A elaboração identitária realizada durante o Estado Novo, através de António Ferro, diretor
do Secretariado de Propaganda Nacional, centrou-se na procura de elementos diferenciadores.
Neste sentido, a cultura popular e, em particular, a arte rústica, revelaram-se elementos
fundamentais na definição de cultura e de nação portuguesa. Em julho de 1948 era
inaugurado, na zona de Belém, o Museu de
... [Show full abstract] Arte Popular (MAP), iniciativa de Ferro e o
corolário de um programa estatal em torno do património demótico e do passado, que vinha
sendo trabalhado desde 1935 pelo Secretariado. O MAP apresentava-se como um híbrido, um
lugar onde se podiam encontrar objetos tradicionais em convivência com estilizações
modernistas de elementos populares, apresentando uma arte decorativa nacional sustentada
na arte popular. Este artigo procura entender o papel do MAP na propagandística do regime
sobre as questões da identidade nacional, averiguando os propósitos da sua criação e que
ideias de Povo e de Nação transmitiu. Para tal, a metodologia de trabalho adotada teve por
base a análise da documentação relativa ao MAP do fundo do SNI no arquivo da Torre do
Tombo, tendo-se recorrido igualmente a fontes hemerográficas (imprensa diária e
publicações periódicas), que permitiram compreender como foram recebidas as
representações imagéticas fomentadas pelo Secretariado, através do MAP. Assumindo como
hipótese de trabalho que o MAP nunca foi verdadeiramente um museu, nem verdadeiramente
pretendeu sê-lo, crê-se que a resposta a algumas das interrogações levantadas permitirá
compreender até que ponto o MAP foi (mais) um instrumento de (re)criação identitária da
Nação.