Na contemporaneidade, parece haver uma maior consciência
das consequências do envelhecimento demográfico mundial, o qual
se encontra em crescimento acelerado, com implicações políticas,
económicas, sociais e sanitárias, quer seja ao nível global, quer ao nível
das comunidades, das famílias e das pessoas. Hoje, os centenários são
da ordem dos milhões, transmitindo-nos a ideia de que as conquistas
sobre a doença levaram ao recuo da morte. Desígnio de todas as
eras, a procura de um elixir para a eterna juventude converteu-se no
“morrer jovem o mais tarde possível”, dando-nos a vã esperança da
imortalidade, a qual alimenta o nosso imaginário criativo e nos faz
viajar internamente (dentro de nós) pelos lugares vividos, cheiros
sentidos, experiências únicas e recordações significativas e emotivas
da nossa trajetória de vida.
O progressivo aumento da longevidade, as conceções de
Aprendizagem ao Longo da Vida (longlife learning), a par das políticas
sociais e de trabalho, que concebem o direito ao descanso e ao tempo
de lazer remunerados, contribuíram, também elas, para a expansão do
turismo sénior, como parte do estilo de vida globalizado, configurando
um paradigma de envelhecimento positivo, construtivo e saudável.
Este novo paradigma estimula na vivência da adultez e da velhice
a capacidade de aventura, o desejo de fruir experiências únicas e
memoráveis, a expetativa de prazer intenso e contribui para o sonho
das viagens, sonhadas, idealizadas, pensadas e programadas, vividas
e, inevitavelmente mais tarde, recordadas.
Parafraseando o Doutor António Simões (2006), ilustre
Professor da Universidade de Coimbra, pela mão de quem dei os
primeiros passos no conhecimento da Psicologia do Adulto, os
“novos” idosos vivem mais, são mais ativos, são mais produtivos e
mais escolarizados, em suma, têm menos limitações e mais atividade.
Longe vão os tempos em que a esperança de vida era de 18 anos
(Grécia, cinco séculos a.C.) ou 25 anos (Roma, século I d.C.); hoje,
esperamos viver muito mais, vacinados e cuidados, diminuindo a
nossa fragilidade pessoal, com a expetativa de conhecer mais, saborear
outros paladares, ver para além do que já vimos, tendo como base a segurança, o conforto, o convívio e a saúde. Queremos viajar! Sair do
lugar. Queremos ser turistas. Transformámo-nos no Homo Turísticus
até à idade avançada. A experiência dramática de contacto efetivo
com a morte e de isolamento que o SARS-CoV-2 impôs nas nossas
vidas, sacrificando as viagens e, desta forma, a possibilidade de fazer
turismo, fez-nos redefinir a importância de viajar. Experienciámos
que os confinamentos tolham a cognição e a emoção, limitam a opção.