Seguimos dessacralizando o museu, colocando-o a parte do divino e dos saberes do sagrado, como distanciamos da vida desta dimensão. Proponho contradizer as generalizações em contextos museais e agregar outras visões. A etimologia da palavra museu sugere ao templo das musas, também considera o filho de Orfeu e sua missão poética no mundo, mas há outras concepções. É restritivo pensar o sagrado em termos de arquitetura profana monumental ou pela busca de certos objetos pelo público, isto está nos planos do poder, marketing, imaginário, afetos, emociones etc., não do sagrado. Sabemos o que é sagrado e como identificá-lo? Nossa base de reflexão museológica é um trabalho no Brasil com indígenas em museus tradicionais e autogestionados. Primero argumento, os indígenas vivem o sagrado. 2º. a espiritualidade faz parte do cotidiano indígena, mas é outra realidade com normas próprias que orientam a vida individual e social, 3º. um sistema de comunicação complexo no qual o Pajé tem um papel importante. 4º. argumento, enquanto os territórios indígenas são espaços sagrados – de práticas, cultos, lutas, violência, opressão, extermínio, resistência, conquistas – também as florestas e lugares de culto, os museus podem ser consagrados. Um Pajé afirmou sobre os objetos indígenas em museus – tudo é sagrado. Outro Pajé escolheu um museu para batizar uma menina indígena. Uma Pajé sabe que os remanescentes humanos em museus são seres humanos e devem ser respeitados pela equipe e público. Os indígenas nos alertam, há que saber onde e como guardar os objetos na reserva técnica, ainda, se manipulamos ou falamos sobre eles – evocamos outras dimensões, algumas pessoas têm permissão para trabalhar com os objetos, outras não. Sabemos o que é sagrado e como devemos tratá-lo museograficamente? Sobre isso queremos discutir a partir dos saberes indígenas.