Content uploaded by Jose Maria Pereira de Godoy
Author content
All content in this area was uploaded by Jose Maria Pereira de Godoy on Aug 02, 2016
Content may be subject to copyright.
Rev. Angiol. Cir Vasc 12 (3) 87-89 • julho/setembro • 2003 87
ARTIGO ORIGINAL
BANDAGEM CO-ADESIVA E DE BAIXA ELASTICIDADE NO
TRATAMENTO DO LINFEDEMA
CO-ADHESIVE DRESSINGS WITH LOW-ELASTICITY IN THE TREATMENT OF LYMPHEDEMA
José Maria Pereira de Godoy1, Domingo Marcolino Braile2, Maria de Fátima Guerreiro Godoy3
Departamento de Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular da Faculdade de Medicina de
São José do Rio Preto-SP-Brasil
Clínica Godoy- São José do Rio Preto-SP
1. Cirurgião Vascular, Prof. Dr. Adjunto do Departamento de Cardiologia
e Cirurgia Cardiovascular da Faculdade de Medicina de São José do
Rio Preto-SP-Brasil.
2. Cirurgião Cardíaco, Prof. Dr. Chefe da Pós Graduação Faculdade de
Medicina de São José do Rio Preto-SP-Brasil.
3. Terapeuta Ocupacional, Profa. Pela Universidade Católica de Cam-
pinas.
RESUMO
O linfedema é uma doença crônica caracterizada pelo acúmulo de líquidos e proteínas nos tecidos decorrentes da
deficiência do sistema linfático. O objetivo do presente estudo foi avaliar a tolerância de uma bandagem co-adesiva de
baixa elasticidade no tratamento de pacientes com linfedema em uma cidade com altas temperaturas (30 a 40 Graus).
Foram avaliados 30 pacientes, sendo 25 do sexo feminino e 5 do masculino com idades entre 17 e 68 anos e média de 56
anos. Avaliou-se em todos os pacientes a tolerabilidade, a durabilidade quando empregada uma ou mais camadas e as
principais queixas. As bandagens co-adesiva de baixa elasticidade foram bem toleradas em 27 pacientes, sendo de fácil
aplicação, onde a durabilidade é maior com aumento do numero de camadas.O prurido ocorreu em 10 pacientes, sendo
que os cuidados com a pele utilizando cremes aliviaram os sintomas e permitiram a tolerância. Concluiu-se que as
bandagens co-adesiva de baixa elasticidade são bem toleradas em uma cidade com altas temperaturas no tratamento do
linfedema e o maior numero de camadas permite maior durabilidade.
UNITERMOS
Bandagem, Co-adesiva, Baixa elasticidade, Linfedema.
ABSTRACT
Lymphoedema is a chronic disease characterized by an accumulation of liquids and proteins in the tissues due to a failure
of the lymphatic system. The objectives of this study were to evaluate the tolerance of a co-adhesive dressing with low-
elasticity in the treatment of patients with lymphoedema in a city with high temperatures (30 to 40 degrees). A total of
25 female and five male patients with ages ranging from 17 to 68 years (mean age 56 years old) were evaluated. The
tolerability and durability, when one or more layers of dressing were employed and the principal complaints of the
patients were assessed.Co-adhesive dressings with low-elasticity with an easy application were well-tolerated in 27 of
the patients. The durability was greater with an increased number of layers. Prurido occurred in 10 patients, but specific
care with the use of creams relieved the symptoms and improved tolerance. In conclusion, co-adhesive dressings with
low-elasticity are well tolerated in hot weather in the treatment of lymphoedema. The greater number of layers increases
the durability of the dressings.
KEY WORDS
Dressings; Co-adhesive; Low-elasticity; Lymphedema.
Rev. 3 - 2003 - Art. original - Bandagem co-adesiva....p65 12/01/2004, 14:2687
88 Rev. Angiol. Cir Vasc 12 (3)87-89 • julho/setembro • 2003
BANDAGEM CO-ADESIVA E DE BAIXA ELASTICIDADE NO TRATAMENTO DE LINFEDEMA
OO
OO
O
FF
FF
F
INTRODUÇÃO
linfedema é uma doença crônica caracterizada pelo
acúmulo de líquidos e proteínas nos tecidos decorren-
tes da deficiência do sistema linfático. As interferênci-
as psicológicas e sociais, as limitações de atividades de vida
diária e a estética do membro afetado interferem de modo ne-
gativo na qualidade de vida destes pacientes.1
O tratamento focaliza a redução e o controle do edema, a
melhora funcional do membro, a prevenção das infecções as-
sociadas, a independência nas atividades de vida diária e a
melhora nos aspectos psicológicos e sociais. Uma equipe
multidisciplinar adaptada às exigências do tratamento é de fun-
damental importância para o sucesso. Dentre as modalidades
de intervenção, a drenagem linfática, os exercícios
linfocinéticos, as medidas farmacológicas, as orientações so-
bre as atividades de vida diária, as medidas dietéticas e higiê-
nicas e as bandagens constituem a base do tratamento.
As bandagens representam uma das formas mais impor-
tantes de intervenção no tratamento do linfedema, ajudando
na remoção dos fluidos acumulados, assim como a manuten-
ção das reduções conseguida.2
É importante considerar as diferenças entre bandagens
compressivas e as meias elásticas, principalmente quanto ao
controle da pressão exercida por cada uma delas. Nas meias, a
compressão já é graduada na própria confecção, enquanto
nas bandagens a compressão é variável e depende da força
exercida no momento da aplicação e acrescida da vantagem de
poderem se adaptar às deformidades do membro.3
As bandagens, embora o uso deva ser constante, podem
ser reaplicadas e é relatada uma sensação de desconforto tem-
porário.4 Quanto ao seu mecanismo de ação, pode ser seme-
lhante ao observado com relação às meias elásticas, as quais
exercem uma pressão externa constante no membro favore-
cendo o retorno venoso e linfático.3
Existem várias tipos de materiais e de confecção de
bandagens. Elas podem ser divididas pelas seguintes catego-
rias: não elástica, baixa elasticidade (< 70%), média elasticida-
de (> 70-140%), alta elasticidade (> 140%). Ainda podem ser
divididas por subcategorias: não aderentes, aderentes ou auto-
adesivas (co-adesivas). As bandagens adesivas podem ser
compostas por micropartículas de látex com uma camada de
cola, normalmente polacryl ou óxido de zinco. Essas bandagens
suportam bem o calor e a umidade.5
No tratamento do linfedema, as bandagens não elásticas
ou de baixa elasticidade são as recomendadas. Em estudo so-
bre bandagens utilizando-se a plestimografia, mostrou-se que
as de baixa elasticidade são efetivas na redução do volume
venoso e tempo de retorno venoso quando em pé e com ativi-
dade.6 Outra particularidade das bandagens de baixa elastici-
dade é que elas aumentam a amplitude de pressão durante o
exercício e diminuem a pressão enquanto repouso.7 O objetivo
do presente estudo foi avaliar a tolerância de uma bandagem
co-adesiva de baixa compressão no tratamento do linfedema.
MÉTODO
oram avaliados trinta pacientes por período de dois me-
ses, sendo 25 do sexo feminino e 5 do masculino com
idades entre 17 e 68 anos, com média de 56 anos. Vinte e
cinco pacientes eram portadores de linfedema de membros in-
feriores e cinco dos membros superiores, cujo diagnóstico foi
clínico e linfocintiligráfico. Todos os pacientes foram submeti-
dos à drenagem linfática seguidos pela bandagem co-adesiva
de baixa elasticidade de 5 cm de largura (Co-flex®). Foram uti-
lizadas 650 bandagens em 445 procedimentos, com aplicação
de uma a quatro camadas em cada sessão. Os membros com
bandagens foram inspecionados diariamente e as trocas foram
realizadas sempre que as mesmas estivessem folgadas ou dani-
ficadas. Avaliaram-se em todos os pacientes a tolerabilidade e
a durabilidade quanto ao número de camadas e as principais
queixas. Os pacientes foram orientados a realizar exercícios,
sendo recomendadas as caminhadas diárias (em torno de uma
hora) com uso da bandagem e, para os membros superiores, a
flexão e extensão do braço, várias vezes durante o dia. Durante
as atividades higiênicas, o membro permaneceu com as
bandagens e estas puderam ser molhadas, lavadas com sabão
e ação natural no processo de secagem.
RESULTADOS
uanto à tolerabilidade, as bandagens foram bem aceitas
em 27 pacientes, sendo que três não as toleraram. Des-
tas, duas foram em membros superiores, onde a irritação
da pele na região da articulação do cotovelo prejudicou
a aceitação e, por isso, foram abandonadas. Na terceira paci-
ente, o linfedema era no membro inferior. Dos 27 pacientes que
mantiveram as bandagens, 10 queixaram-se de coceiras nos
membros durante o tratamento; entretanto, com a utilização de
cremes hidratantes e/ou de creme com drogas linfocinéticas
obtiveram melhora, o que permitiu a continuidade da terapia.
Quanto aos exercícios, nem todos os pacientes os reali-
zaram conforme a orientação inicial, porém foi relatada boa
tolerância à bandagem naqueles pacientes que os realizaram.
Três pacientes praticarem natação fazendo uso da bandagem,
sem intercorrências.
Em relação ao numero de camadas, observa-se que, com
o enfaixamento de uma camada, elas perdem a eficácia em me-
QQ
QQ
Q
Rev. 3 - 2003 - Art. original - Bandagem co-adesiva....p65 12/01/2004, 14:2688
Rev. Angiol. Cir Vasc 12 (3) 87-89 • julho/setembro • 2003 89
BANDAGEM CO-ADESIVA E DE BAIXA ELASTICIDADE NO TRATAMENTO DE LINFEDEMA
AA
AA
A
AA
AA
A
nor tempo, portanto, têm pouca durabilidade (dois a três dias).
Em relação ao tempo de permanência de cada bandagem hou-
ve variação de um a 15 dias com média de cinco dias.
DISCUSSÃO
s bandagens co-adesivas e de baixa elasticidade foram
bem toleradas quando usadas abaixo do joelho ou sem
envolvimento de articulações. Nos membros superiores,
quando envolver articulações, deve-se deixar uma abertura de
uns 3 cms na prega do cotovelo, região em que ocorreram as
principais queixas de intolerância. O prurido foi a manifesta-
ção mais freqüente, sendo, porém, amenizado com a utilização
de cremes hidratantes e com drogas linfocinéticas.
A colocação dessas bandagens deve ser feita antes dos
pacientes se levantarem ou após um período de repouso. Nes-
te estudo, a colocação das bandagens ocorreu após a sessão
de drenagem linfática. Estas orientações são as mesmas para
as meias elásticas. Durante a noite não foi relatada queixa de
dor, o que poderia acontecer nos casos de uma compressão
maior do membro.
Os cuidados na colocação das bandagens é fundamen-
tal, pois qualquer falha pode provocar uma irritação da pele ou
até mesmo uma lesão. Os pacientes foram orientados a retirar
imediatamente a bandagem caso suspeitassem qualquer
irritação. Em relação aos membros inferiores, a região do tor-
nozelo é a mais delicada e deve ser observada.
Os pacientes foram orientados a realizar o máximo de exer-
cício por dia e todas as atividades de rotina. Quanto aos exer-
cícios, a natação foi bem tolerada. Durante as atividades de
higiene, como o banho, poderiam lavar normalmente as
bandagens e secá-las com a toalha.
Quanto à durabilidade, foi maior quando foi empregada
mais de uma camada, observando-se que, em torno de quatro
camadas, as bandagens oferecem maior resistência e menor
extensibilidade. No emprego de uma camada, a durabilidade é
reduzida para um ou dois dias e depende das atividades reali-
zadas neste período. Na colocação das bandagens, é impor-
tante que elas ficam bem ajustadas, o que vai permitir o seu
bom funcionamento.
O mecanismo de ação dessas bandagens é o de limitar o
compartimento semelhante ao que ocorre com as estruturas
ósseo-aponeuróticas que limitam a distensão da musculatura.
Nesse caso, é colocado um novo compartimento limitante e
que envolve o tecido subcutâneo. Como o mecanismo de
bombeamento necessita da contração muscular, conclui-se que
os pacientes, para terem os benefícios desse mecanismo, ne-
cessitam estar em movimento, o que explica as orientações
sobre a realização de atividades físicas, porque, caso contrá-
rio, essas bandagens não exercem adequadamente a função.
Quando os pacientes realizam a atividade física durante maior
tempo, a redução da circunferência do membro é maior compa-
rando-se com aqueles que não realizam nenhuma atividade
física; estes, praticamente, não reduzem a medida de circunfe-
rência do membro. Estas observações não fizeram parte dos
objetivos do estudo, porém são importantes na orientação dos
pacientes a fim de que obtenham melhores resultados.
A busca de um material que adapte a nossa realidade é de
fundamental importância para uma adequada abordagem nes-
ses pacientes.
CONCLUSÃO
s bandagens co-adesivas de baixa elasticidade são bem
toleradas em uma região cujo clima predominante é de
alta temperatura, porém devem ter o acompanhamento
médico adequado. O maior número de camadas confere maior
resistência e reduz a extensibilidade aproximando das
bandagens não elásticas.
REFERÊNCIASREFERÊNCIAS
REFERÊNCIASREFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS
1. Godoy JMP, DM Braile, M de Fátima Godoy. Quality of life and
peripheral lymphedema. Lymphology 2002;35:72-75.
2. Godoy JMP, Godoy MFG, Godoy MF, Braile DM. Drenagem
linfática e bandagem co-adesiva em pacientes com linfedema de
membros inferiores. Cirurgia Vascular & Angiologia 2000; 16(6):
204-206.
3.Belczack CED, Fracchia BCA. Compressão. Grupo Internacional
de la Compresión. Coordenação Prof. Dr. Eugenio Oscar Brizzio,
Buenos Aires, 2001.
4. Goldman MP. Meias compressivas e bandagens elásticas. In
Goldman MP. Escleroterapia. Tratamento das Veias Varicosas e
Telangectasias dos Membros Inferiores. Trad. Giuseppe Taranto.
Interlivros Rio de Janeiro, 1994. p.164-186.
5. Veraart JCJM, Daamen D, Neumann HAM. Short stretch versus
elastic bandages: effect of time and walking. Phebologie 1997;
26:19-24.
6. Partsch H, Menzinger G, Mostbeck A. Inelastic leg compression
is more effective to reduce deep venous reflux than elastic bandages.
Dermatol. Surgery 1999, 9: 695-699.
7. Callam MJ, Haiart D, Farouk M, et.al. Effect of time and posture
on pressure profiles obtained by three different types
compression. Phebology 1991, 6: 79-84.
Endereço para correspondência
Rua Floriano Peixoto, 2950
15020-010 – São José do Rio Preto-SP- Brasil
E-mail: godoyjmp@riopreto.com.br
Rev. 3 - 2003 - Art. original - Bandagem co-adesiva....p65 12/01/2004, 14:2689