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Espaço&Geografia,Vol.16,No1(2013),325:367
ISSN:1516-9375
METROPOLIZAÇÃO, PATRIMONIALIZAÇÃO E POTENCI-
AIS DE CONFLITOS SOCIOTERRITORIAIS
EM BRASÍLIA (DF) 1
Everaldo Batista da Costa¹, Bruna Silveira², Denise Severo²,
Elton Araújo², Francisco Beserra² & Tiago Carmo²
¹ProfessordoutordoDepto.deGeografiadaUniversidadedeBrasília/GEA–UnB.
CoordenadordoGrupodeEstudosCidadesePatrimonialização.CampusUniversitá-
rioDarcyRibeiro-ICCNorte-Subsolo-Módulo23-Brasília(DF)
everaldocosta@unb.br
²PesquisadoresdoGrupodeEstudosCidadesePatrimonialização.Departamentode
GeografiadaUniversidadedeBrasília(GEA/UNB).CampusUniversitárioDarcy
Ribeiro-ICCNorte-Subsolo-Módulo23-Brasília(DF)
brunadrumond@hotmail.com,denisedesousa@yahoo.com.br,eltonunb@gmail.com,
franciscowanderleyb@gmail.com,60.tiago@gmail.com
Recebido21dejaneirode2013,Aceito24dejunhode2013.
RESUMO - Nocontextode formação,transformaçãoe representaçãodametrópole
terciáriaBrasília,noDistritoFederalbrasileiro,oPlanoPiloto(projetourbanísticodo
arquiteto Lúcio Costa, de 1957) constitui-seem símbolo da ideologia espacial que
consagrouoEstado-nacional:perspectivadaocupaçãodeuminteriorasercivilizado,
dominadoe explorado.Acidadefaz-sereferencialsimbóliconacionalereconhecido
patrimôniomodernointernacional,oquejustificaodesvendamentodospotenciaisde
con flitos socio territ oriais advind os da r elaçã o entr e sua patrimonialização e a
metropolização.Logo,BrasíliaPatrimôniodaHumanidadeserátratadanocontextoda
macrourbanizaçãoque,emefeitobumerangue,aorecobriratotalidadedametrópole
1 Este artig o aprese nta os resu ltados fin ais do Projeto de Pesqui sa intitulad o
“Patrimô nio urbano d e Brasília (DF): c onflitos socio territoriais e p reservação”,
desenvolvidonosanosde2011e2012porintegrantesdoGrupodeEstudosCidades
ePatrimonialização,juntoaoDepartamentodeGeografiadaUniversidadedeBrasília
ecombolsasdaDAC/DDS/UnB.
E.B.daCosta
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enquantoespaçodevivênciasmúltiplas,catalizapotenciaisdeconflitossocioterritoriais
juntoàpatrimonializaçãodestaáreaqueécentralidadefuncionalmetropolitana.
Palavras-chave:Brasília;metropolização;patrimonialização;potenciaisdeconflitos
socioterritoriais.
ABSTRACT - In the contextofformation,transformationandrepresentationofthe
tertiarymetropolisBrasília,intheFederalDistrictofBrazil,PlanoPiloto (urbanistic
projectbythearchitectLucioCosta,from1957)isasymbolforthespatialideology
thatembodiedthenational-state:perspectiveooccupationofacoutrysidetobecivilized,
dominatedandexplored.Thecitybecameasymbolicnationalreferenceandrecognized
internationalmodernpatrimony,whatjustifiestheunveilingofpotentialsocio-territorial
conflictsderivingfromtherelationbetweenitspatrimonialisationandmetropolisation.
Hence,BrasíliaCulturalHeritageofHumanitywillbetreatedinthecontextofmacro-
urbanizationwhich,as aboomerang effect, while coating thewholemetropolis as a
spaceofmultipleexperiencestriggerspotentialsforsocio-territorialconflictstogether
withthepatrimonialisationofthisarea,whichisthefunctionalmetropolitancentrality.
Key words:Brasília;metropolisation;patrimonialisation;potentialsforsocio-territorial
conflicts.
PREÂMBULO
Acidadeéoconcreto,ofatoemsi,ourbanoéofenômeno,oabstrato,ahistória
geral domovimentodestefato que éa cidade.Apartir detal pressuposto,
reconhecemosaviadoimagináriourbanocomoelementoíntimodaparticipação
do su jeito na c onstruç ão da ima gem da cid ade, al ém de favo recedor do
entendimentoconcretodourbano.
Esteartigoéfruto deumapesquisaintrodutóriaquevisa adesvendar os
Metropolização,PatrimonializaçãoePotenciaisdeConflitos... 327
potenciaisdeconflitosocioterritoriaisadvindosdarelaçãoentremetropolização
epatrimonialização,nacidadedeBrasília.Fundamenta-senoentendimentode
que a tomada d e consci ência colet iva para a eclosã o do conflit o resid e,
precisamente,noimaginárioqueseconstituinaexperiênciacotidianaenomodo
devidaque sefaznametrópoledosnossosdias:centralidadegeográficada
reproduçãoeimpactocrescentesdastécnicasedastecnologias,dacomunicação
edainformação,dasimagensedosimaginários,reciprocamente.
Metodologicamente,vamosentender,primeiramente,Brasília(ouoPlano
Pilotoarquitetadonadécadade1950)comoumavarianteestéticaconcretada
estratégiageopolíticaegeoeconômicaquetransfereacapitalbrasileiradoRio
deJaneiroparaoPlanaltoCentraldopaís.EstratégiaqueforneceaBrasíliaa
imagemdereferênciacruzadaentreoestético(símbolodaarquiteturamoderna
internacionalnoBrasil)edopolítico(centrodopodernacional).
Contudo,esseterritóriopatrimonializadonãoéanalisadodeformarecortada,
nesteestudo.Verificamosanecessidadedetratá-lonocontextomaisamploque
oenvolve: odametropolização oumacrourbanização queredunda naÁrea
Met ropol itana de Brasíl ia (AM B). Logo, par a o entrecruzament o entr e
patrimonializaçãoe metropolização,reconhecemos que areal percepção da
experiênciaurbanaporpartedaquelesquevivemametrópoleéproduzidano
contextodousodoespaçooudalógicaqueproduzoslugares.
Nesseentendimento,ospotenciaisdeconflitossocioterritoriaiscorrespondem
aimagensdacidadequeredundamnoimagináriourbanoqueaponta,porsua
vez, pa ra os pro blemas co ncretos atinen tes à urb anização. O i maginári o
constituídosobreumdadoterritóriopode,aosefazercoletivoeexplícito,induzir
ummododepensaredeagirpolíticossobreacidade:instaura-se,apartirdaí,
oconflitosocioterritorial.
E.B.daCosta
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Se“oimaginárioé umprocessoqueacumulaimagenseéestimuladoou
des enca deado por u m elemento construído o u não , porém, clar ament e
identificadocomomeioeocotidianourbano”(Ferrara,2000,p.118),interpretar
asimpressõesoupercepçõesdosmoradoresdoDistritoFederalsobreBrasília
ou su a cidad e de orig em parece ser uma via me todológica fact ível par a
identificarmosospotenciaisdeconflitossocioterritoriais.Estesestãoligados
aos problemas ur banos advindos da convergência patrimon ialização e
metropolização,paraacapitaldoBrasil.
BRASÍLIA – VARIANTE ESTÉTICA CONCRETA DE UMA ESTRATÉ-
GIA PARA O INTERIOR DO BRASIL
AhistóriapatrimonialdeBrasílianãopodesercompreendidatão-somentea
partirdaanálisedoplanourbanísticoelaboradopeloarquitetobrasileiroLúcio
Costa,no terceiroquartel doséculo XX.Partimosdo pressupostode quea
totalidadedacidade,emessência, sópode seralcançadanajunçãoentre os
elementosconcretosquefavorecemaproduçãodoimagináriourbanoeopróprio
imagináriosobreacidade,oqueextrapolaahistóriadeseuurbanismoebaliza
umviésparaosestudosgeográficosurbanos.
BrasíliaéembrionáriadatransferênciadacapitaldoRiodeJaneiro(litoral
brasileiro)paraointeriordoterritório,ondeinteressesdiversosfomentarama
empreitada.Taisinteressessingularizam-seem:1.rompimentocomopadrão
colonialdeocupaçãofiliformedoterritório,emqueasmaioreseprincipais
capitaisde estados(Recife, Salvador,São Luis,Riode Janeiro,São Paulo)
desenvolviam-sepróximasàorlalitorâneae;2.produçãodeumalocalização
estratégicageopolíticaegeoeconômicanacional,deformaqueseentrecuzariam
duaspossibilidades/necessidadesnacomplexizaçãodoterritório–integração
(centro-sulcomoNorteeoNordestebrasileiros)econtrole(buscadeumsaber
Metropolização,PatrimonializaçãoePotenciaisdeConflitos... 329
paraa ocupação,continuidade daexploração históricadas populações e da
naturezae,emdecorrência,umavalorizaçãodoespaçotratadoenquantorecurso).
AgeógrafabrasileiraIgnezBarbosaFerreiradeixa-nospistasvaliosassobre
aempresa históricaque redundounaconstruçãode Brasíliae mais,mostra
comoahistóriacentenáriadacidademodernademeioséculoinfluinoprocesso
deformaçãodametrópole.Aautorarevela-nosquatroeventoscruciaisdesse
processoqueantecedeaconstruçãodeBrasília:
O primeiro momento tem iníc io na mensagem encami nhada por José
Bonifácio2àAssembleiaConstituinteem1823,naqualsugereonomeBrasília
paraacapitaldoreino.“Éomomentodadiscussãodainteriorizaçãodacapital
edapreocupaçãocomsuaposiçãogeográfica(...)Essemomentoculminacom
adeterminação datransferência dacapital constantena1ª Constituição da
República”(Ferreira,2010,p.25).
No segun do momento, os inter esses se vol tam para o sítio onde ser ia
implantadaanovacapital,emumviéscientíficodeterminista,emque“olugar
determinaoprocessoevolutivodacidade,eosucessodesuagestãodepende
dascondições locais,naturais e históricas”(Ferreira,2010,p.25). Esteéo
momentodedelimitaçãodoquadriláteroquehojeguardaoDistritoFederal,
tratado por Quadri látero Cr uls. Em fins do sécul o XIX, um grupo de
pesquisadores(degeólogosegeógrafosaengenheiros,médicosehigienistas)
cumpriramatarefadeexplorarasmenosconhecidasterrasdooestedoBrasil,
oPlanaltoCentral.NaexpediçãolideradapelobelgaDr.LuísCruls,foirealizado
umlevantamentocientíficoesmiuçadoeinéditoparaaregiãoqueseperfazia
poucoconexacomatotalidadedoBrasildaépoca.
2Estadista,naturalistaepoetabrasileiro,reconhecidopeloseupapelnoprocessode
“In depe ndên cia d o Bra sil”. Tamb ém rec onhe cido pelo e píteto d e “Patr iarca
daIndependência”.
E.B.daCosta
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Noterceiromomentoassinalado,tendoemvistaaimportânciaqueacapital
teriaparaolugaremquefosseinstalada,interesseslocaisegeraisconvergem,
acapitalétransferida,todaamáquinapública federalsedeslocadoRiode
Janeiro.Despontaumnovopolodedesenvolvimentoregionalenacional,em
uminéditoquadrodeenvergadurapolíticabrasileira,comaconcretizaçãoda
cidade.Oquartomomentodiscutidopelaautoracorrespondeaodaformação
desua áreametropolitana, oqueestáemcurso esegue acomplexidadeda
produçãourbananoBrasil,comoatestaremosadiante.
Assim,oprimeiromomentodoprocessoquedesembocanaconstruçãode
Brasília sintetiza uma estratégia políticacapitalistaem germede ampliaro
mercadodeproduçãoeconsumonoBrasil.Osegundomomento,odeescolha
do sítio para a n ova capit al, representa o coroame nto de uma estratégia
empreendedoraquereconheciaopotencialdaregiãoCentro-Oestebrasileira
paraosfuturoseixosdecontroleeexpansãoterritorial,convergindointeresses
locai s e nac ionais, co mo destaca Ferreira ( 2010). Todo o processo de
transferênciadacapitaldoRiodeJaneiroparaointeriordoBrasilcarregoua
ideiadedesenvolvimentomenoscomoelementocaracterizadordaautonomia
do pov o e comunid ades na cionais e mais como: processo de do minação
territorial,possibilidadedeexploraçãodaspopulaçõesedanaturezae,porfim,
polocentralestratégicoparaodesenvolvimentoeconômicobrasileiro.
Aideologiaespacialque,prematuramente,simbolizaeconcretizaaedificação
deBrasíliaéatestadapelopresidentebrasileiroqueadácorpo,nadécadade
1960:
OpresidenteJuscelinoKubitschekconsideravaqueumanovadi-
nâmicapolíticaimpunha-seaopaís,atéentãovoltadoparaomar.
Deveriaabandonaressapolíticaeempenhar-seemtomarposse
Metropolização,PatrimonializaçãoePotenciaisdeConflitos... 331
efetivadeseuterritório.Isso,segundooprópriopresidente,seria
uma revolução de métodos administrativos que consistiria em:
extinguirespaçosvazios;processaraexploraçãodosimensosre-
cursosnaturais;procederàextinçãodosdesníveis sociais pela
dissemina ção do progresso; fa zer a aproximação dos n úcleos
populacionaiscomaaberturadeestradasemtodasasdireções;
darenergiaabundanteebarataaosestados;atraircapitaisexter-
nosparapossibilitaraconstruçãodesiderúrgicas,tendoemvista
aindustrializaçãonacional;irrigarasterrassecasdoNordeste;
devassaraflorestaamazônicademodoaincorporá-laaoterritó-
rionacional,emudarasededasdecisõesgovernamentais,constru-
indo-seanova capital do centrogeográfico do país.(Ferreira,
2010,p.47)
MiltonSantos,em1964,publicouumartigo,narevistafrancesaCaravelle,
intituladoBrasília:anovacapitalbrasileira,reconhecendo-a,aomesmotempo,
comoumacapitalpolíticaeumcanteirodeconstrução.Surgiucomoumcanteiro
deconstruçãoe,apósainstalação,fez-selocus dostrêspoderes dogoverno
brasileiro;oautoravê,naquelemomento,como“umacidadeartificial”,“uma
grandecidadecapitaldepaíssubdesenvolvido”.
Cidade‘artificial’-surgiudeumavontadecriadoraquehaveria
desemanifestarnapréviadefiniçãodediversosaspectosmateri-
aiseformais.Aintençãoquepresidiuàsuacriaçãoéqueorienta-
riaaquela vontadecriadora.Brasíliajánasciacom umdestino
predeterminado:ser ‘a cabeçado Brasil’, o‘cérebrodasmais
altas decisões nacionais’. Capital administrativa e cantei ro de
E.B.daCosta
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obras,essasduasrealidades-arealidadeplanejadaearealidade
condição para a primeira - v ão contribuir p ara lhe dar uma
fisionomia,umritmodevida,umconteúdo.Demaneiraideal-e
eraapretensãodosplanejadores-arealidadeplanejadairiasubs-
tituindoarealidadecondição.Brasíliaseriacadavezmaisuma
Capitalvoluntariamenteconstruídaecadavezmenosumcantei-
rodeobras.Essaevoluçãocomplementar,emsentidoscontrários,
poderiacontinuarmarcandoavidadacidadese, ao longo dos
dois,nãopermanecesseumfatordecomplexidademaisforte:o
subdesenvolvimento do país e tudo que o acompanha. (Santos,
1964,p.73)
AconstruçãodeBrasília,nocernedamarchaparaoOesteedaintegração
territoria lnacional, estabeleceu debates sobre a saga desta empresa e pela
representatividadedaarquiteturamoderna.Brasíliarepresentaumaprojeção
maisrecentedopaísnocenáriocapitalistaavançado,odesenvolvimentodo
urbanoedaarquiteturadascidades,ummarcodaestratégianacionaldeinserção
naeconomiaenapolíticainternacionais(Costa,Suzuki,2012,p.18).
Adécadade1950demarcamaisummomentodacorrelaçãoentreaideologia
espacial–recapitulandooprojetonacionaldemodernizaçãoedeprogresso–e
aspolíticasterritoriaisqueguardaram,nahistórianacional,comomaisaltofio
condutor,oinvestimentonaintegraçãoterritorial(Costa,Suzuki,2012,p.18).
“Aobjetivaçãodovelhoprojetogeopolíticodeinteriorizaracapital,associado
aumextensoplano viário,completamnointerior oesforçoindustrializante
operadonasáreascentraisdopaís”(Moraes,2005,p.99).
Adivisãoregionaldotrabalho,apósa décadade 1950,se perfazemum
mercado na cional de nova f iguração, basea do na intervenç ão estatal e na
Metropolização,PatrimonializaçãoePotenciaisdeConflitos... 333
perspectivadoplanejamentoregionalparaamodernizaçãobrasileira;sónesse
momento, co m a sign ificati va urbaniz ação e impl antação d e sistemas de
engenhariamaisvultososnoterritórionacional,équeaideiadepovoganha
espaçonodebatesobreaidentidadebrasileira(Moraes,2005).Brasíliaguarda
asnoçõesdeprogresso,modernizaçãoecomplexizaçãoterritorialenquantoelo
da n ação ima ginada e d a nação tal qu al se conc retizou (fragmentada e
fragmentária,nestaparte domundo,quando adivisãosociale territorialdo
trabalhovinculou-se,paripassu,àproduçãodediferençasgeográficasnascinco
denominadasregiõesbrasileiras:Norte,Nordeste,Centro-Oeste,SudesteeSul).
BrasíliasimbolizaopoderdoEstadoanteavalorizaçãodevariantesestéticas
quesãorepresentantesmateriaisdamanutençãodaadministraçãoedaestratégia
quevisouadarsentidoeconômico,históricoeidentitárioaoEstadonacional
brasileiro.
O Brasil vivia, em meados do século XX, envolto pel a lógica do
“subdesenvolvimentismo”eesteemergecomoumelementodecontraposição
dianteda“vontadecriadora”dacapital,oqueperverteosresultadosesperados
paraanovacidadeesefazoresponsávelpelascontradiçõessocioterritoriais
quecaracterizamBrasília,aproximando-asobremaneira dasdemaiscapitais
latinoa mericanas. De acordo com Sant os (1964), vontade cr iadora e
subdesenvolvimento do país foram, pois, os ter mos que se afronta ram na
realizaçãoefetivadeBrasília.Anovacapitalfigura–parareconhecerocaráter
inter escalar de produçã o e evo lução das cida des – como re sultante d a
modernizaçãoconservadora,daindustrializaçãoestabelecidaabaixossalários
edeprogramaspolíticosprovisóriosdegovernosque,juntos,caracterizama
formaçãosocioespacialbrasileira,ouseja,areferidacapitaléumadasvariantes
estéticasconcretasdahistóricaestratégiadeintegraçãoterritorialnopaís.
E.B.daCosta
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METROPOLIZAÇÃO E PATRIMONIALIZAÇÃO EM BRASÍLIA
Umacidadeéumaglomeradoquecongregadiferentesobjetosgeográficose
ações politicoculturais que, em conjunto, encerram um ponto de gestão do
território.Assim,Brasília, enquantopatrimônio urbanonacional emundial,
nãopodeserpensadaisoladamente,comoobjetoencravadoemumpedaçode
chãoque,porsuahistóriacoerentecomahistóriapoliticoeconômicabrasileira,
simbolizaria o feito his tórico da formação do est ado nacional. Os obj etos
geográficoseasaçõesmaisimediatasouenvoltasaBrasíliadizemrespeitoà
reproduçãoespacialdoDistritoFederalencravadonoestadodeGoiásque,por
suavez,influencia,diretamente,napatrimonializaçãoeproduçãoespacialda
capital. Em suma, entender Brasília-patrimônio requer um olhar para Área
MetropolitanadeBrasília(AMB),queareproduz,reciprocamente.
Para a caracterização metropolitana de cidades brasileiras, é necessário
reconhecer q ue, a partir d e 1970, o processo de urbani zação ganha novo
escrutíniodopontodevistaquantitativoequalitativo;essa“revoluçãourbana”
éacompanhadadeuma“revoluçãodemográfica”,deformaque,reciprocamente,
fazem-secausaeefeitoumadaoutra.ParaSantos(1993),tivemos,primeiro,
umaurbanizaçãoaglomerada,comoaumentodonúmerodosnúcleoscommais
de20 milhabitantes e,na sequência, umaurbanização concentrada,com a
multiplicaçãodecidadesdetamanhointermédio,parachegarmos,depois,ao
estágiodametropolização,quandoocorreoaumentoconsideráveldonúmero
decidadesmilionáriasedegrandescidadesmédias(próximasdomeiomilhão
dehabitantes).Lembremosquequantitativodemográficoédadoinsuficiente
par a a class ificação das ci dades, n o contexto em que, no processo de
metropoliza ção, ganham vulto ci dades média s e pequena s que se tornam
proemin ente s em cenários r egionais por guardar em fun cional idad es e
caracterí sticas que rearticulam a rede urbana: serviços, terciário em geral,
Metropolização,PatrimonializaçãoePotenciaisdeConflitos... 335
segundaresidência,segurança,ensino,qualidadedevida,etc.
Éreferenciadoqueoprocessodemacrourbanização/metropolização,ouseja,
deconstituiçãodasmetrópolesbrasileirasfez-seeaindasefazparadoxal.No
percurso desua constituição, emergemproblemas socioterritoriaiscomo: a
relativaimobilidade dospobres naregião ou nametrópole fragmentada;os
acesso se xíguos à cultura, ao laze r e aos serviços com o agravamento da
seletividade soci ale espacial dos novos investimentos; a intensificação da
especulaçãoimobiliáriaedasestratégias deapropriaçãoedereapropriação,
respectivamente,dosvaziosurbanosedasáreasprecarizadasocupadas,dentre
inúmerosoutrosproblemasdecorrentesdaintensaurbanizaçãoemregiõesde
paísesperiféricos.
Odesenvolvimentodaregiãometropolitanaseguealógicadoprosseguimento
doseixosdacirculaçãoregionaleinter-regional,oqueconduz,espontaneamente,
àformaçãodeespaçosvaziosemcidadesdepaísesdeeconomialiberal,conforme
Santos(1990).Oespraiamentodamanchaurbanaacarretaumamobilidadedos
investimentosparaáreasatéentãopoucovalorizadase,porconsequência,uma
redistribuição da população confor me o nível de renda. Enquanto um tipo
diferenciadodecidade,ametrópolesedestacapordimensõesquantitativase
qualit ativ as, ou s eja, tanto pela vari ação gr adie nte s ocio econômic a e
demográfica,quantopelaredefiniçãoprocessualdomodoedaqualidadede
vidaurbanos.DeacordocomSeabra(2009,p.415),“aincapacidadefísicae
normativadacidadepararesponderadequadaefuncionalmenteaosprocessos
deconcentraçãoedecentralização,explicaaformaçãodotecidourbanoque
proliferaemtodasasdireçõesesentidos(...)sendoametrópoleumpontode
chegadadoprocessodeimplosãoeexplosãodacidade”.
Aindacabelembrarqueasregiõesmetropolitanascompõem-sedemaisde
ummunicípio–sendoumonúcleocentral–,esãoterritóriosouregiõesde
E.B.daCosta
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planejamento,mesmoqueasaçõesocorramdeformasetorizada,nãodando
contadatotalidadedaregiãometropolitana,dadasuacomplexidadeassociada
aodesinteresse(estratégicomomentâneo)público-privadopeloterritórioem
umadimensãoholística.
(...)ofenômenodametropolizaçãoganhou,nasúltimasduasdé-
cadas,importância fundamental: concentraçãodapopulaçãoe
da pobreza (contemporânea dararefação rural e da dispersão
geográ fica das cl asses média s); concen tração das a tividades
relacionaismodernas(contemporânea dadispersão geográfica
daproduçãofísica);localizaçãoprivilegiadadacrisedeajusta-
mentoàsmudançasnadivisãointernacionaldetrabalhoeàssuas
repercussõesinternas,oqueincluiacrisefiscal;‘involuçãome-
tropolitana’,coma coexistênciadeatividadescomdiversosní-
veisdecapital,tecnologia,organizaçãoetrabalho;maiorcentra-
lizaçãodairradiaçãoideológica,comaconcentraçãodosmeios
dedifusãodas ideias,mensagense ordens; construção deuma
materialidadeadequadaàrealizaçãodeobjetivoseconômicose
socioculturaisecomimpactocausalsobreoconjuntodosdemais
vetores.(Santos,1993,p.87-88).
No cas o particular de Brasíl ia, a metro polização correspondeu a uma
formação territorial polinucleada de povoa mento urb ano, para escapar ao
processodeconurbaçãoinerenteàsdemaismetrópolesbrasileirasnãoplanejadas
(Paviani;Ferreira, p.1977); tendênciaao espraiamentoda urbanizaçãoque
favoreceu, em nosso entender, estrategicamente ou não, a maximização da
manutenção/preservaçãodoPlanoPilotodeBrasíliaeacaracterizaçãodeum
espaçoelitizadoqueculminaemautosegregaçãono/doespaçourbano.
Metropolização,PatrimonializaçãoePotenciaisdeConflitos... 337
Brasílianãopodesercompreendidacomoorecortedaáreaprojetadaem
maquetee produzidano território “ordenadamente”,muito menospode ser
categorizadacomoajunçãodosnúcleosurbanosespaçadosnoquadriláterodo
DistritoFederal.BrasíliadeveseranalisadanocontextodaÁreaMetropolitana
deBrasília, que envolve tanto oPlano Piloto,quanto asoutras30 Regiões
Administrativas(antigasCidadesSatélites)(Figura 1),maisosmunicípiosdo
entornodoDistritoFederal,taiscomo:Luziânia,NovoGama,PadreBernardo,
CidadeOcidental,ÁguasLindas,ÁguasFriasdeGoiás,PlanaltinadeGoiás,
SantoAntôniodoDescobertoeValparaízo;análiserecorrentenostrabalhosde
AldoPaviani,IgnezBarbosaeoutrosgeógrafos(earquitetos)deBrasília.
Figura1-MapadelocalizaçãodoDistritoFederalcomassuasRegiões
Administrativas.
E.B.daCosta
338
O referido polinucleamento como carac terizador da metropolização em
Brasíliaocorreupelacentralizaçãodasfunçõeseconômicas,dasoportunidades
de trabalho e desconcentração da ativida de residencial, o q ue levou à
concentraçãodeumamassadedesempregadosnosnúcleosperiféricos,afastados
doPlanoPiloto(Paviani,2010).Afaltadeofertadetrabalho,aprecariedade
dosserviçosurbanos,adificuldadedeacessoaolazereàsfontescomerciais,a
grandedificuldadedecirculaçãourbananamaiorpartedosnúcleosurbanosda
ÁreaMetropolitanadeBrasílialevouaumespaçoproduzido,latentemente,de
formasegregada.AsíntesehistóricadoadensamentopopulacionaldoDistrito
Federalauxilia-nosaentenderopolinucleamentodametrópole.Apermanência
eostrânsitoslocaiseinter-regionaisdetrabalhadoresdaconstruçãocivil,dos
novosfuncionáriospúblicosedosprestadoresdeserviços,aolongodahistória
dametrópole,favorecemaestruturaçãourbanaemquenúcleoscomoTaguatinga,
Ceilândia,Gama,Sobradinho,GuaráeCandangolância(Figura 1)aparecem
comoelementosconcretosdomovimentometropolitano.
Emfinsde1956,inicia-seorecrutamentodetrabalhadorespara
oscanteirosdeobrasefuncionáriosparaaadministraçãolocale
federal. O estímulo para os funcionários públicos aceitarem a
transferênciaparaacidadeemconstruçãofoia‘dobradinha’–o
salárioemdobro.Hárelatosdepioneirosarespeitodoestímulo
paraodurotrabalhonoscanteirosdeobras,cujoritmofrenético
foidenominado‘ritmodeBrasília’.Ocronogramaexigiaqueos
trabalhadores se desdobrassem à exaustão (...), onde trabalho
ininterruptosignificavasaláriomaior.Osprazosapertadosgera-
rammigraçãodeoperários–cercade12.700pessoas,recenseadas
peloIBGEem1957.NoCensoExperimentalde1959,havia64.314
Metropolização,PatrimonializaçãoePotenciaisdeConflitos... 339
habitantes–populaçãourbanaerural–e,em1960,141.742ha-
bitantes(...)Antesdeinaugurada,acapitaltevesua população
multiplicadapordez.essapopulaçãonãopôdecontarcommora-
diadigna.Osoperáriosforamparaalojamentosdoscanteirosde
obrasebarracosemfavelaslocalizadasempontosisolados,so-
bretudonosarredoresdaCidadeLivre(NúcleoBandeirante).Com
Taguatinga, em1958,abriu-se espaço paraaprimeira cidade-
satélite. Pa ra ela, foram transf eridos milhares de operários e
favelados,muitoscomrelutância,poismorariamdistantedoslo-
caisdetrabalhonoPlanoPiloto.Taguatingacontavacom27.315
habitantes,em1960ecom110.622,em1970.Nosdiascorrentes,
tornou-severdadeiracidadesatélitecom‘relativaautonomiaem
relaçãoàdominânciametropolitana’.(Paviani,2010,p.235).
Osassentamentosdetrabalhadoresreproduziram-seetransformaram-se,com
o d ecorre r das dé cadas, em cidades; “ com Tagua tin ga, in iciou-se o
polinucleamentoquenãocessaatéosdiascorrentes”(Paviani,2010,p.237).
Gradativamente,algunsnúcleosconseguemsesustentarsoboaspectocomercial
e da pre stação de serviços, independentemente do Plano Piloto q ue,
histo ricamente , guarda essas funções. Taguatinga, Guar á e Ceilândi a são
exemplaresdessanovalógicaaoformaremnichoslocaisdecomércioseserviços
quefazemreduzir adependência (emtermosde consumo/serviços)daárea
centraldoDistritoFederal–oPlanoPiloto,oqualguardaaimagemdecentro
políticogovernamentalfederaledearticuladordosetorterciáriosustentáculo
principaldaÁreaMetropolitanadeBrasília.
CriadaparaserasededospoderesdaRepública,asatividades
nelainstaladasestiverameestãocalcadasnacategoria‘serviços’
E.B.daCosta
340
(setoragropecuário,embaixadas,consulados,representaçõesofi-
ciaisepolíticas),comproeminênciadocomércioedafunçãopú-
blica.Nuncasecogitoudealteraroperfildosempregosparadar
oportunidadesnosetorindustrial.Esteéincipienteesetraduzem
indústriasalimentícias,debebidas,moveleira,devestuárioeou-
tras,enquadradascomonãopoluentes.Nosúltimosdezanos,sur-
gemserviçosdeinformática,comaproveitamentodosquepossu-
emgrauuniversitário.Esseé,todavia,umramoincapazdeab-
sorvergrandescontingentesdetrabalhadores.(Paviani,2010,p.
241).
Aanálise favorece-nosdizer quea produçãourbana noDistritoFederal
ordenounãosomenteumterritóriopolinucleado,masespacialidadessegregadas:
cidad es dormitório com ba ixo ín dice d e emprego ; cidades c om ínfima
possibili dade de circulação intra urbana e, sobretudo, metropol itana, o que
redundanadificuldadedeacessoaoPlanoPiloto(áreacoredoDistritoFederal
ou da Ár ea Metropol itana de Brasíli a); cidad es apartadas das áreas ma is
produtivas,oquedificultaodeslocamentocasa-trabalho;cidadesdistintamente
assistidasdeinfraestrutura,saneamento,saúdeesegurançapública,quandoo
Gover no do Dist rito Fed eral (GDF), ao central izar as ações d e políticas
territoriais,direciona,seletivamente,asintervenções,conformealógica das
“necessid ades” ou “desejos escusos” para os gran des empreendi mentos
(atendendoàfluidezdoterritóriopara,sobretudo,omercadoimobiliário,os
automóveis,oseventosetc.).
Assim,oprocessodemetropolizaçãodeBrasília–suigenerisporcaracterizar
umametrópolequeemmuitopoucoseigualaàsgrandescidadesbrasileiras,
dadaararefaçãodaocupaçãodaterra(comgrandesvazios/áreaspúblicase
Metropolização,PatrimonializaçãoePotenciaisdeConflitos... 341
privadasreservasdevalor),umaverticalizaçãolocalizadaenãotãoexpressiva
secomparadaàsgrandesmetrópolesbrasileiraseasetorizaçãoespecíficadas
atividadeseconômicas(distantedepartedas“cidadesresidenciais”),quesegue
aideologiadoplanejamentomodernistaaextrapolaroPlanoPiloto–deveser
tratadoapartirdesuaedificação,poisasdécadasde1960e1970sãobasilares
daproduçãodasmetrópolesnoBrasileda“revoluçãourbana”casadacoma
“revolução demográfica” naci onais. O Plano Piloto de Bra sília, desde sua
concepção,seriaoterritóriourbanovoltadoaoserviçopúblicodanaçãoeà
novaburguesia,momentoemqueasantigas“CidadesSatélites”–hojeRegiões
Administrativas–eclodiamdasprópriasnecessidadesdosmigrantesdeslocados
paraasobreposiçãodepedrasobrepedrananovacapital.
ParadiscutirBrasíliapatrimonializada–apósabordar,sumariamente,seu
processo de metropolização –, res ta dizer que a concentração de dive rsos
equipamentosedotrabalhonoterritórioselecionadoeseletivodoPlanoPiloto
temamplosdesdobramentosdecunhosocioespacialque,nolimite,emefeito
bumerangue,rebatesobreaprópriaáreapatrimonializada.Peloexposto,resulta
a necessid ade de se correlacionar patrimonialização e metropolização,
metodologicamente,naanálisedopatrimôniourbanoemgrandescidades,de
maneiraque,paraocasodeBrasília,favorece-nosindagarossentidosdadita
patrimonializaçãoemais,inquiriranoçãode“cidadeplanejada”oude“cidade
modernapatrimôniodahumanidade”(termosqueescondemascontradições
quedãoconcretudeàmetrópolepolicêntricafragmentada).
SeindagarametropolizaçãodeBrasíliarequeravaliarosprimórdiosdesua
edificação,noterceiroquarteldoséculoXX,comoofizemos,omesmoprocede
para a anális ede sua patrimoni alização, pois Brasíli a já nasce patrimônio
nacionaleinternacionalsímbolodourbanismomoderno,aqualseconcretiza
emcapitaldopaís.Logo,fonterelevantefaz-seoRelatóriodoPlanoPiloto,
E.B.daCosta
342
produzidoporLúcioCostaparaconcorreraoprojetopilotodeconstruçãoda
novacapitalfederal,poisindicaosprincipaiselementosqueconsagramacidade
enquantopatrimônionacionaledahumanidade.
Atravésdoesqueletodacidade, formadopelo cruzamentodedoiseixos,
LúcioCostadistribuiuasespacialidadespensadasentredoisterraplanoseuma
plataforma,que,juntos,definemaáreacoredacidade(Costa,1957).Aproposta
dezoneamentoseletivo,ondeárearesidencialnãosemisturariaàáreacomercial
ouadministrativa,indicaasinfluênciasdaCartadeAtenas,sobosauspíciosde
LeCorbusier.Adivisãodas áreasseguequatrofunções básicascontidasno
documento:ohabitar,otrabalhar,orecreareocircular.
LúcioCostapropôsBrasília dentrodequatroescalas de planejamento:a
gregária,quecorresponde atodasas áreasdeserviços (diversão,hoteleiro,
autarquias,bancários,etc.);aresidencial,que,comoonomejádiz,remeteàs
áreasresidenciais;abucólica,quetraz aideia de cidade-parquecomdensa
arborização,juntamentecomoLagoParanoá;eamonumental,quecorresponde
aosmonumentosadministrativos,desdeaPraçadosTrêsPoderesatéoPalácio
doBuriti,perfazendotodooEixoMonumental.
Osdoiseixos(compostos peloEixoEstrutural e RodoviárioNorte-Sule
peloEixoMonumental)possuempapéisdistintos,complementaresesingulares:
o Ei xo Monu mental (lest e-oest e) abri ga setore s de se rviços gregári os e
administrativos;oEixoEstruturalcorrespondeatodafaixanorte-sulresidencial,
perpassadapeloprincipaleixorodoviário–reconhecidopopularmenteporeixão
(Figura 2).
emgarantirapermanênciadapopulaçãodemenorrendajuntooupróximaao
Plano Piloto. Dentre as preocupações de Lúcio Costa, evidenciar am-se: a
manutençãoeinteraçãodasescalasurbanas(abucólica,agregária,aresidencial
Metropolização,PatrimonializaçãoePotenciaisdeConflitos... 343
Figura2-MapadoPlanoPiloto.
E.B.daCosta
344
Parececorrente,naliteratura,queapatrimonializaçãodeBrasílianãodecorre,
tãosomente,deumaarquiteturaqueguardafunçõesadministrativasdeforma
arrojada emoderna, masde projeto urbano residencial inovador.Acidade
idealizadacomtamanhos arquitetadosde blocos,avalorização dosespaços
usandoospilotis,as janelasemfitas,ouaarborizaçãointensaaoredordos
prédios(paracompensarainexistênciademurosdeproteçãoentreosblocos)
sã o alg uns eleme nto s de sua singu lar idad e urba níst ica e, daí, sua
patrimonialização.Nessalógica,osmoradorespertencemàquadra,masesta
nãolhespertencedefato,poisosacessosseriamlivresparatodos.Ovalordo
proj eto reside na proposta das superquadras, onde cad a qual congre garia
comércio,igrejas, escolas,restaurantes, serviçosbásicos, centrosde lazere
recreação,alémdasáreasdecirculação,nointuitodeaproximarosmoradores.
ORelatóriodeLúcioCostademonstraamaiorpreocupaçãodoidealizador
comacirculaçãourbana;aspistascriaramumfluidosistemadeviasexpressas
quepermiteacessosaosdistintos“setores”deatividades,àplataformalocalizada
nomarcozerodocruzamentodoseixosatravésdediferentesníveis;plataforma
que funciona como estrutura de inter seção entre Eixo Monumental e Eixo
Estrutural(Holston,1993).Estecruzamentoéinvestidodeimportânciapara
todooPlanoeparaoDistritoFederalemsuatotalidade;éoepicentroeponto
dereferênciadosfluxoscentrípetosecentrífugosdacapital paraascidades
satélitesevice-versa.
OGovernodoDistritoFederalrecomendou,em1987,umrelatóriodeLúcio
CostasobreBrasília,afimdeseverificarosimpactosdametropolizaçãosobre
acapitalfederalidealizadaeemviasdepatrimonialização(anoemqueBrasília
forainscritanaListadoPatrimônioMundial).Naquelemomento,Costa(1987)
assinala a p reocupação em p rese rvar as pr inci pais soluções pr opostas
originalmente.Porém,nãonegaocrescimentodacidade;mostroupreocupação
Metropolização,PatrimonializaçãoePotenciaisdeConflitos... 345
eamonumental);omodeloresidencialsuigeneris;aestruturaviáriafluidaede
integraçãoentreosdiferentessetoresdacidade;aarborizaçãodensa;aorlado
Lagodesobstruída;eocontroledaformaçãosuburbanaatravésdacriaçãode
cidadessatélitesintercaladaspornúcleosrurais.
Para Tavares (2007, p. 08), o qual também realizou um estudo sobre a
publ icação de Lúc io Costa, o pr ojeto o riginal s ofreu f orte inf luência da
urbanizaçãooumetropolizaçãocrescente.
Claramente,aposturaadotadasobreosproblemasrefleteocuidadoemnão
alteraralógicadamigração,porémtomandoocuidadoemdirecioná-lapara
nãoafetar osconceitosplásticos originaisdoPlano Piloto.Nãose observa,
portanto,contrariedadeaofatodasocupaçõesexcedentesàdensidadeprevista,
massuaassimilaçãocomocaracterísticaintrínsecaàvidaurbana.Acolheraos
novosmoradores,porémdeformacontroladaparaqueosserviçospré-existentes
nãofaltemaosmesmos.Ocunhosocial,apreocupaçãoemlocaracamadamais
pobrejunto,oupróxima,aoplanopilotosemalterarasfórmulasjáempregadas
por eles próprios, estão refl etidos na proposta de Costa, mesmo diante da
preocupaçãocomapreservaçãodaconcepçãooriginaldoplano.
Porém,LúcioCostavêalgumassaídasparaosimpactospresentesepossíveis
nofuturo.Aoreconhecer que aestruturasocioeconômicabrasileira revelaa
necessidadedamigraçãodelevasdepopulaçõespobresparagrandescidades,
afirmaseressencialpensarnodesenvolvimento,emáreaspróximasàcapital,
de núcleos indu striais capazes de absorver es sas migrações com oferta de
trabalho.Acidadeconstituir-seterciária(deempregospúblico-administrativos
eserviços),ademandademãodeobracombaixaqualificaçãoserbaixaeo
imagináriosobreopodercentralnacionalcriarailusãode“acessos”quede
fatonãoexistemcatalizam,essestrêselementos,oprocessodefragmentação
dofatoedofenômenourbanonoDistritoFederalbrasileiro.
E.B.daCosta
346
Apesar das contradições históricas do processo urbanizador do Distrito
Fed eral, a cid ade de Br asília t ambém for a capturad a pela denominada
patr imon ializaç ão globa l, ou sej a, o br usco movimento universal de
espetacularização e banaliz ação pela cenarização progressiva dos lugares
promovidopeladialéticaEstado-mercadosobreabasedastécnicas,daciência
edainformação;emsíntese,éumprocessoderessignificaçãodoslugaresem
escalaplanetária;tendênciaquerevaloraacultura,osritos,aarquitetura,a
arteoutodasasformasdeexpressãosocialcomfundamentonoterritórioeem
diferentesgrausdeação(Costa;Scarlato,p.2012).Nessecontexto,em1987,
soboscritérios(i)e(iv),ouseja,porrepresentarobra-primadogêniocriativo
humano(i) e ex emplo exc epcional de um ti po de constru ção, conjunto
arquitet ônico e pai sagem que ilustra e stágio sign ificativo na história da
humanidade(iv),BrasíliafoiinscritanaListadoPatrimônioMundial,entrando
paraoroldebenssingularesdahumanidadecomoaprimeiracidademoderna
da List a (Costa; Scarlat o, 20 12). Porém, ante a met ropolização e a
patrimonializaçãoemergempotenciaisdeconflitossocioterritoriaisreveladores
dessacorrelaçãoquenosfazproblematizaro“idealdecidadeplanejada”.
POTENCIAIS DE CONFLITOS SOCIOTERRITORIAIS
CORRELACIONADOS À PRESERVAÇÃO PATRIMONIAL E À
METROPOLIZAÇÃO EM BRASÍLIA
ReconhecemoscomoimportantescentrosdefluxosemBrasília:aRodoviária
do Plano Piloto, localizada no ponto de entroncamento ou junção do Eixo
Rodoviário(Eixão)eoEixoMonumental;aAvenidaW3;osSetoresComerciais,
aUniversidade deBrasília eespecíficos pontosdaAsaSul edaAsaNorte
(localizaçõesnoFigura2).Comesseentendimentoeoobjetivodepontuare
problematizarospotenciaisdeconflitossocioterritoriaisexistentesnaRegião
Administra tiva I (R.A.I - Plano Pi loto de Brasília), fr ente à lógic a da
Metropolização,PatrimonializaçãoePotenciaisdeConflitos... 347
metropolizaçãoe dapatrimonialização,realizamos pesquisa de campocom
observaçãodiretaepor questionário,cujosprincipaisdadosdaamostragem
sãorepresentadosnaFigura 3.Dadaalimitaçãoderecursosparaarealização
doestudo,trabalhamoscomumaamostracasualpossível,o quenãoindica
resultadoscomfidedignidadeestatística,masumaamostragemrepresentativa
paraindicaçãode uma tendênciageralsobreoproblemaaventadoeanálise
qualitativa.
SeoPlanoPilotofoilocusempíricodapesquisa,osentrevistadosnãose
restringiramaosresidentesdestaR.A.I,aqualcomporta9%dapopulaçãodo
DF.77%dosentrevistadosforamdeoutrascidades(R.As)doDistritoFederal
e23%dopróprio PlanoPiloto.Osquestionáriosforamaplicados apessoas
acimade18anos(49%homense51%mulheres).Sobreograudeformação
dosentrevistados:14%dosentrevistadospossuemoEnsinoFundamental;51%
possuemoEnsinoMédio;23%oEnsinoSuperior;e12%Pós-Graduação.
Cabeassinalaroqueentendemospor conflitossocioterritoriais ligadosà
patrimonialização.Aurbanização(e,sobretudo,oprocessodemetropolização)
tr az cons igo c onfli tos d e ordem socioesp acia l; ins taura-se o confl ito
socioterritorialquandoojogodeforçaspelocontrole,pelamanutençãooupela
sobrevivênciado/noespaçooperacionaliza-sedistintamente,emdísparesníveis
econformeosaberdosatoresouagentesenvolvidosnadisputa.Ofavorecido
no jogo de forças que dá cor po a um conflito so cioterri torial vale-se de
mecanismosdereforçoquepossuembasesocioespacial.PelusoeCidade(2012,
p.271)indicamalgunselementosquedãocoroaosconflitos.“Deumlado,os
canai s da dimensão ideológica enca rregam-se de l egitimar as referênci as
estruturaiseospressupostosnecessáriosàacumulaçãodecapital”;oquediz
respeitoàdiferenciaçãodareproduçãosocialporclasses,nascidades;“deoutro
E.B.daCosta
348
lado, as formas simbóli cas, como ai magem, as representações sociais e o
discurso,contribuemativamente,emborademaneiranemsemprevisível,para
reforçarasaçõespráticas”.Questões quenosremetemadesvendar oque é
propalado(e cria imaginários)e oque seevidencia (realidadeem essência
concreta) sobre os lugares. Imagem, discurso, representação social mais o
imaginário s ão ele mentos que, conjunta mente, dão co rpo ao s conf litos
socioterr itoriais atinentes ao proces so de patri moni alização (ante a
metropolização).
Ressaltamosaindaqueoconflitosocioterritorialatinenteàpatrimonialização
eaomovimentodaurbanizaçãoéentendidoaquinaescaladosujeitoemsua
buscapelasobrevivêncianascidades.Oconflitonaescaladosujeitoemrelação
aoespaçovividoepercebidoéoprimeiroelementoemomentoparaabuscada
práxislibertadorae,porassimtratar,paracongregaçãocoletivanaconstituição
dosmovimentossociais.Recortamosaanálisenoqueentendemoscomoprimeiro
Figura3-GráficorepresentandoaporcentagemdeentrevistadosnoPlanoPilotode
BrasíliaeemoutrasRAs.
Metropolização,PatrimonializaçãoePotenciaisdeConflitos... 349
elemento ou momento para a práx is libertadora nas cidades, o us eja, nos
constitutivosdoreconhecimentodasituação(precáriaounão)dosujeitofrente
ao seu espaço d e vivências múltipla s. O con flito soci oterr itorial, nessa
abordagem,nãosefazconcretoouemestágioavançado,maspotencialelatente,
poisrevelaoinstanteemqueosimagináriosindividualecoletivosãoformados
devidoàscontradiçõesdoprocessourbanizadorqueaparecemcomoentraveà
circulação,àmobilidade,àproduçãoeaoconsumoindividualizado,emsuma,
àsobrevivênciadasdiferentesclassessociaisemconjuntonos/dosterritórios.
QuestãoassinaladaporPelusoeCidade(2012,p.266),equedemarcamos
nestetrabalho,dizrespeitoaofatodeque,desdeagênesedacapital,agestão
do territó rio mar cada pe la ace ntuaçã o de des iguald ades co ntribuiu para
manifestaçõesdeconflitossocioespaciais.Aproduçãodiferencialdoespaçona
metrópoleacarretou,aolongodeseumeioséculodeexistência,emdistinções
depossibilidadesdevidanacidade.Ressaltamosanteriormenteacentralidade
funcionalassumidapeloPlanoPilotonaconstituiçãodaÁreaMetropolitanade
Brasília, o que, para doxalmente, fez com que pouca soutras ce ntralidades
funcionais(paraalémdaresidencial)surgissemnascidadesquecompõemo
Dist rito Fede ral. Com a Figura 4 e a análi se que os c ompleme ntam,
comprovamosocontinuísmodetalcentralidade.
AtotalidadedosentrevistadosnoPlanoPiloto(moradoresdestaR.A.ede
outrasR.AsdoDF)deslocam-separatalregião,especialmente,paraotrabalho
eparaoestudo(70%),caracterizando-ocomopontodeconvergênciadaÁrea
Met ropolit ana de Brasília . Os out ros 30% dos ent revista dos ale garam o
deslocamentonointuitodepráticadelazer,comprasevisitasacasadeparentes
edeamigos.Evidencia-seessacentralidadedoPlanoPiloto,também,quando
doolharinverso,ouseja,quandoaquestãodestina-seaquemresidenaaludida
RegiãoecomvistasaoseudeslocamentoparaoutrasR.As.Apenas40%dos
E.B.daCosta
350
Figura 4 - (a)Gráficodos motivos dodeslocamento diáriono/ao PlanoPiloto de
Brasília(DF)e(b)GráficodoMotivododeslocamentoderesidentesdoPlano
PilotoparaoutrasR.As.doDistritoFederal.
entrevistadosresidentesnoPlanoPilotoalegaramdeslocar-separaoutrascidades
doDF.Destes,59%afirmaramrealizartaldeslocamentotãosomenteparavisitar
casadeamigose/ouparentes,3%paracompras,24%parapráticasdelazere
somente14%atrabalho.
Outracaracterísticaquevaimarcarouniversodeentrevistadosdurantea
Metropolização,PatrimonializaçãoePotenciaisdeConflitos... 351
pesquisaéagrandequantidadedetrabalhadoresdeR.As.asmaisdiversas,no
PlanoPiloto,estaremligadosaosestabelecimentosdeprestaçãodeserviçosem
geralouaocomércio,oqueéseguidopelosservidorespúblicos(Figura 5).Tal
resultadodeve-seaofatodeamaioriadosentrevistadosseremmoradoresde
outras R .As. e não do Plano Piloto, uma vez que par te considerável dos
moradoresdestaR.A.estáligadaaofuncionalismopúblicolotadonestepróprio
território.“Nosprimeirosanos, foiestabelecidaumaorganizaçãodoespaço
que perduraria até os dias de hoje. O PlanoPiloto, com elevada qualidade
ambiental,foireservadoparafuncionáriospúblicosepopulaçãoprivilegiada.
Ascidadessatélites,distantesdasáreasdeempregoepoucoinfraestruturadas,
foramdestinadasparaapopulaçãomigrantedebaixarenda”(Peluso;Cidade,
2012,p.275)
Ográficoéelucidativodainsignificânciadopapeldaindústriaenquanto
ger adora de emprego s em Brasília. Po r out ro lado, mostra a di nâmic a
preponderantedosserviços emgeral,do comércioe dosempregospúblicos
enquantogeradoresde salárioerenda noDistritoFederal.Alocalizaçãoda
UniversidadedeBrasíliaeoutrasInstituiçõesdeEnsinoSuperiorprivadas,no
PlanoPiloto,tambéméfatordaproduçãodefluxosnametrópolee,porassim
tratar,daforjadeimagináriosparaosconflitos,quandoproblemasrelativosa
essesdeslocamentosnecessáriosfazem-semaislatentes.
Peluso(1987)afirmaqueocentrodeBrasíliaaglutinaoqueévalorizado
emtermosurbanos:os meiosdeconsumocoletivos,olazer,asamenidades,
alémdocomércioedosempregos,mas,acimadetudo,detémopoderdedecisão
eosmeiosconcretosdeexercê-lo.Poroutrolado,ecorrelacionadoàlógica
dessacentralidadepotente,aperiferia (ouo moradorda periferia),comsua
forçadetrabalho,participadocentro,sobretudo,deixandopartedeseusalário.
Jáafirmamos,contudo,que novascentralidadesse fazememoutras R.As,
E.B.daCosta
352
gradativamente.Logo,aprópriadiferenciaçãonavalorizaçãodoespaçopor
aquiloqueelecongregaobjetivamenteourepresenta,pelodiscursooupormeio
deimagens,faz-seelementoaglutinadordoimagináriofavorávelaoconflito
socioterritorial.Aapropriaçãodiferencialdoespaçopodegerarembatesecríticas
sobreaspráticasouaspolíticasterritoriaisdegoverno,sobreagestãourbana
ou as possibil idades ofere cidas para a p romoção de cid ades de cidadãos.
Começama ganharrelevona análiseoselementosconcretosfavoráveis aos
conflitossocioterritoriais.Étemabatidonosestudosgeográficosurbanossobre
oDistritoFederalograndeproblemadotransportecoletivo.Se,porumlado,
Brasíliaforaprojetadaparaoautomóveleasviasfavorecemsuaamplaerápida
circulação,poroutrolado,oGovernodoDistritoFederalnãoatendeacontento,
comtransporte coletivo, ademanda crescentede fluxo depessoas daÁrea
MetropolitanadeBrasília.AFigura 6 representaadependênciamassivapopular
Figura 5 - Gráficorepresentandoa distribuição em porcentagem dosentrevistados
conformeosetordeautaçãoprofissionalnoPlanoPilotodeBrasília(DF).
Metropolização,PatrimonializaçãoePotenciaisdeConflitos... 353
emrelaçãoaoônibuseaoautomóvelparticular,oquegerapotencialdeconflito
emdoissentidos:agrandequantidadedeveículosparticularesdificultaafluidez
emvariadoshoráriosdodia–massadeveículosquedecorredaineficiência
históricadotransportecoletivonoDF;eodescasopúbliconoinvestimentoem
transportepara umagamadetrabalhadoresimpede-osde maiormobilidade
urbana.Comapenasumbraçodemetrô,apartirdeumvérticequepartede
Ceilândiae outro deSamambaia,encontrando-se emÁguasClaras, alinha
destina-seàáreacentraldoPlanoPilotodeBrasília,passandopelaAsaSul,
estemeiodetransportenãoéomaisempregadopelosentrevistados;impossível,
nomomento,falaremqualidadedotransportecoletivonoDistritoFederal,um
grandeparadoxo,porseracapitaldanaçãoetratadacomoumadasmaiores
metrópolesbrasileiras.
SegundoVillaça(2001),classessociaisnãotemomesmopoderpolíticoe
Figura6-GráficodosetordeatuaçãoprofissionaldosentrevistadosnoPlanoPiloto
deBrasília(DF).
E.B.daCosta
354
econômicoparadisputarasdistintaslocalizações,nemcontamcomasmesmas
condiçõesdedeslocamento.Paraoautor,essasdiferençasdeterminamopoder
dasclassessociaisaoescolheremsuaslocalizaçõesemrazãodeseusvariados
interessesepossibilidades.Aconstruçãodajustiçasocial,noBrasil,esperapor
décadas e as cidades brasi leiras são express ão real das (im)possibi lidades
advindasdanegligênciacomoterritórioenquantoreflexodosprotagonistas
históricosdesuaedificação.Juntoàproblemáticadafaltadeinvestimentosem
transportecoletivo,cabedestacarasdificuldadesdecirculaçãodepedestresno
PlanoPilotodeBrasília.AsrotasdeacessoaoPlanopossuemcomoprincipais
vias de conexão com o mesmo os Eixos Monumental e Es trutural, ambos
dividindo a cidade em duas par tes. O pedestre se encontra ex tremamente
segregadonacirculaçãodacidade,aqualforaplanejadaparaorápidotrânsito
deautomóveis.AtravessarasviasprincipaisdeBrasília pode setornaruma
aventuraperigosíssimaemcadapista.ComolembraGouvêa(2010),poranos
afio,apossibilidadededeslocamentoautomotivoemaltavelocidadetemsido
responsávelpelamortedemilharesdepessoas,apesardasinadequadaspassagens
subterrâneas, sendo inclusive denominado pela população como “Eixão da
Morte”.
NocontextoaindadaineficiênciadotransportecoletivodeBrasília,cabe
relevaropreçoelevadodastarifas,osônibussucateados,eoshoráriosirregulares
de parti da e de chegada; tal precari edade faz dess e transporte (existente -
ineficiente),contraditoriamente,instrumentodesegregaçãodapopulaçãode
outras RegiõesAdministrativase Entorno. Nessecontexto contraditóriodo
DistritoFederal(oudeumatotalidadeterritorial),oPlanoPilotodeBrasília
tambémaparececomoumenclavedecontradiçõesinternas (decorrentesda
macrourbanização)que nãocondizemcomaperspectivadacidademoderna
patrimônioculturaldahumanidade(osproblemasmaisrecentesdapreservação
Metropolização,PatrimonializaçãoePotenciaisdeConflitos... 355
doPlanoPilotopodemseratestadosemCosta;Steinke,2012).AFigura 7traz
ospotenciaisconcretospossíveisàconsagraçãodosconflitossocioterritoriais
noDistrito Federal.Seguidosda (im)possibilidadedacirculaçãourbana,os
problemassociaisdiversos(comomendicância,tráficodedrogas,odesemprego,
a seguran ça pública, a vi olência urbana , a alta densid ade populacional, a
ineficiên cia da administração pública e a corr upção política) compõem os
elementos imaginários dosentrevistados comopotenciaisparaos conflitos
socioterritoriais.
Osentrevistadospoucomencionamproblemasdeinfraestruturaterritorial
urbananoPlanoPiloto deBrasília.As questõesaventadascorrespondemàs
dificuldadesdecirculação(emprimeiramão)eaosproblemasurbanosquevão
Figura7-GráficodospotenciaisparaconflitossocioterritoriaisnoPlanoPilotode
Brasília(DF).
E.B.daCosta
356
dasegurançapúblicaaodesempregoestruturalnoDistritoFederal.Pormais
queointeressedasclassesestejaparaalémdaspossibilidadesdedeslocamento
–sendoesteumdosmaisaventados–,oqueasclassessociaisprocurameas
elitesnãoabremmãoédapossibilidadedecontroledotempoedodeslocamento,
possibilidades deopção nomorarou selocalizar(Villaça,2001). Podemos
afirmarqueadiferenciaçãodadensidadetécnicanoterritórioinduzoimaginário
sobreametrópoleouascondiçõesdevidanesseamploespaçodevivênciase
percepçõesmúltiplas,alémdedaremcorpoàreestruturaçãourbanaconcreta.
“Asviasdecirculaçãoqueformamainfraestruturadostransportescircunscrevem
det erminados espaço s os quais pass am a mer ecer t ratamento a nalítico,
diferencial,visandoainvestimentosdegrandemontaquesãoreestruturadores
doespaço”(Seabra,2009,p.418).Oconflitofaz-selatentequandoosagentes
responsáveispelagestãourbanaouoordenamentoterritorialdeixamdepensar
a metrópole ou a metrop olização globalmen te, favorecendo i nvestimentos
setorizadosclassistas.Apatrimonializaçãourbana,aodeslindarsobrecoisas
mal res olvidas, na cidade, r epres enta essa no va inve stida e catali za as
possibilidadesdosconflitos.
Partiremos,agora,paraanálisedarelaçãoentreospotenciais deconflito
socioterritorialeapreservaçãopatrimonialemBrasília,comoentendimento
dequeasegregaçãosocioespacialédeterminadaestruturalmente,formando
enclavesurbanoscujaessênciaéadoapartamento,oqualnãocasacomaluta
peloempoderamentodosbenspatrimoniaisporpartedacoletividade;issonos
permitequestionarse“nãoháreprodução(socioespacial)semconflito”(Seabra,
2009,p.419).
Questionadossobreseasaçõesrealizadaspelapreservaçãopatrimonialdo
PlanoPilotodeBrasíliainterferemnocotidiano(tantodomoradordaregião
quantodosqueestavamemtrânsitopelaárea),66%negaramainterferência
Metropolização,PatrimonializaçãoePotenciaisdeConflitos... 357
(Figura 8).Algunsdos30%entrevistadosqueconsideraramhaverinterferência
emseu cotidianoprovocada pelas açõespreservacionistasalegaram que“o
problemase deveao engessamento,a nãopoder havermudanças, àsvezes
necessárias,naestruturaurbana”,oespaço“terquepermanecercomoésefaz
um prob lema”; cons ideraram t ambém que a pre servação do Plan o Piloto
direcionaasaçõesdegestãodoterritórioefica“clarooabandonodecertos
pontospelogoverno”,quando“apenasalgumasáreassãovalorizadas”.
Ent endemo s que o alud ido “ engess ament o” ou a impos sibil idade de
“mudanças”naestruturaurbanarefere-seatransformaçõesquefavoreceriam,
naóticadoentrevistado:equipamentosparaacessosmaisfáceisapontosde
des tino do tr abalha dor no Plano Pilot o; transfor mações espac iais , nas
superquadras,queatenderiamacomerciantes,bareserestaurantes,notocante
às área s de per manênc ia, os “puxadinh os”; ou ainda a po ssibil idade de
transformaçõesmaisradicaisemfavordomercadoimobiliário.Éclaroquetais
Figura8-Gráficoderespostas.
E.B.daCosta
358
transformaçõescorromperiamapropostadepreservaçãoinstituídapelosórgãos
responsáveisporsua manutenção:eis a latênciado conflitosocioterritorial.
Outra questão a ludida pelos entrevistados é a de que o movimento pel a
preservação/manutençãoestética doPlanoPiloto interfereemseu cotidiano
quandoháumaconvergênciadeaçõesederecursosparapontosespecíficose
boa parte do territóri o torna-s e opaco do ponto de vista dos recursos,
equipamentos,infraestruturaoupossibilidadesdepermanênciaaprazível.Os
mecanismosqueensejamauniversalizaçãodoslugarespodem,simultaneamente,
fragmentá-los,articuladamente,oqueproduzumimagináriocoletivodistorcido
sobre o papel da prese rvação, o pa trimônio cult ural ou mesmo sobre o
ordenamentoterritorial(Costa,2011).
Jápodemosadiantaropreceitodequeaspolíticasdeordenamentoterritorial
negligenciama efetiva preservaçãodequalquer acervo patrimonialquando
desconsideramasáreaspatrimonializadasouinternacionalizadascomopartes
integrantesdeumcontextosocioterritorialmaisamplo(Costa,2011).Urgefocar
oterritórioeapopulaçãodemaneiraholística,entendendoametrópole,por
excelência,comoespaçovividoemsuatotalidade.
ClaraeproveitosaanálisesobrepatrimônioadvémdeYázigi(2009,p.152).
Aodefinirpatrimônioambientalurbanocomo“conjuntosarquitetônicos,espaços
urbanísticos,paisagens,adornos,equipamentospúblicoseelementosnaturais
intraurbanosreguladosporrelaçõessociais,econômicasecultuais”,demaneira
queoconflito deveseromenor possívelea inclusãosocialuma exigência
crescente,oautorsinalizaumcaminhoparaofavorecimentodeumimaginário
coletivoqueatribuaàpreservaçãoumpapelrelevanteparaavidadignanas
cidades , pois o patri mônio é e ntendi do para além do ob jeto a trativo ou
institucionalizado.Aassimilaçãodestanoçãodepatrimônioambientalurbano
podefavorecercomqueacidadepassasseaserentendida(pelagovernançae
Metropolização,PatrimonializaçãoePotenciaisdeConflitos... 359
pelapopulação)comoumpatrimônioemsuatotalidadeeapossibilidadedese
atenuaralatênciadosconflitossocioterritoriaispodesefazerumarealidade.
Natotalidadedosentrevistados,se,àprimeiravista,ofatode59%terem
conhecimentodeBrasíliaserPatrimôniodaHumanidadepareceserumbom
dadoestatístico,odesconhecimentodestefatoporpartede40%tambéméum
dadosignificativo(Figura 9).Amaiorpartedosentrevistadossãomoradores
de outras R. As. que não o Plano Pilo to, ou seja, grande número dos que
desconhecemBrasíliaPatrimôniodaHumanidadenãovivemnestaR.A.,oque
esboça,maisumavez,eagorapeloviésdapatrimonializaçãoedapreservação,
a c entra lidad e do Plano Pilot o, inclus ive, para as a ções v oltad as ao
esclarecimentosobreahistóriaouossignificadosdestaárea;parecequepouco
se preocupa com uma polític a de extensão dos “valores” desta cid ade
int ernaciona lizada às ou tras R .As, o que p oderi a induzi r, inclusi ve, o
reconhecime nto coletivo em favor de se minimizar a lat ência de conflitos
Figura9-Gráficodeconhecimentodosentrevistados.
E.B.daCosta
360
advindos das contra dições da preservaçã o (quando d os excesso s da
mercadorizaçãodoespaço)oudamacrourbanização:democratizarosacessos
eoconhecimentono/doPlanoPilotodeBrasíliafaz-seurgente,emnomedo
empoderamentocoletivodopatrimônioditodahumanidade.
Apatrimonializaçãofaceàurbanizaçãoencontraráumpontodeequilíbrio
emfavordacoletividadequandoreconhecermostodos,defato,que“hoje,o
sentimentodepertençaincorporavárioslugaresdavida:aresidênciaprincipal
easecundária;olugardetrabalho;casadeparenteseamigos;olugardeférias;
oslugaresdediversãoetc.”emais,que“opesodosvaloresafetivosvariade
umlugarparaooutro,masseligapelaimagemgeraldacidade”(Yázigi,2009,
p.154).Aessênciadopatrimôniosópodeestarnatotalidadeurbana;totalidade
estaapreendidadoimagináriocoletivo.
Apatrimonializaçãoglobal,movimentoderessignificaçãodoslugaresem
escalaplanetária,processa-seconformeaspotencialidadesdecadaterritório.
Mas,alógicadesuaoperacionalizaçãosegueatendênciadamaximizaçãodos
lucros eda renda, em detrimento doconhecimento coletivo das vantagens
diversasque dobemse podeauferir.O acessoaos benefíciosconcretosda
patrimonializaçãonãopode serrestrito aosquereconhecem suasvantagens
competitivaseoperamnessemeio.
Afirmamosneste trabalhoque tratamosdos elementospotenciais para a
concretizaçãodosconflitossocioterritoriaisnoDistritoFederalbrasileiro,ou
seja,nãoexplicitamososconflitosocorridos,masasquestõesfavorecedorasda
produç ão de um imaginá rio coletivo sobre a cidade enquanto fa to, a
patrimonializaçãoenquantoeventoeaurbanizaçãoenquantofenômeno;questões
que convergem, em suma, para alatência do conflito. Nesse sentido, cabe
destacar qu e o imaginár io apr eendid o neste estudo sobre o p rocess o de
patrimonializaçãodacidade,nasegundadécadadoséculoXXI,apontapara
Metropolização,PatrimonializaçãoePotenciaisdeConflitos... 361
umelementonotórioqueestácalcadonoimaginárioqueidealizouaprópria
Brasília,nametadedoséculoXX.Paraboapartedapopulaçãoentrevistada
(cercade40%)todososbrasileirosseriamosbeneficiadosdaconsagraçãode
BrasíliaenquantoPatrimôniodaHumanidade(Figura 10),nomesmosentido
emquequase50%dosentrevistadosalegamqueotítulorefleteaimportância
históricanacionaldeBrasília(gráfico10).
Sobreoimaginário,podemosdizerquesintetizaolugardeumavisãosingular,
“éoespaçoinvisívelemqueprecisamenteencontramosasessências”(Ladrière,
1979,p.171);eatotalidadedacidadenãoévistadepronto,senãoatravésda
correlaçãoentreoimaginado,ovividoeopercebido.“Acidade,comototalidade,
sópodeaparecer-nosemumlugarnãotraçadonosolo,emumlugarforada
visãoperceptiva,invisível;éestelugarinvisívelquechamamosimaginário”
(Ladrière,1979,p.171).
Assim, os gráfic os seguinte s ilustram-no s que o ide al geop olít ico,
geoeconômico,estratégiconacionaisdaedificaçãodeBrasíliareverte-se,no
presente,noimaginárioadvindodesuaprojeçãopatrimonialglobal,emmáxima
potência.Seuvalorénacional,suahistóriaéahistóriadanação,mesmoqueas
mazelassociais,osproblemasurbanos,anegligênciacomoterritóriofaçam-
se, hi stor icame nte, em precari edad es lo cais que p ouco int eres sam aos
idealizadoresdesteprojetoconcretodenação.Asimagenseodiscursofavorecem
ejustificam,verdadeiramente,oreforçoouanegligênciadasaçõesconcretas
sobreoterritórioemais,aguçamaimaginaçãocoletivanecessáriaàmanutenção
dostatusquofavorávelaumapequenaparceladapopulação.Apatrimonialização
deBrasílianãoescapouaessatendênciaqueassistimosemdiferentescidades
brasileiras.Cabeindagarquemébeneficiadopelaespeculaçãoimobiliáriano
PlanoPiloto?Qualpopulaçãotemorealpoderdedeslocamentoedeacessosos
maisvariados,noDF?
E.B.daCosta
362
Partedosentrevistados reconhece queos moradores doPlano Piloto de
Brasília,omercadoeoEstado sãoos maioresbeneficiadoscomotítulode
PatrimônioMundial.Essesdadosrevelamosentrevistadosesclarecidossobre
a tendênc ia à mercantilização pat rimonial que se volta, sobretudo, para a
dinamizaçãodosetorfinanceiro,viaturismo,prestaçãodeserviçoseosetor
imobiliário(valorpragmáticodobem).Agamadeentrevistadosareconhecer
quetodososbrasileirossãobeneficiadospelotítulo,revelaqueháumatendência,
Figura 10 - (a) Gráfico de beneficiarios po r Brasília ser Patrimôni oC ultural da
Humanidade.(b)Gráficoderepresentação.
Metropolização,PatrimonializaçãoePotenciaisdeConflitos... 363
também,àvalorizaçãosubjetivadotítulo(oqueincluivalorafetivoeestético-
históricodopatrimônio).
Osdadosapontam-nosparaareflexãodequeacidadeouametrópolenão
pode ser aval iada tão somen te pelos dados conc retos, ou seu movimento
territorial,funcional ematerial.Aessência da cidade,ascontradiçõesquea
maculampodemedevemserdesnudadaspormeiodoespaçodoimaginário,
pois,comoafirmaLadrière(1979,p.171),“comosempre,oinvisíveléaverdade
dovisível(...) eacidadevisível deveestaraí paraqueaimaginação possa
captaraessênciainvisível”.
Comotratadoemoutrotrabalho,precisamoslevaremcontaqueasdiferentes
formasderepresentaçõeseconstruçõessimbólicasquesefazemdeumacidade
estão intrinsecamente rel acionadas com aspráticas espaciais (Costa, 2011;
Scarlato,1996).Nessadialética,resideodesafio:identificaraspossibilidades
contraditóriasdeumdeveniruniversal-particulardascidadespatrimonializadas,
quandooshomensagemdentrodeumcontextodadoenaaçãopolíticaatribuem
significadosaomundo.Nacompreensãodahistóricaressignificação,apropriação
elatênciadosconflitosterritoriais,emergeapossibilidadedeempoderamento
localdosbensculturaisedopróprioterritório.Odesafioseimplantaquando,
juntoàbuscadesteempoderamentocoletivodascidadespatrimoniaisemsua
totalidade(issoseaomenosocorreatentativa),ficamexplícitosospotenciais
deconflitossocioterritoriaispelametropolizaçãoque,emefeitobumerangue,
rebatemsobreessamesmatotalidade.Nãoescapamdospossíveisconflitosnem
aáreavalorizada,patrimonializadaouelitizada,poisaimagemeoimaginário
das cidades são produzidos e estão a serviço da própria metrópole em seu
movimentohistóricoeemsuatotalidade.
E.B.daCosta
364
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O esf orço n este t rab alho f oi o de cor rel acion ar patrimonialização e
metropolização,metodologicamente,deformaaindagar ossentidosdadita
patrimonializaçãoe,maisalém,problematizaranoçãodecidade-patrimônio
diantedospotenciaisdeconflitossocioterritoriaisadvindosdametropolização
deBrasília.
Oconflito socioterritorial,nessaabordagem,não foiresgatadoenquanto
fatoconsumado,maslatenteparaaocorrência,nocontextodascontradições
doprocessourbanizadorqueaparecemcomoentrave:àcirculaçãourbana,à
mobilidadesocioespacialemsentidomaisamplo,àprodução eao consumo
individualizados,àspercepçõesefruiçãourbanas,emsuma,àsobrevivência
dasdiferentesclasses sociais emconjunto noterritório metropolitano. Este
enfoquepropostonoresgatedeumimaginárioatinenteàvivênciaouexperiência
do/noterritóriodametrópoledásubsídiometodológicoparaanálisesfuturas.
Fica-nos c laro que os poten ciais concre tos possíveis à c onsagração de
conflitossocioterritoriaisnoDistrito Federalbrasileiro são aslimitaçõesda
circulaçãourbana,osproblemassociaisdiversos(comomendicância,tráfico
dedrogas,desemprego, segurança pública,violência urbana,alta densidade
populacional,ineficiênciadaadministraçãopúblicaeacorrupçãopolítica)ea
miopiade umagovernançaurbanaquenãoreconheceametrópoleenquanto
totalidadeterritorialdevivênciasmúltiplas,juntoaumplanejamentointegrado
doterritório.Taiselementosjá constituemoimagináriodosentrevistadose
fazem-se,porisso,potenciaisparaconflitossocioterritoriais.
Emsíntese,areflexãosobreacidadeouametrópoledevesedarparaalém
dedadosconcretosouemseumovimentoterritorial,funcionalematerial.A
essênciadacidadeenquantototalidade,ascontradiçõesqueaproduzemestão,
Metropolização,PatrimonializaçãoePotenciaisdeConflitos... 365
emgerme,noespaçodoimagináriosocial,nomovimentodoaparenteaoinvisível
quecapta,porconseguinte,oespaçovividopelocidadãometropolitano,oqual
nãoseencerraemseusítiodemoradia(nestaounaquelaRegiãoAdministrativa),
mas nos trajetos percorridos cotidianamente (por toda a metrópole) , locos
imanentedospotenciaisdeconflitossocioterritoriais.
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