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Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
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PONTAMENTOS
PONTAMENTOSPONTAMENTOS
PONTAMENTOS
de Arqueologia e Património
de Arqueologia e Patrimóniode Arqueologia e Património
de Arqueologia e Património
ABR 2016
11
ISSN:
2183
-
0924
Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
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PONTAMENTOS
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PONTAMENTOS
de Arqueologia e Património
de Arqueologia e Patrimóniode Arqueologia e Património
de Arqueologia e Património
ABRIL
2016
11
Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
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ÍNDICE
EDITORIAL ................................................................................. 07
António Carlos Valera
NOTA SOBRE UMA DECORAÇÃO INCOMUM NUM
RECIPIENTE DOS PERDIGÕES ................................................ 09
António Carlos Valera, Ever Calvo e Patrícia Simão
ENTERRAMENTO CAMPANIFORME EM FOSSA DA
QUINTA DO CASTELO 1 (SALVADA, BEJA) ....…….................. 13
Lucy Shaw Evangelista, Miguel Lago e Lúcia Miguel
A ANTA DOS ENXACAFRES NO CONTEXTO DO
MEGALISTISMO DA REGIÃO DE GRÂNDOLA E
SANTIAGO DO CACÉM: UMA PRIMEIRA NOTA ...................... 21
Margarida Mendonça e António Faustino Carvalho
A COMPONENTE EM PEDRA LASCADA DOS
MONUMENTOS FUNERÁRIOS 1 E 2 DO
COMPLEXO ARQUEOLÓGICO DOS PERDIGÕES
(REGUENGOS DE MONSARÁZ) ............................…….…....… 33
Eliana Goufa e Francisco Rosa Correia
A INDÚSTRIA LÍTICA DO CASTRO DA COLUMBEIRA
(BOMBARRAL, PORTUGAL): DADOS PRELIMINARES
E PERSPECTIVAS FUTURAS .................................................... 47
Rui Ramos
QUINTA DE SÃO LOURENÇO 2:
UM SÍTIO DE FOSSAS NO CONCELHO DE BRAGANÇA ........ 53
Elisa de Sousa e Marina Pinto
A OCUPAÇÃO DA IDADE DO FERRO NA COLINA
DO CASTELO DE SÃO JORGE (LISBOA, PORTUGAL):
NOVOS DADOS DAS ESCAVAÇÕES REALIZADAS
NA RUA DO RECOLHIMENTO / BECO DO LEÃO .................... 59
Elisa de Sousa, Alexandre Sarrazola e Inês Simão
LISBOA PRÉ-ROMANA: CONTRIBUTOS DAS
INTERVENÇÕES ARQUEOLÓGICAS NA
RUA DA MADALENA ...................................................................69
Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
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EDITORIAL
O presente volume da “Apontamentos” volta a juntar artigos
produzidos no âmbito da investigação realizada pelo NIA-ERA,
artigos resultantes de trabalhos levados a cabo pelo departamento
técnico da ERA e artigos derivados de colaborações externas.
Textos que expõem resultados de trabalhos de campo, de
investigação e de trabalhos académicos de estudo de colecções
artefactuais.
Num tempo em que muitos se deixam aprisionar pelo sistema de
publicações arbitradas e indexadas, na busca dos “pontos” que
permitam vingar no terreno altamente competitivo em que a
investigação hoje vive, pequenos e despretensiosos projectos
como este continuam a publicar informações e ideias úteis,
revelando que há espaço, diria mesmo que há necessidade, para
uma pluralidade editorial. Tal utilidade aparece bem representada,
por exemplo, na expressão que a “Apontamentos” já conseguiu
atingir, visível no número de consultas, “downloads” e citações,
tanto a nível nacional como internacional.
Continuamos, pois, seguros que com este contributo editorial não
só estamos a cumprir com uma obrigação inerente à nossa
actividade, mas também a concorrer para um ambiente de maior
diversidade e liberdade, essencial para o desenvolvimento de
qualquer ciência e área profissional.
António Carlos Valera
Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
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1. Introdução
A investigação cujos resultados se apresentam neste texto
teve lugar como parte integrante do Programa Global de
Investigação dos Perdigões estabelecido em 2008, mais
especificamente na linha de investigação dedicada ao
estudo dos ambientes funerários que então se designou por
Produções Líticas nos Perdigões. Portanto, o seu objetivo
principal foi o estudo de uma componente particular das
oferendas funerárias: a pedra lascada. Este estudo acabaria
por incidir unicamente nos materiais exumados dos
Monumentos Funerários 1 e 2 — doravante designados
abreviadamente por MF1 e MF2 — e resultar na elaboração
de uma dissertação de mestrado apresentada em 2012 à
Universidade do Algarve (Mendonça, 2012).
Margarida Mendonça
2
António Faustino Carvalho
3
A COMPONENTE EM PEDRA LASC
ADA DOS MONUMENTOS
FUNERÁRIOS 1 E 2 DO COMPLEXO ARQUEOLÓGICO DOS PERDIGÕES
(REGUENGOS DE MONSARAZ)
1
Resumo:
Neste trabalho apresentam-se os resultados da análise tecnológica e classificação tipológica realizadas sobre a componente de pedra lascada
dos Monumentos Funerários 1 e 2 do Complexo Arqueológico dos Perdigões, ambos datados do segundo quartel do III milénio a.C. Entre outros
aspetos, foi possível observar a exclusividade de peças acabadas (lâminas, pontas de seta e grandes foliáceos), parte significativa das quais
fabricada com matérias-primas exógenas (sílex, calcário oolítico silicificado), indicando assim a integração deste complexo em redes de contacto
a longa distância. Verificou-se também que parte das oferendas funerárias foi deliberadamente fabricada para este fim (é o caso das pontas de
seta em xisto).
Abstract:
Knaped stone materials from the funerary monuments 1 and 2 of Archaeological Complex of Perdigões (Reguengos de Monsaraz)
In this work the results of technological analysis and typological classification of knapped stone tools from the Funerary Monuments 1 and 2 of the
Archaeological Complex of Perdigões are presented. Both contexts are radiocarbon dated to the second quarter of the 3rd millennium BC. Among
other aspects, it was possible to observe that finished tools are exclusive in the assemblage (blades, arrow points and larger foliates), being most of
them made with exogenous raw materials (flint, silicified oolithic limestone), thus integrating this complex in long-distance networks. It was also
observed that part of the grave goods was specifically made to this purpose (this is the case of schist arrow points).
________________________________________________
1
Trabalho integrado no âmbito do Programa Global de
Investigação dos Perdigões (INARP).
2
Investigadora independente (gduxa@hotmail.com).
3
Universidade do Algarve, FCHS, Campus de Gambelas,
8000-117 Faro (afcarva@ualg.pt).
Figura 1
–
Localização dos Monumentos Funerários 1 e 2 no conjunto
do Complexo Arqueológico dos Perdigões (no magnetograma
segundo Valera et al. 2014).
Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
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Os MF1 e MF2 do complexo arqueológico dos Perdigões
localizam-se no limite Este do recinto de onde deriva o
topónimo, num sector que terá sido especificamente
selecionado para o efeito e demarcado fisicamente através
de um alargamento do perímetro do seu fosso exterior, que
criou um espaço interno (entre aquele fosso e o segundo) de
planta semicircular onde se encontram os monumentos
funerários objeto de estudo (Fig. 1). A prospeção superficial
deste sector revelou um terceiro sepulcro — que foi objeto
apenas de remoção do nível superficial remexido e de
delimitação do seu perímetro (Valera et al., 2007) — e a
existência de outros em número indeterminado,
provavelmente quatro. Esta localização particular dos
sepulcros coincide com o eixo que, partindo do centro do
recinto de fossos, coloca com a mesma orientação o recinto
menírico (que também existe neste local) e, no território em
frente, o vale da ribeira do Álamo e o monte de Monsaraz.
Este posicionamento, que não é casual, deverá estar
relacionado com o tradicional simbolismo neolítico atribuído
aos quadrantes onde o sol nasce.
De acordo com os dados de terreno obtidos durante a sua
escavação (que decorreu entre 1997 e 2006), os MF1 e MF2
são sepulcros soterrados, com paredes construídas através
da aplicação de lajes de xisto na vertical, e com uma
superstrutura original cuja natureza e técnica construtiva não
se encontra ainda hoje cabalmente esclarecida, uma vez que
não existem vestígios de derrubes de falsas cúpulas de
pedra nem evidências de outro tipo de cobertura, facto que
arquitetonicamente afasta estes sepulcros das tholoi
clássicas. Um conjunto de oito determinações de
radiocarbono (quatro para cada monumento funerário),
obtidas a partir de restos humanos, indicou um período de
utilização de ambos os sepulcros compreendido entre cerca
de 2800 e 2500 cal BC (Valera et al., 2014), ou seja, em
torno do segundo quartel do III milénio a.C.
Entre as oferendas funerárias exumadas contam-se, para
além da pedra lascada objeto de análise neste trabalho,
recipientes em cerâmica, raros objetos em metal (mas entre
os quais se incluem folhas de ouro), conchas de diversas
espécies marinhas, artefactos muito variados sobre matéria
dura de origem animal (placas e caixas decoradas, lúnulas,
pentes, ídolos, figurinhas antropomórficas e zoomórficas,
etc.), e elementos de adorno pessoal. Neste último conjunto,
a presença de conchas de espécies marinhas com origem
no litoral atlântico (Valera et al., 2007), contas fabricadas em
variscite proveniente da jazida de Pico Centeno, no sector
noroeste da província espanhola de Huelva (Odriozola et al.,
2010), e marfim de elefante africano (Valera et al., 2015),
indicam a existência de redes de troca a longa, ou mesmo
muito longa, distância (para uma síntese e discussão das
suas implicações, ver Valera, s.d.). É neste capítulo que se
deve incluir a verosímil identificação de calcário oolítico
silicificado entre o material lítico ora estudado (Mendonça,
2012), cuja análise será retomada nas conclusões.
O estudo do talhe da pedra nos Perdigões teve início logo
aquando da preparação da sua primeira publicação (Lago et
al., 1998). Com efeito, esse artigo incluiu duas secções
distintas sobre este tema: uma sobre os conjuntos do Sector
3 provenientes de unidades estratigráficas não afetadas pela
surriba que remexeu os estratos superiores do sítio
(Almeida, 1998); outra sobre a análise dos materiais
exumados no ano de 1997 no MF1 (Carvalho, 1998), onde
foi possível no entanto estabelecer já algumas pautas mais
gerais dos padrões que viriam a ser obtidos no estudo mais
completo realizado no âmbito da tese de mestrado a que se
fez referência acima (Mendonça, 2012). Apesar de nesta
última se ter procedido também à distribuição espacial dos
artefactos líticos no interior de ambos os sepulcros e de se
ter realizado uma integração comparativa com os dados
disponíveis para o Calcolítico do Sudoeste, partindo em
grande medida dos trabalhos do casal Leisner (1951), o
objetivo do presente texto é, essencialmente, o de
providenciar uma base tecnotipológica das duas grandes
categorias líticas — os produtos alongados (lâminas e
lamelas) e as peças foliáceas (pontas de seta e grandes
bifaces) — que compõem o conjunto. Esta base
tecnotipológica poderá servir como modelo de partida para
estudos sobre estas classes tipológicas que se venham a
realizar no futuro no Complexo Arqueológico dos Perdigões
ou noutras realidades calcolíticas similares da região
alentejana.
2. Produção laminar
No total, inventariam-se 98 suportes alongados provenientes
de ambos os sepulcros, os quais correspondem a 90 lâminas
e oito lamelas (cuja separação se fez a priori através do
critério convencional dos 12 mm de largura), com a
distribuição por matéria-prima e por sepulcro que se podem
observar na Tabela 1.
2.1. Matérias-primas
Neste domínio da classificação das matérias-primas, há que
referir que as propostas avançadas partiram de análises
macroscópicas das peças, tendo a litologia das mesmas sido
definida a partir de observação diretamente a olho nu ou
com recurso a lupa binocular. Isto significa que haverá
inerentemente uma margem de erro, conquanto
indeterminável, mas que se pode considerar agravada pelo
elevado grau de alteração que algumas peças apresentam.
Ambos os sepulcros revelaram maioritariamente conjuntos
de sílex (MF1=60,4%; MF2=66,7%), em que uma parte
corresponderá a sílex oolítico (ver conclusões), seguidos
pelo cherte (MF1=9,3%; MF2=8,3%) e quartzo hialino
(MF1=8,3%; MF2=8,2%), a que se juntam outras matérias-
primas representadas por percentagens ainda mais
reduzidas, tais como o anfibolito (2,3%), o diorito (2,3%) e o
jaspe (1,2%)
1
. A alteração que se observa nalgumas peças
(cerca de 16,5%, no conjunto dos dois sepulcros) manifesta-
se num aumento significativo da porosidade da rocha (por
vezes abrindo fissuras), na diminuição do seu peso e,
sobretudo, na alteração das suas colorações originais, que
_______________________________
____
_________________
1
Trata-se da matéria-prima por vezes (erroneamente) designada
por “xisto jaspóide” na literatura arqueológica portuguesa como,
por exemplo e desde logo, no primeiro estudo sobre os materiais
líticos destes monumentos funerários (Carvalho, 1998).
Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
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se homogeneizaram em tons variando entre o bege
esbranquiçado e o amarelo pálido. Este processo inicia-se
claramente de fora para dentro, como atestam algumas
peças cujo miolo apresenta cores e texturas diferentes das
zonas mais superficiais, mas mais próximas da litologia
original. As causas específicas destas alterações parecem
poder resultar principalmente de exposição a temperaturas
mais ou menos elevadas, resultando na calcinação
superficial das peças; assinale-se, a este respeito, que os
processos deverão ter sido similares em ambos os
sepulcros, pois não se observaram diferenças a este nível
entre os materiais de um e outro.
Considerando o tipo de contexto em estudo — ambientes
funerários onde diversas práticas e rituais terão tido lugar —
é possível elencar tentativamente duas explicações para a
presença de tais alterações. A primeira seria a realização de
fogos de higienização e/ou rituais realizados no interior dos
sepulcros, como foi já observado em outros locais do mesmo
período. No entanto, constatou-se durante a escavação
destes sepulcros que “relativamente ao fogo, praticamente
não existem sinais verificáveis nos ossos ou em qualquer
categoria de artefactos” (Valera et al., 2000: 96), o que
obriga a afastar esta hipótese, tal como formulada. Com
efeito, e acordo com os mesmos autores, os indícios da
prática de fogo no MF1 resumem-se a uma estrutura de
barro e restos de terra queimados identificados no átrio.
Acresce a este óbice o facto de não se terem reconhecido
evidências semelhantes no MF2 e de apenas uma
quantidade muito reduzida de pontas de seta — MF1=27
(9,5%), MF2=2 (2%) — se apresentar com o mesmo tipo de
alterações.
Porém, tratando-se de deposições funerárias secundárias
em ambos os sepulcros, é plausível avançar uma segunda
explicação: a de que os objetos possam ter sido deslocados
do seu local de deposição primária, acompanhando os
restos ósseos, e que o processo de alteração mineralógica
observada possa ter ocorrido nesse/s local/is exterior/es, e
não no interior dos monumentos funerários de onde viriam a
ser exumados em escavação. E, de facto, o modelo
interpretativo geral que tem vindo a ser proposto para as
práticas funerárias e rituais que teriam lugar no Complexo
Arqueológico dos Perdigões (Valera et al., 2014) autoriza
que se contemple esta hipótese como a mais provável (ver
conclusões).
2.2. Morfologia e tecnologia
No que concerne às características dimensionais desta
classe artefactual (Tabela 2), os cálculos sobre o
comprimento limitam-se a 18 lâminas e sete lamelas, as
únicas inteiras no MF1, e a uma lâmina e uma lamela
intactas do MF2, o que condiciona as ilações a retirar.
Quanto à largura e espessura, atributos que se podem
quantificar em todas as peças independentemente do seu
estado de fragmentação, o primeiro facto a destacar é a
tendência para as grandes dimensões. Como se pode
verificar no cálculo das dimensões médias, estamos perante
um conjunto laminar robusto que não foge aos padrões
morfométricos obtidos noutros locais da mesma época.
Porém, no que respeita ao comprimento, o elevado desvio-
padrão obtido para o MF1 sugere que a produção laminar
parece não ter obedecido a uma normalização dimensional,
conquanto o reduzido número de peças possa estar a
enviesar os resultados obtidos.
Através do cruzamento dos dados do comprimento e
respetivas larguras estabeleceram-se padrões métricos
numa tentativa de sintetizar essa variabilidade dimensional
em agrupamentos naturais. A definição de “lâmina muito
grande”, avançada por Pelegrin (2006), serviu apenas para
determinar o comprimento do Grupo I, enquanto os restantes
não seguiram qualquer critério já publicado e resultam
diretamente das dimensões observadas nestes dois
conjuntos. Assim sendo:
• O Grupo I integra os suportes que superam os 20
cm de comprimento e os 2,2 cm de largura. No
MF1, existem três lâminas que se encaixam nestes
critérios; o MF2 dispõe apenas de um exemplar
inteiro (20,08 cm × 3,37 cm) e um fragmento cujas
dimensões (5,24 cm × 1,25 cm) deixam entrever
uma peça de dimensões semelhantes.
• O Grupo II, ou “lâminas grandes”, engloba peças
entre os 14 cm e os 20 cm de comprimento.
Apresenta, como no grupo anterior, larguras
superiores aos 2,2 cm, se se excetuarem três
lâminas com larguras de 2,09 cm, 2,04 cm e 1,48
cm, respetivamente. O MF1 revelou oito peças
pertencentes a este grupo.
• O Grupo III engloba as “lâminas médias”, que
apresentam entre 6 cm e 14 cm de comprimento,
mas com larguras inferiores a 2,2 cm. No MF1,
existem nove peças com estas características.
No MF1, cinco fragmentos laminares são remontáveis entre
si, e no MF2 apenas dois. Os vários tipos de fracturação
observados (nestas e nas restantes peças) indicam que em
ambos os sepulcros está representada principalmente a
flexão, com 21 exemplares (32,8%) no MF1 e quatro (40%)
no MF2. No entanto, estas conclusões devem ser
apreendidas com reservas, pois a fracturação observada
pode ter sido resultado de perturbações várias, como a
pressão e/ou revolvimento das terras, o colapso das
estruturas e/ou o pisoteamento, e não de procedimentos
técnicos intencionais. Em segundo plano, surgem evidências
para fragmentação através de percussão, com três (4,7%)
no MF1 e também três (30%) no MF2, estas
indubitavelmente associadas a intencionalidade.
No que se refere à distribuição do tipo de talão (Tabela 3),
registaram-se no MF1 — o único sepulcro que forneceu
peças em número suficiente para tecer considerações
quantitativas — valores bastante equilibrados entre talões
facetados (n=9; 22,5%) e hiperdriedros (n=8; 20%), aos
quais se seguem os talões lineares, lisos e diedros (n=3;
7,5% em cada categoria). Em ambos os sepulcros foi
também possível observar nalguns casos a remoção
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intencional do talão, apresentando estas peças sinais
sugestivos de uso como percutores nas extremidades
proximais assim obtidas. Trata-se de remoções parciais —
MF1=1 (2,5%), MF2=1 (20%) — ou totais (MF1=4; 10%), na
maioria das vezes obtidas através de truncatura, como se
pode observar num dos exemplares da Figura 2.
É importante assinalar-se a presença, aliás com valores
percentuais muito significativos, do que apelidamos “talões
hiperdriedos” (Fig. 3). Com efeito, a sua presença nestes
contextos do III milénio a.C. parece testemunhar a prática do
talhe por pressão recorrendo a compressores com ponta de
cobre, se se atender às experimentações levadas a cabo por
Pélègrin e Morgado (2007; Pélègrin, 2006). De acordo com
estes autores, esta morfologia particular de talão (que
designam também por “diedro agudo”) resulta das tarefas de
formatação dos núcleos tendo em vista a obtenção de
suportes muito normalizados e de grandes dimensões (com
comprimentos superiores a 20 cm). Consequentemente,
temos assim evidência, neste aspeto também, de processos
de importação de material silicioso produzido em oficinas de
talhe especializadas.
No que diz respeito à morfologia geral dos produtos
laminares (Figs. 4 e 5), foi possível observar uma série de
regularidades recorrentes em ambos os conjuntos (mas
visíveis principalmente no MF1 dado possuir uma amostra
mais representativa), que se podem sintetizar do seguinte
modo:
• no MF1, predominam as secções transversais de
geometria trapezoidal (n=59; 68,6%) face às de
secção triangular (n=17; 19,7%); no outro
monumento, os valores são bastantes
equilibrados, tendo as peças de secção trapezoidal
uma percentagem ligeiramente inferior (n=5;
45,5%) às triangulares (n=6; 54,5%).
• a morfologia longitudinal das peças (observável
apenas nos produtos inteiros) indicou valores
muito equilibrados entre perfis côncavos (n=4;
26,6%), ultrapassados (n=4; 26,6%) e direitos
(n=7; 46,6%) no MF1, tendo-se ainda podido
constatar a presença de fenómenos de
ultrapassagem em pelo menos oito peças (p. ex.,
Fig. 4). No MF 2, existe apenas uma peça inteira
também com perfil ultrapassado.
• em ambos os sepulcros predominam as lâminas
de bordos paralelos — n=25 (71,4%) no MF1; n=
(62,5%) no MF2 — sendo que uma parte dessas
peças (20% no MF1 e 37,5% no MF2) têm talões
mais estreitos que o corpo das peças;
• as nervuras das lâminas são, na sua maioria
regulares (ou seja, paralelas entre si), tanto no
MF1 (n=60; 80%) como no MF2 (n=10; 90,9%).
Por seu lado, no grupo das lamelas, as suas dimensões
médias oscilam entre os 0,53 ± 0,11 cm de largura e os 0,13
± 0,60 cm de espessura, e o comprimento apresenta uma
média de 2,05 ± 0,60 cm, com um limite mínimo de 1,12 cm
e um máximo de 2,86 cm. Dado que a amostra lamelar é
muito reduzida (Tabelas 1 e 2), não foi possível estabelecer
um cruzamento de dados tão seguro como o realizado com
as lâminas. No entanto, pode salientar-se que os talões são
maioritariamente facetados (n=4; 10%), aos quais se
seguem os lineares e lisos (n=1; 2,5% em cada categoria),
sendo de registar a inexistência de talões hiperdiedros neste
grupo. Os perfis são sobretudo côncavos (n=3; 50%),
seguindo-se os ultrapassados (n=2; 33,4%) e os direitos
(n=1; 16,7%). As secções transversais são sobretudo
trapezoidais (n=6; 85,7%). Em termos de morfologia geral,
predominam as peças com bordos paralelos e talão mais
estreito no MF1 (n=6; 85,7%); no MF2, a única lamela
existente possui forma biconvexa.
Figura
3
–
Lâminas de sílex com talões hiperdiédricos.
Figura
2
–
Lâminas de sílex. A terceira peça foi segmentada através
de truncatura..
Figura
4
–
Lâminas de sílex robustas.
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2.3. Análise tipológica
A maioria das lâminas e lamelas destes sepulcros dos
Perdigões apresenta-se retocada, tanto no MF1 como no
MF2
2
.
No primeiro sepulcro, uma das peças pode ser classificada
como “faca” e as restantes apresentam retoques contínuos
ou descontínuos, entalhes, ou ainda denticulados (Fig. 6).
A referida “faca” é em sílex acastanhado semitranslúcido
com inclusões beges ou esbranquiçadas. Os bordos são
paralelos na maior parte da sua extensão, mas convergem
na ponta por aplicação de retoque semiabrupto no anverso e
invasor na face inferior. Ambos os gumes apresentam
retoque marginal, com sinais evidentes de utilização
denunciados pela presença de estrias e pátina de utilização
nos gumes, estendendo-se até às nervuras.
Em 72 efetivos laminares, a larga maioria apresenta
retoques marginais contínuos (n=53; 73,6%); de seguida
vêm as lâminas com entalhes (n=13; 18,1%) e, por último, os
denticulados (n=4; 5,5%). A “faca” representa 1,4% da
amostra, assim como a única truncatura sobre lâmina
existente. Três lâminas possuem retoque abrupto. Existem
ainda três fragmentos mesiais de peças de crista
(parcialmente corticais) com retoque marginal contínuo.
Entre as lâminas há ainda uma peça alongada, em jaspe,
com retoque invasor bifacial. O suporte apresenta-se muito
irregular, o que exclui uma produção de tipo prismático.
Apresenta uma largura máxima de 2,36 cm e uma espessura
de 0,61 cm.
No MF 2 verifica-se uma situação semelhante: 81,8% (n=7)
das 11 lâminas recolhidas têm retoque marginal contínuo, a
que se juntam uma lâmina com entalhe (9,1%) e uma
truncatura sobre lâmina (9,1%).
No que respeita às lamelas, no MF1 estas seguem
praticamente o padrão das lâminas, pois quatro (57,2%)
apresentam retoques marginais contínuos e as restantes três
(42,8%) são lamelas com entalhes. No MF2, o único
exemplar lamelar também tem retoque marginal contínuo.
3. Produção de foliáceos (pontas de seta e bifaces de
grandes dimensões)
Quanto aos foliáceos, o conjunto analisado totalizou 381
peças (Tabela 1), uma vez que se decidiu formalmente
incluir nesta categoria ampla duas tipologias principais:
pontas de seta e peças bifaciais de grandes dimensões. Do
MF1 foram estudadas 285 pontas de seta e três grandes
bifaces; no MF 2, os exemplares estudados consistiram em
93 pontas de seta.
_______________________________
____
_________________
2
Nestas considerações não estão incluídas sete lâminas que se
encontravam em exposição no Museu Arqueológico do Complexo
dos Perdigões à data de realização deste estudo, pois não foi
possível proceder à classificação do retoque que apresentam.
Figura
6
–
Lâminas de sílex e denticulados (a peça do
canto superior direito é uma lâmina de crista e a peça do
meio na fila inferior é em xisto).
Figura
5
–
Lâminas de sílex
.
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3.1. Pontas de seta
As matérias-primas utilizadas no fabrico das pontas de seta
de ambos os sepulcros são, segundo a análise
macroscópica realizada para os restantes materiais líticos
(ver acima) e por ordem decrescente de representatividade
(Tabela 1), o cherte, o xisto, o sílex, o jaspe e o quartzo
hialino. A individualização do jaspe baseou-se na forte
tonalidade vermelha que apresenta esta matéria-prima.
Em termos quantitativos, como se pode ver nos gráficos da
Figura 2, a maior parte das pontas de seta foi elaborada em
cherte, com 126 (44,2%) e 49 (52,7%) exemplares no MF1 e
no MF2, respetivamente. O xisto surge em segundo plano,
com 112 (39,3%) e 28 (30,1%) exemplares, respetivamente.
O sílex, por seu turno, surge em quantidades inferiores,
muito provavelmente devido ao facto de ser uma rocha
exógena à região. Por outro lado, a presença de quartzo
hialino é negligenciável (um único exemplar no MF1), não
obstante ser talvez de aprovisionamento local. Os valores
apresentados pelo jaspe — 24 (8,4%) e nove (9,7%)
exemplares no MF1 e no MF2, respetivamente — são os que
mais se aproximam dos do sílex.
Quanto aos padrões de fragmentação, verificou-se uma
similitude entre ambos os sepulcros. No MF1, 56,2% (n=157)
das pontas de seta encontram-se intactas, enquanto o valor
obtido no MF2 é de 40% (n=36). As restantes apresentam
diferentes estados de fratura, evidente sobretudo nas
respetivas extremidades; aliás, na análise realizada
confirmou-se para ambos os monumentos funerários que os
tipos com maiores índices de fratura são os que possuem
aletas. Por consequência, as peças de base reta ou de base
côncava apresentam os maiores índices de completude,
respetivamente 77,8% (n=72) e 85,2% (n=27) no caso do
MF1. No MF 2, a situação é semelhante.
O retoque predominante é escalariforme ou escamoso, com
261 (94,2%) e 85 (94,4%) exemplares no MF1 e no MF2,
respetivamente. Em segundo plano está o retoque de
morfologia paralela, com 16 (5,8%) e 5 (5,6%) exemplares
no MF1 e MF2, respetivamente. Verifica-se o recurso
recorrente ao retoque invasor, tanto nas peças do MF1
(n=199; 71,9%) como nas do MF2 (n=48; 54%). O retoque
marginal é, ainda, a segunda categoria adotada no MF2,
com 28 (31,4%) exemplares e no MF1 é a última, com 35
(12,6%). Quanto à extensão do retoque, refira-se a
Figura
7
–
Variação das rochas utilizadas no fabrico de
pontas de seta, por monumento funerário.
Figura
8
–
Pontas de seta.
Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
- 39 -
particularidade de algumas peças apresentarem esse tipo de
retoque cobridor na superfície dorsal mas invasor na ventral
(Figs. 8 a 11).
A questão dos bordos serrilhados nas pontas de seta é um
assunto pertinente a este nível de análise, pois o que parecia
ser um traço estilístico típico do espólio megalítico mais
tardio de Reguengos de Monsaraz, apontado por Leisner e
Leisner (1951), surge até ao momento nestes sepulcros dos
Perdigões como uma técnica representada de forma
marginal e sem o elevado grau de perfeição reconhecido
noutros conjuntos regionais. No caso do MF1, oito pontas de
seta (2,8%) apresentam bordos serrilhados e no MF2
encontram-se apenas três (3,3%). Foi possível neste estudo,
no entanto, confirmar que este tipo de retoque não é um
procedimento técnico exclusivo do sílex, tal como já tinha
sido apontado (Carvalho, 1998), pois está presente em
pontas fabricadas com matérias-primas locais (jaspe e
cherte), de menor aptidão para o talhe.
Relativamente à configuração dos bordos, parece verificar-
se que existiu uma opção preferencial pela configuração de
bordos retos, que predominam em todos os tipos
classificados em ambos os sepulcros com base na
morfologia da sua base (Tabela 4). Porém, os bordos
convexos demonstram uma distribuição diferente entre os
dois sepulcros: no MF2 ocorrem com maior frequência em
peças de base reta (n=8; 32%) enquanto no MF1 são
tendencialmente adotados em pontas com base côncava e
aletas (n=14; 51,9%). Os bordos sinuosos e os côncavos são
mais raros no conjunto das pontas de seta, com
percentagens negligenciáveis.
A classificação tipológica das pontas de seta, a que se tem
vindo a fazer referência, é elementar: como se pôde
constatar nos parágrafos anteriores, baseia-se na morfologia
das respetivas bases e a nomenclatura utilizada inspira-se
numa proposta anterior (Forenbaher, 1999). Assim, para
este estudo, os tipos definidos encontram-se listados, por
matéria-prima e com os respetivos quantitativos, na Tabela
4.
No caso dos tipos designados por “bases côncavas com
aletas”, observou-se a presença de uma variante ao nível da
assimetria geral das mesmas: ou seja, identificaram-se
casos — denominados de “aletas dissimétricas” — em que
as estas possuem comprimentos distintos entre si ou pode
mesmo não existir uma delas (situação rara). Esta
individualização deliberada na tipologia das pontas de seta
decorreu do facto de se ter constatado que, do ponto de
vista morfotécnico, aletas com diferentes comprimentos,
podendo uma delas ser mesmo inexistente, se constituir uma
“irregularidade” intencional por parte do artesão no que
respeita à (as)simetria destas pontas de projétil.
Em termos de inventário geral, o tipo mais comum em
ambos os sepulcros é, como se pode verificar na Tabela 4, o
das pontas de seta com aletas simétricas. Estas
representam 41,3% (n=112) no MF1 e 43% (n=37) no MF2.
No entanto, enquanto no MF1 essa forma é seguida pelas
pontas de base côncava (n=75; 27,7%), no MF2 são os
exemplares com base reta que surgem em segundo plano
(n=18; 20,9%). Por seu turno, as formas mais raras, em
ambos os monumentos, são as pontas de base convexa e,
de entre estas, as que apresentam base triangular invertida.
As litologias mais utilizadas no fabrico das pontas de seta
nos dois sepulcros são, respetivamente, o cherte (45% no
MF1 e 49,9% no MF2) e o xisto (38,4% no MF1 e 31,4% no
MF2), abarcando consequentemente um maior número de
tipologias. Porém, uma análise mais atenta permite-nos frisar
algumas particularidades:
• o sílex surge em ambos os sepulcros representado
recorrentemente através dos mesmos tipos
(pontas de base côncava, com ou sem aletas, ou
base reta);
• o número de pontas convexas e irregulares,
conquanto diminuto, surge em ambos os sepulcros
confecionadas apenas em xisto e cherte;
• o quartzo hialino tem uma utilização excecional,
pois apenas surgiu um exemplar no MF1.
Figura
9
–
Pontas de seta.
Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
- 40 -
O cálculo das dimensões médias das pontas em função das
litologias utilizadas forneceu os resultados que se podem
observar na Tabela 5. A partir destes resultados pode inferir-
se que a rocha que parece impor mais constrangimentos no
fabrico das pontas de seta é o xisto, em virtude de possuir
uma estrutura laminar mais frágil, o que conduziu o artesão a
fabricar peças tendencialmente mais longas e mais
delgadas, quando comparadas com as restantes matérias-
primas. Este padrão é visível em ambos os sepulcros. Por
outro lado, o conjunto de pontas de seta com maior grau de
uniformidade dimensional, em ambos os monumentos, são
as peças em sílex, que parecem demonstrar uma
padronização métrica deliberada (mas que só a comparação
com outros contextos poderá confirmar em definitivo).
A dispersão dos índices de espessura e alongamento das
pontas de seta, em função das respetivas matérias-primas,
onde se confirma a dedução acima apresentada e que já
havia sido aventada anteriormente (Carvalho, 1998): a de
que há dois grandes grupos distintos, em ambos os
sepulcros: um composto sobretudo por pontas de seta em
xisto cujos índices de alongamento e espessura sugerem
uma elevada fragilidade que evoca uma utilização
eminentemente funerária (ou seja, estas peças não teriam
sido produzidas para outros fins), e outro constituído por
peças que exibem maior robustez (mais curtas e espessas)
e, portanto, uma presumível maior eficácia balística. Estes
dados novos, mais robustos estatisticamente, vêm assim
reforçar aquela dedução inicial.
3.2. As grandes peças bifaciais
As únicas grandes peças bifaciais recuperadas dos
monumentos funerários dos Perdigões são provenientes de
MF1, onde foram encontrados uma alabarda (proveniente da
câmara do sepulcro) e duas peças foliáceas de tipo punhal
ou ponta de dardo (uma recolhida no átrio e outra na
câmara). O punhal ou ponta de dardo proveniente do átrio foi
já objeto de análise própria, e publicação, no que respeita à
sua morfologia, tecnologia e etapas de fabrico (Carvalho,
1998: 135-136; ver Fig. 12), aspetos que não serão portanto
aqui repetidos.
Na análise das outras duas peças, as características
dimensionais que se apresentam adiante são uma
aproximação, uma vez que estavam afixadas a suportes na
exposição patente no Museu do Complexo Arqueológico dos
Perdigões, na Herdade do Esporão, o que dificultou o registo
de algumas medidas e noutras impossibilitou mesmo a sua
verificação.
Assim, a alabarda encontrada na câmara apresenta as
seguintes medidas: 11,02 cm de largura mesial, 13,07 cm de
largura da base, 15,02 cm de comprimento máximo
(distância máxima da extremidade distal à base), e 0,69 cm
de espessura. É um artefacto em sílex, de cor bege-clara,
opaca, aparentando alguma qualidade para o talhe.
Apresenta uma forma triangular alargada com bordos
ligeiramente convexos e base arredondada. Possui entalhes
semicirculares em ambos os bordos, perto da zona proximal,
e apresenta uma secção transversal biconvexa, assim como
Figura
11
–
Pontas de seta.
Figura
10
–
Pontas de seta.
Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
- 41 -
retoque cobridor. O seu suporte original é indeterminável
(provavelmente uma placa ou fragmento de sílex com
dimensões consideráveis). Não possui sinais de calcinação,
mas subsistem dúvidas quanto à aplicação de tratamento
térmico, uma vez que a peça está coberta com algumas
concreções que dificultam condições de observação
adequadas.
O punhal ou ponta de dardo, proveniente da câmara, é um
artefacto em sílex acastanhado, pouco translúcido, com
inclusões beges. Trata-se da mesma rocha em que surgem
elaboradas algumas lâminas e pontas de seta. Apresenta
uma forma ogival alongada, com bordos convergentes na
extremidade distal. A base é tendencialmente reta com
algumas irregularidades, o que torna a peça assimétrica na
sua parte proximal. A seção longitudinal é reta e a
transversal tem tendência biconvexa. A espessura junto à
base é de 0,70 cm e na parte distal 0,26 cm. O comprimento
máximo é de 12,80 cm, com uma largura de 4,29 cm, que
corresponde à largura da base. Não possui os entalhes
basais existentes no punhal já publicado. Não existem sinais
de tratamento térmico nem marcas de calcinação visíveis a
olho nu.
Estas grandes peças bifaciais não parecem evidenciar sinais
de utilização, mas não foi realizada uma análise traceológica
para se chegar a uma conclusão definitiva sobre este
aspeto.
4. Vias de investigação futura
Os estudos já realizados anteriormente sobre a pedra
lascada dos MF1 e MF2 dos Perdigões (Carvalho, 1998;
Mendonça, 2012), sintetizados neste texto nos seus
principais aspetos tecnológicos e tipológicos, levantam uma
série de possibilidades de investigação futura. Parte dessa
investigação — por exemplo, a análise da distribuição
espacial intrassítio desta classe de artefactos — pode ser
realizada no imediato, mas só terá um alcance
verdadeiramente significativo se for levada a cabo de forma
coordenada e articulada com outros elementos de cultura
material, para além dos próprios restos humanos.
No momento atual da investigação, é possível retirar alguns
elementos da análise feita nas secções anteriores que nos
permitem, partindo da componente lítica, avançar para
outros patamares analíticos e para a discussão de outras
problemáticas. Assim, em primeiro lugar, destaca-se a
observação de claros indícios de uma forte normalização
morfométrica das produções líticas, particularmente evidente
no conjunto dos produtos alongados. Este facto tem por
detrás a implementação, no III milénio a.C., de complexos
procedimentos técnicos no trabalho de talhe da pedra que
visam obter precisamente esse elevado grau de
normalização. Nos MF1 e MF2, alguns desses
procedimentos foram sendo apontados à medida que
decorria a sua identificação, e salientam-se os seguintes: a
elevada frequência de talões hiperdriedos nas grandes
lâminas (Fig. 3); o possível recurso a talhe por pressão com
compressores equipados com pontas de cobre para a
produção destas últimas; a sua própria normalização (tendo
sido possível agrupar as lâminas em diferentes módulos
padronizados); e a verificação de que os grandes bifaces
(“alabardas”, pontas de dardo) passaram, no seu fabrico, por
complexas sequências de gestos. Estes ficaram, aliás, bem
evidentes na descrição que primeiramente se fez da cadeia
operatória de fabrico de um dos punhais do MF1 (Carvalho,
1998: 136) e depois de peças similares da Gruta da Furninha
(Cardoso e Carvalho, 2010/11: 355, 356). Esta complexidade
de procedimentos técnicos está longe de constituir novidade
— para uma síntese da investigação e dos dados
disponíveis, ver Carvalho (2012) e os trabalhos pioneiros de
Jalhay (1947) e Ferreira (1957) — mas o seu
reconhecimento não deixa de se constituir como o
enquadramento empírico (isto é, as circunstâncias da sua
Figura
12
–
Punhal ou ponta de dardo com retoque
bifacial invasor.
Figura
13
–
Exemplo de lâmina fabricada em sílex
oolítico.
Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
- 42 -
existência factual) e teórico (isto é, as conclusões que
decorrem dessa existência) que permitem inferir outros
níveis de comportamentos por parte destas sociedades.
Um desses comportamentos, que se integra
simultaneamente na esfera do económico e do simbólico, é a
existência de atividades produtivas líticas especializadas
(desde a sua mineração) e a circulação dos produtos de tais
atividades (a diversas escalas geográficas, por vezes muito
alargadas). Neste caso, integra-se a circulação do material
em sílex, inexistente na região, pelo menos em nódulos
capazes de fornecer as peças depositadas nos sepulcros
objeto de estudo neste trabalho, pelo que a sua importação
pode ser dada como adquirida, seja a partir da Estremadura
Portuguesa ou — talvez mais provavelmente — da
Andaluzia Ocidental. Dentro deste quadro, a circulação das
peças em calcário oolítico silicificado ilustra bem a escala
geográfica do processo em causa. Se a sua presença nos
monumentos funerários dos Perdigões se vier a confirmar
através de critérios de classificação petrográfica mais
objetivos que as análises macroscópicas utilizadas neste
trabalho (Fig. 13), poderemos concluir que este complexo
arqueológico integrava as redes de circulação desta matéria-
prima no sul peninsular. Independentemente do seu modelo
interpretativo geral, estas redes de circulação foram
primeiramente definidas e cartografadas por Nocete et al.
(2005). De acordo com estes autores, as jazidas de sílex
oolítico encontram-se nas cordilheiras béticas, mas a difusão
desta rocha terá atingido, sucessivamente e a partir do IV
milénio a.C., um conjunto de territórios que acabarão por
englobar no milénio seguinte a região de Reguengos de
Monsaraz, onde terão sido identificadas lâminas nos
dólmenes de Olival da Pega e Poço da Gateira (segundo os
mesmos autores) e, mais recentemente, na ocupação
calcolítica do Escoural, em Montemor-o-Novo (Gomes et al.,
2012/13) — portanto, a mais de 400 km para Noroeste, em
linha reta, a partir dos presumíveis locais de abastecimento.
Para além deste aspeto, os referidos autores referem ainda
que “at the start of the third millennium B.C., the presence of
silicified oolithic limestone blades in the settlements of the
Guadalquivir Valley underwent profound changes. [...] These
were large blades, measuring more than 40 cm lengthwise,
whose width/thickness relationship (of 2.5 to 3 cm by 0.65 to
1.3 cm) suggests that their manufacture, with strong
longitudinal resistance, was oriented toward the seizure of
artefacts” (Nocete et al., 2005: 69-70). Em suma, trata-se de
transformações de ordem tecnomorfológica que coincidem
com a informação colhida noutras componentes funerárias
dos MF1 e MF2 dos Perdigões, e de escalas geográficas
equiparáveis às que permitiram a importação de parte dos
outros bens exógenos encontrados em associação nestes
sepulcros (Valera, s.d.).
Um aspeto à primeira vista desligado dos estudos líticos é o
facto de, tanto o MF1 como o MF2, serem sepulcros
destinados a deposições secundárias. No entanto, foram
verificadas diferenças quanto aos rituais e às práticas
funerárias levadas a cabo nos seus diferentes espaços
(átrios, corredores, câmaras), conformando-se assim um
tópico de estudo para o qual a pedra lascada poderá
contribuir em estudos futuros. Com efeito, uma vez que se
verificaram também diferenças quanto à distribuição destes
artefactos em função dos diferentes espaços internos dos
sepulcros (Mendonça, 2012), a articulação da sua
distribuição espacial com a de outros tipos de vestígios pode
conduzir a ilações de outro nível interpretativo. E, de facto,
se se levar em linha de conta as práticas de manipulação
dos restos humanos que se tem vindo a descortinar terem
tido lugar num conjunto alargado e formalmente diversificado
de contextos dos Perdigões, sobretudo estruturas negativas
— fossas com deposições primárias, fossos com deposições
intencionais de elementos esqueléticos, e sepulcros com
depósitos funerários primários e secundários — o padrão
obtido sugere fortemente a exumação, transporte e
redeposição de restos humanos (neste caso, apenas
porções ou segmentos dos esqueletos originais) nesses
vários espaços. Outros elementos indissociáveis
ontologicamente dos restos humanos, tais como restos
faunísticos ou artefactos, teriam sido também objeto dos
mesmos gestos e práticas (Valera e Godinho, 2009; Valera
et al., 2014). Neste contexto, algumas observações
realizadas sobre a pedra lascada do MF1 e MF2 sugerem
igualmente a sua participação ativa em tais práticas: é o
caso dos modos de fragmentação das lâminas de sílex, que
evocam uma segmentação intencional das mesmas. Uma
abordagem explícita a esta questão — como já foi, aliás,
realizada a propósito dos restos faunísticos (Valera e Costa,
2013) — permitiria esclarecer se assim é de facto, e
eventualmente explicar a questão em aberto acerca das
alterações superficiais observadas nestas peças (que, note-
se, não se verifica nas pontas de seta): dever-se-iam à sua
exposição a meteorização ou a outros elementos, quando
depositadas num primeiro momento noutros locais? Uma
vantagem existe à partida nesta via de análise aplicada a
artefactos líticos: qualquer proposta de remontagem entre
partes de uma mesma lâmina de sílex é claramente mais
objetiva do que entre restos osteológicos...
Nota final
A maioria das estampas de artefactos líticos apresentados
neste trabalho encontrava-se inédita, tendo sido desenhadas
por Maria Fernanda Sousa para a empresa Era-Arqueologia
Lda.; apenas uma pequena parte havia sido publicada no
primeiro trabalho de fundo sobre o Complexo Arqueológico
dos Perdigões (Lago et al., 1998: figs. 24, 26, 28 e 29).
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Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
- 44 -
Tabela 1 - Inventário geral de artefactos, por matéria-prima e monumento funerário (MF).
Sílex Sílex
oolítico
Rocha
alterada
Cherte (
1
) Anfibolito Diorito Jaspe Quartzo
hialino
Xisto Total
MF1
Lâminas 41 11 14 8 2 2 1 - - 79
Lamelas - - - - - - - 7 - 7
Pontas de seta 22 - - 126 - - 24 1 112 285
Bifaces (
2
) 3 - - - - - - - - 3
Total 66 11 14 134 2 2 25 8 112 374
MF2
Lâminas 3 5 1 2 - - - - - 11
Lamelas - - - - - - - 1 - 1
Pontas de seta 7 - - 49 - - 9 - 28 93
Total 10 5 1 51 - - 9 1 28 105
Total geral 76 16 15 185 2 2 34 9 140 479
(
1
) Por vezes designado na literatura arqueológica por “xisto jaspoide”.
(
2
) Uma “alabarda” e duas pontas de lança ou de dardo.
Tabela 2 - Dimensões das lâminas e lamelas, por monumento funerário (MF) (
1
).
Lâminas Lamelas
média e desvio-padrão mediana min. max. N média e desvio-padrão mediana min. max. N
MF1 C 14,89 ± 4,40 14,54 6,16 25,5 20 2,05 ± 0,60 2,03 1,12 2,76 7
L 2,35 ± 0,53 2,34 1,26 3,95 76 0,53 ± 0,11 0,52 0,38 0,68 7
E 0,68 ± 0,19 0,65 0,33 1,14 77 0,13 ± 0,04 0,12 0,09 0,23 7
MF2 C - - - - 1(
2
) - - - - -
L 2,72 ± 1,02 2,52 1,47 5,24 11 - - - - 1(
3
)
E 0,72 ± 0,25 0,68 0,35 1,25 11 - - - - -
(
1
) Medidas em cm. C - comprimento; L - largura; E - espessura.
(
2
) A única lâmina inteira possui um comprimento de 20,08 cm.
(
3
) A única lamela registada apresenta 0,78 cm × 0,13 cm, de largura e espessura.
Tabela 3 - Tipos de talão das lâminas e lamelas, por monumento funerário (MF).
Facetado Hiperdriedro Linear Liso Diedro Cortical Remoção
total
Remoção
parcial
Esmagado
MF1 Lâminas 9 (22,5%) 8 (20%) 3 (7,5%) 3 (7,5%) 3 (7,5%) 1 (2,5%) 3 (7,5%) 1 (2,5%) 2 (5%)
Lamelas 4 (10%) - 1 (2,5%) 1 (2,5%) - - 1 (2,5%) - -
Total 13 (32,5%) 8 (20%) 4 (10%) 4 (10%) 3 (7,5%) 1 (2,5%) 4 (10%) 1 (2,5%) 2 (5%)
MF2 Lâminas - 2 (16,7%) 1(8,4%) - - - - 1 (8,4%) -
Lamelas 1 (8,4%) - - - - - - - -
Total 1 (8,4%) 2 (16,7%) 1 (8,4%) - - - - 1 (8,4%) -
Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
- 45 -
Tabela 4 - Tipologia das pontas de seta, por matéria-prima e monumento funerário (MF) (
1
).
Sílex Jaspe Cherte Xisto Quartzo
hialino
Total
MF1
Côncava (
3
)
10 (3,7%) 5 (1,8%) 28 (10,3%) 31 (11,4%) 1 (0,4%) 75 (27,7%)
Côncava com aletas (
2
)
10 (3,7%) 10 (3,7%) 54 (19,9%) 38 (14%) - 112 (41,3%)
Côncava com aletas dissimétricas - 1 (0,4%) 15 (5,5%) 23 (8,5%) - 39 (14,4%)
Reta 2 (0,7%) 4 (1,5%) 17 (6,3%) 4 (1,5%) - 27 (10%)
Triangular com aletas - 2 (0,7%) 2 (0,7%) 3 (1,1%) - 7 (2,6%)
Triangular invertida - - - 2 (0,7%) - 2 (0,7%)
Convexa - - 4 (1,5%) - - 4 (1,5%)
Irregular - - 2 (0,7%) 3 (1,1%) - 5 (1,8%)
Total MF1 22 (8,1%) 22 (8,1%) 122 (45%) 104 (38,4%) 1 (0,4%) 271
MF2
Côncava (
3
)
2 (2,3%) - 5 (5,8%) 1 (1,2%) - 8 (9,3%)
Côncava com aletas
(
2
)
2 (2,3%) 4 (4,6%) 14 (16,3%) 17 (19,7%) - 37 (43%)
Côncava com aletas dissimétricas 1 (1,2%) 2 (2,3%) 4 (4,6%) 2 (2,3%) - 9 (10,5%)
Reta 2 (2,3%) 2 (2,3%) 11 (12,8%) 3 (3,5%) - 18 (20,9%)
Triangular com aletas - 1 (1,2%) 6 (6,9%) - - 7 (8,1%)
Convexa - - 2 (2,3%) 3 (3,5%) - 5 (5,8%)
Irregular - - 1 (1,2%) 1 (1,2%) - 2 (2,3%)
Total MF2 7 (8,1%) 9 (10,4%) 43 (49,9 %) 27 (31,4%) - 86
Total geral 28 31 165 111 1 357
(
1
) Estão excluídas peças do MF1 e do MF2 (16 e sete, respetivamente) por não preservarem a extremidade basal. As pontas de seta “côncavas com aletas” e as “”côncavas” incluem,
respetivamente, pontas de “tipo Alcalar” e de “tipo Torre Eiffel”.
Tabela 5 - Dimensões das pontas de seta, por matéria-prima e monumento funerário (MF).
Xisto Cherte Sílex Jaspe
MF1
Comprimento:
média e desvio-padrão 4,42 ± 1,63 3,75 ± 1,44 3,03 ± 0,67 3,65 ± 0,89
mediana 3,89 3,48 2,87 3,58
erro padrão 0,34 0,25 0,25 0,29
Largura:
média e desvio-padrão 1,69 ± 0,32 1,76 ± 0,38 1,60 ± 0,18 2,14 ± 0,57
mediana 1,60 1,74 1,59 2,07
erro padrão 0,06 0,06 0,07 0,18
Espessura:
média e desvio-padrão 0,18 ± 0,07 0,28 ± 0,07 0,30 ± 0,09 0,35 ± 0,11
mediana 0,19 0,26 0,30 0,32
erro padrão 0,01 0,01 0,03 0,03
MF2
Comprimento:
média e desvio-padrão 3,91 ± 0,81 3,67 ± 0,88 3,01 ± 0,55 3,39 ± 0,72
mediana 3,87 3,52 3,17 3,20
erro padrão 0,08 0,09 0,11 0,16
Largura:
média e desvio-padrão 1,60 ± 0,33 1,75 ± 0,41 1,66 ± 0,24 1,87 ± 0,42
mediana 1,57 1,71 1,69 1,87
erro padrão 0,03 0,04 0,05 0,09
Espessura:
média e desvio-padrão 0,20 ± 0,06 0,28 ± 0,08 0,29 ± 0,08 0,32 ± 0,11
mediana 0,20 0,27 0,27 0,34
erro padrão 0,01 0,01 0,01 0,02
(1) O quartzo hialino não está representado por existir apenas uma peça fraturada.