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ISSN nº 2447-
4266
DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
RESUMO
E
ste artigo reflete sobre as aproximações entre o jornalismo e a história oral,
concentrando-
se em três eixos. O primeiro é o mapeamento de
1
Doutora em Ciências da
Comunicação pela ECA
pesquisa pós-
doutoral junto ao departamento de R
Tem mestrado em Ciências da Comunicação pela ECA
pela UMESP. É docente do Programa de Pós
de Sorocaba (Uniso), onde é colíder do Grupo de Pesquisa em Narrativas Midiáticas (NAMI). É diretora
científica da SBPJor (Associação Brasileira de Pes
Narrativas Midiáticas Contemporâneas, e coordenadora adjunta do GP de Teorias do Jornalismo da
Intercom. Integra o Cisc (Centro Interdisciplinar de Semiótica da Cultura e da Mídia) e, no exterior, a
IAMC
R (International Association for Media and Communication Research) e ICA (International
Communication Association). Seus interesses na área de pesquisa em Comunicação e do Jornalismo
envolvem aspectos epistemológicos e metodológicos relacionados às narrati
mundo contemporâneo. Dedica
ambientes digitais, livros-
reportagem e documentários. Contato: monica.martinez@prof.uniso.br.
Pesquisa narrativas biográficas, caso de Me
relacionados ao contexto das relações de gênero e dos sistemas midiáticos no âmbito dos BRICS. Do
ponto de vista metodológico, atualmente concentra
Conteúdo. Su
as pesquisas contemplam igualmente a interface com outras áreas do saber, como
Mitologia, Psicologia, Neurociências, Criatividade e Escrita Criativa. E
martinez.monica@uol.com.br
.
2
Endereço de contato da
autor
Gradua
ção em Comunicação e Cultura.
18023-
000. Sorocaba, São Paulo, Brasil.
Reflexões sobre
Jornalismo e História
Oral: um campo com
mais
convergências do
que dissonâncias
4266
Vol. 2, nº 1, Janeiro
-
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
-
4266.2016v2n1p76
Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
Monica Martinez
1, 2
ste artigo reflete sobre as aproximações entre o jornalismo e a história oral,
se em três eixos. O primeiro é o mapeamento de
Comunicação pela ECA
-USP, tem pós-
doutorado pela UMESP e estágio de
doutoral junto ao departamento de R
á
dio, Televisão e Cinema da Universidade do Texas.
Tem mestrado em Ciências da Comunicação pela ECA
-
USP e graduação em Comunicação
pela UMESP. É docente do Programa de Pós
-
Graduação em Comunicação e Cultura da Universidade
de Sorocaba (Uniso), onde é colíder do Grupo de Pesquisa em Narrativas Midiáticas (NAMI). É diretora
científica da SBPJor (Associação Brasileira de Pes
quisadores em Jornalismo), onde é colíder da Rede de
Narrativas Midiáticas Contemporâneas, e coordenadora adjunta do GP de Teorias do Jornalismo da
Intercom. Integra o Cisc (Centro Interdisciplinar de Semiótica da Cultura e da Mídia) e, no exterior, a
R (International Association for Media and Communication Research) e ICA (International
Communication Association). Seus interesses na área de pesquisa em Comunicação e do Jornalismo
envolvem aspectos epistemológicos e metodológicos relacionados às narrati
vas e suas relações com o
mundo contemporâneo. Dedica
-
se ao estudo do Jornalismo Literário em variados suportes, como
reportagem e documentários. Contato: monica.martinez@prof.uniso.br.
Pesquisa narrativas biográficas, caso de Me
mórias, Perfis e Biografias. Esses estudos estão
relacionados ao contexto das relações de gênero e dos sistemas midiáticos no âmbito dos BRICS. Do
ponto de vista metodológico, atualmente concentra
-
se no emprego de História de Vida e Análise de
as pesquisas contemplam igualmente a interface com outras áreas do saber, como
Mitologia, Psicologia, Neurociências, Criatividade e Escrita Criativa. E
.
autor
a (por correio):
Universidade de Sorocaba (Uniso)
ção em Comunicação e Cultura.
Cidade Universitária,
Rod. Raposo Tavares, Km 92.5
000. Sorocaba, São Paulo, Brasil.
Reflexões sobre
Jornalismo e História
Oral: um campo com
convergências do
que dissonâncias
On Journalism and Oral History:
a field with more convergences
than dissonances
Reflexiones sobre periodismo y
la historia oral: un campo con
más convergencias que
disonancias
-
Abril. 2016
4266.2016v2n1p76
Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
76-91, jan.-abr. 2016
ste artigo reflete sobre as aproximações entre o jornalismo e a história oral,
se em três eixos. O primeiro é o mapeamento de
um breve
doutorado pela UMESP e estágio de
dio, Televisão e Cinema da Universidade do Texas.
USP e graduação em Comunicação
(Jornalismo)
Graduação em Comunicação e Cultura da Universidade
de Sorocaba (Uniso), onde é colíder do Grupo de Pesquisa em Narrativas Midiáticas (NAMI). É diretora
quisadores em Jornalismo), onde é colíder da Rede de
Narrativas Midiáticas Contemporâneas, e coordenadora adjunta do GP de Teorias do Jornalismo da
Intercom. Integra o Cisc (Centro Interdisciplinar de Semiótica da Cultura e da Mídia) e, no exterior, a
R (International Association for Media and Communication Research) e ICA (International
Communication Association). Seus interesses na área de pesquisa em Comunicação e do Jornalismo
vas e suas relações com o
se ao estudo do Jornalismo Literário em variados suportes, como
reportagem e documentários. Contato: monica.martinez@prof.uniso.br.
mórias, Perfis e Biografias. Esses estudos estão
relacionados ao contexto das relações de gênero e dos sistemas midiáticos no âmbito dos BRICS. Do
se no emprego de História de Vida e Análise de
as pesquisas contemplam igualmente a interface com outras áreas do saber, como
Mitologia, Psicologia, Neurociências, Criatividade e Escrita Criativa. E
-mail:
Universidade de Sorocaba (Uniso)
. Programa de Pós-
Rod. Raposo Tavares, Km 92.5
- CEP
On Journalism and Oral History:
a field with more convergences
than dissonances
Reflexiones sobre periodismo y
la historia oral: un campo con
más convergencias que
disonancias
ISSN nº 2447-
4266
DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
comparativo
históricos dos métodos, onde fica clara a importância das entrevistas
radiofônicas para o desenvolvimento da história oral. O segundo aborda a noção da
veracidade que permeia as áreas, enfatizando que tanto formas mais aprofundadas
do jornalismo − caso
do Jornalismo Literário
compreensiva e abrangente da realidade, por entenderem que os entrevistados, ao
se basearem em sua memória, transitam numa esfera subjetiva. Finalmente, o terceiro
eixo é dedicado à questão da autor
tudo, sugere-
se que se tratam de práticas complementares, cujo uso combinado
supera lacunas em cada um dos métodos.
PALAVRAS-CHAVE:
Comunicação; narrativas; jornalismo; jornalismo literário;
história oral.
ABSTRACT
This article reflects on the similarities between journalism and oral history, focusing
on three axes. The first is the mapping of a brief historical comparative
methods, in which
it is clear the importance of radio interviews for the development
of oral history. The second deals with the notion of truth that permeates
emphasizing that the in
-
and oral histor
y have a comprehensive view of reality, because they understand that
the respondents, being based on
the third axis is dedicated to the question of authorship, which differs in the two
approaches. Above
all, it is suggested
whose combined use exceeds gaps in each
KEYWORDS:
Communication; narratives; journalism; literary journalism; oral history.
RESUMEN
El presente artículo reflexiona sobre las similitudes entre el periodismo y la historia
oral,
centrándose en tres ejes
históricos
de los métodos
para el desarrollo de la historia oral.
permea las áreas
, haciendo hincapié en que las formas más a fondo de periodismo
el caso del periodismo literari
de la realidad, porque entienden que los
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Vol. 2, nº 1, Janeiro
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http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
históricos dos métodos, onde fica clara a importância das entrevistas
radiofônicas para o desenvolvimento da história oral. O segundo aborda a noção da
veracidade que permeia as áreas, enfatizando que tanto formas mais aprofundadas
do Jornalismo Literário
− e a hist
ória oral têm uma visão
compreensiva e abrangente da realidade, por entenderem que os entrevistados, ao
se basearem em sua memória, transitam numa esfera subjetiva. Finalmente, o terceiro
eixo é dedicado à questão da autor
ia, que difere nas duas abordagens.
se que se tratam de práticas complementares, cujo uso combinado
supera lacunas em cada um dos métodos.
Comunicação; narrativas; jornalismo; jornalismo literário;
This article reflects on the similarities between journalism and oral history, focusing
on three axes. The first is the mapping of a brief historical comparative
it is clear the importance of radio interviews for the development
of oral history. The second deals with the notion of truth that permeates
-
depth forms of journalism -
the case of literary journalism
y have a comprehensive view of reality, because they understand that
the respondents, being based on
their memories, are on
a subjective sphere. Finally,
the third axis is dedicated to the question of authorship, which differs in the two
all, it is suggested
here
that these are complementary practices
whose combined use exceeds gaps in each
one of the methods.
Communication; narratives; journalism; literary journalism; oral history.
El presente artículo reflexiona sobre las similitudes entre el periodismo y la historia
centrándose en tres ejes
. El primero es
la asignación de un breve comparativos
de los métodos
, donde es evidente la importancia de entrevistas de radio
para el desarrollo de la historia oral.
El segundo trat
a de la noción de verdad que
, haciendo hincapié en que las formas más a fondo de periodismo
el caso del periodismo literari
o -
y la historia oral tienen una visión global y completa
de la realidad, porque entienden que los
entrevistados
, que se basan en su memoria,
-
Abril. 2016
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
76-91, jan.-abr. 2016
históricos dos métodos, onde fica clara a importância das entrevistas
radiofônicas para o desenvolvimento da história oral. O segundo aborda a noção da
veracidade que permeia as áreas, enfatizando que tanto formas mais aprofundadas
ória oral têm uma visão
compreensiva e abrangente da realidade, por entenderem que os entrevistados, ao
se basearem em sua memória, transitam numa esfera subjetiva. Finalmente, o terceiro
ia, que difere nas duas abordagens.
Acima de
se que se tratam de práticas complementares, cujo uso combinado
Comunicação; narrativas; jornalismo; jornalismo literário;
This article reflects on the similarities between journalism and oral history, focusing
on three axes. The first is the mapping of a brief historical comparative
on both
it is clear the importance of radio interviews for the development
of oral history. The second deals with the notion of truth that permeates
both fields,
the case of literary journalism
-
y have a comprehensive view of reality, because they understand that
a subjective sphere. Finally,
the third axis is dedicated to the question of authorship, which differs in the two
that these are complementary practices
Communication; narratives; journalism; literary journalism; oral history.
El presente artículo reflexiona sobre las similitudes entre el periodismo y la historia
la asignación de un breve comparativos
, donde es evidente la importancia de entrevistas de radio
a de la noción de verdad que
, haciendo hincapié en que las formas más a fondo de periodismo
-
y la historia oral tienen una visión global y completa
, que se basan en su memoria,
ISSN nº 2447-
4266
DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
actúan en una esfera subjetiva
la autoría, que difiere
en los dos enfoques.
prácticas complementarias cuyo uso combinado
uno de los métodos.
PALABRAS CLAVE:
Comunicación; narrativas; periodismo; periodismo literario;
historia oral.
Recebido em:
4266
Vol. 2, nº 1, Janeiro
-
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
actúan en una esfera subjetiva
. Por último, el tercer eje está dedicado a la cuestión de
en los dos enfoques.
Sobre
todo, se sugiere que se
prácticas complementarias cuyo uso combinado
pode superar
las brechas
Comunicación; narrativas; periodismo; periodismo literario;
Recebido em:
28.02.2016. Aceito em: 13.03.2016
. Publicado em: 30.04.2016.
-
Abril. 2016
4266.2016v2n1p76
Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
76-91, jan.-abr. 2016
. Por último, el tercer eje está dedicado a la cuestión de
todo, se sugiere que se
tratan de
las brechas
de cada
Comunicación; narrativas; periodismo; periodismo literario;
. Publicado em: 30.04.2016.
ISSN nº 2447-
4266
DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
Introdução
Desde o final dos anos 1990, estudamos o embricamento
áreas: o Jornalismo e a História Oral. Ao longo deste tempo, percebemos na prática,
por meio de estudos teóricos e empíricos, que se trata de um fértil campo de estudo
para reflexões e aprimoramentos em ambas disciplinas. Mais do que um
revisão de literatura, portanto, este artigo compartilha algumas noções que a nosso
ver se tratam da essência do aprendizado e das discussões realizadas nessas duas
décadas. A reflexão aqui condensada, portanto, não se pretende conclusiva nem
de
finitiva. Antes, propõe uma base para o diálogo, sempre aberto e plural como deve
ser a
relação entre duas representantes de duas importantes áreas do conhecimento.
O Jornalismo, da área das Ciências Sociais Aplicadas. E a História, das Ciências
Humanas.
Do ponto de vista de
bibliográfica
(LOPES, 2003)
baseado em três elementos básicos: um breve comparativo históricos dos métodos,
noção da veracidade
que permeia as áreas e a questão da autoria.
1.
A gênese da História Oral
Do ponto de vista histórico,
Mundial, com a confluência de dois fatores importantes. O primeiro foram os avanços
tecnológicos, notadamente os associados à captação,
armazenamento de áudios e i
rádio estava na era de ouro
ascensão
nos anos 1950
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Vol. 2, nº 1, Janeiro
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-
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
Desde o final dos anos 1990, estudamos o embricamento
áreas: o Jornalismo e a História Oral. Ao longo deste tempo, percebemos na prática,
por meio de estudos teóricos e empíricos, que se trata de um fértil campo de estudo
para reflexões e aprimoramentos em ambas disciplinas. Mais do que um
revisão de literatura, portanto, este artigo compartilha algumas noções que a nosso
ver se tratam da essência do aprendizado e das discussões realizadas nessas duas
décadas. A reflexão aqui condensada, portanto, não se pretende conclusiva nem
finitiva. Antes, propõe uma base para o diálogo, sempre aberto e plural como deve
relação entre duas representantes de duas importantes áreas do conhecimento.
O Jornalismo, da área das Ciências Sociais Aplicadas. E a História, das Ciências
Do ponto de vista de
método, esse estudo
se trata de uma pesquisa
(LOPES, 2003)
.
Do ponto de vista de relações, nosso argumento é
baseado em três elementos básicos: um breve comparativo históricos dos métodos,
que permeia as áreas e a questão da autoria.
A gênese da História Oral
Do ponto de vista histórico,
a
história oral surge após a Segunda Guerra
Mundial, com a confluência de dois fatores importantes. O primeiro foram os avanços
tecnológicos, notadamente os associados à captação,
à
armazenamento de áudios e i
magens midiáticas.
Convém lembrar que
rádio estava na era de ouro
(MOREIRA, 2011) e a
TV só iniciaria sua
nos anos 1950
. Não é por acaso, portanto,
que as entrevistas jornalísticas
-
Abril. 2016
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
76-91, jan.-abr. 2016
Desde o final dos anos 1990, estudamos o embricamento
entre duas grandes
áreas: o Jornalismo e a História Oral. Ao longo deste tempo, percebemos na prática,
por meio de estudos teóricos e empíricos, que se trata de um fértil campo de estudo
para reflexões e aprimoramentos em ambas disciplinas. Mais do que um
a profunda
revisão de literatura, portanto, este artigo compartilha algumas noções que a nosso
ver se tratam da essência do aprendizado e das discussões realizadas nessas duas
décadas. A reflexão aqui condensada, portanto, não se pretende conclusiva nem
finitiva. Antes, propõe uma base para o diálogo, sempre aberto e plural como deve
relação entre duas representantes de duas importantes áreas do conhecimento.
O Jornalismo, da área das Ciências Sociais Aplicadas. E a História, das Ciências
se trata de uma pesquisa
Do ponto de vista de relações, nosso argumento é
baseado em três elementos básicos: um breve comparativo históricos dos métodos,
a
que permeia as áreas e a questão da autoria.
história oral surge após a Segunda Guerra
Mundial, com a confluência de dois fatores importantes. O primeiro foram os avanços
à
distribuição e ao
Convém lembrar que
nessa época o
TV só iniciaria sua
iniciava sua
que as entrevistas jornalísticas
ISSN nº 2447-
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DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
radiofônicas tenham exercido grande influência no
(MARTINEZ, 2015).
O segundo
tinham no período
de registrar as experiências vividas pelos envolvidos no conflito
mundial, como combatentes e sobreviventes
Guerra Mundial, com
elementos
sobre o Japão e os campos de concentração
seis milhões de judeus e outras minorias, como homossexuais, alertavam os
pesquisadores da importância
perdessem nas brumas do esquecimento. Preservar a memória era uma forma de
deixar um alerta vivo para a humanidade sobre a importância do diálogo e
possibilidade da extinção da própria espécie humana.
Nesse contexto, o
quando Allan Nevis organizou, na
arquivo, oficializando
o termo
do uso e da divulgação
de entrevistas
De Columbia, a história oral se expandiu para
nos anos 1960, como a Universidade da Califórnia em
expandindo-
se para outros países.
Universidade de Essex, Inglaterra,
pessoas "comuns" (
ordinary people
poderia
ser um recurso novo, mas a história oral é antiga como a própria história
(THOMPSON, 2002).
Um dos programas pioneiros no uso do método da História Oral no Br
o
Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (
da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro. Devido ao regime militar imposto no
país a partir de 1964, que restringia a liberdade de expressão
associado a um método que prima pela coleta
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Vol. 2, nº 1, Janeiro
-
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
-
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
radiofônicas tenham exercido grande influência no
surgimento da história oral
O segundo
fator importante foi a intenção
que os historiadores
de registrar as experiências vividas pelos envolvidos no conflito
mundial, como combatentes e sobreviventes
(MEIHY, 1998).
A ferocidade da Segunda
elementos
históricos
inéditos, como a bomba atômica jogava
sobre o Japão e os campos de concentração
europeus
que exterminaram cerca de
seis milhões de judeus e outras minorias, como homossexuais, alertavam os
pesquisadores da importância
de que as narrativas
dos sobreviventes não se
perdessem nas brumas do esquecimento. Preservar a memória era uma forma de
deixar um alerta vivo para a humanidade sobre a importância do diálogo e
possibilidade da extinção da própria espécie humana.
Nesse contexto, o
ano de nascimento da história oral é tido como
quando Allan Nevis organizou, na
Universidade de Colúmbia, em Nova York
o termo
, desde então
indicativo de uma nova postura diante
de entrevistas
(MEIHY, 1998).
De Columbia, a história oral se expandiu para
outros campi
nos anos 1960, como a Universidade da Califórnia em
Berkeley (UCLA), daí
se para outros países.
Paul Thompson, introdutor do método na
Universidade de Essex, Inglaterra,
já com o viés de acolher os depoimentos de
ordinary people
),
lembra que o uso de aparatos de registro
ser um recurso novo, mas a história oral é antiga como a própria história
Um dos programas pioneiros no uso do método da História Oral no Br
Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (
da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro. Devido ao regime militar imposto no
país a partir de 1964, que restringia a liberdade de expressão
− algo decididamente
associado a um método que prima pela coleta
e divulgação
-
Abril. 2016
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
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surgimento da história oral
que os historiadores
de registrar as experiências vividas pelos envolvidos no conflito
A ferocidade da Segunda
inéditos, como a bomba atômica jogava
que exterminaram cerca de
seis milhões de judeus e outras minorias, como homossexuais, alertavam os
dos sobreviventes não se
perdessem nas brumas do esquecimento. Preservar a memória era uma forma de
deixar um alerta vivo para a humanidade sobre a importância do diálogo e
da
ano de nascimento da história oral é tido como
1947,
Universidade de Colúmbia, em Nova York
, um
indicativo de uma nova postura diante
outros campi
estadunidenses
Berkeley (UCLA), daí
Paul Thompson, introdutor do método na
já com o viés de acolher os depoimentos de
lembra que o uso de aparatos de registro
ser um recurso novo, mas a história oral é antiga como a própria história
Um dos programas pioneiros no uso do método da História Oral no Br
asil foi
Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (
CPDOC)
da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro. Devido ao regime militar imposto no
− algo decididamente
e divulgação
de opiniões e
ISSN nº 2447-
4266
DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
depoimentos − o mé
todo
que em outros países.
A historiadora
implantação de um "programa de história oral se caracteriza por desenvolver
projetos de pesquisa fundamentados na p
privilegiada e, simultaneamente, constituir um acervo de depoimentos para a
consulta do público"
(ALB
jornalística teria surgido em 1836, de acordo com Mário Erbolato
Outros
exemplos de programas
USP (NEHO-
USP), implantado em 1995 pelo
Memórias do ABC –
Núcleo de Pesqu
Municipal de São Caetano do Sul (USCS)
Ferreira Perazzo
, entre outros.
Podemos dizer que, no início do século XXI, o uso do método da História Oral
está consagrado e, talvez mais importante, consolidado na área de Comunicação.
Isso porque oferece "um suporte metodológico nos estudos da memória e das
narrativas orais de histór
processos comunicacionais e sua intersecção com a cultura"
2. A noção da
veracidade
A questão da
veracidade
relação ao jornalismo.
Destacamos
primeiro é o jornalista como filtro social, que o faz diferente da mera transmissão de
3
A primeira entrevista foi realizada pelo rep
de apenas relatar um assassinato, teria feito perguntas à proprietária do prostíbulo novaiorquino, cena
do crime (ERBOLATO, 1984).
4266
Vol. 2, nº 1, Janeiro
-
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
-
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
todo
iniciou
aqui na década de 1970, portanto
A historiadora
Verena Alberti,
decana no uso,
implantação de um "programa de história oral se caracteriza por desenvolver
projetos de pesquisa fundamentados na p
rodução de entrevistas como fonte
privilegiada e, simultaneamente, constituir um acervo de depoimentos para a
(ALB
ERTI, 2005, p. 27).
Se considerarmos que a entrevista
jornalística teria surgido em 1836, de acordo com Mário Erbolato
exemplos de programas
são o Núcleo de Estudos em História Oral da
USP), implantado em 1995 pelo
historiador
José Carlos Sebe Meihy, e o
Núcleo de Pesqu
isas e de Produções Midiáticas da Universidade
Municipal de São Caetano do Sul (USCS)
, criado em 2003 pela historiadora Priscila
, entre outros.
Podemos dizer que, no início do século XXI, o uso do método da História Oral
está consagrado e, talvez mais importante, consolidado na área de Comunicação.
Isso porque oferece "um suporte metodológico nos estudos da memória e das
narrativas orais de histór
ia de vida, e também possibilitam a compreensão de
processos comunicacionais e sua intersecção com a cultura"
(PERAZZO, 2015, p. 123)
veracidade
veracidade
é um diferencial importante
da história oral
Destacamos
dois tópicos apenas desta questão
primeiro é o jornalista como filtro social, que o faz diferente da mera transmissão de
A primeira entrevista foi realizada pelo rep
órter norte-
americano James Gordon Bennet que, em vez
de apenas relatar um assassinato, teria feito perguntas à proprietária do prostíbulo novaiorquino, cena
-
Abril. 2016
4266.2016v2n1p76
Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
76-91, jan.-abr. 2016
aqui na década de 1970, portanto
mais tarde do
decana no uso,
lembra que a
implantação de um "programa de história oral se caracteriza por desenvolver
rodução de entrevistas como fonte
privilegiada e, simultaneamente, constituir um acervo de depoimentos para a
Se considerarmos que a entrevista
jornalística teria surgido em 1836, de acordo com Mário Erbolato
(MARTINEZ, 2008)
3
,
são o Núcleo de Estudos em História Oral da
José Carlos Sebe Meihy, e o
isas e de Produções Midiáticas da Universidade
, criado em 2003 pela historiadora Priscila
Podemos dizer que, no início do século XXI, o uso do método da História Oral
está consagrado e, talvez mais importante, consolidado na área de Comunicação.
Isso porque oferece "um suporte metodológico nos estudos da memória e das
ia de vida, e também possibilitam a compreensão de
(PERAZZO, 2015, p. 123)
.
da história oral
em
dois tópicos apenas desta questão
complexa. O
primeiro é o jornalista como filtro social, que o faz diferente da mera transmissão de
americano James Gordon Bennet que, em vez
de apenas relatar um assassinato, teria feito perguntas à proprietária do prostíbulo novaiorquino, cena
ISSN nº 2447-
4266
DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
informações como ocorreria na cobertura de uma TV Senado, por exemplo. "O
jornalismo inclui o processo de seleçã
acontecimentos de modo que seja reconhecido diferentemente da forma pura como
ocorreu."
(RUDIN; IBBOTSON, 2008, p. 5)
seja a avaliação da
validade, veracidade e representatividade das ações ou
comentários" (idem).
Neste sentido,
ou convencional uma visão de neutralidade possível, típica do século 19, no qual se
atribui ao jornalista uma presumida
O segundo elemento, ligado a este, seria a questão da
jornalismo. A
mais conhecida
responsável pela fiscalização dos poderes públicos, da liberdade de expressão de
indivíduos e, sobretudo, minorias sociais, bem como guardiã da transparência e
responsabilidade da sociedade como um todo. Esta vigilância seria
certa
fundamentação maniqueísta, na
entre o bem e o mal
− como sen
preto e o branco. Já os
historiadores orais têm
qual
cabe ressaltar: "Cada sujeito, ao narrar sua trajetória de vida, se revela uma
testemunha e um artífice da história. Essas narrativas orais não são menos
verdadeiras, nem menos ficcionais do que muitas histórias oficiais"
p. 123). O objetivo
do método da história oral, portanto, não é a
mas de algo que ainda gera polêmica no campo jornalístico
"(...) cada sujeito narra a partir de sua subjetividade, uma vez que cada um vê o
objeto a partir do seu lug
marcando sua trajetória de acordo com sua concepção de mundo e sua percepção
de si mesmo." (idem).
A nosso ver, essa
diferenciais do método
empregado pelos
4266
Vol. 2, nº 1, Janeiro
-
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
-
4266.2016v2n1p76
Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
informações como ocorreria na cobertura de uma TV Senado, por exemplo. "O
jornalismo inclui o processo de seleçã
o e edição de informações, comentários e
acontecimentos de modo que seja reconhecido diferentemente da forma pura como
(RUDIN; IBBOTSON, 2008, p. 5)
.
Para os autores, acima de tudo,
validade, veracidade e representatividade das ações ou
Neste sentido,
podemos dizer que há no jornalismo noticioso
ou convencional uma visão de neutralidade possível, típica do século 19, no qual se
atribui ao jornalista uma presumida
capacidade de análise imparcial.
O segundo elemento, ligado a este, seria a questão da
mais conhecida
talvez seja a de
watch dog,
isto é, de cão sentinela,
responsável pela fiscalização dos poderes públicos, da liberdade de expressão de
indivíduos e, sobretudo, minorias sociais, bem como guardiã da transparência e
responsabilidade da sociedade como um todo. Esta vigilância seria
fundamentação maniqueísta, na
qual haveria uma distinção clara
− como sen
ão houvessem múltiplas nuances de cinza entre o
historiadores orais têm
uma proposta menos dicotômica
cabe ressaltar: "Cada sujeito, ao narrar sua trajetória de vida, se revela uma
testemunha e um artífice da história. Essas narrativas orais não são menos
verdadeiras, nem menos ficcionais do que muitas histórias oficiais"
do método da história oral, portanto, não é a
mas de algo que ainda gera polêmica no campo jornalístico
: a compreensão de que
"(...) cada sujeito narra a partir de sua subjetividade, uma vez que cada um vê o
objeto a partir do seu lug
ar no mundo e constrói sua narrativa de forma seletiva,
marcando sua trajetória de acordo com sua concepção de mundo e sua percepção
A nosso ver, essa
premissa da
abertura parece ser
empregado pelos
historiadores orais:
-
Abril. 2016
4266.2016v2n1p76
Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
76-91, jan.-abr. 2016
informações como ocorreria na cobertura de uma TV Senado, por exemplo. "O
o e edição de informações, comentários e
acontecimentos de modo que seja reconhecido diferentemente da forma pura como
Para os autores, acima de tudo,
"(...) talvez
validade, veracidade e representatividade das ações ou
podemos dizer que há no jornalismo noticioso
ou convencional uma visão de neutralidade possível, típica do século 19, no qual se
capacidade de análise imparcial.
O segundo elemento, ligado a este, seria a questão da
função social do
isto é, de cão sentinela,
responsável pela fiscalização dos poderes públicos, da liberdade de expressão de
indivíduos e, sobretudo, minorias sociais, bem como guardiã da transparência e
responsabilidade da sociedade como um todo. Esta vigilância seria
baseada em uma
qual haveria uma distinção clara
e distinta
ão houvessem múltiplas nuances de cinza entre o
uma proposta menos dicotômica
, na
cabe ressaltar: "Cada sujeito, ao narrar sua trajetória de vida, se revela uma
testemunha e um artífice da história. Essas narrativas orais não são menos
verdadeiras, nem menos ficcionais do que muitas histórias oficiais"
(PERAZZO, 2015,
do método da história oral, portanto, não é a
busca da "verdade",
: a compreensão de que
"(...) cada sujeito narra a partir de sua subjetividade, uma vez que cada um vê o
ar no mundo e constrói sua narrativa de forma seletiva,
marcando sua trajetória de acordo com sua concepção de mundo e sua percepção
abertura parece ser
um dos principais
ISSN nº 2447-
4266
DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
Não raro, esta versão é romanceada, numa tentativa imaginativa, consciente
ou não, de “salvar a preciosa consciência da injustiça do mundo". O termo
empregado para esta questão, idealizado em 1973 pelo historiador ital
Alessandro Portelli, é o de ucronia, no sentido de uma utopia sobre o
passado ou, como ele diz, “uma expressão narrativa possível de recusa da
ordem da realidade existente. (...) A forma ucrônica permite ao narrador
‘transcender’ a realidade dada e re
ordem existente” (PORTELLI, 1991, p. 108). “Ucronia, assim, economiza a
preciosa consciência da injustiça do mundo existente, porém fornece os
meios de resignação e de reconciliação” (PORTELLI, 1991, p. 116). “Embo
ventile as chamas de descontentamento por revelar a contradição da
realidade e desejo, ele ajuda a manter essa contradição de sair de um
conflito aberto” (idem).
Fato ou ficção? Esta
historiador oral
, como visto no conceito de ucronia proposto pelo historiador oral
italiano Alessandro Portelli
de perceber e relatar a realidade do
entrevistador.
Evidentemente, esta visão compreensiva
jornalismo, sendo mais presente em modalidades mais abrangentes, como o
jornalismo literário
(LIMA, 2009)
de tempo e espaço narrativo.
2.1 A questão d
o gênero
Marques de Melo observa que já na metade do século XX, estudiosos como
Alceu Amoroso Lima, Barbosa Sobrinho e Antônio Olinto debatiam a natureza dos
gêneros, as especificidades brasileiras e a existência de um território com elementos
comuns entre o jornal
ismo e a literatura
ver, no caso da história or
memória do indivíduo e a entrevista, que discutiremos a seguir.
Há várias noções de memória como gênero narrativo, mas para fins de
simplificação adotaremos aqui a do resgate do indivíduo de acontecim
4266
Vol. 2, nº 1, Janeiro
-
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
-
4266.2016v2n1p76
Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
Não raro, esta versão é romanceada, numa tentativa imaginativa, consciente
ou não, de “salvar a preciosa consciência da injustiça do mundo". O termo
empregado para esta questão, idealizado em 1973 pelo historiador ital
Alessandro Portelli, é o de ucronia, no sentido de uma utopia sobre o
passado ou, como ele diz, “uma expressão narrativa possível de recusa da
ordem da realidade existente. (...) A forma ucrônica permite ao narrador
‘transcender’ a realidade dada e re
cusar ser identificado e satisfeito com a
ordem existente” (PORTELLI, 1991, p. 108). “Ucronia, assim, economiza a
preciosa consciência da injustiça do mundo existente, porém fornece os
meios de resignação e de reconciliação” (PORTELLI, 1991, p. 116). “Embo
ventile as chamas de descontentamento por revelar a contradição da
realidade e desejo, ele ajuda a manter essa contradição de sair de um
conflito aberto” (idem).
(MARTINEZ, 2015, p. 81)
Fato ou ficção? Esta
linha tênue
não é uma inquietação que move o
, como visto no conceito de ucronia proposto pelo historiador oral
italiano Alessandro Portelli
(PORTELLI, 1991)
. Antes, talvez seja o respeito pelo modo
de perceber e relatar a realidade do
depoente, seja
ele endossado ou não pelo do
Evidentemente, esta visão compreensiva
(KÜNSCH, 2014)
jornalismo, sendo mais presente em modalidades mais abrangentes, como o
(LIMA, 2009)
, que trabalham com contextos mais aprofundados
de tempo e espaço narrativo.
o gênero
Marques de Melo observa que já na metade do século XX, estudiosos como
Alceu Amoroso Lima, Barbosa Sobrinho e Antônio Olinto debatiam a natureza dos
gêneros, as especificidades brasileiras e a existência de um território com elementos
ismo e a literatura
(MELO; LAURINDO; ASSIS, 2012)
ver, no caso da história or
al, há um embricamento maior entre duas instâncias
memória do indivíduo e a entrevista, que discutiremos a seguir.
Há várias noções de memória como gênero narrativo, mas para fins de
simplificação adotaremos aqui a do resgate do indivíduo de acontecim
-
Abril. 2016
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
76-91, jan.-abr. 2016
Não raro, esta versão é romanceada, numa tentativa imaginativa, consciente
ou não, de “salvar a preciosa consciência da injustiça do mundo". O termo
empregado para esta questão, idealizado em 1973 pelo historiador ital
iano
Alessandro Portelli, é o de ucronia, no sentido de uma utopia sobre o
passado ou, como ele diz, “uma expressão narrativa possível de recusa da
ordem da realidade existente. (...) A forma ucrônica permite ao narrador
cusar ser identificado e satisfeito com a
ordem existente” (PORTELLI, 1991, p. 108). “Ucronia, assim, economiza a
preciosa consciência da injustiça do mundo existente, porém fornece os
meios de resignação e de reconciliação” (PORTELLI, 1991, p. 116). “Embo
ra
ventile as chamas de descontentamento por revelar a contradição da
realidade e desejo, ele ajuda a manter essa contradição de sair de um
não é uma inquietação que move o
, como visto no conceito de ucronia proposto pelo historiador oral
. Antes, talvez seja o respeito pelo modo
ele endossado ou não pelo do
(KÜNSCH, 2014)
existe em
jornalismo, sendo mais presente em modalidades mais abrangentes, como o
, que trabalham com contextos mais aprofundados
Marques de Melo observa que já na metade do século XX, estudiosos como
Alceu Amoroso Lima, Barbosa Sobrinho e Antônio Olinto debatiam a natureza dos
gêneros, as especificidades brasileiras e a existência de um território com elementos
(MELO; LAURINDO; ASSIS, 2012)
. A nosso
al, há um embricamento maior entre duas instâncias
, a
Há várias noções de memória como gênero narrativo, mas para fins de
simplificação adotaremos aqui a do resgate do indivíduo de acontecim
entos da vida,
ISSN nº 2447-
4266
DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
em geral ligados a emoções, colocados numa sequencia temporal
BARONTO, 2008, p. 68)
psicológico do termo, como afetos, isto é, event
desencadeando uma emoção
estamos abordando o resgate de conteúdos conscientes, uma vez que o método não
tem premissa terapêutica
tenha o poder de levar o indivíduo a ressignificá
memória poderia
mobilizar igualmente conteúdos inconscientes, sejam eles de
natureza pessoal
− como na perspectiva psicanal
traumas, em geral na infância
abordagem analítica, que não só teriam
motivos, inclusive a falta de es
pertenceriam a um conjunto de conteúdos arquetípicos, arcaicos, herdados e
compartilhados pela espécie como um todo
Por entrevista, destacamos a diversidade de abordagens possíveis,
dependendo da área empregada. Jorge Duarte propõe três categorias de entrevistas:
aberta, que tem
como ponto de partida um tema ou questão mais ampla e
livremente; semiaberta, que parte de um roteiro de questões, mas pode ser alterada
no decorrer da entrevista; e fechada, feita a partir de questionários estruturados
(DUARTE, 2005, p. 62-
83)
didáticos, pois a entrevista jornalística pode tanto ser feita de forma precisa e
objetiva, por meio de um questionário fechado, e devido
entrevistado e entrevistador, pro
lado, pode partir de uma proposta aberta e, por não
resultado superficial. Contudo, evidentemente, do ponto de vista ideal,
aqui com o conceito de entrevista dialógica,
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Vol. 2, nº 1, Janeiro
-
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
-
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
em geral ligados a emoções, colocados numa sequencia temporal
BARONTO, 2008, p. 68)
. Destacamos que entendemos emoções no sentido
psicológico do termo, como afetos, isto é, event
os que tocam, afetam a pessoa
desencadeando uma emoção
.
Observamos também que, em história oral, em geral
estamos abordando o resgate de conteúdos conscientes, uma vez que o método não
tem premissa terapêutica
− embora o pr
óprio fato de mobilizar conteúdo
tenha o poder de levar o indivíduo a ressignificá
-los
. Isso porque
mobilizar igualmente conteúdos inconscientes, sejam eles de
− como na perspectiva psicanal
ítica, que teriam sido reprimidos por
traumas, em geral na infância
−, bem
como pessoais e coletivos
abordagem analítica, que não só teriam
sido
rebaixados da consciência por diversos
motivos, inclusive a falta de es
paço para estocá-
los, como também porque
pertenceriam a um conjunto de conteúdos arquetípicos, arcaicos, herdados e
compartilhados pela espécie como um todo
(JUNG, 2012).
Por entrevista, destacamos a diversidade de abordagens possíveis,
dependendo da área empregada. Jorge Duarte propõe três categorias de entrevistas:
como ponto de partida um tema ou questão mais ampla e
livremente; semiaberta, que parte de um roteiro de questões, mas pode ser alterada
no decorrer da entrevista; e fechada, feita a partir de questionários estruturados
83)
.
Essas noções, evidentemente, são esquematizadas para fins
didáticos, pois a entrevista jornalística pode tanto ser feita de forma precisa e
objetiva, por meio de um questionário fechado, e devido
à
propícia interação entre
entrevistado e entrevistador, pro
duzir conteúdo aprofundado. Quanto, por outro
lado, pode partir de uma proposta aberta e, por não
favorecer
resultado superficial. Contudo, evidentemente, do ponto de vista ideal,
aqui com o conceito de entrevista dialógica,
no qual há um encontro entre seres
-
Abril. 2016
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
76-91, jan.-abr. 2016
em geral ligados a emoções, colocados numa sequencia temporal
(LANDEIRA;
. Destacamos que entendemos emoções no sentido
os que tocam, afetam a pessoa
,
Observamos também que, em história oral, em geral
estamos abordando o resgate de conteúdos conscientes, uma vez que o método não
óprio fato de mobilizar conteúdo
s psíquicos
. Isso porque
o despertar da
mobilizar igualmente conteúdos inconscientes, sejam eles de
ítica, que teriam sido reprimidos por
como pessoais e coletivos
− caso da
rebaixados da consciência por diversos
los, como também porque
pertenceriam a um conjunto de conteúdos arquetípicos, arcaicos, herdados e
Por entrevista, destacamos a diversidade de abordagens possíveis,
dependendo da área empregada. Jorge Duarte propõe três categorias de entrevistas:
como ponto de partida um tema ou questão mais ampla e
flui
livremente; semiaberta, que parte de um roteiro de questões, mas pode ser alterada
no decorrer da entrevista; e fechada, feita a partir de questionários estruturados
Essas noções, evidentemente, são esquematizadas para fins
didáticos, pois a entrevista jornalística pode tanto ser feita de forma precisa e
propícia interação entre
duzir conteúdo aprofundado. Quanto, por outro
favorecer
esta interação, ter
resultado superficial. Contudo, evidentemente, do ponto de vista ideal,
trabalhamos
no qual há um encontro entre seres
ISSN nº 2447-
4266
DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
humanos e, portanto, ocorre um ponto ótimo de interação entre ambos
1990, 2003).
Ora, é just
amente neste ponto que reside a principal diferença dos
historiadores que empregam o método da história oral. Há, de fato, um método, que
deve ser seguido para que o conteúdo coletado seja considerado válido para a área.
Para fins de ilustração, lembramos que dois dos livros mais citados do campo
contempla a palavra manual no título, tendo sido nomeados igualmente de
de História Oral
(ALBERTI, 2005; MEIHY, 1998)
jornalismo, pelo menos no brasileiro. O livro de Alberti, por exemplo, traz instruções
bastante precisas da prática do método, dando orientações
projeto, a seleção e a relação com os entrevistados escolhidos, o número ideal para a
formação do corpus e a seleção do tipo de entrevista, entre outros.
dicas para a formação da equipe que trabalhará no projeto, uma vez qu
pesquisadores, ela pode ser composta de consultores, técnicos de som, indivíduos
responsáveis pelo processamento das entrevistas e editores.
constatação de que um projeto de história oral é um trabalho de equipe, enquanto o
jorn
alismo privilegia a premissa de trabalho solo do repórter, esquecendo
demais colaboradores do processo, como pauteiros, editores, fotógrafos,
copidesques, revisores e
qual a notícia não seria
corretamente processada e publicada
3. A questão da
autoria
Há uma premissa básica em jornalismo: o texto é de responsabilidade do
repórter
. Por isso, sabe
presidentes, como no caso Watergate, em 1974
quanto acabar com a carreira dos próprios
Janet Cooke no jornal
The Washington Post
4266
Vol. 2, nº 1, Janeiro
-
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
-
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
humanos e, portanto, ocorre um ponto ótimo de interação entre ambos
amente neste ponto que reside a principal diferença dos
historiadores que empregam o método da história oral. Há, de fato, um método, que
deve ser seguido para que o conteúdo coletado seja considerado válido para a área.
Para fins de ilustração, lembramos que dois dos livros mais citados do campo
contempla a palavra manual no título, tendo sido nomeados igualmente de
(ALBERTI, 2005; MEIHY, 1998)
− algo que seria impens
jornalismo, pelo menos no brasileiro. O livro de Alberti, por exemplo, traz instruções
bastante precisas da prática do método, dando orientações
sobre o desenho do
projeto, a seleção e a relação com os entrevistados escolhidos, o número ideal para a
formação do corpus e a seleção do tipo de entrevista, entre outros.
dicas para a formação da equipe que trabalhará no projeto, uma vez qu
pesquisadores, ela pode ser composta de consultores, técnicos de som, indivíduos
responsáveis pelo processamento das entrevistas e editores.
constatação de que um projeto de história oral é um trabalho de equipe, enquanto o
alismo privilegia a premissa de trabalho solo do repórter, esquecendo
demais colaboradores do processo, como pauteiros, editores, fotógrafos,
copidesques, revisores e
pessoal da arte
para a mídia impressa, por exemplo, sem o
corretamente processada e publicada
.
autoria
Há uma premissa básica em jornalismo: o texto é de responsabilidade do
. Por isso, sabe
-se que o
processo de apuração pode tanto derrubar
presidentes, como no caso Watergate, em 1974
(WOODWARD; BERNSTEIN, 2014)
quanto acabar com a carreira dos próprios
profissionais
, se pegos em fraude, como
The Washington Post
em 1980, Jason Blair no jornal
-
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
76-91, jan.-abr. 2016
humanos e, portanto, ocorre um ponto ótimo de interação entre ambos
(MEDINA,
amente neste ponto que reside a principal diferença dos
historiadores que empregam o método da história oral. Há, de fato, um método, que
deve ser seguido para que o conteúdo coletado seja considerado válido para a área.
Para fins de ilustração, lembramos que dois dos livros mais citados do campo
contempla a palavra manual no título, tendo sido nomeados igualmente de
Manual
− algo que seria impens
ável em
jornalismo, pelo menos no brasileiro. O livro de Alberti, por exemplo, traz instruções
sobre o desenho do
projeto, a seleção e a relação com os entrevistados escolhidos, o número ideal para a
formação do corpus e a seleção do tipo de entrevista, entre outros.
Há inclusive
dicas para a formação da equipe que trabalhará no projeto, uma vez qu
e, além dos
pesquisadores, ela pode ser composta de consultores, técnicos de som, indivíduos
responsáveis pelo processamento das entrevistas e editores.
Há, portanto, a
constatação de que um projeto de história oral é um trabalho de equipe, enquanto o
alismo privilegia a premissa de trabalho solo do repórter, esquecendo
-se dos
demais colaboradores do processo, como pauteiros, editores, fotógrafos,
para a mídia impressa, por exemplo, sem o
Há uma premissa básica em jornalismo: o texto é de responsabilidade do
processo de apuração pode tanto derrubar
(WOODWARD; BERNSTEIN, 2014)
,
, se pegos em fraude, como
em 1980, Jason Blair no jornal
The New
ISSN nº 2447-
4266
DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
York Times
em
2003 e, mais recentemente, Sabrina Rubin Erderly na revista
Stones
em
2014 (embora, neste caso, o editor, Will Dana, há 19 anos na posição,
tenha assumido responsabilidade por ter permitido a pub
apresentado sua carta de demissão).
e precisão na apuração, portanto, são fundamentais na
1995).
Ele é, portanto, considerado o autor da história.
Já
no método da h
baseada em suas
lembranças
percepção do indivíduo, não se esperando, evidentemente, que haja qualquer
objetividade neste processo de resgate de conteú
ou do responsável por esta etapa, a necessidade de que a transcrição seja feita de
forma precisa, para se garantir a fidelidade ao relato. Pode haver copidescagem no
processo, para se garantir a correção das normas gramati
por exemplo, fase necessária para a adequação do relato à leitura. Contudo, antes da
liberação para a consulta, isto é, antes que o áudio ou vídeo editados ou o relato
transcrito seja integrado a um acervo, são necessários dois p
importantes. O primeiro é a conferência pelo entrevistado, momento no qual o texto,
áudio ou vídeo já trabalhado é encaminhado para aprovação. Trata
delicada do processo, por isso os manuais de história oral alertam para a nece
de se estabelecer negociações prévias sobre o que exatamente pode ser alterado
pelo depoente.
Um exemplo é a quantidade de vezes que se permitirá ao depoente
fazer sugestões de alteração no texto.
significado é
bastante claro: o depoente é o autor da narrativa, tendo poder inclusive
de veto em sua divulgação, mesmo na fase final do processo. Não por acaso,
preciso colher também uma carta de cessão, por meio da qual o depoente autoriza a
liberação do conteúdo.
diferencial complexo, porém importante, do método, permitindo que pequenos
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Vol. 2, nº 1, Janeiro
-
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
-
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
2003 e, mais recentemente, Sabrina Rubin Erderly na revista
2014 (embora, neste caso, o editor, Will Dana, há 19 anos na posição,
tenha assumido responsabilidade por ter permitido a pub
licação da reportagem e
apresentado sua carta de demissão).
(MARTINEZ; CORREIA; PASSOS, 2015)
e precisão na apuração, portanto, são fundamentais na
prática
jornalística
Ele é, portanto, considerado o autor da história.
no método da h
istória oral, o depoente narra sua versão da história,
lembranças
.
Essas memórias são subjetivas, pois se baseiam na
percepção do indivíduo, não se esperando, evidentemente, que haja qualquer
objetividade neste processo de resgate de conteú
dos. Há, por parte do pesquisador
ou do responsável por esta etapa, a necessidade de que a transcrição seja feita de
forma precisa, para se garantir a fidelidade ao relato. Pode haver copidescagem no
processo, para se garantir a correção das normas gramati
cais em um texto impresso,
por exemplo, fase necessária para a adequação do relato à leitura. Contudo, antes da
liberação para a consulta, isto é, antes que o áudio ou vídeo editados ou o relato
transcrito seja integrado a um acervo, são necessários dois p
importantes. O primeiro é a conferência pelo entrevistado, momento no qual o texto,
áudio ou vídeo já trabalhado é encaminhado para aprovação. Trata
delicada do processo, por isso os manuais de história oral alertam para a nece
de se estabelecer negociações prévias sobre o que exatamente pode ser alterado
Um exemplo é a quantidade de vezes que se permitirá ao depoente
fazer sugestões de alteração no texto.
De toda forma, essa fase existe e seu
bastante claro: o depoente é o autor da narrativa, tendo poder inclusive
de veto em sua divulgação, mesmo na fase final do processo. Não por acaso,
preciso colher também uma carta de cessão, por meio da qual o depoente autoriza a
liberação do conteúdo.
Essa validação, sem dúvida, pode ser considerada um
diferencial complexo, porém importante, do método, permitindo que pequenos
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Abril. 2016
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
76-91, jan.-abr. 2016
2003 e, mais recentemente, Sabrina Rubin Erderly na revista
Rolling
2014 (embora, neste caso, o editor, Will Dana, há 19 anos na posição,
licação da reportagem e
(MARTINEZ; CORREIA; PASSOS, 2015)
. Exatidão
jornalística
(KRAMER,
istória oral, o depoente narra sua versão da história,
Essas memórias são subjetivas, pois se baseiam na
percepção do indivíduo, não se esperando, evidentemente, que haja qualquer
dos. Há, por parte do pesquisador
ou do responsável por esta etapa, a necessidade de que a transcrição seja feita de
forma precisa, para se garantir a fidelidade ao relato. Pode haver copidescagem no
cais em um texto impresso,
por exemplo, fase necessária para a adequação do relato à leitura. Contudo, antes da
liberação para a consulta, isto é, antes que o áudio ou vídeo editados ou o relato
transcrito seja integrado a um acervo, são necessários dois p
rocedimentos
importantes. O primeiro é a conferência pelo entrevistado, momento no qual o texto,
áudio ou vídeo já trabalhado é encaminhado para aprovação. Trata
-se de uma etapa
delicada do processo, por isso os manuais de história oral alertam para a nece
ssidade
de se estabelecer negociações prévias sobre o que exatamente pode ser alterado
Um exemplo é a quantidade de vezes que se permitirá ao depoente
De toda forma, essa fase existe e seu
bastante claro: o depoente é o autor da narrativa, tendo poder inclusive
de veto em sua divulgação, mesmo na fase final do processo. Não por acaso,
é
preciso colher também uma carta de cessão, por meio da qual o depoente autoriza a
Essa validação, sem dúvida, pode ser considerada um
diferencial complexo, porém importante, do método, permitindo que pequenos
ISSN nº 2447-
4266
DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
enganos sejam corrigidos a partir da premissa de que a produção de conhecimento
se estabelece numa parceria entre depoente e
No caso de uma matéria jornalística, o autor, após ouvir o entrevistado
supondo que ele esteja redigindo uma matéria com uma única fonte
liberdade de usar outros recursos, como pesquisa em acervos, documentos,
fotografias e outros
, para criar o texto da
habilidade, grandemente baseada no estilo adotado pelo profissional, que
entende que
exercerá um poder de atração do leitor. Já o historiador oral, devido ao
próprio método, está limi
depoimento para eliminar repetições ou ruídos
vertentes de história oral permitam intervenções mais amplas
Pode
autorizado pelo colaborador é fator primordial para o estabelecimento de
um texto que reflita a vontade de quem se dispõe a contar. Embutido nesse
comportamento respeitoso ao que o "o
da
aceitação
dito e o que se tornará registro definitivo. Supondo que
fazer valer
parâmetro lógico, racional, coerente ou coeso, o que se tem é a relativização
do conceito de verdade. Sabe
Tudo interessa em um relato: a falsidade, a fantasia, o engano, o embuste, a
distorção. Numa primeira etapa, fazendo o discurso valer por si, o que deve
vigorar não é a busca de evidências e nem mesmo a comprovação dos fatos.
Lugar expressivo da vontade de quem fala, a subjetividade determina o
rumo dos fatos expostos em entrevista
conferência da entrevista. O diálogo ou ação dialógica da conversa fica
submetido ao pressuposto da vontade soberana do entrevistado.
RIBEIRO, 2011, p.
Nesse tipo de produção de conhecimento, a fase da validação exige
maturidade do oralista, pois o conteúdo apurado pode não fazer parte de seu
sistema de crenças e valores. Ribeiro e Meihy citam, como exemplo, um entrevistado
que narre experiênc
ias de contato com espíritos ou seres extraterrestres
RIBEIRO, 2011, p. 112)
. Como o objetivo do método da história oral não é o da busca
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Vol. 2, nº 1, Janeiro
-
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
-
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
enganos sejam corrigidos a partir da premissa de que a produção de conhecimento
se estabelece numa parceria entre depoente e
pesquisador:
No caso de uma matéria jornalística, o autor, após ouvir o entrevistado
supondo que ele esteja redigindo uma matéria com uma única fonte
liberdade de usar outros recursos, como pesquisa em acervos, documentos,
, para criar o texto da
melhor forma que
conceber
habilidade, grandemente baseada no estilo adotado pelo profissional, que
exercerá um poder de atração do leitor. Já o historiador oral, devido ao
próprio método, está limi
tado à transcrição, que em geral
se restringe à edição do
depoimento para eliminar repetições ou ruídos
(MARTINEZ, 2008)
vertentes de história oral permitam intervenções mais amplas
.
Pode
-
se mesmo dizer que o respeito absoluto a tudo que foi dito e depois
autorizado pelo colaborador é fator primordial para o estabelecimento de
um texto que reflita a vontade de quem se dispõe a contar. Embutido nesse
comportamento respeitoso ao que o "o
utro" diz reside o pressuposto ético
aceitação
do papel do oralista, que atua como
mediador
dito e o que se tornará registro definitivo. Supondo que
fazer valer
ou
à ação de tornar efetivo,
o que independe de qualquer
parâmetro lógico, racional, coerente ou coeso, o que se tem é a relativização
do conceito de verdade. Sabe
-
se que não existe mentira em história oral.
Tudo interessa em um relato: a falsidade, a fantasia, o engano, o embuste, a
distorção. Numa primeira etapa, fazendo o discurso valer por si, o que deve
vigorar não é a busca de evidências e nem mesmo a comprovação dos fatos.
Lugar expressivo da vontade de quem fala, a subjetividade determina o
rumo dos fatos expostos em entrevista
s e fixados em acordos acertados na
conferência da entrevista. O diálogo ou ação dialógica da conversa fica
submetido ao pressuposto da vontade soberana do entrevistado.
RIBEIRO, 2011, p.
111).
Nesse tipo de produção de conhecimento, a fase da validação exige
maturidade do oralista, pois o conteúdo apurado pode não fazer parte de seu
sistema de crenças e valores. Ribeiro e Meihy citam, como exemplo, um entrevistado
ias de contato com espíritos ou seres extraterrestres
. Como o objetivo do método da história oral não é o da busca
-
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
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enganos sejam corrigidos a partir da premissa de que a produção de conhecimento
No caso de uma matéria jornalística, o autor, após ouvir o entrevistado
− e
supondo que ele esteja redigindo uma matéria com uma única fonte
− , tem a
liberdade de usar outros recursos, como pesquisa em acervos, documentos,
conceber
. Aliás, é esta
habilidade, grandemente baseada no estilo adotado pelo profissional, que
se
exercerá um poder de atração do leitor. Já o historiador oral, devido ao
se restringe à edição do
(MARTINEZ, 2008)
, embora algumas
se mesmo dizer que o respeito absoluto a tudo que foi dito e depois
autorizado pelo colaborador é fator primordial para o estabelecimento de
um texto que reflita a vontade de quem se dispõe a contar. Embutido nesse
utro" diz reside o pressuposto ético
mediador
entre o que foi
dito e o que se tornará registro definitivo. Supondo que
validar
equivale a
o que independe de qualquer
parâmetro lógico, racional, coerente ou coeso, o que se tem é a relativização
se que não existe mentira em história oral.
Tudo interessa em um relato: a falsidade, a fantasia, o engano, o embuste, a
distorção. Numa primeira etapa, fazendo o discurso valer por si, o que deve
vigorar não é a busca de evidências e nem mesmo a comprovação dos fatos.
Lugar expressivo da vontade de quem fala, a subjetividade determina o
s e fixados em acordos acertados na
conferência da entrevista. O diálogo ou ação dialógica da conversa fica
submetido ao pressuposto da vontade soberana do entrevistado.
(MEIHY;
Nesse tipo de produção de conhecimento, a fase da validação exige
maturidade do oralista, pois o conteúdo apurado pode não fazer parte de seu
sistema de crenças e valores. Ribeiro e Meihy citam, como exemplo, um entrevistado
ias de contato com espíritos ou seres extraterrestres
(MEIHY;
. Como o objetivo do método da história oral não é o da busca
ISSN nº 2447-
4266
DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
da certificação objetiva de fatos reais, o conteúdo das entrevistas é acolhido, ainda
que carregado de significados impressionistas. Aqui, o método da história oral se
alinha, em alguma medida, com o de verdade de outro campo, a psicologia, por
meio do qua
l o relato do indivíduo é aceito pelo analista como é, uma vez que é
justamente a compreensão dessas camadas de significado distintas que permite
mapear o universo único de cada ser humano.
fenomenológica
(MARTINEZ; SILVA, 2014)
3.1
Convergências quanto à ética
Além da maturidade, demanda
superético
na construção de sua reportagem ou história de vida, uma vez que ele é
responsável pelo conteúdo que será divulgado
responsabilidade do autor deixar claras as consequências que a reportagem pode
causar na vida do entrevistado, sobretudo dos menos favorecidos, seja do ponto de
vista de educação formal, mental ou financeiro. Até porque é o jornalista que tem um
conhecimen
to do impacto da mídia contemporânea no cotidiano do indivíduo em
uma dada comunidade.
A nosso ver, u
ma das melhores definições de ética foi dada pelo jornalista
Cláudio Abramo (1923-
1987), ao dizer que não há propriamente uma ética específica
do jornalista, pois
ela não difere da de um marceneiro, por exemplo, uma vez que os
princípios e valores que norteiam o indivíduo não podem ser fragmentados,
estendendo à sua vida
do profissional
ponto de vista jornalístico, destacamos a perspectiva do estudioso estadunidense de
Jornalismo Literár
io Mark Kramer, quando ele aborda o que chama de pacto com
leitores em duas ins
tâncias: a relação do autor com o leitor e a relação do escritor
com suas fontes
(KRAMER, 1995)
relacionamentos éticos
, destacaremos neste artigo a relação do escritor com suas
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-
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
da certificação objetiva de fatos reais, o conteúdo das entrevistas é acolhido, ainda
que carregado de significados impressionistas. Aqui, o método da história oral se
alinha, em alguma medida, com o de verdade de outro campo, a psicologia, por
l o relato do indivíduo é aceito pelo analista como é, uma vez que é
justamente a compreensão dessas camadas de significado distintas que permite
mapear o universo único de cada ser humano.
Estamos, portanto, na esfera
(MARTINEZ; SILVA, 2014)
e não analítica dos fenômenos observados
Convergências quanto à ética
Além da maturidade, demanda
-se, do jornalista
, um posicionamento
na construção de sua reportagem ou história de vida, uma vez que ele é
responsável pelo conteúdo que será divulgado
.
É, portanto, de inteira
responsabilidade do autor deixar claras as consequências que a reportagem pode
causar na vida do entrevistado, sobretudo dos menos favorecidos, seja do ponto de
vista de educação formal, mental ou financeiro. Até porque é o jornalista que tem um
to do impacto da mídia contemporânea no cotidiano do indivíduo em
ma das melhores definições de ética foi dada pelo jornalista
1987), ao dizer que não há propriamente uma ética específica
ela não difere da de um marceneiro, por exemplo, uma vez que os
princípios e valores que norteiam o indivíduo não podem ser fragmentados,
do profissional
como um todo
(ABRAMO, 1988)
ponto de vista jornalístico, destacamos a perspectiva do estudioso estadunidense de
io Mark Kramer, quando ele aborda o que chama de pacto com
tâncias: a relação do autor com o leitor e a relação do escritor
(KRAMER, 1995)
. Do ponto de vista de discussão sobre
, destacaremos neste artigo a relação do escritor com suas
-
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
76-91, jan.-abr. 2016
da certificação objetiva de fatos reais, o conteúdo das entrevistas é acolhido, ainda
que carregado de significados impressionistas. Aqui, o método da história oral se
alinha, em alguma medida, com o de verdade de outro campo, a psicologia, por
l o relato do indivíduo é aceito pelo analista como é, uma vez que é
justamente a compreensão dessas camadas de significado distintas que permite
Estamos, portanto, na esfera
e não analítica dos fenômenos observados
.
, um posicionamento
na construção de sua reportagem ou história de vida, uma vez que ele é
É, portanto, de inteira
responsabilidade do autor deixar claras as consequências que a reportagem pode
causar na vida do entrevistado, sobretudo dos menos favorecidos, seja do ponto de
vista de educação formal, mental ou financeiro. Até porque é o jornalista que tem um
to do impacto da mídia contemporânea no cotidiano do indivíduo em
ma das melhores definições de ética foi dada pelo jornalista
1987), ao dizer que não há propriamente uma ética específica
ela não difere da de um marceneiro, por exemplo, uma vez que os
princípios e valores que norteiam o indivíduo não podem ser fragmentados,
(ABRAMO, 1988)
. Isto dito, do
ponto de vista jornalístico, destacamos a perspectiva do estudioso estadunidense de
io Mark Kramer, quando ele aborda o que chama de pacto com
tâncias: a relação do autor com o leitor e a relação do escritor
. Do ponto de vista de discussão sobre
, destacaremos neste artigo a relação do escritor com suas
ISSN nº 2447-
4266
DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
fontes, uma vez que esta modalidade implica em apurações que por vezes são de
longa duração,
podendo ger
T
ambém repórter literário,
uma carta de intenções, n
que permitiria ao entrevistado. Dependendo do caso, contudo, ele chega
a assinatura de acordos, bem como a exposição de exemplos de reportagens ou
livros já publicados de autoria do jorn
é que a relação evidentemente pode desembocar numa amizade, mas o entrevistado
tem de ser alertado de que está revelando informações não a um “amigo”, mas a um
profissional, que o vê como uma fonte
Kramer
aponta dois tipos de acesso menos problemáticos
não quer falsear as intenções, isto é, quer agir de forma sincera e honesta quanto ao
objetivo de sua matéria
. O primeiro é o de
retratados − o que n
a sociedade
número cada vez maior de
engajados em boas iniciativas e ações, podem ter interesse em divulgar suas causas
(KRAMER, 1995, p. 26).
modalidades, como o
jornalismo investigativo, que, naturalmente,
outras estratégias
para obter
Contudo, como aponta Denise Casatti, essa relação
complexa. O jornalista que ouve pode se transformar no narrador e compartilhar suas
próprias memórias. E a fonte pode deixar seu lugar de fala para se transformar no
ouvinte, que escuta, silencia, retoma a palavra
evidentemente, de uma relação dialógica.
4.
Considerações finais: a
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http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
-
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
fontes, uma vez que esta modalidade implica em apurações que por vezes são de
podendo ger
ar
relacionamentos intensos com os entrevistados.
ambém repórter literário,
Kramer
costumava principiar seus contatos com
uma carta de intenções, n
a
qual deixava claro sua proposta e, também, a intervenção
que permitiria ao entrevistado. Dependendo do caso, contudo, ele chega
a assinatura de acordos, bem como a exposição de exemplos de reportagens ou
livros já publicados de autoria do jorn
alista (KRAMER, 1995
, p. 26
é que a relação evidentemente pode desembocar numa amizade, mas o entrevistado
tem de ser alertado de que está revelando informações não a um “amigo”, mas a um
profissional, que o vê como uma fonte
− por mais que se acarinhe dele.
aponta dois tipos de acesso menos problemáticos
não quer falsear as intenções, isto é, quer agir de forma sincera e honesta quanto ao
. O primeiro é o de
buscar
indivíduos que gosta
a sociedade
da alta visibilidade
contemporânea abrange um
número cada vez maior de
pessoas
. O segundo é o de personagens exemplares, que,
engajados em boas iniciativas e ações, podem ter interesse em divulgar suas causas
Não estamos discutindo aqui,
é preciso ficar claro
jornalismo investigativo, que, naturalmente,
para obter
as informações necessárias.
Contudo, como aponta Denise Casatti, essa relação
entrevistado
complexa. O jornalista que ouve pode se transformar no narrador e compartilhar suas
próprias memórias. E a fonte pode deixar seu lugar de fala para se transformar no
ouvinte, que escuta, silencia, retoma a palavra
(CASATTI, 2006, p. 110)
evidentemente, de uma relação dialógica.
Considerações finais: a
p
ossibilidade de diálogo entre as áreas
-
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
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fontes, uma vez que esta modalidade implica em apurações que por vezes são de
relacionamentos intensos com os entrevistados.
costumava principiar seus contatos com
qual deixava claro sua proposta e, também, a intervenção
que permitiria ao entrevistado. Dependendo do caso, contudo, ele chega
va a sugerir
a assinatura de acordos, bem como a exposição de exemplos de reportagens ou
, p. 26
). A grande questão
é que a relação evidentemente pode desembocar numa amizade, mas o entrevistado
tem de ser alertado de que está revelando informações não a um “amigo”, mas a um
− por mais que se acarinhe dele.
aponta dois tipos de acesso menos problemáticos
quando o jornalista
não quer falsear as intenções, isto é, quer agir de forma sincera e honesta quanto ao
indivíduos que gosta
riam de ser
contemporânea abrange um
. O segundo é o de personagens exemplares, que,
engajados em boas iniciativas e ações, podem ter interesse em divulgar suas causas
é preciso ficar claro
, outras
jornalismo investigativo, que, naturalmente,
lança mão de
entrevistado
-fonte é
complexa. O jornalista que ouve pode se transformar no narrador e compartilhar suas
próprias memórias. E a fonte pode deixar seu lugar de fala para se transformar no
(CASATTI, 2006, p. 110)
. Trata-se,
ossibilidade de diálogo entre as áreas
ISSN nº 2447-
4266
DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
A nosso ver, há um campo fértil para diálogo entre jornalistas e historiadores
orais, que muito pode beneficiar
rigor na coleta de dados,
campos, uma marca d
o método da história oral. "
por vários motivos caiu em desuso no dia
fidelidade à fala do personagem, permitindo utilizar diálogos e expressões pessoais
que deixam a narrativa saboros
grupo social"
(MARTINEZ, 2008, p. 28)
− e porque n
ão, até os
ainda que decupar
o material continue sendo uma das tarefas mais árduas do
jornalismo
, sobretudo o praticado em idiomas como o português. No caso da língua
franca acadêmica, o inglês, já há mecanismos, como aplicativos, que facilitam o
processo de transcrição.
Evidentemente,
esse protocolo pode ser usado
se faz necessária, uma vez que nunca é demais lembrar a práxis do jornalista
estadunidense Gay Talese
correndo para o computador (na época, máquina de escrever) quando chegava em
seu escritório
(TALESE, 2004)
com o entrevistado, criando uma barreira desnecessária.
Talvez um avanço bem
conjunto entre entrevistado e fonte. Neste sentido, ambos têm direito a intervir, em
alguma
medida, no texto
relação. Por isso, "[o]
utra prática bem
é a conferência do texto pelo entrevistado. Na verdade, trata
vist
o que o trabalho não deixa de ser uma parceria de pelo menos duas pessoas que
têm como objetivo contar uma história, seja pessoal, grupal, temática ou sobre um
momento histórico."
(MARTINEZ, 2008, p. 28)
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Vol. 2, nº 1, Janeiro
-
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
-
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
A nosso ver, há um campo fértil para diálogo entre jornalistas e historiadores
orais, que muito pode beneficiar
ambas áreas.
Do lado jornalístico, destacamos
rigor na coleta de dados,
que pode ser exemplificada pelo uso de cadernos de
o método da história oral. "
O próprio recurso da gravação, que
por vários motivos caiu em desuso no dia
-a-
dia das redações, resulta numa alta
fidelidade à fala do personagem, permitindo utilizar diálogos e expressões pessoais
que deixam a narrativa saboros
a, ajudando a compor a
person
(MARTINEZ, 2008, p. 28)
. Há que se lembrar que os gravadores digitais
ão, até os
smartphones
− facilitaram muito o processo de grava
o material continue sendo uma das tarefas mais árduas do
, sobretudo o praticado em idiomas como o português. No caso da língua
franca acadêmica, o inglês, já há mecanismos, como aplicativos, que facilitam o
esse protocolo pode ser usado
nos casos em que a gravação
se faz necessária, uma vez que nunca é demais lembrar a práxis do jornalista
estadunidense Gay Talese
, que usa a memória para anotar impressões e falas,
correndo para o computador (na época, máquina de escrever) quando chegava em
(TALESE, 2004)
. Para ele, aparatos el
etrônicos interferiam na relação
com o entrevistado, criando uma barreira desnecessária.
Talvez um avanço bem
-
vindo seja o de considerar a matéria um projeto
conjunto entre entrevistado e fonte. Neste sentido, ambos têm direito a intervir, em
medida, no texto
−
é a "medida", portanto, que deve ficar clara no início da
utra prática bem
-
vinda, abominada pela maioria dos jornalistas,
é a conferência do texto pelo entrevistado. Na verdade, trata
-
se de um auxílio salutar,
o que o trabalho não deixa de ser uma parceria de pelo menos duas pessoas que
têm como objetivo contar uma história, seja pessoal, grupal, temática ou sobre um
(MARTINEZ, 2008, p. 28)
. Um acordo prévio possível é que o
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
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A nosso ver, há um campo fértil para diálogo entre jornalistas e historiadores
Do lado jornalístico, destacamos
o
que pode ser exemplificada pelo uso de cadernos de
O próprio recurso da gravação, que
dia das redações, resulta numa alta
fidelidade à fala do personagem, permitindo utilizar diálogos e expressões pessoais
person
a
do indivíduo ou
. Há que se lembrar que os gravadores digitais
− facilitaram muito o processo de grava
ção,
o material continue sendo uma das tarefas mais árduas do
, sobretudo o praticado em idiomas como o português. No caso da língua
franca acadêmica, o inglês, já há mecanismos, como aplicativos, que facilitam o
nos casos em que a gravação
se faz necessária, uma vez que nunca é demais lembrar a práxis do jornalista
, que usa a memória para anotar impressões e falas,
correndo para o computador (na época, máquina de escrever) quando chegava em
etrônicos interferiam na relação
vindo seja o de considerar a matéria um projeto
conjunto entre entrevistado e fonte. Neste sentido, ambos têm direito a intervir, em
é a "medida", portanto, que deve ficar clara no início da
vinda, abominada pela maioria dos jornalistas,
se de um auxílio salutar,
o que o trabalho não deixa de ser uma parceria de pelo menos duas pessoas que
têm como objetivo contar uma história, seja pessoal, grupal, temática ou sobre um
. Um acordo prévio possível é que o
ISSN nº 2447-
4266
DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
entrevistado faça correções quanto ao conteúdo,
parte técnica do trabalho
Seja jornalismo ou história oral, o
(PORTELLI, 2011)
talvez sintetize o que é mais importante na hora de interagir com
outro ser humano
, quando diz que
durante uma entrevista
é
não
entramos nesse processo para "estudar" um
comunidade, mas
simplesmente
lembra que é justamente o que
conosco. E não o que,
do alto de nossa vaidade,
Referências
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A regra do jogo e a ética do marceneiro
Letras, 1988.
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fontes
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de pesquisa em Comunicação
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Literary journalism: a new collection of the best American nonfiction
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epistemologia compreensiva da comunicação.
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MARTINEZ, M.
Jornada do Herói: estrutura narrativa mítica na construção de
histórias em jornalismo
MARTINEZ, M. A história de vida como instância metódico
4266
Vol. 2, nº 1, Janeiro
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http://dx.doi.org/10.20873/uft.2447
-
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Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
entrevistado faça correções quanto ao conteúdo,
deixando a escritura
parte técnica do trabalho
− confiada
à competência do jornalista.
Seja jornalismo ou história oral, o
historiador
italiano Alessandro Porteli
talvez sintetize o que é mais importante na hora de interagir com
, quando diz que
a coisa mais importante que
é
a nossa ignorância e o nosso
desejo de aprender
entramos nesse processo para "estudar" um
entrevistado ou
simplesmente
para aprender
sobre e, sobretudo, com
lembra que é justamente o que
não sabemos
que encoraja as pessoas a falar
do alto de nossa vaidade,
imaginamos saber
A regra do jogo e a ética do marceneiro
. São Paulo: Companhia das
Manual de História Oral
. 3. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2005.
Viagem ao outro: um estudo sobre o encontro entre jornalistas e
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. Petrópolis, RJ: Vozes, 1984.
Os arquétipos e o inconsciente coletivo
.
8. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
KRAMER, M. Breakable Rules for Literary Journalists. In: SIMS, N.; KRAMER, M. (Eds.). .
Literary journalism: a new collection of the best American nonfiction
Ballantine Books, 1995. p. 21
–34.
KÜNSCH, D. A. A comunicação, a explicação e a compre
ensão: ensaio de uma
epistemologia compreensiva da comunicação.
Líbero
, v. 17, n. 34, p. 111
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O tempo dos gêneros
. São Paulo: Salesiana, 2008.
Páginas ampliadas: o livro
-
reportagem como extensão do jo
. 4. ed. São Paul: Manole, 2009.
Pesquisa em Comunicação
. 7. ed. Rio de Janeiro: Loyola, 2003.
Jornada do Herói: estrutura narrativa mítica na construção de
histórias em jornalismo
. 1. ed. São Paul
o: Annablume/Fapesp, 2008.
MARTINEZ, M. A história de vida como instância metódico
-
técnica no campo da
-
Abril. 2016
4266.2016v2n1p76
Revista Observatório, Palmas, v. 2, n. 1, p.
76-91, jan.-abr. 2016
deixando a escritura
− por ser a
à competência do jornalista.
italiano Alessandro Porteli
talvez sintetize o que é mais importante na hora de interagir com
a coisa mais importante que
temos a oferecer
desejo de aprender
. Para ele,
entrevistado ou
uma dada
sobre e, sobretudo, com
eles. Portelli
que encoraja as pessoas a falar
em
imaginamos saber
sobre eles.
. São Paulo: Companhia das
. 3. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2005.
Viagem ao outro: um estudo sobre o encontro entre jornalistas e
DUARTE, J. Entrevista em profundidade. In: DUARTE, J.; BARROS, A. (Eds.). .
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. São Paulo: Salesiana, 2008.
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4266
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