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A componente em pedra lascada dos monumentos funerários 1 e 2 do Complexo Arqueológico dos Perdigões (Reguengos de Monsaraz).

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Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
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PONTAMENTOS
PONTAMENTOSPONTAMENTOS
PONTAMENTOS
de Arqueologia e Património
de Arqueologia e Patrimóniode Arqueologia e Património
de Arqueologia e Património
ABR 2016
11
ISSN:
2183
-
0924
Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
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PONTAMENTOS
PONTAMENTOSPONTAMENTOS
PONTAMENTOS
de Arqueologia e Património
de Arqueologia e Patrimóniode Arqueologia e Património
de Arqueologia e Património
ABRIL
2016
11
Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
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ÍNDICE
EDITORIAL ................................................................................. 07
António Carlos Valera
NOTA SOBRE UMA DECORAÇÃO INCOMUM NUM
RECIPIENTE DOS PERDIGÕES ................................................ 09
António Carlos Valera, Ever Calvo e Patrícia Simão
ENTERRAMENTO CAMPANIFORME EM FOSSA DA
QUINTA DO CASTELO 1 (SALVADA, BEJA) ....…….................. 13
Lucy Shaw Evangelista, Miguel Lago e Lúcia Miguel
A ANTA DOS ENXACAFRES NO CONTEXTO DO
MEGALISTISMO DA REGIÃO DE GRÂNDOLA E
SANTIAGO DO CACÉM: UMA PRIMEIRA NOTA ...................... 21
Margarida Mendonça e António Faustino Carvalho
A COMPONENTE EM PEDRA LASCADA DOS
MONUMENTOS FUNERÁRIOS 1 E 2 DO
COMPLEXO ARQUEOLÓGICO DOS PERDIGÕES
(REGUENGOS DE MONSARÁZ) ............................…….…....… 33
Eliana Goufa e Francisco Rosa Correia
A INDÚSTRIA LÍTICA DO CASTRO DA COLUMBEIRA
(BOMBARRAL, PORTUGAL): DADOS PRELIMINARES
E PERSPECTIVAS FUTURAS .................................................... 47
Rui Ramos
QUINTA DE SÃO LOURENÇO 2:
UM SÍTIO DE FOSSAS NO CONCELHO DE BRAGANÇA ........ 53
Elisa de Sousa e Marina Pinto
A OCUPAÇÃO DA IDADE DO FERRO NA COLINA
DO CASTELO DE SÃO JORGE (LISBOA, PORTUGAL):
NOVOS DADOS DAS ESCAVAÇÕES REALIZADAS
NA RUA DO RECOLHIMENTO / BECO DO LEÃO .................... 59
Elisa de Sousa, Alexandre Sarrazola e Inês Simão
LISBOA PRÉ-ROMANA: CONTRIBUTOS DAS
INTERVENÇÕES ARQUEOLÓGICAS NA
RUA DA MADALENA ...................................................................69
Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
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EDITORIAL
O presente volume da “Apontamentos” volta a juntar artigos
produzidos no âmbito da investigação realizada pelo NIA-ERA,
artigos resultantes de trabalhos levados a cabo pelo departamento
técnico da ERA e artigos derivados de colaborações externas.
Textos que expõem resultados de trabalhos de campo, de
investigação e de trabalhos académicos de estudo de colecções
artefactuais.
Num tempo em que muitos se deixam aprisionar pelo sistema de
publicações arbitradas e indexadas, na busca dos “pontos” que
permitam vingar no terreno altamente competitivo em que a
investigação hoje vive, pequenos e despretensiosos projectos
como este continuam a publicar informações e ideias úteis,
revelando que há espaço, diria mesmo que há necessidade, para
uma pluralidade editorial. Tal utilidade aparece bem representada,
por exemplo, na expressão que a “Apontamentos” já conseguiu
atingir, visível no número de consultas, “downloads” e citações,
tanto a nível nacional como internacional.
Continuamos, pois, seguros que com este contributo editorial não
só estamos a cumprir com uma obrigação inerente à nossa
actividade, mas também a concorrer para um ambiente de maior
diversidade e liberdade, essencial para o desenvolvimento de
qualquer ciência e área profissional.
António Carlos Valera
Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
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1. Introdução
A investigação cujos resultados se apresentam neste texto
teve lugar como parte integrante do Programa Global de
Investigação dos Perdigões estabelecido em 2008, mais
especificamente na linha de investigação dedicada ao
estudo dos ambientes funerários que então se designou por
Produções Líticas nos Perdigões. Portanto, o seu objetivo
principal foi o estudo de uma componente particular das
oferendas funerárias: a pedra lascada. Este estudo acabaria
por incidir unicamente nos materiais exumados dos
Monumentos Funerários 1 e 2 — doravante designados
abreviadamente por MF1 e MF2 — e resultar na elaboração
de uma dissertação de mestrado apresentada em 2012 à
Universidade do Algarve (Mendonça, 2012).
Margarida Mendonça
2
António Faustino Carvalho
3
A COMPONENTE EM PEDRA LASC
ADA DOS MONUMENTOS
FUNERÁRIOS 1 E 2 DO COMPLEXO ARQUEOLÓGICO DOS PERDIGÕES
(REGUENGOS DE MONSARAZ)
1
Resumo:
Neste trabalho apresentam-se os resultados da análise tecnológica e classificação tipológica realizadas sobre a componente de pedra lascada
dos Monumentos Funerários 1 e 2 do Complexo Arqueológico dos Perdigões, ambos datados do segundo quartel do III milénio a.C. Entre outros
aspetos, foi possível observar a exclusividade de peças acabadas (lâminas, pontas de seta e grandes foliáceos), parte significativa das quais
fabricada com matérias-primas exógenas (sílex, calcário oolítico silicificado), indicando assim a integração deste complexo em redes de contacto
a longa distância. Verificou-se também que parte das oferendas funerárias foi deliberadamente fabricada para este fim (é o caso das pontas de
seta em xisto).
Abstract:
Knaped stone materials from the funerary monuments 1 and 2 of Archaeological Complex of Perdigões (Reguengos de Monsaraz)
In this work the results of technological analysis and typological classification of knapped stone tools from the Funerary Monuments 1 and 2 of the
Archaeological Complex of Perdigões are presented. Both contexts are radiocarbon dated to the second quarter of the 3rd millennium BC. Among
other aspects, it was possible to observe that finished tools are exclusive in the assemblage (blades, arrow points and larger foliates), being most of
them made with exogenous raw materials (flint, silicified oolithic limestone), thus integrating this complex in long-distance networks. It was also
observed that part of the grave goods was specifically made to this purpose (this is the case of schist arrow points).
________________________________________________
1
Trabalho integrado no âmbito do Programa Global de
Investigação dos Perdigões (INARP).
2
Investigadora independente (gduxa@hotmail.com).
3
Universidade do Algarve, FCHS, Campus de Gambelas,
8000-117 Faro (afcarva@ualg.pt).
Figura 1
Localização dos Monumentos Funerários 1 e 2 no conjunto
do Complexo Arqueológico dos Perdigões (no magnetograma
segundo Valera et al. 2014).
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Os MF1 e MF2 do complexo arqueológico dos Perdigões
localizam-se no limite Este do recinto de onde deriva o
topónimo, num sector que terá sido especificamente
selecionado para o efeito e demarcado fisicamente através
de um alargamento do perímetro do seu fosso exterior, que
criou um espaço interno (entre aquele fosso e o segundo) de
planta semicircular onde se encontram os monumentos
funerários objeto de estudo (Fig. 1). A prospeção superficial
deste sector revelou um terceiro sepulcro — que foi objeto
apenas de remoção do nível superficial remexido e de
delimitação do seu perímetro (Valera et al., 2007) — e a
existência de outros em número indeterminado,
provavelmente quatro. Esta localização particular dos
sepulcros coincide com o eixo que, partindo do centro do
recinto de fossos, coloca com a mesma orientação o recinto
menírico (que também existe neste local) e, no território em
frente, o vale da ribeira do Álamo e o monte de Monsaraz.
Este posicionamento, que não é casual, deverá estar
relacionado com o tradicional simbolismo neolítico atribuído
aos quadrantes onde o sol nasce.
De acordo com os dados de terreno obtidos durante a sua
escavação (que decorreu entre 1997 e 2006), os MF1 e MF2
são sepulcros soterrados, com paredes construídas através
da aplicação de lajes de xisto na vertical, e com uma
superstrutura original cuja natureza e técnica construtiva não
se encontra ainda hoje cabalmente esclarecida, uma vez que
não existem vestígios de derrubes de falsas cúpulas de
pedra nem evidências de outro tipo de cobertura, facto que
arquitetonicamente afasta estes sepulcros das tholoi
clássicas. Um conjunto de oito determinações de
radiocarbono (quatro para cada monumento funerário),
obtidas a partir de restos humanos, indicou um período de
utilização de ambos os sepulcros compreendido entre cerca
de 2800 e 2500 cal BC (Valera et al., 2014), ou seja, em
torno do segundo quartel do III milénio a.C.
Entre as oferendas funerárias exumadas contam-se, para
além da pedra lascada objeto de análise neste trabalho,
recipientes em cerâmica, raros objetos em metal (mas entre
os quais se incluem folhas de ouro), conchas de diversas
espécies marinhas, artefactos muito variados sobre matéria
dura de origem animal (placas e caixas decoradas, lúnulas,
pentes, ídolos, figurinhas antropomórficas e zoomórficas,
etc.), e elementos de adorno pessoal. Neste último conjunto,
a presença de conchas de espécies marinhas com origem
no litoral atlântico (Valera et al., 2007), contas fabricadas em
variscite proveniente da jazida de Pico Centeno, no sector
noroeste da província espanhola de Huelva (Odriozola et al.,
2010), e marfim de elefante africano (Valera et al., 2015),
indicam a existência de redes de troca a longa, ou mesmo
muito longa, distância (para uma síntese e discussão das
suas implicações, ver Valera, s.d.). É neste capítulo que se
deve incluir a verosímil identificação de calcário oolítico
silicificado entre o material lítico ora estudado (Mendonça,
2012), cuja análise será retomada nas conclusões.
O estudo do talhe da pedra nos Perdigões teve início logo
aquando da preparação da sua primeira publicação (Lago et
al., 1998). Com efeito, esse artigo incluiu duas secções
distintas sobre este tema: uma sobre os conjuntos do Sector
3 provenientes de unidades estratigráficas não afetadas pela
surriba que remexeu os estratos superiores do sítio
(Almeida, 1998); outra sobre a análise dos materiais
exumados no ano de 1997 no MF1 (Carvalho, 1998), onde
foi possível no entanto estabelecer já algumas pautas mais
gerais dos padrões que viriam a ser obtidos no estudo mais
completo realizado no âmbito da tese de mestrado a que se
fez referência acima (Mendonça, 2012). Apesar de nesta
última se ter procedido também à distribuição espacial dos
artefactos líticos no interior de ambos os sepulcros e de se
ter realizado uma integração comparativa com os dados
disponíveis para o Calcolítico do Sudoeste, partindo em
grande medida dos trabalhos do casal Leisner (1951), o
objetivo do presente texto é, essencialmente, o de
providenciar uma base tecnotipológica das duas grandes
categorias líticas — os produtos alongados (lâminas e
lamelas) e as peças foliáceas (pontas de seta e grandes
bifaces) — que compõem o conjunto. Esta base
tecnotipológica poderá servir como modelo de partida para
estudos sobre estas classes tipológicas que se venham a
realizar no futuro no Complexo Arqueológico dos Perdigões
ou noutras realidades calcolíticas similares da região
alentejana.
2. Produção laminar
No total, inventariam-se 98 suportes alongados provenientes
de ambos os sepulcros, os quais correspondem a 90 lâminas
e oito lamelas (cuja separação se fez a priori através do
critério convencional dos 12 mm de largura), com a
distribuição por matéria-prima e por sepulcro que se podem
observar na Tabela 1.
2.1. Matérias-primas
Neste domínio da classificação das matérias-primas, há que
referir que as propostas avançadas partiram de análises
macroscópicas das peças, tendo a litologia das mesmas sido
definida a partir de observação diretamente a olho nu ou
com recurso a lupa binocular. Isto significa que haverá
inerentemente uma margem de erro, conquanto
indeterminável, mas que se pode considerar agravada pelo
elevado grau de alteração que algumas peças apresentam.
Ambos os sepulcros revelaram maioritariamente conjuntos
de sílex (MF1=60,4%; MF2=66,7%), em que uma parte
corresponderá a sílex oolítico (ver conclusões), seguidos
pelo cherte (MF1=9,3%; MF2=8,3%) e quartzo hialino
(MF1=8,3%; MF2=8,2%), a que se juntam outras matérias-
primas representadas por percentagens ainda mais
reduzidas, tais como o anfibolito (2,3%), o diorito (2,3%) e o
jaspe (1,2%)
1
. A alteração que se observa nalgumas peças
(cerca de 16,5%, no conjunto dos dois sepulcros) manifesta-
se num aumento significativo da porosidade da rocha (por
vezes abrindo fissuras), na diminuição do seu peso e,
sobretudo, na alteração das suas colorações originais, que
_______________________________
____
_________________
1
Trata-se da matéria-prima por vezes (erroneamente) designada
por “xisto jaspóide” na literatura arqueológica portuguesa como,
por exemplo e desde logo, no primeiro estudo sobre os materiais
líticos destes monumentos funerários (Carvalho, 1998).
Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
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se homogeneizaram em tons variando entre o bege
esbranquiçado e o amarelo pálido. Este processo inicia-se
claramente de fora para dentro, como atestam algumas
peças cujo miolo apresenta cores e texturas diferentes das
zonas mais superficiais, mas mais próximas da litologia
original. As causas específicas destas alterações parecem
poder resultar principalmente de exposição a temperaturas
mais ou menos elevadas, resultando na calcinação
superficial das peças; assinale-se, a este respeito, que os
processos deverão ter sido similares em ambos os
sepulcros, pois não se observaram diferenças a este nível
entre os materiais de um e outro.
Considerando o tipo de contexto em estudo — ambientes
funerários onde diversas práticas e rituais terão tido lugar —
é possível elencar tentativamente duas explicações para a
presença de tais alterações. A primeira seria a realização de
fogos de higienização e/ou rituais realizados no interior dos
sepulcros, como foi já observado em outros locais do mesmo
período. No entanto, constatou-se durante a escavação
destes sepulcros que “relativamente ao fogo, praticamente
não existem sinais verificáveis nos ossos ou em qualquer
categoria de artefactos” (Valera et al., 2000: 96), o que
obriga a afastar esta hipótese, tal como formulada. Com
efeito, e acordo com os mesmos autores, os indícios da
prática de fogo no MF1 resumem-se a uma estrutura de
barro e restos de terra queimados identificados no átrio.
Acresce a este óbice o facto de não se terem reconhecido
evidências semelhantes no MF2 e de apenas uma
quantidade muito reduzida de pontas de seta — MF1=27
(9,5%), MF2=2 (2%) — se apresentar com o mesmo tipo de
alterações.
Porém, tratando-se de deposições funerárias secundárias
em ambos os sepulcros, é plausível avançar uma segunda
explicação: a de que os objetos possam ter sido deslocados
do seu local de deposição primária, acompanhando os
restos ósseos, e que o processo de alteração mineralógica
observada possa ter ocorrido nesse/s local/is exterior/es, e
não no interior dos monumentos funerários de onde viriam a
ser exumados em escavação. E, de facto, o modelo
interpretativo geral que tem vindo a ser proposto para as
práticas funerárias e rituais que teriam lugar no Complexo
Arqueológico dos Perdigões (Valera et al., 2014) autoriza
que se contemple esta hipótese como a mais provável (ver
conclusões).
2.2. Morfologia e tecnologia
No que concerne às características dimensionais desta
classe artefactual (Tabela 2), os cálculos sobre o
comprimento limitam-se a 18 lâminas e sete lamelas, as
únicas inteiras no MF1, e a uma lâmina e uma lamela
intactas do MF2, o que condiciona as ilações a retirar.
Quanto à largura e espessura, atributos que se podem
quantificar em todas as peças independentemente do seu
estado de fragmentação, o primeiro facto a destacar é a
tendência para as grandes dimensões. Como se pode
verificar no cálculo das dimensões médias, estamos perante
um conjunto laminar robusto que não foge aos padrões
morfométricos obtidos noutros locais da mesma época.
Porém, no que respeita ao comprimento, o elevado desvio-
padrão obtido para o MF1 sugere que a produção laminar
parece não ter obedecido a uma normalização dimensional,
conquanto o reduzido número de peças possa estar a
enviesar os resultados obtidos.
Através do cruzamento dos dados do comprimento e
respetivas larguras estabeleceram-se padrões métricos
numa tentativa de sintetizar essa variabilidade dimensional
em agrupamentos naturais. A definição de “lâmina muito
grande”, avançada por Pelegrin (2006), serviu apenas para
determinar o comprimento do Grupo I, enquanto os restantes
não seguiram qualquer critério já publicado e resultam
diretamente das dimensões observadas nestes dois
conjuntos. Assim sendo:
O Grupo I integra os suportes que superam os 20
cm de comprimento e os 2,2 cm de largura. No
MF1, existem três lâminas que se encaixam nestes
critérios; o MF2 dispõe apenas de um exemplar
inteiro (20,08 cm × 3,37 cm) e um fragmento cujas
dimensões (5,24 cm × 1,25 cm) deixam entrever
uma peça de dimensões semelhantes.
O Grupo II, ou “lâminas grandes”, engloba peças
entre os 14 cm e os 20 cm de comprimento.
Apresenta, como no grupo anterior, larguras
superiores aos 2,2 cm, se se excetuarem três
lâminas com larguras de 2,09 cm, 2,04 cm e 1,48
cm, respetivamente. O MF1 revelou oito peças
pertencentes a este grupo.
O Grupo III engloba as “lâminas médias”, que
apresentam entre 6 cm e 14 cm de comprimento,
mas com larguras inferiores a 2,2 cm. No MF1,
existem nove peças com estas características.
No MF1, cinco fragmentos laminares são remontáveis entre
si, e no MF2 apenas dois. Os vários tipos de fracturação
observados (nestas e nas restantes peças) indicam que em
ambos os sepulcros está representada principalmente a
flexão, com 21 exemplares (32,8%) no MF1 e quatro (40%)
no MF2. No entanto, estas conclusões devem ser
apreendidas com reservas, pois a fracturação observada
pode ter sido resultado de perturbações várias, como a
pressão e/ou revolvimento das terras, o colapso das
estruturas e/ou o pisoteamento, e não de procedimentos
técnicos intencionais. Em segundo plano, surgem evidências
para fragmentação através de percussão, com três (4,7%)
no MF1 e também três (30%) no MF2, estas
indubitavelmente associadas a intencionalidade.
No que se refere à distribuição do tipo de talão (Tabela 3),
registaram-se no MF1 — o único sepulcro que forneceu
peças em número suficiente para tecer considerações
quantitativas — valores bastante equilibrados entre talões
facetados (n=9; 22,5%) e hiperdriedros (n=8; 20%), aos
quais se seguem os talões lineares, lisos e diedros (n=3;
7,5% em cada categoria). Em ambos os sepulcros foi
também possível observar nalguns casos a remoção
Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
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intencional do talão, apresentando estas peças sinais
sugestivos de uso como percutores nas extremidades
proximais assim obtidas. Trata-se de remoções parciais —
MF1=1 (2,5%), MF2=1 (20%) — ou totais (MF1=4; 10%), na
maioria das vezes obtidas através de truncatura, como se
pode observar num dos exemplares da Figura 2.
É importante assinalar-se a presença, aliás com valores
percentuais muito significativos, do que apelidamos “talões
hiperdriedos” (Fig. 3). Com efeito, a sua presença nestes
contextos do III milénio a.C. parece testemunhar a prática do
talhe por pressão recorrendo a compressores com ponta de
cobre, se se atender às experimentações levadas a cabo por
Pélègrin e Morgado (2007; Pélègrin, 2006). De acordo com
estes autores, esta morfologia particular de talão (que
designam também por “diedro agudo”) resulta das tarefas de
formatação dos núcleos tendo em vista a obtenção de
suportes muito normalizados e de grandes dimensões (com
comprimentos superiores a 20 cm). Consequentemente,
temos assim evidência, neste aspeto também, de processos
de importação de material silicioso produzido em oficinas de
talhe especializadas.
No que diz respeito à morfologia geral dos produtos
laminares (Figs. 4 e 5), foi possível observar uma série de
regularidades recorrentes em ambos os conjuntos (mas
visíveis principalmente no MF1 dado possuir uma amostra
mais representativa), que se podem sintetizar do seguinte
modo:
no MF1, predominam as secções transversais de
geometria trapezoidal (n=59; 68,6%) face às de
secção triangular (n=17; 19,7%); no outro
monumento, os valores são bastantes
equilibrados, tendo as peças de secção trapezoidal
uma percentagem ligeiramente inferior (n=5;
45,5%) às triangulares (n=6; 54,5%).
a morfologia longitudinal das peças (observável
apenas nos produtos inteiros) indicou valores
muito equilibrados entre perfis côncavos (n=4;
26,6%), ultrapassados (n=4; 26,6%) e direitos
(n=7; 46,6%) no MF1, tendo-se ainda podido
constatar a presença de fenómenos de
ultrapassagem em pelo menos oito peças (p. ex.,
Fig. 4). No MF 2, existe apenas uma peça inteira
também com perfil ultrapassado.
em ambos os sepulcros predominam as lâminas
de bordos paralelos — n=25 (71,4%) no MF1; n=
(62,5%) no MF2 — sendo que uma parte dessas
peças (20% no MF1 e 37,5% no MF2) têm talões
mais estreitos que o corpo das peças;
as nervuras das lâminas são, na sua maioria
regulares (ou seja, paralelas entre si), tanto no
MF1 (n=60; 80%) como no MF2 (n=10; 90,9%).
Por seu lado, no grupo das lamelas, as suas dimensões
médias oscilam entre os 0,53 ± 0,11 cm de largura e os 0,13
± 0,60 cm de espessura, e o comprimento apresenta uma
média de 2,05 ± 0,60 cm, com um limite mínimo de 1,12 cm
e um máximo de 2,86 cm. Dado que a amostra lamelar é
muito reduzida (Tabelas 1 e 2), não foi possível estabelecer
um cruzamento de dados tão seguro como o realizado com
as lâminas. No entanto, pode salientar-se que os talões são
maioritariamente facetados (n=4; 10%), aos quais se
seguem os lineares e lisos (n=1; 2,5% em cada categoria),
sendo de registar a inexistência de talões hiperdiedros neste
grupo. Os perfis são sobretudo côncavos (n=3; 50%),
seguindo-se os ultrapassados (n=2; 33,4%) e os direitos
(n=1; 16,7%). As secções transversais são sobretudo
trapezoidais (n=6; 85,7%). Em termos de morfologia geral,
predominam as peças com bordos paralelos e talão mais
estreito no MF1 (n=6; 85,7%); no MF2, a única lamela
existente possui forma biconvexa.
Figura
3
Lâminas de sílex com talões hiperdiédricos.
Figura
2
Lâminas de sílex. A terceira peça foi segmentada através
de truncatura..
Figura
4
Lâminas de sílex robustas.
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2.3. Análise tipológica
A maioria das lâminas e lamelas destes sepulcros dos
Perdigões apresenta-se retocada, tanto no MF1 como no
MF2
2
.
No primeiro sepulcro, uma das peças pode ser classificada
como “faca” e as restantes apresentam retoques contínuos
ou descontínuos, entalhes, ou ainda denticulados (Fig. 6).
A referida “faca” é em sílex acastanhado semitranslúcido
com inclusões beges ou esbranquiçadas. Os bordos são
paralelos na maior parte da sua extensão, mas convergem
na ponta por aplicação de retoque semiabrupto no anverso e
invasor na face inferior. Ambos os gumes apresentam
retoque marginal, com sinais evidentes de utilização
denunciados pela presença de estrias e pátina de utilização
nos gumes, estendendo-se até às nervuras.
Em 72 efetivos laminares, a larga maioria apresenta
retoques marginais contínuos (n=53; 73,6%); de seguida
vêm as lâminas com entalhes (n=13; 18,1%) e, por último, os
denticulados (n=4; 5,5%). A “faca” representa 1,4% da
amostra, assim como a única truncatura sobre lâmina
existente. Três lâminas possuem retoque abrupto. Existem
ainda três fragmentos mesiais de peças de crista
(parcialmente corticais) com retoque marginal contínuo.
Entre as lâminas há ainda uma peça alongada, em jaspe,
com retoque invasor bifacial. O suporte apresenta-se muito
irregular, o que exclui uma produção de tipo prismático.
Apresenta uma largura máxima de 2,36 cm e uma espessura
de 0,61 cm.
No MF 2 verifica-se uma situação semelhante: 81,8% (n=7)
das 11 lâminas recolhidas têm retoque marginal contínuo, a
que se juntam uma lâmina com entalhe (9,1%) e uma
truncatura sobre lâmina (9,1%).
No que respeita às lamelas, no MF1 estas seguem
praticamente o padrão das lâminas, pois quatro (57,2%)
apresentam retoques marginais contínuos e as restantes três
(42,8%) são lamelas com entalhes. No MF2, o único
exemplar lamelar também tem retoque marginal contínuo.
3. Produção de foliáceos (pontas de seta e bifaces de
grandes dimensões)
Quanto aos foliáceos, o conjunto analisado totalizou 381
peças (Tabela 1), uma vez que se decidiu formalmente
incluir nesta categoria ampla duas tipologias principais:
pontas de seta e peças bifaciais de grandes dimensões. Do
MF1 foram estudadas 285 pontas de seta e três grandes
bifaces; no MF 2, os exemplares estudados consistiram em
93 pontas de seta.
_______________________________
____
_________________
2
Nestas considerações não estão incluídas sete lâminas que se
encontravam em exposição no Museu Arqueológico do Complexo
dos Perdigões à data de realização deste estudo, pois não foi
possível proceder à classificação do retoque que apresentam.
Figura
6
Lâminas de sílex e denticulados (a peça do
canto superior direito é uma lâmina de crista e a peça do
meio na fila inferior é em xisto).
Figura
5
Lâminas de sílex
.
Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
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3.1. Pontas de seta
As matérias-primas utilizadas no fabrico das pontas de seta
de ambos os sepulcros são, segundo a análise
macroscópica realizada para os restantes materiais líticos
(ver acima) e por ordem decrescente de representatividade
(Tabela 1), o cherte, o xisto, o sílex, o jaspe e o quartzo
hialino. A individualização do jaspe baseou-se na forte
tonalidade vermelha que apresenta esta matéria-prima.
Em termos quantitativos, como se pode ver nos gráficos da
Figura 2, a maior parte das pontas de seta foi elaborada em
cherte, com 126 (44,2%) e 49 (52,7%) exemplares no MF1 e
no MF2, respetivamente. O xisto surge em segundo plano,
com 112 (39,3%) e 28 (30,1%) exemplares, respetivamente.
O sílex, por seu turno, surge em quantidades inferiores,
muito provavelmente devido ao facto de ser uma rocha
exógena à região. Por outro lado, a presença de quartzo
hialino é negligenciável (um único exemplar no MF1), não
obstante ser talvez de aprovisionamento local. Os valores
apresentados pelo jaspe — 24 (8,4%) e nove (9,7%)
exemplares no MF1 e no MF2, respetivamente — são os que
mais se aproximam dos do sílex.
Quanto aos padrões de fragmentação, verificou-se uma
similitude entre ambos os sepulcros. No MF1, 56,2% (n=157)
das pontas de seta encontram-se intactas, enquanto o valor
obtido no MF2 é de 40% (n=36). As restantes apresentam
diferentes estados de fratura, evidente sobretudo nas
respetivas extremidades; aliás, na análise realizada
confirmou-se para ambos os monumentos funerários que os
tipos com maiores índices de fratura são os que possuem
aletas. Por consequência, as peças de base reta ou de base
côncava apresentam os maiores índices de completude,
respetivamente 77,8% (n=72) e 85,2% (n=27) no caso do
MF1. No MF 2, a situação é semelhante.
O retoque predominante é escalariforme ou escamoso, com
261 (94,2%) e 85 (94,4%) exemplares no MF1 e no MF2,
respetivamente. Em segundo plano está o retoque de
morfologia paralela, com 16 (5,8%) e 5 (5,6%) exemplares
no MF1 e MF2, respetivamente. Verifica-se o recurso
recorrente ao retoque invasor, tanto nas peças do MF1
(n=199; 71,9%) como nas do MF2 (n=48; 54%). O retoque
marginal é, ainda, a segunda categoria adotada no MF2,
com 28 (31,4%) exemplares e no MF1 é a última, com 35
(12,6%). Quanto à extensão do retoque, refira-se a
Figura
7
Variação das rochas utilizadas no fabrico de
pontas de seta, por monumento funerário.
Figura
8
Pontas de seta.
Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
- 39 -
particularidade de algumas peças apresentarem esse tipo de
retoque cobridor na superfície dorsal mas invasor na ventral
(Figs. 8 a 11).
A questão dos bordos serrilhados nas pontas de seta é um
assunto pertinente a este nível de análise, pois o que parecia
ser um traço estilístico típico do espólio megalítico mais
tardio de Reguengos de Monsaraz, apontado por Leisner e
Leisner (1951), surge até ao momento nestes sepulcros dos
Perdigões como uma técnica representada de forma
marginal e sem o elevado grau de perfeição reconhecido
noutros conjuntos regionais. No caso do MF1, oito pontas de
seta (2,8%) apresentam bordos serrilhados e no MF2
encontram-se apenas três (3,3%). Foi possível neste estudo,
no entanto, confirmar que este tipo de retoque não é um
procedimento técnico exclusivo do sílex, tal como já tinha
sido apontado (Carvalho, 1998), pois está presente em
pontas fabricadas com matérias-primas locais (jaspe e
cherte), de menor aptidão para o talhe.
Relativamente à configuração dos bordos, parece verificar-
se que existiu uma opção preferencial pela configuração de
bordos retos, que predominam em todos os tipos
classificados em ambos os sepulcros com base na
morfologia da sua base (Tabela 4). Porém, os bordos
convexos demonstram uma distribuição diferente entre os
dois sepulcros: no MF2 ocorrem com maior frequência em
peças de base reta (n=8; 32%) enquanto no MF1 são
tendencialmente adotados em pontas com base côncava e
aletas (n=14; 51,9%). Os bordos sinuosos e os côncavos são
mais raros no conjunto das pontas de seta, com
percentagens negligenciáveis.
A classificação tipológica das pontas de seta, a que se tem
vindo a fazer referência, é elementar: como se pôde
constatar nos parágrafos anteriores, baseia-se na morfologia
das respetivas bases e a nomenclatura utilizada inspira-se
numa proposta anterior (Forenbaher, 1999). Assim, para
este estudo, os tipos definidos encontram-se listados, por
matéria-prima e com os respetivos quantitativos, na Tabela
4.
No caso dos tipos designados por “bases côncavas com
aletas”, observou-se a presença de uma variante ao nível da
assimetria geral das mesmas: ou seja, identificaram-se
casos — denominados de “aletas dissimétricas” — em que
as estas possuem comprimentos distintos entre si ou pode
mesmo não existir uma delas (situação rara). Esta
individualização deliberada na tipologia das pontas de seta
decorreu do facto de se ter constatado que, do ponto de
vista morfotécnico, aletas com diferentes comprimentos,
podendo uma delas ser mesmo inexistente, se constituir uma
“irregularidade” intencional por parte do artesão no que
respeita à (as)simetria destas pontas de projétil.
Em termos de inventário geral, o tipo mais comum em
ambos os sepulcros é, como se pode verificar na Tabela 4, o
das pontas de seta com aletas simétricas. Estas
representam 41,3% (n=112) no MF1 e 43% (n=37) no MF2.
No entanto, enquanto no MF1 essa forma é seguida pelas
pontas de base côncava (n=75; 27,7%), no MF2 são os
exemplares com base reta que surgem em segundo plano
(n=18; 20,9%). Por seu turno, as formas mais raras, em
ambos os monumentos, são as pontas de base convexa e,
de entre estas, as que apresentam base triangular invertida.
As litologias mais utilizadas no fabrico das pontas de seta
nos dois sepulcros são, respetivamente, o cherte (45% no
MF1 e 49,9% no MF2) e o xisto (38,4% no MF1 e 31,4% no
MF2), abarcando consequentemente um maior número de
tipologias. Porém, uma análise mais atenta permite-nos frisar
algumas particularidades:
o sílex surge em ambos os sepulcros representado
recorrentemente através dos mesmos tipos
(pontas de base côncava, com ou sem aletas, ou
base reta);
o número de pontas convexas e irregulares,
conquanto diminuto, surge em ambos os sepulcros
confecionadas apenas em xisto e cherte;
o quartzo hialino tem uma utilização excecional,
pois apenas surgiu um exemplar no MF1.
Figura
9
Pontas de seta.
Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
- 40 -
O cálculo das dimensões médias das pontas em função das
litologias utilizadas forneceu os resultados que se podem
observar na Tabela 5. A partir destes resultados pode inferir-
se que a rocha que parece impor mais constrangimentos no
fabrico das pontas de seta é o xisto, em virtude de possuir
uma estrutura laminar mais frágil, o que conduziu o artesão a
fabricar peças tendencialmente mais longas e mais
delgadas, quando comparadas com as restantes matérias-
primas. Este padrão é visível em ambos os sepulcros. Por
outro lado, o conjunto de pontas de seta com maior grau de
uniformidade dimensional, em ambos os monumentos, são
as peças em sílex, que parecem demonstrar uma
padronização métrica deliberada (mas que só a comparação
com outros contextos poderá confirmar em definitivo).
A dispersão dos índices de espessura e alongamento das
pontas de seta, em função das respetivas matérias-primas,
onde se confirma a dedução acima apresentada e que já
havia sido aventada anteriormente (Carvalho, 1998): a de
que há dois grandes grupos distintos, em ambos os
sepulcros: um composto sobretudo por pontas de seta em
xisto cujos índices de alongamento e espessura sugerem
uma elevada fragilidade que evoca uma utilização
eminentemente funerária (ou seja, estas peças não teriam
sido produzidas para outros fins), e outro constituído por
peças que exibem maior robustez (mais curtas e espessas)
e, portanto, uma presumível maior eficácia balística. Estes
dados novos, mais robustos estatisticamente, vêm assim
reforçar aquela dedução inicial.
3.2. As grandes peças bifaciais
As únicas grandes peças bifaciais recuperadas dos
monumentos funerários dos Perdigões são provenientes de
MF1, onde foram encontrados uma alabarda (proveniente da
câmara do sepulcro) e duas peças foliáceas de tipo punhal
ou ponta de dardo (uma recolhida no átrio e outra na
câmara). O punhal ou ponta de dardo proveniente do átrio foi
já objeto de análise própria, e publicação, no que respeita à
sua morfologia, tecnologia e etapas de fabrico (Carvalho,
1998: 135-136; ver Fig. 12), aspetos que não serão portanto
aqui repetidos.
Na análise das outras duas peças, as características
dimensionais que se apresentam adiante são uma
aproximação, uma vez que estavam afixadas a suportes na
exposição patente no Museu do Complexo Arqueológico dos
Perdigões, na Herdade do Esporão, o que dificultou o registo
de algumas medidas e noutras impossibilitou mesmo a sua
verificação.
Assim, a alabarda encontrada na câmara apresenta as
seguintes medidas: 11,02 cm de largura mesial, 13,07 cm de
largura da base, 15,02 cm de comprimento máximo
(distância máxima da extremidade distal à base), e 0,69 cm
de espessura. É um artefacto em sílex, de cor bege-clara,
opaca, aparentando alguma qualidade para o talhe.
Apresenta uma forma triangular alargada com bordos
ligeiramente convexos e base arredondada. Possui entalhes
semicirculares em ambos os bordos, perto da zona proximal,
e apresenta uma secção transversal biconvexa, assim como
Figura
11
Pontas de seta.
Figura
10
Pontas de seta.
Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
- 41 -
retoque cobridor. O seu suporte original é indeterminável
(provavelmente uma placa ou fragmento de sílex com
dimensões consideráveis). Não possui sinais de calcinação,
mas subsistem dúvidas quanto à aplicação de tratamento
térmico, uma vez que a peça está coberta com algumas
concreções que dificultam condições de observação
adequadas.
O punhal ou ponta de dardo, proveniente da câmara, é um
artefacto em sílex acastanhado, pouco translúcido, com
inclusões beges. Trata-se da mesma rocha em que surgem
elaboradas algumas lâminas e pontas de seta. Apresenta
uma forma ogival alongada, com bordos convergentes na
extremidade distal. A base é tendencialmente reta com
algumas irregularidades, o que torna a peça assimétrica na
sua parte proximal. A seção longitudinal é reta e a
transversal tem tendência biconvexa. A espessura junto à
base é de 0,70 cm e na parte distal 0,26 cm. O comprimento
máximo é de 12,80 cm, com uma largura de 4,29 cm, que
corresponde à largura da base. Não possui os entalhes
basais existentes no punhal já publicado. Não existem sinais
de tratamento térmico nem marcas de calcinação visíveis a
olho nu.
Estas grandes peças bifaciais não parecem evidenciar sinais
de utilização, mas não foi realizada uma análise traceológica
para se chegar a uma conclusão definitiva sobre este
aspeto.
4. Vias de investigação futura
Os estudos já realizados anteriormente sobre a pedra
lascada dos MF1 e MF2 dos Perdigões (Carvalho, 1998;
Mendonça, 2012), sintetizados neste texto nos seus
principais aspetos tecnológicos e tipológicos, levantam uma
série de possibilidades de investigação futura. Parte dessa
investigação — por exemplo, a análise da distribuição
espacial intrassítio desta classe de artefactos — pode ser
realizada no imediato, mas só terá um alcance
verdadeiramente significativo se for levada a cabo de forma
coordenada e articulada com outros elementos de cultura
material, para além dos próprios restos humanos.
No momento atual da investigação, é possível retirar alguns
elementos da análise feita nas secções anteriores que nos
permitem, partindo da componente lítica, avançar para
outros patamares analíticos e para a discussão de outras
problemáticas. Assim, em primeiro lugar, destaca-se a
observação de claros indícios de uma forte normalização
morfométrica das produções líticas, particularmente evidente
no conjunto dos produtos alongados. Este facto tem por
detrás a implementação, no III milénio a.C., de complexos
procedimentos técnicos no trabalho de talhe da pedra que
visam obter precisamente esse elevado grau de
normalização. Nos MF1 e MF2, alguns desses
procedimentos foram sendo apontados à medida que
decorria a sua identificação, e salientam-se os seguintes: a
elevada frequência de talões hiperdriedos nas grandes
lâminas (Fig. 3); o possível recurso a talhe por pressão com
compressores equipados com pontas de cobre para a
produção destas últimas; a sua própria normalização (tendo
sido possível agrupar as lâminas em diferentes módulos
padronizados); e a verificação de que os grandes bifaces
(“alabardas”, pontas de dardo) passaram, no seu fabrico, por
complexas sequências de gestos. Estes ficaram, aliás, bem
evidentes na descrição que primeiramente se fez da cadeia
operatória de fabrico de um dos punhais do MF1 (Carvalho,
1998: 136) e depois de peças similares da Gruta da Furninha
(Cardoso e Carvalho, 2010/11: 355, 356). Esta complexidade
de procedimentos técnicos está longe de constituir novidade
— para uma síntese da investigação e dos dados
disponíveis, ver Carvalho (2012) e os trabalhos pioneiros de
Jalhay (1947) e Ferreira (1957) — mas o seu
reconhecimento não deixa de se constituir como o
enquadramento empírico (isto é, as circunstâncias da sua
Figura
12
Punhal ou ponta de dardo com retoque
bifacial invasor.
Figura
13
Exemplo de lâmina fabricada em sílex
oolítico.
Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
- 42 -
existência factual) e teórico (isto é, as conclusões que
decorrem dessa existência) que permitem inferir outros
níveis de comportamentos por parte destas sociedades.
Um desses comportamentos, que se integra
simultaneamente na esfera do económico e do simbólico, é a
existência de atividades produtivas líticas especializadas
(desde a sua mineração) e a circulação dos produtos de tais
atividades (a diversas escalas geográficas, por vezes muito
alargadas). Neste caso, integra-se a circulação do material
em sílex, inexistente na região, pelo menos em nódulos
capazes de fornecer as peças depositadas nos sepulcros
objeto de estudo neste trabalho, pelo que a sua importação
pode ser dada como adquirida, seja a partir da Estremadura
Portuguesa ou — talvez mais provavelmente — da
Andaluzia Ocidental. Dentro deste quadro, a circulação das
peças em calcário oolítico silicificado ilustra bem a escala
geográfica do processo em causa. Se a sua presença nos
monumentos funerários dos Perdigões se vier a confirmar
através de critérios de classificação petrográfica mais
objetivos que as análises macroscópicas utilizadas neste
trabalho (Fig. 13), poderemos concluir que este complexo
arqueológico integrava as redes de circulação desta matéria-
prima no sul peninsular. Independentemente do seu modelo
interpretativo geral, estas redes de circulação foram
primeiramente definidas e cartografadas por Nocete et al.
(2005). De acordo com estes autores, as jazidas de sílex
oolítico encontram-se nas cordilheiras béticas, mas a difusão
desta rocha terá atingido, sucessivamente e a partir do IV
milénio a.C., um conjunto de territórios que acabarão por
englobar no milénio seguinte a região de Reguengos de
Monsaraz, onde terão sido identificadas lâminas nos
dólmenes de Olival da Pega e Poço da Gateira (segundo os
mesmos autores) e, mais recentemente, na ocupação
calcolítica do Escoural, em Montemor-o-Novo (Gomes et al.,
2012/13) — portanto, a mais de 400 km para Noroeste, em
linha reta, a partir dos presumíveis locais de abastecimento.
Para além deste aspeto, os referidos autores referem ainda
que “at the start of the third millennium B.C., the presence of
silicified oolithic limestone blades in the settlements of the
Guadalquivir Valley underwent profound changes. [...] These
were large blades, measuring more than 40 cm lengthwise,
whose width/thickness relationship (of 2.5 to 3 cm by 0.65 to
1.3 cm) suggests that their manufacture, with strong
longitudinal resistance, was oriented toward the seizure of
artefacts” (Nocete et al., 2005: 69-70). Em suma, trata-se de
transformações de ordem tecnomorfológica que coincidem
com a informação colhida noutras componentes funerárias
dos MF1 e MF2 dos Perdigões, e de escalas geográficas
equiparáveis às que permitiram a importação de parte dos
outros bens exógenos encontrados em associação nestes
sepulcros (Valera, s.d.).
Um aspeto à primeira vista desligado dos estudos líticos é o
facto de, tanto o MF1 como o MF2, serem sepulcros
destinados a deposições secundárias. No entanto, foram
verificadas diferenças quanto aos rituais e às práticas
funerárias levadas a cabo nos seus diferentes espaços
(átrios, corredores, câmaras), conformando-se assim um
tópico de estudo para o qual a pedra lascada poderá
contribuir em estudos futuros. Com efeito, uma vez que se
verificaram também diferenças quanto à distribuição destes
artefactos em função dos diferentes espaços internos dos
sepulcros (Mendonça, 2012), a articulação da sua
distribuição espacial com a de outros tipos de vestígios pode
conduzir a ilações de outro nível interpretativo. E, de facto,
se se levar em linha de conta as práticas de manipulação
dos restos humanos que se tem vindo a descortinar terem
tido lugar num conjunto alargado e formalmente diversificado
de contextos dos Perdigões, sobretudo estruturas negativas
— fossas com deposições primárias, fossos com deposições
intencionais de elementos esqueléticos, e sepulcros com
depósitos funerários primários e secundários — o padrão
obtido sugere fortemente a exumação, transporte e
redeposição de restos humanos (neste caso, apenas
porções ou segmentos dos esqueletos originais) nesses
vários espaços. Outros elementos indissociáveis
ontologicamente dos restos humanos, tais como restos
faunísticos ou artefactos, teriam sido também objeto dos
mesmos gestos e práticas (Valera e Godinho, 2009; Valera
et al., 2014). Neste contexto, algumas observações
realizadas sobre a pedra lascada do MF1 e MF2 sugerem
igualmente a sua participação ativa em tais práticas: é o
caso dos modos de fragmentação das lâminas de sílex, que
evocam uma segmentação intencional das mesmas. Uma
abordagem explícita a esta questão — como já foi, aliás,
realizada a propósito dos restos faunísticos (Valera e Costa,
2013) — permitiria esclarecer se assim é de facto, e
eventualmente explicar a questão em aberto acerca das
alterações superficiais observadas nestas peças (que, note-
se, não se verifica nas pontas de seta): dever-se-iam à sua
exposição a meteorização ou a outros elementos, quando
depositadas num primeiro momento noutros locais? Uma
vantagem existe à partida nesta via de análise aplicada a
artefactos líticos: qualquer proposta de remontagem entre
partes de uma mesma lâmina de sílex é claramente mais
objetiva do que entre restos osteológicos...
Nota final
A maioria das estampas de artefactos líticos apresentados
neste trabalho encontrava-se inédita, tendo sido desenhadas
por Maria Fernanda Sousa para a empresa Era-Arqueologia
Lda.; apenas uma pequena parte havia sido publicada no
primeiro trabalho de fundo sobre o Complexo Arqueológico
dos Perdigões (Lago et al., 1998: figs. 24, 26, 28 e 29).
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Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
- 44 -
Tabela 1 - Inventário geral de artefactos, por matéria-prima e monumento funerário (MF).
Sílex Sílex
oolítico
Rocha
alterada
Cherte (
1
) Anfibolito Diorito Jaspe Quartzo
hialino
Xisto Total
MF1
Lâminas 41 11 14 8 2 2 1 - - 79
Lamelas - - - - - - - 7 - 7
Pontas de seta 22 - - 126 - - 24 1 112 285
Bifaces (
2
) 3 - - - - - - - - 3
Total 66 11 14 134 2 2 25 8 112 374
MF2
Lâminas 3 5 1 2 - - - - - 11
Lamelas - - - - - - - 1 - 1
Pontas de seta 7 - - 49 - - 9 - 28 93
Total 10 5 1 51 - - 9 1 28 105
Total geral 76 16 15 185 2 2 34 9 140 479
(
1
) Por vezes designado na literatura arqueológica por “xisto jaspoide”.
(
2
) Uma “alabarda” e duas pontas de lança ou de dardo.
Tabela 2 - Dimensões das lâminas e lamelas, por monumento funerário (MF) (
1
).
Lâminas Lamelas
média e desvio-padrão mediana min. max. N média e desvio-padrão mediana min. max. N
MF1 C 14,89 ± 4,40 14,54 6,16 25,5 20 2,05 ± 0,60 2,03 1,12 2,76 7
L 2,35 ± 0,53 2,34 1,26 3,95 76 0,53 ± 0,11 0,52 0,38 0,68 7
E 0,68 ± 0,19 0,65 0,33 1,14 77 0,13 ± 0,04 0,12 0,09 0,23 7
MF2 C - - - - 1(
2
) - - - - -
L 2,72 ± 1,02 2,52 1,47 5,24 11 - - - - 1(
3
)
E 0,72 ± 0,25 0,68 0,35 1,25 11 - - - - -
(
1
) Medidas em cm. C - comprimento; L - largura; E - espessura.
(
2
) A única lâmina inteira possui um comprimento de 20,08 cm.
(
3
) A única lamela registada apresenta 0,78 cm × 0,13 cm, de largura e espessura.
Tabela 3 - Tipos de talão das lâminas e lamelas, por monumento funerário (MF).
Facetado Hiperdriedro Linear Liso Diedro Cortical Remoção
total
Remoção
parcial
Esmagado
MF1 Lâminas 9 (22,5%) 8 (20%) 3 (7,5%) 3 (7,5%) 3 (7,5%) 1 (2,5%) 3 (7,5%) 1 (2,5%) 2 (5%)
Lamelas 4 (10%) - 1 (2,5%) 1 (2,5%) - - 1 (2,5%) - -
Total 13 (32,5%) 8 (20%) 4 (10%) 4 (10%) 3 (7,5%) 1 (2,5%) 4 (10%) 1 (2,5%) 2 (5%)
MF2 Lâminas - 2 (16,7%) 1(8,4%) - - - - 1 (8,4%) -
Lamelas 1 (8,4%) - - - - - - - -
Total 1 (8,4%) 2 (16,7%) 1 (8,4%) - - - - 1 (8,4%) -
Apontamentos de Arqueologia e Património – 11 / 2016
- 45 -
Tabela 4 - Tipologia das pontas de seta, por matéria-prima e monumento funerário (MF) (
1
).
Sílex Jaspe Cherte Xisto Quartzo
hialino
Total
MF1
Côncava (
3
)
10 (3,7%) 5 (1,8%) 28 (10,3%) 31 (11,4%) 1 (0,4%) 75 (27,7%)
Côncava com aletas (
2
)
10 (3,7%) 10 (3,7%) 54 (19,9%) 38 (14%) - 112 (41,3%)
Côncava com aletas dissimétricas - 1 (0,4%) 15 (5,5%) 23 (8,5%) - 39 (14,4%)
Reta 2 (0,7%) 4 (1,5%) 17 (6,3%) 4 (1,5%) - 27 (10%)
Triangular com aletas - 2 (0,7%) 2 (0,7%) 3 (1,1%) - 7 (2,6%)
Triangular invertida - - - 2 (0,7%) - 2 (0,7%)
Convexa - - 4 (1,5%) - - 4 (1,5%)
Irregular - - 2 (0,7%) 3 (1,1%) - 5 (1,8%)
Total MF1 22 (8,1%) 22 (8,1%) 122 (45%) 104 (38,4%) 1 (0,4%) 271
MF2
Côncava (
3
)
2 (2,3%) - 5 (5,8%) 1 (1,2%) - 8 (9,3%)
Côncava com aletas
(
2
)
2 (2,3%) 4 (4,6%) 14 (16,3%) 17 (19,7%) - 37 (43%)
Côncava com aletas dissimétricas 1 (1,2%) 2 (2,3%) 4 (4,6%) 2 (2,3%) - 9 (10,5%)
Reta 2 (2,3%) 2 (2,3%) 11 (12,8%) 3 (3,5%) - 18 (20,9%)
Triangular com aletas - 1 (1,2%) 6 (6,9%) - - 7 (8,1%)
Convexa - - 2 (2,3%) 3 (3,5%) - 5 (5,8%)
Irregular - - 1 (1,2%) 1 (1,2%) - 2 (2,3%)
Total MF2 7 (8,1%) 9 (10,4%) 43 (49,9 %) 27 (31,4%) - 86
Total geral 28 31 165 111 1 357
(
1
) Estão excluídas peças do MF1 e do MF2 (16 e sete, respetivamente) por não preservarem a extremidade basal. As pontas de seta “côncavas com aletas” e as “”côncavas” incluem,
respetivamente, pontas de “tipo Alcalar” e de “tipo Torre Eiffel”.
Tabela 5 - Dimensões das pontas de seta, por matéria-prima e monumento funerário (MF).
Xisto Cherte Sílex Jaspe
MF1
Comprimento:
média e desvio-padrão 4,42 ± 1,63 3,75 ± 1,44 3,03 ± 0,67 3,65 ± 0,89
mediana 3,89 3,48 2,87 3,58
erro padrão 0,34 0,25 0,25 0,29
Largura:
média e desvio-padrão 1,69 ± 0,32 1,76 ± 0,38 1,60 ± 0,18 2,14 ± 0,57
mediana 1,60 1,74 1,59 2,07
erro padrão 0,06 0,06 0,07 0,18
Espessura:
média e desvio-padrão 0,18 ± 0,07 0,28 ± 0,07 0,30 ± 0,09 0,35 ± 0,11
mediana 0,19 0,26 0,30 0,32
erro padrão 0,01 0,01 0,03 0,03
MF2
Comprimento:
média e desvio-padrão 3,91 ± 0,81 3,67 ± 0,88 3,01 ± 0,55 3,39 ± 0,72
mediana 3,87 3,52 3,17 3,20
erro padrão 0,08 0,09 0,11 0,16
Largura:
média e desvio-padrão 1,60 ± 0,33 1,75 ± 0,41 1,66 ± 0,24 1,87 ± 0,42
mediana 1,57 1,71 1,69 1,87
erro padrão 0,03 0,04 0,05 0,09
Espessura:
média e desvio-padrão 0,20 ± 0,06 0,28 ± 0,08 0,29 ± 0,08 0,32 ± 0,11
mediana 0,20 0,27 0,27 0,34
erro padrão 0,01 0,01 0,01 0,02
(1) O quartzo hialino não está representado por existir apenas uma peça fraturada.
... Uns estudos reportam-se a conjuntos de materiais constituintes dos acervos votivos e que foram estudados no âmbito de problemáticas específicas. Casos dos materiais em marfim , dos objectos ideotécnicos (e que incluem os anteriores) (Soares et al. 2014; PERDIGÕES MONOGRÁFICA 2 Valera 2010;2015a;2015b;2020;Valera et al. 2014a), dos trabalhos sobre proveniência de objectos exógenos (Odriozola et al. 2010;Dias et al. 2017;Dias et al. 2018), do estudo da componente lítica talhada (Mendonça, Carvalho 2016), ou dos estudos de faunas em contexto funerário (Duarte et al. 2006;Cabaço 2013). Noutros casos desenvolveramse estudos bio-antropológicos exaustivos, como os realizados para as fossas neolíticas 7 e 11 (Silva et al. 2015), para as deposições de cremados da Fossa 16 ) e Ambiente 1 (Pereira 2014), para o Sepulcro 2 , para o Sepulcro 1 (Evangelista 2019), para as deposições de restos humanos em fossos (Valera, Godinho 2010;) e para o estudo de dentes do Sepulcro 3 (Evangelista, Silva 2013). ...
... Entre estes encontram-se presentes inúmeros elementos de adorno, artefactos ideotécnicos, como falanges decoradas, lúnulas, recipientes calcários e ídolos cilíndricos não decorados . Pontas de seta de base recta ou de aletas simples e longas (Mendonça, Carvalho 2016) são também abundantes. No que toca às cerâmicas, destaca-se sobretudo a significativa quantidade de recipientes completos. ...
... O conjunto do Sepulcro 1 é constituído por várias dezenas de recipientes cerâmicos, igualmente várias dezenas de grandes lâminas e pontas de seta, uma alabarda e punhais em sílex, dezenas de contas de colar e de artefactos em marfim (copos decorados, braceletes, zoomorfos, placas decoradas, báculo, etc.), duas peças metálicas em cobre inclassificáveis, um grande cristal de quartzo, alfinetes em osso, conchas de Pecten maximus, falanges de cavalo e cervídeo afeiçoadas e recipientes de calcário. O Sepulcro 2 apresenta o mesmo tipo de materiais e em quantidades semelhantes, ainda que com algumas diferenças: em marfim estão presentes lúnulas (ausentes no Sepulcro 1) e as pontas de seta e sobretudo as grandes lâminas de sílex ocorrem em número significativamente mais reduzido (Mendonça, Carvalho 2016), o mesmo acontecendo com os recipientes cerâmicos, não existindo materiais metálicos. Em ambos os sepulcros, contudo, estão presentes matérias primas exógenas, como o sílex (nomeadamente oolítico), o calcário, o marfim, o cinábrio, conchas marinhas, a variscite ou o âmbar siciliano (Valera 2017). ...
Book
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This is the monographic study of Tomb 4 of Perdigões enclosure, dated to the third quarter of the 3rd millennium BC, contextualized in the problematic of funerary contexts at this large ditched enclosure.
... BOAVENTURA et al., 2014(cf. BOAVENTURA et al., -2015CERRILLO CUENCA, 2009;MENDONÇA & CARVALHO, 2016;VALERA, 2017;VALERA & ANDRÉ, 2016; no entanto, o caso aqui apresentado, corresponde, até ao momento, à ocorrência mais ocidental de artefactos produzidos sobre esta matéria-prima, inscrevendo o povoado calcolítico do Outeiro Redondo no contexto de extensas áreas de circulação e intercâmbio de matérias-primas, cobrindo todo o Sul peninsular durante o 3.º milénio a.C. ...
Article
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About the presence of oolitic flint blades and other exogenous lithic raw materials in the Chalcolithic settlement of Outeiro Redondo (Sesimbra, Portugal): interaction during the 3rd millennium BC on Southwestern Iberia. The development of extensive exchange networks during the 3rd millennium BC, established and strengthened by the consolidation of stable archaeo-metallurgical societies, has boosted the long-distance circulation of raw materials and artefacts whose provenance areas are sometimes located more than 200 km away from the site where they were ultimately used – thus being viewed as hyper-regional procurement/acquisition goods. The presence, in Chalcolithic contexts of the Portuguese Estremadura, of exogenous elements such as amber, ivory, variscite, and certain lithic raw materials used in the production of flaked stone and polished stone tools, indicates precisely the extent of these interaction diagrams, with diffusion routes covering vast geographic areas. Within the large and diversified set of the lithic industry from the Chalcolithic fortified settlement of Outeiro Redondo, located in the Western area of Setúbal peninsula (municipality of Sesimbra, Estremadura, Portugal) and occupied for most of the 3rd millennium BC, artefacts (exclusively large blades) were recognized whose macro-petrographic features indicate that they are elements produced using oolitic flint (to which one can associate the presence of other exogenous raw materials, such as rhyolite), mostly integrated in stratigraphic or structural contexts dated from the Middle Chalcolithic local chrono-zone (second half of the 3rd millennium BC). Such presence, coupled with the apparent absence of usable oolitic silicifications on the Jurassic formations of Western Iberia (but widely documented in Southern Spain, between the areas of Malaga and Granada), allows to integrate this site into those schemes of long-distance trade encompassing the whole Southwestern Iberia during the 3rd millennium BCE, as a recipient of items with an “exotic” character – although being debatable their “sumptuous consumption” as “prestige goods”, precisely on the basis of the evidence from Outeiro Redondo, where the elements show intense use-wear marks. Key-words: Chalcolithic, Long-distance trade, Oolitic flint, Outeiro Redondo, Rhyolite, Southwestern Iberia.
... As evidence of the extent of these exchange networks, one can recall the presence of oolitic flint from the areas of Malaga and Granada where extensive mines/workshops can be found, which are also oriented towards the production of bifacial tools and blades, such as La Venta, Valle de los Gallumbares or Malaver(Ramos Millán et al. 1993;Aguayo & Moreno, 1998;Martínez Fernandéz et al. 2006;Lozano et al., 2010;Morgado Rodríguez et al., 2011). The presence of artefacts produced using this type of flint in Alentejo and in the adjacent area of the Spanish Extremadura(Nocete et al., 2005;Cerrillo Cuenca, 2009;Morgado Rodríguez et al., 2011; Boaventura et al., 2014Mendonça & Carvalho, 2016; Valera & André, 2016 Cardoso et al., in press) is proof enough of its large-scale geographical circulation (of over 450 km). ...
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From matter to essence. Sourcing raw materials for the votive artefacts of the megalithic communities in Ribeira da Seda (North Alentejo, Portugal): a preliminary approach. This paper presents some preliminary readings about the procurement of raw materials for the production of votive artefacts by the megalithic communities in the area of Ribeira da Seda (North Alentejo, Portugal). A macroscopic analysis of the artefacts collected in megalithic monuments in the study area (pottery, flaked stone artefacts, polished stone artefacts, votive plaques, adornment elements, metallic artefacts, ground stone artefacts) allows to evidence a relative diversity of the used materials-most of which, in percentage terms, corresponds to locally or regionally available raw materials, in the Ossa-Morena zone, reflecting the optimized maintenance of abiotic resources. Extra-regional raw materials, such as flint, have statistically lower values when comparing only the types of raw material, independently of the artefacts category and number; however, if we compare the number of artefacts per se, we note a marked weight of exogenous materials (for flaked stone artefacts, for instance, nearly 2/3 are produced on flint). This shows a constant procurement of this raw material, which is also associated with the presence of exotic materials (such as amber and ivory), framing the area of Ribeira da Seda in the wide interaction diagrams of the megalithic communities of the 4th and 3rd millennia BCE in Southwestern Iberia. Este trabalho apresenta algumas leituras preliminares sobre o aprovisionamento de matérias-primas para a produção dos artefactos votivos pelas comunidades megalíticas da área da Ribeira da Seda (Alto Alentejo, Portugal). Uma análise macroscópica dos artefactos recolhidos em monumentos megalíticos da área em estudo (recipientes cerâmicos, artefactos de pedra lascadas, artefactos de pedra polida, placas votivas, elementos de adorno, artefactos metálicos, artefactos de pedra afeiçoada) permite evidenciar uma diversidade relativa dos materiais utilizados-sendo que a maioria, em termos percentuais, corresponde a matérias-primas disponíveis local ou regionalmente na zona de Ossa-Morena, reflectindo a manutenção optimizada dos recursos abióticos. As matérias-primas extra-regionais, como o sílex, têm valores estatisticamente baixos quando se comparam exclusivamente os tipos de matéria-prima, independentemente das categorias e número de artefactos; no entanto, se compararmos o número de artefactos per se, nota-se um peso acentuado das matérias-primas exógenas (nos artefactos de pedra lascada, por exemplo, perto de 2/3 são produzidos em sílex). Evidencia-se assim a procura constante de matérias-primas siliciosas, à qual se associa igualmente a ocorrência de matérias exóticas (como o âmbar e o marfim), incluindo a área da Ribeira da Seda nos amplos esquemas de interacção das comunidades megalíticas dos 4º e 3º milénios a.n.e. no Sudoeste peninsular. ANDRADE, M. A. (in press)-From matter to essence. Sourcing raw materials for the votive artefacts of the megalithic communities in Ribeira da Seda (North Alentejo, Portugal): a preliminary approach. In II International Meeting MEGA-TALKS. Megaliths and Geology: Moving Stones in the Neolithic-MEGAGEO 2015. Redondo.
Chapter
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In the studies that we have been developing about several occupations, from 4th and 3rd millenniums BCE, of the São Pedro site (Redondo), the lithic industry remains have been one of the subjects less worked. For this reason, we consider it relevant to analyse one of the lithic artefacts items more widely recorded, the arrowheads. Nevertheless, the long diachrony of study of the arrowheads, these artefacts are still insufficiently known in the settlement contexts in the Southwest of the Iberian Peninsula. In this paper, we intend to carry out a first techno-typological approach on these tools, placing them in the diachronic occupation of this site, and also to analyse its dispersion and possible relation with fortification structures. The arrowheads, signs of confrontation, but also signs of subsistence, must be understood in the dynamics of the communities that inhabited the São Pedro site over a millennium.
Article
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The passage grave of Estremoz 7 or Nossa Senhora da Conceição dos Olivais (NSCO) was excavated in 1934 under the supervision of Manuel Heleno. Erected on a small hill included in an open landscape, it would correspond to a monument of some substantial proportions, in which a relatively significant set of archaeological finds was collected. In geographical terms, its singular location separates this monument from the large clusters known in this regional area; however, the collected data allow to disclose some relevant observations, particularly about the cultural or technological «evolution» between geometric armatures and arrow -heads, the long -distance circulation of siliceous raw -materials and the reuse of megalithic monuments during the late 3rd millennium BCE. This monument is therefore assumed as a valid component for the comprehension of the megalithic communities in the region of Central and North Alentejo, during the Late Neolithic and Chalcolithic.
Chapter
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En este capítulo se presenta un estudio completo de la industria lítica tallada encontrada en el tholos de Montelirio. Primero se realiza una caracterización tecnomorfológica del conjunto, valorando su distribución en los principales espacios del monumento, y destacando las piezas más singulares (puntas de flecha, hoja de puñal y grandes láminas). A continuación se hace una caracterización litológica de las materias primas a partir de un examen macroscópico y mediante petrología de lámina delgada, determinándose la presencia de sílex de varias procedencias (formaciones Malaver, Turón y Milanos), de milonitas y de riolitas, usadas en cada caso para manufacturar unos objetos específicos. Capítulo aparte se dedica a las piezas de cristal de roca, estudiadas mediante Espectroscopía Raman Confocal. Finalmente se describen los resultados de un estudio de huellas de uso que demuestra que, excepto una lámina que presenta lustre de cereal, ninguna pieza lítica tallada del tholos fue usada antes de depositarse en la tumba. En conjunto, este estudio aporta gran cantidad de datos novedosos respecto a la industria lítica, uno de los temas peor conocidos del asentamiento de la Edad del Cobre de Valencina de la Concepción.
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This paper presents an actualize perspective of the available data for funerary practices and body manipulations in Perdigões ditched enclosures, as well as their chronological time span (Lete Neolithci and Chalcolithic). Specific anthropological information is also provided. These practices are integrated with the overall available data in the context of a global discussion and interpretation of the site.
Article
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During the past decade, many archaeological interventions in southern Portugal have revealed a different panorama funerary practices dating from the 4th to the 2nd millennium BC. Besides the architectural specificities, contexts revealing associations of animal and human remains are multiplying. So far the available data reveal a preference for the deposition of domestic animals, on one hand; and for the deposition of animal parts rather than complete animals, on the other. The majority of the archaeological contexts under study revealed a preference for the deposition of articulated paws, isolated limb bones or even articulated animal parts, where the limbs are always present. The traditional explanations for such occurrences of animals in tombs are that they are the product of rituals of commensality. According to the anatomical representations and other contextual characteristics (e.g. direct associations of some animal bones with specific human bones, taphonomic history of the faunal collections), another interpretation is proposed. This approach is strongly guided by a new framework based on the understanding of Human/Animal relationships, where a bone or an anatomical part can be representative of a specific animal.
Chapter
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Blade manufacture is one of most outstanding craft activities of flaked stone production in South Iberia during the Late Neolithic and Copper Age (IV-III millenia cal. BC). Theses products show certain variability in dimensions ranges, from medium blade (10-15 cm.) to large blande (20-40 cm). The importance of this production can be seen in a serie of archaeological context related to the exploitation of the regional best siliceous rocks sources. This paper is devoted to show the first experimental approach to blade manufacture techniques used and the production system in withc they took part. These experimentation are base on the blade production chain defined both from the analysis of archaeological material recovered in production sites and from previous experimentations on large blades developed by one of the authors.
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The analysis of trade and their implications for understanding social interaction is a major research question of prehistoric research in Europe. Variscite is a rare mineral that offers an excellent opportunity to study trade and exchange patterns in prehistoric Europe through proveniencing of source material.In this paper we discuss the exploitation and exchange of variscite at Pico Centeno mining district during the Copper Age. XRF, XRD, and FTIR analyses of the mineral recovered at Pico Centeno mining district during archaeological survey provides a baseline mineral signature for the source and sub-sources, which were then compared to other Iberian sources and to 44 green beads from 8 megalithic tombs from two different regions, in order to test ‘provenance postulate’ and distribution models.Mineral sampled during survey at Pico Centeno mining district turned out to be pure variscite phases, while extremely varied for the studied green beads: variscite, muscovite, talc or chlorite. On testing ‘provenance postulate’ we have focused on compositional comparison of Pico Centeno’s variscite with reference from various geological sources of Western Europe. We found that the concentrations of trace elements do not allow us to establish the origin of the beads, as traditionally claimed, due to the strong natural variability on minor and trace elements of the sources. Instead we found after FTIR analysis, that different proportions of phosphate species, which results in P/Al ratios higher than 1, arose during the genesis of the variscite deposits and resulted from the associated pH and nature of the host-rocks, modifying the concentrations of PO43−, H2PO4− and HPO42−. Thus, the P/Al atomic ratio should be an indication of provenance as it is established during mineral genesis. This issue has not been addressed in any of the other studied sources where this ratio seems to be ≈1.
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This study focuses on the economic organization of bifacial flaked stone industries of the Late Neolithic/Chalcolithic Portugal. It is often claimed that social hierarchies first appeared in Western Iberia during this period (ca. 3500-2500 BC). The specific research goals are: determining the production repertoire at lithic production sites, examining the possibility of craft specialization (with particular regard to artifact standardization), and investigating the geographic distribution of artifacts, in order to detect evidence of centralization. The analyses show that the organization of economy differed markedly between different artifact classes. Production of subsistence-related lithics was decentralized and they circulated through local exchange networks, although some of them could enter long-distance exchange. Prestige-related items were exchanged over large distances and apparently were produced by specialists. The level of specialization and its importance for the economy remained modest. There is no evidence for large-scale sociopolitical integration. Este estudio se centra en la organización económica de las industrias líticas de talla bifacial del Neolítico Final/ Calcolítico en Portugal. Se ha defendido a menudo que las jerarquías sociales aparecieron por primera vez en el occidente de la Península Ibérica durante este periodo (ca. 3500-2500 AC). Los objetivos específicos de la investigación son: determinar el repertorio de la producción en los talleres líticos, examinar la posibilidad de una especialización artesanal (prestando particular atención a la estandarización artefactual), e investigar la distribución geográfica de los artefactos para detectar las evidencias de centralización. Los análisis muestran que la organización de la economía difiere de forma notable entre las distintas clases de artefactos. La producción de los instrumentos conectados con la subsistencia era descentralizada. Los útiles circulaban a través de redes locales de intercambio, aunque algunos pudieran integrarse en el intercambio a larga distancia. Los artefactos conectados con el prestigio se intercambiaron a larga distancia y, aparentemente, fueron producidos por especialistas. El nivel de especialización y su importancia para la economía siguieron siendo modestos. No hay evidencia de una integración socio-política a gran escala.
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Towards the end of 1996 a major archaeological discovery was made in the Alentejo area. Perdigões, an impressive group of monuments, includes a settlement, a necropolis and a cromelech. In spite of the clarity of the outlines of the settlement, which is obvious from the darker areas of soil indicating the various ditches and walls or palissades, this site, which covers more than 16 ha, is much more complex than originally suggested by the aerial photographs. The archaeological investigation was carried out following agricultural work on lands belonging to FINAGRA, S.A., work which disturbed the archaeological context. Era-Arqueologia, Ltd. was responsible for carrying out the preliminary investigation and it is hoped that this will be the beginning of a wider program of investigation which will enhance the true importance of this major group of monuments. The first phase involved systematic field survey and the recording of surface data. The aim of the second phase was the excavation of the archaeological context in five specific areas, and the third led to a final report which is broadly summarised in this article. Preliminary data indicate a settlement which existed between the second half of the 4th and the 3rd millenium BC. This paper includes a description and interpretation of the main archaeological contexts identified and an analysis of different aspects of material culture and human remains from a tholos type tomb. We also offer a preliminary analysis of the role played by this site in the processes of transformation which occurred throughout this time period in the Reguengos de Monsaraz area and in the Iberian Peninsula in general. RESUMO Em finais de 1996, deu-se uma das grandes descobertas arqueológicas dos últimos anos da arqueologia peninsular. O conjunto monumental dos Perdigões inclui um povoado, uma necrópole e um recinto megalítico. Apesar da nitidez dos contornos do Povoado, que nos é dado pelas manchas de terras mais escuras relacionadas com as suas diversas linhas de fossos, muralhas ou paliçadas, este sítio é muito mais complexo do que inicialmente é sugerido pela imagem aérea do conjunto, que ocupa mais de 16 ha. O programa arqueológico implementado foi desenvolvido na sequência de trabalhos agrícolas, realizados numa propriedade da FINAGRA, S.A, que revolveram e afectaram os contextos arqueológicos. Após a realização de concurso, a Era-Arqueologia, Lda. concretizou as diferentes fases previstas, no que se espera ser o arranque de um vasto programa de investigação e de valorização deste importante conjunto monumental. A primeira fase implicava a realização de prospecções sistemáticas e o levantamento de dados de superfície; a segunda destinou-se à escavação de contextos arqueológicos em cinco áreas específicas; a terceira produziu um relatório final de que o presente trabalho é um resumo alargado. Os dados preliminares apontam para um povoado que cronologicamente se terá desenvolvido a partir da segunda metade do IV e durante III milénio. O trabalho agora apresentado, inclui a descrição e interpretação dos principais contextos arqueológicos identificados, a análise de diversos aspectos da cultura material e de restos humanos provenientes de um monumento funerário tipo tholos e ainda algumas leituras prévias de enquadramento deste sítio nos processos de transformação ocorridos durante o IV e III milénios a.C. na região de Reguengos de Monsaraz e na Península Ibérica em geral. ABSTRACT Towards the end of 1996 a major archaeological discovery was made in the Alentejo area. Perdigões, an impressive group of monuments, includes a settlement, a necropolis and a cromelech. In spite of the clarity of the outlines of the settlement, which is obvious from the darker areas of soil indicating the various ditches and walls or palissades, this site, which covers more than 16 ha, is much more complex than originally suggested by the aerial photographs. The archaeological investigation was carried out following agricultural work on lands belonging to FINAGRA, S.A., work which disturbed the archaeological context. Era-Arqueologia, Ltd. was responsible for carrying out the preliminary investigation and it is hoped that this will be the beginning of a wider program of investigation which will enhance the true importance of this major group of monuments. The first phase involved systematic field survey and the recording of surface data. The aim of the second phase was the excavation of the archaeological context in five specific areas, and the third led to a final report which is broadly summarised in this article. Preliminary data indicate a settlement which existed between the second half of the 4th and the 3rd millenium BC. This paper includes a description and interpretation of the main archaeological contexts identified and an analysis of different aspects of material culture and human remains from a tholos type tomb. We also offer a preliminary analysis of the role played by this site in the processes of transformation which occurred throughout this time period in the Reguengos de Monsaraz area and in the Iberian Peninsula in general. Em finais de 1996, deu-se uma das grandes descobertas arqueológicas dos últimos anos da arqueologia peninsular. O conjunto monumental dos Perdigões inclui um povoado, uma necrópole e um recinto megalítico. Apesar da nitidez dos contornos do Povoado, que nos é dado pelas manchas de terras mais escuras relacionadas com as suas diversas linhas de fossos, muralhas ou paliçadas, este sítio é muito mais complexo do que inicialmente é sugerido pela imagem aérea do conjunto, que ocupa mais de 16 ha. O programa arqueológico implementado foi desenvolvido na sequência de trabalhos agrícolas, realizados numa propriedade da FINAGRA, S.A, que revolveram e afectaram os contextos arqueológicos. Após a realização de concurso, a Era-Arqueologia, Lda. concretizou as diferentes fases previstas, no que se espera ser o arranque de um vasto programa de investigação e de valorização deste importante conjunto monumental. A primeira fase implicava a realização de prospecções sistemáticas e o levantamento de dados de superfície; a segunda destinou-se à escavação de contextos arqueológicos em cinco áreas específicas; a terceira produziu um relatório final de que o presente trabalho é um resumo alargado. Os dados preliminares apontam para um povoado que cronologicamente se terá desenvolvido a partir da segunda metade do IV e durante III milénio. O trabalho agora apresentado, inclui a descrição e interpretação dos principais contextos arqueológicos identificados, a análise de diversos aspectos da cultura material e de restos humanos provenientes de um monumento funerário tipo tholos e ainda algumas leituras prévias de enquadramento deste sítio nos processos de transformação ocorridos durante o IV e III milénios a.C. na região de Reguengos de Monsaraz e na Península Ibérica em geral.
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This article discusses the social role played by ivory and ivory articles in the Perdigões enclosures (South Portugal) during the Chalcolithic (third millennium BC), in the context of the emergence and development of social complexity on the Iberian Peninsula. Perdigões is a Portuguese prehistoric site with some of the highest concentrations of ivory objects known in Iberia and with the greatest variety. The contexts, almost exclusively funerary, are discussed along with the results of provenance studies. Comparing the different contexts and the categories of objects made of ivory makes it possible to distinguishing a variety of active social dimensions (such as individual status, group identity, ideological referents, social or political roles, ontological and cosmological perceptions) to these items which drew on the importance of exotic raw materials in the reformulation of social relations that was taking place specifically at this site and in Iberia in general.
Article
The prestige goods economy model and the peer polity interaction model used by archaeologists to explain the development of power in the third millennium B.C. in Iberia fail to discriminate the circulation of goods between unequal political/social structures. This study offers an alternative explanation, in terms of core/periphery relationships, by means of a petrologic, morphometric, spatial, and contextual analysis of the silicified oolitic limestone blades found in archaeological sites dated back to the third millennium B.C. in southern Iberia. This suggests the existence of a supra-regional circulation of highly standardized, finished products, which spread over a distance of more than 500 km and an area of over 222,000 km2. In this sense, the blades have become the first archaeological indicator of the paths, types, and contents of the relationships developed within and around the intersettlement hierarchical framework of the Guadalquivir Valley from 3000 to 2500 B.C., accounting for the emergence and collapse of a political system.