two measures of utilization were used; number of physicians' visits in a year and number of hospital days in a 4-year period. Number of chronic conditions, disability and self-rated health status were associated with both measures of utilization; factor 1 was the only summary construct showing association with utilization. This paper demonstrates that self-rated health status is valid as a single measure of overall health status in this sample, being associated with both disease and subjective assessment components.
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This article reviews the existing literature on the efficacy of primary care with an emphasis on the evaluation of primary care for vulnerable populations: groups whose demographic, geographic, or economic characteristics impede or prevent their access to health care services. A significant portion of the literature derives from studies of poor and underserved populations. However, to construct a more complete evaluation of primary care services, the authors cite literature that has examined both advantaged and disadvantaged populations. Even then the literature is incomplete, at best. The article describes a definition of primary care suitable for policy analysis and formulation, reviews evidence on the efficacy of care that meets that definition, and concludes that widespread use of primary care services is likely to result in improved patient satisfaction and health status.
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With the strategy for health for all and its 38 targets, the WHO Regional Office for Europe has created a common health policy for Europe, and has developed internationally agreed indicators for measuring progress towards the attainment of the targets. Some of these indicators are "classical" health indicators, such as mortality rates and the incidence of notifiable diseases, while others reflect more recent public health concerns such as health-related behaviour and quality of life. For the latter group, gathering the information necessary for monitoring and evaluating progress is somewhat haphazard. Health interview surveys provide the best -- in some cases the only -- means of collecting data on many of these indicators, since they mirror the information that only properly approached individuals may be able to provide and ensure that all subgroups of the population are covered. Yet such surveys have enjoyed a long tradition only in a few countries. Moreover, when these indicators are covered, the results are often not comparable. The methods and instruments used to collect data have often been developed without international coordination or adapted from those used in other countries, usually with substantial modification to suit what are perceived to be local requirements. There has also tended to be considerable uncertainty among those countries lacking a tradition of health interviewing as to the best way of conducting surveys. Against this background, the WHO Regional Office and Statistics Netherlands organized a series of consultations, which have resulted in the internationally agreed methods and instruments for health interview surveys set out in this book. These methods and instruments are likely in the longer term to become standards, thus improving comparability of information. This book provides practical guidance on methods for health interview surveys. It is thus essential reading for all concerned in the planning and carrying out of such surveys, whether in national statistical offices or in public or private interviewing agencies. It will also be useful to all in the public health community, including students and academics.
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Self-rated health is a frequently used health indicator, but there is little data on its comparability across cultures. We employed samples from Tampere, Finland, and Florence, Italy, of the European Longitudinal Study on Aging to examine the cultural and gender differences in self-rated health. Personal interview data was used and vital status ascertained after 7 years. After adjusting for several health-related variables, we found no substantial difference in self-rated health between genders, although women in Florence were three times and men in Florence four times more likely to report good self-rated health than men in Tampere. The correlational structure of self-rated health was similar in both areas. The significant graded association between self-rated health and mortality in both areas was mostly explained by other health indicators included in a multivariate model. Results suggest that self-rated health is a useful summary of physical health, but it may predict mortality better in men than in women and be sensitive to cultural environment. Therefore, direct gender and cultural comparisons of self-rated health should be made with caution.
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In this paper, the first of a series dealing with the development of a methodology for assessing quality of ambulatory care, a sample of 270 outpatients from the same health center were presented with a list of 12 questions. Although different versions of the questionnaire were tested, we found a high degree of agreement between the results. The findings indicate that the parameter "satisfaction" lends itself readily to measurement, thus becoming a useful instrument for guiding active intervention.
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To compare the strength of the evidence provided by the epidemiological literature on the association between alcohol consumption and the risk of six cancers (oral cavity, oesophagus, colorectum, liver, larynx, breast), hypertension, cerebrovascular diseases, gastric and duodenal ulcer, liver cirrhosis and other chronic liver diseases, pancreatitis and injures and adverse effects. A search of the epidemiological literature from 1966 to 1998 was performed by several bibliographic databases. Meta-regression models were fitted considering fixed and random models and linear and non-linear effects of alcohol intake on the risk of each condition. The effects of some characteristics of the studies including an index of their quality were considered as putative sources of heterogeneity of the estimates. Publication bias was also investigated by asymmetry of funnel plots. Of the 397 initially reviewed studies, 200 were selected for meta-analysis. Since qualitative characteristics of the studies were often significant sources of heterogeneity among them, the estimates of the pooled dose-response slopes were based only on the 123 studies with higher quality score and/or reporting adjusted estimates of relative risks. Higher alcohol-related risks were found for liver cirrhosis, neoplasms of the upper respiratory and digestive tracts, haemorrhagic stroke and injuries and adverse effects. Weaker but significant associations were found for colorectum, liver and breast cancers, essential hypertension and chronic pancreatitis. For all these conditions, low intakes, corresponding to daily consumption of two drinks or two glasses of wine (25 g/day), have shown significant risks. Ischaemic stroke and gastric and duodenal ulcer seem independent of alcohol intake. The area in which the study was performed, the study's design and the outcome variable differently affected the slopes. The small number of sufficiently reliable studies, the strong indications of heterogeneity across them and the suspicion of publication bias suggest that there is a great need for well-conducted epidemiological studies performed in several countries, to examine the dose-response relationship between alcohol intake and the risk of several alcohol-related conditions, as well as the role of drinking pattern in determining the risk.