BookPDF Available

Mamíferos da Fazenda Monte Alegre

Authors:

Figures

Content may be subject to copyright.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
i
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre - Paraná
Este livro oferece uma oportunidade ímpar para a reflexão sobre a vida e os hábitos
dos mamíferos; reflexão voltada não só ao meio acadêmico, mas também aos demais
estudiosos, aos leigos à área e também ao público em geral. No conjunto, os textos
aqui publicados apresentam as variadas possibilidades para o estudo dessa classe de
animais, e demonstram as atuais tendências nesses campos de pesquisa. As 83
espécies encontradas representam 44,62% do total de espécies de mamíferos (186)
registradas para o Estado, sendo elas representantes das seguintes ordens:
DIDELPHIMORPHIA (cuícas e gambás); CHIROPTERA (morcegos); PRIMATES
(macacos); XENARTHRA (tatus e tamanduás); CARNIVORA (cachorros, quati, mão-
pelada, lontra, furão, gatos); PERISSODACTYLA (anta); ARTIODACTYLA (porcos-do-
mato e veados); LAGOMORPHA (coelhos) e RODENTIA (serelepe, ratos, capivara,
cutia, ouriço). Percebe-se, na escolha feita pelos organizadores, a preocupação com a
abrangência das abordagens e a crítica dos estudos realizados. Os textos incluem
análises de importância local, regional e nacional, por abrigarem espécies em extinção,
apontarem problemas específicos e, em especial, por preencherem inúmeras lacunas
de conhecimento em relação aos mamíferos do Paraná.
Autor: Reis, Nelio R. / Peracchi, Adriano L. / Fandiño-Mariño, Hernán /
Rocha, Vlamir J. (orgs.)
Ano: 2006
Páginas: 202
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
ii
Nelio R. dos Reis
Adriano L. Peracchi
Hernán Fandiño-Mariño
Vlamir J. Rocha
Orgs.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre,
Paraná.
Londrina – Paraná
2006
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
iii
Este livro é dedicado à memória do Prof. Peter Walter Westcott,
pelo seu amor aos animais silvestres e domésticos,
pelo pioneirismo,
pela dedicação e amizade que teve com os alunos paranaenses,
no tempo que passou entre nós.
De 1972 a 1990, quando deixou muitas saudades.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
4
Agradecimentos
Aos revisores
Cleber Jose Rodrigues Alho (Dr.) - Universidade de Brasília - (UnB) - Brasília, DF.
Emygdio Leite de Araujo Monteiro Filho (Dr.) - Universidade Federal do Paraná - (UFPR) -
Curitiba, PR.
Flávio Henrique Guimarães Rodrigues (Dr.) - Universidade Federal de Minas Gerais - (UFMG) -
Belo Horizonte, MG.
Fernando de Camargo Passos (Dr.) - Universidade Federal do Paraná - (UFPR) - Curitiba,PR.
José Ricardo Pachaly (Dr.) - Instituto de Pesquisa da Universidade Paranaense - (UNIPAR) -
Umuarama, PR.
Juliana Quadros (Drª) - Universidade Tuiutí do Paraná - (UTP) - Curitiba, PR.
Júlio César Bicca Marques (Dr.) - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul -
(PUCRS) - Porto Alegre, RS.
Marta Elena Fabian (Drª) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul - (UFRG) - Porto Alegre,
RS.
Marlon Zortéa (Dr.) – Universidade Federal de Goiás - (UFG) - Jatai, GO.
Ricardo Cardoso Benine (Dr.) - Universidade Estadual de Londrina - (UEL) - Londrina, PR.
Pela leitura dos manuscritos e pelas valiosas sugestões apresentadas.
Agradecimentos especiais
À Klabin S/A, pela infra-estrutura cedida, logística e suporte financeiro para a realização deste
trabalho, nas pessoas de:
José Aldezir de Luca Pucci – Engenheiro Florestal, Gerente Geral Florestal da Klabin Florestal
Paraná.
Ivone Satsuki Namikawa Fier – Engenheira Florestal, Coordenadora de Pesquisas da Klabin
Florestal Paraná.
Sérgio Adão Filipaki – Manejo Ambiental da Klabin Florestal Paraná.
Valmir Oliveira Silva – Manejo Ambiental da Klabin Florestal Paraná.
Aos funcionários da Klabin Florestal Paraná, em especial aos do Parque Ecológico.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
5
Lista de Autores
Adriano Lúcio Peracchi – (Dr.) Professor Livre Docente do Instituto de Biologia da Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro – (UFRRJ).
Carlos Eduardo Faresin e Silva – Biólogo do Laboratório de Mastozoologia da Universidade
Estadual de Londrina – (UEL).
Carolina Carvalho Cheida – (M.Sc.) Bióloga - Instituto de Pesquisas Cananéia – (IPeC): Projeto
Carnívoros.
Cibele Maria Vianna Zanon – (M.Sc.) Bióloga do Laboratório de Mastozoologia da Universidade
Estadual de Londrina – (UEL).
Guilherme Silveira – (M.Sc.) Biólogo do Laboratório de Mastozoologia da Universidade Estadual
de Londrina – (UEL).
Isaac Passos de Lima – Doutorando do curso de Biologia Animal do Instituto de Biologia da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – (UFRRJ).
João Alves de Oliveira – (Ph.D) Professor Adjunto do Departamento de Vertebrados, Museu
Nacional - Universidade Federal do Rio de Janeiro – (UFRJ).
Hernán Fandiño-Mariño – (Dr.) Professor do Departamento de Biologia Animal e Vegetal da
Universidade Estadual de Londrina – (UEL).
Lorena Bavia – Aluna de graduação do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de
Londrina – (UEL).
Márcio Cisterna Motta – (M.Sc.) Biólogo - Colaborador do Zoológico Municipal de São Vicente,
São Paulo – (ZMSV).
Margareth Lumy Sekiama(Drª.) Bióloga – Biosfera consultoria e projetos ambientais.
Nélio Roberto dos Reis – (Dr.) Professor Titular do Departamento de Biologia Animal e Vegetal da
Universidade Estadual de Londrina – (UEL).
Tereza Cristina Castellano Margarido – (Drª.) Bióloga do Museu de História Natural Capão da
Imbuia (MHNCI). – Setor de Mastozoologia Departamento de Zoológico – PMC.
Vlamir José Rocha – (Dr.) Biólogo – Manejo Ambiental da Klabin Florestal Paraná.
Wagner André Pedro – (Dr.) Professor Livre Docente do Departamento de Apoio, Produção e
Saúde Animal da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” (UNESP).
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
6
Sumário
Apresentação ..........................................................................................................................................7
Lygia L. Pupatto.
Introdução...............................................................................................................................................9
Nelio R. dos Reis, Adriano L. Peracchi, Vlamir J. Rocha e Hernán Fandiño-Mariño.
Localização da Fazenda Monte Alegre ..............................................................................................11
Desenhando Mamíferos: Trabalho de Cientista, Obra de Artista...................................................12
Hernán Fandiño-Mariño
Lista das espécies de mamíferos..........................................................................................................17
Lista das Pranchas ...............................................................................................................................20
Capítulos:
I.Ordem Didelphimorphia .....................................................................................................................22
Carolina C. Cheida, Márcio C. Motta e Isaac P. de Lima.
II.Ordem Chiroptera ...............................................................................................................................40
Adriano L. Peracchi, Isaac P. de Lima, Nélio R. dos Reis e Lorena Bavia.
III.Ordem Primates ...................................................................................................................................64
Guilherme Silveira, Nelio R. dos Reis e Vlamir J. Rocha.
IV.Ordem Xenarthra.................................................................................................................................73
Wagner A. Pedro, Adriano L. Peracchi, Márcio C. Motta e Isaac P. de Lima.
V.Ordem Carnivora.................................................................................................................................84
Vlamir J. Rocha, Márcio C. Motta, Carolina C. Cheida e Adriano L. Peracchi.
VI.Ordem Perissodactyla........................................................................................................................114
Isaac P. de Lima e Margareth L. Sekiama.
VII.Ordem Artiodactyla...........................................................................................................................119
T. Cristina C. Margarido, Adriano L. Peracchi, Vlamir J. Rocha e Guilherme Silveira.
VIII.Ordem Lagomorpha ..........................................................................................................................136
Nélio R. dos Reis, Wagner A. Pedro e Cibele M. V. Zanon.
IX.Ordem Rodentia.................................................................................................................................141
João A. de Oliveira, Guilherme Silveira, Vlamir J. Rocha e Carlos E. F. e Silva.
X.Procedimentos de caráter técnico usados nos desenhos das pranchas sobre mamíferos............169
Hernán Fandiño-Mariño.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
7
APRESENTAÇÃO
É incontestável a importância que assumiram na contemporaneidade estudos que
visem melhor conhecer, para preservar, os mamíferos da região centro-leste do Estado do Paraná,
encontrados na Fazenda Monte Alegre, pertencente a Klabin S/A.
Nos artigos selecionados para publicação neste livro destacam-se a capacidade de
aprofundamento científico e a simplicidade de linguagem, o que torna seu conteúdo acessível não
só a cientistas como também a estudantes ainda do ensino fundamental e médio.
Como são poucas as pesquisas existentes sobre o objeto central estudado pelos autores
desta obra, é ainda mais reduzido o número de textos publicados sobre o mesmo.
Cumprem papel de destaque os editores, ao ocuparem este espaço para divulgar
produção de tão alta qualidade sobre a atual situação da Classe Mammalia.
A feliz chegada deste livro dá uma oportunidade ímpar para a reflexão e crítica sobre o
tema não só no meio acadêmico, mas também entre os demais pesquisadores, estudiosos e leigos à
área.
No conjunto, os textos aqui publicados representam a diversidade de possibilidades
para este campo de pesquisa; e demonstram ainda as tendências dos atuais estudos sobre 83
espécies de mamíferos.
É importante ressaltar que esta riqueza de espécies encontrada pelos pesquisadores só
é possível devido à preservação exemplar de 52.000 hectares de área de propriedade da Klabin S/A.
Percebe-se, na escolha feita pelos editores, a preocupação com a variedade de
abordagens e com a crítica dos estudos realizados. Os textos incluem análises de importância local,
regional e nacional, por abrigar espécies em extinção; apontando problemas e especificidades do
meio pesquisado.
A produção selecionada para este livro pelos quatro editores passou, certamente, pelo
crivo do rigor de veracidade, da qualidade de conteúdo e das contribuições que os 15 autores e 10
revisores podem acrescentar aos interessados na vida silvestre do Paraná.
Portanto, a publicação deste livro chega em boa hora e tem como uma de suas missões
a tentativa de preencher inúmeras lacunas de conhecimento em relação ao importante objeto
estudado.
É essencial registrar o esforço desprendido, durante dois anos, pela equipe de
pesquisadores para que este trabalho fosse concluído com sucesso. Em especial, parabenizo meus
dois colegas de Departamento na UEL – Hernán Fandiño-Mariño e Nélio Roberto dos Reis –, além
de Adriano Lúcio Peracchi e Vlamir José Rocha. Todos profissionais da mais alta capacidade e
experiência comprovada em outros trabalhos de igual relevância.
Por tudo isto, é inegável a imensa contribuição que esta obra traz para o crescimento
do conhecimento sobre tão atual e importante área da ecologia/zoologia.
Lygia Lumina Pupatto
Bióloga e Reitora da UEL
Julho de 2005.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
8
MAMÍFEROS DA FAZENDA MONTE ALEGRE, REGIÃO CENTRO LESTE DO
PARANÁ.
INTRODUÇÃO
Vegetais e animais silvestres encontram-se em vias de extinção, o número das espécies
desaparecidas aumenta a cada dia. As perdas, muitas vezes devastadoras, advêm principalmente da
destruição dos hábitats. O mundo moderno sofre um grande desequilíbrio em conseqüência das
ações humanas.
A preservação da natureza, envolvendo animais, vegetais, a qualidade das águas, o ar
que respiramos, etc., deveria ser o grande dever dos homens do século XXI.
No intuito de se conhecer as espécies de mamíferos da Fazenda Monte Alegre e
adjacências, foram considerados estudos já realizados na região (REIS et al., 1999; PERACCHI et
al., 2002; ROCHA et al., 2003) e ainda levantamento em campo das espécies realizado no período
de janeiro de 2004 a dezembro de 2005.
O nosso objeto de estudo ficou concentrado na FAZENDA MONTE ALEGRE (Fig.
01), de propriedade da Klabin S.A. A Fazenda foi escolhida por apresentar uma área nativa
preservada de porte considerável (52.000 hectares), em relação à atual cobertura florestal do Estado,
além da especial disposição da empresa em facilitar e colaborar com as atividades da pesquisa.
A ficha técnica das características físico-geográficas da Fazenda é a seguinte: constitui-
se de um bloco único de 126.737 hectares, localizado nas coordenadas 24°12’42”S e 50°33’26”W,
dentro do município de Telêmaco Borba. Sua altitude média é de 885m e o clima, segundo Koppen,
enquadra-se como subtropical transicional para temperado, úmido, mesotérmico, sem estação seca
definida (Cfa/Cfb). A temperatura média do mês mais frio é de 16,3°C (junho e julho) e a
temperatura média do mês mais quente de 23,2°C (janeiro e fevereiro). A média anual de
precipitação pluviométrica é de 1.478 mm.
Em relação aos recursos hídricos, a área está localizada na bacia hidrográfica do Rio
Tibagi, o qual recebe 21 tributários.
As áreas nativas da Fazenda englobam três tipos de formações vegetais; 1) Floresta
Estacional Semidecidual, 2) Floresta Ombrófila Mista e 3) Campos Naturais, além dos ecótonos
formados entre os diferentes tipos de vegetação. O restante da área é composto por reflorestamento
de Pinus spp., Eucalyptus spp. e Araucaria angustifolia, formando um mosaico de vegetação com
as florestas nativas.
A Fazenda Monte Alegre foi adquirida pela família Klabin em 1934 e em 1943
começaram os primeiros plantios de araucária e eucalipto, com a finalidade de suprir as
necessidades de madeira da fábrica instalada na própria Fazenda. A empresa empenhou-se, desde o
início, na pesquisa de espécies madeireiras que pudessem se aclimatar na área, bem como se
preocupou com a biodiversidade local. Para tanto, implantou o Parque Ecológico, visando a
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
9
realização de estudos científicos nos diversos ecossistemas presentes na região, com ênfase no que
se refere à fauna e a flora nativas.
O Parque Ecológico ocupa uma área de 11.196 ha, dos quais 7.883 ha são
representados por florestas naturais; algumas ainda em estado primitivo. A floresta primária é
constituída de árvores altas, destacando-se excepcionais exemplares de Araucaria angustifolia
(pinheiro-do-Paraná), Patagonula americana (guajuvira), Eugenia involucrata (cerejeira),
Aspidosperma polyneuron (peroba). O sub-bosque é denominado por samambaias, bromélias, cipós
e avencas.
Os resultados do presente trabalho foram obtidos através de um modelo acadêmico de
coletas de dados que descrevemos a seguir:
Para os morcegos foram realizadas quatro coletas mensais, perfazendo um total de 16
horas. Utilizamos oito redes com 7 m de comprimento por 2.5 m de largura, totalizando 140 metros
quadrados de exposição para cada noite de trabalho (REIS, 1984). Essas redes foram estendidas por
quatro horas após o pôr-do-sol, em lugares como: estradas abandonadas, trilhas, clareiras e riachos
(GREENHALL & PARADISO, 1968). Os animais coletados foram identificados e dois exemplares
de cada espécie foram fixados e depositados no Laboratório de Ecologia da Universidade Estadual
de Londrina (UEL).
Quanto aos pequenos mamíferos não-voadores, realizamos quatro coletas mensais,
utilizando-se armadilhas do tipo Sherman (tamanho 9 x 9 x 30 cm e de 11 x 10 x 40 cm). Estas
foram dispostas ao longo de transectos, iscadas com cenoura, pasta de amendoim, ou bananas com
farinha de milho. Também foram usadas 24 armadilhas de queda (pitfall) distribuídas em seis
grupos com baldes de 50 litros cada, enterrados com a borda ao nível do chão e perfurados na base,
tomando-se o cuidado de manter pedras sob cada “pitfall” de maneira a não armazenar água no
período das chuvas, adaptado de GUEDES (2000). Essas ficavam armadas por duas noites
consecutivas e vistoriadas pela manhã do dia seguinte, onde eram retirados os animais capturados.
Aqui também, dois exemplares de cada espécie foram fixados para confirmar identificações feitas
em campo.
Com relação aos médios e grandes mamíferos, foram realizadas quatro incursões
mensais que consistiram em averiguar a presença desses animais, através de pegadas, fezes,
carcaças e avistamentos (CULLEN et al., 2000, 2001; CHIARELLO, 1999, 2000). Foram utilizadas
18 caixas de areia com 1m2 construídas em linha e distantes 20m uma da outra. As caixas de areia
estavam a 100 metros no interior da mata para evitar o “efeito de borda” (FELIX et al., 2001), ou
seja, temperaturas mais elevadas, ventos que ressecam as margens, chuvas e outras interferências
que possam alterar a rotina desse ecossistema. As caixas de areia continham iscas de bacon, frutas e
sal mineral, e eram dispostas alternadamente para que caixas com o mesmo tipo de isca não
ficassem próximas. Essas ficavam expostas durante o período de coletas e retiradas ao término. A
areia era sempre umedecida para que os rastros fossem facilmente registrados e fotografados e
confeccionados contra-moldes (BECKER & DALPONTE, 1999). Fezes e rastros eram procurados
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
10
ao longo das estradas próximas aos pontos das coletas. Após, as fezes eram levadas para o
laboratório de ecologia da UEL, para triagem e identificação.
O nosso trabalho chegou a um resultado de 83 espécies, o que representa 44,62% do
total de mamíferos registrados para o Estado (186 espécies, 1); as quais se encontram nas seguintes
ordens: DIDELPHIMORPHIA (cuícas e gambás); CHIROPTERA (morcegos); PRIMATES
(macacos); XENARTRHA (tatus e tamanduás); CARNIVORA (cachorro-do-mato, lobo, raposa,
quati, mão-pelada, lontra, irara, furão, gatos e onças); PERISSODACTYLA (anta);
ARTIODACTYLA (porcos-do-mato e veados); LAGOMORPHA (coelhos) e RODENTIA
(serelepe, ratos, preá, capivara, cutia, paca e ouriço).
Como a área da Fazenda Monte Alegre corresponde aproximadamente a 1% do Estado
do Paraná, tivemos o cuidado de incluir a espécie Ozotocerus bezoarticus (veado-campeiro) por
ocorrer nas adjacências da área estudada. No caso de Panthera onca (onça-pintada), consideramos
como provavelmente extinta e Tapirus terrestris (anta) como extinta, uma vez que seus últimos
registros datam de longo tempo para a região.
É preciso deixar claro que esse elevado número de mamíferos existentes na Fazenda
Monte Alegre deve-se, à preservação de uma área de mata representativa, ao cuidado da empresa
de manter a boa qualidade das águas e proteger a área de incursão de caçadores e depredadores
humanos. Essas condições possibilitam que a mata nativa se mantenha produzindo seus próprios
recursos, os quais sustentam a riqueza de espécies encontrada.
Por fim, juntamente com tantos outros estudiosos da natureza devemos alertar contra o
processo de fragmentação das florestas, colocando a diversidade em risco. Tal fato pode resultar na
perda de espécies tanto animais como vegetais. Ainda, a perda de populações geneticamente viáveis
e distintas dentro de uma espécie é tão grave quanto a perda de toda a espécie. A riqueza da fauna e
flora está associada com o tamanho da área dos fragmentos florestais e o número de espécies
vulneráveis aumenta progressivamente com a diminuição do tamanho das florestas.
Esperamos que essa obra venha a contribuir para a preservação dos mamíferos que
como dizia Ernest P. Walker:
Aos mamíferos, grandes e pequenos, que tanto contribuem para o bem estar e
felicidade do homem, também mamífero, mas que pouco recebem em troca, exceto infâmia, abuso e
extermínio”.
Os Editores
1 MIRETZKI, M. Comunicação pessoal, 2005. (Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo).
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
11
Figura 01. Localização da Fazenda Monte Alegre na região Centro Leste do Paraná.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
12
DESENHANDO MAMÍFEROS.
TRABALHO DE CIENTISTA, OBRA DE ARTISTA.
Hernán Fandiño-Mariño
Professor (Dr.)
Departamento de Biologia Animal e Vegetal
Universidade Estadual de Londrina
Este livro destina-se a um público vasto e variado. No seu inicio foram procurados
dados biológicos que interessavam principalmente a zoólogos sistematas e especialistas na
identificação das espécies de mamíferos. Contudo, quando se decidiu sobre o atual formato
editorial, passamos a considerar que valia a pena ampliar o leque de tipos de leitores-alvo, para
incluir também o grande público leigo. Da minha parte, como ilustrador, faço um chamado aos
desenhistas da vida selvagem e mais especialmente aqueles que se interessam pela representação
imagética dos mamíferos. Espero que eles encontrem não só utilidade, mas também o gosto especial
que tive na sua realização.
Desenhar os mamíferos da presente obra foi, de fato, uma tarefa muito gratificante para
mim. Vários foram os motivos. Em primeiro lugar, este trabalho representa o justo cruzamento
entre as duas principais atividades que têm norteado a minha vida: por um lado, a pesquisa sobre os
hábitos e o modo de vida dos animais selvagens, e, por outro, o trabalho de elaborar imagens
capazes de nos surpreender pela sua harmonia, riqueza de conteúdo e que nos encantam pelo que
nos fazem “enxergar”.
Em segundo lugar, está o fato de sempre ter desejado fazer isto. Sempre quis parar e
procurar o melhor ângulo de observação, guardar na memória aquele instante do animal selvagem,
cujo olhar nos defronta com a sua independência, autonomia e liberdade. A sua postura parecendo
nos dizer:
“Olha aqui, eu estou neste planeta tanto quanto você e carrego uma herança tão antiga
quanto a sua, tenho meus próprios hábitos, sei muito bem me virar neste mundo, não fico filosofando
sobre a existência, mas tiro o melhor dela a cada instante, olha ali a minha namorada, tenho tudo
que preciso, não fico enrolado com depressões e corro muito mais rápido do que você”.
Em terceiro lugar, está a novidade. Refiro-me ao fato de que não esperava que este
trabalho fosse me trazer surpresas. O rigor exigido pela necessidade de ser fiel à realidade, faz com
que não possamos nos permitir a criação de elementos que talvez a imaginação quisesse acrescentar
e, assim, o trabalho fica preso a uma questão puramente técnica: copiar a realidade.
Entretanto, foi justamente no campo da própria técnica que surgiram algumas luzes,
introduzindo possibilidades novas de fazer com que a cópia fosse mais fiel ainda, do que antes
podia ser. O desenvolvimento destas descobertas tornou o que parecia ser tedioso e maçante em
uma atividade interessante e empolgante. Acrescento, no capitulo final deste trabalho, um arrazoado
relativo aos procedimentos e técnicas que fui desenvolvendo a medida em que ia desenhando as
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
13
pranchas. As técnicas tiveram um interesse particular, pelo fato de tratar-se de mamíferos e mais
especificamente pelas formas de representação de diferentes tipos de pelagens.
O meu trabalho procura enfatizar e integrar, ao mesmo tempo, esses dois aspectos: o
estrito, rigoroso e exato da ciência, por um lado, e o estético, harmonioso, envolvente e encantador
do componente artístico, pelo outro.
A representação de espécies num trabalho científico exige vários cuidados, ao passo
que diversos problemas precisam ser resolvidos, quando queremos que o resultado seja realmente
útil e esclarecedor; não apenas uma imagem vaga do que talvez seja parecido com um exemplar da
espécie.
Logo de início, surge o primeiro problema quando nos deparamos com o fato de não
poder sequer olhar para o bicho que vamos desenhar. Cadê ele? Ah! Aquele lá? ... foi coletado uma
vez, tomaram-se as medidas: quanto pesa, o tamanho do seu rabo e registraram-se diversas
informações sobre a sua ocorrência, mas o espécime, como tal, não está acessível. Ou então, quando
está, trata-se de um chumaço de algodão de forma cilíndrica, recoberto com o que foi sua pele.
Ajuda? Sim; mas o rei era certamente muito diferente da múmia empastada que conservamos dele!
Fotografias são o que podemos esperar encontrar de melhor; mas elas são raras,
especialmente quando a espécie também o é. Afortunadamente, para o presente trabalho, tivemos à
disposição pelo menos uma foto de quase todas as espécies que aqui estão representadas.
As fotografias, que são um documento em si mesmo, estão livres, em grande parte, das
arbitrariedades de uma mão criativa, porém têm vários problemas. Entre os principais, está que
dificilmente mostram tudo o que precisa ser visto para uma identificação.
Diferenças entre o que se vê e o que deve ser visto, se destacam na comparação entre
fotos e desenhos. Uma cauda preênsil pode ser desenhada em ação, assim como uma língua
especializada pode ser apresentada libando o néctar de uma flor. Isto seria muito difícil de esperar
de uma fotografia, cujo sujeito já é difícil de encontrar.
Fotos de pequenos animais são freqüentemente feitas com lente macro, e um tal
“close” pode criar distorções ópticas que ocasionam falsas proporções corporais na imagem obtida.
Estes problemas podem ser corrigidos no desenho que, juntando todas as informações
importantes sobre o sujeito, pode se apoiar na imagem real de uma fotografia para apresentá-las.
O ideal é claro, seria ter, no mínimo, um indivíduo vivo à disposição e isto é muitas
vezes possível graças aos zoológicos e parques ecológicos, como foi o caso, para várias espécies
neste trabalho, com o Parque Ecológico da Klabin.
Há várias maneiras de se apresentar as espécies que pretendemos ilustrar. Eu escolhi
uma forma de prancha que inclui várias espécies no mesmo desenho, porque assim propicia-se a
comparação de uma espécie com outra, facilitando o processo de reconhecimento. Isto é resultado
da minha experiência como biólogo. Chaves e manuais de identificação de campo costumam
restringir dessa forma, as possibilidades de desvios no reconhecimento de diversas características.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
14
Constatamos a importância de se ter referenciais seguros que balizem o trabalho de
identificação. Isto me levou a trazer para os desenhos dois componentes que deverão contribuir
como parâmetros confiáveis de reconhecimento.
O primeiro, já mencionado, consiste em incluir no mesmo desenho, espécies que
servem de referência, uma para a outra. O critério básico de agrupamento na mesma prancha foi o
da proximidade filogenética. Entretanto, espécies do mesmo gênero não apresentam
necessariamente problemas de identificação entre si, maiores do que outras menos relacionadas que
se assemelham por efeitos ecológicos de convergência.
O segundo parâmetro consiste na introdução de objetos no desenho, alheios à natureza
das espécies representadas, mas vinculados à nossa, humana, de forma a fazer com que a imagem
como um todo se torne familiar, no sentido das suas dimensões. Teremos assim, objetos de
tamanhos conhecidos, servindo de referência para todas as espécies que se encontram no mesmo
desenho. Estes objetos serão os mesmos, ainda que se apresentem em escalas diferentes, ao longo
de todo o trabalho, para facilitar as comparações de tamanhos entre uma prancha e outra.
Neste assunto, sempre fui crítico quando observava livros e manuais de identificação
que, geralmente, apresentam uma pequena régua na margem do desenho. Esse referencial é
certamente importante, pois permite que o desenho se relacione com o mundo real, é a chamada
“Escala Gráfica”, dada geralmente em centímetros ou milímetros, conforme o caso. Contudo, este
parâmetro deixa um pouco a desejar no sentido de não facilitar a visualização dos tamanhos.
Imaginar à que corresponde uma determinada dimensão linear e abstrata, no mundo visual humano
feito de espaços e volumes, requer um esforço propositado do intelecto, cujo resultado não é dado,
não é espontâneo e nem sempre é evidente.
Introduzi então, nos desenhos, alguns elementos conhecidos do mundo humano
(especialmente comuns ao naturalista): umas botas de borracha, um canivete e um cantil, dos quais
temos uma noção espacial imediata. Com eles, no plano de fundo, podemos visualizar
instantaneamente o animal no seu tamanho real. Os arquitetos colocam a silhueta de um corpo
humano nos seus projetos para obter os resultados referidos. Este tipo de escala é chamada, entre
eles, de “Escala Humana”. Ver o desenho de um coelho ao lado de uma escala graduada é algo
muito diferente de vermos o mesmo coelho ao lado de uma bota de borracha, um cantil e um
canivete.
Por último, os desenhos neste trabalho incluem não só o referencial das espécies umas
com as outras, mas se encontram num mundo espacial humano que, por sua vez, está também
graduado! Veja a ilustração na Prancha I, onde se mostram os tamanhos dos objetos em
centímetros, de modo a servirem como padrões de medida (escalas graduadas), no caso de se querer
estimar os respectivos valores métricos. Temos assim, como referenciais externos às representações
das espécies, uma combinação das Escalas Grafica e Humana.
Afinal destas considerações sobre o aspecto científico, quero deixar claro que o
desenho de cada indivíduo exige também seu próprio estudo. Cabe mencionar, em particular, a
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
15
postura e atitude que vão ser exibidas pelo espécime a ser desenhado, pois elas precisam se adequar
às características que devem ficar evidentes em cada espécie.
A natureza é um espetáculo!! Nem sempre nos damos conta disto.
Somente quando paramos um pouco para olhar e refletir, que voltamos a perceber a
maravilha que é a natureza que nos rodeia. De graça.
Não é preciso viajar e nem procurar mundos imaginários, quando aprendemos que o
processo evolutivo que adapta os seres a seu meio, já criara as mais fantásticas figuras, bem na
frente dos nossos narizes. Qualquer zoólogo o sabe.
Mas, é isto que um bom desenho pode proporcionar: aquela parada para olhar. Olhar
aquilo que nos encanta, nos emociona e abre nossa mente para o estado de admiração.
Acho isto importante. Que não se trate apenas de uma fileira de repetições do mesmo
recorte esquemático, que vai apresentando esta e aquela diferença por serem apenas características a
destacar. É como empalhar o bicho em duas dimensões, e como se o único que interessasse fosse as
suas frias medidas e o registro de informações carentes de vida.
Entre as coisas mais fascinantes dos animais está o fato deles agirem por conta própria,
encanta-nos observar suas ações. Eles são agentes neste mundo como nós, e não simplesmente
objetos que podemos medir e identificar. Eles se comportam, tem fome, frio, medo, podem agredir
ou fugir. São nossos irmãos no sentir e partilhamos com eles as emoções do viver. Não podemos
representá-los simplesmente como se fossem pedras.
Quando ia desenhar o grupo dos morcegos, recebi a orientação que sugeria apresentar
apenas a cabeça de cada um, pois nelas encontrava-se a informação necessária para sua
identificação. De fato, constatei que na maioria dos manuais de identificação de morcegos, estes são
apresentados (em fotos ou desenhos) apenas pelas suas cabeças. Quando muito, é acrescentado um
uropatágio aparte, aqui e lá, para apontar algumas diferenciações importantes nessa parte do corpo.
Então, me dei conta que seria um “crime” contra eles. Como não desenhar os morcegos
em pleno vôo, quando são eles justamente os grandes mestres e únicos dotados desta faculdade
entre os mamíferos? Como não apresentar essas fantásticas criaturas com todo o esplendor que
exibem com suas asas estendidas? Só porque queremos identificá-los, vamos nos esquecer de amá-
los?
É evidente que estudar a natureza é essencial para que possamos dispor do instrumento
do conhecimento com o qual podemos protegê-la. Contudo, sou da opinião de que mais do que
conhecer a natureza, é preciso amá-la, se de preservá-la se trata. E, para amá-la, precisamos ver seu
lado belo, o lado que nos encanta e emociona.
Assim, um desenho que transmita a sensação de vida será muito mais atraente e
estimulante do que aquele que só se preocupe em passar informações. Precisamos criar
envolvimento com os seres vivos, que não são apenas cadáveres de museus, cheios de informações.
Quero agradecer ao professor Dr. Nelio Roberto dos Reis pelo convite e incentivo para
executar os desenhos.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
16
Este trabalho pictórico é dedicado a todos os amantes da natureza que, junto conosco,
gostariam de protegê-la, para que a conheçam melhor e especialmente vejam, mais de perto, o que
estamos nos propondo a proteger.
Prancha I. Dimensão dos desenhos utilizados como escala nas pranchas do livro.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
17
Lista das espécies de Mamíferos.
Ordem Didelphimorphia
Família Didelphidae
1. Caluromys philander (Linnaeus, 1758)
2. Monodelphis iheringi (Thomas, 1888)
3. Monodelphis dimidiata (Wagner, 1847)
4. Philander frenata (Olfers 1818)
5. Metachirus nudicaudatus (Desmarest, 1817)
6. Lutreolina crassicaudata (Desmarest, 1804)
7. Marmosops incanus (Lund, 1840)
8. Gracilinanus microtarsus (Wagner, 1842)
9. Didelphis aurita Wied-Neuwied, 1826
10. Didelphis albiventris Lund, 1840
11. Chironectes minimus (Zimmermann, 1780)
Ordem Chiroptera
Família Phyllostomidae
Subfamília Phyllostominae
12. Micronycteris megalotis (Gray, 1824)
13. Tonatia bidens (Spix,1823)
14. Mimon bennettii (Gray, 1838)
15. Chrotopterus auritus (Peters, 1856)
Subfamilia Glossophaginae
16. Glossophaga soricina (Pallas, 1766)
17. Anoura caudifera (E. Geoffroy, 1818)
Subfamilia Carolliinae
18. Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758)
Subfamília Stenodermatinae
19. Sturnira lilium (E. Geoffroy, 1810)
20. Artibeus lituratus (Olfers, 1818)
21. Artibeus obscurus Schinz, 1821
22. Pygoderma bilabiatum (Wagner, 1843)
Subfamilia Desmodontinae
23. Desmodus rotundus (E. Geoffroy, 1810)
Família Vespertilionidae
24. Myotis nigricans (Schinz, 1821)
25. Myotis ruber (E. Geoffroy, 1806)
26. Eptesicus brasiliensis (Desmarest, 1819)
27. Eptesicus diminutus Osgood, 1915
28. Eptesicus furinalis (d’Orbigny, 1847)
29. Histiotus velatus (I. Geoffroy, 1824)
30. Lasiurus blossevillii (Lesson & Garnot, 1826)
Família Molossidae
31. Tadarida brasiliensis (I. Geoffroy, 1824)
32. Molossus molossus (Pallas, 1766)
Ordem Primates
Família Atelidae
33. Alouatta guariba (Cabrera, 1940)
Família Cebidae
34. Cebus nigritus (Goldfuss, 1809)
Ordem Xenarthra
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
18
Família Myrmecophagidae
35. Myrmecophaga tridactyla Linnaeus, 1758
36. Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758)
Família Dasypodidae
37. Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758)
38. Cabassous tatouay (Desmarest, 1804)
39. Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758
40. Dasypus septemcinctus Linnaeus, 1758
Ordem Carnívora
Família Canidae
41. Lycalopex vetulus (Lund, 1842)
42. Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766)
43. Chrysocyon brachyurus (Illiger, 1815)
Família Procyonidae
44. Procyon cancrivorus (G. Cuvier, 1798)
45. Nasua nasua (Linnaeus 1766)
Família Mustelidae
46. Galictis cuja (Molina, 1782)
47. Eira barbara (Linnaeus, 1758)
48. Lontra longicaudis (Olfers, 1818)
Família Felidae
49. Leopardus pardalis (Linnaeus, 1758)
50. Leopardus tigrinus (Schreber, 1775)
51. Leopardus wiedii (Schinz, 1821)
52. Puma concolor (Linnaeus, 1771)
53. Herpailurus yaguarondi (Lacépède, 1809)
54. Panthera onca (Linnaeus, 1758)
Ordem Perissodactyla
Família Tapiridae
55. Tapirus terrestris (Linnaeus, 1758)
Ordem Artiodactyla
Família Tayassuidae
56. Tayassu pecari (Link, 1795)
57. Pecari tajacu (Linnaeus, 1758)
Família Cervidae
58. Ozotoceros bezoarticus (Linnaeus, 1758)
59. Mazama gouazoupira (G. Fischer, 1814)
60. Mazama nana (Hensel, 1872)
Ordem Lagomorpha
Família Leporidae
61. Sylvilagus brasiliensis (Linnaeus, 1768)
62. Lepus europaeus Pallas, 1778
Ordem Rodentia
Família Sciuridae
63. Sciurus ingrami Thomas, 1901
Família Muridae
64. Oryzomys angouya (G. Fisher, 1814)
65. Oryzomys russatus (Wagner, 1848)
66. Oligoryzomys nigripes (Olfers, 1818)
67. Nectomys squamipes (Brants, 1827)
68. Delomys dorsalis (Hensel, 1872)
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
19
69. Akodon montensis Thomas, 1913
70. Thaptomys nigrita (Lichtenstein, 1829)
71. Bolomys lasiurus (Lund, 1841)
72. Oxymycterus judex Thomas, 1909
73. Calomys sp.
74. Brucepattersonius iheringi (Thomas, 1894)
75. Juliomys pictipes (Osgood, 1933)
76. Rattus rattus (Linnaeus, 1758)
Família Echimyidae
77. Euryzygomatomys spinosus (G. Fischer, 1814)
78. Kannabateomys amblyonyx (Wagner, 1845)
Família Caviidae
79. Cavia aperea Erxleben, 1777
Família Hydrochaeridae
80. Hydrochaeris hydrochaeris (Linnaeus, 1766)
Família Dasyproctidae
81. Dasyprocta azarae Lichtenstein, 1823
Família Cuniculidae
82. Cuniculus paca (Linnaeus, 1766)
Família Erethizontidae
83. Sphiggurus villosus (F. Cuvier, 1823)
A ordem filogenética estabelecida neste livro segue os catálogos de mamíferos, elaborado por
CABRERA (1957,1958 e 1961).
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
20
Lista das Pranchas
Dimensão dos desenhos utilizados como escala nas pranchas do livro .................................................16
Didelphis aurita, Didelphis albiventris, Chironectes minimus, Philander franata................................37
Gracilinanus microtarsus, Monodelphis dimidiata, Monodelphis iheringi...........................................39
Pygoderma bilabiatum, Sturnira lilium, Artibeus lituratus, Anoura caudifera, Glossophaga soricina57
Tadarida brasiliensis, Molossus molossus, Carollia perspicillata, Desmodus rotundus ......................59
Histiotus velatus, Myotis ruber, Lasiurus blossevilli, Eptesicus diminutus...........................................61
Chrotopterus auritus, Tonatia bidens, Micronycteris megalotis, Mimon bennettii...............................63
Alouatta guariba, Cebus nigritus...........................................................................................................72
Dasypus novemcinctus, Dasypus septemcinctus, Cabassus tatoay, Euphractus sexcinctus..................81
Tamandua tetradactyla, Mirmecophaga tridactyla................................................................................83
Chrysocyon brachyurus, Pseudalopex vetulus, Cerdocyon thous........................................................105
Nasua nasua, procyon cancrivorus......................................................................................................107
Eira barbara, Lontra longicaudis, Galictis cuja..................................................................................109
Leopardus pardalis, Leopardus wiedii, Leopardus tigrinus................................................................111
Puma concolor, Herpailurus yaguarondi ............................................................................................113
Tapirus terrestris..................................................................................................................................118
Pecari tajacu, Tayassu pecari..............................................................................................................133
Ozotoceros bezoarticus, Mazama goazoupira, Mazama nana.............................................................135
Lepus europaeus, Sylvilagus brasiliensis.............................................................................................140
Sciurus ingrami, Sphiggurus villosus, Kannabateomys amblyonys.....................................................158
Oryzomys angouya, Juliomys pictipes, Calomys sp., Delomys dorsalis, Oligoryzomys nigripes, Mus
musculus...............................................................................................................................................160
Akodon montensis, Thapttomys nigrita, Bolomys lasiurus, Oxymycterus judex, Brucepattersonius
iheringi.................................................................................................................................................162
Rattus rattus, Nectomys squamipes, Rattus norvegicus .......................................................................164
Cuniculus paca, Dasyprocta azarae, Hydrochaeris hydrochaeris ......................................................166
Cavia aperae, Euryzygomatomys spinosus..........................................................................................168
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
21
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BECKER, M. & DALPONTE, J. C. Rastros de Mamíferos Silvestres Brasileiros-um guia de
campo. Brasília: Editora Universidade de Brasília. 1991.
CABRERA, A. Catalogo de los mamiferos de America del Sur. Revista del Museo Argentino de
Ciencias Naturales. “Bernardino Rivadavia”, Buenos Aires, 1957(1958) -1961. 732p.
CHIARELLO, A.G. Effects of fragmentation of the Atlantic forest on mammal communities in
south-eastern Brazil. Biological Conservation, Boston, v. 89, p.71-82, 1999.
______. Density and population size of mammals in remnants of Brazilian Atlantic Forest.
Conservation Biology. Arlington, v.14, p.1649-1657, 2000.
CULLEN, L., BODMER,R. & PÁDUA,C.V.E. Effects of hunting in habitat fragments of the
Atlantic forests, Brazil. Biological Conservation. Boston, n. 95, p. 49-56, 2000.
CULLEN, L. Jr., BODMER, R.E. & VALLADARES-PADUA, C. Ecological consequences of
hunting in Atlantic forests patches, São Paulo, Brazil. Oryx, Cambridge, v.35, n. 2, p. 137-144.
2001.
FÉLIX, J. S., REIS, N.R.dos, LIMA, I.P.de, COSTA, E.F. e PERACCHI, A.L. Is the area of the
Arthur Thomas Park, with its 82.72 ha, sufficient to maintain viable Chiropteran populations?
Chiroptera Neotropical. Brasíla, v. 7, n. 1-2, p. 129-133, 2001.
GREENHALL, A.M. & PARADISO J.L. Bats and bat banding. Bureau of Sport
Fisheries and Wildlife Resource Publication, Washington, n. 72, p. 1-47, 1968.
GUEDES, P.G.; SILVA, S. S. P. da; CAMARDELLA, A. R.; ABREU, M. F. G. de; BORGES-
NOJOSA, D. M.; SILVA, J. A. G. da & SILVA, A. A. Diversidade de Mamíferos do Parque
Nacional de Ubajara (Ceará, Brasil) Mastozoología Neotropical / J. Neotrop. Mammal.
Tucumán, v. 7, n. 2, p. 95-100, 2000.
PERACCHI, A. L.; ROCHA, V. J. & REIS, N. R. dos. Mamíferos não voadores da bacia do rio
Tibagi. In: MEDRI, M.E.; BIANCHINI, E.; SHIBATTA, O.A. ; PIMENTA, J.A. (Eds.). A bacia
do rio Tibagi. Londrina, 2002. p. 223-247.
REIS, N.R. dos. Estrutura de comunidade de morcegos da região de Manaus, Amazonas.
Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, v. 44, n. 3, p. 247-254, 1984.
REIS, N. R., PERACCHI, A. L., SEKIAMA, M. L. Morcegos (Chiroptera; Mammalia) da Fazenda
Monte Alegre, Telêmaco Borba, Paraná. Revista Brasileira de Zoologia.Curitiba, v.16, n.2, p.501
– 505, 1999.
ROCHA, V. J.; MACHADO, R. A.; FILIPAKI, S. A.; FIER, I. S. N. & PUCCI, J. A. L. A.
Biodiversidade da Fazenda Monte Alegre da Klabin S/A – no Estado do Paraná. In: VIII Congresso
Florestal Brasileiro, Anais... São Paulo, 2003. 2 CDROM.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
22
Capítulo I
ORDEM DIDELPHIMORPHIA
Carolina Carvalho Cheida
Bióloga (M.Sc.)
Instituto de Pesquisas Cananéia (IPeC): Projeto Carnívoros
Márcio Cisterna Motta
Biólogo (M.Sc.)
Colaborador Zoológico Municipal de São Vicente, São Paulo
Isaac Passos de Lima
Doutorando do curso de Biologia Animal
Instituto de Biologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Os marsupiais Metatheria são mamíferos que se distinguem dos outros de sua classe,
como monotremados Prototheria (ovíparos: “ornitorrinco” Ornithorhynchus e “équidnas”
Tachyglossus e Zaglossus), e placentários Eutheria (vivíparos com desenvolvimento total no útero),
por sua anatomia e fisiologia reprodutiva: vivíparo com desenvolvimento final no marsúpio
(CHEIDA, 2002). Ou seja, são animais que possuem, em sua maioria e nas fêmeas, uma dobra de
pele abdominal que origina uma bolsa ou marsúpio provido com glândulas mamárias (LANGE &
JABLONSKI, 1998). Este marsúpio pode ser vestigial em algumas espécies de pequeno porte,
como no caso das “marmosas” (2). Os filhotes nascem precocemente, com aparência embrionária,
vindo a se prender às glândulas mamárias da fêmea, completando seu desenvolvimento (LANGE &
JABLONSKI, 1998).
Ocorrem somente nas Américas do Sul e Central, e no Continente Australiano. No
Brasil existem 44 espécies, pertencentes apenas à família Didelphinidae e a 14 gêneros (VIEIRA &
IOB, 2003). São conhecidas popularmente por “gambás”, “cuícas”, “marmosas”, “catitas” e
“guaiquicas”.
Nas fêmeas, o útero é duplo, mas comunicam-se com apenas um orifício externo
(SILVA, 1994). As aberturas anal e urogenital fazem parte de um esfíncter comum, e os machos
podem apresentar pênis bifurcado em algumas espécies (p. ex. Didelphis, Marmosa e Micoreus)
(LANGE & JABLONSKI, 1998; 3). A maioria das espécies apresenta cauda preênsil, têm hábitos
arborícola ou semi-arborícola e dieta onívora (SILVA, 1994; VIEIRA & IOB, 2003). Devido ao
consumo de frutas em grande parte das espécies, os marsupiais podem ser considerados importantes
agentes de dispersão de sementes (CÁCERES, 2000), contribuindo para a regeneração e
manutenção de formações vegetais.
2 MONTEIRO-FILHO, E. L. A. Comunicação pessoal. 2005. (Prof. Dr. Universidade Federal do Paraná).
3 MONTEIRO-FILHO, E. L. A. Comunicação pessoal. 2005. (Prof. Dr. Universidade Federal do Paraná).
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
23
Apesar da Fazenda Monte Alegre (FMA) ser uma área de silvicultura, o fato de existir
um mosaico de vegetação (plantações comerciais interligadas por corredores ecológicos com matas
nativas de Floresta Estacional Semidecidual, Floresta Ombrófila Mista e Campos naturais) faz com
que seja possível um fluxo de fauna e flora na área (ROCHA et al., 2003), incluindo os marsupiais,
suas presas e outros itens alimentares.
Família Didelphidae
Os marsupiais desta família, representados por cerca de 77 espécies, ocorrem em toda a
região neotropical, ocupando diversos tipos de habitats, com exceção de áreas muito secas ou
desérticas. A maioria das espécies é noturna, com dieta onívora, insetívora, frugívora/insetívora ou
carnívora (NOWAK, 1991; LANGE & JABLONSKI, 1998).
Caracterizam-se por possuir diversos hábitos de vida que variam de arborícola
(Didelphis, Micoreus, Gracilinanus, entre outros) a semi-aquático (Chironectes), e tamanho
corpóreo de pequeno (cuícas) a médio (gambás) portes. Possuem cinco dedos em cada membro,
sendo os anteriores com hálux oponível e sem garras, e algumas espécies com membranas
interdigitais para facilitar a natação. Apresentam cabeça estreita e alongada, abertura mandibular até
a altura dos olhos e orelhas de tamanho variável e praticamente desprovidas de pêlos. A cauda,
geralmente, preênsil, também possui poucos pêlos da região mediana a final. Marsúpio verdadeiro
ocorre apenas em fêmeas dos gêneros Didelphis, Chironectes e Philander, sendo para as outras
espécies composto por pregas de pele do abdome. As fêmeas possuem de 5 a 25 mamas (NOWAK,
1991; LANGE & JABLONSKI, 1998; EISENBERG & REDFORD, 1999; 4).
Muitas vezes, podem ser confundidos com pequenos roedores e até mesmo serem
mortos devido a tal engano (SILVA, 1994). A fórmula dentária tende a ser semelhante para todas as
espécies:
.05
4
4
m
3
3
pm
1
1
c
4
5
i:dentária Fórmula =
Dos dez gêneros representativos para o Estado do Paraná (Didelphis, Philander,
Lutreolina, Chironectes, Caluromys, Metachirus, Monodelphis, Gracilinanus, Micoureus e
Marmosops) (LANGE & JABLONSKI, 1998), apenas Micoureus não foi encontrado na FMA.
Caluromys philander Linnaeus, 1758 - “cuíca”.
É encontrada do norte da Venezuela, ao longo da região amazônica até o sul do Brasil,
estando presente em todos os biomas do país, com exceção da Caatinga (EISENBERG &
REDFORD, 1999). Porém, de acordo com MARGARIDO & BRAGA (2004), este marsupial é
citado no Brasil apenas para os Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. Entre as espécies do
gênero, é considerada a mais estudada em vida livre, estando sempre associada a habitats úmidos
(EISENBERG & REDFORD, 1999).
4 MONTEIRO-FILHO, E. L. A. Comunicação pessoal. 2005. (Prof. Dr. Universidade Federal do Paraná).
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
24
O comprimento de seu corpo varia de 160 a 279 mm, mais a cauda com 250 a 405 mm,
e peso de 140 a 390 g (EMMONS & FEER, 1999; EISENBERG & REDFORD, 1999).
A coloração é parda, sendo mais intensa na nuca, apresentando uma listra escura que se
estende do focinho, por entre os olhos, até o topo da cabeça (EISENBERG & REDFORD, 1999). O
ventre é de coloração alaranjada, principalmente nas fêmeas, e a porção basal da cauda é grossa e
provida de pêlos, diferindo do restante, fina e sem pêlos. As pernas e pés possuem coloração
acinzentada e os olhos são marrom-alaranjados como o dorso (LANGE & JABLONSKI, 1998;
EISENBERG & REDFORD, 1999). Seu marsúpio é rudimentar, ocorrendo na forma de pregas
laterais (LANGE & JABLONSKI, 1998).
Fêmeas apresentam gestação de 14 dias, nascendo ninhadas de quatro a seis filhotes.
Podem ter três gestações no período de um ano, contanto que não haja escassez de alimentos; neste
caso ocorre apenas uma gestação por ano. Interações entre adultos tendem a ser agonísticas, exceto
quando um macho está cortejando uma fêmea. Parece haver forte defesa territorial, com algumas
sobreposições de áreas de vidas, principalmente entre fêmeas adultas. A única unidade familiar
existente é aquela entre mães e seus filhotes, não ocorrendo grupos sociais permanentes
(EISENBERG & REDFORD, 1999).
É uma espécie noturna e arborícola, descendo raramente ao solo e que concentra suas
atividades na porção superior das copas (LEITE et al., 1996; LANGE & JABLONSKI, 1998;
EISENBERG & REDFORD, 1999). Ocorre em diferentes estratos da mata, possuindo relativa
adaptabilidade a diferentes ambientes e sendo encontrada até mesmo em pomares cultivados.
Abriga-se em cavidades de árvores, onde constrói ninhos com folhas secas (EISENBERG &
REDFORD, 1999). Frutos são seu principal alimento, seguido de néctar, goma, pequenos
vertebrados, e invertebrados (LEITE et al., 1996; EISENBERG & REDFORD, 1999).
É ameaçado pela destruição de seu habitat, além de haver poucas informações a
respeito de sua distribuição. No Estado do Paraná existem dados insuficientes para avaliação de seu
grau de ameaça, apesar de ser mundialmente classificado, segundo a IUCN (International Union for
Conservation of Nature and Natural Resources), como “quase ameaçado” (MARGARIDO &
BRAGA, 2004; IUCN, 2004).
Baseando-se em dados do Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do Paraná
(MARGARIDO & BRAGA, 2004), este seria o primeiro registro deste marsupial para a região
centro-leste do Estado do Paraná, observado através de pêlos deste animal encontrados em fezes de
“lobo-guará” (Chrysocyon brachyurus) (CHEIDA, 2005).
Monodelphis iheringi Thomas, 1888 - “catita” ou “cuíca-de-três-listras”.
Esta espécie que é encontrada na porção leste do sudeste e sul do Brasil, habitando
áreas do bioma Floresta Atlântica. É considerada por alguns autores como sendo subespécie de M.
americana, por possuir diversas características físicas semelhantes a esta (EISENBERG &
REDFORD, 1999).
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
25
Possui comprimento da cabeça e do corpo de, aproximadamente, 92 mm. Em seu dorso
existem três listras marrons que seguem da cabeça à região de inserção da cauda (EISENBERG &
REDFORD, 1999).
Na área da Fazenda Monte Alegre é encontrada próxima a moradias, em
reflorestamentos de araucárias (Araucaria angustifolia) e florestas nativas.
É mundialmente classificada, segundo a IUCN, como uma espécie “quase ameaçada”
de extinção (IUCN, 2004).
Monodelphis dimidiata Wagner, 1847 - “cuíca”.
Pode ser encontrada nas regiões sudeste e sul do Brasil, Uruguai e nordeste ou pampas
da Argentina (EISENBERG & REDFORD, 1999; PERACCHI et al., 2002). Vive em matas
próximas a cursos d’água, apresentando hábito terrestre (NOWAK, 1991).
É uma espécie muitas vezes confundida com pequenos roedores, cujo comprimento do
corpo varia de 55 a 151 mm, mais a cauda com 37 a 80 mm, e peso de 40 a 95 g (NOWAK, 1991;
LANGE & JABLONSKI, 1998; EISENBERG & REDFORD, 1999; PERACCHI et al., 2002).
Existe grande dimorfismo sexual e as fêmeas são desprovidas de marsúpio (LANGE &
JABLONSKI, 1998; EISENBERG & REDFORD, 1999). Possui coloração marrom, sendo mais
escura no dorso e clara no ventre (LANGE & JABLONSKI, 1998). Apresenta cauda curta e grossa
na base, provida de pêlos esparsos, e com coloração cinza-amarelado na porção superior e
amarelada na inferior (LANGE & JABLONSKI, 1998; EISENBERG & REDFORD, 1999). Dos
lados da cabeça, no flanco e membros locomotores a pelagem é amarelo-alaranjada, ficando mais
pálida próxima ao ventre. Possui orelhas pequenas (EISENBERG & REDFORD, 1999).
Ninhadas podem ser encontradas nos meses de dezembro e janeiro, havendo de oito a
dezesseis filhotes (NOWAK, 1991; EISENBERG & REDFORD, 1999). O peso dos indivíduos
ainda em estágio neonatal varia de 0,08 a 0,11 g (EISENBERG & REDFORD, 1999).
Possui dieta onívora, alimentando-se de pequenos vertebrados, frutos e invertebrados.
Apesar de ser conhecida por seu hábito noturno, um estudo na Argentina mostrou que esta “cuíca”
pode ter atividade durante o dia (NOWAK, 1991; PERACCHI et al., 2002).
Na área da Fazenda Monte Alegre, até o presente momento, tem-se apenas dois
registros desta espécie.
É mundialmente classificada, segundo a IUCN, como uma espécie “quase ameaçada”
de extinção (IUCN, 2004).
Philander frenata Olfers, 1818 - “cuíca-verdadeira” ou “cuíca-quatro-olhos”.
Ocorre no Brasil, do sul do Estado da Bahia ao Paraná, e a oeste, incluindo áreas dos
Estados de Minas Gerais e Goiás (EISENBERG & REDFORD, 1999). Habita matas de interior e do
litoral, próximas a cursos d’água, sendo encontrada nos biomas Floresta Atlântica, Cerrado,
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
26
Pantanal e Campos Sulinos (CÁCERES, 2000; CÂMARA & MURTA, 2003). Foi, recentemente,
identificada como uma espécie distinta de P. opossum, marsupial muito semelhante que habita a
região amazônica (EISENBERG & REDFORD, 1999).
Animais adultos medem de 500 a 660 mm, e pesam de 207 a 400 g (SILVA, 1994;
CÂMARA & MURTA, 2003). Possui coloração acinzentada e ventre claro, com uma mancha
branca acima de cada olho, conferindo a aparência de que possui quatro olhos. Apresenta orelhas
desprovidas de pêlos, com coloração rosácea e borda escura. A cauda é relativamente grossa,
possuindo pêlos apenas na porção próxima ao corpo (EISENBERG & REDFORD, 1999).
Constroem ninhos em barrancos, galhos de árvores acima de oito a dez metros do chão
e arbustos (SILVA, 1994; CÂMARA & MURTA, 2003). As fêmeas possuem uma bolsa ventral
distinta, com cinco a nove mamas (SILVA, 1994). São animais solitários e noturnos, de hábitos
terrestres e arborícolas, que nadam bem (CÂMARA & MURTA, 2003). Sua dieta baseia-se,
principalmente, em pequenos vertebrados, como mamíferos e aves, além de frutos, insetos e
moluscos (SILVA, 1994; CÁCERES, 2000; CÁCERES, 2004).
Na Fazenda Monte Alegre, além de haver registro de coleta de indivíduos desta
espécie, também foram encontrados seus pêlos em fezes de “lobo-guará” (Chrysocyon brachyurus),
mostrando que faz parte da dieta deste canídeo (CHEIDA, 2005).
Metachirus nudicaudatus E. Geoffroy, 1803 - “cuíca-marrom”, “cuíca-quatro-olhos-marrom”,
“jupati” ou “cuíca-rabo-de-rato”.
É encontrada desde a Nicarágua, seguindo pela maioria das terras baixas tropicais da
América do Sul até o Paraguai, nordeste da Argentina até o Brasil, ocorrendo do Estado de Santa
Catarina até o norte da Bahia, além do extremo oeste do país e região amazônica (LANGE &
JABLONSKI, 1998; EISENBERG & REDFORD, 1999). Ocorre em áreas de vegetação primária
conservada a secundárias, sendo, aparentemente, vulnerável a ambientes alterados (CÁCERES,
2000).
Segundo o Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do Paraná (MARGARIDO
& BRAGA, 2004), este marsupial era conhecido no Estado do Paraná apenas para a Floresta
Ombrófila Densa, próxima ao litoral, sendo o primeiro registro datado de 1989 (MARGARIDO et
al., 1994). Desta forma, o presente registro se faz como o primeiro para área de Floresta Ombrófila
Mista no Estado do Paraná.
O comprimento de seu corpo varia de 150 a 300 mm, mais a cauda com 178 a 373 mm,
e peso de 91 a 480 g, sendo os machos pouco maiores que as fêmeas (EISENBERG & REDFORD,
1999).
Apesar de Metachirus apresentar coloração marrom e Philander (cuíca-de-quatro-
olhos) possuir coloração cinza, muitas vezes são confundidas devido às duas manchas brancas sobre
os olhos. Nota-se que a cauda é bem mais longa que o comprimento de seu corpo e cabeça, e
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
27
apresenta pêlos em apenas 5 a 25 mm além de sua base, muito mais que Philander (EISENBERG &
REDFORD, 1999).
Suas orelhas são grandes, arredondadas e, diferente das de Philander, inteiramente
escuras, além de o ventre ser de coloração praticamente branca (LANGE & JABLONSKI, 1998;
EISENBERG & REDFORD, 1999). Não possuem marsúpio verdadeiro, mas pregas laterais, entre
as quais localizam-se nove mamas. Suas ninhadas possuem de um a nove filhotes, sendo a média
cinco indivíduos (EISENBERG & REDFORD, 1999; MARGARIDO & BRAGA, 2004).
Aparenta ser essencialmente terrestre, possuindo adaptações morfológicas marcantes e
utilização de tocas embaixo do folhiço (MARGARIDO et al., 1994; EISENBERG & REDFORD,
1999; CÁCERES, 2000). É uma espécie insetívora-onívora, incluindo em sua dieta invertebrados,
frutos e pequenos vertebrados, parecendo apresentar um nicho estreito com o marsupial simpátrico
D. aurita (CÁCERES, 2000; EISENBERG & REDFORD, 1999; CÁCERES, 2004).
No Estado do Paraná existem dados insuficientes para avaliação de seu grau de
ameaça, apesar da espécie ser vulnerável à destruição de seu habitat (MARGARIDO & BRAGA,
2004).
Lutreolina crassicaudata Desmarest, 1804 - “cuíca-de-cauda-grossa”.
Ocorre na Guiana, Venezuela, Bolívia, região central da Argentina e no Brasil,
abrangendo os Estados do Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul ao Rio Grande do Sul (LANGE &
JABLONSKI, 1998; EISENBERG & REDFORD, 1999). Habita matas, campos e formações
pioneiras próximas a riachos, lagos, matas de galeria e, principalmente, áreas pantanosas, como
banhados e Pantanal (MONTEIRO-FILHO & DIAS, 1990; SILVA, 1994; EISENBERG &
REDFORD, 1999; CÁCERES, 2000; MONTEIRO-FILHO et al., no prelo). No Estado do Paraná,
pode ser encontrada em áreas de Floresta Estacional e Floresta Ombrófila Mista (Floresta com
Araucária), como as que ocorrem na Fazenda Monte Alegre (KLABIN, 2002; MARGARIDO &
BRAGA, 2004).
Possui corpo alongado, com comprimento similar ao da “cuíca-d’água” (Chironectes
minimus) (MONTEIRO-FILHO et al., no prelo), variando de 197 a 400 mm, mais a cauda com 221
a 358 mm, e peso de 350 g a 1,1 kg (NOWAK, 1991; EMMONS & FEER, 1999; EISENBERG &
REDFORD, 1999). O crânio é alongado e estreito (LANGE & JABLONSKI, 1998).
A coloração de sua pelagem é castanho-claro ou escuro, podendo variar,
possivelmente, devido a mudanças na dieta ou climáticas (EISENBERG & REDFORD, 1999).
Possui pêlos curtos, espessos e impermeáveis, para uma melhor natação (EISENBERG &
REDFORD, 1999; MONTEIRO-FILHO et al., no prelo). As orelhas são pequenas e arredondadas, e
os membros curtos (SILVA, 1994; LANGE & JABLONSKI, 1998; EISENBERG & REDFORD,
1999). A cauda é dividida em duas partes distintas, sendo uma porção grossa e com pêlos que
representa de 30 a 50% do comprimento total, e outra fina, sem pêlos e considerada pouco preênsil
(EISENBERG & REDFORD, 1999). Os machos são freqüentemente maiores que as fêmeas,
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
28
sugerindo um período maior de crescimento nestes (CABRERA & YEPES, 1960; SILVA, 1994;
EISENBERG & REDFORD, 1999). As fêmeas possuem uma prega na pele do ventre que não é
considerada um marsúpio verdadeiro, mas pode ser suficiente para ninhadas de sete a onze filhotes
(NOWAK, 1991; SILVA, 1994; EISENBERG & REDFORD, 1999). Estes nascem após duas
semanas de gestação, permanecendo agarrados ao ventre e mamas da mãe durante o final de seu
desenvolvimento e ficando, após esse período, presos ao dorso da mãe ou no ninho (MONTEIRO-
FILHO & DIAS, 1990; EISENBERG & REDFORD, 1999).
É um animal noturno, com capacidade de nadar e escalar árvores, (EISENBERG &
REDFORD, 1999). Sua dieta é onívora, baseando-se, principalmente, em itens animais como
pequenos vertebrados, peixes, insetos e moluscos (MONTEIRO-FILHO & DIAS, 1990;
EISENBERG & REDFORD, 1999), apesar de também poder apresentar alto consumo de crustáceos
e frutos (CÁCERES, 2000). As sementes dos frutos que ingere podem germinar, sendo a “cuíca-de-
cauda-grossa” um importante agente dispersor de sementes, inclusive de espécies vegetais pioneiras
(MONTEIRO-FILHO & DIAS, 1990; CÁCERES, 2000).
É ameaçada pela destruição de seu habitat através de desmatamentos, drenagem de
banhados, queimadas em campos e eliminação de matas ciliares (MARGARIDO & BRAGA,
2004). No Estado do Paraná existem dados insuficientes para avaliação de seu grau de ameaça,
apesar de no Estado do Rio de Janeiro ser considerada como “criticamente em perigo”
(MARGARIDO & BRAGA, 2004).
Baseando-se em dados do Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do Paraná
(MARGARIDO & BRAGA, 2004), este seria o primeiro registro deste marsupial para a região
centro-leste do estado, observado através de pêlos deste animal encontrados em fezes de “cachorro-
do-mato” (Cerdocyon thous) (5).
Marmosops incanus Lund, 1840 - “cuíca”, “marmosa”, “guaiquica” ou “catita”.
É uma espécie endêmica do Brasil, podendo ser encontrada do Estado da Baía ao
Paraná, vivendo em áreas de florestas primárias e secundárias dos biomas Floresta Atlântica,
Cerrado e Caatinga (EISENBERG & REDFORD, 1999; CÂMARA & MURTA, 2003).
É uma espécie que não possui marsúpio, apresentado variação de 91 a 194 mm no
comprimento do corpo, mais cauda com 110 a 296 mm, e peso de 13 a 140 g (EMMONS & FEER,
1999; EISENBERG & REDFORD, 1999; CÂMARA & MURTA, 2003).
A coloração do dorso é cinza amarronzado e o ventre é branco, possuindo os machos
uma pelagem, aparentemente, mais longa que a das fêmeas (LANGE & JABLONSKI, 1998;
EISENBERG & REDFORD, 1999). Sugere-se que tal variação ocorra quando os indivíduos
alcançam sua maturidade sexual, de acordo com a idade e o sexo (PERSSON et al., apud
EISENBERG & REDFORD, 1999). Possui olhos proeminentes, com mancha ao redor destes que
segue até próximo do focinho afilado. As orelhas são grandes e desnudas, assim como a cauda,
5 QUADROS, J. Comunicação pessoal. 2004. (Profa. Dra. Universidade Tuiuti do Paraná).
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
29
sendo esta preênsil (CÂMARA & MURTA, 2003). As fêmeas não possuem marsúpio e o ciclo de
vida da espécie inclui reprodução de setembro a dezembro, morte dos machos adultos, desmame
dos filhotes de junho a agosto, morte das fêmeas adultas e estabelecimento de uma população
formada por jovens. Observa-se, desta forma, que os machos desta espécie possuem um período de
vida de um ano e as fêmeas, de um ano e meio (EMMONS & FEER, 1999).
É uma espécie de hábitos solitários, tanto terrestre quanto arbóreo, incluindo frutos,
insetos e ovos em sua dieta (EISENBERG & REDFORD, 1999; CÂMARA & MURTA, 2003).
O desmatamento, com conseqüente destruição de seus habitats, é sua principal ameaça.
No Estado do Paraná existem dados insuficientes para avaliação de seu grau de ameaça, apesar de
ser mundialmente classificada, segundo a IUCN, como “quase ameaçada” (MARGARIDO &
BRAGA, 2004; IUCN, 2004).
Baseando-se em dados do Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do Paraná
(MARGARIDO & BRAGA, 2004), este seria o primeiro registro deste marsupial para a região
centro-leste do Estado do Paraná, observado através de pêlos deste animal encontrados em fezes de
“lobo-guará” (Chrysocyon brachyurus) (CHEIDA, 2005).
Gracilinanus microtarsus Wagner, 1842 - “guaiquica” ou “cuíca-graciosa”.
É conhecida do sudeste e sul do Brasil à província de Misiones na Argentina,
habitando áreas de floresta primária e secundária do bioma Floresta Atlântica (EISENBERG &
REDFORD, 1999; PERACCHI et al., 2002).
O comprimento de seu corpo varia de 80 a 112 mm, mais a cauda com 95 a 153
mm, e peso de 5 a 31 g (PERACCHI et al., 2002; EMMONS & FEER, 1999; EISENBERG &
REDFORD, 1999).
Apresenta pelagem longa com coloração marrom claro no dorso e amarelo-acinzentado
no ventre. O focinho é mais claro e ao redor de cada olho ocorre uma mancha anelar preta. Possui
mãos e pés de cor pardo-clara, cauda com pêlos quase imperceptíveis, e vibrissas finas e longas
(LANGE & JABLONSKI, 1998; EISENBERG & REDFORD, 1999). As fêmeas não possuem
marsúpio, apresentando de 11 a 15 mamas peitorais e abdominais (NOWAK, 1991).
A reprodução tem início em meados de inverno, permanecendo por toda a primavera, e
podendo chegar ao início do verão. As ninhadas são compostas por até seis filhotes, os quais são
abrigados em ninhos construídos em ocos de árvores, com folhas em seu interior trocadas
periodicamente (PERACCHI et al., 2002; 6). Na área da Fazenda Monte Alegre tem sido capturada
em reflorestamentos de araucárias (Araucaria angustifolia), florestas nativas e até mesmo em áreas
de pinus (Pinus spp.).
É uma espécie de hábito solitário e noturno, encontrada tanto no chão das matas quanto
em árvores, apesar de sua morfologia indicar que seja arborícola (EISENBERG & REDFORD,
6 MONTEIRO-FILHO, E. L. A. Comunicação pessoal. 2005. (Prof. Dr. Universidade Federal do Paraná).
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
30
1999; PERACCHI et al., 2002). Alimenta-se de frutos, exudados e pequenos invertebrados,
podendo entrar em torpor em períodos de temperaturas muito baixas (PERACCHI et al., 2002).
Didelphis aurita Wied-Neuwied, 1826 - “gambá-de-orelha-preta”, “raposa”, “mucura”, “saruê” ou
“sariguê”.
É encontrado no leste da Bolívia, Paraguai, norte da Argentina, e no sul, sudeste, parte
do centro-oeste e nordeste do Brasil (LANGE & JABLONSKI, 1998; PERACCHI et al., 2002).
Habita áreas de florestas primárias e secundárias úmidas do bioma Floresta Atlântica, podendo
conviver com D. albiventris (SILVA, 1994; PERACCHI et al., 2002). No Estado do Paraná possuía
a antiga denominação de D. marsupialis, sendo esta espécie encontrada na região amazônica.
Possui grande semelhança com D. albiventris, exceto pela pelagem ao longo do corpo
e orelhas mais escuras (SILVA, 1994). O comprimento de seu corpo varia de 310 a 390 mm, mais
cauda de 310 a 370 mm; e peso entre 700 g a 1,5 kg (EMMONS & FEER, 1999; EISENBERG &
REDFORD, 1999).
Possui dimorfismo sexual quanto ao tamanho corporal do adulto e formato da cabeça.
Além disso, as fêmeas desta espécie são menores que as de D. albiventris (CÁCERES &
MONTEIRO-FILHO, 1999). Apresentam cauda preênsil que auxilia quando sobem em árvores,
além de glândulas odoríferas paracloacais utilizadas para defesa, como D. albiventris (PERACCHI
et al., 2002). É uma espécie de hábitos noturnos e solitários, cuja dieta, frugívora-onívora, baseia-se
no consumo de frutos, invertebrados, pequenos vertebrados, larvas e ovos (SANTORI et al., 1995;
LEITE et al., 1996; PERACCHI et al., 2002; CÁCERES, 2004). Assim como D. albiventris, pode
ser considerado um importante agente dispersor de sementes, incluindo plantas pioneiras,
fundamentais na regeneração de áreas degradadas (CÁCERES et al., 1999; CÁCERES &
MONTEIRO-FILHO, 2000; CÁCERES, 2000). Além disso, em épocas de escassez de recursos
alimentares, o “gambá-de-orelha-preta” pode vir a consumir néctar e, conseqüentemente, pólen de
plantas, podendo auxiliar na polinização destas (VIEIRA et al., 1991).
Na Fazenda Monte Alegre, foi registrado o atropelamento de oito indivíduos em nove
anos de coleta de dados (ZALESKI, 2003). Além disso, seus vestígios também foram encontrada
em fezes de “lobo-guará” (Chrysocyon brachyurus), mostrando que a espécie faz parte da dieta
deste canídeo (CHEIDA, 2005).
Didelphis albiventris Lund, 1840 - “gambá-de-orelha-branca”, “raposa”, “mucura”, “saruê” ou
“sariguê”.
Apresenta uma distribuição isolada no sul da Venezuela e sudoeste do Suriname, e
outra mais ampla em áreas que envolvem a Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Paraguai, norte da
Argentina, Uruguai e Brasil (WILSON & REEDER, 1993). É uma espécie generalista quanto aos
habitats que ocorre, exceto regiões de extrema altitude, aridez e florestas densas (EISENBERG &
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
31
REDFORD, 1999). Vivem em áreas de capoeira, matas primárias e secundárias do bioma Floresta
Atlântica, banhados, áreas urbanas e rurais (CÁCERES, 2000; SILVA, 1994).
É uma espécie de porte médio, terrestre, mas bom escalador (EISENBERG &
REDFORD, 1999). Seu comprimento varia entre 305 e 437 mm, mais cauda de 290 a 430 mm, e
peso entre 500 g e 2 kg (EMMONS & FEER, 1999).
Seu pêlo possui coloração preta e amarelada, conferindo-lhe uma aparência
acinzentada, apesar de ocorrerem variações individuais (SILVA, 1994). A pelagem da cabeça é
branca com uma faixa preta que se inicia entre os olhos e segue aumentando sua largura até atingir
o dorso. Ao redor de cada um de seus olhos arredondados também pode ser observada uma mancha
alongada negra (CÂMARA & MURTA, 2003). O focinho é alongado e a cauda preênsil, utilizada
na locomoção entre árvores, é escura e possui pêlos em pouco mais da metade de seu comprimento,
sendo o restante desnudo e com coloração clara (SILVA, 1994). Suas orelhas são claras,
desprovidas de pêlos e escuras em seu interior (CÂMARA & MURTA, 2003). Apresenta glândulas
odoríferas paracloacais que liberam um forte odor, sendo utilizadas como meio de defesa contra
outros animais. A gestação é de doze a quatorze dias, possuindo as fêmeas oito mamas, em média.
O desenvolvimento da ninhada tem duração que varia de 70 a 90 dias.
Possui hábito noturno e crepuscular, e dieta onívora, alimentando-se de pequenos
vertebrados, frutos, insetos e ovos, além de poder predar ovinos domésticos (SILVA, 1994;
EISENBERG & REDFORD, 1999; 7). Já foi observado predando uma cobra “jararaca” (Bothrops
jarajaca), visto que é imune ao veneno desta (OLIVEIRA & SANTORI, 1999). Devido ao grande
consumo de frutos e o fato das sementes destes serem capazes de germinar após sua ingestão, a
espécie pode ser considerada uma importante agente dispersora de sementes (CÁCERES, 2000).
Na localidade de Lagoa, no interior da Fazenda Monte Alegre, é comum abrigarem-se
em forro de casas. Segundo ZALESKI (2003), foi o sexto animal mais atropelados com 48
indivíduos em nove anos de registros. Esta espécie também foi encontrada em fezes de “lobo-
guará” (Chrysocyon brachyurus), mostrando que faz parte da dieta deste canídeo (CHEIDA, 2005).
Chironectes minimus Zimmermann, 1780 - “cuíca-d’água” ou “mucura-d’água”.
Vive em áreas tropicais e subtropicais, do sul do México e América Central, Colômbia,
Venezuela, Guianas, Equador, Peru, Paraguai e no sudeste e sul do Brasil até o nordeste da
Argentina (LANGE & JABLONSKI, 1998; EISENBERG & REDFORD, 1999). Habita áreas com
cursos d’água, como rios e pequenos riachos, no interior ou borda de florestas (EISENBERG &
REDFORD, 1999; MONTEIRO-FILHO et al., no prelo).
É um excelente nadador e mergulhador, utilizando-se de suas patas posteriores
providas de membranas interdigitais e da cauda como um leme, além de apresentar pelagem
impermeável (EISENBERG & REDFORD, 1999; MONTEIRO-FILHO et al., no prelo). O
7 MONTEIRO-FILHO, E. L. A. Comunicação pessoal. 2005. (Prof. Dr. Universidade Federal do Paraná).
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
32
comprimento de seu corpo varia de 259 a 350 mm, mais a cauda com 310 a 420 mm, e seu peso de
550 a 700 g (EMMONS & FEER, 1999; EISENBERG & REDFORD, 1999).
A coloração é cinza esbranquiçada e malhada de preto no dorso, e branco-amarelado
no ventre. A cabeça e a nuca são escuras, com uma faixa branca cruzando de uma orelha a outra.
Possui quatro faixas negras sobre o dorso, unidas por outra faixa que segue da nuca à cauda
(LANGE & JABLONSKI, 1998). As orelhas são pequenas, desprovidas de pêlos e arredondadas.
Possui grande número de vibrissas grossas e longas (LANGE & JABLONSKI, 1998; EISENBERG
& REDFORD, 1999). A cauda é maior que o comprimento do corpo e sem pêlos ao longo de
grande parte de seu comprimento (EISENBERG & REDFORD, 1999). Possui um osso modificado
nos membros anteriores que simula um sexto dedo (ANDERSON, 1983). O marsúpio apresenta-se
bem desenvolvidos tanto nas fêmeas quanto nos machos. Nos machos ocorre na forma de uma bolsa
escrotal bem visível, devido à coloração amarelada de sua pele. Nas fêmeas, pode-se manter
fechado através de um forte esfíncter em sua borda, quando estas estão lactantes e em contato com a
água, visando proteger os filhotes (EISENBERG & REDFORD, 1999).
A toca é uma cavidade subterrânea na borda do curso d’água, cuja entrada situa-se
logo acima do nível da água e apresenta um túnel descendente de até 60 cm de comprimento
(ANDERSON, 1983; EISENBERG & REDFORD, 1999; MONTEIRO-FILHO et al., no prelo). No
seu interior é construído um ninho com material que pode ser transportando com a ajuda de sua
cauda (EISENBERG & REDFORD, 1999). Fêmeas geram dois a três filhotes. São noturnos e
solitários, alimentando-se de pequenos peixes, crustáceos, anfíbios e insetos, que são capturados
tanto com as patas anteriores quanto com a boca (EMMONS & FEER, 1999; EISENBERG &
REDFORD, 1999).
A destruição de seus habitats, como matas de galeria, e poluição dos ambientes
aquáticos são as principais ameaças a este marsupial (INDRUSIAK & EIZIRIK, 2003;
MARGARIDO & BRAGA, 2004). No Estado do Paraná existem dados insuficientes para avaliação
de seu grau de ameaça, apesar de ser vulnerável ou em perigo de extinção para outros estados do
país e mundialmente classificado, segundo a IUCN, na categoria “quase ameaçado” (INDRUSIAK
& EIZIRIK, 2003; MARGARIDO & BRAGA, 2004; IUCN, 2004).
Na área da Fazenda Monte Alegre tem sido observado em atividade durante o período
noturno nos rios da Anta, Alegre e Jaguatirica, todos com características de águas límpidas. Além
disso, esta espécie também foi encontrada em fezes de “lobo-guará” (Chrysocyon brachyurus),
mostrando que faz parte da dieta deste canídeo (CHEIDA, 2005).
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDERSON, S. Simon & Schuster's Guide to Mammals. New York: Fireside Book, Schuster
Inc. 1983. 511p.
CABRERA, A. & YEPES, J. Mamíferos sud-americanos. Vida, costumbres y descripción. 2. ed.
Buenos Aires: Ed. Comp. Argent., 1960. 370 p.
CÁCERES, N. C. Dieta, adaptações à alimentação e dispersão de sementes por marsupiais do
sul do Brasil. 2000. 144 f. Tese (Doutorado em Zoologia) - Setor de Ciências Biológicas,
Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 2000.
______. Diet of three didelphidae marsupials (Mammalia, Didelphimorphia) in southern Brazil.
Mammalian Biology, Giessen, v. 69, n. 6, p. 430-433, 2004.
CÁCERES, N. C.; DITTRICH, A. O. & MONTEIRO-FILHO, E. L. A. Fruit consumption, distance
of seed dispersal and germination of solanaceous plants ingested by common opossum (Didelphis
aurita) in southern Brazil. Rev. Ecol. (Terre Vie), Paris, v. 54, p. 225-234, 1999.
CÁCERES, N. C. & MONTEIRO-FILHO, E. L. A. Tamanho corporal em populações naturais de
Didelphis (Mammalia: Marsupialia) do sul do Brasil. Revista Brasileira de Biologia, Rio de
Janeiro, v. 59, n. 3, p. 461-469, 1999.
______. The common opossum, Didelphis aurita, as a seed disperser of several plants in southern
Brazil. Ciência e Cultura, Campinas, v. 52, n.1, p. 41-44, 2000.
CÂMARA, T. & MURTA, R. Mamíferos da Serra do Cipó. Belo Horizonte: Editora PUC-
Minas/Museu de Ciências Naturais, 2003.129 p.
CHEIDA, L. E. Biologia Integrada. Vol. 2. São Paulo: Ed. FTD. 2002. 496 p.
CHEIDA, C. C. Dieta e dispersão de sementes pelo lobo-guará Chrysocyon brachyurus (Illiger
1815) em uma área com campo natural, Floresta Ombrófila Mista e silvicultura, Paraná,
Brasil. 2005 117 f. Dissertação (Mestrado em Zoologia): Setor de Ciências Biológicas,
Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 2005.
EISENBERG, J. F. & REDFORD, K. H. Mammals of the neotropics: the central neotropics
(Ecuador, Peru, Bolivia, Brazil). Vol. 3. Chicago and London: The University of Chicago Press,
1999. 609 p.
EMMONS, L. H. & FEER, F. Neotropical Rainforest Mammals: A Field Guide. 2 ed. Chicago:
The University of Chicago Press, 1999. 307 p.
INDRUSIAK, C. & EIZIRIK, E. Carnívoros. In: FONTANA, C. S.; BENCKE, G. A.; REIS, R. E.
Livro Vermelho da Faunda Ameaçada de Extinção no Rio Grande do Sul. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2003. p. 507-533.
IUCN-INTERNATIONAL UNION FOR CONSERVATION OF NATURE AND NAUTAL
RESOURCES. Red list of threatened species. 2004. Disponível em: <
http://www.redlist.org/>
Acesso em: 12 ago. 2005.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
34
KLABIN. Plano de Manejo Florestal. Telêmaco Borba: Klabin Florestal Paraná. 149 p. 2002.
LANGE, R. B. & JABLONSKI, E. Mammalia do Estado do Paraná - Marsupialia. Estudos de
Biologia, Curitiba, n. 43 (Especial), p. 15-224, 1998.
LEITE, Y. L. R.; COSTA, L. P. & STALLINGS, J. R. Diet and vertical space use of three
sympatric opossums in a Brazilian Atlantic forest fragment. Journal of Tropical Ecology,
Cambridge, v.12, p. 435-440. 1996.
MARGARIDO, T. C. M. & BRAGA, F. G. Mamíferos. In: MIKICH, S. B.; BÉRNILS, R. S. (Eds.).
Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do Paraná. Curitiba: Instituto Ambiental do
Paraná. 2004. p. 25-142.
MARGARIDO, T. C. M.; MACHADO, L. C. P. & LANGE, R. R. Nota sobre a ocorrência de
Metachirus nudicaudatus (E. Geoffroy, 1803) (Marsupialia – Didelphidae) no Estado do Paraná,
Brasil. Estudos de Biologia, Curitiba, v 3, n. 39, p. 115-122. 1994.
MONTEIRO-FILHO, E. L. A. & DIAS, V. S. Observações sobre a biologia de Lutreolina
crassicaudata (Mammalia: Marsupialia). Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, v. 50, n.
2, p. 393-399, 1990.
MONTEIRO-FILHO, E. L. A.; GRAIPEL, M. E.; CÁCERES, N. C. História Natural dos
Marsupiais Semi-aquáticos: Lutreolina e Chironectes. In: CÁCERES, N. C. & MONTEIRO-
FILHO, E. L. A. (Eds.). Os marsupiais do Brasil: biologia, ecologia e evolução. Edições IBAMA.
No prelo.
NOWAK, R.M. Walker's Mammals of the World. Vol. 1-2. 5 ed. Baltimore and London: The
Johns Hopkins University Press, 1991. 1629 p.
OLIVEIRA, M. E. & SANTORI, R. T. Predatory behaviour of the opossum Didelphis albiventris
on the pitviper Bothrops jararaca. Studies on Neotropical Fauna and Environment, Tübingen, n.
34, p. 72-75, 1999.
PERACCHI, A. L.; ROCHA, V. J. & REIS, N. R. dos. Mamíferos não voadores da bacia do rio
Tibagi. In: MEDRI, M.E.; BIANCHINI, E.; SHIBATTA, O.A. ; PIMENTA, J.A. (Eds.). A bacia
do rio Tibagi. Londrina, 2002. p. 223-247
ROCHA, V. J.; MACHADO, R. A.; FILIPAKI, S. A.; FIER, I. S. N. & PUCCI, J. A. L. A.
Biodiversidade da Fazenda Monte Alegre da Klabin S/A – no Estado do Paraná. In: VIII Congresso
Florestal Brasileiro, Anais... São Paulo, 2003. 2 CDROM.
SANTORI, R. T.; ÁSTUA DE MORAES, D. & CERQUEIRA, R. Diet composition of Metachirus
nudicaudatus (Marsupialia, Didelphoidea) in Southeastern Brazil. Mammalia, Paris, v. 59, n.4, p.
511-516, 1995.
SILVA, F. Mamíferos Silvestres - Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Fundação Zoobotânica do
Rio Grande do Sul. 1994. 246 p.
VIEIRA, E.; & IOB, G. Carnívoros. In: FONTANA, C. S.; BENCKE, G. A. & REIS, R. E.(Org.).
Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção no Rio Grande do Sul. Porto Alegre:
EDIPUCRS. 2003. p. 507-533.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
35
VIEIRA, F.; CARVALHO-OKANO, R. M. & SAZIMA, M. The common opossum, Didelphis
marsupialis, as a pollinator of Mabea fistulifera (Euphorbiaceae). Ciência e Cultura, Campinas, v.
43, n.5, p. 390-392, 1991.
ZALESKI, T. Atropelamentos de mamíferos nas estradas da Fazenda Monte Alegre,
município de Telêmaco Borba, Estado do Paraná. 2003. 54 f. Monografia (Curso de Ciências
Biológicas) – Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2003.
WILSON, D. E. & REEDER, D. M. Mammal Species of the World, A Taxonomic and
Geographic Reference. 2ª ed. Washington: Smithsonian Institution Press, 1993. xviii+1206 p.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
36
Figuras do Capítulo I
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
37
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
38
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
39
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
40
Capítulo II
ORDEM CHIROPTERA
Adriano Lucio Peracchi
Professor Livre Docente
Instituto de Biologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Isaac Passos de Lima
Doutorando do curso de Biologia Animal
Instituto de Biologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Nélio Roberto dos Reis
Professor Titular
Departamento de Biologia Animal e Vegetal
Universidade Estadual de Londrina
Lorena Bavia
Aluna da graduação do curso de Ciências Biológicas
Departamento de Biologia Animal e Vegetal
Universidade Estadual de Londrina
A ordem Chiroptera (morcegos) é formada por mamíferos que possuem uma fina
membrana de pele entre os dedos que se estende até as patas e se liga às laterais do corpo, formando
as asas, diferem dos pássaros, que têm suas penas suportadas por ossos. Os morcegos constituem o
único grupo de mamíferos com vôo verdadeiro.
Quase 25% dos mamíferos do mundo são morcegos e em toda a região tropical
encontramos uma fauna rica formada por esses animais. Essa ordem engloba 17 famílias, 177
gêneros e 925 espécies (WILSON & REEDER, 1993). Até o presente momento foi inventariado na
região centro-leste 21 espécies de morcegos, distribuídas em três famílias: Phyllostomidae (com 12
espécies), Vespertilionidae (com sete espécies) e Molossidae (com duas espécies).
Família Phyllostomidae
Os morcegos desta família apresentam como característica marcante a presença de uma
folha nasal, membranosa em forma de lança ou folha, na extremidade do focinho. Porém na
subfamília Desmodontinae a folha nasal é reduzida (VIEIRA, 1942; VIZOTTO & TADDEI, 1973;
NOWAK, 1994; MEDELLÍN et al., 1997).
Micronycteris megalotis (Gray, 1824)
A distribuição geográfica de M. megalotis estende-se do México até o Brasil, com
exceção do Rio Grande do Sul (KOOPMAN, 1982; NOWAK, 1994)
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
41
Morcego de pequeno porte com orelhas grandes e arredondadas que são unidas por
uma faixa de pele. Apresenta envergadura de aproximadamente 210 mm, comprimento médio do
antebraço de 33,5 mm e peso médio de 6 g, possui membrana interfemural bem desenvolvida, com
cauda perfurando-a (VIZOTTO & TADDEI, 1973; MEDELLÍN et al., 1997). Os pelos da região
dorsal são marrom escuro (NOWAK, 1994).
34.
3
3
m
3
2
pm
1
1
c
2
2
i:dentária Fórmula =
Apesar de ser principalmente insetívoro podem ser encontradas frutas na sua dieta
(GARDNER, 1977).
WILSON (1979) observou fêmeas lactantes de fevereiro a agosto havendo talvez dois
ciclos de procriação anuais por fêmea.
Esses morcegos vivem solitários ou em pequenos grupos, freqüentemente não mais que
vinte (NOWAK, 1994).
Tonatia bidens (Spix,1823)
Essa espécie apresenta distribuição geográfica desde o México até o Norte da
Argentina, incluindo o Paraguai e Brasil (KOOPMAN, 1982; NOWAK, 1994).
Morcego de tamanho médio a grande, com peso médio de 40 g, o comprimento médio
do antebraço é de 58 mm. Apresenta coloração dorsal cinzenta e região ventral mais clara. As
orelhas são bem desenvolvidas e separadas, com as bordas internas com pêlos claros. Apresenta
folha nasal e pequenas papilas sob o lábio (NOWAK, 1994; MARGARIDO & BRAGA, 2004).
32.
3
3
m
3
2
pm
1
1
c
1
2
i:dentária Fórmula =
Essa espécie pode ser encontrada em pequenos grupos ou solitária. É onívora, com
dieta baseada principalmente em insetos, pequenos vertebrados e frutos (REDFORD &
EISENBERG, 1992; ESBÉRARD & BERGALO, 2004), além de pequenas aves (BARQUEZ et al.,
1999). Várias estruturas podem ser utilizadas como abrigo, tais como: grutas, ocos de árvores ou
construções.
Fêmeas capturadas no Rio de Janeiro e postas em cativeiro por ESBÉRARD &
BERGALO (2004) apresentavam fetos palpáveis em Novembro e Dezembro com término da
gestação em Novembro, Dezembro e Janeiro.
Os únicos registros dessa espécie no Paraná eram para a região litorânea
(MARGARIDO & BRAGA, 2004) e para o extremo oeste do estado, no Parque Nacional do Iguaçu
(SEKIAMA et al., 2001) e agora para a região centro leste.
Mimon bennettii (Gray, 1838).
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
42
A distribuição geográfica dessa espécie estende-se do sul do México ao norte da
Colômbia e na porção oriental da América do Sul, é encontrada das Guianas ao Suriname e em toda
a Mata Atlântica (KOOPMAN, 1982; NOWAK, 1994).
São morcegos de médio porte e apresentam orelhas grandes, pontudas e separadas, com
uma folha nasal muito comprida. Sua cauda é curta e está totalmente contida na membrana
interfemural que é muito desenvolvida. Apresenta envergadura média de 37 cm, com comprimento
médio do antebraço de 53 mm e peso médio de 18 g. Os pêlos apresentam coloração uniforme de
castanho claro ao castanho escuro com exceção de manchas brancas atrás das orelhas (VIZOTTO &
TADDEI, 1973; MEDELLÍN et al., 1997).
30.
3
3
m
2
2
pm
1
1
c
1
2
i:dentária Fórmula =
Sua dieta constitui-se basicamente de frutas e insetos (GARDNER, 1977).
A colônia dessa espécie é composta geralmente por dois a quatro morcegos (NOWAK,
1994).
Fêmeas grávidas têm sido capturadas na estação chuvosa (WILSON, 1979).
Chrotopterus auritus (Peters, 1856)
Essa espécie pode ser encontrada desde o sul do México até o Paraguai e Norte da
Argentina (JONES & CARTER, 1976; KOOPMAN, 1982; CRESPO, 1982; NOWAK, 1994).
Morcego de grande porte possui envergadura que pode alcançar até 57 cm, antebraço
com média de 81 mm e peso médio de 85,5 g. Suas orelhas são grandes, largas, arredondadas e
separadas. Seu pelo é longo e macio, de coloração cinza escuro no dorso e mais claro no ventre
(VIEIRA, 1942; VIZOTTO & TADDEI, 1973; NOWAK, 1994). A cauda é praticamente ausente
(VIZOTTO & TADDEI, 1973; MEDELLÍN et al., 1997).
32.
3
3
m
3
2
pm
1
1
c
1
2
i:dentária Fórmula =
Apesar de encontramos na sua dieta insetos e frutas, é considerado um morcego
carnívoro por apresentar uma proporção significativa de pequenos vertebrados como outros
morcegos, roedores, pássaros, lagartos, e rãs (PERACCHI & ALBUQUERQUE, 1976; GARDNER,
1977; NOWAK, 1994).
Essa espécie pode formar colônias de três a cinco indivíduos (FAHEY, 1999).
TADDEI (1976) relata uma fêmea grávida capturada no sudeste brasileiro na segunda
metade do ano que foi mantida em cativeiro e deu à luz após 99 dias a um único filhote.
Glossophaga soricina (Pallas, 1766)
Essa espécie pode ser encontrada desde o norte do México até o Paraguai e norte da
Argentina além da Jamaica e Bahamas (KOOPMAN, 1982; NOWAK, 1994).
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
43
Morcego considerado pequeno, com focinho alongado, língua comprida e extensível
com papilas filiformes na ponta, usadas para retirar o néctar das flores, apresenta membrana
interfemural bem desenvolvida munida de cauda curta. Possui envergadura média de 28 cm e peso
aproximado de 10 g. (VIZOTTO & TADDEI, 1973; NOWAK, 1994).
34.
3
3
m
3
2
pm
1
1
c
2
2
i:dentária Fórmula =
Espécie que se alimenta de pólen, néctar, partes florais, frutos, insetos, sendo
conhecida por consumir partes de pelo menos 34 espécies vegetais. Tornando-se um importante
polinizador de várias plantas economicamente importantes. Forrageiam pairando no ar próximo da
flor ou às vezes se dependurando nela (LEMKE, 1984; FOX, 1999).
O seu comportamento reprodutivo varia pouco geograficamente, entretanto a maioria
reproduz-se continuamente ao longo do ano. A gestação dura aproximadamente 3,5 meses nascendo
um único filhote que começa a voar aproximadamente entre 25 a 28 dias depois de nascimento
(BAKER et al., 1977, 1979).
Anoura caudifera (E. Geoffroy, 1818)
Essa espécie pode ser encontrada na Colômbia, Venezuela, Guianas, Brasil, Equador,
Peru, Bolívia e norte da Argentina (OLROG & BÁRQUEZ, 1979; KOOPMAN 1993; NOWAK,
1994).
Morcego de tamanho médio para pequeno, com focinho muito alongado, orelhas pouco
maiores do que a cabeça e língua muito comprida e extensível, com a presença de papilas filiformes
na ponta. Possui cauda rudimentar, membrana interfemural muito estreita e presença de calcâneo
(NOWAK, 1994). Apresenta comprimento médio do antebraço de 36,5 mm; envergadura de
aproximadamente 300 mm e peso variando de 7 a 10 g (VIZOTTO & TADDEI, 1973; MEDELLÍN
et al., 1997). Os pêlos no dorso são marrom escuro sendo mais claros na região ventral (NOWAK,
1994).
32.
3
3
m
3
3
pm
1
1
c
0
2
i:dentária Fórmula =
Sua dieta consiste em frutas, néctar, pólen e insetos (SAZIMA, 1976).
Podem ser encontrados isolados ou em colônias com mais de 20 indivíduos (NOWAK,
1994).
Fêmeas grávidas e lactantes podem ser coletadas entre os meses de Janeiro a Maio e
Junho a Novembro (WILSON, 1979).
Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758)
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
44
Espécie de ampla distribuição pela América, pode ser encontrada desde o sul do
México até o Paraguai e norte da Argentina, assim como em Trinidad e Tobago, Granada com
exceção das Antilhas (REDFORD & EISENBERG, 1992; NOWAK, 1994).
Suas orelhas são largas e bem separadas, menores que a cabeça; com cauda curta e
contida na membrana interfemural e com calcâneos do tamanho dos pés. O comprimento médio do
seu antebraço é de 41,0 mm, sua envergadura aproximada é de 250 mm e seu peso médio 17 g.
(VIZOTTO & TADDEI, 1973; EISENBERG, 1989). Sua coloração é geralmente marrom escuro
tendendo para o ferruginoso (NOWAK, 1994).
32.
3
3
m
2
2
pm
1
1
c
2
2
i:dentária Fórmula =
Alimenta-se de uma variedade de frutos, flores e insetos, mas tem preferência pelas
infrutescências de piperáceas, das quais é o maior dispersor (SAZIMA, 1976; FLEMING,
1986,1988; LIMA & REIS, 2004).
Os locais de abrigo diurno incluem cavernas, minas, fendas em pedras, bueiros, árvores
ocas, troncos, e edifícios, porém próximos de matas e capoeiras (FLEMING, 1988; NOWAK,
1994). Nas colônias podemos encontrar de 25 (REIS et al., 2002) até centenas de indivíduos
(BREDT et al., 1996).
Podemos observar nessa espécie dois períodos reprodutivos (Janeiro a Abril e
Setembro a Novembro) com um único filhote por parto (NOWAK, 1994).
Sturnira lilium (E. Geoffroy, 1810)
Essa espécie pode ser encontrada desde o México ao norte da Argentina e
possivelmente no Chile (KOOPMAN, 1982; CRESPO, 1982; NOWAK, 1994).
Morcego de tamanho regular com antebraço medindo em média 41,8 mm, possui
envergadura média de 320 mm e peso em torno de 23 g. Suas orelhas são menores que a cabeça, a
folha nasal é pequena, apresenta membrana interfemural imperceptível e não possui cauda
(VIZOTTO & TADDEI, 1973). O colorido varia do pardo-escuro ao pardo-acizentado; em algumas
épocas do ano o macho apresenta tufos de pêlos avermelhados nos ombros (MEDELLÍN et al.,
1997).
Pode ser encontrada nas matas e em áreas abertas (NOWAK, 1994). Nas áreas de
capoeira é a terceira espécie em abundancia na bacia do Rio Tibagi (REIS et al., 2002).
.32
3
3
m
2
2
pm
1
1
c
2
2
i:dentária Fórmula =
É predominantemente frugívoro, concentrando sua alimentação nas plantas do gênero
Solanum, mas também podem ingerir frutos de outros gêneros como: Ficus, Piper, Cecropia
(FLEMING, 1986; MÜLLER & REIS, 1992).
Possuem dois períodos de reprodução ao longo do ano (WILSON, 1979), com um
único filhote por nascimento, o período de gestação dura cerca de três meses e meio.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
45
Artibeus lituratus (Olfers, 1818)
Sua distribuição geográfica ocorre desde o sul do México ao norte da Argentina,
menos para as Antilhas (NOWAK, 1994). É encontrado em todo o território brasileiro (VIEIRA,
1942; KOOPMAN, 1982).
Espécie considerada de grande porte, o comprimento médio do seu antebraço é de 71,3
mm, podendo chegar a 520 mm de envergadura e pesar até 70 g (VIZOTTO & TADDEI, 1973).
Suas orelhas são menores que a cabeça, possui uma membrana interfemural profundamente
recortada até a altura de mais da metade da tíbia. Colorido geral pardo-escuro e listras brancas
faciais muito mais evidentes do que nas outras espécies do gênero (GOODWIN & GREENHALL,
1961; NOWAK, 1994).
32
3
3
m
2
2
pm
1
1
c
2
2
i:dentária Fórmula =
É o maior e mais comum morcego frugívoro da região. A alimentação dessa espécie
inclui frutos, preferencialmente do gênero Ficus, mas também podemos encontrá-lo consumindo as
frutificações de outros vegetais como: Cecropia, Solanum, Piperáceas, Syagrus “coquinho” e
Terminalia “castanholeira”, tornando-se importante dispersor dessas espécies vegetais (NOWAK,
1994; ZORTÉA & CHIARELLO, 1994; BREDT et al., 1996). Além disso, podem também
consumir partes florais, folhas e insetos (BERNARD, 1997).
São solitários ou formam pequenas colônias de geralmente 5 a 16 indivíduos. Com
picos de reprodução de Fevereiro a Março e de Outubro a Novembro (BREDT et al., 1996).
Artibeus obscurus Schinz, 1821
Essa espécie pode ser encontrada na Colômbia, Venezuela, Guianas, Equador, Peru,
Bolívia e Brasil (NOWAK, 1994; EISENBERG & REDFORD, 1999).
Sua pelagem dorsal é cinza escuro uniforme, e na região ventral cinza mais claro, sem
contraste. As listras faciais e dorsais são tênues ou ausentes.
32
3
3
m
2
2
pm
1
1
c
2
2
i:dentária Fórmula =
Período reprodutivo de outubro a novembro (DAVIS & DIXON, 1976).
Pygoderma bilabiatum (Wagner, 1843)
Essa espécie pode ser encontrada no Suriname, Bolívia, Sudeste e Sul do Brasil,
Paraguai e Norte da Argentina (KOOPMAN, 1982,1993; WILSON & REEDER, 1993; NOWAK,
1994).
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
46
Morcego de focinho muito curto e largo. É facilmente reconhecido pelo tufo de pêlos
brancos nos ombros (VIZOTTO & TADDEI, 1973; NOWAK, 1994), possui pelagem marrom
escuro na região dorsal e marrom acinzentado na região ventral do corpo. Presença de pêlos nos
dois lados do uropatágio (WEBSTER & OWEN, 1983,1984) não apresenta cauda. O lábio inferior
possui uma protuberância central circundada por protuberâncias menores (NOWAK, 1994). As
fêmeas são geralmente maiores que os machos, e o tecido glandular ao redor do olho dos machos é
mais desenvolvido do que nas fêmeas (MYERS, 1981).
;28
2
2
m
2
2
pm
1
1
c
2
2
i:dentária Fórmula = porém fêmeas podem ter terceiros
molares.
FARIA (1997) relata a presença de polpa de Moraceae (Maclura tinctoria e Ficus
enormis), sementes de Solanaceae (Solanum granuloso-leprosum), e pólen nas amostras fecais. Na
bacia do Tibagi é predominantemente frugívoro.
Fêmeas grávidas foram coletadas em março, julho e agosto no Paraguai, (NOWAK,
1994), setembro e novembro no Brasil (FARIA, 1997).
Segundo AGUIAR et al. (1998), esta espécie está presumivelmente ameaçada de
extinção, constando na lista do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) de 1989 (artigo 1o,
sub-item 1.8) (AGUIAR & TADDEI, 1995).
Desmodus rotundus (E. Geoffroy, 1810)
Essa espécie de morcego possui ampla distribuição, sendo encontrado em toda
América Latina. No Brasil ocorre em todos os biomas: Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica,
Pantanal, Caatinga e Campos Sulinos (KOOPMAN, 1982; LORD, 1998).
Morcego que apresenta membrana interfemural muito reduzida, sem vestígio de cauda
ou calcâneo, polegares compridos com três calosidades e unhas fortes; o focinho é muito curto e o
apêndice nasal reduzido (VIZOTTO & TADDEI, 1973; MEDELLÍN et al., 1997). O colorido
geralmente é pardo-ferruginoso na parte superior do corpo e, na parte inferior, cinza-claro. Tem
envergadura média de 39 cm e peso médio de 43g (NOWAK, 1994; BREDT et al., 1996).
20.
0
0
m
3
2
pm
1
1
c
2
1
i:dentária Fórmula =
Profundas modificações nos seus dentes e sistema digestório o tornam apto ao regime
exclusivamente hematófago. Devido a esse habito alimentar pode causar prejuízos à pecuária,
especialmente quando portador do vírus da raiva (LORD, 1998). Eventualmente pode atacar o
homem, tornando-se um problema sério de saúde pública (NOWAK, 1994; LORD, 1998).
Podem ser encontrados em colônias de 20 a 100 indivíduos (NOWAK, 1994),
utilizando-se de abrigos como cavernas, ocos-de-árvore, minas abandonadas, porões de casas,
bueiros, etc (BREDT et al., 1996).
Desmodus rotundus apesar de ser ativo sexualmente o ano inteiro possui dois picos de
maior atividade sexual, com maior número de nascimentos ocorrendo em Abril e Maio e outro em
Outubro e Novembro. A maioria das fêmeas dá a luz uma vez por ano, mas é possível ter mais do
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
47
que uma gravidez no ano. Após uma gestação de sete meses nasce um único filhote (TURNER,
1975). No primeiro mês o filhote alimenta-se exclusivamente de leite materno e no segundo mês de
sangue regurgitado pela mãe. Normalmente os filhotes acompanham a mãe por um período de
quatro meses, quando saem para procurar alimento (LORD, 1992; NOWAK, 1994).
Família Vespertilionidae
Os morcegos desta família são insetívoros e utilizam para o forrageio áreas até o topo
das árvores no interior das florestas. Possuem cauda longa, praticamente envolvida pela membrana
interfemural. Os incisivos são pequenos, as cúspides dos molares são desenvolvidas em forma de
W”. Não possuem folha nasal, com exceção dos gêneros Nyctophilus e Pharotis que ocorrem na
Austrália e Papua Nova Guiné respectivamente (KOOPMAN, 1993). As fêmeas, como todos os
morcegos possuem duas mamas, exceto no gênero Lasiurus que possui quatro mamas. Myotis é o
gênero de maior distribuição dessa família (KOOPMAN, 1984).
Myotis nigricans (Schinz, 1821)
Pode ser encontrado desde o sul do México até o norte da Argentina (KOOPMAN,
1982; REDFORD & EISENBERG, 1992; NOWAK, 1994).
As orelhas são pequenas e estreitas, os tragos vão até a metade da altura das orelhas e a
membrana interfemural é muito larga e comprida e envolvendo quase toda a cauda; os pés são
pequenos e delicados. Apresenta colorido pardo-escuro, envergadura média de 230 mm e peso
médio de 3,5 g.
.38
3
3
m
3
3
pm
1
1
c
3
2
i:dentária Fórmula =
Sua alimentação consiste basicamente de dípteros, isópteros, lepidópteros e pequenos
coleópteros. É encontrado em matas, capoeiras e grutas em grupos de seis a 20 indivíduos.
De acordo com MYERS (1977) e WILSON (1971) as fêmeas dão a luz durante a
primavera. A maiorias das fêmeas podem copular de maio a dezembro (REDFORD &
EISENBERG, 1992) o período de gestação está entre 50 a 60 dias. Os filhotes desmamam entre
cinco e seis semanas, e atingem a maturidade sexual aos três meses nos machos e um pouco depois
nas fêmeas (NOWAK, 1994).
Myotis ruber (E. Geoffroy, 1806)
Sua distribuição geográfica estende-se desde o Sudeste do Brasil, Paraguai até o
Nordeste da Argentina (KOOPMAN, 1982; REDFORD & EISENBERG, 1992; NOWAK, 1994).
Possui coloração parda castanha-avermelhada. A superfície dorsal do uropatágio
possui pelagem densa no terço basal (CABRERA & YEPES, 1960). É a maior espécie do gênero na
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
48
região, com envergadura de aproximadamente 25 cm e peso de 6 g (VIZOTTO & TADDEI, 1973;
REDFORD & EISENBERG, 1992).
38.
3
3
m
3
3
pm
1
1
c
3
2
i:dentária Fórmula =
Essa espécie é tida como ameaçada de extinção no Brasil (AGUIAR & TADDEI,
1995) em virtude da poluição, do desequilíbrio ecológico, do desmatamento e da destruição de seu
habitat. Essa espécie consta no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do Paraná
(MARGARIDO & BRAGA, 2004), onde os autores colocam M. ruber na categoria de “dados
insuficientes”, principalmente de abundância e distribuição no Paraná.
Alimenta-se exclusivamente de insetos.
Eptesicus brasiliensis (Desmarest, 1819)
Esta espécie ocorre desde o Sul do México ao Nordeste da Argentina e Uruguai, sendo
encontrada em todo o território brasileiro (VIEIRA, 1942; KOOPMAN 1982; REDFORD &
EISENBERG, 1992; NOWAK, 1994).
Possui orelhas de formato triangular, membranas das asas ligadas à base dos dedos,
cauda comprida e totalmente envolvida pela membrana interfemural, deixando somente a última
vértebra livre. Apresenta colorido pardo-avermelhado no dorso e pardo-amarelado no ventre. Tem
envergadura de 320 mm e peso de 9 g.
32.
3
3
m
2
1
pm
1
1
c
3
2
i:dentária Fórmula =
De acordo com BREDT et al. (1996) em áreas urbanas essa espécie pode ser observada
voando ao redor dos postes de iluminação pública à caça de insetos. Sua alimentação é composta
exclusivamente de insetos (NOWAK, 1994).
Colônias com aproximadamente 15 indivíduos foram encontrados na região (REIS et
al., 2002).
Os filhotes desta espécie nascem entre Outubro a Janeiro, as fêmeas podem ter duas
gestações num ano, cada período de gestação dura três meses com um filhote por parto (BREDT et
al., 1996).
Eptesicus diminutus Osgood, 1915
A distribuição geográfica se dá desde o Sul da Venezuela, região central do Brasil até o
Norte da Argentina e Uruguai (KOOPMAN, 1982; REDFORD & EISENBERG, 1992; NOWAK,
1994).
Morcego semelhante à espécie anterior, porém de tamanho menor, com crânio mais
delicado e trago muito fino. Tem colorido pardo-claro no dorso sendo mais pálido ventralmente,
(REDFORD & EISENBERG, 1992), envergadura média de 250 mm e peso aproximado de 8 g.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
49
.32
3
3
m
2
1
pm
1
1
c
3
2
i:dentária Fórmula =
Pode ser encontrado preferencialmente em florestas primárias, além de ser capturado
em casas e ocos de árvores. (REDFORD & EISENBERG, 1992)
Alimenta-se de pequenos lepidópteros, isópteros e dípteros.
Eptesicus furinalis (d’Orbigny, 1847)
Sua distribuição estende-se desde o México até o Norte da Argentina, sendo
encontrado em todo o território brasileiro (KOOPMAN, 1982; REDFORD & EISENBERG, 1992;
NOWAK, 1994).
Morcego de orelhas largas, com trago comprido e estreito, asas ligadas à base dos
dedos dos pés, cauda comprida contida na membrana interfemural, ficando somente a última
vértebra livre; os pés são pequenos (VIEIRA, 1942; VIZOTTO & TADDEI, 1973; NOWAK,
1994). A pelagem tende a ser dorsalmente enegrecida e mais pálida no ventre (REDFORD &
EISENBERG, 1992). Apresenta envergadura média de 260 mm e peso em torno de 7 g.
32.
3
3
m
2
1
pm
1
1
c
3
2
i:dentária Fórmula =
É encontrado geralmente nos arredores de matas e capoeiras, alimentando-se
exclusivamente de insetos.
De acordo com NOWAK (1994) fêmeas grávidas podem ser encontradas no mês de
abril e as lactantes no mês de julho.
Histiotus velatus (I. Geoffroy, 1824)
É encontrado em grande parte do Centro-Oeste, no Sudeste e no Sul do Brasil,
Uruguai, Paraguai e Norte da Argentina. (REDFORD & EISENBERG, 1992; NOWAK 1994).
Morcego de orelhas, muito compridas e largas, maiores que a cabeça com uma ligação
membranosa na base sobre a fronte; trago comprido, asas ligadas à base dos dedos dos pés,
membrana interfemural muito larga e comprida, envolvendo quase completamente a longa cauda,
deixando livres somente as duas últimas vértebras; calcâneos desenvolvidos (VIEIRA, 1942;
VIZOTTO & TADDEI, 1973; REDFORD & EISENBERG, 1992). Apresenta coloração castanha-
escura no dorso, mais clara no ventre (REDFORD & EISENBERG, 1992). É de tamanho médio,
com envergadura média de 310 mm e peso de 11 g aproximadamente.
32.
3
3
m
2
1
pm
1
1
c
3
2
i:dentária Fórmula =
Alimenta-se de pequenos insetos.
Colônias com 6 a 12 indíviduos foram encontradas em construções humanas por
MUMFORD & KNUDSON (1978) que incluía machos e fêmeas não grávidas. PERACCHI (1968)
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
50
também encontrou colônias desta espécie no Sudeste brasileiro com adultos e jovens de várias
idades.
Seu período reprodutivo inicia-se em setembro de acordo com PERACCHI (1968).
Lasiurus blossevillii (Muller, 1776)
Essa espécie possui ampla distribuição pelas Américas, desde o Sul do Canadá até o
Sul do Chile, sendo encontrada em todo o território brasileiro, presente também no Paraguai,
Uruguai e Argentina (VIEIRA, 1942; KOOPMAN, 1982; REDFORD & EISENBERG, 1992;
NOWAK, 1994).
Morcego de cabeça curta, focinho largo, orelhas curtas e arredondadas, corpo revestido
de pêlos espessos desde o focinho até a extremidade da cauda, que é totalmente contida no
uropatágio; o colorido é pardo-avermelhado na parte dorsal e amarelado na parte ventral (SHUMP
& SHUMP, 1982; REDFORD & EISENBERG, 1992). Tem envergadura aproximada de 280 mm e
peso médio de 8 g.
Normalmente encontrado perto de áreas metropolitanas, pousado entre as folhas das
árvores, em colônias pequenas; mas também é localizado em matas e capoeiras.
32.
3
3
m
2
2
pm
1
1
c
3
1
i:dentária Fórmula =
Sua alimentação é constituída de insetos.
Família Molossidae
Uma característica marcante nesta família é a presença da cauda longa projetando-se
livremente além da membrana interfemural. A coloração dos pêlos vai do marrom ao preto. As
orelhas são grossas e bastante duras, variáveis em tamanho e forma, e freqüentemente unidas por
uma membrana na testa. Não apresentam folha nasal. Os lábios são grandes e em alguns gêneros o
lábio superior possui pregas verticais. As asas são longas e estreitas. Freqüentemente ocorrem
glândulas na face ventral do pescoço e produzem um odor almiscarado forte que é característico da
família. Os molossídeos são exclusivamente insetívoros.
Tadarida brasiliensis (I. Geoffroy, 1824)
Sua distribuição geográfica estende-se desde o Sul dos Estados Unidos até o Chile e
Argentina (KOOPMAN, 1982,1993; REDFORD & EISENBERG, 1992; NOWAK, 1994)
São morcegos de tamanho médio com orelhas quase tão grandes quanto a cabeça e de
extremidades arredondadas, tragos pequenos e quadrados. O focinho é largo, com sulco profundo
entre as narinas; os lábios superiores são munidos de pregas verticais e enrugados e as membranas
das asas são ligadas ao corpo acima dos tornozelos. Apresenta colorido pardo-escuro, mais claro na
parte ventral, e tamanho médio, com envergadura de 330 mm e peso de 33 g (TUTTLE, 1994).
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
51
É encontrado geralmente em frestas de pedras, em colônias de centenas de indivíduos,
e também em alguns forros de residências, em colônias menores, nas cidades e na zona rural.
32.
3
3
m
2
2
pm
1
1
c
3
1
i:dentária Fórmula =
Alimentam-se de mosquitos, moscas, besouros e mariposas, usando a ecolocação para
encontrar suas presas. Podem consumir em uma única noite o equivalente ao seu peso em comida.
Colônias com milhões de morcegos podem consumir 250 toneladas de insetos todas as noites.
(KUNTZ et al., 1995; LONG et al., 1998; MCCRACKEN, 1996; NEUWEILER,1984)
Molossus molossus (Pallas, 1766)
Essa espécie é encontrada do México ao Paraguai e Suriname (WILSON & REEDER,
1993; KOOPMAN, 1993; NOWAK, 1994).
Morcego que apresenta com orelhas arredondadas e curtas, tragos curtos, focinho
obtuso e largo, lábios sem dobras e salientes. O lábio superior é liso e o focinho projeta-se além do
lábio inferior. As asas são estreitas e alongadas, com envergadura aproximada de 280 mm e peso de
13 g. Suas pernas são curtas e fortes. Os pés são providos de pêlos curtos e bem visíveis (VIZOTTO
& TADDEI, 1973; BREDT & CAETANO-JÚNIOR, 2001).
Pode ser encontrado nos forros de residências da região. REIS et al. (2002), na bacia
do Rio Tibagi, observou que M. molossus inicia sua atividade de forrageamento, em média, 15
minutos mais tarde em relação a Molossus rufus com a qual, geralmente, divide o mesmo abrigo.
26.
3
3
m
2
1
pm
1
1
c
1
1
i:dentária Fórmula =
Sua dieta constitui-se exclusivamente de insetos.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
52
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR, L.M.S.; MACHADO, R.B.; ZORTÉA, M.; MENDES, S.L. & RYLANDS, A.B.
Working with the IUCN red list categories: The experience of the workshop on the conservation of
brazilian bats. Boletim do Museu de Biologia Mello Leitão (Nova Série), Santa Teresa, v.9, p. 3-
11, 1998
AGUIAR, L.M.S. & TADDEI, V.A. Workshop sobre a Conservação dos Morcegos Brasileiros.
Chiroptera Neotropical, Brasília, v.1, n.2, p.24-29, 1995.
BAKER, R.J.; JONES, J.K. & CARTER, D.C. Biology of bats of the New World family
Phyllostomidae. Part II. Special Publication of the Msueum, Texas Tech University, Huston,
v.13, p. 1-364, 1977.
BAKER, R.J.; JONES, J.K. & CARTER, D.C. Biology of bats of the New World family
Phyllostomidae. Part III. Special Publication of the Museum, Texas Tech University, Huston,
v.16, p. 1- 441, 1979.
BARQUEZ, R.M.; MARES, M.A. & BRAUN, J.K. The bats of Argentina. Special Publications,
Museum Texas Tech University, Lubbock, v. 42, p. 1-275, 1999.
BERNARD, E. Folivory in Artibeus concolor (Chiroptera: Phyllostomidae): a new evidence.
Chiroptera Neotropical, Brasília, v.3 n. 2, p.77-79, 1997.
BREDT, A.I.; ARAÚJO, F.A.A.; CAETANO-JÚNIOR, J.; RODRIGUES, M.G.R.; YOSHIZAWA,
M.; SILVA, M.M.S.; HARMANI, N.M.S.; MASSUNAGA, P.N.T.; BÜRER, S.P.; POTRO, V.A.R.
& UIEDA, W. Morcegos em áreas urbanas e rurais: manual de manejo e controle. Brasília:
Fundação Nacional de Saúde/ Ministério da Saúde, 1996. 117p.
BREDT, A. & CAETANO-JÚNIOR, J. Método visual para identificação dos morcegos do
Distrito Federal – Brasil. Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Visual Quiróptera, Brasília,
2001. CD-ROM.
CABRERA, A. & YEPES, J. Mamíferos sud-americanos. Vida, costumbres y descripción. 2. ed.
Buenos Aires: Comp. Argent. Edit., 1960. 370 p.
CRESPO, J.A. Ecología de la comunidad de mamíferos del Parque Nacional Iguazú, Misiones,
Rev. Mus. Argent. Cienc. Nat. “Bernardino Rivadavia,” Ecol. Buenos Aires, v.3, n.2, 45-162,
1982.
DAVIS, W.B. & DIXON, J.R. Activity of bats in a small village clearing near Iquitos, Peru. J.
Mamm. Lawrence, v.57, p.747-749, 1976.
EISENBERG, J.F. Mammals of the neotropics – The northern tropics. Chicago: University of
Chicago Press, 1989. 449 p.
EISENBERG, J.F. & REDFORD, K.H. Mammals of the neotropics: the central neotropics.
Ecuador, Peru, Bolivia, Brazil. Chicago: University of Chicago Press, v.3, 1999. X+609 p.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
53
ESBÉRARD, C.E.L. & BERGALLO, H.G. Aspectos sobre a Biologia de Tonatia bidens (Spix) no
estado do Rio de Janeiro, sudeste do Brasil (Mammalia, Chiroptera, Phyllostomidae). Revista
Brasileira de Zoologia, Curitiba, v.21, n.2, p. 253-259. 2004.
FAHEY, B. "Chrotopterus auritus" (On-line), Animal Diversity Web. Disponível em: <
http://animaldiversity.ummz.umich.edu/site/accounts/information/Chrotopterus_auritus.html>1999.
Acesso em 25 de Jun. 2004.
FARIA, D. Reports on the diet and reproduction of the Ipanema fruit bat, Pygoderma bilbiatum, in
a Brazilian forest fragment. Chiroptera Neotropical, Brasília, v.3, n1, p. 65-66, 1997.
FLEMING, T.H. Opportunism vs. specialization: the evolution of feeding strategies in frugivorous
bats. p.105-118. In: ESTRADA, A. & FLEMING, T.H. (Eds.). Frugivores and seed dispersal.
Dordrecht: Dr. W. Junk Publishers, 1986. 392 p.
______. The Short-Tailed Fruit Bat: A Study in Plant-Animal Interactions. Chicago: The
University of Chicago Press, 1988, 365p.
FOX,D. "Glossophaga soricina" (On-line), Animal Diversity Web. Disponível em:
<http://animaldiversity.ummz.umich.edu/site/accounts/information/Glossophaga_soricina.htm
>1999. Acesso em 23 de Jul. 2004.
GARDNER, A.L. Feeding habitats. In: Biology of bats of the new world family Phillostomatidae.
Part I. BAKER, R.J.; JONES, J.K.; CARTER, D. (Eds.). Special Publication Museum Texas Tech
University, Huston, v.13, 1977. p. 293-350
GOODWIN, G.G. & GREENHALL, A.M. A review of the bats of Trinidad and Tobago. Bulletin
of the American Museum of Natural History, New York, v.122, n.3, p.187-302, 1961.
JONES, J.K. & CARTER, D.C. Annotated checklist with keys to subfamilies and genera. In:
Biology of bats the New World family Phyllostomatidae. BAKER, R.J., JONES, J.K.; CARTER, D.
(Eds.) Part I. Special Publication Museum Texas Tech University, Huston, v.10, 1976. p. 7-38
KOOPMAN, K.F. Biogeography of the bats of South America. Pymatuning Lab. Ecol. Spec.
Publ. Linesville, v.6, p. 273-302, 1982.
______. Order Chiroptera. In: WILSON, D.E. & REEDER, D.M. (Eds.) Mammal Species of the
World: a Taxonomic and Geographic Reference. 2nd ed. Washington: Smithsonian Institution
Press, 1993. p. 137-241
______. A synopsis of the familes of bats. Part VII. Bat Research News, Bloomington, v.25, p.25-
27, 1984.
KUNZ, T.; WHITAKER J. & WADANOLI, M. Dietary energetics of the insectivorous Mexican
Free-tailed bat during pregnancy and lactation. Oecologia, Berlin, v.101, p. 407-415, 1995.
LEMKE, T. O. Foraging ecology of the long-nosed bat, Glossophaga soricina, with respect to
resource availability. Ecology, Durham, v.65, n.2, p. 538-548. 1984.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
54
LIMA, I.P. de & REIS, N.R. dos. The avaiability of Piperaceae and the search for this resource by
Carollia perspicillata (Linnaeus) (Chiroptera, Carolliinae) in Parque Arthur Thomas, Londrina,
Paraná, Brazil. Revista Brasileira de Zoologia, Curitiba, v. 21, n. 2, p. 371-377, 2004.
LONG, R.; SIMPSON, T.; DING, T.; HEYDON, S. & REIL, W. Bats feed on crop pests in
Sacramento Valley. California Agriculture, Oakland, v.52, p. 8-11, 1998.
LORD, R.D. Seasonal reproduction of vampire bats and its relation to seasonality of bovine rabies.
Journal of Wildlife Disease, Laramie, v.28, p.292-294, 1992.
______. Manual de Campo para el control de murciélagos y la rabia. Austin: Bat Conservation
Internacional, 1998. 39 p.
MARGARIDO, T.C.C. & BRAGA, F.G. Mamíferos. In: MIKICH, S.B. & BÉRNILS, R.S. (Org.).
Livro vermelho da fauna ameaçada no estado do Paraná. Instituto Ambiental do Paraná.
Curitiba. 2004. p. 27-141.
McCRACKEN, G. Bats Aloft: a study of high-altitude feeding. Bats, Austin, v.14, p. 7-10, 1996.
MEDELLÍN, R.; ARITA, H. & SÁNCHEZ-HERNÁNDEZ, O. Identificación de los murciélagos
de México: claves de campo (Publicaciones especiales n. 2), México: Asociación Mexicana de
Mastozoología A.C, 1997. 89 p.
MÜLLER, M.F. & REIS, N.R dos. Partição de Recursos Alimentares entre Quatro Espécies de
Morcegos Frugívoros (Chiroptera, Phyllostomidae). Revista Brasileira de Zoologia,Curitiba, v.9,
n.3/4, p. 345-355. 1992.
MUMFORD, R.E. & KNUDSON, D.M. Ecology of bats at Viçosa, Brazil. Proc. 4th
International. Bat Research Conference, Nairobi, p.287-295, 1978.
MYERS, P. Patterns of reproduction of four species of vespertilionid bats in Paraguay. University
of California Press, Berkeley, v.107, p.1-41, 1977.
______. Observations on Pygoderm bilabiatum. Zeitschrift für Säugetierkunde Giessen, v.46,
n.3, p.146-151, 1981.
NEUWEILER, G. Foraging, Echolocation and Audition in bats. Naturwissenschaften, v.71, p.
446-455, 1984.
NOWAK, R.M. Walker's Bats of the World. Introducion por Thomas H. Kunz e Elizabeth D.
Pierson. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1994. 287 p.
OLROG, C.C. & BÁRQUEZ, R.M. Dos quirópteros nuevos para la fauna Argentina. Neotropica,
San José, v.25, n.74, p.185-186, 1979.
PERACCHI, A.L. Sobre os hábitos de Histiotus velatus (Geoffroy, 1824) (Chirptera,
Vespertilionidae). Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, v.28, n.4, p. 469-473, 1968.
PERACCHI, A.L. & ALBUQUERQUE, S.T. Sobre os hábitos alimentares de Chrotopterus auritus
australis Thomas, 1905 (Mammalia, Chiroptera, Phyllostomidae). Revista Brasileira de Biologia,
Rio de Janeiro: v.36, n.1, p.179 – 184. 1976.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
55
REDFORD, K.H & EISENBERG, J.F. Mammals of the Neotropics – The Southern Cone –
Chile, Argentina, Uruguay, Paraguay. Chicago: The University of Chicago Press. v.2, 1992. 430
p.
REIS, N.R. dos, PERACCHI, A.L. & LIMA, I.P. de. Morcegos da bacia do rio Tibagi. In: MEDRI,
M.E., BIANCHINI, E., SHIBATTA, O.A. & PIMENTA, J.A. (Eds.). A bacia do rio Tibagi.
Londrina, 2002. p.251-270.
SAZIMA, I. Observations on the feeding habits of phyllostomatid bats (Carollia, Anoura, and
Vampyrops) in southeastern Brazil. J. Mamm. Lawrence, v.57, p.381-382, 1976.
SEKIAMA, M.L., REIS, N.R. dos, PERACCHI, A.L. & ROCHA, V.J. Morcegos do Parque
Nacional do Iguaçu, Paraná (Chiroptera, Mammalia). Revista Brasileira de Zoologia, Curitiba,
v.18, n.3, p. 749-754, 2001.
SHUMP, K.A. & SHUMP, A.U. Lasiurus borealis. Mammalian Species: American Society of
Mammalogists, Northampton v.183, p.1-6, 1982.
TADDEI, V.A. The reproduction of some Phyllostomatidae (Chiroptera) from the northwestern
region of the state of Sao Paulo. Bol. Zool. Univ., São Paulo: v.1, p.313-330, 1976.
TURNER, D. The Vampire Bat, A Field Study in Behavior and Ecology. Baltimore and London:
The Johns Hopkins University Press. 1975. 145p.
TUTTLE, M. The lives of Mexican Free-tailed bats. Bats, Austin, v.12, p. 6-14, 1994.
VIEIRA, C.O.C. Ensaio monográfico sobre os quirópteros do Brasil. Arq. Zool., São Paulo: v.3,
n.8, p.1- 471. 1942.
VIZOTTO, L.D. & TADDEI, V.A. Chave para determinação de quirópteros brasileiros. Revista da
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras São José do Rio Preto - Boletim de Ciências, São José
do Rio Preto, n.1, p.1-72. 1973.
WEBSTER, W. & OWEN, R. Morphological variation in the Ipanema bat,-Pygoderma bilabiatum -
with description of a new subspecies. J. Mamm. Lawrence, v.64, n.1, p.146-149, 1983.
______. Pygoderma bilabiatum. Mammalian Species: American Society of Mammalogists,
Northampton, n.220, p. 1-3, 1984.
WILSON, D. E. Ecology of Myotis nigricans (Mammalia: Chiroptera) on Barro Colorado Island,
Panama Canal Zone. Journal of Zoology, London, n.163, p.1-13, 1971.
______. Reproductive patterns. In: BAKER, R.J. JONES, J.K.; CARTER, D. (Org). Biology of bats
of the new world family Phillostomatidae. Part. I. Special Publication Museum Texas Tech
University. Huston: 1979. p. 317-378
WILSON, D. E. & REEDER, D. M. Mammal Species of the World, A Taxonomic and
Geographic Reference. 2ª ed. Washington: Smithsonian Institution Press, 1993. xviii+1206 p.
ZORTÉA, M. & CHIARELLO, A.G. Observations on the big fruit-eating bat, Artibeus lituratus in
an urban reserve of south east Brazil. Mammalia, Paris, v.58, n.4, p. 665-670, 1994.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
56
Figuras do Capítulo II
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
57
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
58
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
59
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
60
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
61
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
61
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
62
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Paraná.
63
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
64
Capítulo III
ORDEM PRIMATES
Guilherme Silveira
Biólogo (M.Sc.)
Laboratório de Mastozoologia
Universidade Estadual de Londrina
Nélio Roberto dos Reis
Professor Titular
Departamento de Biologia Animal e Vegetal
Universidade Estadual de Londrina
Vlamir José Rocha
Biólogo (Dr.)
Manejo Ambiental da Klabin Florestal Paraná.
Nos primatas neotropicais, as narinas são voltadas para os lados, o nariz é achatado e o
focinho curto. O pescoço e o tronco são curtos, os membros traseiros longos e os dedos longos e
preênseis. São plantígrados. Passam a vida sobre as árvores, raramente descendo ao chão, exceto
quando os recursos alimentares são escassos ou quando há a necessidade de transpor clareiras
(EMMONS, 1990). Sua visão estereoscópica binocular é o sentido mais desenvolvido, permitindo
uma boa noção de distância, indispensável à locomoção no ambiente arbóreo. Além disso, a maioria
das espécies (exceto Aotus spp.) tem a capacidade de perceber cores, embora normalmente exista
um polimorfismo no qual os machos são dicromatas e as fêmeas são dicromatas ou tricomatas. O
único gênero no qual ambos os sexos são tricomatas parece ser Alouatta (JACOBS & DEEGAN,
2001).
Família Atelidae
Compreende animais de porte que variam entre 4 e 11,4 kg (SMITH & JUNGERS,
1997) pertencentes aos gêneros Ateles, Lagothrix, Oreonax, Brachyteles e Alouatta (BRANDON-
JONES & GROVES, 2002). A cauda é relativamente longa e possui uma área nua na parte distal da
superfície ventral (GARBER & REHG, 1999). A fórmula dentária é expressa como
36
3
3
m
3
3
pm
1
1
c
2
2
i =.
Alouatta guariba clamitans (Cabrera, 1940) – “bugio-ruivo”
A distribuição deste bugio no Brasil vai do Espírito Santo até o Rio Grande do Sul, e
extremo oeste da Argentina. Abrange todo o Paraná sendo simpatrico a Alouatta caraya no extremo
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
65
oeste do Estado, ocorrem na Floresta Estacional Semidecidual, na Floresta Ombrófila Mista, na
Floresta Ombrófila Densa, nos Campos Naturais e no Cerrado. Ainda pode ocorrer em várias
regiões, principalmente em unidades de conservação e em áreas onde foram mantidos fragmentos
florestais pouco perturbados (MARGARIDO & BRAGA, 2004).
É um dos maiores primatas neotropicais. Os machos são maiores que as fêmeas e
possuem pelagem mais densa na região gular, formando uma barba espessa. O comprimento médio
da cabeça e corpo é de 73,7 cm, da cauda é 75 cm, e o peso do adulto em torno de 7 kg. Sua cauda é
do tipo preênsil, dotada de cristas papilares em sua parte distal-inferior (EISENBERB &
REDFORD, 1999). O dimorfismo sexual é uma característica marcante, em que os machos adultos
apresentam pelagem ruiva, vermelha ou alaranjada, enquanto as fêmeas e os indivíduos imaturos
são geralmente castanhos escuros (VON IHERING, 1914, CABRERA & YEPES, 1960; MENDES,
1989).
Possuem hábitos diurnos e arborícolas, concentrando-se no dossel das matas. Emitem
som muito alto principalmente o macho dominante, devido ao grande desenvolvimento do osso
hióide, que funciona como uma caixa de ressonância, os bugios passam muitos minutos
vocalizando, especialmente ao amanhecer e ao final da tarde (NEVILLE et al., 1988). Este tipo de
vocalização esta relacionada com a marcação de território e é intensa onde exite alta densidade de
grupos, na Fazenda Monte Alegre como a espécie se encontra em baixa densidade, a vocalização
dos grupos raramentes é ouvida, pois praticamente não existe disputa por territórios.
Sua dieta está baseada principalmente no consumo de brotos, folhas e frutos, por isso
são considerados animais folívoro-frugívoros (CROCKETT & EISENBERG, 1987; AGUIAR et
al., 2003). Os bugios são os mais folívoros dos primatas neotropicais e também chamados de
folívoros comportamentais, necessitando descansar grande parte do dia, o que facilita, dessa
maneira, a digestão (MENDES, 1989; STEINMETZ, 2000; BICCA-MARQUES & CALEGARO-
MARQUES, 1995; STRIER, 1992).
São encontrados em florestas de 17,7 a 120.000 ha, onde vivem em grupos de 3 a 13
indivíduos e cuja área de vida de um grupo pode ser de 4,1 a 33 ha (BICCA-MARQUES, 2003;
AGUIAR et al. 2003).
No Estado do Paraná, seu status é considerado vulnerável, pois vem sofrendo declínio
de suas populações, devido à redução de seu habitat e encontra-se ameaçada em sua área de
distribuição, constando no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do Paraná como espécie
vulnerável (MARGARIDO & BRAGA, 2004).
Família Cebidae
É composta pelos gêneros Cebuella, Mico, Callithrix, Callimico, Leontopithecus,
Saguinus, Saimiri e Cebus (BRANDON-JONES & GROVES, 2002). Dentre suas características
está a cauda relativamente curta com pêlos em toda sua extensão (GARBER & REHG, 1999).
Cebus nigritus (Goldfuss, 1809) – “macaco-prego”
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
66
Sua distribuição ocorre no sudeste do Brasil, no estado do Rio de Janeiro e leste de São
Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (COIMBRA-FILHO, 1990).
É um primata de porte médio (cabeça e corpo, 59,4 cm), com corpo robusto (cerca de
3,1 kg) e cauda relativamente curta (61,9 cm), semipreênsil. Apresenta tanto um tufo de pêlos eretos
no alto da cabeça, à semelhança de um topete em forma de “V”, como pêlos como uma faixa branca
de cada lado da face. Pode variar do pardo muito escuro com ventre avermelhado ao negro
uniforme e ter uma faixa mais clara na fronte. Sua fórmula dentária é 36
3
3
m
3
3
pm
1
1
c
2
2
i =,
possuindo quatro tubérculos nos molares superiores (KLEIN & KLEIN, 1975).
Ocupa uma grande diversidade de habitats, utilizando todos os estratos arbóreos de
florestas chuvosas inundáveis, florestas primárias, secundárias, caatinga, palmeirais, campos e
mangues. Em conseqüência disso, adaptou-se a uma alimentação onívora altamente variada,
utilizando frutos, sementes, flores, néctar, gomas, seiva, fungos, e animais como insetos,
aracnídeos, pequenos vertebrados (rãs, pássaros e ocasionalmente lagartixas e morcegos) e até
algumas espécies de ostras e caranguejos encontrados em regiões costeiras (IZAWA, 1978, 1979,
1980; IZAWA & MIZUNO, 1977; BROWN et al., 1986; BROWN & ZUNINO, 1990;
JANSON, 1985; GALETTI & PEDRONI, 1994; FREESE & OPPENHEIMER, 1981; ROCHA,
1992; ROCHA, 1995; ROCHA et al., 1998; ROCHA, 2001; VISALBERGHI, 1990).
Utiliza áreas de 16 (DI BITETTI, 2001) a 40 ha (FREESE & OPPENHEIMER, 1981),
porém, para a região norte do Estado do Paraná, têm sido registrado áreas de 12 ha para locais com
fragmentos totalmente isolados (ROCHA, 1992; ROCHA, 1995; SILVEIRA, 2003) até áreas de 70
a 75 ha em fragmentos maiores como o Parque Estadual Mata dos Godoy (ROCHA, 1995). Na
Fazenda Monte Alegre, vem sendo conduzido um estudo que indica uma estimativa de ocorrência
de 128 grupos, com uma população média de 3200 indivíduos e densidade média de 0,07 indivíduos
por ha (ROCHA dados não publicados).
Produz somente um filhote após uma gestação de 6 meses. Os grupos apresentam
números de integrantes variando entre 6 e 30 indivíduos (FREESE & OPPENHEIMER, 1981),
sempre liderados por um macho dominante. Na área da Fazenda Monte Alegre têm sido registrados
grupos compostos por 15 a 28 indivíduos.
HLADIK E HLADIK (1969) afirmam que a dieta para o gênero pode ser constituída de
cerca de 20% de proteína animal, 15% de origem vegetal que não os frutos, e 65% de frutos,
resultado semelhante ao encontrado por ROCHA (1995) para Cebus nigritus para a região norte do
Estado do Paraná, que também destaca a importância desta espécie para os ambientes em que
ocorrem como agente dispersor de sementes devido a grande quantidade de frutos que fazem parte
de sua dieta. Podem ser vistos utilizando áreas vizinhas ao ambiente de mata a fim de obter
alimento, principalmente os provenientes da agricultura (ROCHA, 1992; GALETTI & PEDRONI,
1994; ROCHA, 1995; SILVEIRA, 2003 e AGUIAR et al., 2003), inclusive dependendo da época e
do tamanho do fragmento, estes tipos de alimentos podem ser adquiridos em maior quantidade do
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
67
que os da área da mata (SILVEIRA, 2003).
Na área da Fazenda Monte Alegre, chama a atenção o comportamento dos animais
procurarem por plantações de Pinus spp, onde retiram a casca no terço posterior da árvore para se
alimentarem de seiva e também de insetos, que possam estar escondidos debaixo da casca. Porém, com
este comportamento, podem provocar um anelamento na árvore e conseqüentemente causar danos
econômicos a esse tipo de plantação.
Cebus nigritus era muito abundante e, apesar de ter sofrido certo declínio (COIMBRA-
FILHO, 1990), ainda pode ser frequentemente encontrado em fragmentos florestais do Estado do
Paraná.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
68
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR, L. M.; REIS, N. R.; LUDWIG, G.; ROCHA, V. J. Dieta, área de vida, vocalizações e
estimativas populacionais de Alouatta guariba em um remanescente florestal no Norte do estado do
Paraná. Neotropical Primates, Washington, v. 11, n. 2, p. 78-86, 2003.
BICCA-MARQUES, J. C. How do howler monkeys cope with habitat fragmentation? In: MARSH,
L. K. (Ed). Primates in Fragments: Ecology and Conservation. New York: Kluwer
Academic/Plenum Publishers, 2003. p. 283-303.
BICCA-MARQUES, J. C.; CALEGARO-MARQUES, C. Ecologia alimentar do Gênero Alouatta
Lacépède, 1799 (Primates, Cebidae). Ciência Agronômica, Cadernos UFAC, Rio Branco, v. 3, p.
23-49, 1995.
BRANDON-JONES, D.; GROVES, C. P. Neotropical primate family-group names replaced by
Groves (2001) in contravention of article 40 of the International Code of Zoological Nomenclature.
Neotropical Primates, Washington, v. 10, n. 3, p. 113-115, 2002.
BROWN, A. D.; CHALUKIAN, S. C.; MALMIERCA, L. M. & COLILLAS, O. J. Habitat structure
and feeding behavior of Cebus apella (Cebidae) in El Rey National Park, Argentina. In: TAUB, D.
M.; KING, F. A. (Eds.). Current perspectives in primate social dynamics. New York: Van
Nostrand Reinhold Company, 1986. p. 137-151.
BROWN, A. D.; ZUNINO, G. E. Dietary variability in Cebus apella in extreme habitats: evidence
for adaptability. Folia Primatologica, Basel, v. 54, p. 187-195, 1990.
CABRERA, A.; YEPES, J. Mamiferos Sudamericanos. Buenos Aires: EDIAR, 1960. 238 p.
COIMBRA-FILHO, A. F. Sistemática, distribuição geográfica e situação atual dos símios
brasileiros (Platyrrhini-Primates). Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, v. 50, n. 4, p.
1063-1079, 1990.
CROCKETT, C. M.; EISENBERG, J. F. Howlers: Variations in group size and demography. In:
SMUTS, B. B.; CHENEY, D. L.; SEYFARTH, R. M.; WRANGHAM, R. W.; STRUHSAKER, T.
T. (Eds.). Primate Societies. Chicago: University of Chicago Press, 1987. p. 54-68.
EISENBERG, J. F.; REDFORD, K. H. Mammals of Neotropics: The Central Neotropics –
Ecuador, Peru, Bolivia, Brazil. Chicago: University of Chicago. 1999. 3v.
EMMONS, L. H. Neotropical rainforest mammals: A Field Guide. Chicago: University of
Chicago, 1990. 281p.
FREESE, C. H.; OPPENHEIMER, J. R. The capuchin monkeys, genus Cebus. In: COIMBRA-
FILHO, A.F.; MITTERMEIER, R.A. (Eds.). Ecology and behavior of neotropical primates. Rio
de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências, 1981. v.1. p.1-496.
GALETTI, M.; PEDRONI, F. Seasonal diet of capuchin monkeys (Cebus apella) in a
semideciduous forest in south-east Brazil. Journal of Tropical Ecology, Cambridge, v. 10, p. 27-
39, 1994.
GARBER P. A.; REHG J. A. The ecological role of the prehensile tail in white-faced capuchins
(Cebus capucinus). American Journal of Physical Anthropology, Columbus, v. 110, n. 3, p. 325-
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
69
39,1999.
HLADIK, A.; HLADIK, C. M. Rapports Trophiques Entre Vegetation et Primates Dans le Foret de
Barro Colorado (Panama). La Terre Et La Vie, Lyon, v. 116, p. 25-117, 1969.
IZAWA, K. Foods and feeding behaviour of wild black-capped capuchin (Cebus apella). Primates,
Inuyama, v. 20, n. 1, p. 57-76, 1979.
______. Frog-eating of wild black-capped capuchin (Cebus apella). Primates, Inuyama, v. 19, p.
633-642, 1978.
______. Social behaviour of the wild black-capped capuchin (Cebus apella). Primates, Inuyama, v.
31, p. 443-467, 1980.
IZAWA, K.; MIZUNO, A. Palm-fruit cracking behavior of wild black-capped capuchin (Cebus
apella). Primates, Inuyama, v. 18, n. 4, p. 773-792, 1977.
JACOBS, G. H.; DEEGAN, J. F. II. Photopigments and colour vision in New World monkeys from
the family Atelidae. Proc. Biol. Sci., Washington, v. 268, n. 1468, p. 695-702, 2001
JANSON, C. H. Aggressive competition and individual food consumption in wild brown capuchin
monkey (Cebus apella). Behavioral Ecology, Oxford, v. 18, p. 125-138, 1985.
KLEIN, L. L.; KLEIN, D. J. Social and ecological contrast between four taxa of neotropical
primates. In: TUTLE, R. H. (Ed.). Socioecology and Psychology of Primates. The Hague: Mouton
Publishers, 1975. 474 p.
MARGARIDO, T.C.C. & BRAGA, F.G. Mamíferos. In: MIKICH, S.B. & BÉRNILS, R.S. (Org.).
Livro vermelho da fauna ameaçada no estado do Paraná. Instituto Ambiental do Paraná.
Curitiba. 2004. p. 27-141.
MENDES, S. L. Estudo ecológico de Alouatta fusca (Primates: Cebidae) na Estação Biológica de
Caratinga, MG. Revista Nordestina de Biologia, João Pessoa, v. 6, n. 2, p. 71-104, 1989.
NEVILLE, M. K.; GLANDER, K. E.; BRAZA, F.; RYLANDS, A. B. The Howling Monkeys,
genus Alouatta. In: MITTERMEIER, R. A.; RYLANDS, A. B.; COIMBRA-FILHO, A.;
FONSECA, G. A. B. (Eds.). Ecology and Behavior of Neotropical Primates. Washington: World
Wildlife Fund, 1988. 2 v. p. 349-453.
ROCHA, V. J. Desenvolvimento de um método de manejo envolvendo um grupo de macacos-
pregos (Cebus apella) em condição semi-selvagem no horto florestal da UEL, Londrina, Pr.
1992. 46 f. Monografia (Bacharelado em Ciências Biológicas – Centro de Ciências Biológica),
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 1992.
______. Dieta, ação sobre as sementes, padrão de atividade e área de vida de Cebus apella
(Linnaeus, 1758) em três fragmentos florestais de tamanhos distintos na região de Londrina -
Pr. 1995. 92 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas – Zoologia) - Setor de Ciências
Biológicas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1995.
______. Ecologia de mamíferos de médio e grande portes do Parque Estadual Mata dos
Godoy, Londrina (PR). 2001. 142 f. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas – Zoologia) - Setor
de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2001.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
70
ROCHA, V. J.; REIS, N. R.; SEKIAMA, M. L. Uso de ferramentas por Cebus apella (Linnaeus)
(Primates, Cebidae) para obtenção de larvas de Coleoptera que parasitam sementes de Syagrus
romanzoffianum (Cham.) Glassm. (Arecaceae). Revista Brasileira de Zoologia, Curitiba, v. 15, n.
4, p. 945-950, 1998.
SILVEIRA, G. Análise das três dimensões básicas do nicho (alimento, espaço e tempo) de
Cebus nigritus (Goldfuss, 1809) (Primates, Cebidae) em um fragmento florestal de
Londrina, Paraná. 2003. 58 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas – Zoologia) -
Centro de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2003.
SMITH, R. J.; JUNGERS, W. L. Body mass in comparative primatology. J. Hum. Evol., New
York, v. 32, n. 6, p. 523-59, 1997.
STEINMETZ, S. Ecologia e comportamento do bugio (Alouatta fusca clamitans, Atelidae -
Primates) no Parque Estadual Intervales - SP. 2000. 101 f. Dissertação (Mestrado em Zoologia)
- Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.
STRIER, K. B. Atelinae adaptations: behavioral strategies and ecological constraints. American
Journal of Physical Anthropology, Columbus, v. 88, p. 515-524, 1992.
VISALBERGHI, E. Tool use in Cebus. Folia Primatologica, Basel, v. 54, p. 146-154, 1990.
VON IHERING, H. Os bugios do gênero Alouatta. Revista do Museu Paulista, São Paulo, v. 9, p.
231-280, 1914.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
71
Figuras do Capítulo III
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
72
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
73
Capítulo IV
ORDEM XENARTHRA
Wagner André Pedro
Professor Livre Docente
Departamento de Apoio, Produção e Saúde Animal
Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” UNESP - Araçatuba/SP
Adriano Lucio Peracchi
Professor Livre Docente
Instituto de Biologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Marcio Cisterna Motta
Biólogo (M.Sc.) Colaborador
Zoológico Municipal de São Vicente - São Vicente/SP.
Isaac Passos de Lima
Doutorando do curso de Biologia Animal
Instituto de Biologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Os animais dessa ordem são principalmente insetívoros e herbívoros de pequeno porte
(mas podem atingir até 60 kg). Os mamíferos dessa ordem não apresentam os incisivos ou os
caninos, enquanto que os molares e pré-molares quando presentes, são cilíndricos sem a cobertura
de esmalte, presente nos dentes da maioria dos outros mamíferos. Estes dentes têm uma única raiz.
A característica mais notável do esqueleto são as articulações especiais pós-cranianas sem vértebra
lombar, que não ocorrem em nenhum outro mamífero. O número de vértebras cervicais varia de
cinco a nove, dependendo da espécie; este grau de variação é extremamente incomum em
mamíferos (quase todos outros mamíferos têm sete). As patas anteriores têm cinco dedos (com
algumas exceções), suas unhas são afiadas e curvadas.(BARLOW, 1984; MYERS, 2000).
Família Myrmecophagidae
Os mamíferos pertencentes a essa família possuem focinho alongado e estreito, além
de boca tubular e olhos pequenos. A língua, extensa, é coberta com saliva aderente para capturar
insetos, podendo se expandir consideravelmente para alcançar locais pouco acessíveis. As garras,
utilizadas tanto para a defesa como para abrir os ninhos de formigas e cupins e são tão grandes que
esses caminham apenas com o lado externo dos membros. São desprovidos de dentes, e o crânio
alongado, embora pareça frágil, é bastante resistente (NOWAK, 1999; EMMONS & FEER, 1999).
Myrmecophaga tridactyla Linnaeus, 1758 - “tamanduá-bandeira”
Distribui-se pela América latina, do sul de Belize e Guatemala ao Norte do Equador ao
Norte da Argentina e Uruguai. No Brasil, apresenta ampla distribuição, do Norte ao Sul do país,
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
74
habitando os biomas da caatinga, cerrado, mata atlântica, amazônia, pantanal e campos sulinos
(FONSECA et al., 1996; NOWAK, 1999; EMMONS & FEER, 1999).
O comprimento do corpo é de 1,20 m, e a cauda varia de 65 e 90 cm. Pesa em torno de
39 kg, ROCHA (dados não publicados) registrou na área da Fazenda Monte Alegre um exemplar
fêmea atropelado na PR 160 medindo 2,01 m incluindo a cauda e pesando 42,1 kg. O corpo é
estreito, com coloração cinza e uma faixa diagonal preta que sobe do peito até a metade do dorso,
ladeada por duas linhas de pêlos brancos. A linha superior começa abaixo das orelhas, e é estreita.
A inferior é um prolongamento da cor branca que envolve os membros anteriores, sendo formada
por pêlos compridos. O animal é facilmente reconhecido pelo seu porte grande, focinho cilíndrico,
língua alongada, faixas diagonais e cauda peluda, que é portadora de longos pêlos, que para alguns
se assemelha a uma bandeira, o que levou ao nome vulgar do animal. Os membros anteriores têm
quatro dedos, sendo três providos de garras grandes, e nos posteriores as garras são relativamente
pequenas, e os dedos são em número de cinco (SILVA, 1994; NOWAK, 1999).
É considerado um animal terrestre solitário, noturno em áreas densamente habitadas e
diurno em áreas distantes das habitações humanas. Sua dieta consiste principalmente de formigas e
cupins. O período de gestação dura cerca de 190 dias, nascendo um filhote, que após o nascimento
fica no dorso da mãe até aproximadamente um ano (SILVA, 1994; NOWAK, 1999; EMMONS &
FEER, 1999).
No Estado do Paraná, a área de ocorrência desse tamanduá abrange principalmente os
campos naturais e o cerrado, sendo escassos os registros para as formações florestais
(MARGARIDO & BRAGA, 2004). Contudo, segundo ROCHA-MENDES (2005), há um relato de
BIGG-WITHER (1974), em sua expedição pelo Rio Ivaí (1872-1875), de ter avistado e morto
vários tamanduás bandeira em áreas florestadas da região. Na área da Fazenda Monte Alegre estão
presentes, porém em baixa densidade e são visualizados em áreas plantadas com eucalipto e pinus
que no passado se caracterizavam como campo natural.
Esta espécie está incluída na Lista das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de
Extinção (IBAMA 2003), devido à caça predatória e ao comércio ilegal e também no Livro
Vermelho da Fauna Ameaçada do Estado do Paraná (MARGARIDO & BRAGA, 2004).
Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) – “tamanduá-mirim”
A espécie é endêmica da América do Sul, ocorrendo no leste dos Andes, Colômbia,
Venezuela, Trinidad e Guianas, até o Uruguai e norte da Argentina. No Brasil está presente na mata
atlântica, cerrado, caatinga, pantanal, amazônia e campos sulinos, até dois mil metros de altitude
(FONSECA et al., 1996; GARGAGLIONI et al., 1998; EMMONS & FEER, 1999; CÂMARA &
MURTA, 2003).
Menor do que o tamanduá-bandeira, o comprimento do corpo varia entre 47 e 77 cm, e
a cauda entre 40 e 68 cm. O adulto pesa em média 5 kg. Segundo ROCHA et al. (2004), indivíduos
da Fazenda Monte Alegre oscilam entre 4,5 kg a 9,5 kg. Possui cauda semi-preênsil e pêlos curtos e
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
75
densos. Apresenta coloração amarela-pálida com manchas pretas nas regiões escapular, pélvica e
peitoral, semelhante a um colete, representando um dos nomes vulgares do mesmo. A cabeça e o
focinho são alongados, onde próximo está inserida a língua comprida com a saliva aderente. Os
membros anteriores possuem quatro dedos com grandes garras, e os posteriores cinco dedos com
garras menores (SILVA, 1994; NOWAK, 1999; CÂMARA & MURTA, 2003).
Apresenta hábito solitário, com atividade diurna e noturna, e FONSECA et al. (1996) o
considera um animal arborícola. A dieta consiste em formigas e cupins de chão e árvores, além de
abelhas. O período de gestação varia entre 130 a 150 dias, nascendo um filhote (EMMONS &
FEER, 1999; CÂMARA & MURTA, 2003).
A presença de Tamandua tetradactyla é relatada como constante por moradores do
município de Fênix, no centro-oeste paranaense (ROCHA-MENDES, 2005). Na área da Fazenda
Monte Alegre são comuns e é freqüente aparecerem na localidade de Lagoa, ás vezes também são
encontrados dormindo durante o dia em ocos de árvores ou em galhos no alto das árvores inclusive
em plantios de pinus e eucalipto, onde é comum nestas áreas a presença de formigas um de seus
alimentos. Um trabalho conduzido por ZALESKI (2003), nas estradas que cortam a Fazenda
indicou ser este o quinto mamífero mais atropelado, principalmente na PR 160, com 61 exemplares
em 9 anos de coleta de dados.
Família Dasypodidae
Conhecidos, de forma popular, por tatus, os animais pertencentes a esta família são
caracterizados pela região dorsal do corpo coberta por bandas (ou cintas) móveis e justapostas, que
protegem a cabeça, as costas, lados e algumas vezes os membros e a cauda. A maioria das espécies
tem pouco ou nenhum pêlo. A dentição é formada por dentes pequenos, em geral sete a nove de
cada lado da mandíbula, com exceção de Priodontes, que pode ter acima de 40 em cada mandíbula.
Os membros anteriores são formados por cinco dedos, e os posteriores por três a cinco (MCBEE &
BAKER, 1982; NOWAK, 1991; EMMONS & FEER, 1999; PEREIRA-JR et al., 2003). Indivíduos
selvagens quando são capturados repentinamente se assustam e emitem um sopro que produz um
som rouco como possivelmente uma forma de advertência. Os tatus que ocorrem em regiões mais
frias podem ter problemas de manutenção da temperatura corpórea, principalmente os jovens e os
filhotes, podendo estes últimos até virem a óbito em situação de frio intenso. Uma maneira que
provavelmente possa auxiliar estes animais a manterem a temperatura corpórea é se abrigarem
dentro de suas tocas, porém ainda faltam estudos sobre este assunto (ROCHA dados não
publicados).
Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758) – “tatu-peba”
Ocorre no Suriname e leste dos Andes, desde a Bacia Amazônica brasileira até o norte
da Argentina. No Brasil, habita os biomas mata atlântica, cerrado, caatinga, pantanal, amazônia e
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
76
campos sulinos (REDFORD & WETZEL, 1985; FONSECA et al., 1996; NOWAK, 1991;
GARGAGLIONI et al., 1998; CÂMARA & MURTA, 2003).
O comprimento do corpo varia entre 40 e 50 cm, e a cauda 12 a 24 cm. O adulto pesa
entre 3,2 a 6,5 kg (REDFORD & WETZEL, 1985). A cabeça é triangular, com pequenos olhos e
orelhas. Apresenta pêlos brancos e longos entre as cintas móveis, que estão presentes em número de
seis a oito. Existem três a quatro cintas perfuradas na região pélvica. A coloração é amarelo-escura
(NOWAK, 1997; CÂMARA & MURTA, 2003).
Espécie diurna, semifossorial e solitária, têm como regime alimentar invertebrados
(principalmente formigas), pequenos vertebrados e matéria vegetal, como sementes de palmeira e
frutos de Bromeliceae. O período de gestação é de 60-65 dias, quando nascem de um a três filhotes
(REDFORD & WETZEL, 1985; SILVA, 1994; CÂMARA & MURTA, 2003). No Brasil,
CARTER (1983) encontrou uma média de área de vida de 93,3 ha.
No Paraná, está espécie de tatu é encontrada principalmente em ambientes abertos, e
sua ocorrência está associada aos campos e ao cerrado (EISENBERG & REDFORD, 1999) o que
corrobora com o observado na área da Fazenda Monte Alegre. ROCHA-MENDES (2005) destaca a
morte de um tatu dessa espécie por cães, no centro-oeste do estado do Paraná, segundo relato de
moradores. De acordo com os mesmos, a espécie é vista de forma constante na região.
Cabassous tatouay (Desmarest, 1804) – “tatu-de-rabo-mole”
A espécie é encontrada no Uruguai, norte da Argentina, sudeste do Paraguai e nas
regiões Sul e Sudeste do Brasil, onde tem ocorrência no Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e
Campos sulinos (FONSECA et al., 1996; NOWAK, 1991).
Possui comprimento de cabeça e corpo que varia entre 30 e 49 cm, com a cauda, nua,
alcançando 20 cm. É a maior espécie do gênero, com indivíduos chegando a pesar 6,2 kg. Segundo
ROCHA et al. (2004), indivíduos da Fazenda Monte Alegre oscilam entre 4,7 a 6,1 kg. Existem
cinco grandes garras nos membros anteriores, onde a mediana é maior e mais afiada. As cintas
móveis são em número de 10 a 13, sendo a mais numerosa da família. A cauda, fina e curta, possui
pequenas placas espaçadas, característica única entre Dasypodidae. A coloração do dorso vai do
marrom-escuro ao preto, com as laterais da carapaça amareladas e o ventre cinza-amarelado
(NOWAK, 1991).
Noturnos, solitários e semi-fossoriais, vivem em tocas, habitando os mais variados
ambientes, incluindo campos abertos, planícies semiáridas e úmidas, áreas montanhosas e matas
ciliares. A dieta consiste basicamente de grandes quantidades de cupins e formigas. Geralmente,
nasce apenas um filhote, que pesa aproximadamente 100 g (FONSECA et al., 1996; NOWAK,
1999).
A espécie encontra-se no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada do Estado do Paraná
(MARGARIDO & BRAGA, 2004). Apesar de poucos registros para o Estado, a distribuição desse
tatu se dá para áreas de Floresta Estacional Semidecidual, Floresta Ombrófila Mista, Floresta
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
77
Ombrófila Densa e Campos (MARGARIDO & BRAGA apud ROCHA-MENDES, 2005). É
considerada de difícil visualização (ROCHA-MENDES, 2005). Na área da Fazenda Monte Alegre
tem sido observado em áreas abertas e próximo de floresta com araucária. Um exemplar órfão foi
criado por um ano no Criadouro Científico da Klabin com formigas, cupins, laranja e uma papa a
base de leite de vaca, aveia farinha lactea e neston, onde após 1 ano foi reintroduzido com sucesso
em seu ambiente natural (ROCHA dados não publicados).
Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758 – “tatu-galinha”
De ampla distribuição, a maior de todos os Xenarthra, ocorre praticamente em todos os
habitats, desde o sul dos Estados Unidos, por toda a América Central e do Sul, do leste dos Andes
até o norte do Uruguai e Argentina. No Brasil, ocorre na Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica,
Amazônia, Pantanal e Campos Sulinos (MCBEE & BAKER, 1982; FONSECA et al., 1996;
NOWAK, 1991).
O comprimento do corpo varia de 40 a 50 cm, e a cauda, de 25 a 40 cm. Pesa em média
3,6 kg. Segundo ROCHA et al., (2004), indivíduos da Fazenda Monte Alegre oscilam entre 2,9 a 6
kg com média de 4,8 kg. Apresenta como característica diagnóstica de oito a onze cintas móveis na
carapaça, geralmente nove. A coloração geral é marrom-escura no dorso, sendo lateralmente mais
amarelada. A cabeça é alongada, com escudo cefálico que se estende quase até a extremidade do
focinho longo e pontudo. Os olhos são pequenos e as orelhas grandes. Os membros são curtos, com
os anteriores possuindo quatro dedos e os posteriores cinco.
Animal noturno e solitário alimenta-se principalmente de formigas, cupins e insetos,
mas consome também outros pequenos animais, matéria vegetal e carniça. A gestação vai de 150 a
240 dias, com a fêmea gerando normalmente quatro filhotes do mesmo sexo, oriundos de um único
óvulo fecundado (poliembrionia). Os machos tendem a ser maiores do que as fêmeas (MCBEE &
BAKER, 1982; SILVA, 1994; CÂMARA & MURTA, 2003).
Representa uma espécie comum no centro-oeste paranaense (ROCHA-MENDES,
2005). Das quatro espécie que ocorrem na Fazenda Monte Alegre esta é a mais abundante e
segundo ZALESKI (2003) a quarta espécie mais atropelada, com 65 indivíduos em 9 anos de coleta
de dados, principalmente na PR 160.
Dasypus septemcinctus Linnaeus, 1758 – “tatu-bolinha”
NOWAK (1991) registra a distribuição da espécie para o leste brasileiro, leste da
Bolívia, Paraguai, e extremo norte da Argentina.
No Paraná, esta espécie de tatu ocorre nos Campos, Floresta Estacional Semidecidual e
Floresta Ombrófila Mista (MARGARIDO & BRAGA, 2004). Embora registrado em quase 50% das
entrevistas a moradores da região de Fênix, centro-oeste do estado, sua real abundância merece
mais estudos, pois a semelhança morfológica com o tatu-galinha, D. novemcinctus, é muito grande.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
78
ANDERSON (1997) aponta, como características distintivas dessa espécie, tamanho
menor que D. novemcinctus, comprimento do crânio menor que 8,8 cm, placas maiores e mais
separadas, e geralmente menos que oito bandas móveis na parte dorsal. Os exemplares adultos da
Fazenda Monte Alegre são bem menores do que D. novemcinctus o que facilita sua diferenciação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDERSON, S. Mammals of Bolivia, taxonomy and distribution. Bulletin of the American
Museum of Natural History, New York, n. 231, p. 1- 652. 1997.
BARLOW, J.C. 1984. Xenarthrans and pholidotes. In: ADERSON, S. & JONES-JR, J.K. (Org.).
Orders and Families of Recent Mammals of the World. New York: John Wiley and Sons, 1997.
p. 219-239.
BIGG-WITHER, T.P. Novo caminho no Brasil Meridional: a província do Paraná: três anos de
vida em suas florestas e campos, 1872-1875. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1974. 417 p.
CÂMARA, T. & MURTA, R. Mamíferos da Serra do Cipó. Belo Horizonte: Museu de Ciências
Naturais, 2003. 127 p.
CARTER, T.S. The burrows of the giant armadillos, Priodontes maximus (Edentata: Dasypodidae).
Säugetierk. Mitt. München, v.31, p.47-53, 1983.
EISENBERG, J.F. & REDFORD, K.H. Mammals of the neotropics: the central neotropics.
Ecuador, Peru, Bolivia, Brazil. Chicago: University of Chicago Press, v.3, 1999. X+609 p.
EMMONS, L.H. & FEER, F. Neotropical Rainforest Mammals. A Field Guide. 2 ed. Chicago:
The University of Chicago Press, 1999. 307 p.
FONSECA, G.A.B., HERRMANN, G., LEITE, Y.L.R., MITTERMEIER, R.A., RYLANDS, A.B.
& PATTON, J.L. Lista anotada dos mamíferos do Brasil. Conservation International, Occasional
Papers, Belo Horizonte, n. 3, 35 p. 1996.
GARGAGLIONI, L.H., BATALHÃO, M.E., LAPENTA, M.J. CARVALHO, M.F., ROSSI, R.V. &
VERULI, V.P. Mamíferos da Estação Ecológica de Jataí, Luiz Antonio, São Paulo. Papéis Avulsos
de Zoologia, São Paulo: v.40, n.17, p. 267-28, 1998.
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Lista da
fauna brasileira ameaçada de extinção. Disponível em:
<http://www.ibama.gov.br/fauna/downloads/listaspp.pdf> 2003. Acessado em 13 de abril de 2005.
MARGARIDO, T.C.C. & BRAGA, F.G. Mamíferos. In: MIKICH, S.B. & BÉRNILS, R.S. (Org.).
Livro vermelho da fauna ameaçada no estado do Paraná. Instituto Ambiental do Paraná.
Curitiba. 2004. p. 27-141.
MCBEE, K. & BAKER, R. Dasypus novemcinctus. Mammalian Species: American Society of
Mammalogists, Northampton, n.162, p.1-9, 1982.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
79
MYERS, P. "Xenarthra" (On-line), Animal Diversity Web. Disponível em:
<http://animaldiversity.ummz.umich.edu/site/accounts/information/Xenarthra.html>2000. Acessado
em 10 de jun. 2005.
NOWAK, R.M. Walker's Mammals of the World. Vol. 1-2. 5 ed. Baltimore and London: The
Johns Hopkins University Press, 1991. 1629 p.
______. Walker´s Mammals of the World. Vol. 1-2 6 ed. Baltimore: The John Hopkins
University Press, 1999. p.147-168
PEREIRA-JR., H.R.J.; JORGE, W. & BAGAGLI, E. Por que tatu? Ciência Hoje SBPC. Rio de
Janeiro, v.34, n.199, p. 70-73, 2003.
REDFORD, K.H. & WETZEL, R.M. Euphractus sexcinctus. Mammalian Species: American
Society of Mammalogists, Northampton, v. 252, p.1-4, 1985.
ROCHA, V. J.; FILIPAKI, S. A.; FIER, I. S. N.; OLIVEIRA, S. V. & PUCCI, J. A. L. Peso
corpóreo de mamíferos silvestres da região de Telêmaco Borba, Paraná. In: III Encontro sobre
Animais Selvagens. Anais... Poços de Calda, 2004a.
ROCHA-MENDES, F. Ecologia alimentar de carnívoros (Mammalia: Carnivora) e elementos
de etnozoologia do Município de Fênix, Paraná, Brasil. 2005. 72 f. Dissertação (Mestrado em
Ciências Biológicas) - Instituto de Biociências, Letras, e Ciências Exatas de São José do Rio Preto,
Universidade Estadual Paulista. São José do Rio Preto. 2005.
SILVA, F. Mamíferos Silvestres. Rio Grande do Sul. 2ª ed. Porto Alegre: Fundação Zoobotânica
do Rio Grande do Sul,1994. 246 p.
ZALESKI, T. Atropelamento de mamíferos nas estradas da Fazenda Monte Alegre, município
de Telêmaco Borba, Estado do Paraná. 2003. 54 f. Monografia (Curso de Ciências Biológicas -
zoologia) Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2003.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
80
Figuras do Capítulo IV
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
81
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
82
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
83
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
83
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
84
Capítulo V
ORDEM CARNIVORA
Vlamir José Rocha
Biólogo (Dr.)
Manejo Ambiental da Klabin Florestal Paraná
Márcio Cisterna Motta
Biólogo (M.Sc.) Colaborador
Zoológico Municipal de São Vicente, São Paulo
Carolina Carvalho Cheida
Bióloga (M.Sc.)
Instituto de Pesquisas Cananéia
Projeto Carnívoros e Programa de Incentivo a Conservação da Natureza
Adriano Lucio Peracchi
Professor Livre Docente
Instituto de Biologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Os mamíferos carnívoros são animais que, geralmente, ocupam o topo da cadeia
alimentar, sendo, portanto, muito importantes para o equilíbrio dos ecossistemas em que ocorrem
(MIRANDA, 2003). No Brasil existem 26 espécies da Ordem Carnivora, divididas em quatro
famílias: Canidae, Procyonidae, Mustelidae e Felidae (MIRANDA, 2003). Destas, 13 (50%) são
registradas para a Fazenda Monte Alegre (ROCHA et al., 2003).
Apesar da Fazenda Monte Alegre ser uma área de silvicultura, o fato de existir um
mosaico de vegetação (plantações comerciais interligadas por corredores ecológicos com matas
nativas de Floresta Estacional Semidecidual, Floresta Ombrófila Mista e Campos naturais) faz com
que seja possível um fluxo de fauna na área (ROCHA et al., 2003), incluindo muitos mamíferos
carnívoros e suas presas.
Sabe-se que a grande maioria destes animais está altamente ameaçada, sendo vítimas
de muitas formas de pressão. São elas as caças esportiva, clandestina para comércio de peles e de
animais vivos, e aquela justificada na culpa destes animais causarem prejuízos econômicos a
produtores rurais, dentre outros. Porém, a destruição de seus habitats ainda é a maior ameaça
(INDRUSIAK & EIZIRIK, 2003; MIRANDA, 2003; MARGARIDO & BRAGA, 2004).
Família Canidae
Os carnívoros desta família caracterizam-se por serem digitígrados, possuírem pernas
longas e finas, próprias para grandes caminhadas, cinco dedos na pata anterior, sendo o primeiro
reduzido, e quatro na pata posterior, além de garras não-retrácteis (EISENBERG & REDFORD,
1999). Na maioria das espécies, a cauda possui grande volume de pêlos, variando de curta à longa,
o focinho é alongado e afilado e as orelhas eretas (LANGGUTH, 1979; SILVA, 1994; NOWAK,
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
85
1999). A fórmula dentária, expressa por, 42
3
2
m
4
4
pm
1
1
c
3
3
i =sofre variação para o “cachorro-
vinagre” (Speothos venaticus), não encontrado na área da Fazenda Monte Alegre: m1/2
(EISENBERG & REDFORD, 1999; EMMONS & FEER, 1999). A maioria dos canídeos é de
pequeno ou médio porte, caça pequenas presas de modo solitário ou em grupo e possui dieta
onívora e oportunista, que pode variar sazonalmente (BERTA, 1987; NOWAK, 1999). Habitam
grande variedade de formações vegetais, sendo, no Brasil, encontrados em todos os biomas
(BERTA, 1987, FONSECA et al., 1996; NOWAK, 1999).
Cerdocyon thous Linnaeus, 1766 - “cachorro-do-mato”, “raposinha-do-mato” ou “graxaim”.
É a única espécie do gênero Cerdocyon. Possui distribuição do Uruguai e norte da
Argentina até as terras baixas da Bolívia e Venezuela, ocorrendo também na Colômbia, Guianas e
Brasil, com exceção da bacia amazônica. É encontrado nos biomas Caatinga, Cerrado, Floresta
Atlântica, Pantanal e Campos Sulinos, ocorrendo em bordas de matas, áreas alteradas e habitadas
pelo homem (BERTA, 1982; MARINHO-FILHO, 1992; WILSON & REEDER, 1993; FONSECA
et al., 1996; NOWAK, 1999; CÂMARA & MURTA, 2003).
O comprimento do corpo varia entre 600 e 700 mm e a cauda tem,
aproximadamente, 300 mm. Pesa entre 6 e 7 kg (NOWAK, 1999), apesar de estudos na Fazenda
Monte Alegre indicaram uma variação de 3,7 a 11,1 kg para indivíduos adultos (ROCHA et al.,
2004a). A pelagem varia de cinza a castanho, com faixa de pêlos pretos da nuca até a ponta da
cauda e peito e ventre claro (VIEIRA,1946; BERTA, 1982; MIRANDA, 2003). As extremidades
dos membros, também são pretas e com pelagem curta (SILVA, 1994; NOWAK, 1999; EMMONS
& FEER, 1999; CÂMARA & MURTA, 2003).
42
3
2
m
4
4
pm
1
1
c
3
3
i:dentária Fórmula =
É monógamo, tendo a fêmea duas ninhadas por ano a cada 7 ou 8 meses. O período de
gestação é de cerca de dois meses, nascendo de 3 a 6 filhotes (BRADY, 1978). Possui hábitos
noturnos e crepusculares (MONTGOMERY & LUBIN, 1978; BRADY, 1979; MAFFEI & TABER,
2003), forrageia solitário, mas pode ocorrer em pares, provavelmente aumentando as chances de
captura de presas. Estas podem ou não ser compartilhadas (MONTGOMERY & LUBIN, 1978;
BRADY, 1979; CHEIDA, 2002; ROCHA et al., 2004b). É uma espécie onívora generalista e
oportunista, sendo sua dieta formada por frutos, pequenos vertebrados, insetos, crustáceos e peixes,
além de carniça (LANGGUTH, 1979; BISBAL & OJASTI, 1980; BERTA, 1982; SHELDON,
1992; MOTTA-JUNIOR et al., 1994; FACURE & MONTEIRO-FILHO, 1996; EISENBERG &
REDFORD, 1999; CHEIDA, 2002; FACURE et al., 2003; ROCHA et al., 2004b). Devido a um
alto consumo de frutos pode agir como agente dispersor de sementes (BUSTAMANTE et al., 1992;
MOTTA-JUNIOR et al., 1994; ALONSO-PAZ et al., 1995; CHEIDA, 2002; ROCHA et al.,
2004b).
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
86
Na área da Fazenda Monte Alegre é uma espécie comum e de acordo com ZALESKI
(2003) é a terceira espécie mais atropelada nas rodovias que cortam a Fazenda, principalmente na
PR160, com um total de 75 animais atropelados em 9 anos de coleta de dados.
Chrysocyon brachyurus Illiger, 1815 - “lobo-guará” ou “lobo-de-crina”.
É o maior e mais distinto canídeo silvestre da América do Sul, sendo a única espécie
do gênero Chrysocyon (DIETZ, 1984). Ocorre entre o norte e o nordeste da Argentina, Paraguai,
norte e leste da Bolívia, extremo leste do Peru; e norte do Uruguai. No Brasil é encontrado nos
biomas Pantanal, Campos Sulinos e Cerrado até a região de transição com a Caatinga (CABRERA
& YEPES, 1960; LANGGUTH, 1979; DIETZ, 1984; FONSECA et al., 1994; NOWAK, 1999;
EISENBERG & REDFORD, 1999; MOTTA-JUNIOR et al., 2002; RODDEN et al., 2004). Tem
estendido sua área de distribuição, provavelmente, como resultado da transformação de áreas de
Floresta Atlântica em pastagens, mono e silviculturas (FONSECA et al., 1994; SANTOS et al.,
2003), parecendo adaptar-se à oferta de alimentos disponível nestes ambientes (DIETZ, 1985a apud
COURTENAY, 1994; SANTOS et al., 2003). Na área da Fazenda Monte Alegre ocorrem em
ambientes com campos e Floresta Ombrófila Mista (Floresta com Araucária), mas também utilizam
áreas de silvicultura (CHEIDA, 2005).
Quando adulto pesa de 20 a 30 kg (DIETZ, 1984), sendo que duas fêmeas encontradas
na região da Fazenda pesaram, respectivamente, 23 kg e 24,5 kg. Possui um comprimento de 95 a
115 cm, mais 38 a 50 cm de cauda, e 80 cm de altura (DIETZ, 1984; RODDEN et al., 2004). É
caracterizado pelos longos membros, que chegam a medir até 75 cm, coloração laranja
avermelhada, ponta do focinho e extremidades dos membros pretos. A cauda é curta com a ponta
branca. A cabeça é pequena em relação ao corpo, e as orelhas são grandes. Possui focinho longo e
afilado (VIEIRA, 1946; CABRERA & YEPES, 1960; SILVA, 1994; NOWAK, 1999; CÂMARA &
MURTA, 2003).
42
3
2
m
4
4
pm
1
1
c
3
3
i:dentária Fórmula =
De hábitos solitários, crepusculares e noturnos, alimenta-se de pequenos vertebrados,
como roedores, marsupiais e répteis, além de insetos e frutos, principalmente, “fruta-do-lobo” ou
“lobeira” (Solanum lycocarpum). Pode incluir em sua dieta presas como “veado-campeiro”
(Ozotocerus bezoarticus), “cateto” (Pecari tajacu) e “cachorro-do-mato” (Cerdocyon thous)
(BESTELMEYER & WESTBROOK, 1998; JUAREZ & MARINHO-FILHO, 2002; RODRIGUES,
2002; CHEIDA 2005). Também pode ocorrer o consumo de carniça e ovinos domésticos, como
galinhas, sendo raras as predações sobre animais de criação de grande e médio porte (DIETZ, 1984;
RODRIGUES, 2002). Em estudo sobre os “lobos-guará” da Fazenda Monte Alegre, verificou-se
que sua dieta é composta por frutos (45,93%), vertebrados (26,07%), insetos (12,83%), gramíneas
(10,76%) e lixo orgânico (4,41%), havendo maior consumo de frutos da palmeira “jerivá” (Syagrus
romanzoffiana), abundante durante praticamente todo o ano, “lobeiras”, pequenos roedores
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
87
Sigmodontinae e besouros (Coleoptera) (CHEIDA, 2005). Observou-se que apesar desta área
possuir um alto impacto sobre o ambiente natural, devido ao manejo de silvicultura, a espécie
mantém uma dieta semelhante à encontrada para áreas de maior preservação. Possivelmente, isso se
deva à grande parcela da Fazenda Monte Alegre que se destina à preservação de Floresta Ombrófila
Mista (Floresta com Araucária) e campos naturais, ambos habitats do “lobo-guará” (CHEIDA,
2005).
Devido ao fato de grande parte de sua dieta ser composta por frutos, é considerado um
importante agente dispersor de sementes, principalmente de “lobeiras” (DIETZ, 1984;
COURTENAY, 1994; MOTTA-JUNIOR et al., 2002; RODRIGUES, 2002; SANTOS et al., 2003;
DURIGAN et al., 2004), além de outras 23 espécies frutíferas presentes na Fazenda Monte Alegre
(CHEIDA, 2005).
É monógamo facultativo (MIRANDA, 2003), com reprodução observada em cativeiro
entre abril e junho, período em que macho e fêmea compartilham o mesmo território quando em
vida livre. A gestação possui duração de 62 a 65 dias, e de junho a setembro ocorre o nascimento de
dois filhotes em média (EISENBERG & REDFORD, 1999; MAIA & GOUVEIA, 2002).
Entretanto, na região central do Brasil, há nascimentos registrados entre os meses de abril e junho
(8).
É uma espécie ameaçada de extinção para o Estado do Paraná, em situação vulnerável
para o Brasil e “quase ameaçada” mundialmente, segundo a IUCN (International Union for
Conservation of Nature and Natural Resources) (FONSECA et al., 1994; MARGARIDO &
BRAGA, 2004; IUCN, 2004), principalmente, pela perda de habitat através da expansão da
fronteira agrícola, atropelamentos e caça predatória da espécie (DIETZ, 1984; FONSECA et al.,
1994; MOTTA-JUNIOR et al., 1996; FILHO et al., 1997; INDRUSIAK & EIZIRIK, 2003). Na
região uma das suas maiores ameaças é o risco de atropelamento na PR090 e PR160, além de abate
furtivo por pessoas que consideram o animal uma ameaça a criações e ao próprio homem.
Pseudalopex vetulus Lund, 1842 - “raposinha-do-campo”.
É uma espécie endêmica do Brasil, ocorrendo no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
Maranhão, Tocantins, Goiás, Minas Gerais, Bahia, São Paulo e Paraná, em áreas de campos naturais
e Cerrado, atingindo o limite deste bioma com a Caatinga (VIEIRA, 1946; DEANE & DEANE,
1954; FONSECA et al., 1996; EISENBERG & REDFORD, 1999; CÂMARA & MURTA, 2003; 9).
É um dos menores canídeos da América do Sul, com corpo variando de 585 a 640 mm
e cauda de 280 a 320 mm, alcançando peso de até 4 kg (CABRERA & YEPES, 1960; NOWAK,
1999). Apresenta na cabeça pelagem vermelha-amarronzada e, dorsalmente, cinza-amarronzada,
com faixa escura da nuca até a extremidade da cauda, sendo esta mais evidente nos machos adultos
8 RODRIGUES, F. H. G. Comunicação pessoal. 2005. (Prof. Dr. Universidade Federal de Minas Gerais).
9 RODRIGUES, F. H. G. Comunicação pessoal. 2005. (Prof. Dr. Universidade Federal de Minas Gerais).
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
88
(VIEIRA, 1946). A cauda é espessa com pelagem densa e os membros são esbranquiçados
(NOWAK, 1999).
42
3
2
m
4
4
pm
1
1
c
3
3
i:dentária Fórmula =
O período de acasalamento tem início em junho, com gestação de, aproximadamente,
dois meses, quando nascem de um a seis filhotes. Tanto o macho quanto a fêmea auxiliam na
alimentação da ninhada (ALBERTON, 1994; CÂMARA & MURTA, 2003; MIRANDA, 2003). É
noturno e crepuscular, vive solitário, em pares ou em pequenas unidades familiares com fêmea e
filhotes (NOWAK, 1999). É uma espécie insetívora-onívora, alimentando-se, principalmente, de
térmitas (cupins), gafanhotos, pequenos mamíferos, répteis, aves e frutos (CABRERA & YEPES,
1960; FONSECA et al., 1996; DALPONTE, 1997). Características morfológicas e dentárias
(pequenos dentes carniceiros e molares largos) indicam uma adaptação da espécie na captura de
insetos e pequenos animais.
É um dos canídeos brasileiros menos estudados (DALPONTE, 1997), constando na
Lista Vermelha da Fauna Ameaçada do Paraná e lista mundial da IUCN como espécie com dados
insuficientes para avaliação do grau de ameaça que pode estar sofrendo (MARGARIDO &
BRAGA, 2004; IUCN, 2004). Na Fazenda Monte Alegre tem-se apenas um único registro da
espécie, deslocando-se em área de reflorestamento que, no passado, se caracterizava por campo
(ROCHA et al., 2003).
Família Procyonidae
Animais de porte médio (1,1 a 7,7 kg), plantígrado ou semiplantígrado, com cinco
dedos em todos os membros e unhas não retráteis. Os membros são curtos, sendo os anteriores
móveis e ágeis, facilitando a manipulação de alimentos e escaladas em árvores. O focinho é afilado
e os olhos quase totalmente direcionados para frente. A cabeça é pequena em relação ao corpo e as
orelhas arredondadas. É característica da família a cauda longa com manchas escuras formando
anéis. Os molares dos indivíduos desta família são largos e bem adaptados para triturar alimentos
(SILVA, 1994; EISENBERG & REDFORD, 1999; EMMONS & FEER, 1999; LABATE et al.,
2001).
Vivem em regiões tropicais e temperadas, sendo algumas espécies totalmente
arborícolas, enquanto outras forrageiam no chão. Todas utilizam árvores para descanso, ninho e/ou
refúgio. São onívoros, alimentando-se de pequenos vertebrados, insetos, frutos e néctar, sendo este
último item encontrado na dieta do “jupará-verdadeiro” ou “macaco-da-meia-noite” (Potos flavus),
nativo do bioma Floresta Amazônica e também encontrado em áreas de Floresta Atlântica, e do
“olingo” ou “jupará” (Bassaricyon gobbi), da Floresta Amazônica (LABATE et al., 2001).
Nasua nasua Linnaeus, 1766 - “quati” ou “coati”.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
89
Possui ampla distribuição geográfica, ocorrendo na Argentina, Bolívia, Brasil,
Colômbia, Guiana, Peru, Venezuela, Paraguai, Suriname e Uruguai. No Brasil, está presente nos
biomas Floresta Amazônica, Cerrado, Pantanal, Floresta Atlântica e Campos Sulinos (EMMONS &
FEER, 1999; CÂMARA & MURTA, 2003).
O corpo mede 47 a 58 cm de comprimento e a cauda 42 a 55 cm, sendo os machos
maiores que as fêmeas. O peso varia de 3 a 7,2 kg (EISENBERG & REDFORD, 1999), apesar de
na Fazenda Monte Alegre terem sido registrados indivíduos com peso entre 2,7 e 10 kg (ROCHA et
al., 2004a). A coloração é altamente variável de acordo com a idade ou devido a variações
individuais, indo de castanha-avermelhada à preta nas partes superiores, e amarelada na região
ventral. Os pêlos são abundantes e compridos, inclusive na cauda, onde há variação de coloração
formando anéis. A cauda é semipreênsil, auxiliando o animal durante a locomoção em árvores, e
ficando levantada durante sua movimentação no solo. Os membros anteriores são mais curtos e
escuros que os posteriores, sendo ambos providos de fortes garras que auxiliam na procura por
alimentos no solo e na movimentação entre galhos de árvores. O focinho é escuro, longo, muito
sensível e com extremidade móvel (VIEIRA, 1946; SILVA, 1994; EISENBERG & REDFORD,
1999; EMMONS & FEER, 1999; PERACCHI et al., 2002).
40
2
2
m
4
4
pm
1
1
c
3
3
i:dentária Fórmula =
É uma espécie associada a florestas, de hábito terrestre e escansorial e atividade diurna.
Vive em grupos de até 40 indivíduos, constituídos, geralmente, por fêmeas, sub-adultos e filhotes de
até dois anos de idade. Os machos, quando alcançam a maturidade sexual, são expulsos do bando e
tornam-se solitários, aumentando sua atividade noturna. Durante a época reprodutiva, apenas um
macho é admitido em cada grupo (EISENBERG & REDFORD, 1999; EMMONS & FEER, 1999;
PERACCHI et al., 2002; CÂMARA & MURTA, 2003; INDRUSIAK & EIZIRIK, 2003). O
período de gestação é de aproximadamente 70 dias, nascendo de dois a sete filhotes (CÂMARA &
MURTA, 2003).
FONSECA et al. (1996) considera a espécie frugívora/onívora, sendo a dieta
constituída, principalmente, de invertebrados, frutos, bromélias e pequenos vertebrados
(EISENBERG & REDFORD, 1999; BEISIEGEL, 2001; MIRANDA, 2003; ALVES-COSTA et al.,
2004). Devido ao consumo de frutos e sementes defecadas intactas, os “quatis” podem ser
considerados agentes dispersores de sementes (ROCHA, 2001; ALVES-COSTA et al., 2004). Uma
curiosidade é o fato de escalarem árvores rapidamente ao se sentirem ameaçados, podendo pular ao
chão ao ouvirem som de tiros ou se assustarem, para então correr (IHERING 1911 apud
INDRUSIAK & EIZIRIK, 2003).
Na localidade de Lagoa, no interior da Fazenda Monte Alegre, são habituados à
presença humana e, conseqüentemente, invadem residências e reviram lixeiras à procura de
alimentos, causando transtorno às pessoas. Nesta relação os quatis também são prejudicados por
ingerirem alimentos inadequados à sua dieta, o que traz problemas de dentição e até mesmo
obesidade.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
90
O desmatamento e conseqüente fragmentação de florestas é o principal fator de ameaça
à espécie. Dentro da área da Fazenda Monte Alegre é o segundo animal mais atropelado na PR160,
com 83 mortes em 9 anos de coleta de dados (ZALESKI, 2003). Apesar de ser considerada uma
espécie amplamente distribuída e relativamente comum no Brasil, está ameaçado de extinção no
Estado do Rio Grande do Sul (BEISIEGEL, 2001; INDRUSIAK & EIZIRIK, 2003).
Procyon cancrivorus G. Cuvier, 1798 - “mão-pelada” ou “guaxinim”.
É encontrado na Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Guiana, Panamá,
Peru, Suriname, Trinidad e Tobago e Venezuela. No Brasil ocorre em todos os biomas: Floresta
Amazônica, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Floresta Atlântica e Campos Sulinos (FONSECA et al.,
1996; EMMONS & FEER, 1999; CÂMARA & MURTA, 2003).
O comprimento do corpo varia entre 54 e 100 cm, e a cauda entre 25 e 38 cm. Pode
pesar entre 3 e 7 kg, sendo os machos, geralmente, maiores que as fêmeas. Na área da Fazenda
Monte Alegre, há registros que indicam uma variação de 2,9 a 10 kg em seu peso (ROCHA et al.,
2004a). É facilmente identificado pela máscara preta que desce dos olhos à base da mandíbula,
pelos vários anéis escuros na cauda e à maior altura dos membros posteriores. Filhotes possuem
corpo com coloração amarelada, mais uniforme que nos adultos. Os membros possuem unhas não
retráteis e os pés são grandes e plantígrados. Olhos são bem arredondados com vibrissas longas, que
também são encontradas ao redor da boca (VIEIRA, 1946; SILVA, 1994; NOWAK, 1999;
EMMONS & FEER, 1999; CÂMARA & MURTA, 2003; MIRANDA, 2003).
40
2
2
m
4
4
pm
1
1
c
3
3
i:dentária Fórmula =
O nome popular “mão-pelada” refere-se às mãos desprovidas de pêlos, que deixam
pegadas semelhantes às mãos de uma criança (SILVA, 1994; CÂMARA & MURTA, 2003). Possui
o tato bem desenvolvido e agilidade manual que o permitem procurar por peixes e outros
organismos aquáticos em água rasa ou lodo, geralmente lavando-os antes de ingeri-los (SILVA,
1994; MIRANDA, 2003).
Vive tanto em áreas florestais como nos campos, sempre perto de cursos d’água
(NOWAK, 1999; EISENBERG & REDFORD, 1999). É um animal de hábitos noturnos, solitário e,
preferencialmente, terrestre, apesar de possuir comportamento escansorial e ser bom nadador.
Possui dieta onívora, alimentando-se de moluscos, peixes, crustáceos, anuros, insetos e frutos
(FONSECA et al., 1996; EMMONS & FEER, 1999; CÂMARA & MURTA, 2003; MIRANDA,
2003). A gestação dura 64 dias e a ninhada é de 2 a 4 filhotes (PERACCHI et al., 2002).
Na área da Fazenda Monte Alegre é comum encontrar seus rastros e fezes sempre
próximos a cursos d’água, sendo que esta última, geralmente, apresenta grande quantidade de
sementes da palmeira “jerivá” (Syagrus romanzoffiana) e também do crustáceo Aegla castro,
comum nos rios das região. É um animal de difícil visualização, porém não raro no local.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
91
Família Mustelidae
Animais de corpo longo, cabeça pequena e ovalada, orelhas e olhos pequenos, e cauda
menor que o comprimento do corpo. São plantígrados, possuindo cinco dedos em todos os
membros, que são relativamente curtos. Seus dedos são providos de unhas fortes, curvadas e não-
retráteis. O pêlo é denso e possuem glândulas anais bem desenvolvidas, responsáveis pela produção
de forte odor para marcação de território e defesa. São terrestres, arborícolas ou aquáticos e grandes
predadores, podendo predar animais de peso maior que o seu (SILVA, 1994; EMMONS & FEER,
1999; EISENBERG & REDFORD, 1999; PIMENTEL et al., 2001).
Eira barbara Linnaeus, 1758 - “irara” ou “papa-mel”.
Ocorre desde o sul do México até o norte da Argentina. No Brasil é encontrada na
Floresta Amazônica, Cerrado, Floresta Atlântica e Pantanal (FONSECA et al., 1996; NOWAK,
1999; EISENBERG & REDFORD, 1999). Fêmeas podem ter área de vida de 9 a 16 km2 e machos
de 24,4 km2 (EISENBERG & REDFORD, 1999).
Apresenta coloração geral marrom-escura à preta, incluindo os membros e a cauda,
sendo esta mais acinzentada. Todavia, na área da Fazenda Monte Alegre, esporadicamente são
visualizados indivíduos de coloração quase branca, porém sem serem albinos. O corpo é de médio
porte, comprido, com membros curtos e cauda longa. O comprimento do corpo varia de 56 a 68 cm
e a cauda de 37,5 a 47 cm. O peso é de 4 a 7 kg (VIEIRA, 1946; SILVA, 1994; NOWAK, 1999;
EMMONS & FEER, 1999; MIRANDA, 2003; CÂMARA & MURTA, 2003), mas pode variar
entre 3,7 a 11,1 kg, como registrado para a Fazenda Monte Alegre (ROCHA et al., 2004a).
34
2
1
m
3
3
pm
1
1
c
3
3
i:dentária Fórmula =
De hábitos solitários, os períodos diurno e crepuscular são os de maior atividade,
permanecendo o restante do dia dentro de tocas feitas por outros mamíferos ou em ocos de árvores.
São muito ágeis, podendo escalar, correr e nadar muito bem, sendo considerado por FONSECA et
al. (1996) um animal escansorial. A dieta é constituída de animais, frutos, cana-de-açúcar e mel. É
freqüentemente encontrado em áreas de vegetação densa, solitária, podendo também ocorrer em
pares. O período de gestação é de 63 a 70 dias, nascendo de três a quatro filhotes (SILVA, 1994;
NOWAK, 1999; EISENBERG & REDFORF, 1999; CÂMARA & MURTA, 2003; INDRUSIAK &
EIZIRIK, 2003).
A principal causa de ameaça é a perda de habitat e atropelamento. Entretanto,
também pode sofrer pressão de caça devido a problemas que causa predando galinhas e atacando
caixas de abelhas cultivadas por apicultores (INDRUSIAK & EIZIRIK, 2003).
Galictis cuja Molina, 1782 - “furão-pequeno”.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
92
Distribui-se pela Argentina, Bolívia, Peru, Chile, Paraguai e Brasil. Neste último,
ocorre nos biomas Cerrado, Floresta Atlântica, Caatinga e Campos Sulinos (WILSON & REEDER,
1993; FONSECA et al., 1996; NOWAK, 1999; CÂMARA & MURTA, 2003).
Uma faixa negra, que se inicia no focinho e prolonga-se pela parte inferior da cabeça e
pescoço até os membros anteriores, é característica marcante da espécie. Acima dos olhos segue
uma faixa branco-amarelada em forma de “V” até atrás das orelhas. Seu corpo é alongado e seus
membros curtos, auxiliando-o a correr próximo ao chão e esconder-se em pequenas tocas ou
vegetação baixa e fechada. O comprimento da cabeça e do corpo varia de 40 a 45 cm, e o da cauda
de 15 a 19 cm. O peso oscila entre 1 a 3 kg (VIEIRA, 1946; SILVA, 1994; NOWAK, 1999;
MIRANDA, 2003).
34
2
1
m
3
3
pm
1
1
c
3
3
i:dentária Fórmula =
Possuem hábito tanto diurno como noturno, sendo animais terrestres muito ágeis, que
também nadam e escalam bem. Vivem sob tronco de árvores em tocas escavadas. Podem ser vistos
em pares ou grupos, sendo os machos mais solitários. Na área da Fazenda Monte Alegre é
comumente avistado às margens de estradas e rodovias. A dieta inclui pequenos mamíferos, aves e
seus ovos, répteis, anuros, invertebrados e frutos. O período de gestação é de três meses, nascendo
de dois a quatro filhotes (SILVA, 1994; FONSECA et al., 1996; NOWAK, 1999; CÂMARA &
MURTA, 2003; MIRANDA, 2003).
Lontra longicaudis Olfers, 1818 - “lontra” ou “lobinho-de-rio”.
Distribui-se do México ao Uruguai, sendo que, no Brasil, habita os biomas Floresta
Amazônica, Cerrado, Pantanal, Floresta Atlântica e Campos Sulinos, até 3.000m de altitude
(FONSECA et al., 1996; NOWAK, 1999; EMMONS & FEER, 1999). Na área da Fazenda Monte
Alegre, apesar de rara, ainda são encontradas evidências de sua presença sempre associadas a cursos
d’água.
O corpo é alongado com comprimento variando de 53 a 80 cm, e 36 a 50 cm na cauda,
sendo os machos maiores que as fêmeas. Possui coloração parda, formada por duas camadas de pêlo
denso, e mancha branca na região da garganta. Seu peso varia de 5 a 14 kg (EISENBERG &
REDFORD, 1999; PERACCHI et al., 2002; MARGARIDO & BRAGA, 2004).
36
2
1
m
3
4
pm
1
1
c
3
3
i:dentária Fórmula =
É um animal semiaquático que freqüenta ambientes de água doce (rios e lagos) e
salgada (mangues, baías, lagunas e enseadas) (INDRUSIAK & EIZIRIK, 2003, MARGARIDO &
BRAGA, 2004). Possui membranas interdigitais, cauda musculosa e flexível utilizada como leme
na água, e capacidade de fechar as narinas durante mergulho (MIRANDA, 2003). De hábito diurno
e noturno, vive solitária, alimentando-se, principalmente, de peixes, moluscos e crustáceos, além de
anuros, aves, pequenos mamíferos e outros invertebrados (SILVA, 1994; PARDINI, 1998;
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
93
EMMONS & FEER, 1999; QUADROS & MONTEIRO-FILHO, 2001; PERACCHI et al., 2002).
Para abrigar-se, constrói tocas em margens de rios, formando galerias no seu interior. Marca seu
território depositando fezes e muco das glândulas anais em rochas e troncos (INDRUSIAK &
EIZIRIK, 2003). O período de gestação é de dois meses, podendo nascer de um a cinco filhotes
(SILVA, 1994; MARGARIDO & BRAGA, 2004).
Além da Fazenda Monte Alegre, já foi registrada sua presença em outra área de
vegetação semelhante (mosaico de matas nativas e silvicultura) no Estado do Rio Grande do Sul
(INDRUSIAK & EIZIRIK, 2003). Um dado curioso para a Fazenda foi o atropelamento de duas
lontras na PR160 em anos diferentes e em locais distantes de cursos d’água significativos para o que
se conhece para a espécie, indicando seu grande deslocamento e diferentes ambientes abrangidos
em seu território.
É considerada espécie vulnerável no Estado do Paraná, em outros estados do Brasil, na
Lista Brasileira de Fauna Ameaçada de Extinção, e espécie com dados insuficientes para avaliação
do grau de ameaça sofrido, segundo a lista mundial da IUCN. Uma das principais causas de ameaça
é a supressão de matas ciliares e a contaminação e uso de cursos d’água para mineração, navegação
e esportes náuticos sem controle. Também é perseguida por prejuízos que pode causar às atividades
de piscicultura. Além disso, no passado, a caça pelo valor de sua pele foi um importante fator de
diminuição de suas populações (INDRUSIAK & EIZIRIK, 2003; MARGARIDO & BRAGA, 2004;
IUCN, 2004).
Família Felidae
A morfologia básica consiste num corpo flexível, musculoso e alongado, enquanto os
membros locomotores são proporcionalmente curtos. Estes possuem cinco dedos com unhas
retrácteis (exceto para o “guepardo” Acinonyx). São os animais melhores adaptados ao
carnivorismo, possuindo fórmulas dentárias distintas, com grandes dentes carniceiros e limitado
número de pré-molares. Com relação aos hábitos sociais, a maioria das espécies é solitária, vivendo
assim em baixas densidades (NOWAK, 1991; OLIVEIRA, 1994; ADANIA et al., 1998;
EISENBERG & REDFORD, 1999; EMMONS & FEER, 1999).
3028
1
1
mpm
1
1
c
3
3
i:dentária Fórmula 232 =
Leopardus pardalis Linnaeus, 1758 - “jaguatirica” ou “oncinha”.
É encontrada do sudoeste do Texas (Estados Unidos) e oeste do México ao norte da
Argentina, até 1.800 m de elevação. No Brasil ocorre em todas as regiões, habitando todos os
biomas: Floresta Amazônica, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Floresta Atlântica e Campos Sulinos.
Ocupa, dependendo do habitat, de 1 a 12 km2 (OLIVEIRA & CASSARO, 1999; EMMONS &
FEER, 1999; MIRANDA, 2003).
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
94
É uma espécie de porte médio, com comprimento da cabeça e corpo entre 67 e 101,5
cm e cauda proporcionalmente curta (cerca de 46% do comprimento da cabeça e corpo, com média
de 35,4 cm). Os machos pesam de 8 a 14,5 kg e as fêmeas de 8 a 9 kg, porém há animais na
Fazenda Monte Alegre registrados com peso variando de 7,2 kg para fêmeas até 16,5 kg para os
machos (ROCHA et al., 2004a). A coloração pode variar do cinza-amarelado bem pálido ou
amarelo-claro a um castanho-ocráceo. As manchas negras tendem a formar rosetas abertas que
coalescem formando bandas longitudinais nas laterais do corpo (OLIVEIRA & CASSARO, 1999;
EMMONS & FEER, 1999).
30
1
1
mpm
1
1
c
3
3
i:dentária Fórmula 2
3=
Os hábitos são solitários e terrestres, e a atividade é, predominantemente, noturna e
crepuscular. A dieta é constituída de pequenos mamíferos, como roedores e marsupiais, além de
lagartos, aves, serpentes e outros vertebrados. O período de gestação dura de 70 a 85 dias, nascendo
de 1 a 4 filhotes (OLIVEIRA, 1994; OLIVEIRA & CASSARO, 1999; CÂMARA & MURTA,
2003).
Devido à destruição de seu hábitat e à caça predatória para comercialização de peles,
esta espécie é considerada vulnerável para o Estado do Paraná e criticamente em perigo de extinção
para outros estados brasileiros, além de constar na Lista Brasileira de Fauna Ameaçada de Extinção
(MARGARIDO & BRAGA, 2004). Na área da Fazenda Monte Alegre foi o felino com maior
número de registros durante estudo com uso de armadilhas fotográficas ou “camera trap” (disparo
por infravermelho) (MAZZOLLI, 2000).
Leopardus tigrinus Schreber, 1775 - “gato-do-mato-pequeno”.
Ocorre da Costa Rica ao norte da Argentina e em todo o Brasil, até 3.200 m de altitude.
Ocupa todos os biomas brasileiros: Floresta Amazônica, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Floresta
Atlântica e Campos Sulinos, podendo habitar regiões próximas a áreas agrícolas (OLIVEIRA &
CASSARO, 1999; EMMONS & FEER, 1999; FONSECA et al., 1996).
É considerada a menor espécie de felino do Brasil, com medidas semelhantes às do
gato doméstico (Felis catus): comprimento total de 60 a 85 cm, sendo a cauda representada por
cerca de 60% do corpo. O peso mínimo é de 1,5 kg, podendo chegar a 3,5 kg. Na Fazenda Monte
Alegre os dados de peso deste animal variam de 1,7 a 2,84 kg (ROCHA et al., 2004a). A coloração
ocorre em tonalidades de amarelo e castanho, sendo a existência de indivíduos melânicos
relativamente comum. Geralmente as rosetas são pequenas, abertas e em maior quantidade que no
gato-maracajá (Leopardus wiedii) (OLIVEIRA & CASSARO, 1999; EMMONS & FEER, 1999;
MIRANDA, 2003).
30
1
1
mpm
1
1
c
3
3
i:dentária Fórmula 2
3=
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
95
Os hábitos são solitários, predominantemente noturnos, mas a atividade diurna pode
ser elevada em algumas áreas. Possui hábito escansorial e sua alimentação é baseada em roedores,
lagartos e pequenas aves (FONSECA et al., 1996; OLIVEIRA & CASSARO, 1999; EMMONS &
FEER, 1999). Entretanto, PERACCHI et al. (2002) também registraram um indivíduo com o
estomago repleto de “jaboticaba” (Plinia trunciflora). O período de gestação dura entre 55 e 78
dias, nascendo apenas um filhote ou, eventualmente, dois (CÂMARA & MURTA, 2003).
Devido à destruição de seu hábitat e à caça predatória para comercialização de peles,
esta espécie é considerada vulnerável para o Estado do Paraná e segundo a Lista Brasileira de Fauna
Ameaçada de Extinção, em perigo de extinção para outros estados brasileiros, e “quase ameaçada”
segundo a lista mundial da IUCN (MARGARIDO & BRAGA, 2004; IUCN, 2004).
Leopardus wiedii Schinz, 1821 - “gato-maracajá”.
Ocorre das planícies costeiras do México até o norte do Uruguai e Argentina, e em
todo o Brasil (possível exceção do bioma Caatinga) até o norte do Estado do Rio Grande do Sul,
alcançando no máximo 900 m de altitude (OLIVEIRA & CASSARO, 1999; EMMONS & FEER,
1999). Geralmente, é encontrado em locais não perturbados pela presença humana (MARGARIDO
& BRAGA, 2004; FONSECA et al., 1996).
Possui comprimento de cabeça e corpo de 53,6 cm, e cauda longa com 37,6 cm, em
média. Caracteriza-se por apresentar olhos grandes e protuberantes, focinho saliente e patas
grandes. O peso é de aproximadamente 3,3 kg (OLIVEIRA, 1994; OLIVEIRA & CASSARO,
1999; EMMONS & FEER, 1999), tendo sido registrado um indivíduo macho atropelado na PR090,
com 3,5 kg. A coloração pode variar entre o amarelo-acinzentado e castanho-ocráceo. As manchas
possuem padrão variado, de pintas sólidas a bandas longitudinais, e as rosetas são largas, completas
e bem espaçadas (OLIVEIRA & CASSARO, 1999). Possui articulações especiais e flexíveis nas
patas traseiras, permitindo uma rotação de até 180 graus destes membros, o que resulta em rara
habilidade de descer árvores de cabeça para baixo (MIRANDA, 2003).
30
1
1
mpm
1
1
c
3
3
i:dentária Fórmula 2
3=
Os hábitos são solitários e noturnos. É extremamente adaptado à vida em árvores e
muito hábil no solo, sendo assim considerado um animal escansorial (FONSECA et al., 1996). Em
reflexo a estes hábitos, sua dieta consiste, principalmente, de aves e pequenos roedores arborícolas
(OLIVEIRA & CASSARO, 1999). O período de gestação varia de 81 a 84 dias, nascendo apenas
um filhote.
Devido à destruição de seu hábitat e à caça predatória para comercialização de peles,
esta espécie é considerada vulnerável para o Estado do Paraná e em perigo de extinção para outros
estados brasileiros, além de constar na Lista Brasileira de Fauna Ameaçada de Extinção
(MARGARIDO & BRAGA, 2004). Na área da Fazenda Monte Alegre é raramente observada.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
96
Herpailurus yaguaroundii E. Geoffroy, 1803 - “gato-mourisco”, “jaguarundi” ou “jagouaroundi”.
Distribui-se do sul do Texas (Estados Unidos) à Argentina e Paraguai, e por todo o
Brasil, até 2.200m de altitude. Habita todos os biomas brasileiros: Floresta Amazônica, Cerrado,
Caatinga, Pantanal, Floresta Atlântica e Campos Sulinos (OLIVEIRA & CASSARO, 1999;
EMMONS & FEER, 1999; FONSECA et al., 1996).
Apresenta cabeça pequena e achatada, e orelhas arredondadas e curtas. O corpo é
delgado e alongado, medindo, em média, 63,7 cm, com uma cauda longa de, aproximadamente,
41,9 cm. O peso é de cerca de 5,2 kg, sendo que na Fazenda Monte Alegre há registro de um macho
de 5 kg (ROCHA et al., 2004a). A coloração é uniforme, variando de preto ou castanho-escuro ao
avermelhado. Os indivíduos de coloração mais escura estão associados a florestas, enquanto os mais
claros a ambientes mais secos (SILVA, 1994; OLIVEIRA & CASSARO, 1999; EMMONS &
FEER, 1999; PERACCHI et al., 2002; CÂMARA & MURTA, 2003; MIRANDA, 2003).
30
1
1
mpm
1
1
c
3
3
i:dentária Fórmula 2
3=
Sua dieta consiste, principalmente, de pequenos roedores, anfíbios, répteis e aves.
Possui hábitos diurnos, e vive em pares (SILVA, 1994; OLIVEIRA & CASSARO, 1999;
PERACCHI et al., 2002; CÂMARA & MURTA, 2003; MIRANDA, 2003). Na Fazenda Monte
Alegre costuma ser observado em atividade durante o dia, confirmado o já descrito para a espécie.
A gestação dura cerca de 75 dias, após o qual nascem, em média, 2 filhotes (OLIVEIRA &
CASSARO, 1999; CÂMARA & MURTA, 2003).
É uma espécie sobre a qual existem dados insuficientes para avaliação do grau de
ameaçada que pode estar sofrendo, sendo considerada vulnerável e provavelmente ameaçada em
alguns estados do Brasil. Sabe-se que também sofre pressão de caça, como outros felinos brasileiros
(EISENBERG & REDFORD, 1999; MARGARIDO & BRAGA, 2004).
Puma concolor Linnaeus, 1771 - “onça-parda”, “puma”, “suçuarana”, “onça-vermelha” ou “leão-
baio”.
É o felino de maior área de distribuição no continente americano, ocorrendo do oeste
do Canadá ao extremo sul do continente sul-americano e por todo o Brasil (OLIVEIRA &
CASSARO, 1999; EMMONS & FEER, 1999; MIRANDA, 2003). Está presente em todos os
biomas brasileiros e possui adaptação a diversos tipos de ambientes e climas, de desertos a florestas
temperadas (CÂMARA & MURTA, 2003; MIRANDA, 2003). Na área da Fazenda Monte Alegre
encontra-se uma das maiores populações do Estado do Paraná (MAZZOLLI, 2000).
A coloração da pelagem é marrom-claro uniforme, com exceção do peito mais claro, a
cabeça é relativamente pequena, com olhos claros e focinho rosado. É a segunda maior espécie de
felino no Brasil, com comprimento médio de 108 cm e cauda medindo, aproximadamente, 61,5 cm.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
97
O peso varia de 35 a 70 kg (VIEIRA, 1946; MARGARIDO & BRAGA, 2004; OLIVEIRA &
CASSARO, 1999; MIRANDA, 2003), apesar de na área da Fazenda Monte Alegre ter sido
registrada variação de 22 a 41,2 kg (ROCHA et al., 2004a). Além disso, um dado curioso é o
freqüente relato por funcionários da Klabin da observação de indivíduos melânicos, fato este até
agora não confirmado por especialistas, porém, com possibilidade de ocorrência.
30
1
1
mpm
1
1
c
3
3
i:dentária Fórmula 2
3=
Considerado solitário e terrestre, possui atividade tanto noturna quanto diurna,
alimentando-se de animais de porte variado. Tem como preferência mamíferos, tais como “cervos”
(Mazama), “pacas” (Cuniculus) e “cutias” (Dasyprocta), além de serpentes (MARGARIDO &
BRAGA 2004; OLIVEIRA & CASSARO, 1999; EMMONS & FEER, 1999; CÂMARA &
MURTA, 2003; MIRANDA, 2003). Na área da Fazenda Monte Alegre, MAZZOLLI (2000)
registrou um consumo mais freqüente de “tatu-galinha” (Dasypus novemcinctus) e “cateto” (Pecari
tajacu). O período de gestação dura de 84 a 98 dias, nascendo de um a seis filhotes, que apresentam
manchas pelo corpo (OLIVEIRA & CASSARO, 1999).
Devido à destruição de seu hábitat e à caça predatória para comercialização de peles,
esta espécie é considerada vulnerável para o Estado do Paraná e segundo a Lista Brasileira de Fauna
Ameaçada de Extinção, criticamente em perigo para outros estados brasileiros, além de “quase
ameaçada” segundo a lista mundial da IUCN (MARGARIDO & BRAGA, 2004; IUCN, 2004).
Panthera onca Linnaeus, 1758 - “onça-pintada”, “onça-preta”, “onça”, “jaguar”, “tigre”, “jaguar-
canguçu”, “jaguaretê” ou “canguçu”.
É o maior felino do continente americano, sendo sua distribuição originalmente
registrada do sudoeste dos Estados Unidos ao norte da Argentina (EISENBERG & REDFORD,
1999). Entretanto, devido à perda de habitat por diversos fatores antrópicos, atualmente, a espécie
se restringe às planícies costeiras do México, países da América Central, como Belize, Costa Rica e
Panamá, e América do Sul (OLIVEIRA & CASSARO, 1999; SILVEIRA, 1999). No Brasil, ocorre
em todos os biomas, desde aqueles com grande cobertura florestal, como a Floresta Atlântica e a
Floresta Amazônica, ou regiões abertas, como os Campos Sulinos, Pantanal, Cerrado e Caatinga
(FONSECA et al., 1996). São mais favoráveis à sua presença as áreas com alto grau de
conservação, grande disponibilidade de presas e próximas a cursos d’água (CHEBEZ, 1994;
SILVA, 1994; EMMONS & FEER, 1999; MARGARIDO & BRAGA, 2004; SILVEIRA, 2004).
30
1
1
mpm
1
1
c
3
3
i:dentária Fórmula 2
3=
O comprimento do corpo e cabeça é de 1,337 a 1,472 m, mais cauda de 440 a 600 cm,
e peso de 61 a 158 kg, sendo os machos pouco maiores que as fêmeas (SEYMOR, 1989;
EISENBERG & REDFORD, 1999; EMMONS & FEER, 1999; OLIVEIRA & CASSARO, 1999).
Além disso, indivíduos de áreas abertas parecem ser maiores que aqueles que vivem em áreas de
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
98
floresta (EMMONS & FEER, 1999). Possui corpo robusto, cabeça, membros e patas grandes, e
orelhas pequenas e arredondadas (SILVA, 1994; OLIVEIRA & CASSARO, 1999). A coloração
tende mais a um amarelado-acastanhado na cabeça, dorso, patas e cauda, e esbranquiçado no peito e
ventre, sendo o corpo inteiramente pintado com rosetas negras de diferentes tamanhos, que chegam
a até 90 mm (OLIVEIRA & CASSARO, 1999; MARGARIDO & BRAGA, 2004). Não são raros os
indivíduos melânicos, ou seja, inteiramente negros, e com rosetas facilmente visíveis caso o
observador esteja próximo ao animal (SILVA, 1994; OLIVEIRA & CASSARO, 1999). Tais
animais são frutos de cruzamentos entre indivíduos melânicos e/ou não-melânicos.
O período de gestação é de 90 a 111 dias, nascendo de um a quatro filhotes ou uma
média de dois animais (OLIVEIRA & CASSARO, 1999; MARGARIDO & BRAGA, 2004). Possui
hábito tanto noturno quanto diurno, sendo um animal solitário e terrestre, apesar de escalar árvores
e ser ótimo nadador (CHEBEZ, 1994; NOWAK, 1999; INDRUSIAK & EIZIRIK, 2003). Sua dieta
é essencialmente carnívora, composta por animais de médio a grande porte, como ”anta” (Tapirus
terrestris), “capivara” (Hydrochaeris hydrochaeris), “cateto” (Pecari tajacu), “queixada” (Tayassu
pecari), “veado” (Mazama spp. e outros), “paca” (Cuniculus paca), “tamanduá-bandeira”
(Myrmecophaga tridactyla) e “jacaré” (Caiman spp.), além de peixe, cágado, tatu e preguiça,
através de ataque por trás da presa, atingindo-lhe o pescoço e, principalmente, a cabeça (CHEBEZ,
1994; SILVA, 1994; FONSECA et al. 1996; EMMONS & FEER, 1999; EISENBERG &
REDFORD, 1999; SILVEIRA, 1999). São animais territorialistas, podendo os machos, além de
possuírem territórios maiores, sobreporem estes com o de várias fêmeas (CRAWSHAW, 1995;
EISENBERG & REDFORD, 1999; SILVEIRA, 2004). Para marcação de seu território, utilizam
sinais visuais, olfativos e auditivos (EISENBERG & REDFORD, 1999).
É um dos felinos mais temidos pelo homem, juntamente com a “onça-parda” (Puma
concolor), principalmente, por poder predar criações de animais domésticos, como bovinos
(SILVA, 1994; EISENBERG & REDFORD, 1999; SILVEIRA, 2004). Ataques a humanos são
raros, ocorrendo, especialmente, em situações de estresse, como defesa de filhotes e de presas
abatidas, e durante caçadas (INDRUSIAK & EIZIRIK, 2003). É considerada criticamente ameaçada
de extinção no Estado do Paraná, vulnerável segundo a Lista Brasileira de Fauna Ameaçada de
Extinção e “quase ameaçada” segundo a lista mundial da IUCN (MARGARIDO & BRAGA, 2004;
IUCN, 2004). Os principalmente fatores do grande declínio populacional da espécie são perda de
habitat pelo desmatamento, caça predatória e envenenamento como forma de controle da espécie na
depredação de animais domésticos, e caça comercial pelo alto valor de sua pele (LEITE, 2000;
CRAWSHAW, 2003; INDRUSIAK & EIZIRIK, 2003; MARGARIDO & BRAGA, 2004).
Na Fazenda Monte Alegre e região centro-leste do Estado do Paraná, a “onça-pintada”
é uma espécie provavelmente extinta, cujo último registro visual confiável data da década de 60.
Porém, nos últimos anos, entre 2001 e 2005, ocorreu um aumento no número de relatos por parte
dos funcionários da Klabin de visualização deste animal, todavia, ainda sem a confirmação de
especialistas.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
99
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADANIA, C. H.; DINIZ, L. S. M.; GOMES, M. S.; FILONI, C.; SILVA, J. C. R. Avaliação das
condições veterinárias e de manejo dos pequenos felinos neotropicais em cativeiro no Estado de São
Paulo. Revista de Educação Continuada do Conselho Regional de Medicina Veterinária do
Estado de São Paulo, v.1, n.1, p. 44-54, 1998.
ALDERTON, D. Foxes, wolves and wild dogs of the world. Ed. Blandford, 1994. p.192.
ALONSO-PAZ, E.; RODRÍGUEZ-MAZZINI, R.; CLARA, M. Dispersión de la palma butiá (Butia
capitata) por el zorro de monte (Cerdocyon thous) en montes nativos de la Reserva de Biosfera,
Bañados del Este, Uruguay. Comunicaciones Botanicas del Museo de Historia Natural de
Montevideo, Montevideo, v.104, n. 5, p.1-4, 1995.
ALVES-COSTA, C. P.; FONSECA, G. A. B.; CHRISTÓFARO, C. Variation in the diet of the
brown-nosed coati (Nasua nasua) in the southeastern Brazil. Journal of Mammalogy, Cambridge,
v. 85, n. 3, p. 478-482, 2004.
BEISIEGEL, B. M. Notes on the coati, Nasua nasua (Carnivora: Procyonidae) in an atlantic forest
area. Brazilian Journal of Biology. São Carlos, v. 61, n. 4, p. 689-692, 2001.
BERTA, A. Cerdocyon thous. Mammalian Species,Washington, v.186, p.1-4, 1982.
BERTA, A. Origin, diversification and zoogeography of the south american Canidae. In:
PATTERSON, B. N.; TIMM, R. M. (Eds.). Studies in neotropical mammalogy. Fieldiana:
Zoology, New Series, v. 39, 1987. p. 455-471.
BESTELMEYER, S. V.; WESTBROOK, C. Maned wolf (Chrysocyon brachyurus) predation on
pampas deer (Ozotocerus bezoarticus) in central Brazil. Mammalia, Paris, v. 62, n. 4, p. 591-595,
1998.
BISBAL, F.; OJASTI, J. Nicho trofico del zorro Cerdocyon thous (Mammalia, Carnivora). Acta
Biologica Venezuelica, Caracas, v.10, n. 4, p. 469-496, 1980.
BRADY, C. A. Obervations on the behaviour and ecology of the crab-eating fox (Cerdocyon
thous). In: EISENBERG, J. F. (Ed.). Studies of vertebrate ecology in the northern neotropics.
Washington, D.C.: Smithsonian Instit. Press. 1979. p.161-171.
BRADY, C. A. Reproduction, growth and parental care in crab-eating foxes (Cerdocyon thous) at
the National Zoological Park. International Zoo. Yearbook, Washington, v. 18, p.130-134. 1978.
BUSTAMANTE, R. O.; SIMONETTI, J. A.; MELLA, J. E. Are foxes legitimate and efficient seed
dispersers? A field test. Acta Oecologia, Montrouge, v.13, n.2 p. 203-208. 1992.
CABRERA, A.; YEPES, J. Mamíferos sud americanos. Vol. 1. 2ª ed. Buenos Aires: Editora
Ediar. 1960.187 p.
CÂMARA, T.; MURTA, R. Mamíferos da Serra do Cipó. Belo Horizonte: Editora PUC-
Minas/Museu de Ciências Naturais, 2003.129 p.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
100
CHEBEZ, J. C. Los que se ván. Buenos Aires: Albatroz, 1994. 604 p.
CHEIDA, C. C. Dieta e dispersão de sementes pelo lobo-guará Chrysocyon brachyurus (Illiger
1815) em uma área com campo natural, Floresta Ombrófila Mista e silvicultura, Paraná,
Brasil. 2005 117 f. Dissertação (Mestrado em Zoologia): Setor de Ciências Biológicas,
Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 2005.
______. Dieta, dispersão de sementes e comportamento de forrageio do cachorro-do-mato
Cerdocyon thous (Carnivora, Canidae) em uma área de Floresta Atlântica: Reserva Natural
Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. 2002. 70 f. Monografia (Curso de Ciências Biológicas) -
Centro de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2002
COURTENAY, O. Conservation of the maned wolf: fruitful relationships in a changing
environment. Canid News, Oxford, v. 2, 1994.
CRAWSHAW, P. G. Comparative ecology of the ocelot (Felis pardalis) and jaguar (Panthera
onca) in a protected subtropical forest in Brazil and Argentina. 1995. Dissertação de PhD:
University of Florida, Gainesville. 1995.
CRAWSHAW, P. G. Uma perspectiva sobre a depreção de animais domésticos por grandes felinos
no Brasil. Fundação O Boticário de Proteção à Natureza: Natureza & Conservação: Revista
Brasileira de Conservação da Natureza, Curitiba, v. 1, n. 1, p. 13-15, 2003.
DALPONTE, J. C. Diet of the hoary fox, Lycalopex vetulus, in Mato Grosso, Central Brazil.
Mammalia, Paris, v. 61, n.4, p. 537-546, 1997.
DEANE, L. M.; DEANE, M. P. Encontro de leishmanias nas vísceras e na pele de uma raposa, em
zona endêmica de calazar, nos arredores de Sobral, Ceará. O Hospital, Rio de Janeiro, v. 45, p.
419-421, 1954.
DIETZ, J. M. Ecology and social organization of the maned wolf. Smithsonian Contributions to
Zoology, Washington, v. 392. p. 1-51, 1984.
DURIGAN, G.; BAITELLO, J. B.; FRANCO, G. A. D. C.; SIQUEIRA, M. F. Plantas do Cerrado
Paulista: imagens de uma paisagem ameaçada. São Paulo: Páginas & Letras Editora e Gráfica,
2004. 275 p.
EISENBERG, J. F.; REDFORD, K. H. Mammals of the neotropics: the central neotropics
(Ecuador, Peru, Bolivia, Brazil). Vol. 3. Chicago and London: The University of Chicago Press,
1999.
EMMONS, L. H.; FEER, F. Neotropical Rainforest Mammals: A Field Guide. 2 ed. Chicago:
The University of Chicago Press, 1999. 307 p.
FACURE, K. G.; GIARETTA, A. A.; MONTEIRO-FILHO, E. L. A. Food habits of the crab-eating
fox, Cerdocyon thous, in an altitudinal forest of the Mantiqueira Range, southeastern Brazil.
Mammalia, Paris, v. 67, n. 4, p. 503-511, 2003.
FACURE, K. G.; MONTEIRO-FILHO, E. L. A. Feeding habits of the crab-eating fox, Cerdocyon
thous (Carnivora, Canidae), in a suburban area of southeastern Brazil. Mammalia, Paris, v. 60, n.1,
p. 147-149. 1996.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
101
FILHO, A. P.; SILVA, C. B. X. da; LANGE, R. R.; CAVALCANTI, R. K. Projeto lobo-guará:
contribuição à conservação ambiental dos campos gerais do Paraná, Brasil. In: I Congresso
Brasileiro de Unidades de Conservação, Anais... vol. 2, Curitiba. 1997. p. 848-860.
FONSECA, G. A. B. da; HERRMANN, G.; LEITE, Y. L. R.; MITTERMEIER, R. A.; RYLANDS,
A. B.; PATTON, J. L. Lista anotada dos mamíferos do Brasil. Belo Horizonte: Conservation
International & Fundação Biodiversitas. n. 4, 1996. 38 p.
FONSECA, G. A. B.; RYLANDS, A. B.; COSTA, C. M. R.; MACHADO, R. B.; LEITE, Y. L. R.
(EDS.). Livro Vermelho dos Mamíferos Brasileiros Ameaçados de Extinção. Belo Horizonte:
Fundação Biodiversitas, 1994. 479 p.
INDRUSIAK, C.; EIZIRIK, E. Carnívoros. In: FONTANA, C. S.; BENCKE, G. A.; REIS, R. E.
Livro Vermelho da Faunda Ameaçada de Extinção no Rio Grande do Sul. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2003. p. 507-533.
IUCN-INTERNATIONAL UNION FOR CONSERVATION OF NATURE AND NAUTAL
RESOURCES. Red list of threatened species. 2004. Disponível em: <
http://www.redlist.org/>
Acesso em: 13 ago. 2005.
JUAREZ, K. M.; MARINHO-FILHO, J. Diet, habitat use and home ranges of sympatric canids in
central Brazil. Journal of Mammalogy, Cambridge, v. 83, n. 4, p. 925-933, 2002.
LABATE, A. S.; NUNES, A. L. V.; GOMES, M S. Order Carnivora, Family Procyonidae. In:
FOWLER, M. E.; CUBAS, Z. S. (Eds.). Biology, medicine and surgery of south american wild
animals. Iowa State University Press/Ames, 2001. p. 317-322.
LANGGUTH, A. Ecology and evolution in the south american canids. In: FOX, M. W. (Ed.). The
wild canids. New York: Van Nostrand Reinhold Co. 1979. p. 193-206.
LEITE, M. R. P. Relações entre a onça-pintada, onça-parda e moradores locais em três
unidades de conservação da Floresta Atlântica do Estado do Paraná, Brasil. 2000. Dissertação
(Mestrado em Zoologia): Setor de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
2000.
MAFFEI, L.; TABER, A. Área de acción, actividad y uso de habitat Del zorro patas negras,
Cerdocyon thous, en un bosque seco. Journal of Neotropical Mammalogy, Mendoza, v.10, n. 1,
p. 154-160, 2003.
MAIA, O. B.; GOUVEIA, A. M. G. Birth and mortality of maned wolves Chrysocyon brachyurus
(Illiger, 1811) in captivity. Brazilian Journal of Biology, São Carlos, v. 62, n. 1, p. 25-32, 2002.
MARGARIDO, T. C. M.; BRAGA, F. G. Mamíferos. In: MIKICH, S. B.; BÉRNILS, R. S. (Eds.).
Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do Paraná. Curitiba: Instituto Ambiental do
Paraná. 2004. p. 25-142.
MARINHO-FILHO, J. Os mamíferos da Serra do Japi. In: MORELLATO, P.C. (Org.) História
Natural da Serra do Japi: Ecologia e Preservação de uma Área Florestal no Sudeste do Brasil.
Campinas: Ed. Unicamp. FAPESP. 1992. p. 264-286.
MAZZOLLI, M. A comparison of habitat use by the mountain lion (Puma concolor)and
kodkod (Oncifelis guigna) in the southern neotropics with implications for the assessment of
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
102
their vulnerability status. 2000. 157 f. Dissertação (Mestrado) - University of Durham, Durham,
2000.
MIRANDA, E. E. Natureza, conservação e cultura: ensaios sobre a relação do homem com a
natureza no Brasil. São Paulo: Metalivros. 2003. 180 p.
MONTGOMERY, G. G.; LUBIN, Y. D. Social struture and food habits of crab-eating fox
(Cerdocyon thous) in venezuelan lhanos. Acta Cient. Venezolana, Caracas, v.29, p.392-393, 1978.
MOTTA-JUNIOR, J. C.; LOMBARDI, J. A.; TALAMONI S. A. Notes on crab-eating fox
(Cerdocyon thous) seed dispersal and food habits in southeastern Brazil. Mammalia, Paris, v. 58, n.
1, p. 156-159, 1994.
MOTTA-JUNIOR, J. C.; QUEIROLO, D.; BUENO, A. DE A.; BELENTANI, S. C. DA S. Fama
injusta: novas informações sobre a dieta do lobo-guará podem ajudar a preservá-lo. Ciência Hoje
SBPC, Rio de Janeiro, v. 31, n.185, p. 71-73, 2002.
MOTTA-JUNIOR, J. C.; TALAMONI, S. A.; LOMBARDI, J. A.; SIMOKOMAKI, K. Diet of the
maned wolf, Chrysocyon brachyurus, in central Brazil. J. Zool., Londres, n. 240, p. 277-284, 1996.
NOWAK, R. M. Walker´s Mammals of the World. 6th ed. Vol. 1 e 2. Baltimore: The John
Hopkins University Press, 1999.
OLIVEIRA, T. G. Cats: ecological and conservation. São Luís: Edusma. 1994. 244 p.
OLIVEIRA, T. G. de; CASSARO, K. Guia de identificação dos felinos brasileiros. 2ª ed. São
Paulo: Sociedade de Zoológicos do Brasil. 1999. 60 p.
PARDINI, R. Feeding ecology of the neotropical river otter Lontra longicaudis in an Atlantic Forest
stream, south-eastern Brazil. J. Zool., Londres, v. 245, p. 385-391, 1998.
PERACCHI, A. L.; ROCHA, V. J.; REIS, N. R. dos. Mamíferos não voadores da bacia do rio
Tibagi. In: MEDRI, M.E.; BIANCHINI, E.; SHIBATTA, O.A.; PIMENTA, J.A. (Eds.). A bacia do
rio Tibagi. Londrina, 2002. p. 223-247
PIMENTEL, T. L.; REIS, M. L.; PASSERINO, A. S. M. Order Carnivora, Family Mustelidae. In:
FOWLER, M. E.; CUBAS, Z. S. (Eds.). Biology, medicine and surgery of south american wild
animals. Iowa State University Press/Ames, 2001. p. 323-331.
QUADROS, J.; MONTEIRO-FILHO, E. L. A. Diet of the neotropical otter, Lontra longicaudis, in
an Atlantic Forest Area, Santa Catarina State, Southern Brazil. Studies on Neotropical Fauna and
Environment, v.36, n. 1, p. 5-21, 2001.
ROCHA, V. J.; FILIPAKI, S. A.; FIER, I. S. N.; OLIVEIRA, S. V.; PUCCI, J. A. L. Peso corpóreo
de mamíferos silvestres da região de Telêmaco Borba, Paraná. In: III Encontro sobre Animais
Selvagens. Anais... Poços de Calda, 2004a.
ROCHA, V. J.; MACHADO, R. A.; FILIPAKI, S. A.; FIER, I. S. N.; PUCCI, J. A. L. A
biodiversidade da Fazenda Monte Alegre da Klabin S/A – no Estado do Paraná. In: VIII Congresso
Florestal Brasileiro, Anais... São Paulo, 2003. p. 1-12.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
103
ROCHA, V. J.; REIS, N. R. dos; SEKIAMA, M. L.. Dieta e dispersão de sementes por Cerdocyon
thous (Linnaeus) (Carnivora, Canidae) em um fragmento florestal no Paraná, Brasil. Revista
Brasileira de Zoologia, Curitiba, v.21, n. 4, p. 871-876. 2004b.
ROCHA, V.J. Ecologia de mamíferos de médio e grande portes do Parque Estadual Mata dos
Godoy, Londrina (PR). 2001. 131 f. Tese (Doutorado em Zoologia) - Setor de Ciências
Biológicas, Universidade Federal do Paraná Curitiba, 2001.
RODDEN, M.; RODRIGUES, F. H. G.; BESTELMEYER, S. 2004. Maned wolf (Chrysocyon
brachyurus). In: SILLERO-ZUBIRI, C.; HOFFMANN, M.; MACDONALD, D. W. (Eds.). Canids:
foxes, wolves, jackals and dogs. Status survey and conservation action plan. IUCN/SSC Canid
Specialist Group. Gland, Switzerland.
RODRIGUES, F. H. G. Biologia e Conservação de lobo-guará na Estação Ecológica de Águas
Emendadas, DF. 2002. ix + 96f. Tese (Doutorado em Ecologia) - Instituto de Biologia,
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002.
SANTOS, E. F.; SETZ, E. Z. F.; GOBBI, N. Diet of the maned wolf (Chrysocyon brachyurus) and
its role in seed dispersal on a cattle ranch in Brazil. J. Zool., Londres, n. 260, p. 203-208, 2003.
SEYMOR, K. L. Panthera onca. Mammalian Species, n. 340, p. 1-9. 1989.
SHELDON, J. W. Wild dogs: the natural history of the nondomestic Canidae. San Diego:
Academic Press, Inc. 1992. 248 p.
SILVA, F. Mamíferos Silvestres - Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Fundação Zoobotânica do
Rio Grande do Sul. 1994. 246 p.
SILVEIRA, L. Ecologia comparada e conservação da onça-pintada (Panthera onça) e onça-
parda (Puma concolor), no Cerrado e Pantanal. 2004. 231 f. Tese (Doutorado em Biologia
Animal) - Instituto de Ciências Biológicas, Universidade de Brasília, Brasília, 2004.
______. Ecologia e conservação dos mamíferos carnívoros do Parque Nacional das Emas,
Goiás. 1999. 117 f. Dissertação (Mestrado em Ecologia): Instituto de Ciências Biológicas,
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 1999.
VIEIRA, C. Carnívoros do Estado de São Paulo. Arq. Zool., São Paulo, v. 5, n. 3, p. 135-175,
1946.
WILSON, D. E. & REEDER, D. M. Mammal Species of the World, A Taxonomic and
Geographic Reference. 2ª ed. Washington: Smithsonian Institution Press, 1993. xviii+1206 p.
ZALESKI, T. Atropelamentos de mamíferos nas estradas da Fazenda Monte Alegre,
município de Telêmaco Borba, Estado do Paraná. 2003. 54 f. Monografia (Curso de Ciências
Biológicas) – Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2003.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
104
Figuras do Capítulo V
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
105
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
106
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
106
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
107
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
108
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
109
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
110
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
111
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
111
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
112
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
112
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
113
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
114
Capítulo VI
ORDEM PERISSODACTYLA
Isaac Passos de Lima
Doutorando do curso de Biologia Animal
Instituto de Biologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Margareth Lumy Sekiama
Bióloga - (Dr.ª)
Biosfera consultoria e projetos ambientais
A ordem Perissodactyla é o grupo de mamíferos terrestres ungulados com um número
ímpar de dedos nas patas, que inclui os cavalos, as antas e os rinocerontes. O dedo médio é sempre
maior que os outros e por ele passa o eixo longitudinal do pé (SAVAGE & LONG, 1986; MYERS,
2001).
A parte anterior do crânio dos perissodátilos é alongada e possui uma série completa de
grandes dentes (geralmente com um total de 44), dos quais os molares e pré-molares são
hipsodontes nas espécies que pastam, como os cavalos, e braquidontes nas espécies que têm uma
alimentação mais variada, como na anta (CARTER, 1984; VAUGHAN, 1986; MYERS, 2001).
Família Tapiridae
Existem Apenas quatro espécies nessa família, uma na Ásia (Tapirus indicus) e três nas
Américas, sendo uma na América Central (Tapirus bairdii) e duas na América do Sul (Tapirus
terrestris e Tapirus pinchaque) (LIZCANO et al., 2002). ASHLEY et al., (1996) sugerem que a
linhagem da América Central (T. bairdii) separou-se das espécies Sul-americanas (T. terrestris e T.
pinchaque) a aproximadamente 19 milhões de anos, coincidindo com a formação do istmo do
Panamá e a elevação dos Andes durante o Plioceno recente (HAMMEN, 1982).
Tapirus terrestris Linnaeus, 1758 – “anta”
Esta espécie tem distribuição desde a Venezuela ao norte da Argentina,
(EINSENBERG & REDFORD, 1992) originalmente abrangendo todo o Brasil. No Paraná ocorria
em praticamente todo o Estado e atualmente vem desaparecendo de várias regiões onde ocorria
originalmente (MARGARIDO & BRAGA, 2004).
A anta é o maior mamífero neotropical, de corpo robusto e pernas curtas possui
dimensões de 170 a 200 cm de comprimento, cauda de 4,6 a 10 cm e um metro de altura
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
115
(EMMONS & FEER, 1999) e chega a pesar até 300 kg (SILVA, 1994). Possui um focinho dotado
de uma pequena tromba móvel curvada para baixo. Esta tromba é um prolongamento do lábio
superior, possui uma crista muscular que se estende do crânio até o início do dorso (EISENBERG,
1989). Suas patas dianteiras possuem quatro dedos e as posteriores três dedos. Seu pêlo tem
coloração uniforme marrom escura e os filhotes são malhados, com quatro ou cinco listras claras e
onduladas, visíveis até o sexto mês.
4442
3
3
m
4-3
4
pm
1
1
3
3
i:dentária Fórmula =c (KERTESZ, 1993; MILES & GRIGSON,
2003).
Sua dieta consiste de frutos, folhas, caules, brotos, pequenos ramos, grama, plantas
aquáticas, cascas de árvores, organismos aquáticos e pastam, inclusive, monoculturas (FRAGOSO,
1994; NOWAK, 1999). ROCHA (2001), ao trabalhar na região norte do Estado, encontrou 44
espécies vegetais na sua dieta, das quais 35 foram identificadas junto a níveis taxonômicos que
determinaria uma dieta predominantemente frugívora, o que torna a anta uma importante dispersora
de sementes em relação ao número de espécies vegetais consumidas.
A anta toma banhos freqüentes de lama e de água para se livrar de ectoparasitos como
carrapatos, moscas, etc. Ocorre associada a rios e florestas úmidas (BODMER & BROOKS, 1997).
A fêmea busca um refúgio apropriado para parir sua única cria. O período de gestação
é de 390 a 400 dias (EISENBERG, 1989). O filhote permanece com a mãe, até que tenha um ano.
Atinge a maturidade sexual entre os dois e três anos de idade. (NOWAK, 1991; GOROG, 2001).
Em cativeiro as fêmeas atingem a maturidade sexual em 23 meses e permanecem com uma vida
sexual ativa até os 28 anos, vivendo até os 35 anos (GOROG, 2001).
Na região centro-leste do Paraná esta espécie está extinta, devido principalmente à caça
e de certo modo também à destruição do habitat, porém, no Parque Ecológico da Klabin S.A.,
encontram-se 8 indivíduos em plena reprodução com objetivo futuro de reintrodução10.
Na área da Fazenda Monte Alegre, os registros dos últimos exemplares na natureza
datam da década de 60, sendo que o último indivíduo que se tem registro foi abatido a tiros no Rio
das Antas, no ano de 1962. Porém no município de Rio Branco do Ivaí há relatos da presença do
animal até a década de 80.
10 ROCHA, V.J. Comunicação pessoal. 2005. (Manejo Ambiental da Klabin Florestal Paraná)
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
116
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASHLEY, M.V., NORMAN, J.E. & STROSS, L. Phylogenetic analysis of the perisodactylan
family Tapiridae using mitochondrial cytochrome c oxidase (COII) sequences. Journal of
Mammalian Evolution, Riverside, v. 3, p. 315-326, 1996.
BODMER, R.E. & BROOKS, D.M. Status and Action Plan of the Lowland Tapir (Tapirus
terrestris). In: BROOKS, D.M., BODMER, R.E. & MATOLA, S. (Org.), Status Survey and
Conservation Action Plan: Tapirs. Gland: IUCN/SSC Tapir Specialist Group, 1997. p. 46-56
CARTER, D.C. Perissodactyls. In: ANDERSON, S. & JONES, J.K. JR. (Org). Orders and
Families of Recent Mammals of the World. New York: John Wiley and Sons, 1984. p. 549-562.
EISENBERG, J.F. Mammals of the Neotropics. The Northern Neotropics. Vol. I. Chicago:
Univ. Chicago Press, 1989. 449 p.
EISENBERG, J. F. & REDFORD, K. H. Mammals of the neotropics: the central neotropics
(Ecuador, Peru, Bolivia, Brazil). Vol. 3. Chicago and London: The University of Chicago Press,
1999. 609 p.
EMMONS, L. H. & FEER, F. Neotropical Rainforest Mammals: A Field Guide. 2 ed. Chicago:
The University of Chicago Press, 1999. 307 p.
FRAGOSO, J.M.V. Large mammals and the community dynamics of an Amazonian Rain
Forest. 1994. 210 f. Tese (Doutorado PhD) Universidade da Flórida, Gainesville, 1994.
GOROG, A. "Tapirus terrestris" (On-line), Animal Diversity Web: Disponível em:
<http://animaldiversity.ummz.umich.edu/site/accounts/information/Tapirus_ terrestris.html>. 2001.
Acesso em 15 de Jun. 2005.
HAMMEN, T. Van der. Paleoecology of tropical South America. Biology diversification in the
tropics. New York: Columbia University Press, 1982. p. 60-67
KERTESZ, P. Colour Atlas of Veterinary Dentistry & Oral Surgery. London: Wolfe Publishing,
1993. 312p.
LIZCANO, D. J. PIZARRO, V. CAVELIER, J. & CARMONA, J. Geographic distribution and
population size of the mountain tapir (Tapirus pinchaque) in Colombia, Journal of Biogeography,
v. 29, p. 7-15, 2002
MARGARIDO, T.C.M & BRAGA, F.G. Mamíferos. In: MIKICH, S.B. & BÉRNILS, R.S. (Org.)
Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do Paraná. Curitiba: Instituto Ambiental do
Paraná. 2004. p. 25-142.
MILES, A.E.W. & GRIGSON, C. Colyer’s Variations and diseases of the teeth. Cambridge:
Cambridge University Press, 2003. 688 p.
MYERS, P. "Perissodactyla" (On-line), Animal Diversity Web. Disponível em:
<http://animaldiversity.ummz.umich.edu/site/accounts/information/Perissodactyla.html>. 2001.
Acesso em 15 de Jun. 2005.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
117
NOWAK, M. Walker’s mammals of the world. 5th ed. Baltimore and London: The Johns Hopkins
Univ. Press. 1991.1629p.
ROCHA, V.J. Ecologia de mamíferos de médio e grande portes do Parque Estadual Mata dos
Godoy, Londrina (PR). 2001, 131f. Tese (Doutorado em Zoologia) - Universidade Federal do
Paraná, Curitiba, 2001.
SAVAGE, R. J. G. & LONG, M. R. Mammal Evolution, an Illustrated Guide. New York : Facts
of File Publications, 1986. 259 p.
SILVA, F. Mamíferos Silvestres do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Fundação Zoobotânica do
Rio Grande do Sul, 1994. 246 p.
VAUGHAN, T. A. Mammalogy. 3ª Ed. Fort Worth: Saunders College Publishing,. 1986. vii+576
p.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
118
Figura do Capítulo VI
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
119
Capítulo VII
ORDEM ARTIODACTYLA
Tereza Cristina Castellano Margarido
Setor de Mastozoologia Departamento de Zoológico
Museu de História Natural Capão da Imbuia
Adriano Lucio Peracchi
Professor Livre Docente
Instituto de Biologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Vlamir José Rocha
Biólogo (Dr.)
Manejo Ambiental da Klabin Florestal Paraná
Guilherme Silveira
Biólogo (M.Sc.)
Laboratório de Mastozoologia
Universidade Estadual de Londrina
Os mamíferos pertencentes à ordem Artiodactyla são ungulados, ou seja, possuem
cascos, formações córneas que envolvem completamente a extremidade dos dedos. O eixo de
sustentação do corpo, nos quatro membros, passa entre o terceiro e o quarto dedos, que quase
sempre são os únicos que tocam o solo. Mais atrás, nas patas, podem ocorrer um ou dois dedos
menores, que não são funcionais (CABRERA & YEPES, 1960; EMMONS, 1990).
Família Tayassuidae
A família Tayassuidae é representada pelos porcos-do-mato, também conhecidos como
pecaris, nome indígena de origem tupi-guarani, que significa “animal que faz muitos caminhos na
mata” (CABRERA & YEPES, 1960; SOWLS, 1997). Existem três gêneros recentes e três espécies
de pecaris: Catagonus wagneri (RUSCONI, 1930), o “taguá”; Pecari tajacu (Linnaeus, 1758), o
“cateto” e Tayassu pecari (Link, 1795), o “queixada” (NOWAK, 1991; WILSON &
REEDER,1993). Apenas o “taguá” não ocorre no Brasil, sendo restrito às florestas xerofíticas da
região do Chaco, na Argentina, Bolívia e Paraguai (SOWLS, 1997).
Os taiassuídeos possuem a cabeça longa e proporcionalmente grande em relação ao
corpo, com pescoço e extremidades curtos. O focinho alongado termina em um disco nasal achatado
e móvel (MAYER & WETZEL, 1987; FOWLER, 1993). Não existe dimorfismo sexual evidente.
Outras características morfológicas distintas são a cauda vestigial com apenas sete vértebras;
estômago complexo, composto por quatro câmaras; três dedos nos membros pélvicos e quatro nos
torácicos, com apenas dois funcionais, todos munidos de pequenos cascos; uma glândula de cheiro
na região dorsal medial, aproximadamente a 15 cm da base da cauda, em ambos os sexos, que
produz uma secreção oleosa de forte odor, utilizada para marcação de território e também para
reconhecimento social, promovendo a coesão dos membros do grupo; possuem 38 dentes e os
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
120
caninos superiores têm crescimento vertical direcionado para baixo. (GRUBB & GROVES, 1996;
SOWLS, 1997; SICURO & OLIVEIRA, 2002).
38
3
3
m
3
3
1
1
c
3
2
i:dentária Fórmula =pm
Tayassu pecari (Link, 1795) -“queixada”
O “queixada” está entre os maiores ungulados da América Central e da América do Sul
e ocorre desde o sul do México até o nordeste da Argentina, incluindo todo o Brasil (CABRERA,
1961; NOWAK, 1991; REDFORD & EISENBERG, 1992; SOWLS, 1997). O comprimento da
cabeça e corpo é de 93 cm aproximadamente. O peso dos machos varia de 25 a 40 kg e das fêmeas
de 30 a 38 kg (GRUBB & GROVES, 1996; GOTTDENKER & BODMER, 1998; FRAGOSO,
1999), mas já foram registrados machos com até 51 kg e fêmeas pesando entre 30 e 44 kg
(MARGARIDO, 2001). A pelagem dos adultos varia do negro ao marrom escuro e existe uma
característica mancha clara ao longo de toda a mandíbula, que deu origem ao seu nome vulgar
(MAYER & BRANDT, 1982; SOWLS, 1997). Os jovens são castanho-avermelhados e sua
pelagem não adquire totalmente a coloração adulta antes do segundo ou terceiro ano de vida
(KIRKPATRICK & SOWLS, 1962; MAYER & BRANDT, 1982).
Embora seja um habitante característico das florestas tropicais úmidas, o “queixada”
também pode ser encontrado em áreas áridas ou sazonalmente secas, geralmente em menor
densidade (FRAGOSO, 1994; EISENBERG, 1989). Tem atividade diurna, mas, em áreas abertas e
quentes, torna-se mais ativo durante a noite e nas horas amenas do dia (SOWLS, 1997).
O “queixada” é fortemente gregário e distingue-se dos demais ungulados neotropicais
pela formação de grandes bandos, geralmente composto por mais de 40 e que podem chegar a
centenas de indivíduos (SOWLS, 1997; FRAGOSO, 1998). Os grupos são formados por machos e
fêmeas de várias idades e as mais altas posições geralmente são ocupadas por machos. Não existem
interações agonísticas pronunciadas entre os componentes do grupo e a maior parte das disputas é
ritualizada, não envolvendo contato físico. Isso pode ser indicar uma dominância hierárquica bem
estabelecida, que assegura a prioridade de cópula ao macho dominante, não havendo formação de
casais ou haréns (SCHWEINSBURG & SOWLS, 1972; BYERS, 1983; SOWLS, 1997). A
proporção sexual, que é de 1:1 nos nascimentos (GOTTENDEKER & BODMER, 1998),
aparentemente é alterada para 1:2 na transição dos sub-adultos para adultos (FRAGOSO, 1994;
MARGARIDO, 2001).
Quando irritados, os “queixadas” batem os dentes caninos emitindo um forte ruído em
sinal de advertência e podem fugir com velocidades de até 35 km/h (NOWAK, 1991). São onívoros,
alimentando-se principalmente de frutos, tubérculos, invertebrados pequenos vertebrados, carcaças
e fungos (BODMER, 1991b; SICURO & OLIVEIRA, 2002). Sua dieta, entretanto, é
predominantemente frugívora (KILTIE, 1981, 1982; SCHALLER, 1983; BODMER, 1989;
BARRETO et al., 1997). É considerado como um dos maiores predadores, mas também pode ser
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
121
dispersor de sementes (KILTIE, 1982; BODMER, 1991a), exercendo um papel marcante na
estrutura das comunidades florísticas (FRAGOSO, 1997, 1999).
Os grupos de “queixada” percorrem longas distâncias e isso faz com que muitas vezes
sejam considerados nômades (CRESPO, 1982; NOWAK, 1991; SOWLS, 1997). Entretanto,
FRAGOSO (1997,1998) salienta que os “queixadas” não se movem de maneira nômade ou
migratória. Ao contrário, seus deslocamentos são regulares e previsíveis, dentro de uma área de
vida bem definida que depende do tamanho do grupo, das características do ambiente, da época do
ano e da disponibilidade de recursos. Sua área de vida pode variar de 22 a 109 km2, dependendo do
tamanho da população e da disponibilidade de alimento (FRAGOSO, 1998), com densidade média
de 1,3 indivíduos por km2 (SOWLS, 1997).
Não existe sazonalidade reprodutiva e fêmeas grávidas podem ser encontradas ao
longo de todo o ano, observando-se maiores proporções na primavera e no verão. A gestação dura
152 a 162 dias, nascendo de um a três filhotes precoces, capazes de seguir a mãe e o grupo logo
após o nascimento. Começam a ser desmamados aos dois meses de idade, mas podem permanecer
ligados à mãe por vários meses (GOTTENDEKER & BODMER, 1998). Atingem a idade adulta
aproximadamente aos 18 meses (MARGARIDO, 2001) e a maturidade sexual das fêmeas pode
ocorrer a partir de oito meses de idade (MARGARIDO & MANGINI, 2001).
Devido ao seu hábito de formar grandes grupos, o “queixada” necessita de áreas
florestais extensas, contínuas e bem conservadas para obter recursos durante o ano (MARCH,
1996). Não é capaz de suportar intensas mudanças ambientais, sendo muito raro encontrá-lo em
ambientes abertos (MAYER & WETZEL, 1987). Esses aspectos, aliados à caça excessiva, têm
resultado na fragmentação das populações e na eliminação dos “queixadas” de grandes áreas de sua
distribuição original (BODMER & SOWLS, 1996; SICURO & OLIVEIRA, 2002).
Além do tamanho de grupo, a grande coesividade social parece ser o principal fator
responsável pela vulnerabilidade dos “queixadas”, refletindo-se claramente em sua susceptibilidade
à caça. Diante de caçadores e cães treinados, os “queixadas” agrupam-se e podem ser eliminadas
várias dezenas de animais (FRAGOSO, 1994; MARCH, 1996; PERES, 1996; GOTTDENKER &
BODMER, 1998). Essas caçadas em grande escala não consideram as classes de idade e de sexo,
podendo eliminar uma grande parcela dos membros do grupo, interromper a frágil organização
social (MAYER & WETZEL, 1987; MARCH, 1996; SOWLS, 1997), afetar a sobrevivência de
todo o grupo e até mesmo determinar a extinção local dessa espécie (GOTTDENKER &
BODMER, 1998).
O “queixada” pode ser considerado como um dos mamíferos de grande porte mais
ameaçados da Região Neotropical (MARCH, 1996; FRAGOSO, 1997, 1998; SOWLS, 1997). No
Paraná, atualmente sua distribuição é descontínua e fragmentada, tendo desaparecido da maior parte
de sua área de ocorrência original. Atualmente na região Centro-Leste do Estado ainda pode ser
encontrados em grandes grupos na área da Fazenda Monte Alegre ocupando áreas de Floresta
Ombrófila Mista, Floresta Estacional Semi Decidual e Campos naturais, porém com as populações
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
122
declinando devido a pressão de caça furtiva. A espécie está incluída na Lista Vermelha dos Animais
Ameaçados de Extinção no Estado do Paraná (MARGARIDO & BRAGA, 2004).
Pecari tajacu (Linnaeus, 1758) - “cateto”, “tateto”, “caititu”
Essa espécie ocorre em todo o Brasil e, no Paraná, também está distribuída por todo o
Estado (NOWAK, 1991; FRAGOSO, 1994; MARGARIDO & MANGINI, 2001).
O cateto é o pecari de menor tamanho, pesando entre 18 e 30 kg. Tem coloração
marrom, salpicado de branco, com uma coleira de pêlos mais claros nos lados do pescoço
(BODMER & SOWLS, 1996; FRAGOSO, 1998).
É um taiassuídeo que ocorre em uma grande variedade de habitats, desde florestas
úmidas até regiões áridas (REDFORD & EISENBERG, 1992; SOWLS, 1997) e tem atividade
diurna e crepuscular. Consome sementes e frutos de palmeiras e outras espécies vegetais, podendo
atuar como um predador de sementes para a maioria das espécies que ingere devido a suas
possantes mandíbuls e atuar como dispersor de sementes para as espécies de sementes pequenas
como as do gênero Fícus (ROCHA, 2001). Consome também diversos vegetais como folhas, raízes
e tubérculos, complementando sua dieta com invertebrados, principalmente insetos. Ocasionalmente
podem comer alguns répteis e outros pequenos vertebrados (KILTIE, 1982; ROBINSON &
EISENBERG, 1985; BODMER & SOWLS, 1996).
É uma espécie gregária, geralmente formando grupos de seis a 20 indivíduos
(FRAGOSO, 1994; SOWLS, 1997), já tendo sido observados grupos de até 50 (CASTELLANOS,
1983; ROCHA, 2001), com densidade média de aproximadamente 5 indivíduos por km2. Existe
territorialidade intraespecífica entre os bandos e patrulhamento dos limites de sua área de vida
(MAYER & BRANDT, 1982; SOWLS, 1997) que, no entanto pode estar incluída dentro da área de
vida do “queixada” (FRAGOSO, 1994; FRAGOSO & EISENBERG, no prelo). A união dos grupos
é freqüentemente frágil e estes podem ser sazonalmente divididos em subgrupos (CASTELLANOS,
1983; BARRETO et al., 1997). Os indivíduos se mantêm juntos mediante vocalizações e o forte
odor liberado pela glândula dorsal, cuja secreção é esfregada em troncos de árvores, rochas e nos
membros do grupo entre si (BYERS, 1983). A proporção sexual nos grupos é de 1:1
(GOTTDENKER & BODMER, 1998).
O período de gestação é de 142 a 145 dias e usualmente nascem dois filhotes por
ninhada, ao longo de todo o ano. Estes são altamente precoces, seguindo a mãe depois de uma hora
e mamam em intervalos freqüentes. O desmame ocorre aproximadamente em seis semanas
(BYERS, 1983; SOWLS, 1997).
Entre os taiassuídeos é a espécie com maior capacidade de adaptação a alterações de
habitat (BODMER & SOWLS, 1996), porém também são bastante perseguidos pela caça de
subsistência e predatória (BODMER & PENN-JR, 1997). Quando perseguidos, ao contrário da
coesão observada nos grupos de “queixada”, os “catetos” dispersam-se em pequenos subgrupos e,
geralmente, apenas um ou dois animais são mortos em confrontos com caçadores (FRAGOSO,
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
123
1994; GOTTDENKER & BODMER, 1998). São bastante ágeis e, quando ameaçados, exibem uma
vocalização de alarme, seguida da fuga dos animais, com os pêlos arrepiados e batidas de dentes,
produzindo um forte ruído (SOWLS, 1997).
Apesar de aparentemente serem mais abundantes que os “queixadas”, os “catetos”
ainda são bastante caçados e uma grande parte de seu hábitat natural está sendo destruída, estando
ameaçados ou tendo sido eliminados de algumas áreas de sua distribuição original (BODMER &
SOWLS, 1996). Por esse motivo a espécie foi considerada vulnerável e está incluída no Livro
Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do Paraná (MARGARIDO & BRAGA, 2004). Na área da
Fazenda Monte Alegre ainda pode ser encontrado uma boa população destes animais.Um estudo
conduzido por ZALESKI (2003) registrou o atropelamento de 35 indivíduos em 9 anos de coleta de
dados, principalmente na PR 160.
Família Cervidae
Os cervídeos constituem a única família de ruminantes propriamente ditos existente na
América do Sul. Como em todos os membros da ordem Artiodactyla, suas patas são transformadas
para apoiar-se nas pontas dos terceiro e quarto dedos, que estão revestidas por cascos. Seu estômago
é composto de quatro compartimentos e não possuem incisivos superiores. Os caninos são muito
semelhantes aos incisivos e os superiores podem faltar na maior parte das espécies (CABRERA &
YEPES, 1960; PARERA, 2002).
3432
3
3
m
3
3
pm
1
1-0
3
0
:dentária Fórmula =ci
Possuem pernas finas e compridas, pescoço comprido e cauda curta. Os machos
possuem chifres que caem e voltam a crescer a cada ano e nas espécies que apresentam galhada, as
ramificações vão aumentando gradualmente a partir do primeiro ano, até alcançar o número
limitado e característico de cada espécie. (CABRERA & YEPES, 1960; EMMONS, 1990).
Ozotoceros bezoarticus, Linnaeus, 1758 - veado-campeiro”, “veado-branco”, “veado-galheiro”.
A distribuição original do “veado-campeiro” incluía as áreas abertas entre as latitudes
5o e 41o S (GONZALEZ, 1997). No Brasil é uma espécie que ocorre desde a região central até o Rio
Grande do Sul, alcançando o Uruguai. Está presente na Bolívia, Paraguai e, na atualidade, existem
apenas populações remanescentes isoladas na Argentina (PARERA, 2002). No Paraná sua
ocorrência original provavelmente abrangia toda a região de campos e de cerrado porém,
atualmente, ocorre apenas em propriedades particulares localizadas dentro da APA da Escarpa
Devoniana (BRAGA, 2001, 2004).
O veado-campeiro é um cervídeo de tamanho médio que pode atingir 1,20 a 1,50 m de
comprimento, até 0,75 m de altura e de 30 a 40 kg. Sua pelagem é curta e brilhante, de coloração
parda nas partes dorsais, com tonalidades que variam dentro de uma mesma população e também
geograficamente (PARERA, 2002). A pelagem é branca nas partes inferiores do corpo e da cauda,
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
124
interior das orelhas, ao redor dos olhos e no focinho, acima do lábio superior. A galhada, exibida
apenas pelos machos, é caracterizada por três pontas (JACKSON, 1987; JACKSON &
LANGGUTH, 1987) e cai anualmente, tendo uma estação de trocas bem definida, restrita ao
inverno (TOMAS, 1988). Os machos são maiores que as fêmeas e exalam um odor forte e
característico, produto da secreção de glândulas nasais, preorbitais, metatarsais, interdigitais e
tarsais, relacionado à marcação de território (LANGGUTH & JACKSON, 1980; PARERA, 2002),
como também à atração das fêmeas, irritação e alarme (CHEBEZ, 1994).
Esses animais alimentam-se basicamente de itens suculentos, leves, com alto teor
energético e fácil digestão como flores, folhas novas, gomos e arbustos (JACKSON & GIULIETTI,
1988; RODRIGUES, 1996). Podem ser solitários ou gregários, formando grupos que não são fixos
(RODRIGUES & MONTEIRO-FILHO, 1996). Têm atividade diurna e noturna (BRAGA et al.,
2000).
No cerrado brasileiro a área de vida do veado-campeiro foi determinada em 9.9 km2
para machos e 5.9 km2 para fêmeas e existe sobreposição de uso entre indivíduos, o que possibilita
que grandes populações ocupem uma área com recursos limitados (LEEUWENBERG et al., 1992;
RODRIGUES, 1996). O período de gestação é de sete meses, nascendo apenas um filhote,
raramente dois, que apresenta linhas de pintas brancas sobre o dorso, o que permite sua camuflagem
no ambiente (CHEBEZ, 1994).
A diminuição das populações de veado-campeiro deve-se, principalmente, à redução
do seu habitat natural e à caça excessiva, tanto com finalidade esportiva, como para alimentação.
Também eram caçados com o objetivo de retirar as pedras bezoares que se encontram em seus
estômagos, às quais se atribuíam propriedades medicinais (DUARTE, 1997). Essa redução deve-se
ainda à transmissão de doenças e à competição por alimento, principalmente relacionada à criação
de ovelhas (JACKSON et al., 1980).
No Paraná a espécie encontra-se criticamente ameaçada e o declínio populacional é
provocado, além da caça, pela diminuição da extensão e da qualidade dos habitats originais
(MARGARIDO & BRAGA, 2004). No passado era abundante na Fazenda Monte Alegre, onde não
mais ocorre nos dias de hoje devido ao seu habitat estar ocupado com plantações de eucaliptos.
Atualmente vem sendo feito um trabalho de recuperação de habitat nesta propriedade da Empresa
Klabin S/A, com o objetivo de propiciar habitat para a ocorrência desta espécie, a qual deverá
recolonizar novamente estas áreas.
Mazama nana (Hensel, 1872) -“veado-cambuta”, “cambucica”, “veado-bororó”, “veado-mão-curta"
É uma espécie de distribuição restrita no Brasil, citada apenas para a região sudeste, de
São Paulo ao Rio Grande do Sul. No Paraná seus registros são raros. Ocorre também em parte do
Paraguai e Argentina, principalmente na província de Misiones (PARERA, 2002).
O “veado-bororó” é pequeno, medindo de 45 a 50 cm de altura, 60 a 100 cm de
comprimento e tem peso inferior à 15 kg (DELLAFIORE & MACEIRA, 2001). Possui cabeça
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
125
curta, com orelhas pequenas e arredondadas. Os chifres também são simples, voltados para trás e
pequenos, chegando apenas a oito centímetros. As patas anteriores são tipicamente mais curtas que
as posteriores, estas com coloração mais escura. Também apresenta uma faixa escura na face,
formando uma espécie de máscara. Apenas a cauda tem pêlos brancos, do lado ventral (PARERA,
2002).
Freqüenta ambiente com vegetação densa e áreas de vegetação secundária, mesmo em
estágio de capoeira. Seus hábitos são preferencialmente noturnos e crepusculares (DUARTE, 1996)
e a maior parte dos registros ocorridos corresponde a animais solitários (PARERA, 2002).
O período reprodutivo da espécie é pouco conhecido, mas nasce apenas um filhote a
cada gestação, com relatos de partos ocorrendo entre setembro e fevereiro (CRESPO, 1982).
Possivelmente sua dieta seja como a das outras espécies do gênero, composta de folhas
tenras, brotos, gramíneas, frutos e flores (BODMER, 1989; STALLINGS, 1984).
Aparentemente seu potencial adaptativo é baixo e é possível que seja a espécie mais
ameaçada entre os cervídeos brasileiros (A. VOGGLIOTTI, inf. pess., apud MARGARIDO &
BRAGA, 2004). Na área da Fazenda Monte Alegre são raros, e são mais mencionados em ocorrer
em áreas do município de Reserva e do Rio Branco em áreas de florestas nativas pertencente à
Empresa Klabin S/A.
Mazama gouazoupira (G. Fischer, 1814) - “veado-catingueiro”, “veado-virá”, “veado-pardo”.
É o cervídeo de mais ampla distribuição, sendo encontrado na América Central e do
Sul, do leste dos Andes até o Uruguai e Norte da Argentina (EMMONS, 1990; PARERA, 2002).
O “veado-catingueiro” tem tamanho médio, medindo de 97 a 140 cm de comprimento
e pesa de 11 a 23 kg. ROCHA et al.(2004), registrou indivíduos oscilando entre 12 e 30 kg com
média de 19,08 kg. As orelhas são grandes, destacando-se na cabeça. A pelagem é curta, densa e de
coloração marrom-acinzentado. A garganta, o ventre e a parte inferior da cauda são esbranquiçados.
Apenas o macho possui chifre simples, que mede de 7 a 15 cm nos animais adultos (DELLAFIORE
& MACEIRA, 2001). Apresenta uma mancha branca na região supra-orbital que muitas vezes
forma um anel perioftálmico, característico da espécie (NOWAK, 1991).
É uma espécie solitária e esquiva, diurna, mas geralmente com atividade nas primeiras
e nas últimas horas do dia. São fortemente territorialistas, principalmente os machos, que marcam
as bordas do seu território através do uso de sinais odoríferos e visuais, que incluem a retirada de
cascas de árvores com os incisivos inferiores e deposição de fezes e urina (DELLAFIORE &
MACEIRA, 2001). Vive em vários tipos de ambientes, incluindo florestas e áreas abertas, mas
sempre está associado e é dependente de florestas para abrigo e alimentação. Aparentemente evita
ou é pouco freqüente em florestas densas e úmidas (NOWAK, 1991; PARERA, 2002).
A dieta do “veado-catingueiro” é constituída de frutos, flores, folhas e brotos de
gramíneas, arbustos e algumas árvores. Nas florestas com araucária, no Paraná, também foi
constatado o consumo de pinhão (Araucaria angustifolia). É bastante tolerante a modificações
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
126
ambientais e ocupa áreas degradadas, parcialmente cultivadas, inclusive freqüentando cultivos
florestais (PARERA, 2002).
A gestação é de aproximadamente sete meses e pode ocorrer duas vezes ao ano. Nasce
apenas um filhote, com manchas brancas que começam a desaparecer do quarto até o sexto mês
(DELLAFIORE & MACEIRA, 2001).
Quando alarmados emitem pequenos roncos e à noite procuram refugiar-se em moitas
(NOWAK, 1991).
É um animal bastante caçado por causa da carne e com isso suas populações podem
entrar em declínio. Voltam, porém, a recuperar-se se ainda existirem ambientes disponíveis
(PARERA, 2002). Na área da Fazenda Monte Alegre é um dos mamíferos mais facilmente
registrados, parecendo ser a população desta espécie abundante na área. No trabalho de ZALESKI
(2003), foi o mamífero mais registrado nos atropelamentos que ocorrem nas estradas que cortam a
Fazenda, principalmente na PR 160 com 102 animais em 9 anos de coletas de dados.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
127
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARRETO, G.R.; HERNANDEZ, O.E. & OJASTI, J.. Diet of peccaries (Tayassu tajacu and T.
pecari) in a dry forest of Venezuela. Journal of Zoology, London, v. 241, p.279-284, 1997.
BODMER, R.E. Frugivory in Amazonian Artiodactyla: evidence for the evolution of the ruminant
stomach. Journal of Zoology, London, v. 219, p. 457-467, 1989.
BODMER, R.E. Strategies of seed dispersal and seed predation in Amazonian ungulates.
Biotropica, St. Louis, v. 22, p. 255-261, 1991a.
______. Influence of digestive morphology on resource partitioning in amazonian ungulates.
Oecologia Berlin, v. 85, p.361-365, 1991b.
BODMER, R.E. & PENN-JR, J.W. Manejo da vida silvestre em comunidades da Amazônia. In: C.
VALLADARES-PÁDUA, & BODMER, R.E. (Org.); CULLEN-JR, L.. (Org.). Manejo e
conservação de vida silvestre no Brasil. Brasília, D.F.: CNPq; Belém, PA: Sociedade Civil
Mamirauá. 1997. 286p.
BODMER, R.E. &. SOWLS, L.K. Tayassu tajacu. In: OLIVER, W. L. R. (Ed.). Pigs, peccaries,
and hippos: status survey and conservation action plan. Gland, Switzerland. IUCN. 56p. 1996.
BRAGA F.G.; MOURA-BRITTO, M. & MARGARIDO, T.C.C. Estudo de uma população relictual
de veado-campeiro, Ozotoceros bezoarticus (Linnaeus) (Artiodactyla, Cervidae) no município da
Lapa, Paraná, Brasil. Revta Bras. Zool.Curitiba, v.17, n.1, p. 175-181, 2000.
BRAGA, F.G. Survey of Ozotoceros bezoarticus at Paraná State, Brasil. Deer Specialist Group
News Newsletter, v.16, p. 1-13, 2001.
______. Influência da agricultura na distribuição espacial do Ozotoceros bezoarticus Linnaeus,
1758 (veado-campeiro) em Piraí do Sul, Paraná - parâmetros populacionais e uso do
ambiente. 2004. 84 f.: Dissertação (Mestrado - Ciências Florestais) Universidade Federal do
Paraná, Curitiba, 2004.
BYERS, J.A. Social interactions of juvenile collared peccaries, Tayassu tajacu (Mammalia:
Artiodactyla). Journal of Zoology, London, v. 201, p.83-96, 1983.
CABRERA, A. & YEPES, J. Mamíferos sudamericanos. Vida, costumbres y descripción. 2 ed.
Buenos Aires: Comp. Arg. de Eds., v.1. 1960. 370p.
CABRERA, A. Catalogo de los mamíferos de America del Sur. Revista del Museo Argentino de
Ciencias Naturales. “Bernardino Rivadavia”, Ciencias e Zoologia, Buenos Aires, v.4, n. 2, p.
309-732. 1961.
CASTELLANOS, H.G. Aspectos de la organizacion social del baquiro de collar Tayassu tajacu L.,
en el Estado Guarico-Venezuela. Acta Biologica Venezuela, Caracas, 11(4):127-143. 1983.
CHEBEZ, J.C. Los que se ván. Buenos Aires: Albatroz, 1994. 604p.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
128
CRESPO, J.A. Ecologia de la comunidad de mamiferos del Parque Nacional Iguazu, Misiones.
Revista del Museo Argentino de Ciencias Naturales “Bernardino Rivadavia”. Ecologia,
Buenos Aires, v. 3, n. 2, p.45-162, 1982.
DELLAFIORE, C.M. & MACEIRA, N. Los ciervos autóctonos de la Argentina y la acción del
hombre. Buenos Aires: Ed. Grupo Abierto Comunicaciones. 2001. 95 p.
DUARTE, J.M.B. Biologia e Conservação dos Cervídeos Sul-americanos: Blastocerus,
Ozotoceros e Mazama. São Paulo: FAPESP / FUNEP / UNESP. 1997. 238 p.
______. Guia de Identificação de Cervídeos Brasileiros. Jaboticabal: FUNEP. 1996.14 p.
EISENBERG, J.F. Mammals of the neotropics: the northerns neotropics, v.1. Chicago:
University of Chicago Press. 1989. 450p.
EMMONS, L.H. Neotropical rainforest mammals. A Field Guide. Chicago: University of
Chicago Press. 1990. 281p.
FOWLER, M.E. Wild Swine and Peccaries. In: ______. Zoo & Wild Animal Medicine: Current
Therapy. 3 ed, Philadelphia: W.B. Saunders Company. 1993. 617p.
FRAGOSO, J.M.V. Large mammals and the community dynamics of an Amazonian Rain
Forest. Florida: Ph.D. Thesis - University of Florida, 1994. 210p.
______. Queixadas e palmeiras na Ilha de Maracá. In: C. VALLADARES-PÁDUA, & R.E.
BODMER (Org.); L. CULLEN JR. (Org. ass.). Manejo e conservação de vida silvestre no Brasil.
Brasília, D.F.: CNPq; Belém, PA: Sociedade Civil Mamirauá. 1997. 286p.
FRAGOSO, J.M.V. Home range and movement patterns of White-lipped Peccary (Tayassu pecari)
herds in the Northern Brazilian Amazon. Biotropica, St. Louis, v. 30, n. 3, p. 458-469, 1998.
______. Perception of scale and resource partitioning by peccaries: behavioral causes and
ecological implications. Journal of Mammalogy Cambridge, v. 80, n. 3, p. 993-1003, 1999.
FRAGOSO, J.M.V. & EISENBERG, J.F. Why are collared peccary home ranges larger and
population densities lower in the Amazon Rain Forest than elsewhere? Journal of Tropical
Ecology, Cambridge, no prelo.
GONZALEZ, S. Estudio de la variabilidad morfologica, genetica y molecular de poblaciones
relictuales de Venado de campo (Ozotoceros bezoarticus L. 1758) y sus consecuencias para la
conservacion. 1997 . Tese (Doutorado en Zoologia) Faculdad de Ciencias, Montevideo.1997
GOTTDENKER, N.L. & BODMER, R.E. Reproduction and productivity of white-lipped and
collared peccaries in the Peruvian Amazon. Journal of Zoology, London, v. 245, p. 423-430, 1998.
GRUBB, P. & GROVES, C.P. Los Dicotilydae del Neotropico (Tayassu y Catagonus). Plan de
Acción para su conservación y evaluación de su condicion actual. In: OLIVER, W. L. R. (Ed.).
Pigs, peccaries, and hippos: status survey and conservation action plan. Gland, Switzerland.
IUCN. 1996.56p.
JACKSON, J. Behavioural observations on the argentine Pampas deer (Ozotoceros bezoarticus
celer, Cabrera 1943). Zeitschrift für Saügetierkunde, Kiel, v. 50, p. 107-116, 1987.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
129
JACKSON, J.E. & GIULIETTI, J.D. The food habitats of Pampas Deer Ozotoceros bezoarticus
celer in relation to its conservationin a relict natural grassland in Argentina. Biological
Conservation, Boston, v. 45, p. 1-10. 1988.
JACKSON, J.E. & LANGGUTH, A. Ecology and Status of Pampas Deer in the Argentinian
Pampas and uruguay. In: WEMMER, C.M. (Ed.). Biology and Management of Cervidae.
Washington: Smithsonian Inst. Press. 1987.
JACKSON, J.; LANDA, P. & LANGGUTH, A. Pampas deer in Uruguay. Oryx, Cambridge, v.15,
p. 267-272, 1980.
KILTIE, R.A. Stomach contents of rain forest peccaries (Tayassu tajacu and T. pecari). Biotropica,
St. Louis, v. 13, n. 3, p. 234-236, 1981.
______. Bite force as a basis for niche differentiation between rain forest peccaries (Tayassu tajacu
and Tayassu pecari). Biotropica, St. Louis, v. 14, n. 3, p.188-195, 1982.
KIRKPATRICK, R.D. & SOWLS, L.K. Age determination of the collared peccary by the tooth-
replacement pattern. Journal of Wildlife Management, Incline Village, v. 6, n. 2, p. 214-217,
1962.
LANGGUTH, A. & JACKSON, J. Cutaneous scent glands deer Blastoceros bezoarticus (L., 1758).
Zeitschrift für Saügetierkunde, Kiel, v. 45, p.82-90, 1980.
LEEUWENBERG, F. & LARA-RESENDE, S. Ecologia de cervídeos na reserva ecológica do
IBGE-DF: manejo e densidade de populações. Caderno de Geociências, Rio de Janeiro, n.11,
p.89- 95, 1994.
LEEUWENBERG, F.; CABRAL, I.; DEUS, E.; JARDIM, R.; BUCCE, F. & RODRIGUES, F. H.
G. Seleção de habitat e área de uso (home range) de veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus) e
veado-catingueiro (Mazama gouazoubira) no cerrado. In: XIX Congresso Brasileiro de Zoologia.
Belém. 1992.
MARCH, I. El pecari labiado (Tayassu pecari). In: OLIVER, W.L.R. (Ed.). Pigs, Peccaries, and
Hippos: Status, Survey and Conservation Action Plan. Gland: IUCN, 1996. 156p.
MARGARIDO, T.C.C. & BRAGA, F. G.. Mamíferos. In: MIKICH, S.B. & BÉRNILS, R.S (Eds.).
Livro vermelho da fauna ameaçada de extinção no estado do Paraná. Curitiba: Instituto
Ambiental do Paraná. 2004. 764p.
MARGARIDO, T.C.C. & MANGINI, P.R. Order Artiodactyla, Family Tayassuidae (Peccaries).
Biology and Medicine In: FOWLER, M.E. (Ed.) & Z.S. CUBAS, (ass. Ed.). Biology, Medicine,
and Surgery of South American Wild Animals. Ames: Iowa State University Press. 2001. p. 377-
391.
MARGARIDO, T.C.C. Aspectos da história natural de Tayassu pecari (Link, 1795)
(Artiodactyla, Tayassuidae) no Estado do Paraná, Sul do Brasil. 2001. 109 f.. Tese (Doutorado
em Zoologia) – Curso de Pós-graduação em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná.
Curitiba, 2001.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
130
MAYER, J.J. & BRANDT, P.N. Identity, distribution, and natural history of the peccaries,
Tayassuidae. In: MARES, M.A. &. GENOWAYS, H.H. (Eds.) Mammalian biology in South
America. Special Publication Pymatuning Laboratory of Ecology, Pittsburgh, n. 6, p. 85-93,
1982.
MAYER, J.J. & WETZEL, R.M. Tayassu pecari. Mammal Species, v. 293, p. 1-7. 1987.
NOWAK, M. Walker’s mammals of the world. 5th ed. Baltimore and London: The Johns Hopkins
Univ. Press.2v. 1991. 1629p.
PARERA, A. Los mamíferos de la Argentina y la región austral de Sudamérica. Buenos Aires:
El ateneo. 2002. 454p.
PERES, C.A. Population status of White-lipped Tayassu pecari and collared peccaries T. tajacu in
hunted and unhunted Amazonian forests. Biological Conservation, Boston, v. 77, p. 115-123,
1996.
REDFORD, K.H. & EISENBERG, J. Mammals of the Neotropics: the southern cone, Chicago:
University of Chicago Press, v. 2, 1992, 430 p.
ROBINSON, J.G. & EISENBERG, J.F. Group size and foraging habits of the collared peccary
Tayassu tajacu. Journal of Mammalogy,Cambridge, v. 66, n.1, p. 153-155, 1985.
ROCHA, V.J. Ecologia de mamíferos de médio e grande portes do Parque Estadual Mata dos
Godoy, Londrina (PR). 2001. 131 f. Tese (Doutorado em Zoologia) - Setor de Ciências
Biológicas, Universidade Federal do Paraná Curitiba, 2001.
RODRIGUES, F.H.G. & MONTEIRO-FILHO, E.L.A.. Home range and activity patterns of
Pampas Deer in Emas National Park, Brazil. Journal of Mammalogy, Cambridge, v. 81, n. 4, p.
1136-1142, 1996.
RODRIGUES, F.H.G. História natural e biologia comportamental do Veado-campeiro no Parque
Nacional das Emas. In: Encontro Anual de Etologia Anais... n.14. Uberlândia, 1996. p. 223-231.
SCHALLER, G.B. Mammals and their biomass on a Brazilian ranch. Arquivos de Zoologia, São
Paulo, 31:1-36. 1983.
SCHWEINSBURG, R.E. & SOWLS, L.K. Aggressive behavior and related phenomena in the
collared peccary. Tierpsychologia, v. 30, p. 132-145, 1972.
SICURO, F.L. & F.B. OLIVEIRA. Coexistence of peccaries and feral hogs in the Brazilian
Pantanal wetland: a ecomorphological view. Journal of Mammalogy, Cambridge, v. 83, n. 1, p.
207-217, 2002.
SOWLS, L.K. Javelinas and other peccaries: their biology, management, and use. 2 ed. College
Station: Texas A&M University Press, 1997. 325p.
STALLINGS, J.R. Notes on feeding habits of Mazama gouazoubira in the Chaco Boreal of
Paraguay. Biotropica, St. Louis, v. 16, p. 155-157, 1984.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
131
TOMAS, W.M. Nota sobre a troca de galhadas pelo cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus) e
pelo veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus). In: XV Congresso Brasileiro de Zoologia.
Anais...Curitiba. p. 539. 1988.
ZALESKI, T. Atropelamento de mamíferos nas estradas da Fazenda Monte Alegre, município
de Telêmaco Borba, Estado do Paraná. 2003. 54 f. Monografia (Curso de Ciências Biológicas -
zoologia) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2003.
WILSON, D.E. & REEDER, D.M. Mammal species of the world: a taxonomic and geographical
reference. 2 ed. Washington, D.C: Smithsonian Institution. 1993. 1206p.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
132
Figuras do Capítulo VII
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
133
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
134
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
135
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
136
Capítulo VIII
ORDEM LAGOMORPHA
Nélio Roberto dos Reis
Professor Titular
Departamento de Biologia Animal e Vegetal
Universidade Estadual de Londrina
Wagner André Pedro
Professor Livre Docente do Departamento de Apoio, Produção e Saúde Animal
Universidade Estadual Paulista - UNESP – Araçatuba/SP
Cibele Maria Vianna Zanon
Bióloga (M.Sc.)
Laboratório de Mastozoologia
Universidade Estadual de Londrina
Os membros da ordem possuem cinco dedos nas patas anteriores e quatro nas
posteriores; os membros se parecem. Assemelham-se aos os dos roedores, entretanto, são
facilmente reconhecidos. Distinguem-se dos outros mamíferos pelo par de pequenos incisivos
superiores escondidos atrás dos incisivos maiores da frente. Possuem orelhas longas, pescoços
flexíveis, narinas fendidas que podem ser abertas e/ou fechadas, olhos grandes, sola dos pés com
pêlos, patas posteriores longas, cauda curta, pêlos macios e pele frágil (EMMONS, 1990;
EISENBERG & REDFORD, 1999).
Família Leporidae
É a única família de Lagomorpha representada no Brasil. Em geral, a fórmula dentária
dos membros dessa família corresponde a: 28
3
3
m
2
3
pm
0
0
c
1
2
i =
Sylvilagus brasiliensis (Linnaeus, 1768) – “tapiti”
Sua distribuição vai desde o leste do México até a Argentina (NOWAK, 1999). No
adulto, a cabeça tem de 20 a 40 cm, o corpo e a cauda tem de 1 a 6 cm, a massa corporal pode
alcançar 1,2 Kg.
As partes inferiores são escuras, variegadas com preto e amarelo. A região do pescoço
atrás das orelhas é avermelhada. Orelhas compridas, mas relativamente menores que da lebre-
européia. A cauda é muito pequena, minúscula, quase imperceptível (EMMONS, 1990).
Os tapitis são terrestres, solitários e noturnos, escondendo-se durante o dia. Vivem nos
campos sujos, nas roças abandonadas e na beira da mata que, em geral, não penetram. Não escavam
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
137
galerias, como o coelho europeu; passam o dia escondidos nas touceiras e saem no início da noite à
procura de alimento. Às vezes também invadem plantações, porém, devido à natural baixa
abundância, em geral não chegam a causar danos consideráveis (EMMONS, 1990). Alimentam-se
de gramíneas e de vegetais tenros. A gestação dura em média 30 dias, nascendo de dois a sete
filhotes, sem pêlos e com os olhos fechados (NOWAK, 1999).
Por serem raros e por não terem sua carne muito apreciada, não constituem objetos de
caça, segundo a literatura (IHERING, 2002). Contudo, estão incluídos, na categoria Vulnerável, na
Lista Vermelha de Animais Ameaçados de Extinção no Estado do Paraná. A inclusão se deve à
baixa densidade populacional, e a restrição atual de habitats confinados a áreas protegidas, nas quais
existam florestas (MARGARIDO & BRAGA, 2004).
São citadas como presas da jaguatirica Leopardus pardalis e do gato-do-mato
Leopardus tigrinus (ROCHA-MENDES, 2005).
Lepus europaeus (Pallas, 1778) - “Lebre-européia”
Originária da Europa e parte da Ásia foi introduzida na América do Sul (NOWAK,
1999), levada para a Argentina no final do século retrasado e em meados do século passado foi
introduzida no Brasil.
As fêmeas geralmente são maiores que os machos. As orelhas são longas, assim como
os pés, que possuem pêlos, como uma adaptação à região fria de onde são originários. As partes
dorsais são marrom ou marrom-acinzentado, e as ventrais podem ser desde amarelo-palha a branca.
Nos adultos, a cabeça e corpo medem de 60 a 70 cm e a massa corporal de 2,5 Kg a 7 Kg
(EISENBERG & REDFORD, 1999).
Facilmente se adaptam a diferentes habitats, inclusive áreas cultivadas, trazendo
prejuízos aos agricultores. Correm mais rapidamente e a maiores distâncias que os tapitis
(Sylvilagus). Registros na Polônia demonstram a ocupação de uma área de 20 ha, mas havendo
necessidade de fuga, podem deslocar-se por uma área de até 330 ha (NOWAK, 1999). Quando
incomodados, fazem barulhos de advertência com os dentes.
Sua alimentação baseia-se em itens vegetais (EMMONS, 1990; EISENBERG &
REDFORD, 1999).
O período reprodutivo ocorre durante todo o ano, nascendo em média de dois a três
filhotes por ninhada, após uma gestação que dura em torno de 42 dias. Os machos formam uma
rígida hierarquia (EMMONS, 1990; EISENBERG & REDFORD, 1999). São de ocorrência
ocasional no centro-oeste paranaense (ROCHA-MENDES, 2005).
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
138
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
EISENBERG, J.F. & REDFORD, K.H. Mammals of the neotropics: the central neotropics.
Ecuador, Peru, Bolivia, Brazil. Chicago: University of Chicago Press, 1999. x+609 p.
EMMONS, L. H. Neotropical rainforest mammals. A Field Guide. Chicago: University of
Chicago Press, 1990. 281 p.
IHERING, R. V. Dicionário dos animais do Brasil. São Paulo: Difel, 2002. 604p.
MARGARIDO, T.C.C. & BRAGA, F. G.. Mamíferos. In: MIKICH, S.B. & BÉRNILS, R.S (Eds.).
Livro vermelho da fauna ameaçada de extinção no estado do Paraná. Curitiba: Instituto
Ambiental do Paraná. 2004. 764p.
NOWAK, R. M. Walker´s Mammals of the World. 6 ed. Baltimore: The John Hopkins University
Press, 1999. v. 2. 1936 p.
ROCHA-MENDES, F. Ecologia alimentar de carnívoros (Mammalia: Carnivora) e elementos
de etnozoologia do Município de Fênix, Paraná, Brasil. 2005. 72 f. Dissertação (Mestrado em
Ciências Biológicas) - Instituto de Biociências, Letras, e Ciências Exatas de São José do Rio Preto,
Universidade Estadual Paulista. São José do Rio Preto, 2005.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
139
Figuras do Capítulo VIII
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
140
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
141
Capítulo IX
ORDEM RODENTIA
João Alves de Oliveira
Professor Adjunto (Ph.D)
Depto. Vertebrados, Museu Nacional
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Guilherme Silveira
Biólogo (M.Sc.)
Laboratório de Mastozoologia
Universidade Estadual de Londrina
Vlamir José Rocha
Biólogo (Dr.)
Manejo Ambiental da Klabin Florestal Paraná
Carlos Eduardo Faresin e Silva
Biólogo do Laboratório de Mastozoologia
Universidade Estadual de Londrina.
Os roedores constituem a ordem mais diversificada dos mamíferos com
aproximadamente 2000 espécies, que representam mais do que 43% da diversidade conhecida na
classe.
Diferenciam-se particularmente na dentição, por possuir um único par de incisivos
superiores e inferiores com crescimento contínuo e extremidades em bisel, e também pela ausência
de caninos, formando-se um grande espaço vazio (diástema) entre os incisivos e os pré-molares, na
maxila e na mandíbula. Esses caracteres possibilitam uma manipulação otimizada do alimento pelos
incisivos, bem como a capacidade de roer, que é típica da ordem.
Os roedores estão representados na fazenda Monte Alegre por pelo menos 20 espécies
silvestres, de oito diferentes famílias. A diversidade até o momento revelada caracteriza uma fauna
com elementos tanto da Floresta Atlântica como do Cerrado, com algumas espécies que podem ser
consideradas raras.
Durante o ano de 2004 foi registrado um fenômeno conhecido como “ratada” na região
de Telêmaco Borba e adjacências, caracterizado pela “explosão” populacional de algumas espécies
de roedores associada à frutificação da taquara-lixa (Merostachys multiramea Hack), que ocorre de
32 em 32 anos (PEREIRA, 1941). Nessa oportunidade foi possível documentar um aumento notável
na densidade de algumas espécies de murídeos, destacando-se em ordem de abundância:
Oligoryzomys nigripes, Thaptomys nigrita, Oryzomys russatus e Akodon montensis.
A seguir são listadas as espécies já registradas na fazenda Monte Alegre, agrupadas
pelas famílias a que pertencem.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
142
Família Sciuridae
Esta família está representada na América do Sul por diversas espécies de esquilos.
Esses são animais diurnos que apresentam um perfil característico, com a cabeça grande, membros
posteriores longos, postura ereta, e cauda longa e densamente pilosa, normalmente mantida
arqueada sobre o corpo. Possuem orelhas curtas e olhos grandes, e estão entre os poucos mamíferos
cuja visão pode distinguir uma ampla gama de cores, embora menos eficientemente do que os
primatas (WALLS, 1942; JACOBS, 1993). As patas dianteiras possuem quatro dedos compridos
com garras, e um pequeno polegar com uma garra curta, ao passo que as patas traseiras têm cinco
dedos compridos com garras. .2220
3
3
m
1
21
pm
0
0
c
1
1
i:é dentária fórmulaA =
Sciurus ingrami Thomas, 1901 ”esquilo”, “serelepe”, “caxinguelê”
É uma espécie de tamanho relativamente grande entre as formas atlânticas, com a
cauda longa (170-190 mm, medida nas vértebras caudais), ainda que um pouco mais curta do que o
comprimento cabeça-corpo (175-200 mm). A pelagem dorsal é longa e relativamente áspera, e,
assim como a superfície externa dos membros, é finamente agrisalhada de amarelo esmaecido
opaco e de preto, proporcionando um efeito oliváceo. O queixo e garganta são brancos; já o peito e
a cintura são ocráceo-esmaecidos, variando de intensidade em diferentes espécimes, e
freqüentemente apresentando uma linha branca mediana. A cauda é longa e estreita, os pêlos com
bandas amarelas, e com pontas amarelas ou brancas, proporcionando o efeito de um agrisalhado de
preto e amarelo esmaecido em ambas superfícies (ALLEN, 1915). Possuem oito mamas.
São diurnos e solitários, mas às vezes encontrados aos pares. Geralmente onívoros,
alimentam-se de sementes, frutos, insetos, fungos e algumas vezes de folhas, flores, e cascas de
árvores. Seus ninhos são descritos como um cilindro de folhas e galhos finos em entrelaçados de
trepadeiras ou em buracos de árvores. Parem geralmente dois filhotes (MOOJEN, 1952).
Distribuem-se do sudeste da Bahia até o leste do Rio Grande do Sul (ALLEN, 1915).
Na fazenda Monte Alegre têm sido avistados freqüentemente nas áreas de florestas com araucária e
raramente nas áreas de floresta semidecídua.
Família Muridae
Estão incluídos na subordem Sciurognathi, e podem ser caracterizados por
apresentarem forma geral de rato, com cauda fina. A fórmula dentária é .16
3
3
mpm
0
0
c
1
i: 0
01 = As
patas dianteiras têm quatro dedos longos e um polegar curto; as patas traseiras possuem cinco
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
143
dedos. Os murídeos da América do Sul pertencem todos à subfamília Sigmodontinae, que reúne
aproximadamente 300 espécies. Na região da fazenda Monte Alegre já foram registradas 12
espécies, sem incluir o rato doméstico, introduzido.
Oryzomys angouya (G. Fischer, 1814) ”rato-do-mato”
Um roedor orizomino grande (cabeça-corpo 155-197 mm), com a pelagem dorsal
marrom-acinzentada e tracejada por pêlos pretos, e a pelagem do ventre branco-amarelada, quase
branca na garganta. Cauda longa (205–216 mm), fina, unicolor, coberta com poucos pêlos, mas com
um discreto tufo na ponta. Os pés (34-39 mm) e orelhas (22-25 mm) são também grandes.
Ocorre em florestas tropicais e subtropicais do leste do Brasil, nos estados do sudeste e
sul do País, nas províncias de Misiones e Jujuy na Argentina, e ao leste do Paraguai (MUSSER et
al., 1998). É encontrado também em matas secundárias, plantações e ocasionalmente em silos.
Na área da fazenda Monte Alegre foi capturada em área de floresta com araucária.
Obs. MUSSER et al. (1998) consideraram Oryzomys ratticeps (Hensel, 1872), o nome
como esta espécie vinha sendo conhecida recentemente, como um sinônimo-júnior de Mus angouya
G. Fischer, 1814, para o qual designaram um neótipo a partir de um espécime do Paraguai.
Oryzomys russatus (Wagner, 1848) ”rato-do-mato”, “cujara”, “cuiara”
Um roedor orizomino de tamanho grande, com cauda igual ou pouco mais longa (134-
175 mm) do que o comprimento cabeça-corpo (128-160 mm), pelagem dorsal fulvo brilhante, com
áreas ocráceas nas laterais do corpo e da cabeça, ventre cinza esbranquiçado, cauda unicolor,
matizada na superfície ventral próxima à ponta. Os pés são relativamente longos (32-37 mm), com
superfícies dorsais cobertas por pêlos brancos, e garras ocultas por longos tufos ungueais (MUSSER
et al., 1998).
Sua ocorrência está associada a florestas pluviais, tendo sido registrado nas encostas
andinas do sul da Bolívia e norte da Argentina, ao longo de rios no centro-sul do Brasil, e em
florestas tropicais e subtropicais no sudeste do Brasil, desde o nível do mar até 2100 m (MUSSER
et al., 1998).
Na fazenda Monte Alegre foi registrado em áreas de floresta com araucária, floresta
semidecídua e em reflorestamentos de araucária. Foi uma das espécies abundantes durante a ratada
que ocorreu em 2004, tendo invadido áreas urbanizadas nas localidades de Lagoa, Harmonia e na
periferia de Telêmaco Borba.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
144
Oligoryzomys nigripes (Olfers, 1818) ”calunga”
Uma espécie relativamente grande do gênero, com o comprimento cabeça-corpo em
adultos variando entre 70 e 120 mm e a cauda entre 96 e 144 mm. Em relação a outras espécies do
gênero registradas nas regiões sul e sudeste, as orelhas são maiores (14-20 mm) e os pés mais curtos
(21-29 mm) (WEKSLER & BONVICINO, 2005). A pelagem dorsal é alaranjada, moderadamente
tracejada de preto, mais distintamente na cabeça, e as orelhas são marrom-escuras internamente e
alaranjadas nas extremidades; as faces são alaranjadas, e os pêlos do queixo brancos até a base. A
pelagem ventral é bem delimitada com relação ao dorso, com pêlos de ponta branca e base
acinzentada, que usualmente é visível. Freqüentemente apresentam uma banda peitoral alaranjada.
(MYERS & CARLETON, 1981) O cariótipo, também diagnóstico, consiste de 2n = 62 e NA = 78-
82.
Esta espécie ocorre na Floresta Atlântica, desde o estado de Pernambuco até o Rio
Grande do Sul, e no Cerrado, em florestas de galeria nos estados de Minas Gerais, Goiás e São
Paulo. Ocorre também no Paraguai, Uruguai e Argentina (WEKSLER & BONVICINO, 2005).
Fêmeas reprodutivas foram registradas em junho e agosto no Paraguai, e em setembro
e novembro no Brasil Central. Na área da fazenda Monte Alegre já foi registrada em áreas de
floresta com araucária, floresta semidecídua e em campos naturais. Durante a “ratada” registrada
em 2004 foi a espécie mais abundante na região, com um pico no número de espécimes nos meses
de junho a setembro, quando invadiu áreas urbanizadas nas localidades de Lagoa, Harmonia e na
periferia de Telêmaco Borba. Durante o fenômeno da “ratada” de 2004, espécimes eram atropelados
às centenas todas as noites na rodovia PR163, que corta a fazenda Monte Alegre. Durante os meses
de inverno, principalmente, foi constatado intenso canibalismo e acentuada atividade de corujas e
gaviões às margens da rodovia, sobre as carcaças de roedores atropelados. Em dezembro daquele
ano, entretanto, já se encontravam em densidade bem inferior às registradas para Thaptomys nigrita,
Akodon montensis e Oryzomys russatus, sendo que em janeiro de 2005 não foram registrados por
sequer uma captura.
Nectomys squamipes (Brants, 1827) “rato-d’água”
Outro grande roedor orizomino, maior do que as espécies do gênero Oryzomys
(cabeça-corpo 175-252 mm, cauda 190-245 mm). A pelagem do dorso é marrom-escura brilhante e
a do ventre amarelo-acinzentado, sem um limite definido. As orelhas não são conspícuas, e são
finamente revestidas por pêlos em torno da base, quase nuas em direção à extremidade. A cauda é
robusta, pouco pilosa, com pêlos marrons, mais densos na face ventral, algumas vezes formando
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
145
uma espécie de quilha. Pés grandes e robustos (46-53 mm), com calcanhar estreito e palma larga,
com membranas interdigitais, tufos digitais curtos raramente atingindo a metade proximal das
garras. Dois pares de mamas peitorais e dois pares inguinais.
Nectomys squamipes tem sido considerada uma espécie politípica (HERSHKOVITZ,
1944). Segundo este autor, duas formas ocorreriam no Paraná, N. s. squamipes e N. s. pollens, que
se distinguiriam principalmente pelo tamanho, sendo que a primeira estaria entre as menores
subspécies e a segunda entre as maiores (HERSHKOVITZ, 1944). BONVICINO (1994), entretanto,
concluiu que as amostras da bacia do Rio Paraná referem-se a apenas uma forma, Nectomys
squamipes, com cariótipo 2n=56 e FN= 56, que estaria distribuído nas bacias do Rio S. Francisco,
do Rio Paraná e em todas as bacias menores da Bahia ao Rio Grande do Sul, através do leste de
Minas Gerais. Outros cariótipos particulares de outras bacias foram referidos a outras espécies de
Nectomys por BONVICINO (1994).
São noturnos, terrestres e semiaquáticos. Alimentam-se de artrópodes e outros
invertebrados, frutos, e fungos. São adaptados ao nado e quase sempre encontrados perto da água.
(EMMONS et al., 1997; MOOJEN, 1952). Na fazenda Monte Alegre foram capturados sempre
próximos a cursos de água, e durante a ratada de 2004 dois espécimes foram coletados em área
urbanizada na localidade de Lagoa.
Delomys dorsalis (Hensel, 1872) “rato-do-mato”
Um roedor sigmodontíneo de porte médio (cabeça-corpo 102-130 mm), cauda
aproximadamente igual ou um pouco mais longa (112-142 mm) do que o corpo, pelagem dorsal
variando de canela a marrom-acinzentada, mais enegrecida na linha média dorsal, onde se forma em
alguns espécimes uma linha escura da nuca até a base da cauda. Ventre esbranquiçado ou
acinzentado-claro devido às bases cinza-escuras dos pêlos, com um limite bem definido com a
pelagem do dorso. Pés relativamente longos (27-33 mm), cobertos por pêlos curtos com uma banda
melânica indistinta (VOSS, 1993).
Distribui-se na floresta atlântica do sudeste-sul do Brasil, do Rio de Janeiro ao Rio
Grande do Sul, atingindo também a província de Misiones na Argentina.
Fêmeas grávidas com dois a quatro embriões foram registradas nos meses de agosto,
setembro e janeiro, em um estudo desenvolvido ao longo de um ano em Teresópolis, Rio de Janeiro
(DAVIS, 1947).
Na fazenda Monte Alegre foi capturado apenas uma vez, em área de floresta com
araucária.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
146
Akodon montensis Thomas, 1913 “rato-do-chão”
Um roedor akodontino de tamanho pequeno (comprimento médio cabeça-corpo 115
mm para machos e 108 mm para fêmeas), com a cauda menor do que o corpo (93 mm para machos
e 88 para fêmeas; GEISE et al., 2005). A pelagem dorsal é oliváceo-acinzentada, o dorso posterior e
as laterais do corpo com tons argilosos ou amarelo-pálidos, e a pelagem ventral amarelo-pálida e
acinzentada, com bases dos pêlos ardósia. Pés e mãos são branco-acinzentadas. Cauda pouco pilosa,
com anéis aparentes, orelhas grandes.
Distribui-se nos estados do sudeste e sul do Brasil, em Misiones (Argentina) e no leste
do Paraguai, onde está situada a localidade-tipo.
Foi registrado na fazenda Monte Alegre em áreas de floresta com araucária e em
reflorestamentos de araucária. Durante a “ratada” de 2004 foi uma das espécies abundantes, tendo
invadido áreas urbanizadas na localidade de Lagoa, Harmonia e periferias de Telêmaco Borba.
Esta espécie é de difícil distinção, pelos caracteres externos, da forma congênere
Akodon cursor, que ocorre em diversos lugares em simpatria, mas que não foi registrada na região.
Diferencia-se dela pelo cariótipo (GEISE et al., 1998) e pela presença da vesícula biliar (GEISE et
al., 2004).
Thaptomys nigrita (Lichtenstein, 1829) “pitoco”
Um pequeno roedor akodontino, de tronco relativamente alongado, membros
proporcionalmente curtos e cauda bem curta (35-40 mm). Os olhos e orelhas são reduzidos e as
patas anteriores e posteriores têm unhas bem desenvolvidas. A cor dorsal marrom-escura
agrisalhada de ocráceo se extende até as patas. O ventre é cinzento-amarronzado, sendo as bases
dos pêlos cinza-escuras. A cauda é bem escura, pouco pilosa.
A espécie é endêmica da Mata Atlântica, onde apresenta registros desde a Bahia ao Rio
Grande do Sul, e na Província de Misiones, na Argentina.
Na fazenda Monte Alegre a espécie foi registrada em grande número em 2004, sendo a
segunda mais abundante durante o pico da “ratada”, invadindo áreas urbanizadas nas localidades de
Lagoa, Harmonia e na periferia de Telêmaco Borba. Entretanto, em dezembro, quando foi
amostrado em número maior do que as outras espécies de murídeos, já não se registraram quaisquer
fêmeas grávidas, diferentemente do que havia sido reportado para indivíduos do Rio de Janeiro,
onde a época reprodutiva se estende de agosto a março, com número de embriões variando entre
dois e cinco (MOOJEN, 1952).
Obs. MOOJEN (1952) considera uma segunda forma no gênero habitando o sul do
Brasil, T. subterraneus (Hensel), que em compilações mais recentes tem sido tratada como um
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
147
sinônimo de T. nigrita. A recente detecção de um cariótipo distinto para uma amostra da Bahia
(VENTURA et al., 2004) sugere uma diferenciação maior no gênero do que a reconhecida
atualmente.
Bolomys lasiurus (Lund, 1841) “pixuna”
Um roedor akodontino de cauda menor (60-88 mm) do que o comprimento cabeça-
corpo (98-130 mm), pelagem dorsal bruno-escura amarelada e ventre camurça-claro, com a parte
distal dos pêlos ventrais obstruindo as bases ardósia. Cauda pilosa, fracamente bicolor, escura acima
e com pelos esbranquiçados abaixo, particularmente próximo à base da cauda. Um caráter distintivo
na pelagem é um anel periocular mais claro, que pode ser muito tênue em alguns espécimes.
Orelhas não conspícuas, cobertas de pêlos curtos.
Distribui-se no Brasil caracteristicamente em áreas de cerrado e nas partes mais úmidas
da Caatinga, como as bases de serras e matas semidecíduas, sendo também encontrado em regiões
de transição com a Mata Atlântica, habitando as bordas de mata. Embora seja considerada uma
espécie de “ratada” (HERSHKOVITZ, 1962), na fazenda Monte Alegre foi registrado com base em
apenas um espécime, obtido em uma armadilha tipo fojo (“pitfall”) em setembro de 2004, em uma
área de floresta com araucária.
Oxymycterus judex Thomas, 1909 “rato-porco”, “rato-mineiro”
Uma das espécies de grande tamanho do gênero (cabeça-corpo 150-173 mm, cauda
115-136 mm, orelha 21-25 mm e pé 35-40 mm), e na qual os caracteres externos que melhor o
distinguem, como o focinho e garras alongados, são bastante notáveis. A pelagem dorsal varia do
marrom-alaranjado fortemente tracejado de preto, com uma linha longitudinal mais intensamente
preta da cabeça ao meio do dorso, ao marrom-ocráceo, sem preto. Em alguns espécimes o
componente preto da pelagem proporciona um brilho metálico iridescente à contra-luz. A pelagem
ventral usualmente varia do cinza-amarelado escuro a um laranja escuro, devido a predominância
geral das partes distais dos pêlos ventrais em relação às suas bases acinzentadas.
Esta espécie também é endêmica da Floresta Atlântica do sudeste e sul do Brasil,
estando presente nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul. Existe considerável variação geográfica, e é possível que algumas destas formas geográficas
venham a ser consideradas espécies distintas (OLIVEIRA, 1998).
Na fazenda Monte Alegre espécimes foram capturados em áreas de floresta nativa com
araucária e em reflorestamento de araucária, em setembro de 2004, sempre em baixas densidades.
Ao término da ratada, em janeiro de 2005, é que foi registrado por um maior número de capturas.
Calomys sp. “ratinho-do-campo”
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
148
É um pequeno roedor filotino, com a cauda menor (75 mm) do que o comprimento
cabeça-corpo (157 mm). A forma encontrada na fazenda Monte Alegre caracteriza-se pela
pelagem dorsal olivácea-escura, laterais progressivamente mais claras em direção ao ventre, no
limite com o qual está presente uma tênue banda amarelada. Os pêlos do ventre têm a metade distal
branca e base cinza, resultando em um aspecto geral branco-sujo e acinzentado, e sem o tom
amarelo-palha que está presente nas laterais. A cauda é densamente pilosa, bicolor, com pêlos
escuros na superfície dorsal e brancos na ventral. Patas e dígitos anteriores e posteriores são
cobertos dorsalmente por pêlos pequenos inteiramente brancos, que se projetam sobre as garras, e
que dão o aspecto geral branco destas partes. Da mesma forma que as outras espécies do gênero, um
pequeno tufo de pêlos de coloração similar aos do ventre, esbranquiçado, está presente
imediatamente atrás das orelhas, que por sua vez são relativamente pequenas (14 mm) e recobertas
por pêlos pequenos de cor similar à dorsal. Um único espécime foi capturado ao longo de um ano
de coletas, o que sugere que a espécie seja rara na região da fazenda Monte Alegre. A identificação
da espécie ainda depende da obtenção de uma amostra maior, e da preparação do cariótipo, que é
bastante diagnóstico para as espécies do gênero (BONVICINO & ALMEIDA, 2000).
Brucepattersonius iheringi (Thomas, 1894)
Um roedor akodontino de porte mediano para a tribo (cabeça-corpo 100 mm), de
cauda pouco menor do que o tamanho do corpo (94 mm), orelhas grandes (16-17 mm), olhos
pequenos e focinho afilado. Pelagem dorsal uniformemente marrom-acinzentada, ventre
acinzentado, patas anteriores e posteriores esparsamente cobertas de pequenos pêlos brancos e
acinzentados, com o tom róseo subjacente da pele apenas parcialmente obstruído pelos pêlos
grisalhos. Cauda fracamente bicolor, escura dorsalmente, com anéis facilmente distinguíveis e
pouco pilosa. Seis mamas.
Registros de B. iheringi estão provavelmente restritos aos estados de São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Na fazenda Monte Alegre foi registrado em
armadillhas de fojo (“pitfall”) em março, julho e setembro de 2004, em áreas de floresta nativa com
araucária e em reflorestamentos de araucária, sempre em densidades baixas.
Juliomys pictipes (Osgood, 1933)
Um roedor pequeno (cabeça-corpo variando entre 82 e 104 mm), com cauda
relativamente longa (de 101 a 117 mm), pelagem dorsal curta, ocrácea, mais avermelhada no topo
da cabeça e no dorso posterior e mais acinzentada na parte anterior do dorso e partes externas dos
membros anteriores. Laterais do corpo mais claras do que o dorso, progressivamente esmaecendo
em direção ao ventre, que é creme, levemente tingido de ocráceo, mas contrastando-se em algumas
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
149
áreas com bases plúmbeas dos pêlos ventrais, que se revelam ocasionalmente. A cauda é levemente
bicolor, sendo a parte terminal acinzentada em toda a circunferência. Pés e mãos cobertos com
pêlos ocráceos-claros misturados com poucos pêlos escuros; dedos cobertos com tufos ungueais
esbranquiçados misturados com poucos pêlos totalmente escuros. O cariótipo tem 2n=36 e FN=34
(BONVICINO & OTAZU, 1999).
Juliomys pictipes é espécie endêmica da Floresta Atlântica do sudeste-sul do Brasil e
da província de Misiones, na Argentina. No Brasil há registros para os estados do Rio de Janeiro,
São Paulo e Santa Catarina. O presente registro da fazenda Monte Alegre é o primeiro reportado
para o estado do Paraná.
São habitantes de florestas, de hábitos presumivelmente arborícolas, apesar de alguns
espécimes já terem sido capturados no chão. Na fazenda Monte Alegre foi capturado apenas um
exemplar, em reflorestamento de araucária, em armadilha tipo fojo (“pitfall”), em setembro de
2004.
Obs. O gênero Juliomys González, 1998, foi recentemente descrito para acomodar a
espécie J. pictipes, que tinha sido alocada anteriormente aos gêneros Thomasomys ou Wilfredomys.
Mais recentemente uma nova espécie, da Serra da Mantiqueira, foi descrita e assinalada ao gênero.
Rattus rattus (Linnaeus, 1758)
O rato doméstico (introduzido) foi registrado no perímetro urbano de Telêmaco Borba,
habitações e próximo aos viveiros de animais silvestres do criadouro científico da Klabin,
localizado na fazenda Monte Alegre.
Família Echimyidae
Inclui os ratos-de-espinho e afins. A fórmula dentária nesta família e em todos os
outros roedores histricognatos registrados é 20
3
3
mpm
0
0
c
1
i 1
11 = .
A família Echimyidae está representada na fazenda Monte Alegre por pelo menos duas
espécies:
Euryzygomatomys spinosus (G. Fischer, 1814) “rato-de-espinho”, “curuá”
Um roedor de tamanho mediano a grande, de porte similar ao da “preá” (cabeça-corpo
170-250 mm), cauda curta (35-70 mm), orelhas curtas (15-20 mm), e pelagem densa e áspera, com
pêlos aculeiformes pouco desenvolvidos. A superfície dorsal é escura, mais clara nas laterais do
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
150
corpo; a cauda é escura, recoberta de curtos pêlos rígidos e a superfície ventral tem uma faixa
longitudinal variável de pêlos inteiramente brancos, exceto no queixo e na garganta, onde as partes
distais dos pêlos são castanho-claras, e próximo à cauda, onde são arruivadas. A ninhada tem dois
ou três filhotes.
Distribui-se no sudeste e sul do Brasil, no nordeste da Argentina e no leste do
Paraguai. De hábito fossorial, é mais ativo ao entardecer e à noite, cavando galerias de até 1,2 m de
comprimento em solo arenoso, sob arbustos baixos, ou nas bordas de clareiras (MOOJEN, 1952;
ALHO, 1982). Na área da fazenda Monte Alegre tem sido registrado em plantios novos de Pinus,
chegando algumas vezes a matar as mudas por roer suas bases.
Kannabateomys amblyonyx (Wagner, 1845) “rato-de-taquara”
Um roedor arborícola grande (cabeça-corpo 180-250 mm), com uma longa cauda (240-
420 mm) provida de pincel na ponta, vibrissas faciais longas, patas com dedos longos e unhas
rombudas. Pelagem dorsal arruivada, tracejada de preto ou cinza escuro, mais grisalha na fronte;
focinho alaranjado, laterais do corpo e parte dorsal das patas um pouco mais claras do que o dorso,
mas com a base dos pêlos cinza-escura, como o dorso. Pêlos ventrais inteiramente alaranjados,
exceto o pescoço e, em alguns indivíduos, o peito e as axilas, que são inteiramente brancos. Cauda
bicolor, coberta com pêlos longos, escuros acima e grisalho-amarelados abaixo, obstruindo os anéis
de escamas principalmente no terço anterior, e formando um pincel conspícuo na extremidade.
É um habitante característico de taquarais, alimentando-se dos brotos superiores, mais
novos (GOELDI, 1893). Noturno, também nidifica em taquarais, sendo o ninho feito de palha e
folhas secas, no alto (VON IHERING, 1893). Foi registrado por duas ocasiões na fazenda Monte
Alegre em área urbanizada na localidade de Lagoa.
Família Caviidae
São as “preás”, “mocós” e “maras”. No sul do Brasil está representada apenas pelo
gênero Cavia.
Cavia aperea Erxleben, 1777 “preá”
Um roedor de hábito cursório, sem cauda, de tamanho mediano a grande para a família
(cabeça e corpo 220-290 mm). O dorso é marrom tracejado de preto; o ventre é bege, finamente
tracejado de marrom, mais escuro no peito. Os membros anteriores têm quatro dedos e os
posteriores três, providos com unhas grandes.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
151
É encontrado desde o Equador ao sul do Suriname, leste e sul do Brasil, Paraguai,
Uruguai e norte da Argentina.
Habita comumente capinzais à beira dos brejos, córregos e rios. Apresenta atividade
diurna e crepuscular. A gestação dura aproximadamente 62 dias e as ninhadas são formadas por
geralmente dois filhotes. Geralmente se associam em pequenos grupos de cinco a dez indivíduos,
regidos por hierarquia bem estabelecida.
Na fazenda Monte Alegre são comumente observados em áreas de capim alto, próximo
á borda de estradas e rodovias.
Família Hydrochaeridae
Inclui a maior espécie de roedor vivente, único representante atual da família.
Hydrochaeris hydrochaeris (Linnaeus, 1766) “capivara
A pelagem é longa e grossa, com coloração marrom-avermelhada para o cinzento nas
partes superiores e marrom-amarelada nas partes inferiores. Possui quatro dedos nas patas dianteiras
e três na traseira, os quais são providos de membranas interdigitais. O comprimento total em
indivíduos completamente adultos varia entre 106,5 e134 cm, a altura média na cernelha entre 50 e
62 cm, e a massa corporal entre 35 e 65,5 Kg (OJASTI, 1973).
Distribui-se amplamente desde a América Central (Panamá), leste da Colômbia,
Venezuela, Guianas, partes amazônicas do Equador, Peru e Bolívia, Brasil, Paraguai, Uruguai, e no
nordeste da Argentina. Ocorre nos mais variados tipos de ambiente, desde matas ciliares a savanas
sazonalmente inundáveis, a até 500 m de distância da água. Apresenta atividade diurna, mas o
principal período de alimentação ocorre do fim da tarde às primeiras horas da noite e algumas horas
antes do amanhecer. É um herbívoro generalista que se alimenta de gramíneas e de plantas
aquáticas. Pode competir com o gado por pasto e invadir plantações, especialmente na época de
seca.
Os grupos sociais variam desde três a mais de 40 indivíduos adultos, com um macho
dominante facilmente reconhecido devido à presença de uma protuberância nasal, a glândula
supranasal. Os machos marcam seus territórios esfregando a glândula em arbustos e árvores, a qual
secreta uma substância pastosa. A reprodução ocorre uma vez ao ano e o período de gestação dura
cerca de 16 semanas, após o qual nascem em média quatro filhotes (OJASTI, 1973).
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
152
Na fazenda Monte Alegre indivíduos desta espécie são comumente observados, sempre
próximos de ambientes aquáticos.
Família Dasyproctidae
São as cutias e cutiaras, as últimas restritas à parte setentrional da América do Sul.
Dasyprocta azarae Lichtenstein, 1823 “cutia”
Uma das menores cutias, (comprimento cabeça-corpo entre 45 e 57,5 cm, massa
corporal entre 2,4 e 3,2 kg), com cauda muito reduzida, variando de 1,4 a 3,3 cm. A cor da pelagem
dorsal resulta da mistura de bandas intercaladas esbranquiçadas e amarelo-alaranjadas de pêlos
pretos, o que determina um aspecto geral finamente tracejado, mais grisalho na cernelha e no dorso
posterior, onde predominam os tons escuros, e mais amarelo-alaranjado na cabeça, laterais do corpo
e coxas, onde as bandas são maiores. Ventre com predomínio de pêlos totalmente alaranjados,
exceto no pescoço, que é apenas mais claro do que a superfície dorsal correspondente. A região
genital é desprovida de pêlos, e as orelhas são pouco pilosas e escuras. As patas são grandes
providas de quatro dígitos anteriores e três posteriores, munidos de unhas grandes.
Distribuída da Bolívia ao leste dos Andes, Paraguai e Norte da Argentina,ao Brasil
desde as regiões centro-oeste e sul à parte do sudeste (São Paulo), em hábitats do chaco, cerrado,
pantanal e florestas subtropicais. Em algumas áreas constrói covas entre pedregulhos de pedra
calcária, ao longo de margens, ou debaixo das raízes de árvores. É basicamente diurna, terrestre e
adaptada para locomoção cursória.
O período de gestação é de cerca de 104 dias, dando à luz dois ou três filhotes
(GILMORE, in MOOJEN, 1952).
Na fazenda Monte Alegre é registrada com freqüência sempre em áreas de florestas.
No período de frutificação da araucária pode ser vista alimentando-se de pinhões e mesmo
enterrando-os, sendo que estes podem eventualmente germinar, produzindo novas araucárias.
Família Cuniculidae
Esta família inclui apenas duas espécies do gênero Cuniculus, caracterizado pela
notável expansão e enrugamento da região zigomática do crânio. Apenas uma delas é registrada
para a região da fazenda Monte Alegre:
Cuniculus paca (Linnaeus, 1766) “paca”
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
153
É um dos maiores roedores viventes (comprimento cabeça-corpo de adultos entre 60 e
80 cm, massa corporal de 6 a 12 Kg), com a cor da pelagem dorsal variando desde um cinza-
esfumaçado a um marrom avermelhado ou marrom-escuro, e com duas a sete séries de manchas
circulares pálido-amareladas nos flancos, dispostas em linhas longitudinais, mais ou menos
paralelas, mais numerosas nos indivíduos jovens. A cauda é muito curta, os membros são curtos, e
os dígitos alongados.
Distribui-se do sul do México e América Central à Venezuela, Colômbia, Equador e
Peru, sempre a oeste da Cordilheira, às Guianas e todo o Brasil, bem como ao leste da Bolívia e do
Paraguai, e ao norte da Argentina (Misiones). Vive em diversos tipos de hábitats, mas normalmente
busca áreas arborizadas próximas a água, onde prefere pequenos fluxos, rápidos e sombreados. É
um animal solitário, de hábitos noturnos, passando o dia em covas individuais, que escava ou obtém
de algum outro animal. A dieta é constituída principalmente de frutos silvestres (COLLET, 1981).
Pode reproduzir até duas vezes ao ano, dando à luz um indivíduo, raramente dois. O período de
gestação é de 118 dias.
Para a fazenda Monte Alegre tem sido registrado raramente, e sempre em ambiente de
floresta.
Obs. O Comitê Internacional de Nomenclatura Zoológica (1998), determinou a
disponibilidade do nome Cuniculus Brisson (1762), que por esta razão substitui Agouti Lacépède,
1799 como o nome genérico mais antigo para a paca.
Família Erethizontidae
Inclui os “coandus” e “ouriços-cacheiros”.
Sphiggurus villosus (F. Cuvier, 1823) “ouriço”, “ouriço-cacheiro”, “coandu”
Um roedor arborícola grande (30-54 cm), com cauda preênsil (20-41 cm), coberto de
espinhos amarelos com a ponta preta ou alaranjada que estão escondidos na maior parte do corpo
sob longos pêlos pardo-amarelados. As orelhas são pequenas, cobertas externamente por pêlos
alaranjados. Os espinhos da cabeça são mais visíveis do que os do restante do corpo, o focinho é
arredondado e coberto por pêlos diminutos alaranjado-escuros. A base da cauda é densamente
pilosa, da mesma cor do dorso acima e alaranjada abaixo. Os pés são desprovidos do hálux, que é
substituído por uma grande calosidade preensora. Apresenta garras desenvolvidas nos membros
anteriores e posteriores.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
154
Distribuído de Minas Gerais ao Rio Grande do Sul, Paraguai, Uruguai e norte da
Argentina.
De hábitos noturnos e geralmente solitário, vive principalmente nas florestas e
capoeiras, e é encontrado algumas vezes próximo a habitações. Alimenta-se de folhas, frutos e da
casca de várias árvores.
Na fazenda Monte Alegre é avistado com freqüência em áreas de florestas e nas
proximidades da localidade Lagoa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALHO, C.J.R. Brazilian rodents: their habitat and habits. Pymatuning Lab. Ecol. Spec. Publ.
Linesville, v.6, p.143-166, 1982.
ALLEN, J.A. Review of the South American Sciuridae. Bull. Amer. Mus. Nat. Hist., Nova Iorque,
v.34, p.147-309, 1915.
BONVICINO, C.R. Especiação do rato-d`água Nectomys squamipes (Rodentia, Cricetidae).
1994. 265 f. Tese (Doutorado em Genética) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro,1994.
BONVICINO, C.R. & ALMEIDA F.C. Karyotype, morphology, and taxonomic status of Calomys
expulsus (Rodentia: Sigmodontinae). Mammalia, Paris, v. 64, p. 339-351, 2000.
BONVICINO, C.R. & OTAZU I. B. The Wilfredomys pictipes (Rodentia: Sigmodontinae)
karyotype, with comments on the karyosystematics of Brazilian Thomasomyini. Acta Theriol.,
Bialowieza, v. 44, p. 329-323, 1999.
COLLETT, S.F. Population characteristics of Agouti paca (Rodentia) in Colombia. Publications of
the Museum Michigan State University, Biological Series, Michigan, v. 5, n. 7, p. 489-601, 1981.
DAVIS, D. E. Notes on the life histories of some Brazilian mammals. Bol. Mus. Nac. (Nova
Série), Rio de Janeiro, v. 76 p. 1-8, 1947.
EMMONS, L. H. & FEER, F. Neotropical rainforest mammals, a field guide. 2. ed. Chicago:
The University of Chicago Press, 1997. 307p.
GEISE, L.; CANAVEZ, F.C. & SEUÁNEZ, H.N. Comparative karyology in Akodon (Rodentia,
Sigmodontinae) from Southeastern Brazil. J. of Heredity, Cary, v. 89, p. 158-163, 1998.
GEISE, L.; WEKSLER, M. & BONVICINO, C.R. Presence or absence of gall bladder in some
Akodontini rodents (Muridae, Sigmodontinae). Mamm. Biol., Jena, v. 69, p. 1-5, 2004.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
155
GEISE, L.; MORAES, D.A. & SILVA, H.S. Morphometric differentiation and distributional notes
of three species of Akodon (Muridae, Sigmodontinae, Akodontini) in the Atlantic coastal area of
Brazil. Arq. Mus. Nac., Rio de Janeiro, v. 63, p. 63-74, 2005.
GOELDI, E. A. Os mamíferos do Brasil. Rio de Janeiro: Alves e C., 1893.167 p.
HERSHKOVITZ, P. A systematic review of the Neotropical water rats of the genus Nectomys
(Cricetinae). Misc. Publ. Mus. Zool., Michigan, v. 58, p. 1-101, 1944.
HERSHKOVITZ, P. Evolution of Neotropical cricetine rodents (Muridae) with special reference to
the Phyllotine group. Fieldiana: Zoology, Chicago, v. 46, p.1-524, 1962.
IHERING, H. VON Mammiferos do Rio Grande do Sul. Anuário Estatístico do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, p. 96-123. 1893.
JACOBS, G.H. The distribution and nature of colour vision among the mammals. Biological
Reviews of the Cambridge Philosophical Society, Cambridge, v. 68, n. 3, p. 413-471, 1993.
MOOJEN, Os roedores do Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1952. 214p.
MUSSER, G.G.; CARLETON, M. D.; BROTHERS, E.M. & GARDNER, A.L. Systematic studies
of Oryzomyine rodents (Muridae, Sigmodontinae): Diagnoses and distributions of species formerly
assigned to Oryzomys “capito”. Bull. Amer. Mus. Nat. Hist., Nova Iorque, v. 236, 1-376. 1998.
MYERS, P. & M. D. CARLETON, The species of Oryzomys (Oligoryzomys) in Paraguay and the
identity of Azara`s ”Rat sixième ou rat à tarse noir”. Misc. Publ. Mus. Zool., Michigan, v. 161, p.
1-41, 1981.
OLIVEIRA, J.A. Morphometric assessment of species groups in the South American rodent
genus Oxymycterus (Sigmodontinae), with taxonomic notes based on the analysis of type
material. 1998. 320 f. Tese (Doutorado em Zoologia), Texas Tech University, Lubbock, 1998.
OJASTI, J. Estúdio biológico Del chiguiri o capibara. Caracas: Fondo Nac. Invest. Agropec.,
1973. 275 p.
PEREIRA, C. Sobre as ratadas no sul do Brasil e o ciclo vegetativo das taquaras. Arq. Inst. Biol.
São Paulo, v. 12, p. 175-195, 1941.
VENTURA, K.; SILVA, M. J. de J.; FAGUNDES, V.; PARDINI, R. & YASSUDA, Y. Y. An
undescribed karyotype for Thaptomys (2n = 50) and the mechanism of differentiation from
Thaptomys nigrita (2n = 52) evidenced by FISH an Ag – NORs. Caryologia, Florence, v. 1, n. 57,
p. 89-97, 2004.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
156
VOSS, R.S. A revision of the Brazilian muroid rodent genus Delomys with remarks on
“Thomasomyine” characters. Amer. Mus. Novit., Nova Iorque, v. 3073, p. 1-44, 1993.
WALLS, G.L. The vertebrate eye and its adaptive radiation. Michigan: Cranbrook Institute of
Science, Bloomfield Hills, 1942. 785p.
WEKSLER, M. & BONVICINO, C.R. Taxonomy of pigmy rice rats genus Oligoryzomys Bangs,
1900 (Rodentia, Sigmodontinae) of the Brazilian cerrado, with description of two new species. Arq.
Mus. Nac., Rio de Janeiro, v. 63, p. 113-130, 2005.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
157
Figuras do Capítulo IX
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
158
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
159
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
160
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
161
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
162
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
163
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
163
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
164
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
164
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
165
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
166
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
167
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
168
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
169
Capítulo X
PROCEDIMENTOS DE CARÁTER TÉCNICO USADOS NOS DESENHOS DAS
PRANCHAS SOBRE MAMÍFEROS.
Hernán Fandiño-Mariño
Professor (Dr.)
Departamento de Biologia Animal e Vegetal
Universidade Estadual de Londrina
A presente resenha visa expor alguns procedimentos e “truques” que utilizei para
facilitar a obtenção dos resultados procurados. Algumas dessas intenções foram apresentadas em
texto precedente. Não que estes procedimentos sejam uma forma muito moderna de proceder, pois,
com a “corrida informatizante” dos dias de hoje, e, dependendo dos “recursos” que se tenha no
bolso, é muito provável que existam formas muito mais eficientes, rápidas ou tecnológicas de fazer
o que aqui foi feito. Assim, as minhas “dicas” vão mais dirigidas aqueles que ainda trabalham
basicamente com lápis e papel e tem a borracha como sua grande assessora.
O trabalho de representar as espécies listadas num texto científico é tão laborioso e
complicado quanto importante, na medida em que o mesmo rigor exigido para as descrições seja
observado na execução dos desenhos. Para qualquer espécie, existe uma descrição minuciosa e
detalhada, pelo menos aquela que deu origem ao seu reconhecimento porém, nem sempre existe
uma representação imagética boa que inclua as característlicas referidas na descrição. Todavia, uma
representação gráfica de qualidade passa a tornar mais concretos os, por vezes, complicados
meandros lingüísticos, criados na tentativa de definir sutís características. Um bom desenho pode
fazer que fiquem óbvias aquelas características que, na melhor tradução verbal, ainda nos deixam na
penumbra das incertezas.
Os procedimentos que segui neste trabalho podem ser englobados em três passos: O
primeiro consiste na procura e obtenção dos materiais que usaremos como referência para o
trabalho. O segundo trata da investigação dos elementos e das características que deverão compor
cada prancha. Por último, teremos a execução do desenho propriamente dito.
1º - Antes de sentar-se à mesa de desenho, é preciso realizar o trabalho de “coleta de
informações” referentes aos sujeitos que se pretende desenhar. Este trabalho envolve uma
investigação bibliográfica e de contatos com pesquisadores da área específica, pois, em muitos
casos, trata-se de espécies raras das quais só especialistas têm informações confiáveis. Mas o
assunto não trata apenas de informações, implica também na obtenção de registros imagéticos. O
desenhista precisa ver, mais do que ouvir, sobre o seu sujeito do desenho.
No caso, o ideal é ter acesso ao bicho “ao vivo” e isto é muitas vezes possível nos
zoológicos e parques ecológicos onde podemos tomar diversas fotografias, que serão
posteriormente imagens impressas de grande importância, aliadas aos esboços que tenhamos feito
“em campo”. Falo aqui “em campo”, porque é, na maioria das vezes, praticamente inviável a
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
170
proposta teórica de irmos, de fato, ao ambiente natural selvagem do animal, e esperar que ele pose
para tirarmos uma fotografia, tanto menos que agüente mais um pouco até fazermos um esboço
dele.
Assim, precisamos saber tudo o que for possível sobre o sujeito do desenho,
particularmente sua distribuição (para levar em conta possíveis variações), os aspectos ecológicos
(para incluir referenciais do seu habitat e pensar nas adaptações que poderão se refletir na sua
morfologia) e eventuais problemas taxonômicos que impliquem no destaque de características
relevantes.
Em segundo lugar, é muito importante colecionar todas as imagens relativas ao sujeito,
que for possível encontrar. Aqui, valem também imagens de espécies próximas e parecidas, que, por
ventura, sejam mais abundantes e diversas, tanto na variação das posições, quanto na revelação de
detalhes. Às vezes, a “pior” das fotos que dispomos, é única na revelação do “tufo apical da cauda”
ou das “listras faciais tênues”, por exemplo. O objetivo é dispormos da melhor coleção possível de
elementos imagéticos relativos ao sujeito e seu modo de vida, a partir dos quais iniciaremos o
trabalho de construção da figura.
2º - Nesta segunda etapa, já podemos sentar à mesa e, munidos do material
colecionado, iniciar uma outra investigação, desta vez relativa aos elementos e características que
vão compor cada prancha.
O primeiro a ser feito consiste em decidir sobre as espécies que deverão integrar a
prancha. Quais devem ficar juntas, quais não precisam? Para resolver estas questões começamos
considerando os grupos maiores, onde as espécies se encontram classificadas. Vejamos, como
exemplo, o caso dos morcegos. Neles, os vespertilionídeos podem (por serem apenas quatro) e
devem (pelo relacionamento filogenético) ficar todos juntos. Já, os phyllostomídeos não cabem
todos numa só prancha (ficariam muito pequenos para o grau de detalhamento almejado) ao passo
que os molossídeos, sendo apenas dois, estariam folgados. Neste caso, decidi colocar esses dois, na
mesma prancha, junto com as duas únicas espécies de phyllostomídeos “desacompanhadas” (nas
suas respectivas subfamílias): o morcego-vampiro e a Carollia perspicillata.
Uma outra questão a considerar para associar espécies numa prancha, é o quanto pode
ser útil, para quem quer identificá-las, o fato de estarem juntas.
O caso dos ratos é um bom exemplo. Os ratos são, para um leigo, todos iguais. Para o
especialista, a identificação dos ratos é, freqüentemente, um sério problema. Considerando esta
problemática, separei o Rato-d’água, Nectomys squamiceps, dos outros orizomíneos, dos quais
diferencia-se claramente pelo tamanho e pelas adaptações ao habitat aquático, para colocá-lo junto
com o rato doméstico, Rattus rattus, com o qual se aproxíma, pelo tamanho. Nesta prancha decidi
incluir também a Ratazana, Rattus norvegicus, que também gosta de nadar, ainda que as águas
sejam poluídas, e mesmo não tendo sido registrada na Fazenda, para evidenciar a “eterna” questão:
Rato, ou Ratazana? deixando, no meio, o Rato-d’água, de tamanho intermediário entre os
anteriores.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
171
O ouriço-cacheiro, o esquilo e o rato-de-taquara, sendo roedores relativamente isolados
nos seus respectivos grupos, foram trazidos a compor a mesma prancha pelo simples fato de
estarem associados a modos de vida arborícola.
Em outros casos, como o dos tatus, o conjunto das quatro espécies é evidente mas, do
ponto de vista da atitude e postura, quais seriam estas se não dentro de buracos, cheios de terra por
todos os lados ou cobertos de lama? Que os tatus nos desculpem, mas precisamos dar um bom
“banho” neles para que possam ser vistos sem esses adendos ambientais com os quais costumam
ficar revestidos, e fora dos seus buracos! Assim o resultado obtido não vai ser tão natural quanto o
seu modo de vida exigiria.
Isto nos leva ao seguinte assunto: o estudo do ângulo de visão e das posturas que
estaríamos em condições de representar adequadamente e que seriam mais convenientes para cada
espécie. Aqui retorna a questão do acesso às características relevantes, quer dizer: o trabalho vai
depender de quão favorável seja o material disponível no sentido de apresentar as referidas
características.
A construção de cada imagem depende não só dos materiais que dispomos para cada
espécie em particular, mas também da forma como cada uma vai se comportar no conjunto com as
outras figuras da prancha. Algumas delas podem centralizar a atenção e ter mais apelo do que
outras, obrigando-nos a pensar no seu posicionamento estratégico . Às vezes pode não haver muita
escolha na forma de representar uma determinada figura, chegando até ser “obrigatória” sua
postura, pelo simples fato de ser a única foto disponível, por exemplo, restringindo as alternativas
de posicionamento e postura para as demais. Tudo isto é relevante se consideramos que podemos
induzir o observador a fazer uma melhor “viagem” visual pela prancha.
Estas questões relativas à composição da prancha são importantes e decisórias para
o desenvolvimento do trabalho a seguir. As pranchas dos morcegos ilustram bem este assunto.
Precisávamos destacar bem as cabeças dos morcegos, mas queríamos também desdobrar suas asas
sem deixar de expor ainda, com clareza, a região da cauda e uropatágio. Acontece que as asas
abertas ocupam um grande espaço e forçam as cabeças a ficarem com menos. Estas condições,
aliadas ao fato de alguns morcegos serem maiores do que outros, me levaram a decidir que os
grandes fossem apresentados em posição de descanso, de forma a não tomarem conta do espaço e
permitirem que uma maior parte dele ficasse disponível, para que as outras espécies “voassem” pela
prancha. Foi o caso com o Chrotopterus auritus e com o Artibeus lituratus.
É importante mencionar a inclusão de componentes ambientais, pois ocupam seu
próprio espaço e também tomam parte na composição da prancha. No caso dos morcegos-beija-
flores, por exemplo, as flores eram um elemento indiscutível na lógica e estética do conjunto.
Contudo, por questões de espaço, fomos obrigados a reduzí-las a uns poucos traços simbólicos. Em
outros casos, como na prancha dos pequenos marsupiais ou nas de alguns ratos, os elementos
externos de referência para o tamanho, botas e canivete, foram integrados com o comportamento
dos animais para contribuir com a harmonia e o realismo da prancha.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
172
O assunto relativo ao tamanho é freqüentemente um problema que requer certos
cuidados. Às vezes dispomos apenas da informação sobre o peso da espécie, mas a medida do
comprimento (corpo e cabeça) não está disponível. O peso de um animal está relacionado com seu
tamanho; quanto mais pesado, maior ele é. Entretanto, as variações de peso não têm
correspondência direta com as variações do seu comprimento, que é uma dimensão linear. Neste
caso, temos de procurar caminhos alternativos. Por exemplo, para os morcegos é dado o
comprimento do antebraço, que nos permite estabelecer proporções entre uma espécie e outra.
Contudo, os tamanhos dos antebraços não variam sempre na mesma proporção que os tamanhos dos
corpos. No caso, as diferenças de peso podem nos ajudar a fazer uma compensação.
Outro problema surge quando a medida do comprimento é conhecida (a média) mas a
postura do animal, na foto, o apresenta encolhido, por exemplo. Essa postura não corresponde com
a que foi usada para registrar sua medida, porque esta é, a de um corpo alongado e descontraído.
Um esforço de cálculo, procurando fazer uma estimativa compensatória, ainda que grosseira, é
necessário. Dessa forma, defrontamo-nos com diversas situações que precisam ser estudadas para
não concluirmos erradamente.
O assunto, tamanho, ainda precisa ser considerado para definir o padrão que servirá de
referência para todas as figuras da prancha.
Tendo já definido as posturas e proporções das diferentes espécies, passamos a fazer
uma estimativa dos espaços relativos que cada uma poderá ocupar, de acordo com seus respectivos
tamanhos, para que todas as figuras se acomodem na prancha de forma harmoniosa e o espaço
disponível seja aproveitado adequadamente. Esta avaliação não é tão simples quanto poderia se
pensar.
Contudo, o uso da tecnologia do computador pode facilitar a tarefa. Tendo
digitalizadas as figuras (com scanner ou foto digital), conforme foram já construídas, podemos,
através de um programa que trabalhe com imagens, ampliá-las ou reduzi-las de maneira a ficarem
todas na mesma escala. Por último, tendo acrescentado ao conjunto a bota (ou canivete) como
referência, também a escala evidentemente, procedemos a estudar as referidas possibilidades de
acomodação dentro de uma área com as mesmas proporções da prancha.
Uma vez obtida, ou tendo-se decidido sobre a melhor composição, resta somente
transferir proporcionalmente o conjunto para o papel que haverá de constituir a prancha definitiva.
Recapitulando até aqui:
Já decidimos quais espécies vão ser desenhadas, encontramos o que precisa ser
apresentado em cada uma e achamos a melhor postura para isto.
Um esboço primário de cada animal, em posição e acertado nas suas proporções, foi
feito.
Determinamos o tamanho dos objetos (bota, canivete e cantil) - padrão da escala - para
todos os componentes da prancha.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
173
Cada esboço sofreu um processo individual de redução / ampliação (com auxílio do
computador ou de uma máquina foto-copiadora) para ajustá-lo às proporções que foram
determinadas para a bota-padrão.
Fizemos também um esboço dos componentes da prancha (com os tamanhos ajustados
ao padrão) nos lugares que deverão ocupar respectivamente; incluindo referenciais do habitat e
objetos-padrão.
Obtivemos assim um primeiro esboço geral da prancha, com todos os seus
componentes e respectivos tamanhos finais.
Está tudo arrumado. Podemos aprontar a folha que se constituirá no original da
prancha e iniciar a execução dos desenhos definitivos das espécies, uma a uma. Mas, antes de dar
continuidade, quero apresentar algumas considerações importantes quanto ao material usado.
Os materiais e seu uso.
Utilizei lápis grafite de várias marcas de qualidade, borrachas selecionadas e papel
vegetal.
Quanto aos lápis, acredito que seja mais que tudo uma questão de conforto. Eu
trabalhei com lápis B, principalmente na face de frente (reto) do papel, na finalização de detalhes,
definindo formas e contornos, pêlos longos e vibrissas, ações estas durante as quais o lápis tende a
ser usado numa posição mais vertical.
Os lápis B2 foram usados principalmente no verso do papel e especialmente para o
trabalho de sombreamento e cobrimento de superfícies, atividades para as quais, a posição do lápis
tende a ficar mais na horizontal. Também é usado em acabamentos mais grosseiros.
Por tratar-se, em grande parte, da representação de pêlos e pelagens, o quesito
“apontamento” deve ser realizado com freqüência. Prefiro fazer essa tarefa com um estilete que me
permite esculpir as longas “agulhas” que não obtenho com um apontador comum. Antes de começar
a desenhar, eu preparo um conjunto de 10 a 15 lápis das duas categorias, de maneira que, no meio
das execuções, estas não tenham que ser interrompidas constantemente para refazer o apontamento
do lápis, mas, simplesmente, trocá-lo e continuar a execução.
Uma “dica” que permite reduzir a freqüência de apontamentos consiste em prestar
atenção na maneira como o lápis é aplicado sobre o papel. Os traços que possam ser feitos numa
posição horizontalizada podem ser aproveitados para reafinar a ponta. É o apontar com o próprio
desenhar.
Quanto à borracha, eu uso muito. Prefiro aquelas moles que desfarelam finamente,
evitando que o grafite fique grudado nelas. Também limpo e apronto um conjunto de 8 a 10 delas,
antes de iniciar uma sessão de desenho.
Com relação ao papel, o chamado papel vegetal revelou-se de grande interesse para
este trabalho por várias razões que apresento a seguir.
As vantagens de se usar o papel vegetal.
Duas características deste tipo de papel proporcionam condições especiais que os
papeis brancos em geral não apresentam: a transparência e a superfície particularmente lisa.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
174
A transparência do papel oferece várias possibilidades de aproveitamento. Em
primeiro lugar, permite fazer decalques de um papel para outro, com facilidade, durante o processo
de estudo e construção das posturas e proporções de uma figura. O estudo elaborado de uma cabeça,
por exemplo, que precisa mudar de posição com relação ao tronco, não precisa ser feito num novo
desenho mas, apenas decalcado em outro papel, na nova postura desejada.
No caso do estudo da composição de uma prancha, fica fácil transferir uma figura na
posição do seu espelho, para outro canto da prancha, através do decalque, desta vez, pelo verso do
papel.
A transparência faz com que a dupla face do papel se torne funcional num mesmo
desenho. Uma das vantagens dessa duplicidade consiste em permitir que as correções sejam feitas
com maior precisão e segurança. Não é preciso apagar, de início, o que está errado. É possível
desenhar “por cima” da figura que vai ser reformada, mas, do outro lado da folha, permitindo
enxergar com exatidão a dimensão da transformação. Teremos, em um certo momento e
simultaneamente, a figura inicial a ser corrigida e a nova, com as correções. Assim, quando a nova
tiver alcançado o ponto de diferenciação desejado em relação à primeira, poderemos ir para o outro
lado da folha e apagar a imagem velha que já não interessa mais.
Por outro lado, a transparência traz implícitos alguns efeitos decorrentes da iluminação
que atravessa a folha, seja aquela proveniente de uma fonte atrás da folha ou pela reflexão
provocada sobre um fundo branco, localizado abaixo dela. Esses efeitos são os que podem ser
explorados, sendo o aproveitamento das várias combinações de luz e sombra bastante interessante.
A cobertura de grafite que é aplicada no papel, quando passamos o lápis por cima dele,
fica retida nas reentrâncias da granulação. Os espaços entre as reentrâncias que ficaram sem o pó,
permitem maior passagem da luz. É a combinação de áreas cobertas e descobertas, a que determina
o grau de intensidade do cinza/preto, devido ao maior ou menor obscurecimento ocasionado pela
quantidade de grafite.
Isto não é diferente com os papéis brancos. A novidade surge por causa da
transparência do papel vegetal. Muitas das áreas descobertas em um dos lados, vão ser cobertas pelo
grafite aplicado do outro lado do papel. Por uma questão de aleatoriedade, muitas reentrâncias de
um lado coincidem com áreas descobertas do outro, e vice-versa. Desta forma, ficam duplicadas, no
papel vegetal, as alternativas de sombreamento versus luminosidade, se o comparamos com os
papéis brancos.
Uma outra possibilidade de aproveitamento, muito interessante, ocasionada pelo
potencial de utilização das duas faces do papel vegetal, é dada pelo lápis branco.
Poderíamos pensar que a utilização do lápis branco estaria dispensada, visto que são
justamente as referidas áreas descobertas que nos dão a sensação de luz branca. Isto é verdade.
Contudo, o assunto é de caráter prático, trata-se de uma facilitação muito bem vinda em certos
casos. As áreas claras não são aquelas onde aplicamos o lápis, mas sim as que não cobrimos, pois o
que o grafite faz é ofuscar a luz. A situação propícia para o lápis branco surge quando a área clara
que queremos representar é muito restrita no meio de um campo obscuro, como justamente
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
175
acontece com a pelagem de alguns mamíferos, onde alguns pelos brancos se apresentam esparsos
num contingente de pelos negros. “Não” desenhar essas áreas (pêlos) é uma tarefa laboriosa e de
resultados geralmente pouco satisfatórios. Em compensação, a execução dessa tarefa se simplifica
muito, quando trabalhamos primeiro a massa de pelos obscuros, com o grafite, de um lado do papel,
e deixamos para sobrepor, do outro lado do papel, com o lápis branco, livre de interferências com o
preto, os pêlos brancos.
Porém, um alerta deve ser mencionado. O lápis branco reflete a luz branca incidente
sobre ele, mas ofusca aquela que vier do outro lado do papel!. Por conseguinte, são recomendadas
moderação e cautela com este lápis. Ele clareia pelo reto da folha, mas obscurece pelo verso.
A outra característica conveniente do papel vegetal está na sua superfície
particularmente lisa. Este fato é interessante pois favorece especialmente a execução de traços
muito delicados e contínuos. A regularidade da superfície proporciona maior confiabilidade à ação
de “passar” o lápis, pois há menos perturbações na superfície de contato. Fazendo uma analogia,
seria como patinar na rua (papel branco) ou patinar numa pista de gelo (papel vegetal). O
deslizamento é muito mais facilitado na segunda do que na primeira, por uma questão de diferenças
de uniformidade nas respectivas superfícies.
Com relação à borracha, o papel vegetal é bastante resistente ao atrito. Ele permite uma
confortável utilização da borracha, que não agride ou altera a integridade da folha, como ocorre em
outros tipos de papel.
3º - A execução do desenho propriamente dito.
A elaboração de uma determinada figura sobre um papel vegetal pode seguir os três
passos citados em continuação:
Primeiramente, na face de frente (reto) do papel, desenha-se o animal de acordo com a
postura, proporções e características estudadas para ele. Este primeiro esboço convém que seja feito
com traços bem leves, apenas para orientar na delimitação das formas básicas do corpo. Acontece
que essas delimitações não têm um caráter definitivo, visto que um trabalho posterior de
representação da pelagem poderá encobri-las.
Numa segunda instância, passamos a trabalhar no verso do papel. Aqui executamos a
maior parte do trabalho. O corpo do animal é preenchido com traços que representam a sua
pelagem. Isto significa que os traços devem acompanhar o direcionamento natural que os pêlos
apresentam em cada região do corpo. Dá-se atenção as formas do animal, já definidas do outro lado,
trabalhando-se os músculos através das principais sombras que moldam seu volume. O nosso bicho
está essencialmente pronto.
Por último, voltamos novamente à frente (reto) do papel. Fixamos a folha com
grampos ou fita adesiva para evitar que o grafite, do outro lado da folha, fique se friccionando
contra o suporte e prejudique o trabalho já feito. Eliminamos os traços executados inicialmente que
não sejam mais bem vindos. Agora, antes de continuar com o grafite, estudam-se e aplicam-se, com
lápis branco, os traços que sejam interessantes para acrescentar. Passa-se então à fase de
acabamento, definindo detalhes dos olhos, unhas, vibrissas e o brilho da pelagem onde houver.
Mamíferos da Fazenda Monte Alegre, Centro Leste do Paraná – Brasil.
176
Finalmente, aplicam-se com a ponta do lápis “no ponto”, aqueles traços finais que vão ser
particularmente aparentes nas regiões do corpo onde a pelagem pede maior definição da sua textura,
extensão ou comportamento.
Estes procedimentos se revelaram particularmente interessantes na representação de
diferentes tipos de pelagens. Aponto aqui alguns casos, a título de exemplo:
A prancha dos mustelídeos apresenta três espécies com pelagens bastante diferentes,
associadas a seus respectivos habitats. Nota-se particularmente a pelagem da Lontra: curta,
brilhante, “colada” no corpo, adequada para o mergulho.
O Morcego-vampiro, apresenta três tipos de pelagens no mesmo individuo: Longa e
densa no peito, longa e esparsa nos membros posteriores e apenas curta nos antebraços.
Pêlos hirsutos ficaram expostos na Capivara, na Queixada e no Rato-de-espinho; este
último, contrastando com a sedosidade apresentada pelo Preá, que lhe faz companhia. No caso do
Ouriço-cacheiro, vemos longos pêlos entremeados com rígidos espinhos, os quais foram
representados com a ajuda do lápis branco. O seu companheiro de prancha, o esquilo, ilustra bem
dois tipos de pelagens: uma curta, no corpo, e a outra, longa e sedosa, na cauda.
Uma outra espécie que vale a pena mencionar com relação ao uso do lápis branco é o
Gambá-de-orelha-branca.
Por último quero chamar a atenção para a tênue penugem do ratinho Juliomys pictipes:
longa, esparça e fina, quase imperceptível. Parece que envolvesse seu corpo como numa névoa.
Constato que a precisão, suavidade, intensidade e confiança com as quais podemos
aplicar o lápis sobre o papel, aliadas aos diferentes jogos de luzes e sombras, permitidas pelo papel
vegetal, oferecem um amplo leque de alternativas para representar qualidades de pelagens,
especialmente significativas e únicas deste grupo de magníficos animais que somos: os mamíferos.
Article
Full-text available
Nowadays, the running-over of animals in roads is one of the main threats to the wild fauna. Between January 1994 and December 2002, 601 small, medium, and large mammals were ran-over on the roads inside the Fazenda Monte Alegre, in east-central Parana. Among the species most victimized were Mazama gouzoubira, Nasua nasua, and Cerdocyon thous. The period with the greatest incidence of run-overs was springtime and the high speed of vehicles was the major culprit. Among the measures that might contribute for the reduction in these figures are: environmental education, improvement in the signaling of the roads, better oversight and control of speed, and speed controllers.
Article
Full-text available
Nowadays, the running-over of animals in roads is one of the main threats to the wild fauna. Between January 1994 and December 2002, 601 small, medium, and large mammals were ran-over on the roads inside the Fazenda Monte Alegre, in east-central Paraná. Among the species most vic�timized were Mazama gouzoubira, Nasua nasua, and Cerdocyon thous. The period with the greatest in�cidence of run-overs was springtime and the high speed of vehicles was the major culprit. Among the measures that might contribute for the reduction in these figures are: environmental education, improvement in the signaling of the roads, better oversight and control of speed, and speed con�trollers.
Article
Espécie e subespécies de felinos brasileiros de pequeno porte estão ameaçadas de extinção e existem poucas informações biológicas e veterinárias a respeito desses animais. A Associação Mata Ciliar (AMC) se propôs a efetuar estudos visando ampliar os conhecimentos e contribuir para conservação de pequenos felinos neotropicais. Participaram 22 zoológicos, 113 animai foram cadastrados e 93 foram identificados (tatuagem e marcação eletrônica), classificados zoologicamente e manejados: Herpailurus yagouaroundi- gato mourisco (16,6,0), Leopardus pardalis- jaguatirica (18,15,0),Leopardus wiedii- gato maracajá (3,4,0), Leopardus tigrinus- gato-da-mato-pequeno (21,10,0). Os resultados obtidos através da avaliação clínica e de aspectos envolvendo os animais permitiram constatar que ao redor de 50 %dos indivíduos apresentam alterações ligadas ao manejo sendo elas, pedológica, dermatológicas, odontológicas, além da condição física insatisfatória. Conclui- e que há necessidade de se melhorar o manejo, a qualidade dos recintos e de se reverter a baixa taxa de nascimento, bem como reduzir o alto índice de mortalidade dos recém-nascidos. O plantel desses felinos em criadouro ou zoológicos constituem banco genético fundamental, tendo como meta possibilitar um plano de manejo futuro na natureza, visando assegurar a biodiversidade.
Article
We determined the diet of the brown-nosed coati (Nasua nasua) in an urban semideciduous forest fragment in southeastern Brazil. Coati feces were collected weekly for 3 years. The 226 fecal samples included plant parts (85.4%), insects (75.7%), millipedes (53.9%), fruits (48.7%), spiders (33.6%), organic waste (9.7%), vertebrates (9.3%), and gastropods (2.6%). More spiders and millipedes were consumed during the wet season, and more fruits were consumed in the dry season. The consumption of vertebrates, fruits, and millipedes differed among different years. The monthly consumption of spiders and millipedes was positively correlated with rainfall. The consumption of fruits was negatively correlated with the consumption of millipedes and insects. Fruits were an important resource during periods of arthropod scarcity. Coatis ingested and defecated intact seeds of 49 plant species, indicating that they can be important seed dispersers. The consumption of vertebrates was occasional and varied.