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COLEÇÃO
EDUCAÇÃO EM ANÁLISE
Repensar as TIC
na educação
O professor como agente transformador
Fernando Albuquerque Costa (coord.) • Carla Rodriguez • Elisabete Cruz • Sandra Fradão
Fernando Albuquerque Costa é professor
auxiliar no Instituto de Educação da Universi-
dade de Lisboa. Fez doutoramento em Ciências
da Educação na Universidade de Lisboa, na
área de Currículo e Avaliação, com tese sobre a
«Utilização das TIC em contexto educativo —
representações e práticas de professores». Tem
diferentes publicações na área das TIC em Edu-
cação e é diretor adjunto da revista Educação,
Formação & Tecnologias (eft.educom.pt).
Pensar as tecnologias numa lógica transformadora das práticas atuais significa
em primeiro lugar a decisão profissional, individual, de querer mudar em direção
a um modelo em que seja assumida a centralidade do aluno, ou seja, do que
o aluno é chamado a fazer, e não do que é feito para ele. Estaríamos assim na
presença de uma conceção em que não se visa apenas a substituição dos
meios tradicionalmente usados para ensinar e aprender, mas sobretudo
perante uma perspetiva em que se ambiciona a descoberta de novas e dife-
rentes formas de fazer as coisas, preparando os jovens para eles próprios
poderem vir a contribuir para a inovação na resolução dos problemas com
que se irão confrontar no futuro.
Repensar as TIC na educação
COLEÇÃO
EDUCAÇÃO EM ANÁLISE
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Repensar as TIC
na educação
O professor como agente transformador
Fernando Albuquerque Costa (coord.) • Carla Rodriguez • Elisabete Cruz • Sandra Fradão
EQUIPA TÉCNICA
Chefe de Equipa Técnica: Patrícia Boleto
Modelo Gráfico e Capa: Carla Julião
Foto da Capa: Fernando Albuquerque Costa
Paginação: Patrícia Boleto
Documentalistas: Luísa Rocha
Revisão: Ana Abranches
Coordenação da coleção: Alexandra Marques
© 2012
Estrada da Outurela, 118
2794-084 CARNAXIDE
APOIO AO PROFESSOR
Tel.: 214 246 901
Fax: 214 246 909
apoioaoprofessor@santillana.pt
Internet: www.santillana.pt
Impressão e Acabamento: Rainho & Neves, Lda.
ISBN: 978-989-708-230-6
1.a Edição
2.a Tiragem
Depósito Legal: 351258/12
3
5 Sobre os autores
7 Prefácio — Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida
15 Apresentação da obra
23 CAPÍTULO I — Sobre o desafio que as TIC representam
para os professores
35 CAPÍTULO II — Como evoluíram conceitos e práticas?
49 CAPÍTULO III — O que são afinal aprendizagens fundamentais
na área das TIC?
61 CAPÍTULO IV — Como usar as tecnologias digitais nas diferentes
áreas disciplinares?
87 CAPÍTULO V — Que competências devem ter educadores e professores?
103 Conclusão — É grande, mas entusiasmante, o desafio!
109 Apêndice I — O que podem aprender os alunos: uma perspetiva
desenvolvimentista — Sara Bahia, José Pedro Trindade
133 Apêndice II — Metas TIC (Educação Pré-Escolar, 1.º ciclo, 2.º ciclo e 3.º ciclo)
ÍNDICE
5
Fernando Albuquerque Costa é professor auxiliar no Instituto
de Educação da Universidade de Lisboa. Fez doutoramento em
Ciências da Educação na Universidade de Lisboa, na área de Currí-
culo e Avaliação, com tese sobre a «Utilização das TIC em contexto
educativo — representações e práticas de professores». Tem dife-
rentes publicações na área das TIC em Educação e é diretor adjunto
da revista Educação, Formação & Tecnologias (eft.educom.pt).
Carla Rodriguez fez doutoramento em «Cultura audiovisual
e mídias» na Unicamp (Brasil). Faz atualmente pós-doutoramento
em «Desenvolvimento Profissional e Competências dos Professo-
res em TIC», no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa,
dedicando-se ao estudo de metodologias e estratégias pedagógi-
cas na área das TIC para a formação de professores.
Elisabete Cruz é bolseira de investigação da Fundação para
a Ciência e a Tecnologia (SFRH/BD/68461/2010), dedicando-se
ao estudo das TIC como formação transdisciplinar no âmbito do
Doutoramento em Educação, na especialidade de Teoria e Desen-
volvimento Curricular, do Instituto de Educação da Universidade
de Lisboa.
Sobre os autores
6
Repensar as TIC na educação
Sandra Fradão é professora de Inglês no Ensino Básico e
Secundário, assistente convidada e doutoranda na área das TIC
em Educação no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.
Tem participado, ao longo dos últimos anos, em várias iniciati-
vas no âmbito das tecnologias em educação, nomeadamente no
campo da formação de professores.
7
Sonhar
Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer
O inimigo invencível
Negar
Quando a regra é vender
Sofrer
A tortura implacável
Romper
A incabível prisão
Voar
Num limite improvável
Tocar
O inacessível chão
«Sonho impossível», J. Darion e M. Leigh;
versão de Chico Buarque e Ruy Guerra, 1972, para o musical
O Homem de La Mancha, de Ruy Guerra
Prefácio
8
Repensar as TIC na educação
A canção de Chico Buarque revela o mundo em que vivemos
dos dois lados do Atlântico, onde permanecem em cena elemen-
tos simbólicos de uma sociedade que enfrenta uma grave crise
económica, social e política. A compreensão dessa problemática é
marcada pela forte presença das tecnologias de informação e
comunicação (TIC) — instrumentos que possibilitaram a implanta-
ção de um conjunto de dispositivos de ordem política, económica
e cultural para a organização global com a virtualização dos fluxos
financeiros internacionais e a ampliação do mercado, visando o
fortalecimento do sistema capitalista, quando a regra é vender,
ainda que fortaleçam a desigualdade social e a delinquência.
O fenómeno da globalização é bem mais vasto e afeta dire-
tamente a educação no sentido do seu financiamento, política
curricular, normatização e regulação, conforme explica Dale [1].
Ele tem como elemento propulsor o conhecimento, cujo desenvol-
vimento se encontra intimamente vinculado ao uso das TIC, que
tanto podem ser utilizadas para a dominação como para a eman-
cipação humana, a equidade social e a melhoria das condições
de vida. Contudo, é uma ideia simplista e equivocada supor que
a disponibilidade de acesso às TIC em distintos espaços e tempos
e o domínio instrumental dos seus recursos seja suficiente para
propiciar um uso significativo.
Como educadores compreendemos os dizeres de Castells [2]
sobre a «divisória digital» como um dos fatores da divisão social
na sociedade tecnológica. Vencer o inimigo invencível rompendo
com essa divisória envolve, entre outras ações, proporcionar o
desenvolvimento da capacidade de uso educativo e cultural da
Internet, fazendo das TIC um instrumento para expressar o pensa-
mento, buscar, organizar e compartilhar informações, e, sobretudo,
criar formas mais abertas, solidárias e dinâmicas de produção de
conhecimentos, considerado a riqueza simbólica na formação do
9
Prefácio
cidadão e na construção da sua identidade. Trata-se assim de
educar para a emancipação, que tem como foco a interação e a
participação ativa dos cidadãos na sociedade, o que significa
conectar distintos territórios físicos e virtuais de aprendizagem,
cultura e informação, para a partilha de experiências e para a
produção colaborativa de conhecimentos.
Diante disso, Dowbor [3] afirma que a educação se depara
ao mesmo tempo com um desafio para acompanhar a vertiginosa
evolução do universo de conhecimentos e com uma oportuni-
dade, porque o conhecimento está no cerne dos processos de
transformação sociocultural como estratégia de desenvolvimento.
Assim, a instituição educativa pode reafirmar o seu papel como
aglutinadora, organizadora, produtora e disseminadora de conhe-
cimentos, incorporando as «tecnologias do conhecimento» nos
processos de ensinar e aprender como elementos transformadores
dos modos como o aprendiz pode aceder à informação e ao
conhecimento em espaços diversificados, assim como organizar o
seu universo de conhecimentos.
Na verdade, os jovens, adolescentes e crianças do século xxi
voam num limite improvável, superando as barreiras espaciotem-
porais através de uma interação frenética nas redes suportadas
pela Internet, que estruturam os seus modos de aceder à informa-
ção, estabelecer relações, pensar, agir, aprender e comunicar! Eles
falam e escrevem por meio de símbolos próprios da cultura digital
com o uso de múltiplas linguagens mediáticas, configurando
novas identidades, que se encontram imersas em mundos simula-
dos, criados no computador, nos quais Turkle [4] observa que o
«eu» real se transforma no «outro». Contudo, isto não significa
que tenham atingido um tal nível de emancipação no uso das TIC
que tenham capacidade para problematizar o mundo, atribuir
significado às informações, produzir e organizar conhecimentos,
10
Repensar as TIC na educação
como preconizado por Paulo Freire [5] ao referir-se à escrita da
palavra, ao exercício da autoria e da coautoria, à construção da
cidadania e à inserção na sociedade e no mundo do trabalho.
Se a geração que hoje ocupa os bancos escolares traz para o
interior da escola uma cultura que incorpora os modos de produção
e comunicação de informações e conhecimentos por meio de dis-
tintos dispositivos móveis, tem acesso a filmes de ficção científica,
reportagens científicas, jornais e vive bombardeada de informações
oriundas de distintas fontes, é evidente que o seu modo de ser e de
estar no mundo não se coaduna com as práticas pedagógicas con-
vencionais centradas na escuta passiva de informações transmitidas
pelo professor, que percebem como uma tortura implacável.
O sonho impossível de que a introdução das TIC por si
mesma promoveria mudanças nas organizações educativas reve-
lou, inicialmente, dois movimentos extremados entre os otimistas
ingénuos e os céticos resistentes, ambos negando a priori apro-
fundar a compreensão sobre os limites e as potencialidades do
uso das tecnologias na educação.
De facto, estudos sobre os usos das TIC realizados em dife-
rentes países, como os realizados por Costa [6] e Almeida [7] res-
petivamente em Portugal e no Brasil, reportam o paradoxo entre
as potencialidades das TIC de propiciar a inovação e as práticas
pedagógicas conservadoras observadas, ainda que se encontrem
experiências inovadoras realizadas por professores entusiastas,
que decidiram enfrentar os desafios de uma sociedade em
mudança e lidar com as linguagens e os instrumentos culturais
que fazem parte do quotidiano dos seus alunos.
Essa é uma tarefa complexa! A criação da inovação faz-se em
cada contexto a partir da ressignificação da conceção de currículo e
da ampliação dos horizontes da pedagogia, incorporando didáticas
abertas e flexíveis por meio da mediatização das TIC, o que provoca
11
Prefácio
mudanças na dimensão do espaço e do tempo da aula, do contexto
de aprendizagem, das formas de comunicação, das modalidades de
interação e dos modos de construção do conhecimento.
As convicções convencionais sobre o currículo como prescri-
ção ficam abaladas e aproximam-se do currículo concebido por
Goodson [8] como construção social estabelecida na interação
dialógica, num processo que integra o conhecimento científico
com as conceções, os valores, as crenças, as experiências, as tec-
nologias e as estratégias, na atribuição de novos significados e na
negociação de sentidos, produzindo percursos diversificados,
conforme preconizado por Almeida e Valente [9].
Romper a incabível prisão! Aqui se encontra a contribuição
do livro Repensar as TIC na educação, que traz o educador para o
centro da discussão sobre o uso das TIC nas escolas, atribuindo-
-lhe o papel de agente transformador, sujeito crítico, que toma
para si o trabalho de questionar a escola, a sua atuação profissio-
nal e as necessidades dos seus alunos diante da cultura digital
para assumir a mudança da escola e da sua prática pedagógica.
O significado deste livro para professores e demais educadores
dos sistemas de ensino vai além das discussões sobre porquê e
para quê usar as TIC na educação ao adentrar nas práticas letivas,
relacioná-las com os objetivos curriculares, questionar as conce-
ções subjacentes e analisar as competências profissionais para uma
atitude consciente com escolhas consequentes nessa utilização.
Os autores brindam o leitor com um conteúdo que permite
aprofundar o conhecimento sobre o que e como fazer para incor-
porar as TIC no seu fazer pedagógico em situações nas quais as
TIC possam agregar valor ao desenvolvimento do currículo e à
aprendizagem dos alunos.
Concordando com o paradoxo assumido pelos autores em
relação à coexistência de duas perspetivas no sistema educativo
12
Repensar as TIC na educação
de Portugal — área disciplinar e formação transdisciplinar — o
livro defende a tese das TIC nas mãos dos alunos como oportuni-
dade para se envolverem ativamente no ato educativo. Ao consi-
derar o computador como catalisador da mudança, as ideias
desenvolvem-se em torno de temas que articulam fundamentos e
pistas que chegam até à prática letiva, assim como trazem contri-
buições de especialistas da psicologia da educação que orientam
o desenvolvimento da atividade pedagógica com o uso das TIC
considerando-se as elaborações teóricas de Piaget e Vygotsky nas
dimensões cognitiva, emocional e social.
Repensar as TIC na educação é um esforço necessário por-
que as TIC não são neutras, são instrumentos que trazem embu-
tidas estruturas que plasmam as formas de representação do pen-
samento, embora não as determinem. Logo, não se pode ceder
quando proliferam promessas e soluções prontas, criadas fora do
contexto escolar para serem docilmente implantadas nas práticas
letivas, como inovações tecnológicas tendo em vista homogenei-
zar o ensino e a aprendizagem.
O potencial do uso educativo crítico, criativo e intencional
das TIC explicita-se na personalização dos processos de aprendi-
zagem, na reflexão, na construção da própria identidade, na
democratização do acesso às informações e no desenvolvimento
da capacidade de construir conhecimentos. Daí a importância
dessa obra, que se aproxima do chão da escola e da sala de aula
com a presença das TIC, ao mesmo tempo em que projeta a trans-
formação, sabendo que o sonho conjunto e comprometido com a
ação pode tornar-se realidade!
Maria ElizabEth bianconcini dE alMEida,
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
30 de setembro de 2012
13
Prefácio
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] dalE, R. (2004). «Globalização e educação: demonstrando a existência de uma
“cultura educacional mundial comum” ou localizando uma “agenda globalmente
estruturada para a educação”?», in Educação & Sociedade, 25 (87), 423-460.
[2] castElls, M. (2003). «Internet e sociedade em rede», in Moraes, D. (org.),
Por uma outra comunicação. Rio de Janeiro: Record.
[3] dowbor, L. (2001). Tecnologias do conhecimento. Os desafios da educação.
Petrópolis, RJ: Editora Vozes.
[4] turklE, S. (1997). A vida no ecrã: identidade na era da Internet. Lisboa: Relógio
D’Água.
[5] FrEirE, P. (2001). Pedagogia dos sonhos possíveis, in Freire, A. M. (org.).
São Paulo: Editora Unesp.
[6] Costa, F. A. (2004). «O que justifica o fraco uso dos computadores na escola?»,
in Polifonia. Lisboa: Edições Colibri. 19-32.
[7] AlMEida, M. E. B. (2004). Inclusão digital do professor: formação e prática
pedagógica. São Paulo: Articulação.
[8] Goodson, I. (2001). O currículo em Mudança. Estudos na construção social do
currículo. Porto: Porto Editora.
[9] AlMEida, M. E. B.; ValEntE, J. A. (2011). Tecnologias e currículo: trajetórias
convergentes ou divergentes?. São Paulo: Paulus.
15
The only way schools will change is if teachers change them
Franci s M. duFF y
Escrever uma obra especialmente destinada a professores
e a educadores foi o intuito deste projeto que agora sai à
estampa. Teve como origem o reconhecimento da importância
que os educadores e os professores têm no desenvolvimento de
uma comunidade, nomeadamente quando os tempos que se
vivem constituem um desafio para a escola e para a sua principal
função: a de formar cidadãos ativos e críticos. Para tal, é funda-
mental proporcionar-lhes o acesso ao conhecimento e fomentar
o desenvolvimento das competências necessárias para saberem
lidar, também eles, com os desafios de uma sociedade em
mudança.
Na prática, essa importância assenta na capacidade que
docentes têm para tomar nas suas mãos, de forma ativa, cons-
ciente e crítica, a mudança. Trata-se de questionar o que fazem e
como fazem, questionar o papel e a função da escola, questionar
a sua própria competência profissional para proceder aos ajusta-
Apresentação da obra
16
Repensar as TIC na educação
mentos necessários induzidos por alunos cada vez mais exigentes,
ou seja, dispor-se a reequacionar as suas conceções e práticas em
função dos tempos novos que vivemos.
Para além disso, este livro teve também como motivo pró-
ximo partilhar o questionamento que alguns dos seus autores
tiveram a oportunidade de fazer no projeto Metas de Aprendiza-
gem, uma iniciativa do Ministério da Educação no tempo do XVIII
Governo Constitucional, particularmente na área das Tecnologias
de Informação e Comunicação (TIC). Esta partilha teve sobretudo
o propósito de contribuir para a clarificação e consolidação das
propostas aí assumidas, permitindo também sistematizar um
conjunto de reflexões mobilizadas para a realização do referido
projeto. Sistematização que aqui partilhamos como estímulo e
inspiração para cada um dos nossos leitores, de forma a poderem
avançar como maior segurança e lucidez na utilização das tecno-
logias digitais hoje disponíveis, no trabalho que desenvolvem com
as crianças e os jovens com quem trabalham.
Embora possa interessar a outros públicos, este livro tem
como principais destinatários os educadores e os professores que,
reconhecendo o potencial transformador que as Tecnologias de
Informação e Comunicação podem trazer à aprendizagem, que-
rem ousar equacionar o seu uso nas práticas letivas de uma forma
refletida e consistente com os objetivos curriculares delineados.
Referimo-nos a todos os profissionais para quem a questão
de utilizar ou não utilizar na escola as tecnologias já não se
coloca, antes desejam iniciar esse processo, adquirindo ou apro-
fundando o conhecimento e a competência necessários para o
fazerem com confiança e domínio sobre o que fazer e como fazer.
Todos os que pretendem encontrar o seu próprio caminho com
base em escolhas esclarecidas e fundamentadas sobre o que
pode ser feito com tecnologias, o que implica o seu uso, quando
17
Apresentação da obra
é pertinente utilizá-las, que tecnologias estão disponíveis e qual o
valor acrescentado que podem trazer para o currículo, enfim,
sobre a necessidade de mudança das suas próprias práticas
docentes.
Muito embora as mais recentes alterações na tutela da edu-
cação possam vir a introduzir mudanças no trabalho efetuado na
definição das metas de aprendizagem, trata-se de uma obra que
esperamos que o leitor considere pertinente e útil, mais que não
seja pela escassez de publicações nesta área em Portugal.
Como já referimos, as metas de aprendizagem na área das
TIC, que aqui iremos discutir e fundamentar, surgiram no âmbito
do projeto Metas de Aprendizagem, uma iniciativa inserida na
Estratégia Global de Desenvolvimento do Currículo Nacional,
que tinha como principal propósito «a formulação de metas
curriculares claras» que pudessem «constituir um elemento de
referência para a aprendizagem dos alunos e para a monitoriza-
ção e avaliação dessas aprendizagens». Ainda que nas diferentes
áreas disciplinares a necessidade de clarificar as aprendizagens
requeridas nos diferentes anos e níveis de ensino se devesse
sobretudo à diversidade e profusão de documentos programáti-
cos, não era esse o caso da área das TIC.
Esta singularidade deve-se ao facto de se tratar de uma área
só muito recentemente integrada como disciplina no currículo
nacional, mas principalmente por se tratar de uma área em que
definitivamente não há consenso sobre o lugar e o papel que
pode ocupar no currículo, coexistindo pelo menos dois entendi-
mentos diferenciados. Por um lado, temos as TIC entendidas
como um conjunto de conhecimentos e competências reconheci-
damente importantes na formação dos jovens, com o estatuto de
disciplina com programa próprio. Por outro, encontramos as TIC
como área de formação transdisciplinar sem estatuto próprio e
18
Repensar as TIC na educação
materializando-se de forma muito vaga, independentemente do
nível de escolaridade ou das áreas disciplinares que integram o
currículo nacional.
Embora a coexistência destas duas diferentes perspetivas no
seio do sistema educativo português nos pareça paradoxal, pelo
menos numa lógica de escolaridade obrigatória, isto é, uma
escola para todos, e tendo sido essa a justificação da tutela
quando a disciplina de TIC foi criada, estamos em crer que se
trata de uma área que só terá a perder se remetida ao contexto
fechado de uma disciplina e funcionando numa lógica disciplinar.
Esta é uma das crenças que tem, ao longo dos últimos anos,
orientado o nosso trabalho nesta área e que está presente, como
se poderá verificar, em todos os temas abordados nesta publica-
ção.
De forma a cumprir o propósito atrás enunciado, o de cons-
tituir uma ajuda para educadores e professores que desejem
utilizar as tecnologias digitais nas suas atividades letivas, esta obra
encontra-se estruturada em torno de seis temas que permitirão
ao leitor encontrar fundamentos e pistas sobre o que fazer e
como fazer. Uma leitura integral e sequencial da obra é natural-
mente uma opção com maior consistência relativamente àquele
objetivo, embora a individualidade que pretendemos dar a cada
um dos capítulos permita também incursões mais focalizadas em
função dos interesses e das necessidades particulares de cada
um.
Assim e para além desta introdução, em que se justifica e
contextualiza a proposta, é a seguinte a sequência dos capítulos
em que este livro se encontra estruturado:
No Capítulo 1, oferecemos uma perspetiva geral do pro-
blema da integração das tecnologias na escola, identificando e
abordando sumariamente alguns dos aspetos mais salientes desta
19
Apresentação da obra
problemática. O intuito é proporcionar elementos que permitam
ao leitor fazer uma primeira incursão e obter uma visão de con-
junto do leque de questões com que educadores e professores se
têm de confrontar para uma decisão e uma intervenção mais
esclarecidas neste domínio.
No Capítulo 2, e com o objetivo de permitir que se perceba
que o problema da integração de tecnologias na escola não é
algo recente, fazemos uma breve resenha histórica sobre o uso de
meios e recursos no contexto escolar, destacando o papel que
hoje o computador pode assumir enquanto ferramenta de apren-
dizagem. Como evoluíram conceitos e práticas, e os desafios
colocados à escola pelo constante desenvolvimento tecnológico,
são áreas de questionamento a que procuramos responder neste
segundo capítulo.
No Capítulo 3, abordamos aquele que foi o motivo próximo
para a produção deste livro, ou seja, a elaboração das metas de
aprendizagem na área das TIC no âmbito do projeto Metas de
Aprendizagem. Aí visamos esclarecer o que são as metas de
aprendizagem na área das TIC, apresentando os fundamentos
e as características do modelo curricular adotado. De entre os
aspetos discutidos, destacamos, desde já, a perspetiva transdisci-
plinar do uso das tecnologias na educação e a visão de que estas
ferramentas devem estar presentes ao longo de toda a escolari-
dade.
O Capítulo 4 é dedicado à questão central de como usar as
tecnologias digitais em função das particularidades das diferentes
áreas do currículo, desde a Matemática às Línguas, passando
pelas Ciências, pela História, pela Geografia e pelas Expressões
(Artística e Física). Sem perder de vista uma perspetiva transdisci-
plinar, pretende-se fornecer pistas de utilização das tecnologias
de acordo com os objetivos que se pretendem alcançar em cada
20
Repensar as TIC na educação
área disciplinar. Tomando como referência o que consta dos pro-
gramas em vigor no nosso país, as situações de aprendizagem aí
sistematizadas são fundamentadas na investigação e nas aborda-
gens emergentes no campo da integração curricular das TIC.
No Capítulo 5, e como que fechando o ciclo, debruçamo-
-nos sobre as competências de que educadores e professores
precisam para interiorizar e interpretar este modo de ver as TIC na
escola. Tomando como base a reflexão feita no âmbito do estudo
das Competências TIC para docentes, bem como o trabalho
desenvolvido ao nível de modelos de formação de professores
nesta área, apresentamos e discutimos algumas das estratégias
de formação mais adequadas a esta área tão particular.
Por último, na Conclusão desta obra, refletimos sobre os
horizontes novos que desde já se conseguem descortinar e que se
apresentam como novos desafios para a escola. Este «futuro»
interessa-nos porque, mais do que nunca, precisamos de educa-
dores e professores preparados para os constantes e múltiplos
desafios da sociedade, com vontade e disposição para assumir o
papel de agentes ativos no próprio processo de desenvolvimento
das nossas comunidades.
Nos dois apêndices desta obra incluem-se a totalidade das
metas de aprendizagem definidas para a área das TIC (metas
finais e metas intermédias para cada nível de escolaridade), prece-
didas de um texto especialmente elaborado para apoio à sua defi-
nição. Nele se apresentam importantes contributos da psicologia,
nomeadamente para a conceção, a realização e a avaliação de
atividades de ensino e aprendizagem adequadas a cada estádio
de desenvolvimento. Partindo da reflexão sobre o que significa
aprender, aí se discute o que crianças e jovens são capazes de
realizar em cada uma das etapas do seu desenvolvimento intelec-
tual, afetivo e motor. Pretende-se, assim, dar resposta a algumas
21
Apresentação da obra
dúvidas comuns, como é o caso de se saber desde que idade se
devem utilizar tecnologias, que tipo de aplicações informáticas
são mais adequadas em cada fase, ou ainda como avaliar a quali-
dade desse tipo de ferramentas para a estimulação de determina-
das capacidades.
Para tornar a leitura mais agradável e fluída, optámos por
indicar as referências bibliográficas utilizadas apenas no final de
cada capítulo, servindo também como sugestões de leitura para
aprofundamento dos temas.
23
Neste primeiro capítulo, tal como referimos na Apresenta-
ção, pretendemos fornecer um conjunto de achegas que permi-
tam compreender melhor o desafio que constitui a decisão de
usar as tecnologias digitais nas práticas pedagógicas quotidianas
de cada professor ou educador. Começamos por este aspeto por-
que nos parece situar-se aí a chave do problema de serem ainda
poucos os que o fazem com regularidade e de forma a tirarem
partido do potencial pedagógico das tecnologias.
De facto, apesar de serem múltiplos os fatores envolvidos na
criação de condições necessárias à utilização educativa das tecnolo-
gias, é, em nosso entender, a decisão individual de cada professor
ou educador o fator mais determinante desse processo. No entanto,
entre as várias justificações para o fraco uso das tecnologias, encon-
tramos habitualmente o argumento de que não existem computa-
dores, de que não há o tempo que a utilização de computadores
implicaria ou de que os programas não dão orientações claras sobre
o que fazer com eles. Ou seja, condicionantes e fatores externos.
Todavia, sabemos que diferentes pessoas têm diferentes
modos de pensar e de fazer, ainda que no mesmo contexto ou em
CAPÍTULO I
Sobre o desafio que as tecnologias
digitais representam para os professores
24
Repensar as TIC na educação
condições semelhantes. Assim, os fatores acima referidos parecem
não ser tão importantes como os fatores intrínsecos aos indiví-
duos, pelo que vários autores distinguem fatores de 1.ª ordem
(externos) de fatores de 2.ª ordem (internos), considerando estes
últimos como os mais determinantes. No fundo, ao concentrar-
mos a nossa atenção nos fatores de 2.ª ordem, remetemos para o
indivíduo a responsabilidade de decidir usar ou não as tecnologias
nas suas práticas educativas.
Decisão que passa, entre outras coisas, pelo reconhecimento
da utilidade dos computadores na aprendizagem e por uma
expectativa positiva perante os possíveis impactos que essas ferra-
mentas poderão ter no rendimento escolar dos alunos. Esta ati-
tude favorável só faz sentido, no entanto, se cada professor esti-
ver na posse do conhecimento sobre o que pode ser feito com as
tecnologias disponíveis, para depois articulá-las com os objetivos
curriculares. Digamos que não basta reconhecer a importância das
tecnologias e estar motivado para a sua utilização, mas que é
imprescindível ter algum conhecimento tecnológico, sem o qual
será difícil uma tomada de decisão fundamentada e esclarecida.
Tratar-se-ia, neste caso, de procurar saber que tecnologias exis-
tem, o que permitem fazer, qual o seu grau de dificuldade em
termos de aprendizagem, que requisitos técnicos são necessários
para poderem ser utilizadas pelos alunos, para referirmos apenas
alguns dos aspetos essenciais ao seu uso efetivo.
Naturalmente será também necessária uma aprendizagem
de como funcionam essas ferramentas, antes de nos sentirmos
com a confiança indispensável à sua utilização com os alunos.
Destacamos aqui dois caminhos possíveis, ambos extremamente
profícuos. Por um lado, a aprendizagem por exploração individual,
autónoma, ou com a ajuda de colegas com maior experiência.
Esta é, aliás, a estratégia que aqui propomos a quem pretenda o
25
CAPÍTULO I — Sobre o desafio que as tecnologias digitais representam para os professores
domínio efetivo de uma determinada ferramenta, pelo menos do
ponto de vista técnico. Por outro lado, como teremos oportuni-
dade de aprofundar no capítulo 5, podemos fazê-lo com base nas
orientações que nos são proporcionadas em ações de formação
convencionais. Quando devidamente estruturados, estes contex-
tos permitem experimentar diferentes tecnologias e esclarecer
questões à medida que vão surgindo as nossas dificuldades.
Convém ainda referir que, não sendo hoje muito diferentes os
princípios básicos de funcionamento das ferramentas digitais,
é possível mobilizar os conhecimentos das ferramentas que já
conhecemos ao serviço da exploração de qualquer nova tecnolo-
gia com que venhamos a ser confrontados.
Vencida esta barreira, a de conhecer e dominar cada ferra-
menta, o desafio seguinte é o de tentarmos perceber qual o seu
potencial pedagógico, aqui entendido como o conjunto de possi-
bilidades de utilização na disciplina que lecionamos. Mas, antes
mesmo de pensarmos como proceder, do ponto de vista metodo-
lógico, para as integrar no processo de ensino-aprendizagem,
há um conjunto de questões a colocar. De entre essas questões,
é crucial perguntar-mo-nos para quê utilizar determinada ferra-
menta e em que áreas concretas do currículo poderá fazer sentido
utilizá-la, ou seja, para que tipo de objetivos e para que aprendi-
zagens específicas. Por outro lado, temos de ponderar as implica-
ções de as usar, quer em termos de recursos necessários, quer em
termos do valor que será ou não acrescentado relativamente aos
objetivos e às estratégias de aprendizagem habitualmente utiliza-
dos. Na prática, trata-se de responder à pergunta se vale a pena
recorrer às tecnologias para se atingirem os objetivos previstos, por
exemplo, em termos de economia de tempo ou de maior eficácia.
Indo mais além, podemos inclusive questionar-nos se a pró-
pria definição de objetivos de aprendizagem poderá vir a ser
26
Repensar as TIC na educação
objeto de revisão à luz das potencialidades que as TIC trazem ao
que normalmente se ensina na disciplina que lecionamos. Redefi-
nir os objetivos significaria aqui não propriamente o pôr em causa
as aprendizagens previstas nos programas, mas sim reequacioná-
-las com base no que as TIC permitem hoje fazer e que não
poderia ser feito antes de elas existirem. Exemplo disto é o alarga-
mento do leque de opções trazidas pelas tecnologias, quer em
termos de conteúdo (por exemplo, no acesso a novas tendências
literárias), quer em termos de processos (por exemplo, através das
novas formas de estudar fenómenos, como é o caso das simula-
ções que permitem a manipulação de variáveis e a visualização do
comportamento que resulta dessa manipulação), ou mesmo em
termos de objetivos (por exemplo, em situações em que os alunos
criam uma base de dados, com o que isso significa do ponto de
vista de estratégias e processos cognitivos mobilizados pelos alu-
nos para o conseguirem fazer com sucesso).
São múltiplos os exemplos específicos que podemos encon-
trar nas diferentes áreas do currículo para ilustrar o que aqui dis-
semos. Procurando algo que todos compreenderão, ainda que
não sejam professores da disciplina, recorremos à Geografia para
o fazer. Centremo-nos, a título de exemplo, no Google Earth. De
facto, sendo uma ferramenta conhecida de grande parte dos
utilizadores da Internet, qualquer um de nós pode imaginar a
quantidade de explorações que esta tecnologia permitirá que os
alunos realizem, pelo menos em relação aos recursos didáticos
convencionais, estáticos, como é o caso de mapas, planisférios ou
mesmo o globo terrestre.
Antes mesmo de um professor de Geografia poder tirar par-
tido deste recurso, naturalmente que terá ele próprio de fazer
uma exploração profunda da ferramenta para poder avaliar as
suas potencialidades e, posteriormente, estar em condições de
27
CAPÍTULO I — Sobre o desafio que as tecnologias digitais representam para os professores
decidir se e quando vale a pena utilizá-la, ou seja, se e quando é
pertinente e adequado utilizá-la, em que parte da matéria, para
que aprendizagens previstas no programa, ou que novas aprendi-
zagens poderão ser também equacionadas. Neste caso, e para
estas novas aprendizagens, estamos em crer que qualquer colega
de Geografia com experiência na utilização do Google Earth com
os seus alunos já nos poderia fornecer uma vasta lista de situações
novas proporcionadas por esta valiosa tecnologia.
Este tipo de conhecimento, que ultrapassa o conhecimento
meramente instrumental sobre o funcionamento da ferramenta,
permitindo formular hipóteses de trabalho consistentes com os
objetivos de aprendizagem visados, é quanto a nós decisivo para
uma tomada de decisão esclarecida e fundamentada.
Uma vez que o desconhecimento das possibilidades de cada
ferramenta é, em muitos casos, um dos principais argumentos for-
necidos pelos professores para justificarem o fraco uso das tecno-
logias na escola, pensamos que é por aqui que um professor deverá
avançar. Por isso, o primeiro passo será proceder ao elenco do que
uma determinada tecnologia permite fazer, relacionando-a com as
partes do programa disciplinar em que poderá ser utilizada, antes
mesmo de começar a pensar em estratégias de aprendizagem.
Acreditamos, ainda, que esta deve ser uma tarefa de refle-
xão a realizar individualmente por cada professor ou educador,
pois melhor do que ninguém eles saberão em que áreas do pro-
grama pode ser útil e pertinente mobilizar determinada tecnolo-
gia. Isto não implica, obviamente, que não se possa recorrer tam-
bém às pistas fornecidas por colegas que já a tenham utilizado, a
sugestões disponibilizadas em sites e portais da especialidade, ou
à literatura que documente práticas bem sucedidas. É um pouco
isso que o leitor pode encontrar no Capítulo 4, na seleção que
fizemos para diferentes áreas disciplinares.
28
Repensar as TIC na educação
Feito este trabalho de análise e sistematização para cada
ferramenta, estamos em crer que é aí que o saber e a experiência
profissional de cada professor entra em ação. Partindo do princí-
pio de que estamos perante professores motivados, podemos
dizer que esse saber e a experiência profissional são os ingredien-
tes decisivos para que a fase seguinte, a de equacionar estratégias
de uso, comece a estruturar-se, mesmo tratando-se de usar novos
meios e novas ferramentas. Tal como acontece em todas as outras
áreas profissionais em que é usado o potencial transformador das
tecnologias digitais, o professor estará agora na posse dos
elementos necessários para poder decidir como usá-los, com a
vantagem de ser precisamente esse o núcleo duro do seu métier
de docente: definir o melhor caminho para atingir determinados
objetivos em função do conhecimento que possui e dos meios de
que dispõe para o fazer.
Naturalmente que este processo levará a que o professor, a
partir de uma determinada altura, seja confrontado com outras
questões, de natureza predominantemente metodológica, ques-
tões essas que poderão vir inclusivamente a pôr em causa os
modos habituais de organizar e de acompanhar a aprendizagem.
Na nossa perspetiva, e de acordo com a nossa experiência,
quando se colocam em confronto competência pedagógica e
competência técnica (ou tecnológica), esta última, ainda que
imprescindível, não é tão determinante como a competência que
um professor tem para decidir sobre o modo como organiza e
gere o processo de ensino-aprendizagem. Assim, as suas ações
serão sempre determinadas pelas opções metodológicas que
toma em função do contexto concreto, mas também em função
das suas conceções sobre o que é ensinar e aprender, sobre o
papel do aluno, do professor e dos próprios recursos que mobi-
liza. Evidentemente que não se trata de algo espontâneo, mas sim
29
CAPÍTULO I — Sobre o desafio que as tecnologias digitais representam para os professores
de algo que exige tempo e esforço até que cada professor se sinta
preparado e confiante. Afinal, pode ser longo o caminho entre o
momento em que se decide experimentar usar tecnologias e o
momento em que se toma consciência de que pode e faz sentido
ajustar as práticas beneficiando do potencial que as tecnologias
podem trazer.
Embora na maior parte das vezes seja definida pela negativa
(medos, receios, ansiedade, insegurança), a «confiança» é uma
dimensão relevante para grande parte dos professores. Sentir-se
confiante significa ser-se capaz de passar à ação, ou seja, neste
caso, passar a considerar o uso das tecnologias, desde logo,
durante o próprio processo de planeamento das atividades curri-
culares. Saber o que fazer, para quê e como são aspetos nucleares
necessários à tomada de decisão de qualquer docente, o que
pressupõe aquisições prévias, decorrentes sobretudo das oportu-
nidades vivenciadas, para que seja o próprio professor a concluir
sobre a sua pertinência e adequação.
O fator «tempo» ganha, neste processo, grande importân-
cia, tal como pudemos constatar num estudo recente em que tra-
balhámos com um grupo de 40 professores, ao longo de um ano,
com o objetivo de perceber que mudanças induzia o tipo de for-
mação que para eles desenhámos (que designámos como Modelo
f@r, e que apresentaremos mais adiante, no Capítulo 5). Quando
questionados, cerca de um ano e meio depois, verificámos que,
mais do que ao nível das práticas, os principais efeitos explícitos
da formação situavam-se ao nível do uso pessoal (aquisição de
conhecimentos e competências técnicas), não sendo visível a
apropriação do potencial pedagógico do computador. No entanto,
quando esta apropriação acontece, sobretudo pelos professores
mais experientes, observam-se mudanças a nível profissional
(mudanças nos modos de trabalho com os alunos).
30
Repensar as TIC na educação
Estes dados, entre outros, levam-nos a colocar a hipótese de
ser precisamente o grau de profissionalismo do docente a variável
mais importante a ter em conta. Grau de profissionalismo que
poderíamos associar ao reconhecimento de que têm a obrigação
profissional de adquirir, eles próprios, as aprendizagens exigidas
para assim poderem acompanhar o desenvolvimento tecnológico
que se verifica fora da escola. Este profissionalismo do docente
caracterizar-se-ia também, no que às tecnologias diz respeito, não
apenas por uma atitude favorável à sua utilização na escola, em
abstrato, mas principalmente pelo alargamento de horizontes
sobre o que com elas é possível fazer em concreto ao nível da
aprendizagem, e o que isso representa e significa, nomeadamente
em termos de ajustamentos e mudanças necessários ao modo
como se entende o «ensino» e a «aprendizagem».
Por outras palavras e em síntese, parece-nos que mais do
que uma questão de motivação pessoal, e de uma certa «inclina-
ção» tecnológica, assumem crucial importância as competências
que se possui ou não possui para trabalhar pedagogicamente com
tecnologias digitais. E, aí sim, uma atitude pessoal positiva tendo
em vista o esforço que será necessário despender para o conseguir,
quer em termos de mudança no «modo de pensar» o processo de
ensino-aprendizagem, quer no que isso implica, sobretudo no
caso de se trabalhar numa matriz mais tradicional.
De facto, pensar as tecnologias numa lógica transformadora
das práticas atuais significa em primeiro lugar a decisão profissio-
nal, individual, de querer mudar em direção a um modelo em que
seja assumida a centralidade do aluno, ou seja, do que o aluno é
chamado a fazer, e não do que é feito para ele. Estaríamos assim
na presença de uma conceção em que não se visa apenas a subs-
tituição dos meios tradicionalmente usados para ensinar e apren-
der, mas sobretudo perante uma perspetiva em que se ambiciona
31
CAPÍTULO I — Sobre o desafio que as tecnologias digitais representam para os professores
a descoberta de novas e diferentes formas de fazer as coisas,
preparando os jovens para eles próprios poderem vir a contribuir
para a inovação na resolução dos problemas com que se irão con-
frontar no futuro.
A mudança de paradigma sobre o que é ensinar e aprender,
em direção a uma lógica socioconstrutivista, parece-nos ser, aliás,
o contexto ideal para se tirar partido do que designámos por
«potencial transformador» das TIC. Aqui, as tecnologias digitais
são uma ferramenta (cognitiva) do aluno, porque o ajudam sobre-
tudo a pensar e a resolver problemas, mas também a criar e a
expressar-se ou a interagir e colaborar com os outros. Um apren-
der «rico» (aprender-produção), por oposição a um uso «pobre»
(aprender-reprodução), no qual os artefactos tecnológicos aca-
bam por não ser mais do que um substituto do professor, usados
sobretudo por ele e principalmente numa lógica de apoio à trans-
missão dos conhecimentos.
Aquilo que alguns autores chamam de «aprender com tec-
nologias» (discutido no Capítulo 2) é uma perspetiva muito mais
ambiciosa mas também muito mais exigente para o professor,
uma vez que implica sair da sua zona de conforto e enfrentar as
inevitáveis mudanças ao nível dos modos como habitualmente se
trabalha. Acreditamos, todavia, que esta perspetiva é a que mais
se aproxima do que se reconhecem ser as competências digitais
inerentes à cidadania numa sociedade de cunho fortemente
baseado na informação e no conhecimento.
Trata-se, no fundo, de pensar num aluno com capacidade
de analisar, avaliar e decidir sobre os problemas com que se
defronta; um aluno que utiliza as tecnologias digitais para aceder
à informação de que necessita, selecionando-a em função de
critérios previamente estabelecidos; um aluno capaz de refletir
sobre o que está a aprender e como está a aprender, de forma a
32
Repensar as TIC na educação
desenvolver estratégias de aprendizagem autónoma e de autor-
regulação; um aluno que é capaz de usar as tecnologias para
comunicar, interagir e colaborar com os outros; um aluno que
consegue expressar-se a si próprio, imaginar e criar com recurso às
diferentes formas de representação e respetivas combinações que
as tecnologias digitais hoje permitem. Enfim, um aluno para quem
as tecnologias, que já usa de forma corrente e tão competente,
passam a fazer sentido também no seio das atividades e dos fins
escolares.
Para concluir, deixamos no ar questões sobre o trabalho de
orientação que deve ser feito pelos professores de forma a capita-
lizar a natural competência dos que já nasceram na era digital,
abrindo-lhes as portas para o trabalho escolar quotidiano. Deixar
que tudo aconteça naturalmente, ou criar oportunidades para
que também as aquisições sobre os procedimentos tenham lugar
em ambiente monitorizado de forma a garantir competência
efetiva no seu uso para fins escolares? Pedir aos alunos para pro-
curarem livremente na Internet, ou proporcionar espaço para tra-
balharem em conjunto as estratégias necessárias para que da
pesquisa resulte informação relevante, confiável, útil para os fins
em vista? Avaliar o desempenho apenas em função dos critérios e
produtos habitualmente considerados, ou fazê-lo em função das
novas aprendizagens requeridas e dos novos processos e meios
mobilizados?
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35
O desafio de usar as tecnologias digitais nas práticas peda-
gógicas, discutido no capítulo anterior, encontra raízes em déca-
das de experiências e investigações sobre o uso das tecnologias
em educação. De forma a enquadrar as atuais preocupações e
perspetivas sobre o papel das tecnologias na escola, propomo-
-nos, neste capítulo, a percorrer os momentos que mais marcaram
as práticas de utilização das tecnologias na educação, clarificando
alguns dos conceitos e das abordagens subjacentes.
Antes de mais, importa referir que o termo tecnologia(s),
ainda que muito usado no contexto da educação, não reúne um
entendimento universalmente aceite, quer no que diz respeito às
expressões em que surge, quer relativamente aos conceitos que
lhe estão associados. Diferentes aceções do termo podem ser
encontradas ao longo da história, não apenas em função do apa-
recimento de novos meios tecnológicos colocados ao serviço do
ensino e da aprendizagem, mas sobretudo devido às diferentes
linhas de pensamento sobre a sua utilização para fins educativos.
Desde sempre se recorreu a diversos meios para enriquecer
e apoiar o processo de ensino-aprendizagem, mas vamos iniciar o
CAPÍTULO II
Como evoluíram
conceitos e práticas?
36
Repensar as TIC na educação
nosso percurso nos anos de 1920, com o surgimento do filme
enquanto meio de expressão e transmissão de informação sobre
a realidade. Também na educação se procurou aplicar este
recurso, tendo havido algum interesse em perceber qual seria a
sua utilidade educativa. Na década seguinte, com o surgimento
da rádio, novas iniciativas surgiram e procurou-se usar também
este meio para a transmissão de informação com fins educativos.
Assim, durante cerca de vinte anos, à medida que o filme e a
rádio se foram assumindo como sistemas de comunicação comuns
na sociedade, a escola explorou formas de os usar. Esta utilização
educativa assentava numa lógica de ajuda ao trabalho do profes-
sor, onde os recursos assumiam a função de apoiar a transmissão
de ideias e conceitos. Ainda que com investigações frágeis e
escassas, manifestava-se já algum interesse em estudar a eficácia
da utilização deste tipo de recurso no ensino. Podemos, por isso,
afirmar que emerge nesta altura, de forma incipiente, o audiovi-
sual enquanto campo de estudo.
É com a II Grande Guerra que se assinala um novo período
no uso das tecnologias educativas. Com a necessidade de prepa-
rar rápida e eficazmente numerosas quantidades de soldados, os
audiovisuais assumem um lugar proeminente nos sistemas de
formação. Aposta-se no desenvolvimento de materiais de apoio à
transmissão de conteúdos escolares e surgem os primeiros filmes
educativos. Paralelamente, verificam-se as primeiras tentativas
de enquadrar teoricamente o ensino audiovisual, procurando
estabelecer relações entre as práticas e as teorias de aprendiza-
gem.
É precisamente após a guerra que o campo das tecnologias
educativas começa a sentir as primeiras grandes influências da
Psicologia. Na década de 1950, com Skinner e os seus trabalhos
no domínio do ensino programado, encontramos a primeira pro-
37
CAPÍTULO II — Como evoluíram conceitos e práticas?
posta de uso das tecnologias na educação sustentada numa sólida
teoria de aprendizagem. Skinner desloca a ênfase, até aqui colo-
cada na atividade do professor, para o comportamento do aluno
e, em especial, para o reforço do comportamento. Começa-se
assim uma fase centrada no ensino programado e nas «máquinas
de ensinar», que forneciam ao aluno informação imediata e
sequencial mediante uma ordem cuidadosamente preparada.
Apesar de limitado, este foi um ponto de viragem importante no
que diz respeito à aplicação da tecnologia em resposta a realida-
des e problemas educativos concretos.
Nas décadas seguintes, o audiovisual passa a ser parte inte-
grante do sistema escolar. Os profissionais da área acreditavam
que a variedade e a riqueza dos estímulos visuais e sonoros
aumentavam a atenção e a motivação dos alunos, pelo que se
defendia que quanto mais materiais audiovisuais se utilizassem
melhor. Ainda que neste período se tenha intensificado a ativi-
dade de investigação sobre o uso das tecnologias no ensino, havia
ainda poucos dados sobre a forma como cada um dos meios
considerados poderia constituir um instrumento didático para
alcançar objetivos particulares.
Em 1972, a Association for Educational Communications
and Technology, a mais antiga instituição profissional nesta área,
define pela primeira vez Educational Technology como sendo um
campo de estudo que visa facilitar a aprendizagem através da
identificação, do desenvolvimento, da organização e da utilização
sistemáticos de recursos de aprendizagem. Esta visão coloca as
tecnologias ao serviço da aprendizagem e assume um caráter ino-
vador, pois pela primeira vez nos instiga a pensar de forma sisté-
mica sobre a utilização das tecnologias na educação, chamando
a atenção para a necessidade do seu enquadramento teórico e
curricular. A década de 1970 é assim caracterizada por muitos
38
Repensar as TIC na educação
debates em busca dos fundamentos epistemológicos deste novo
domínio na área da educação.
O grande marco seguinte dá-se no início dos anos de 1980,
com a proliferação dos computadores pessoais e com o desenvol-
vimento das tecnologias digitais. Rivalizando com as anteriores
tecnologias analógicas, as novas tecnologias de informação e
comunicação revelam desde logo um potencial sem precedentes,
dando início a um período muito rico em inovações tecnológicas
e consequentes utilizações educativas.
Todavia, o potencial transformador das tecnologias digitais
não foi de imediato adotado no ensino, sendo que as primeiras
utilizações dos computadores nas escolas baseavam-se no ante-
rior ensino programado. Referimo-nos ao Ensino Assistido por
Computador (EAC), que tinha como objetivo o desenvolvimento
de competências elementares através de exercícios de repetição-
-prática e de tutoriais. Ainda que com características e complexi-
dades diferentes, estes sistemas visavam transmitir a informação
necessária ao aluno para que este pudesse, ao longo de tarefas
mais ou menos repetitivas, responder ao que lhe era solicitado.
Nesta altura já a relação entre a utilização das tecnologias
estava muito ligada à Psicologia e às teorias de aprendizagem
vigentes. O EAC partia de uma visão behaviorista da aprendiza-
gem, sendo os programas estruturados de acordo com objetivos
específicos e etapas delimitadas, nas quais os alunos iam rece-
bendo reforços de acordo com a resposta que davam ao sistema.
Contudo, os resultados empíricos sobre a eficácia deste tipo de
utilização do computador na aprendizagem continuavam a ser
frágeis e socialmente pouco relevantes.
É precisamente neste contexto que surge um sistema com-
putacional aberto e inovador — a linguagem LOGO. Seymour
Papert opõe-se à utilização dos computadores com base nas
39
CAPÍTULO II — Como evoluíram conceitos e práticas?
teorias behavioristas de aprendizagem e apresenta uma proposta
baseada numa perspetiva de aprendizagem de natureza constru-
tivista. Assim, em vez de colocar o aluno apenas a receber infor-
mação, apelava-se ao seu envolvimento no processo de constru-
ção do seu próprio conhecimento com recurso à tecnologia.
Papert defendia que, ao terem de programar ou comandar o com-
putador, as crianças envolviam-se em atividades cognitivas mais
exigentes, que iam desde o planeamento de tarefas à verificação
de hipóteses, o que resultaria em aprendizagens mais significati-
vas. Esta proposta parece estar na origem de novas formas de
equacionar o potencial das tecnologias na aprendizagem e da sua
expansão nas escolas.
O desenvolvimento tecnológico continuou e assumiu um
ritmo muito acelerado a partir de 1990, acompanhado de um
aumento de experiências e investigações no domínio da tecnolo-
gia educativa. O primeiro grande foco recaiu sobre as potenciali-
dades multimédia que emergiram nessa década. As preocupa-
ções, semelhantes em alguns aspetos às que caracterizaram o
trabalho com os audiovisuais, prendiam-se com as diferentes
formas de representação da informação e os respetivos sistemas
simbólicos, em termos da estruturação, organização e representa-
ção da realidade.
Porém, as velhas questões adquirem uma nova dimensão,
não só devido à integração de diferentes sistemas simbólicos num
mesmo suporte digital, mas sobretudo com a inclusão das poten-
cialidades oferecidas pelo hipertexto. Tratava-se de uma forma
inovadora de representar a informação, pois permitia ligar entre si
diversos blocos de conteúdo, proporcionando múltiplas leituras e
todas elas com sentido. A junção destas possibilidades deu origem
ao desenvolvimento de sistemas hipermédia, muito ricos nas for-
mas de representação da informação, mais interativos e flexíveis.
40
Repensar as TIC na educação
Consequentemente, estas novas tecnologias despertaram o inte-
resse dos investigadores, que logo começaram a estudar a sua
relação com os processos psicológicos de processamento da infor-
mação e de estruturação cognitiva, bem como com o desenvolvi-
mento de estratégias metacognitivas.
O início do novo milénio, com a generalização do acesso à
Internet e à World Wide Web, marca uma nova fase na história da
tecnologia educativa. Permitindo inicialmente o acesso a uma
quantidade vastíssima de materiais autênticos e diversificados, as
ferramentas disponibilizadas na Web rapidamente tornaram a
comunicação e a partilha de informação acessível a todos os que
tivessem acesso a um computador com ligação à rede. Nasceram,
então, um pouco por todo o mundo, projetos que visavam explo-
rar a utilização educativa da Internet e de recursos associados. Os
computadores e a ligação à rede tornaram-se economicamente
mais acessíveis, as escolas começaram a ser tecnologicamente
equipadas e surgiram iniciativas de formação nacionais e locais
visando a integração dessas tecnologias nas práticas de ensino.
Ainda que muitas das utilizações da Internet pelas escolas
fossem inicialmente limitadas, usando-a apenas como um reposi-
tório de recursos, cedo se começou a explorar o potencial criativo
desta tecnologia. Com o desenvolvimento tecnológico surgiram
múltiplos recursos e aplicações online que proporcionaram não só
o acesso à informação mas também a colaboração, criação e
partilha de materiais — a chamada Web 2.0. Se a Web inicial
tinha trazido a possibilidade de aceder a inúmeros recursos como
textos, imagens, vídeos e sons, a Web 2.0 vem permitir a hipótese
de qualquer utilizador produzir os seus próprios materiais, colabo-
rar na construção de outros e partilhá-los online.
As potencialidades deste tipo de ferramentas foram rapida-
mente reconhecidas por alguns profissionais da educação, uma
41
CAPÍTULO II — Como evoluíram conceitos e práticas?
vez que permitiam que, de forma simples e intuitiva, professores
e alunos passassem a ser criadores dos materiais disponíveis na
rede. A relativa facilidade de criação e de partilha de conteúdos,
através de blogs, podcasts, wikis, etc., vem dar nova forma a algu-
mas das ideias pioneiramente apresentadas por Papert, nomeada-
mente no que diz respeito à importância de colocar os alunos
a explorar e a manipular aplicações informáticas para criar e
construir conhecimento. Paralelamente, os especialistas em tecno-
logia educativa reconhecem que muito do potencial das tecnolo-
gias reside na possibilidade de criar ambientes de aprendizagem
construtivistas, nos quais os alunos interagem com o meio e se
envolvem ativamente na construção do conhecimento individual
e coletivo.
Não há dúvida de que, nos últimos anos, as inovações
tecnológicas têm passado essencialmente por encontrar formas
mais acessíveis de usufruir das potencialidades da Internet.
Os computadores tornam-se cada vez mais pequenos e transpor-
táveis, o acesso à rede deixa de estar limitado a uma ligação fixa
e os telemóveis passam a poder aceder à grande maioria das
aplicações online. Em termos educativos observa-se um número
crescente de projetos de mobile learning e de iniciativas que
pretendem explorar a ubiquidade e as novas formas de ensino
e aprendizagem através do recurso a tecnologias portáteis, como
é o caso, por exemplo, dos smartphones e dos tablets. As práticas
são agora acompanhadas de inúmeras investigações científicas,
procurando, a cada momento, saber mais sobre as relações entre
o uso educativo das tecnologias e os processos de ensino e de
aprendizagem.
A Internet, com todas as tecnologias que lhe estão associa-
das, tem revolucionado de tal forma os processos de comunicação
e de socialização que tornou inevitável que o ensino e a aprendi-
42
Repensar as TIC na educação
zagem em rede tenham hoje assumido um lugar de destaque na
investigação educativa. Atualmente, nota-se um especial interesse
na conceção de recursos abertos de aprendizagem online, no
desenvolvimento de sistemas de comunicação em rede, no estudo
de comunidades formais e informais de aprendizagem, na colabo-
ração e na interação online, entre outros.
Rematando a resenha aqui apresentada, podemos afirmar
que há hoje uma multiplicidade de tecnologias digitais a servir
diferentes propósitos educativos, algumas delas com raízes
bem antigas. Exemplo disso são os incontáveis DVD didático-
pedagógicos que, baseados no tradicional EAC, recorrem às mais
recentes tecnologias para proporcionar tutoriais ou exercícios de
prática interessantes e motivadores. O mesmo acontece com as
apresentações multimédia, ainda muito usadas no ensino para a
transmissão de informação. Ainda que existam agora recursos
mais significativos e dinâmicos, como é o caso dos quadros inte-
rativos, os professores continuam a usar as tecnologias para
apoiar o seu trabalho e tentar tornar o ensino mais eficaz.
Se é verdade que este tipo de utilização das tecnologias fica
aquém das potencialidades que estas oferecem ao ensino e à
aprendizagem, isso não as torna irrelevantes, mas sim comple-
mentares a uma utilização mais significativa como ferramentas
com as quais os alunos aprendem, explorando e manipulando
recursos. Naturalmente, o impacto nas aprendizagens decorrerá
da forma e do propósito com que as tecnologias são utilizadas,
sendo-nos possível identificar, dentro da multiplicidade existente,
duas abordagens distintas.
Uma das abordagens, ainda muito comum, assenta numa
lógica de «tecnologias do professor», traduzida em utilizações
que visam apoiar o trabalho do professor na transmissão de
conhecimentos. Exemplos disto são os já referidos tutoriais, exer-
43
CAPÍTULO II — Como evoluíram conceitos e práticas?
cícios de prática e apresentações multimédia usados pelos profes-
sores. Ainda que apresentando inovações relativamente aos ante-
riores recursos audiovisuais, esta abordagem limita-se a usar as
tecnologias para apoiar estratégias de ensino tradicionais.
Mudando de perspetiva, não só perante as tecnologias mas
também perante as conceções de aprendizagem, deparamo-nos
com uma lógica de «tecnologias do aluno». Entendidas desta
forma, as tecnologias deverão ser instrumentos de trabalho dos
alunos, que as utilizam para auxiliar o processo de aprendizagem.
Isto implica, necessariamente, que as tecnologias sejam enqua-
dradas em ambientes de aprendizagem de natureza construti-
vista, nos quais os alunos se envolvem ativamente no processo
de construção do conhecimento. Esta visão do papel das tecno-
logias na educação, também apelidada de «aprender com», tem
vindo a ganhar um lugar de destaque na última década, quer
em termos de projetos, quer em termos de investigação cientí-
fica.
Os dados de que hoje dispomos indicam-nos que a utiliza-
ção das ferramentas digitais como mais uma forma de apoiar
estratégias de ensino tradicionais é extremamente limitativa
quanto ao seu potencial transformador. Fazer um uso efetivo do
potencial transformador das tecnologias digitais implica vislum-
brar o aluno como agente ativo no processo de aprendizagem e,
por isso mesmo, assumir o compromisso de colocar nas suas mãos
as ferramentas para serem usadas na representação de conceitos,
na exploração de informação, na troca de ideias e na reflexão
sobre o próprio processo de aprendizagem. Por outras palavras,
«aprender com» é assumir as tecnologias como instrumentos de
trabalho do aluno que potenciam as formas de pensar, criar e
representar o conhecimento, sobretudo quando a sua utilização é
deliberadamente equacionada.
44
Repensar as TIC na educação
Independentemente da abordagem que se adote, não pode-
mos deixar de ter presente um conjunto de exigências de apren-
dizagem que tem assumido um lugar de destaque na última
década: dotar os alunos das competências necessárias para o uso
eficaz dos instrumentos indispensáveis para a comunicação, o tra-
balho e a aprendizagem no século xxi. Ser proficiente no uso das
tecnologias para realizar tarefas comuns como a pesquisa na
Internet, a criação de gráficos ou a comunicação online tornou-se
tão importante como ser proficiente na oralidade, na leitura e na
escrita. A isto deu-se o nome de literacia digital.
À semelhança de outras literacias, entendidas como a capa-
cidade de compreender e usar determinados tipos de informação,
a literacia digital vai além do simples conhecimento sobre as
tecnologias. O domínio do digital implica ser capaz de utilizar
crítica e eficazmente as tecnologias, de modo a fazer algo cons-
trutivo e significativo com elas. Esta competência digital tornou-se
fundamental na sociedade contemporânea, tendo, inclusive, sido
reconhecida como uma das competências-chave para a aprendi-
zagem ao longo da vida.
Inevitavelmente, a escola tem de participar neste processo
de formação dos cidadãos, proporcionando situações de aprendi-
zagem que envolvam as tecnologias e assumindo a literacia digital
como mais uma meta de aprendizagem. A operacionalização
deste desafio tem sido um pouco diferente por todo o mundo,
e mesmo no nosso país não tem havido uma posição coerente
relativamente à melhor forma de o fazer, tendo em conta que
essa tarefa tem sido remetida ora para disciplinas específicas ora
para contextos não disciplinares.
Todavia, contrariamente ao que se passa há já vários anos
em alguns países, tem havido no nosso país alguma indetermi-
nação das aprendizagens esperadas neste domínio. Um passo
45
CAPÍTULO II — Como evoluíram conceitos e práticas?
importante nesse sentido foi dado em 2008 com o Referencial
de Competências em TIC para professores (abordado em maior
detalhe no capítulo 5), que, assumindo uma perspetiva de isomor-
fismo, reconhece essas mesmas competências como essenciais
para os alunos. Pressupõe-se assim que, por ação direta ou indi-
reta dos professores, os alunos venham a adquirir e desenvolver
essas mesmas competências. Só em 2010, com a publicação das
Metas de Aprendizagem na área das TIC, surge, pela primeira vez
em Portugal, um referencial visando a aquisição e o desenvolvi-
mento integrado da literacia digital em toda a escolaridade obri-
gatória, a começar na Educação Pré-Escolar.
É precisamente a este trabalho que dedicamos o capítulo
seguinte, procurando explicar os fundamentos e a estrutura
subjacentes às aprendizagens na área das TIC.
REFERÊNCIAS E SUGESTÕES DE LEITURA
AECT (2001). Association for Educational Communications and Technology in the
20th Century: A Brief History. (em http://www.aect.org/About/History).
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JonassEn, D. H. (2007). Computadores, ferramentas cognitivas. Porto: Porto Editora.
46
Repensar as TIC na educação
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PapErt, S. (1997). A família em rede. Lisboa: Relógio D’Água.
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SkinnEr, B. F. (1954). «The science of learning and the art of teaching», in Harvard
Educational Review, 24 (86-97). 99-113.
49
Procurando medidas para promover a autonomia das esco-
las, bem como instrumentos para apoiar o trabalho com os planos
de estudo e os programas existentes, o Ministério da Educação
lança, em 2010, o Projeto Metas de Aprendizagem (PMA). A ini-
ciativa, que envolveu nove equipas de peritos de diferentes áreas
disciplinares, decorreu da necessidade de produzir um documento
organizador dos vários referentes curriculares, visando, por isso,
a criação de um referencial comum de resultados a alcançar pelos
alunos. É no contexto deste projeto que surgem, a nível nacional,
as primeiras metas de aprendizagem na área das TIC, que são o
assunto deste capítulo.
Com a diversidade de conceptualizações, fins e propósitos
que têm vindo a ser atribuídos às tecnologias em contexto edu-
cativo, emergia a necessidade de se definir um quadro de refe-
rência que orientasse, de forma coerente e concertada, o desen-
volvimento de ações educativas nesta área. O reconhecimento
destas exigências vem sublinhar a importância do trabalho desen-
volvido na área das TIC no âmbito do PMA, não apenas porque
se tratou de um espaço que permitiu que se definisse, pela pri-
CAPÍTULO III
O que são afinal aprendizagens
fundamentais na área das TIC?
50
Repensar as TIC na educação
meira vez no nosso país, um conjunto de aprendizagens em TIC,
mas também porque acabou por constituir uma oportunidade
para sedimentar uma visão integrada das tecnologias na educa-
ção, nomeadamente numa perspetiva de desenvolvimento inte-
gral dos sujeitos.
Neste quadro, e tendo como horizonte a inovação e a trans-
formação das práticas curriculares, foi possível não só reconhecer
a necessidade de aquisição e desenvolvimento de competências
digitais básicas, como também equacionar o potencial das tecno-
logias digitais para o desenvolvimento de uma estratégia de orga-
nização curricular com enfoque transdisciplinar, ou seja, uma
estratégia que viesse a constituir em si mesma uma referência e
um espaço de articulação e de integração das TIC nas restantes
áreas disciplinares.
A elaboração das metas aqui apresentadas partiu, antes de
mais, de uma reflexão orientada por dois eixos de análise comple-
mentares. O primeiro, fundamentado nas teorias da aprendiza-
gem, teve em consideração os resultados da investigação desen-
volvimentista nos domínios cognitivo, emocional e social ao longo
das etapas que a educação básica abrange (para aprofundamento
dos elementos em jogo nesta dimensão sugere-se a leitura do
texto incluído no Apêndice I desta obra). O segundo eixo, como
não poderia deixar de ser, recaiu sobre a identificação e análise
dos conteúdos disciplinares em que as tecnologias poderiam
acrescentar valor; reflexão que viria a dar corpo à sistematização
das possibilidades de aprendizagem com as tecnologias digitais
nas diversas áreas do currículo, que apresentamos no capítulo
seguinte.
Simultaneamente, a equipa de trabalho estabeleceu e
seguiu um conjunto de pressupostos que refletiam a sua visão
sobre o lugar que as TIC deveriam ter hoje na escola, muitos dos
51
CAPÍTULO III — O que são afinal aprendizagens fundamentais na área das TIC?
quais foram já aqui discutidos em capítulos anteriores. Em pri-
meiro lugar, considerou-se as TIC como uma área de formação
transdisciplinar, assumindo-se também que a aquisição e o
desenvolvimento das competências digitais devem estar presen-
tes ao longo de toda a escolaridade. Considerou-se, em segundo
lugar, a aquisição de competências em TIC como um imperativo
da escola, neste início do século xxi e em resposta aos desafios
do mundo do trabalho e da sociedade em geral, constituindo
uma preparação essencial para o exercício pleno da cidadania.
Por último, e em estreita articulação com os dois primeiros pres-
supostos, considerou-se que as TIC assumem não apenas um
papel instrumental ao serviço dos outros saberes disciplinares,
mas sobretudo uma oportunidade enquanto estratégia de
desenvolvimento intelectual e social dos indivíduos, tomando
como fator de motivação e indução desse desenvolvimento a
relação natural que os mais jovens têm com as tecnologias digi-
tais.
Foi com base nestes pressupostos que se procedeu à defini-
ção de um referencial de competências. Assumindo a noção de
competência como o desenvolvimento integrado de capacidades
e atitudes que viabilizam a utilização do conhecimento em situa-
ções diversas, mais familiares ou menos familiares ao aluno, pro-
curou-se valorizar sobretudo uma lógica curricular assente no
desenvolvimento de «saberes duradouros» ou objetivos de alto
nível, também entendidos como «recursos para compreender,
julgar, antecipar, decidir e agir com discernimento».
Para a operacionalização das metas tomou-se como base de
trabalho uma lógica de ligação e interação entre os diferentes
campos do conhecimento científico (áreas disciplinares), por sua
vez em articulação estreita com as aquisições de natureza trans-
versal estruturantes para o desenvolvimento global do indivíduo.
52
Repensar as TIC na educação
Isto deu origem a uma estrutura de áreas de competência organi-
zadas, pela sua especificidade, em três planos de trabalho com-
plementares: (I) Competências Tecnológicas, (II) Competências
Transversais em TIC e (III) Competências Transversais Gerais. Para
cada um destes planos foram definidos os núcleos de competên-
cia considerados fundamentais, conforme se operacionaliza no
quadro 3.1.
As metas elaboradas emergem das áreas definidas no Plano
II, Competências Transversais em TIC, por se acreditar que os
outros dois planos se encontram subjacentes a qualquer tipo
de trabalho desenvolvido ao nível desse plano. Por um lado,
atingir metas relacionadas com a informação, a comunicação, a
produção e a segurança com TIC implica necessariamente o
conhecimento técnico-instrumental das diversas tecnologias digi-
tais (Plano I).
QUADRO 3.1
Planos de trabalho e núcleos de competência
I. Competências Tecnológicas
A. CONHECIMENTO TÉCNICO-INSTRUMENTAL DAS TECNOLO-
GIAS DIGITAIS — Capacidade de operar com as tecnologias
digitais, demonstrando compreensão dos conceitos envolvidos
e das suas potencialidades para a aprendizagem.
II. Competências Transversais em TIC
B. INFORMAÇÃO — Capacidade de procurar e de tratar a infor-
mação de acordo com objetivos concretos: investigação, sele-
ção, análise e síntese dos dados.
53
CAPÍTULO III — O que são afinal aprendizagens fundamentais na área das TIC?
C. COMUNICAÇÃO — Capacidade de comunicar, interagir e cola-
borar usando ferramentas e ambientes de comunicação em
rede como estratégia de aprendizagem individual e como con-
tributo para a aprendizagem dos outros.
D. PRODUÇÃO — Capacidade de sistematizar conhecimento
com base em processos de trabalho com recurso aos meios
digitais disponíveis e de desenvolver produtos e práticas inova-
dores.
E. SEGURANÇA. — Capacidade para usar recursos digitais no res-
peito por normas de segurança.
III. Competências Transversais Gerais
F. META-APRENDIZAGEM — Capacidade de aprender a apren-
der e aprender a estudar (autodisciplina, gestão do tempo,
etc.).
G. AUTOAVALIAÇÃO — Capacidade de observar e analisar o seu
comportamento (tomada de consciência de si e do seu estilo de
aprendizagem; tomada de consciência de dificuldades e proble-
mas na aprendizagem; etc.).
H. AUTORREGULAÇÃO — Capacidade de compreender os desem-
penhos esperados nas diferentes áreas de aprendizagem (crité-
rios de excelência, regras, etc.) e de melhorar o seu desempe-
nho escolar.
I. EXPRESSÃO — Capacidade de se expressar em diversas lingua-
gens em suporte digital.
J. CRIATIVIDADE — Capacidade de pensar de forma criativa com
recurso a diferentes tecnologias digitais.
K. ÉTICA — Capacidade para usar recursos digitais para otimizar a
aprendizagem, no respeito por normas de cidadania e de ética
(respeito pelos direitos de autor, conduta para com os outros,
etc.).
54
Repensar as TIC na educação
Por outro lado, o desenvolvimento de Competências Trans-
versais Gerais (Plano III), ainda que intimamente ligado ao uso das
tecnologias, não encontra atualmente um nível de especificidade
na área das TIC que exija a sua explicitação enquanto aprendiza-
gens a adquirir. Todavia, convém salientar que estas mesmas com-
petências foram sempre consideradas, tendo encontrado maior
representação nos exemplos de estratégias de ensino e de avalia-
ção posteriormente elaborados e disponibilizados no site institu-
cional da Direção Geral de Educação.
Outra constante preocupação foi a articulação vertical entre
as metas definidas para cada um dos ciclos do Ensino Básico.
Assim, tendo por base não só as orientações curriculares para
cada nível de ensino, como também as características do desen-
volvimento psicológico de crianças e jovens ao longo da escolari-
dade, as metas refletem um crescendo de complexidade, quer ao
nível do domínio das ferramentas digitais (Plano I), quer ao nível
dos recursos cognitivos e metacognitivos que o aluno deverá
mobilizar (Plano III). Sem prescindir de uma leitura integral das
metas propostas para a área das TIC, contempladas precisamente
por isso no Apêndice II desta obra, tomemos como exemplo a
configuração das metas finais no âmbito da Comunicação, siste-
matizadas no quadro 3.2, para melhor compreendermos a forma
que estes princípios assumiram.
55
CAPÍTULO III — O que são afinal aprendizagens fundamentais na área das TIC?
QUADRO 3.2
Operacionalização das metas de aprendizagem
no domínio da comunicação
Na sequência da definição das metas, e por forma a contri-
buir com uma base para o trabalho dos professores na sua imple-
mentação, foram também elaborados exemplos de estratégias de
ensino e de avaliação. Entre os princípios pedagógicos definidos,
ÁREA METAS FINAIS
Educação
Pré-Escolar
1.º ciclo
(4.º ano)
2.º ciclo
(6.º ano)
3.º ciclo
(9.º ano)
A criança identifica as tecnologias como meios que
favorecem a comunicação e o fortalecimento de
relações de reciprocidade com outras pessoas
(família/escola; comunidade/escola; escola/escola).
A criança interage com outras pessoas utilizando
ferramentas de comunicação em rede, com assistência
do educador.
O aluno comunica e interage com outras pessoas,
usando, com o apoio do professor, ferramentas
de comunicação síncrona e assíncrona e respeitando
as regras de conduta subjacentes.
O aluno comunica, interage e colabora com outras
pessoas, usando ferramentas e ambientes de
comunicação em rede, selecionados com o apoio
do professor, como estratégia de aprendizagem
individual e coletiva.
O aluno comunica, interage e colabora usando
ferramentas e ambientes de comunicação em rede,
selecionados de acordo com as respetivas
potencialidades e constrangimentos, como estratégia
de aprendizagem individual e coletiva.
56
Repensar as TIC na educação
comuns a todas as áreas, destacamos os seguintes: foco na apren-
dizagem dos alunos; articulação didático-pedagógica de tarefas
face às aprendizagens visadas; visibilidade dos conteúdos (concei-
tos, processos, etc.) a adquirir pelos alunos nas diferentes ativida-
des; recurso a procedimentos didáticos diversificados; e evidência
de ligações a outras áreas do currículo e ao desenvolvimento de
competências transversais.
No caso específico da área das TIC, foram concebidos e dis-
ponibilizados nove exemplos de estratégias, três para cada ciclo
do Ensino Básico. Todos os exemplos tiveram como finalidade
demonstrar diferentes formas de aplicar as metas definidas, bem
como ajudar a compreender os princípios que lhes estavam subja-
centes. Assim, cada uma das estratégias surge no âmbito de uma
ou mais áreas disciplinares e envolve mais do que uma meta TIC,
evidenciando a articulação entre diferentes domínios, tão caracte-
rística da proposta apresentada.
Pelo seu caráter transversal e longitudinal, estamos em crer
que, a par do processo em curso, de definição de metas curricula-
res para o Ensino Básico e Secundário, as Metas de Aprendizagem
na área das TIC constituem uma importante referência atual,
e futura, para todos os que reconhecem o potencial transforma-
dor das tecnologias em contexto educativo. Num quadro de
mudança e inovação curricular, trata-se de um referencial que nos
coloca perante uma oportunidade de produzir uma espécie de
fusão da escola com a comunidade social, para assim dar corpo a
um projeto formativo integrado e comum.
Uma vez que diferentes disciplinas são chamadas a colabo-
rar no tratamento do que entendemos serem competências trans-
versais essenciais para a formação global dos alunos, o modelo
de integração das TIC aqui proposto apresenta vários desafios
às escolas e aos docentes. Fugindo de uma lógica disciplinar,
57
CAPÍTULO III — O que são afinal aprendizagens fundamentais na área das TIC?
a implementação destas metas pressupõe que os professores, das
mais variadas áreas do saber, procurem contextos e instrumentos
que permitam trabalhar estas competências em TIC a par dos
saberes e competências específicos das suas disciplinas. É precisa-
mente tendo em mente a necessidade de proporcionar algumas
pistas para ajudar a superar aqueles desafios que, no capítulo
seguinte, lhes dedicamos especial atenção.
REFERÊNCIAS E SUGESTÕES DE LEITURA
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Repensar as TIC na educação
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Lisboa. Pp. 931-936.
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Cruz, E.; Costa, F. e Fradão, S. (no prelo). «Política de integração curricular
das TIC em Portugal», in Revista EccoS, versão online em:
http://www.uninove.br/revistaeccos.
61
Este capítulo fornece uma visão global das potencialidades das
tecnologias digitais nas diferentes áreas que integram o currículo
escolar no nosso país, em função dos elementos que constam dos
programas e orientações curriculares atuais e dos contributos prove-
nientes da literatura, incluindo estudos, relatórios, relatos documen-
tados e trabalhos de natureza científica de âmbito nacional e inter-
nacional. O critério adotado para a organização do texto assentou
no princípio de especificidade de cada área disciplinar, por duas
ordens de razão. Em primeiro lugar, porque a implementação do
modelo de integração das TIC, apresentado no capítulo 3, requer a
clarificação e a explicitação do contributo das tecnologias a partir das
exigências de cada disciplina. Em segundo lugar, porque se considera
que este também será um passo determinante para que cada profes-
sor ou educador possa definir o seu próprio itinerário de desenvolvi-
mento profissional, conforme veremos no capítulo seguinte. Consi-
derando estes requisitos, prosseguimos com a apresentação de um
conjunto de elementos que, do nosso ponto de vista, poderão susci-
tar práticas de análise e reflexão sistemáticas em diversos contextos
de atuação profissional (ex.: sala de aula, formação, supervisão).
CAPÍTULO IV
Como usar as tecnologias digitais
nas diferentes áreas disciplinares?
62
Repensar as TIC na educação
LÍNGUA MATERNA
Incorporando os avanços metodológicos que a didática da
língua tem conhecido nos últimos anos, as recentes orientações
programáticas para o ensino da Língua Materna projetam já um
conjunto de possibilidades que abrem caminho para assegurar a
apropriação de procedimentos e instrumentos de acesso, produ-
ção, partilha e difusão da informação, tendo em vista a melhoria
das aprendizagens dos alunos.
Complementarmente, trabalhos de natureza diversificada
têm realçado a função e o papel das tecnologias digitais na cons-
trução, na expressão e no aprofundamento das aprendizagens
visadas nos curricula desta componente basilar da formação esco-
lar. Além do uso de tecnologias hoje disponíveis como fonte ou
ferramenta de apoio à aquisição das competências específicas
desta disciplina, a implementação de estratégias de natureza inte-
gradora, que admitem a possibilidade de desenvolvimento e de
aplicação de um conjunto de competências de natureza transver-
sal (ex.: pensamento crítico, avaliação de fontes digitais, uso ético
da informação), tem vindo a ganhar visibilidade.
Nesta perspetiva, a integração das tecnologias nas rotinas de
aprendizagem da Língua Materna pode ser entendida como um
processo deliberado que implica a consideração de fontes e ferra-
mentas que proporcionem interações orais mais ricas, mais con-
textualizadas e mais diversificadas, que promovam a descoberta
de situações geradoras de empatia e que respeitem o caráter mul-
timodal da própria escrita. Integrando as tendências mais recentes
de aplicação das tecnologias nas práticas letivas, mas sem a pre-
tensão de esgotar o universo das possibilidades, no quadro 4.1
sistematizam-se algumas situações e oportunidades de aprendiza-
gem com as tecnologias na Língua Materna.
63
CAPÍTULO IV — Como usar as tecnologias digitais nas diferentes áreas disciplinares?
QUADRO 4.1
Quadro-síntese de situações e oportunidades
de aprendizagem com tecnologias na língua materna
• Utilizarastecnologiasemsituaçõesquepromovamacomunica-
ção em «tempo real», o trabalho em equipa, o desenvolvimento
da cidadania e o desenvolvimento de competências que impli-
quem a mobilização de processos de análise, síntese, reflexão e
tomada de decisão (ex.: recorrer a espaços de escrita colabora-
tiva e/ou de comunicação em grupo para favorecer a interação
entre autores e leitores — sistemas de gestão da aprendizagem,
blogs, wikis, podcasts, sistemas de edição colaborativa).
• Utilizarastecnologiasparaacedereexplorarnovaslinguagens,
suportes e formatos de leitura (ex.: e-books, romances em hiper-
texto, rich site summary, podcast, wikistories, banda desenhada,
digital storytelling, infografia) e novas tendências literárias (ex.:
netart, cyberpunk), considerando o domínio do literário e o não
literário (ex.: correio eletrónico, SMS, blogs, fóruns).
• Utilizarsuportestecnológicosadequadosparaodesenvolvimento
da compreensão/expressão oral e assegurar uma maior eficácia
na comunicação (ex.: recorrer a áudios, vídeos e tecnologias de
suporte à apresentação oral para exploração de padrões de ento-
ação e ritmo, manifestação de ideias, sensações e sentimentos
pessoais, produção de discursos e reformulação de enunciados).
• Utilizarastecnologiasparaasseguraraapropriaçãodeprocedi-
mentos e instrumentos de apoio à produção escrita (ex.: integrar
a utilização de gramáticas, dicionários ou prontuários em suporte
digital nos planos da produção, revisão e edição de texto, permi-
tindo o desenvolvimento de pontos de vista pessoais e a mobili-
zação de dados recolhidos em diferentes fontes de informação,
de acordo com os princípios éticos do trabalho intelectual).
64
Repensar as TIC na educação
LÍNGUAS ESTRANGEIRAS
Embora o debate científico procure evidenciar o potencial
que as tecnologias podem assumir no ensino e na aprendizagem
de uma segunda língua, os programas em vigor e as orientações
curriculares existentes no nosso país oferecem poucas pistas para
fundamentar a sua inclusão nas práticas letivas. Curiosamente,
a literatura mostra que a aplicação do computador para o aperfei-
çoamento linguístico em Línguas Estrangeiras remonta à década
de 1960, com o surgimento dos chamados laboratórios de lín-
guas. Mostra também que a preocupação com a utilização dos
computadores tem sido ampliada no sentido de acompanhar não
só os desenvolvimentos tecnológicos, mas também as teorias de
aprendizagem de uma segunda língua.
Começando por restringir a utilização do computador a
exercícios do tipo repetição-prática (perspetiva dominante entre
1970-1980), hoje a visão da utilização do computador e das tec-
nologias digitais nesta área surge associada ao paradigma de
aprendizagem comunicativa da língua. Nesta ótica, o potencial
das tecnologias poderá ser mais bem compreendido se conside-
rado numa perspetiva de ensino que dê primazia ao «discurso
autêntico», criando oportunidades de aprendizagem que facilitem
o contacto com a língua-alvo, que promovam a interação e o
acesso a materiais autênticos e que impliquem a realização de
tarefas reais.
Entre os usos que mais têm despertado o interesse da comu-
nidade científica e académica destacam-se os sistemas de autoria,
os recursos multimédia e a Internet. Mais recentemente, o enfo-
que tem recaído nas oportunidades de integração de dispositivos
móveis (ex.: telemóvel, iPods, leitor de MP3/MP4, PDA, Pocket PC,
Tablet PC). Considerando as competências que se pretendem
65
CAPÍTULO IV — Como usar as tecnologias digitais nas diferentes áreas disciplinares?
desenvolver e o tipo de atividades linguísticas que se podem pro-
porcionar com a mobilização das tecnologias, o quadro 4.2 siste-
matiza um conjunto de situações e oportunidades que podem ser
levadas a cabo no âmbito da organização dos processos de apren-
dizagem desta componente curricular.
QUADRO 4.2
Quadro-síntese de situações e oportunidades
de aprendizagem com tecnologias nas línguas estrangeiras
• Participaremcenáriosdeaprendizagemonline que impliquem
processos de colaboração, negociação, entreajuda e autonomia,
nomeadamente através da participação em projetos de escrita
colaborativa entre alunos de países diferentes (ex.: correio ele-
trónico, wikis, blogs, sistemas de edição colaborativa).
• Estimularacuriosidadesobreofuncionamentodalíngua-alvo
propondo atividades que impliquem a manipulação de materiais
e sistemas interativos (ex.: atividades de leitura interativa e estra-
tégica, viagens virtuais, apresentações multimédia, visionamento
de filmes com som e legenda).
• Favorecerocontactoeaexposiçãocomaculturaelínguaalvo,
facilitando a comunicação com falantes nativos, em contextos
reais, através de sistemas de comunicação e intercâmbio em
rede, do tipo síncrono (ex.: chats, videoconferências) ou assín-
crono (ex.: correio eletrónico, fóruns de discussão).
• Desenvolveraconfiançanousodalíngua-alvocriandooportuni-
dades que possibilitem a auto e a coavaliação da fluência e corre-
ção linguísticas através da utilização de tecnologias que permitam
a gravação de ideias pessoais, o registo de situações de comuni-
cação ou a simulação de apresentações orais (ex.: software de
reconhecimento de voz, vídeo digital, podcasts, serviços VoiP).
66
Repensar as TIC na educação
• Planificar,elaborareeditardiferentestiposde textoassegu-
rando aquisições e usos linguísticos básicos através de ferra-
mentas de apoio à produção escrita (ex.: processadores de texto
— offline e online, editores de banda desenhada, dicionários
online).
• Reforçaracompreensão,aquisiçãoearetençãodosconteúdos
disciplinares utilizando recursos interativos autênticos que visem
o aperfeiçoamento da oralidade e da escrita (ex.: sistemas de
autoria, vídeos, filmes, software educativo, jogos, webquests,
programas de rádio e televisão, notícias, músicas disponibiliza-
dos em serviços de divulgação online).
MATEMÁTICA
Consideradas geralmente como fontes de inovação ou
como ferramentas mediadoras dos processos de ensino e de
aprendizagem da Matemática, há hoje uma grande variedade de
tecnologias profícuas para o desenvolvimento das capacidades,
dos conhecimentos e das competências matemáticas, muitas das
quais disponíveis gratuitamente online (applets). Em Portugal,
o reconhecimento da sua importância para a compreensão de
conceitos, relações, métodos e procedimentos matemáticos está
presente tanto nas orientações emanadas pelo Ministério da
Educação e Ciência, como nas orientações provenientes da Asso-
ciação de Professores de Matemática (APM).
Acompanhando de perto as preocupações e as recomenda-
ções que a este nível se fazem sentir no contexto internacional
desde os anos 80 do século xx, há também um conjunto de
67
CAPÍTULO IV — Como usar as tecnologias digitais nas diferentes áreas disciplinares?
investigadores que, insistentemente, salientam a importância da
integração das tecnologias no ensino da Matemática apontando
um conjunto de benefícios que poderão ser traduzidos em cinco
ideias-chave:
1. desenvolvimento da autonomia do aluno no processo de
aprendizagem;
2. desenvolvimento da curiosidade e do «contacto cognitivo»
com a Matemática;
3. aperfeiçoamento na identificação de padrões e de conexões
entre ideias matemáticas;
4. ampliação das possibilidades de exploração de dados reais;
5. acesso a uma variedade de representações visuais para as
ideias matemáticas.
Entre os recursos mais referidos na literatura e, também,
mais específicos para o ensino e a aprendizagem da Matemática,
destacam-se a Internet, os programas de geometria dinâmica, a
folha de cálculo e os programas baseados ou inspirados na lingua-
gem de programação LOGO. No quadro 4.3 apresenta-se um con-
junto de oportunidades de aprendizagem que poderão traduzir o
valor prospetivo e prático da utilização destes recursos no ensino
da Matemática.
QUADRO 4.3
Quadro-síntese de situações e oportunidades
de aprendizagem com tecnologias na Matemática
• Participaremambientesqueestimulemareflexãoeopensa-
mento sobre o próprio processo de aprendizagem através de
68
Repensar as TIC na educação
oportunidades que impliquem a execução de comandos para o
tratamento de problemas espaciais (ex.: FMSLogo, SuperLogo,
MegaLogo, MicroMundos, Scratch).
• Criaremanipularconstruçõesgeométricasatravésdesoftware
de geometria dinâmica permitindo que os alunos possam for-
mular e testar conjeturas matemáticas, explorando as proprie-
dades e relações geométricas tanto intuitivamente quanto indu-
tivamente (ex.: Geogebra, Cinderella, Geometer’s Sketchpad,
Calques 3D, C.a.R).
• Fazerusodeaplicaçõesinterativas(applets) disponíveis online
para explorar tópicos matemáticos essenciais no âmbito dos
números e operações, álgebra e organização e tratamento dos
dados (ex.: National Library of Virtual Manipulatives).
• Desenvolverediscutirargumentosmatemáticospropondoarea-
lização de tarefas de discussão entre alunos e professores com a
utilização, por exemplo, do correio eletrónico, de salas de chat,
de fóruns de discussão ou redes e plataformas de apoio à cons-
trução partilhada do conhecimento (ex.: blogs, wikis, sistemas
de edição colaborativa).
• Participaremjogos,desafios,passatemposeatividadesonline
que proporcionem uma prática compreensiva de procedimentos,
conjeturas e teoremas matemáticos.
• Realizaratividadesdepesquisaorientada(ex.:webquest) que
incluam processos de recolha, análise, seleção e tratamento
de informações e dados reais (estatísticos, por exemplo) com
recurso a tecnologias adequadas aos fins visados.
• Exploraroestudodepercentagens,fraçõesedecimaisrecor-
rendo à folha de cálculo, particularmente nos casos em que
procedimentos de rotina não constituem objetivo prioritário de
aprendizagem.
69
CAPÍTULO IV — Como usar as tecnologias digitais nas diferentes áreas disciplinares?
CIÊNCIAS
Em Portugal, as expectativas de integração das tecnologias digi-
tais nas disciplinas de Ciências do Ensino Básico estão presentes nas
diretrizes curriculares, especificamente nas orientações vigentes para
o 3.º Ciclo. Nelas se associa, de forma explícita, a utilização das tecno-
logias a experiências educativas que visam o desenvolvimento de
competências do domínio da comunicação. Neste registo, apela-se à
criação de situações que possibilitem a interpretação de fontes de
informação diversificadas, a representação de informação, a produ-
ção de textos escritos ou orais, a apresentação dos resultados de pes-
quisa, a partilha de informação e a vivência de situações de debate.
Embora forneçam um bom ponto de partida para a organi-
zação da aprendizagem, estas orientações não parecem suficien-
tes para ilustrar diversos modos de intervenção didática que pre-
vejam a mobilização das tecnologias, por parte dos alunos, em
todos os níveis de escolaridade. Por outro lado, existe já um con-
junto de evidências que nos mostram quão redutor seria se limi-
tássemos o potencial das tecnologias digitais ao desenvolvimento
de competências de comunicação. De facto, considerando os
conhecimentos resultantes da investigação, a utilização das tecno-
logias associada a metodologias que respondem às exigências e
particularidades do ensino das Ciências promove um conjunto de
competências científicas que se revelam em todos os domínios da
aprendizagem (conhecimentos, capacidades e atitudes).
À luz dos últimos desenvolvimentos teóricos e práticos no
âmbito da integração curricular das TIC, o quadro 4.4 apresenta
um conjunto de situações e oportunidades de aprendizagem pas-
síveis de concretizar em contexto escolar que coloca em evidência
o propósito pedagógico subjacente à utilização de uma determi-
nada tecnologia.
70
Repensar as TIC na educação
QUADRO 4.4
Quadro-síntese de situações e oportunidades
de aprendizagem com tecnologias nas ciências
• Usarapplets, software para modelagem e programas de simula-
ção para observação e descrição de sistemas e fenómenos físicos
reais, para apoiar a formulação de hipóteses e a apreensão de
traços importantes do comportamento ou da evolução dos sis-
temas observados (ex.: é possível tirar partido de uma infinidade
de recursos disponibilizados online para este fim).
• Usarplataformaseserviçosdisponibilizadosonline de apoio à
partilha e divulgação de informações, recursos e conhecimentos
que possam servir também como um meio para interagir com
outras pessoas (ex.: sistemas de gestão da aprendizagem, blogs,
wikis, sistemas de edição colaborativa).
• Usartecnologiasdeapoioàcomunicaçãoparaoplaneamentoe
a realização de investigações, para promover o debate sobre des-
cobertas científicas ou para confrontar diferentes perspetivas de
interpretação científica (ex.: correio eletrónico, videoconferência).
• Usarsoftware especificamente desenvolvido para a recolha
remota de dados, para monitoramento de mudanças muito
rápidas ou muito lentas, para medições muito precisas ou muito
difíceis de obter com recurso a equipamento convencional e
para medição simultânea de várias grandezas (ex.: data-logging
software).
• Usaraplicaçõesgenéricasparaapoiarosprocessosdeprodução
científica, incluindo a organização de registos e notas decorren-
tes de trabalho experimental ou de microscópio, a elaboração de
bases de dados ou mesmo a produção de cartazes de divulga-
ção científica (ex.: editores de texto, folhas de cálculo, bases de
dados).
71
CAPÍTULO IV — Como usar as tecnologias digitais nas diferentes áreas disciplinares?
• Usarcâmarasdigitais,adaptadoresparaomicroscópio,vídeo-
-câmaras, webcams e scanners para a recolha de dados que
podem inclusivamente vir a ser usados como base para a con-
cretização de produtos específicos (ex.: relatórios escritos, info-
gráficos, videoclipes).
• Usarvídeos,informaçõesdisponibilizadasemsites de divulgação
científica ou de informação estruturada (webquests), imagens
3D e software educativo especificamente desenvolvido para o
ensino das Ciências como alternativas aos meios tradicionais,
para que os alunos possam documentar a abordagem de um
determinado campo conceptual.
HISTÓRIA
Embora não seja possível afirmar que, no nosso país, o pro-
grama de História atualmente em vigor para o Ensino Básico
esteja em sintonia com os debates que circulam no seio da comu-
nidade científica sobre o papel e a importância das tecnologias
nos processos de ensino e de aprendizagem, dispomos hoje de
um conjunto de conhecimentos e práticas que nos possibilitam
equacionar o potencial das tecnologias para a abordagem de con-
teúdos, conceitos e processos tidos por relevantes. Em termos
gerais, a investigação que nos últimos dez anos tem incidido nesta
problemática sugere que o desenvolvimento progressivo das tec-
nologias digitais e dos serviços online aumentou substancialmente
as possibilidades de produzir e partilhar conhecimento histórico,
tornando este processo mais ativo, mais significativo e em perma-
nente diálogo.
72
Repensar as TIC na educação
Do ponto de vista da aprendizagem, além de funcionarem
como fontes de motivação, as tecnologias possibilitam a interação
do aluno com o meio, favorecem novas formas para desenvolver
trabalhos de investigação, facilitam a procura de respostas para as
interrogações construídas a partir de problemas reais e, em con-
sequência, aumentam o nível de aprendizagem, a satisfação e o
rendimento escolar. Em conformidade com estas ideias, algumas
organizações especialmente vocacionadas para apoiar o desenvol-
vimento profissional dos professores e historiadores têm vindo a
desenvolver ferramentas específicas para esta área e a divulgar
recursos pedagógicos de grande pertinência, incluindo exemplos
detalhados de planos de aula (Center for History and New Media;
Center for Teaching History with Technology).
Fundamentado na investigação e nas abordagens emergen-
tes no campo da integração curricular das TIC, o quadro 4.5 apre-
senta um conjunto de alternativas possíveis e adequadas para a
concretização de aprendizagens visadas em História com recurso
a ferramentas que possibilitam apoiar os processos e procedimen-
tos inerentes à pesquisa, à produção e à comunicação históricas.
QUADRO 4.5
Quadro-síntese de situações e oportunidades
de aprendizagem com tecnologias na História
• Usarferramentasdeapoioàpesquisahistórica,paraauxiliarpro-
cessos e procedimentos que envolvam:
— o acesso a fontes sobre personalidades, acontecimentos e
processos históricos (ex.: conjunto de sites compilados pela
Associação de Professores de História).
73
CAPÍTULO IV — Como usar as tecnologias digitais nas diferentes áreas disciplinares?
— a recolha, a organização, a gestão e a catalogação de arqui-
vos (ex.: zotero).
— a localização, a análise e a síntese de informações com res-
peito pelos direitos de autor e de propriedade intelectual da
informação (ex.: text mining).
— a elaboração de questionários e sondagens online (ex.: survey
builder, poll builder).
— a criação e a gestão de notas de pesquisa, citações, refle-
xões, fontes arquivísticas, imagens digitais e cronogramas
(ex.: scribe).
— a sistematização de dados e factos históricos através de linhas
de tempo (ex.: timeline builder) ou de mapas conceptuais
(ex.: mindmaps).
• Usarferramentasdeapoioàproduçãodenarrativas,ensaios,
relatórios de pesquisa tirando partido da voz, do texto, das ima-
gens, áudio e vídeo para expressar/representar o conhecimento
histórico (ex.: digital storytelling, comics creation, e-Books, his-
tory games, video clip, podcasts, charts & graphs, scrapbooks,
screencasts, virtual tours, voicethread).
• Usartecnologias,serviçoseplataformasdeapoioàcomunicação
para auxiliar a discussão, a partilha e a disseminação de ideias
históricas (ex.: e-mail, fóruns, videoconferências, blogs, wikis,
sistemas de edição colaborativa, podcasts).
GEOGRAFIA
Embora as diretrizes curriculares que vigoram no nosso país
se limitem a assinalar a existência de «uma grande variedade de
software educativo para a construção de mapas» (3.º Ciclo), são
74
Repensar as TIC na educação
já avultadas as experiências e as reflexões que se têm produzido
sobre o contributo das tecnologias no estudo da Geografia. Na
abordagem da distribuição espacial, por exemplo, trabalhos de
investigação recentes evidenciam que a compreensão das infor-
mações geográficas é facilitada quando se recorre a linguagens
gráficas. Além dos incentivos à manipulação de atlas digitais por
parte dos alunos, também o Google Earth tem sido destacado
para o estudo desta matéria, não tanto pela quantidade de infor-
mações de que dispõe sobre o espaço geográfico, mas sobretudo
pelo nível de abstração que exige na leitura dos dados.
Além da abordagem à noção de espaço, é possível estrutu-
rar estratégias pedagógicas que mobilizem as tecnologias digitais,
de forma articulada, para explorar outros conceitos tidos por fun-
damentais. Por exemplo, para o estudo da paisagem e do lugar,
a análise de imagens ou fotografias e respetiva reelaboração
de conteúdos podem mostrar as diferentes noções de tempo, as
dimensões passado/presente, os seus elementos constituintes e
as transformações ocorridas ao longo do tempo (ex.: criação de
histórias em banda desenhada, produção de vídeos, jornais eletró-
nicos, mapas concetuais ou mapas cronológicos).
Mais recentemente, as atenções da comunidade científica
têm incidido no potencial didático dos Sistemas de Informação
Geográfica (SIG), na exploração das suas possibilidades de aplica-
bilidade nas mais diversas temáticas inerentes ao estudo da Geo-
grafia. No quadro 4.6 elencam-se algumas situações e oportuni-
dades de aprendizagem que mobilizam as tecnologias já referidas
e outras que se consideram pertinentes para o desenvolvimento
de competências geográficas.
75
CAPÍTULO IV — Como usar as tecnologias digitais nas diferentes áreas disciplinares?
QUADRO 4.6
Quadro-síntese de situações e oportunidades
de aprendizagem com tecnologias na Geografia
• Usarsimulaçõeseferramentasdemodelagemparaexplorare
aprofundar o conhecimento de matérias mais complexas e para
envolver os alunos em situações e experiências reais (ex.: é pos-
sível tirar partido de uma infinidade de recursos disponibilizados
online para este fim).
• UsarSistemasdeInformaçãoGeográfica(SIG)paraestudarfenó-
menos relacionados com a distribuição espacial integrando a sua
utilização em atividades abertas que possibilitem operações de
visualização, de análise e de produção de mapas (ex.: ArcView,
gvSIG, KOSMO, uDig).
• Usarwebcams para observar e identificar recursos naturais e
humanos, bem como as mudanças que sofrem ao longo do
tempo (ver, por ex. Webcams do Mundo em Tempo Real dispo-
níveis online).
• Usarmapasdigitaisparaexploraromundodeformainterativa
e em diferentes escalas, com a identificação de elementos geo-
gráficos previamente selecionados numa cidade ou a compara-
ção desses elementos entre cidades distintas (ex.: Google Earth,
Flash Terra).
• Usarcâmaras,gravadores,máquinasfotográficasdigitaisesis-
temas de posicionamento global (GPS) para apoiar a realização
de estudos que envolvam o trabalho de campo, com a utilização
dos materiais recolhidos tanto para documentar os fenómenos
investigados como para desenvolver a capacidade de autoavalia-
ção após o retorno à sala de aula.
• Usartecnologiasdigitaisparaapoiarasdiferentesetapasda
investigação geográfica: a pesquisa documental através da
76
Repensar as TIC na educação
Internet, o tratamento, a interpretação e a análise dos dados e
a apresentação das conclusões (ex.: bases de dados, pictogram
creator, mapas conceptuais, podcasts, nuvens de palavras).
• Usarferramentasdeapoioàcomunicaçãoparaqueosalunos
possam esclarecer dúvidas com especialistas ou interagir com
pares de zonas geograficamente distintas e trocar ideias, infor-
mações e dados que possam levar à descoberta de diferenças e
semelhanças (ex.: correio eletrónico, videoconferência, fórum,
chat).
• Usarsoftware multimédia e jogos didáticos disponíveis online
nas mais diversas temáticas para desenvolver o vocabulário geo-
gráfico, reforçar a aprendizagem e testar conhecimentos (ex.:
puzzles, quebra-cabeças, sopa de letras).
EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
À semelhança do que acontece a nível internacional, em
Portugal há orientações curriculares que incitam à utilização das
tecnologias digitais na Educação Artística, apelando especifica-
mente para a criação de oportunidades de trabalho com diferen-
tes programas e materiais informáticos. Apesar de estimulantes,
estas orientações não traduzem o conjunto de conhecimentos
resultantes da investigação, nomeadamente em termos de clari-
ficação do porquê, do para quê e do como integrar as tecnolo-
gias.
Antes de responder a estas três questões, a literatura
aponta em primeiro lugar para a necessidade de se equacionar o
contributo das tecnologias não como um meio de expansão de
77
CAPÍTULO IV — Como usar as tecnologias digitais nas diferentes áreas disciplinares?
técnicas, mas antes como um meio com potencial para ampliar o
pensamento e a capacidade de expressão humana para ler, reler,
criar e recriar o mundo. Nesta conformidade, e porque as tecno-
logias proporcionam espaço e oportunidade para a criação
de trabalhos artísticos autênticos, indo além das abordagens
tradicionais para olhar e pensar todos os domínios das artes
(porquê?), a sua integração terá a finalidade de fortalecer e pro-
mover os valores culturais, a diversidade de expressão e a refle-
xão crítica (para quê?).
Em termos de aplicações concretas (como?), as hipóteses de
utilização das tecnologias digitais nesta área disciplinar podem ser
analisadas em toda a sua potência se pensarmos, tão-somente,
nas inúmeras possibilidades de enriquecimento das experiências
artísticas que poderão ser vivenciadas pelos alunos, através do
que está acessível online, na Internet. De facto, além do uso de
software específico, de ferramentas de recolha e tratamento de
imagens, os recursos disponíveis hoje na Internet permitem inú-
meras linhas de fuga às práticas tradicionais, como sejam aquelas
que resultam, por exemplo, da interação dos alunos com mate-
riais de estudo interativos disponibilizados em variadíssimas gale-
rias de arte e museus virtuais.
Tendo por base as tendências atuais de aplicação das tecno-
logias nesta área disciplinar, o quadro 4.7 apresenta alguns exem-
plos de situações e oportunidades pedagógicas que mobilizam as
TIC para responder aos requisitos de aprendizagem comuns das
disciplinas que integram a Educação Artística.
78
Repensar as TIC na educação
QUADRO 4.7
Quadro-síntese de situações e oportunidades
de aprendizagem com tecnologias na educação artística
• Favoreceropensamentoeapráticaartísticacriandooportuni-
dades que permitam a vivência e a apropriação de diferentes
técnicas de produção artística com recurso às tecnologias digitais
(ver, por ex., a seleção de ferramentas Web, Web 2.0 e Software
Livre disponibilizada no blog EVTdigital).
• Criar,experimentareinterpretarnovassensaçõesenovasformas
de expressão criando oportunidades que permitam aos alunos
confrontar-se e familiarizar-se com ambientes e instalações ou
simulações interativas (ex.: Sync/Lost é uma interface interativa
onde, através de um visualizador gráfico, os utilizadores podem
conhecer parte da história da música eletrónica).
• Incentivaracriação,aproduçãoeadivulgaçãoartísticascriando
oportunidades que permitam a mobilização de recursos tecnoló-
gicos, como câmaras digitais, para registo e posterior divulgação
em canais de distribuição dos conteúdos na Internet (ex.: porte-
fólios eletrónicos, canais de distribuição de artefactos multimé-
dia, redes sociais).
• Desenvolveracriatividadepropiciandooportunidadesquepermi-
tam a combinação de experiências sensoriais diversificadas (ex.:
recorrer à utilização do vídeo digital e/ou de técnicas de anima-
ção que incorporem efeitos sonoros; recorrer a microscópios digi-
tais para analisar texturas ou a software de edição de imagem).
• Desenvolveraautoestimaeaautoconfiançacriandooportunida-
des que permitam a utilização das tecnologias para comunicar,
dialogar e refletir sobre os processos e os constrangimentos pre-
sentes na criação artística (ex.: blogs, correio eletrónico, video-
conferências, redes sociais).
79
CAPÍTULO IV — Como usar as tecnologias digitais nas diferentes áreas disciplinares?
• Aprofundarasconvençõeseasregrasdalinguagemartística
criando oportunidades que permitam selecionar, organizar e
apresentar informações pertinentes com recurso às tecnologias
digitais (ex.: é possível tirar partido de webquests já testadas em
contexto de sala de aula e disponibilizadas online).
• Explorardiferentestécnicasdeexpressãoartísticacriandoopor-
tunidades que permitam o acesso a uma variedade de obras
artísticas (musicais, coreográficas, plásticas), através da Internet
ou de CD-ROM (ver, por ex., a listagem de referências indica-
das nas orientações curriculares do 3.º Ciclo para o ensino da
Música).
EDUCAÇÃO FÍSICA
Apesar de não haver exigências especificamente curricula-
res para a implementação de atividades pedagógicas em que os
alunos tenham oportunidade de utilizar as tecnologias digitais, a
literatura mostra que fora das fronteiras do currículo escolar há
uma relação de grande proximidade entre a Educação Física e as
tecnologias. Com maior visibilidade no desporto de alto rendi-
mento, essa relação tem contribuído para promover debates
sobre o modo como os professores de Educação Física devem ser
preparados para encarar os desafios impostos pelos novos arte-
factos, recursos e sistemas tecnológicos que vêm alterando signi-
ficativamente o modo de produção do conhecimento.
Entre as possibilidades pedagógicas documentadas, figu-
ram estratégias de trabalho que apelam para a abordagem temá-
tica da relação entre os media e a Educação Física, mas também
80
Repensar as TIC na educação
estratégias orientadas para a aprendizagem de conceitos, técni-
cas, táticas, valores e regulamentos desportivos. Indo além da
utilização do CD-ROM/DVD ou mesmo de ferramentas de produ-
tividade, tem-se investido sobretudo em recursos baseados na
Internet, nomeadamente para:
1. facilitar o acesso a informação pertinente para o aprofunda-
mento de uma determinada temática;
2. testar conhecimentos;
3. trabalhar práticas corporais por meio da apreciação, especial-
mente quando o interesse recai em desportos que dificilmente
são praticáveis nas escolas;
4. facilitar a interação (em tempo real) com outros elementos da
comunidade educativa e desportiva.
Além da Internet, dispomos hoje de uma grande diversi-
dade de software especificamente desenvolvido para facilitar a
monitorização das práticas desportivas. Ao permitirem que os
próprios alunos possam avaliar e comparar o seu desempenho,
estas ferramentas terão ainda o potencial de promover a sua con-
fiança, a sua independência e a sua capacidade para tomar deci-
sões mais bem informadas. Tendo presente as exigências educa-
tivas e os princípios norteadores da organização das atividades
específicas da Educação Física, o quadro 4.8 apresenta um con-
junto de situações e oportunidades de aprendizagem que sinteti-
zam o valor educativo das tecnologias digitais para a realização
de alguns dos objetivos estabelecidos nesta área disciplinar.
81
CAPÍTULO IV — Como usar as tecnologias digitais nas diferentes áreas disciplinares?
QUADRO 4.8
Quadro-síntese de situações e oportunidades
de aprendizagem com tecnologias na educação física
• Estimularotrabalhocooperativoearealizaçãodeprojetos
comuns criando oportunidades em que os alunos possam
usar as tecnologias para apoiar a comunicação e o debate
com colegas de outras escolas e outros elementos da comu-
nidade educativa e desportiva (ex.: videoconferências, redes
sociais).
• Desenvolverascapacidadesdereflexão,autoavaliaçãoeregu-
lação da sua própria atividade criando oportunidades em que
os alunos possam utilizar ferramentas e aplicações especifica-
mente concebidas para monitorização das práticas desporti-
vas (ex.: Software de Avaliação Postural, Software SportsTra-
cker).
• Promoveraentreajudaeacooperaçãonassituaçõesdeaprendi-
zagem criando oportunidades em que os alunos possam apoiar
os companheiros nos esforços de aperfeiçoamento através do
registo e análise da correção da performance desportiva, de
acordo com critérios previamente estabelecidos (ex.: os alunos
poderão efetuar os registos através de fotografia ou vídeo e,
posteriormente, em grupo, analisar e discutir as dificuldades
sentidas e as ações favoráveis ao êxito).
• Favoreceroaperfeiçoamentodaatividadeindividual e/oudo
grupo criando oportunidades em que os alunos possam aceder a
recursos de demonstração de ações técnicas e/ou técnico-táticas
nas várias matérias dos programas (ex.: vídeos partilhados em
canais de distribuição multimédia).
• Facilitaraaprendizagemdosconhecimentosrelativosaocon-
junto de domínios e matérias representativos da Educação Física
82
Repensar as TIC na educação
criando oportunidades em que os alunos possam tirar partido de
recursos e atividades disponibilizados na Internet (ex.: é possível
tirar partido de webquests já testadas em contexto de sala de
aula e disponibilizadas online).
Neste capítulo, optou-se intencionalmente por diferenciar o
contributo das tecnologias digitais para que cada professor ou
educador possa ser capaz de definir o seu próprio itinerário de
atuação a partir das exigências e particularidades de cada disci-
plina, das necessidades de formação diagnosticadas e dos meios
que tem ao seu dispor. Tratando-se de um primeiro passo para
garantir a aquisição de uma visão fundamentada na utilização
das tecnologias em contexto escolar, importará enfatizar a neces-
sidade de assegurar o desenvolvimento de uma perspetiva trans-
disciplinar na gestão de um projeto formativo integrado e
comum, que se exprima pela colaboração efetiva de diferentes
disciplinas, agentes e atores educativos, conforme realçado no
Capítulo 3, dedicado às metas de aprendizagem. Um desafio
que, como se depreenderá, não terá como interlocutores apenas
os professores, mas todos os agentes com responsabilidade nas
áreas da educação e formação abarcando uma diversidade de
aspetos e exigindo múltiplas condições à implementação das
mudanças desejadas, entre as quais se incluem as que respeitam
à formação e ao desenvolvimento profissional dos professores,
que o capítulo seguinte desenvolverá.
83
CAPÍTULO IV — Como usar as tecnologias digitais nas diferentes áreas disciplinares?
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87
Neste quinto capítulo pretendemos trazer ao debate a ques-
tão das competências que educadores e professores devem ter
para serem capazes de interpretar e interiorizar o papel e o lugar
das TIC na escola.
Partimos do trabalho realizado no âmbito do estudo das
Competências TIC para docentes, e da reflexão sobre modelos de
formação de professores nesta área, para sugerirmos e apresen-
tarmos as estratégias de formação que consideramos mais efica-
zes tendo em vista a apropriação real do potencial pedagógico
das tecnologias digitais disponíveis, para um uso efetivo das mes-
mas nas atividades letivas.
Assumimos «competência TIC» como a possibilidade de
mobilização de capacidades, conhecimentos e atitudes em situa-
ções de ensino e aprendizagem, em que o uso das tecnologias é
relevante para resolver com sucesso os problemas aí suscitados
tomando como objeto de trabalho as quatro competências trans-
versais em TIC apresentadas no Capítulo 3, ou seja, Informação,
Comunicação, Produção e Segurança.
CAPÍTULO V
Que competências devem ter
educadores e professores?
88
Repensar as TIC na educação
Assumimos ainda, conforme apresentado no Capítulo 1,
que o fator determinante para a utilização efetiva das tecnologias
nas atividades letivas é a decisão individual de cada professor, pelo
que se torna particularmente relevante incidir sobre as formas de
adquirir as competências indispensáveis e de as mobilizar, para
que se tornem agentes de transformação do processo de ensino-
-aprendizagem.
Pressupomos, aliás, estar inseridos numa cultura digital que
solicita novos saberes, práticas, costumes e valores, ou seja, novas
formas de conceber, produzir e utilizar o conhecimento, em que o
papel das TIC na escola, enquanto área de formação transdiscipli-
nar, é o de proporcionar oportunidades para a participação efetiva
dos diferentes atores do processo de ensino-aprendizagem: pro-
fessores e alunos, mas também encarregados de educação e
outros membros da comunidade educativa, como agentes ativos
dessa mesma cultura digital.
Nesta perspetiva, é crucial a interpretação que o professor
faz do currículo que lhe é imposto, o papel atribuído aos alunos
na concretização do processo de ensino-aprendizagem e a com-
preensão e o conhecimento efetivo que tem sobre o potencial
pedagógico das tecnologias disponíveis. Atribuir ao aluno um
papel ativo implicará, por exemplo, planear e organizar as ativi-
dades em que a função das tecnologias vai muito além da
transmissão da informação considerada relevante, o que, por
sua vez, proporcionará oportunidades de questionamento,
reflexão, decisão, enfim, uma aprendizagem significativa e pro-
funda.
Nesta conformidade, altera-se também a forma como o pro-
fessor ou educador entende e assume a sua intervenção. Ao esba-
ter o seu protagonismo direto na condução da ação educativa, em
detrimento da sua ação de «transformação social», passará a esti-
89
CAPÍTULO V — Que competências devem ter educadores e professores?
mular a autonomia dos alunos através da criação de oportunida-
des de reflexão e de produção colaborativa, a apoiar os processos
de negociação de significados e a valorizar as diferentes relações
que podem estabelecer-se com o saber.
Para desempenhar este papel, e sentir-se confiante e confor-
tável no emprego do potencial pedagógico das tecnologias digi-
tais na prática letiva, é imprescindível que o professor comece por
ter em mente as competências necessárias para atuar nesse cená-
rio e assuma uma postura ativa em relação ao percurso formativo
que necessita de percorrer.
Um bom instrumento para apoiar essa reflexão é o Referen-
cial de Competências TIC para Professores, que, como podemos
verificar no quadro 5.1, apresenta um conjunto de dez macro-
competências consideradas essenciais para uma utilização ade-
quada e consciente das tecnologias na educação.
QUADRO 5.1
Macrocompetências em TIC para os professores
• Detémconhecimentoatualizadosobreosrecursostecnológicos
e seu potencial de uso educativo.
• Acompanhaodesenvolvimentotecnológiconoqueimplicaa
sua responsabilidade profissional.
• Executaoperaçõescomhardware e software (usa e instala pro-
gramas, resolve problemas comuns com o computador e perifé-
ricos, cria e gere documentos e pastas); observa regras de segu-
rança no respeito pela legalidade e princípios éticos etc.
• Acede,organizaesistematizaainformaçãoemformatodigital
(pesquisa, seleciona e avalia a informação em função de objeti-
vos concretos).
90
Repensar as TIC na educação
• Executaoperaçõescomprogramasousistemasdeinformação
online e/ou offline (acede à Internet, pesquisa em bases de
dados ou diretórios, acede a obras de referência etc.).
• Comunicacomosoutros,individualmenteouemgrupo,de
forma síncrona e/ou assíncrona através de ferramentas digitais
específicas.
• Elaboradocumentosemformatodigitalcomdiferentesfinalida-
des e para diferentes públicos, em contextos diversificados.
• Conheceeutilizaferramentasdigitaiscomosuportedeproces-
sos de avaliação e/ou de investigação.
• Utilizaopotencialdosrecursosdigitaisnapromoçãodoseupró-
prio desenvolvimento profissional numa perspetiva de aprendi-
zagem ao longo da vida.
• CompreendevantagenseconstrangimentosdousodasTICno
processo educativo e o seu potencial transformador do modo
como se aprende.
Fonte: Costa (Coord.), 2008.
Estamos em crer que este referencial constitui não apenas
um bom ponto de partida para ajudar cada um a situar-se relati-
vamente ao uso das tecnologias, como também poderá servir de
base ao autodiagnóstico de necessidades de formação nessa área
e à tomada de decisão sobre o seu percurso formativo. Assim,
espera-se que o professor, tendo em mente as competências
necessárias e tomando consciência das suas dificuldades, possa
ser capaz de traçar um plano de formação ajustado aos seus obje-
tivos de desenvolvimento profissional.
É importante ainda que o professor esteja ciente de que um
movimento de apropriação crítico e criativo das tecnologias para
o uso pedagógico é lento e gradativo. É o que sugerem, entre
91
CAPÍTULO V — Que competências devem ter educadores e professores?
outros estudos, os resultados alcançados no projeto ACOT (Apple
Classrooms of Tomorrow), em que se identificam cinco estádios
evolutivos para a integração efetiva das ferramentas digitais nas
práticas pedagógicas:
1. Exposição ou Entrada: o professor inicia o processo de explora-
ção das tecnologias e desenvolve algumas competências técni-
cas essenciais ao seu uso;
2. Adoção: o professor passa a usar algumas das tecnologias
disponíveis ao serviço de práticas de ensino tradicionais;
3. Adaptação: o professor integra o uso das tecnologias nas suas
práticas como forma de ampliar o potencial produtivo dos
alunos;
4. Apropriação: o professor já domina suficientemente determi-
nadas tecnologias, avalia criteriosamente o seu potencial do
ponto de vista pedagógico e passa a utilizar algumas delas no
desenvolvimento de projetos interdisciplinares e colaborativos;
5. Inovação ou Invenção: o professor explora novos contextos de
uso das tecnologias tendo sempre como objetivo a articulação
e a adequação do seu potencial a objetivos mais ambiciosos de
aprendizagem dos alunos.
Foi beneficiando justamente destes resultados que, em Por-
tugal, no âmbito do projeto «Competências TIC», foram definidos
três níveis de certificação para o desenvolvimento profissional do
professor:
1. Competências digitais;
2. Competências pedagógicas em TIC;
3. Competências pedagógicas em TIC de nível avançado.
Como podemos observar no Quadro 5.2, cada nível engloba
a aquisição de um conjunto de competências específicas que se
92
Repensar as TIC na educação
complementam e nas quais estão sempre presentes as dimensões
técnica e pedagógica.
QUADRO 5.2
Níveis de certificação em competências TIC
para os professores
Fonte: Costa (Coord.), 2008.
Para obter tal certificação, o professor frequenta os cursos
oferecidos ou define o seu próprio percurso de formação, con-
forme regulamentado na Portaria n.º 731/2009, de 07 de julho e
na Portaria n.º 224/2010, de 20 de abril.
O que aqui mais nos interessa é, aliás, apontar e apoiar
caminhos a partir dos quais o professor possa desenvolver um
percurso de formação autónomo, independentemente da oferta
que lhe é feita pela escola ou escolas onde trabalha. Neste sen-
tido, respeitando o seu ritmo de aprendizagem, e de acordo com
1. Competências
digitais
2. Competências
pedagógicas em TIC
3. Competências
pedagógicas em TIC
de nível avançado
Utiliza
instrumentalmente
as TIC como
ferramentas
funcionais no seu
contexto profissional.
Integra as TIC como
recurso pedagógico,
mobilizando-as para
o desenvolvimento de
estratégias de ensino
e de aprendizagem,
numa perspetiva
de melhoria das
aprendizagens dos
alunos.
Inova práticas
pedagógicas com
as TIC mobilizando
as suas experiências
e reflexões, num
sentido de partilha
e colaboração com
a comunidade
educativa e numa
perspetiva
investigativa.
93
CAPÍTULO V — Que competências devem ter educadores e professores?
os seus interesses e as suas necessidades formativas, o professor
pode frequentar cursos e ações de formação específicos, em
diferentes instituições e modalidades (presencial, e-learning,
b-learning), e fazer um percurso complementar, menos formal,
identificando e participando em redes e comunidades de prática,
que possibilitam um intercâmbio muito rico de ideias e materiais
entre professores e outros profissionais da área.
Em síntese, podemos pensar num processo de apropriação
individual que passa por três etapas distintas (Introdução, Integra-
ção e Transformação), como se mostra na Figura 5.1.
FIGURA 5.1
Processo de apropriação das TIC pelos professores
Fonte: Costa (no prelo).
Em relação aos conteúdos e estratégias formativas, sabemos
que a maioria dos cursos convencionais de formação de professo-
res para a integração curricular das tecnologias tem concentrado
os seus esforços nos aspetos tecnológicos visando sobretudo a
capacitação técnica dos envolvidos. Outros cursos privilegiam os
elementos pedagógicos do processo subutilizando o potencial das
tecnologias e atribuindo-lhes apenas a função de suporte e distri-
buição de informação.
INTEGRAÇÃOINTRODUÇÃO TRANSFORMAÇÃO
As TIC como objeto
de aprendizagem em
separado
Incide nos saberes
tecnológicos.
As TIC ao serviço
das aprendizagens
curriculares
Não implica mudança nos
objetivos definidos e nos
resultados esperados.
As TIC ao serviço
do desenvolvimento de
competências transversais
Inclui sobretudo aprendizagens
que não podem ser adquiridas
sem recurso às TIC.
94
Repensar as TIC na educação
Porém, no caso específico da formação de professores para
a integração das tecnologias, o domínio da técnica não pode estar
dissociado do domínio do conteúdo disciplinar e da prática peda-
gógica. Se, por um lado, o professor precisa de dominar os con-
teúdos da sua área disciplinar, por outro, é a sua competência
pedagógica que o torna um bom profissional da educação. São
estes dois domínios que, quando devidamente articulados, cons-
tituem o saber específico do professor e o distinguem de um
pedagogo ou de um especialista da área.
A este saber específico deu Lee S. Shulman, no final de
1980, o nome de Conhecimento Pedagógico do Conteúdo (CPC).
Resumidamente, este novo saber resulta da articulação entre o
conhecimento científico inerente aos conteúdos curriculares
(Conhecimento do Conteúdo — CC) e o conhecimento de estra-
tégias pedagógicas (Conhecimento Pedagógico — CP).
Na prática, o CPC significa a capacidade que o professor
tem de (re)configurar o conteúdo científico de modo que se torne
compreensível para os alunos, por meio da seleção das estratégias
de ensino e aprendizagem mais adequadas à apropriação de con-
ceitos, métodos e procedimentos de uma determinada disciplina.
Muito próximo do conceito de didática disciplinar, o CPC é, por-
tanto, um conhecimento que varia de professor para professor, e
é criado, desenvolvido e ampliado ao longo da carreira docente.
Mais recentemente, no final da década de 2000, investiga-
dores na área das tecnologias em educação sugerem que as com-
petências necessárias à mobilização das tecnologias deveriam ser
assumidas como um novo domínio de conhecimento do saber
docente: o Conhecimento Tecnológico (CT). Seguindo de perto a
proposta de Shulman, esses investigadores defendem que o CT
deve ser incorporado nos demais domínios do saber docente para
que o professor possa, com a articulação de tais conhecimentos,
95
CAPÍTULO V — Que competências devem ter educadores e professores?
integrar adequadamente as tecnologias digitais na sua prática
docente. Reforçamos novamente a ideia de que o que particula-
riza o saber docente não é o conhecimento isolado de cada domí-
nio, mas sim a articulação entre esses vários domínios.
Como podemos observar no diagrama da Figura 5.2, o
Conhecimento Tecnológico (CT) cria novas relações entre os já defi-
nidos domínios do saber docente, o de conteúdo e o pedagógico,
gerando assim dois novos conhecimentos: o Conhecimento Tecno-
lógico do Conteúdo (CTC) e o Conhecimento Tecnológico Pedagó-
gico (CTP). Estes conhecimentos remetem para a necessidade de os
professores saberem como é que a tecnologia influencia os conte-
údos que ensinam, bem como quais as estratégias pedagógicas
gerais que mais beneficiarão destas novas ferramentas.
FIGURA 5.2
Conhecimento tecnológico e pedagógico do conteúdo
(CTPC)
Fonte: Adaptado de KoEhlEr & Mishra, 2006 — http://tpack.org/.
Conhecimento
Tecnológico e Pedagógico
do Conteúdo
(CTPC)
Conhecimento
Pedagógico do Conteúdo
(CPC)
Conhecimento
Tecnológico
Pedagógico
(CTP)
Conhecimento
Tecnológico
do Conteúdo
(CTC)
CONTEXTO
Conhecimento
Pedagógico
(CP)
Conhecimento
do Conteúdo
(CC)
Conhecimento
Tecnológico
(CT)
96
Repensar as TIC na educação
Considerando o contexto onde o professor atua, ou seja, as
características inerentes ao seu ambiente de trabalho, a interseção
máxima entre os saberes destas novas áreas do conhecimento
docente gera o Conhecimento Pedagógico e Tecnológico do Con-
teúdo (CPTC). Originalmente denominado de TPACK (Technologi-
cal Pedagogical Content Knowledge), o Conhecimento Pedagó-
gico e Tecnológico do Conteúdo (CTPC) emerge quando o
professor mobiliza em simultâneo o que sabe sobre tecnologias,
sobre estratégias didático-pedagógicas e sobre o conteúdo cientí-
fico definido no currículo.
Acreditamos que o modelo CTPC, para além de oferecer
uma representação conceptual sobre os conhecimentos necessá-
rios à utilização das tecnologias no processo de ensino-aprendiza-
gem, constitui uma estratégia viável para a formação docente.
Nesta perspetiva, a formação de professores para o uso das tec-
nologias em contexto educativo deve ser direcionada para o
desenvolvimento equilibrado das competências tecnológicas e
pedagógicas em função das especificidades da área curricular de
cada professor. Na prática, a formação estruturar-se-ia a partir das
tecnologias que o professor já conhece, e para as quais já pode ter
desenvolvido competências tecnológicas e pedagógicas, e evolui
para o uso de aplicações mais complexas, sofisticadas e inovado-
ras.
Embora o conhecimento sobre as tecnologias disponíveis
seja uma condição essencial para que os professores possam com-
preender o seu potencial para o ensino e para a aprendizagem, é
necessário criar oportunidades para que experimentem tal poten-
cial em situações concretas de aulas. É, portanto, fundamental
apostar em tipos de formação assentes na colaboração entre
pares e em problemas da realidade profissional que possibilitem
aos professores refletirem, questionarem, aprenderem, partilha-
97
CAPÍTULO V — Que competências devem ter educadores e professores?
rem e desenvolverem novos métodos de ensino com as tecnolo-
gias digitais.
Com o intuito de estimular uma reflexão mais aprofundada
sobre o tema, apresentamos de seguida as características de uma
proposta de formação para o uso das tecnologias que, ao nosso
ver, mais se distancia da formação prescritiva que tradicional-
mente é baseada em receitas pré-estabelecidas e em que os aspe-
tos tecnológicos muitas das vezes são tratados separadamente
dos aspetos pedagógicos. Complementarmente, damos também
algumas pistas sobre as estratégias que consideramos mais ade-
quadas para que o professor possa autonomamente refletir sobre
sua prática, tomar consciência da importância e dos benefícios do
uso das tecnologias como ferramentas cognitivas e, com base
nisso, equacionar um caminho em direção ao uso efetivo, mas
criterioso, das tecnologias nas suas aulas.
Partindo do princípio de que as oportunidades de desenvol-
vimento profissional dos professores não devem ocorrer apenas
nas tradicionais ações de formação, um dos principais objetivos
do modelo aqui tomado como referência (Modelo f@r: Formação-
Ação-Reflexão) é desenvolver uma atitude colaborativa entre pro-
fessores e formadores, por meio da comunicação e da partilha de
recursos e exemplos práticos, assim como da reflexão conjunta
sobre o uso das tecnologias no processo de ensino-aprendizagem.
Envolver-se em atividades de formação na lógica do Modelo
f@r pressupõe a vivência de um processo cíclico, de apropriação
individual, estruturado em cinco etapas:
1. Visão,
2. Plano,
3. Prática,
4. Interação,
5. Reflexão.
98
Repensar as TIC na educação
Conforme se representa na Figura 5.3, cada vez que um
ciclo se retoma vai-se alcançando um crescimento ascendente em
relação às competências que se deseja adquirir.
FIGURA 5.3
Etapas e ciclo do trabalho do professor
Fonte: costa & visEu, 2008.
Na primeira etapa (Visão), o professor deve construir o seu
próprio rationale, ou seja, responder a questões essenciais, como:
Porquê, para quê e como utilizar as tecnologias? A partir das res-
postas a este questionamento de partida, o professor estará em
condições de estabelecer um conjunto de metas sobre o que pre-
tende, o que é possível e o que é adequado fazer com as tecnolo-
gias num determinado contexto. Pode fazê-lo sozinho ou com
recurso a colegas ou ao formador, no caso de se encontrar a fre-
quentar um curso de formação.
O prrofessor
contrói o seu
RATIONALE
Com o apoio do
formador, decide
o que fazer
Experimenta
com os
alunos
Interage
com colegas
e formador
Reflete sobre
o processo, os resultados;
as mais-valias,
as dificuldades, …
1 VISÃO
2 PLANO
3 PRÁTICA
4 INTERAÇÃO
5 REFLEXÃO
PARTILHA
SUPERVISÃO
SUPORTE
99
CAPÍTULO V — Que competências devem ter educadores e professores?
Depois, num segundo momento (Plano), e tendo como refe-
rência os objetivos estabelecidos no currículo da sua disciplina, o
professor decide, também com a ajuda dos formadores e colegas,
as atividades que os alunos realizarão com recurso às tecnologias
disponíveis na escola, dando corpo a um plano de trabalho em
que as tecnologias terão um papel assumido deliberadamente.
A concretização deste plano, no contexto concreto de uma
determinada turma (Prática), constitui o momento em que as
ideias aí incluídas são sujeitas à prova e as dificuldades emergem.
A observação do modo como as coisas decorrem e o registo dos
incidentes críticos poderão ser, nesta etapa, de crucial importância
para o professor refletir posteriormente sobre o trabalho desen-
volvido, de preferência partilhando e discutindo esses resultados
com colegas e formadores.
Na quarta etapa (designada como Interação), espera-se pre-
cisamente que o professor interaja e discuta com o formador ou
com os colegas sobre o processo e os resultados, de forma a par-
tilhar o que foi feito e assim poder receber achegas sobre como
resolver problemas e superar obstáculos, ou simplesmente pôr em
comum práticas e materiais.
Por fim, na última etapa (Reflexão), o professor reflete indi-
vidualmente sobre o modo como as atividades decorreram, sobre
o que resultou e o que não correu bem, sobre como antecipar as
dificuldades encontradas, como distribuir o tempo, como organi-
zar os espaços, sobre os ganhos resultantes da utilização das tec-
nologias, sobre o que o seu uso implicou em termos de mudanças
em concreto na sua prática.
Cada vez que se completa um destes ciclos, concretiza-se e
amplia-se a aquisição de novos saberes, conhecimento tecnoló-
gico e conhecimento pedagógico, o que permite ao professor
experimentar e incrementar novas atividades com recurso às TIC.
100
Repensar as TIC na educação
Ao prosseguir esta lógica de atuação, irá, naturalmente, aumentar
a sua confiança e eficácia no uso das tecnologias em situações
educativas, sabendo que o verdadeiro potencial das tecnologias
só pode ser alcançado quando estas são devidamente articuladas
com estratégias de natureza didática e pedagógica
O tipo de formação que aqui abordámos exige do professor
bastante empenho e motivação, bem como energia para aplicar o
conhecimento na prática. Por outro lado, também as escolas têm
um papel importante, uma vez que devem oferecer um apoio efe-
tivo e continuado aos professores que decidem participar destas
iniciativas formativas, quer em termos de tempo, quer na mobili-
zação e disponibilização dos recursos humanos e materiais neces-
sários. Tendo consciência da sobrecarga de trabalho hoje imposta
aos professores, sabemos que investir neste tipo de formação sig-
nifica fazer um esforço profissional e pessoal adicional. Acredita-
mos, ainda assim, que se trata de um processo extremamente
proveitoso e em que valerá a pena investir.
Concluímos este capítulo reafirmando que qualquer que
seja a estratégia de formação escolhida, esta será tão mais efetiva
quanto mais o professor estiver disposto a articular o conheci-
mento tecnológico com o conhecimento didático-pedagógico que
possui. Só assim será possível abandonar a visão limitada das tec-
nologias enquanto estratégia de transmissão do saber, e passar a
usá-las ao serviço de uma aprendizagem significativa e profunda.
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103
Quando há cerca de três décadas se começam a desenvolver
as primeiras experiências educativas visando tirar partido da capa-
cidade de processamento dos computadores, longe estávamos de
imaginar a realidade tal como hoje a conhecemos. Seria quase
impossível antever, aliás, o grau de generalização que estas
modernas tecnologias haveriam de ter nos mais diferentes setores
da sociedade em geral e na escola em particular.
Embora a presença de computadores nas escolas, por si só,
não signifique qualquer mudança do ponto de vista da aprendiza-
gem, não deixa de ser significativo o esforço que tem sido feito
para equipá-las com as novas tecnologias digitais.
Ainda que com algum atraso relativamente a países mais
ricos, o nosso país é um caso sobre o qual incidem as atenções,
nomeadamente pela aposta feita recentemente ao nível do incen-
tivo à aquisição de computadores pessoais pelos docentes e pelos
próprios alunos ao longo da escolaridade obrigatória, mesmo nos
quatro primeiros anos.
Mesmo que se possa pôr em causa o modo como estas
medidas de política educativa são desencadeadas e implantadas
Conclusão
É grande, mas entusiasmante, o desafio!
104
Repensar as TIC na educação
no terreno, pois ignora-se na maior parte dos casos a importância
que poderia ter o envolvimento da própria escola e dos seus
agentes na participação ativa nos processos de inovação e
mudança, é inegável que estamos perante algo radicalmente
diferente de todas as outras tecnologias que, ao longo de mais
de um século, foram sendo trazidas para a escola e aí experimen-
tadas.
Estas tecnologias nunca conseguiram verdadeiramente
impor-se, à exceção de algumas, poucas, como é o caso do giz e
do quadro preto ou mesmo do manual escolar; tecnologias que
foram aparecendo a um ritmo marcado pelo desenvolvimento tec-
nológico e à medida do interesse que cada uma das novidades
tecnológicas ia suscitando nos professores e educadores mais
entusiastas. Todas elas concebidas e produzidas fora da escola e,
portanto, sem qualquer ligação com necessidades específicas e
com os objetivos de aprendizagem dos alunos.
A sua introdução na escola e a sua utilização para fins edu-
cativos tinha, no entanto, um denominador comum, que aqui
importa realçar até para podermos fazer o contraponto a propó-
sito das potencialidades do computador nos dias de hoje: eram
sobretudo tecnologias destinadas ao professor e ao ensino, isto é,
tecnologias que visavam apoiar o professor na sua tarefa de trans-
missão dos conteúdos escolares, na sua tarefa de ensinar. Desde a
lanterna mágica à televisão educativa, da rádio ao cinema, pas-
sando pela projeção de materiais opacos ou, mais recentemente,
a projeção de transparências ou de vídeo, a todos esses recursos
subjazia a etiqueta de meios audiovisuais, uma vez que assenta-
vam numa mesma ideia, a de ajudar a clarificar os conceitos,
abstratos, que o professor tinha de ensinar.
Ora, é precisamente aí que reside a diferença essencial das
tecnologias de informação e comunicação hoje disponíveis: não
105
Conclusão
são ferramentas para o professor, mas ferramentas para o aluno;
não são ferramentas para substituir o professor na transmissão do
conhecimento, mas ferramentas que permitem e implicam a par-
ticipação ativa, de cada um, na construção do seu próprio conhe-
cimento.
Ferramentas em que não é a posse do saber que conta —
um saber geralmente inerte, acumulado nos manuais —, mas a
capacidade de acesso de cada um a conhecimento útil, rico e
autêntico e a capacidade para avaliar e selecionar a informação
em função de critérios de qualidade ou de pertinência relativos ao
que, num determinado momento, se está a explorar e a aprender.
O acesso às fontes e a especialistas bem como o acesso ao conhe-
cimento que resulta da interação com os outros, ou da participa-
ção num vasto conjunto de comunidades de interesse e de apren-
dizagem disponíveis através da rede, são possibilidades reais que
fazem já parte da nossa vida quotidiana e que, mais que não seja,
por isso mesmo, nos obrigam a repensar a escola tal como a
conhecemos.
É grande, de facto, o desafio!
Não apenas pelo enorme potencial que o computador
encerra para com ele construirmos conhecimento e desenvol-
vermos a nossa competência de aprendizagem, pelo impacto
decisivo que isso pode ter enquanto catalisador de inovação e
mudança, por exemplo, ao nível das práticas educativas, mas tam-
bém, como não poderia deixar de ser, porque é outro o mundo
em que vivemos, com o que isso significa em termos de repto à
própria escola no seu todo, enquanto motor e líder das mudanças
da sociedade em que está inserida.
De facto, a complexidade do mundo em que vivemos, mas
também a caducidade e a incerteza que caracterizam os saberes
hoje são dimensões que exigem que os alunos sejam preparados
106
Repensar as TIC na educação
de forma diferente na escola para que dela saiam com competên-
cias até agora pouco trabalhadas, sem as quais dificilmente pode-
rão ter sucesso em contextos sociais e profissionais cada vez mais
exigentes, competitivos e altamente seletivos.
Pelas três razões que acabámos de enunciar — isto é, o
potencial das tecnologias como ferramenta de aprendizagem, o
efeito indutor que esse tipo de utilização pode trazer em termos
de uma nova cultura de aprendizagem e, por último, o impacto
que, por sua vez, essa nova realidade pode provocar em termos
de relevância e incremento do papel da escola no desenvolvi-
mento da sociedade em que está inserida —, podemos afirmar
que estamos, de facto, perante algo sem paralelo na história da
instituição escolar.
Se ao investigador interessa perceber como pode ser promo-
vida a utilização regular das tecnologias de informação e comuni-
cação nas atividades escolares, e como pode isso gerar a inovação
e a mudança dos processos de ensinar e aprender desde há muito
enraizados, ao professor interessará perceber o que fazer e como
fazer, mas sobretudo o que isso implicará em termos de desenvol-
vimento da sua profissionalidade docente, da sua relação com o
conhecimento, da relação com os outros, enfim, da relação con-
sigo próprio e com o mundo à sua volta.
Superada a principal justificação que alguns professores
apontaram para ainda não usarem os benefícios das tecnologias
com os seus alunos — a de as escolas não estarem conveniente-
mente apetrechadas e equipadas —, pelo menos para aqueles
que reconhecem já as vantagens que o uso regular das tecnolo-
gias digitais pode trazer aos objetivos da educação formal, tudo
indica que no nosso país estarão finalmente reunidas as condições
mínimas necessárias para que cada professor se disponha a entrar
neste admirável mundo novo.
107
Conclusão
Tratando-se de um primeiro passo no longo caminho a per-
correr em direção a uma escola nova, é a oportunidade de cada
um de nós poder participar ativamente no processo, tomando em
mãos a responsabilidade sobre um futuro melhor para todos, den-
tro e fora dela.
Na prática, é também a oportunidade para cada professor se
questionar mais profundamente sobre as razões subjacentes à da
utilização destes novos meios de acesso e construção de conheci-
mento na escola, sobre o que fazer com eles e quais os seus obje-
tivos em concreto, e tentar perceber o investimento pessoal e
profissional que terá de fazer, e em que áreas específicas, para ser
capaz de proporcionar aos seus alunos a vivência de ambientes de
aprendizagem que os computadores e a Internet podem tornar
mais ricos, estimulantes e eficazes.
A reflexão sobre as competências atuais e o posicionamento
esclarecido e crítico relativamente ao conjunto de competências
necessárias para poder criar contextos de aprendizagem significa-
tiva com tecnologias é algo absolutamente essencial e que tem de
fazer parte das preocupações de cada professor enquanto profis-
sional. É isso que se passa em todas as outras profissões em que
o potencial transformador das tecnologias de informação e comu-
nicação é reconhecido e é isso que tem de passar a acontecer
também, por maioria de razão, no seio da própria escola e dos
seus principais agentes — os professores.
É esse o convite que aqui lhe deixamos!
109
Este texto foi elaborado para suporte ao desenvolvimento
das Metas de Aprendizagem na área das TIC e pretende mostrar
o que os alunos conseguem aprender em cada etapa do seu
desenvolvimento para que as aprendizagens se adequem ao nível
das suas capacidades.
Mais do que focar as estratégias que os alunos utilizam
para aprender ou mais do que descrever os processos inerentes
à otimização das aprendizagens, importa mobilizar o conheci-
mento sobre o desenvolvimento nas suas diversas esferas, de
forma a compreender o que se aprende em cada nível de esco-
laridade e, assim, poder conceber, implementar e avaliar o
impacto das atividades, de modo a incluir todos os alunos. Os
conceitos de aprendizagem e de desenvolvimento estão interli-
gados de forma indissociável e, embora o desenvolvimento
limite a aprendizagem, sabemos também que esta facilita o
desenvolvimento e, assim, tudo o que possibilite o pleno desen-
volvimento do potencial de cada aluno, independentemente das
suas capacidades de aprendizagem. A mudança que resulta da
aprendizagem é desenvolvimento. À medida que aprendemos,
Apêndice I
O que podem aprender os alunos:
uma perspetiva desenvolvimentista
Sara Bahia
José Pedro Trindade
110
Repensar as TIC na educação
desenvolvemo-nos e à medida que nos desenvolvemos, aprende-
mos.
São múltiplas as perspetivas teóricas que respondem à ques-
tão que motiva este texto. Na sua base estão dois olhares que se
complementam. A tese piagetiana de que se aprende de dentro
para fora e a tese vygotskiana de que se aprende de fora para
dentro. Do ponto de vista piagetiano, a aprendizagem desenvolve
o conhecimento e é vista como um processo em espiral, de suces-
sivas construções e reconstruções. A construção do conhecimento
é originada por sucessivas ações e equilibrações internas e exter-
nas do aluno na sua interação com o meio e determinada pelas
estruturas organizadas e organizadoras. Este processo confere
significação ao que é aprendido e promove, ao mesmo tempo,
uma modificação das estruturas cognitivas. Do ponto de vista
vygotskiano, o desenvolvimento é aprendizagem, ou seja, é um
processo de mediação sociocontextual, em que primeiro a criança
estabelece relações com os outros e só depois é que as interioriza.
O conhecimento é construído através de instrumentos e sinais
oriundos do meio cultural, os quais são internalizados através do
apoio do meio, que promove as boas aprendizagens conducentes,
por sua vez, a um avanço no desenvolvimento.
A construção do conhecimento é tanto mais rica quanto
mais diversificadas forem as experiências e as motivações para a
organização, pelo que é determinante conhecer o que cada aluno
consegue compreender e realizar em cada etapa e área do seu
percurso desenvolvimentista. Só assim se poderá promover o
desenvolvimento e a aprendizagem de todos os alunos. Cada
período escolar tem as suas características e exigências específi-
cas. Em cada etapa há um conjunto de tarefas biopsicossociais
que constituem as preocupações do ser em desenvolvimento em
cada etapa. Estas tarefas relacionam-se entre si e abrangem várias
111
APÊNDICE I — O que podem aprender os alunos: uma perspetiva desenvolvimentista
esferas do desenvolvimento: o crescimento físico, o desenvolvi-
mento cognitivo, o desempenho intelectual, o ajustamento emo-
cional, as competências sociais, as atitudes com relação a si pró-
prio, a formação dos padrões típicos de comportamento e a
elaboração de um sistema de valores. O seu cumprimento
depende dos esforços conjuntos da sociedade que estabelece os
requisitos sociais, da própria pessoa que procura satisfazer essas
exigências considerando-as importantes e adquirindo competên-
cias e, ainda, do período temporal em que o meio social satisfaz
os requisitos do desenvolvimento físico e psicológico.
O objetivo deste texto é descrever as várias aquisições em
cada etapa do desenvolvimento e mostrar o que os alunos de
cada nível compreendem, que conceitos e noções mobilizam e o
que podem alcançar. A sistematização apresentada resulta da
compilação de dados de investigação nos domínios cognitivo,
emocional e social ao longo das etapas que o ensino básico
abrange. Mais concretamente, são explicitadas as características
que se desenvolvem ao longo do desenvolvimento da infância e
adolescência. A sua compreensão é essencial para a conceção e
implementação de atividades que neste caso envolvam Tecnolo-
gias da Informação e da Comunicação. Como tal, cada conceito
desenvolvimentista é exemplificado com sugestões de atividades
possíveis, de forma a visualizar-se o que se pode e deve desenvol-
ver em cada etapa. A sua leitura deve ser realizada de forma flexí-
vel, de modo a compreender se as aquisições, noções ou opera-
ções necessárias à realização das atividades por parte dos alunos
se adequam à faixa etária em questão. Importa compreender que
os alunos conseguem realizar preferencialmente tarefas concebi-
das para a sua faixa etária e algumas das tarefas para a idade
imediatamente acima. Mais do que isso, as crianças e os adoles-
centes são ativos na construção do seu conhecimento. Mas para
112
Repensar as TIC na educação
que se envolvam nessa ação é necessário que as atividades pro-
postas lhes permitam mobilizar os seus recursos cognitivos e emo-
cionais. Assim, as atividades que exigem estratégias de pensa-
mento ainda não adquiridas pelo aluno não o envolvem na
aprendizagem e podem mesmo criar sentimentos de frustração e
de incompetência. Porém, as atividades que implicam conceitos
das etapas anteriores não são desafiantes e também não o envol-
vem. É importante criar o desafio adequado.
A CRIANÇA EM IDADE PRÉ-ESCOLAR
Nesta fase a criança acede à linguagem e ao mundo simbó-
lico e desenvolve competências que lhe permitem uma autonomia
crescente. Está mais à vontade no seu mundo e quer explorar
tudo o que a rodeia. Apesar de aventureira, ainda é egocêntrica e
tem dificuldade em compreender as perspetivas que diferem da
sua. As suas capacidades motoras e mentais tornam-se cada vez
mais elaboradas e começa a conseguir fazer aquilo que se propõe
fazer. Em termos cognitivos, aprende a representar conceitos e
ideias através da linguagem, da mímica e do desenho, a manipu-
lar signos e símbolos e a atribuir significados. Começa a memori-
zar curtas sequências de instruções simples. O pensamento lógico
vai emergindo embora haja um claro predomínio da intuição.
O modo de representação do mundo que a criança utiliza é essen-
cialmente motor e icónico, ou seja, através dos movimentos e da
imagem visual. Em termos socioemocionais, consegue um maior
controlo sobre si própria e a sua personalidade torna-se mais
vincada. A comunicação torna-se mais eficaz, o que possibilita
estabelecer relações sociais mais eficientes. Já é capaz de interio-
113
APÊNDICE I — O que podem aprender os alunos: uma perspetiva desenvolvimentista
rizar padrões e algumas regras sociais. No entanto, ainda predo-
mina o seu ponto de vista e tem dificuldade em compreender o
ponto de vista do outro.
QUADRO 1
Aquisições e atividades que podem ser estimuladas
ao longo da educação pré-escolar
ÁREA AQUISIÇÕES ATIVIDADES
MotoraProcessamento da informação
Acuidade visual e auditiva.
Instruções passo a passo
para realização de pequenos
movimentos.
Coordenação óculomotora.
Exercícios de coordenação
de ritmo.
Lateralidade.
Pedir para fixar a atenção
num só elemento, depois
no seguinte e assim
sucessivamente.
Sequências de movimentos.
Descobrir objetos pouco
visíveis.
Fazer corresponder objetos
a contextos.
Reconhecer objetos em
pequenas histórias.
Ritmo.
Pedir para lembrar objetos
ou sequências de ações (lá
apresentados no ecrã ou do
quotidiano da criança).
Atenção seletiva.
Procurar semelhanças e
diferenças (objetos ou cenas).
Reconhecimento
de objetos, contextos
e acontecimentos.
Evocação de objetos,
contextos e acontecimentos.
Monitorização de
semelhanças e diferenças.
114
Repensar as TIC na educação
ÁREA AQUISIÇÕES ATIVIDADES
CategorizaçãoRaciocínioCriatividadeLinguagem
Primórdios da causalidade.
Egocentrismo: não
compreensão do ponto
de vista do outro.
Expressões espontâneas
e naturais.
Do discurso telegráfico
à frase.
Não diferencia a palavra do
que ela representa.
Formação de categorias
através de rimas, significados
e classes.
Jogos com rimas.
Jogos com todos e partes
de categorias naturais
e culturais.
Classificação múltipla
e seriação.
Interseção de classes.
Ordenação por diferentes
critérios.
Representação interna
através de símbolos.
Jogos de mímica, desenho,
imitação de gestos e
palavras.
Da análise percetiva das
situações à conceptual.
Análise percetiva e
conceptual de uma imagem
com dificuldade crescente.
Atenção aos pormenores.
Relações de causa-efeito.
Tomada de perspetiva física
(o que a personagem vê do
lugar x, y ou z) e social.
Possibilitar a espontaneidade
natural da expressão plástica,
corporal, dramática e
musical.
Começar com instruções
curtas com duas ou três
palavras e passar para frases
mais complexas.
Associar uma palavra
a vários objetos ou
situações.
Mostrar palavras compostas.
115
APÊNDICE I — O que podem aprender os alunos: uma perspetiva desenvolvimentista
ÁREA AQUISIÇÕES ATIVIDADES
Representação gráficaSocioemocionalJogo social
Da garatuja à linha. Permitir a espontaneidade
da criança sem a direcionar.
Simbolismo descritivo. Descrever
pormenorizadamente
imagens (modelar e solicitar).
Mostrar o significado de
símbolos vistos diariamente
(símbolos de locais públicos,
jogos, sinais de trânsito).
Distinção entre objetos reais
e imaginados.
Conceber figuras reais e
imaginárias.
Descrições em termos físicos. Solicitar descrições não
apenas físicas mas também
de estados emocionais.
Conhecimento sobre os
outros e as suas atividades
mentais.
Atribuir às personagens
sentimentos, perceções,
desejos, intenções,
conhecimentos, crenças.
Do jogo paralelo ao
associativo e ao colaborativo.
Pedir à criança para fazer
como o modelo observado.
Pedir à criança para cooperar
com o modelo para resolver
uma tarefa.
Jogo do faz de conta. Utilizar a fantasia.
Modelar e solicitar
pequenas dramatizações
(que podem ser gravadas
e depois vistas).
Mostrar personagens com
amigos imaginários.
116
Repensar as TIC na educação
Nesta idade, é importante a exposição às tecnologias desde
que a criança mostre interesse e consiga realizar com sucesso as
atividades propostas. Só depois de revelar essa competência se
devem propor tarefas de complexidade crescente. Para uma
intervenção educacional eficaz é importante «sintonizar» com o
significado que a criança atribui ao que a rodeia. A criança inte-
rioriza e representa aquilo que vê e conhece através da observa-
ção e da experiência direta e passada pelos media. O objetivo
central é proporcionar oportunidade de descoberta, de procura e
de experimentação, para que a criança crie diferentes significa-
dos, desenvolva as bases do pensamento simbólico e manipule
objetos e acontecimentos de forma concreta e imagética. A pos-
sibilidade de expressão do pensamento simbólico facilita o desen-
volvimento e, por isso, importa proporcionar experiências varia-
das a partir dos diferentes sentidos e modos de expressão. Ao
deixar a criança experimentar e agir sobre as propostas e os pro-
blemas, tanto o reforço positivo como a correção dos erros sem
ridicularizar, bem como a demonstração dos sucessivos passos,
promovem a espontaneidade da expressão e a concentração e
envolvimento na tarefa. Como a capacidade de memorização é
ainda frágil, deve-se fomentar o uso da memória para fins práti-
cos. Falar de forma clara, pausada e natural com a criança sobre
as suas experiências garante uma maior atenção e memorização.
Dar instruções curtas e fornecer auxiliares visuais para explicar o
que pretende são estratégias fundamentais para estimular o
desenvolvimento. A interiorização de pequenas regras constitui
igualmente um bom veículo de desenvolvimento. No entanto,
não se pode esperar que a criança consiga perceber o ponto de
vista do outro.
117
APÊNDICE I — O que podem aprender os alunos: uma perspetiva desenvolvimentista
O ALUNO DO 1.º CICLO
Ao longo desta fase os alunos começam a pensar em termos
lógicos, a utilizar estratégias de memória e de resolução de pro-
blemas, a comunicar de forma cada vez mais eficiente, a apren-
der a ler e a escrever e a fazer alguns juízos morais mais maduros.
A escola é a experiência formativa mais importante em todos os
aspetos do desenvolvimento. À medida que aprendem a ler, pen-
sar, falar, brincar e imaginar, os alunos ganham confiança em si
próprios. As estratégias de resolução de problemas e de receção,
organização, retenção e recuperação da informação são mais
rápidas e automáticas. Há menos limites à capacidade para pro-
cessar a informação. Conseguem compreender os aspetos con-
cretos dos problemas e as suas relações funcionais e operar men-
talmente sobre possíveis transformações que ocorrem à sua volta,
embora o pensamento ainda seja limitado a situações e objetos
concretos, passíveis de serem diretamente manipulados. A capa-
cidade de leitura abre inúmeras portas para a compreensão do
mundo e constitui a grande aquisição deste período. Já se conse-
guem descentrar do seu ponto de vista e compreender o ponto de
vista dos outros. Constroem um autoconceito mais realista, com
base nos julgamentos dos outros.
118
Repensar as TIC na educação
QUADRO 2
Aquisições e atividades que podem ser estimuladas
ao longo do 1.º Ciclo
ÁREA AQUISIÇÕES ATIVIDADES
MotoraProcessamento da informaçãoRaciocínio
Acuidade visual. Instruções múltiplas que
exijam movimentos rápidos
e eventualmente força.
Coordenação de movimentos.
Superação de recordes
individuais.
Utilização da força.
Selecionar pormenores
e detalhes embutidos em
imagens.
Bater recordes.
Fazer listas de tarefas ou de
compras através de registos
escritos, visuais, auditivos,
mesmo aludindo a registos
tácteis e olfativos.
Atenção seletiva.
Solicitar a descrição de
estratégias utilizadas e/ou
a antecipação do plano que
a criança vai utilizar.
Uso de auxiliares de memória
através da indução de algo
exterior.
Formas de armazenamento
da informação a memorizar
utilizando diversas categorias.
Decorar pequenos textos,
poemas, listas.
Alteração da proporção de
formas, peso e volume.
Classificação a partir de dois
critérios.
Monitorização.
Estratégias de organização
da informação.
Repetição consciente da
informação.
Operações
lógico-matemáticas.
119
APÊNDICE I — O que podem aprender os alunos: uma perspetiva desenvolvimentista
ÁREA AQUISIÇÕES ATIVIDADES
Raciocínio
Criativi-
dade
LinguagemRepresentação gráfica
Operações
lógico-matemáticas.
Operações infralógicas —
noção das relações entre
espaço, tempo e distância.
Fluência, originalidade
e flexibilidade.
Vocabulário vasto em
contínuo crescimento.
Utilização de vocábulos
relativos ao tempo
e à numeração ordinal.
Conta histórias e já as
consegue finalizar.
Utilização do humor.
Construção de formas
e símbolos que representam
ideias e conceitos.
Representação
bidimensional.
Colocação de objetos ao
acaso no desenho por não
compreender a noção de
espaço.
Seriação de grupos de
objetos em relação a
determinadas qualidades.
Compreensão de mapas
e de modelos.
Oportunidades de expressão
criativa através de imagens
e da escrita.
Confronto com palavras
pouco familiares ou com
características próximas.
Contar partes em falta
de histórias com recurso
a imagens.
Anedotas, lengalengas
e trocadilhos.
Analisar e inventar símbolos
para atividades ou locais.
Mostrar o funcionamento
de peças tridimensionais
sem esperar que a criança as
compreenda.
Organizar conjuntos
ordenados de objetos
e pessoas de acordo com
vários critérios.
120
Repensar as TIC na educação
ÁREA AQUISIÇÕES ATIVIDADES
Representação gráficaCompreensão de si e dos outros
Erros típicos do desenho.
Primórdios da representação
do espaço e do tempo.
Descoberta de uma ordem
nas relações espaciais
(expressão a partir de um
símbolo — linha de base).
Cópia de movimentos dos
outros e não dos desenhos.
Exigência em relação
à qualidade do desenho.
Consideração das
características internas,
dos aspetos sociais e da
comparação social na
consciência de si.
Equilíbrio na integração e
avaliação de vários aspetos
do self.
Início da tomada
de perspetiva.
Identificar figuras possíveis
e impossíveis.
Separar diferentes sequências
de tempo contidas num
desenho ou numa obra
de pintura.
Visionamento de mãos
a desenhar ou de traçados
a serem desenhados.
Mostrar diferentes estilos
de desenho e de outras
manifestações artísticas.
Identificação de sentimentos
e de emoções.
Avaliação do aparecimento
e das consequências de
estados emocionais ou
de características pessoais
de pessoas ou figuras
imaginárias.
Colocar-se na perspetiva
de diferentes personagens.
121
APÊNDICE I — O que podem aprender os alunos: uma perspetiva desenvolvimentista
Embora a escola e as aprendizagens académicas e sociais
sejam centrais, todas as outras atividades, noutros contextos edu-
cativos, influenciam o desenvolvimento e proporcionam à criança a
ÁREA AQUISIÇÕES ATIVIDADES
Jogo socialMoral
Jogo cooperativo — partilha
organizada não só de
materiais, mas também
de ideias e objetivos.
Sentido do jogo.
Primazia da satisfação dos
interesses e das necessidades
de si e dos outros.
Interiorização de regras e
padrões sociais desde que
não colidam com os seus
interesses.
Conhecimento de regras e
aceitação das suas mudanças
mediante a concordância
do grupo.
Orientação para as
necessidades físicas,
psicológicas e/ou materiais
dos outros.
Situações de cooperação
em rede.
Recapitular metas a alcançar.
Avaliar o esforço pessoal que
se fez.
Julgar a adequação dos meios
e vias para alcançar a meta.
Recordar as regras.
Descrever o plano.
Compreender as diferentes
necessidades de várias
pessoas ou figuras.
Descrição e pedido
de justificação de regras.
Tomada de consciência
das consequências do
incumprimento de regras.
Verbalização dos aspetos
emocionais de uma situação.
122
Repensar as TIC na educação
noção do valor próprio, como é o caso da exposição às TIC. A auto-
nomia e o sentimento de competência são promovidos quando se
proporcionam oportunidades de construção de uma autoestima
positiva a partir do respeito pela individualidade e do interesse pelas
suas aquisições. As atividades em que os alunos se envolvem devem
contribuir para a estimulação da sua capacidade de dar atenção a
detalhes e de resolver problemas. Os jogos de memória também se
revelam estimulantes. O modo de representação preferencial é o
icónico e, como tal, é crucial que a criança aprenda a descodificar e
compreender a informação pictórica. Em paralelo, importa criar
oportunidades de expressão da linguagem oral e escrita, recetiva e
expressiva, bem como outras formas de expressão, como a gráfica,
a plástica e a corporal. Esta altura da escolaridade é crucial para
começarem a pensar sobre os seus valores, atitudes e competên-
cias, expressar os seus sentimentos e compreender e controlar as
suas emoções. As suas limitações cognitivas devem ser respeitadas.
O ALUNO DO 2.º CICLO
Ao longo desta etapa a criança desenvolve uma consciência
cada vez mais clara de si, dos outros e do mundo, o que lhe permite
compreender conceitos e factos complexos, adotar a perspetiva dos
outros e agir de acordo com o que se espera de si. A descentração
do egocentrismo típico da fase anterior permite-lhe o acesso ao
raciocínio lógico e reversível e a antecipação de transformações
sobre os objetos e consequências de situações. É capaz de coor-
denar ações de combinação, dissociação, ordenação e correspon-
dência entre objetos. Esta aquisição permite-lhe realizar classifica-
ções, seriações, matrizes multiplicativas, árvores genealógicas e
123
APÊNDICE I — O que podem aprender os alunos: uma perspetiva desenvolvimentista
correspondências, bem como interiorizar noções de reversibili-
dade por inversão ou por reciprocidade. No entanto, estas opera-
ções ainda se restringem aos conteúdos sobre os quais agem e
não se generalizam para outras situações nem se coordenam em
todos estruturados. O conhecimento armazenado na memória a
longo prazo aumenta, possibilitando mais relações. Atribui o
sucesso ou o insucesso às suas capacidades pessoais, o que
influencia a sua vontade de aprender mais sobre si e sobre o mundo.
Já utiliza um modo de representação simbólico e começa a domi-
nar o código escrito. A consciência de si e das suas características
permite mobilizar um conjunto de técnicas e de estratégias adap-
tativas para regular e monitorizar a atenção e a memória, a apren-
dizagem, a resolução de problemas e as emoções. O acesso ao
pensamento lógico e à reversibilidade permite-lhe compreender a
intencionalidade dos atos que podem ter consequências distintas
e gerir situações sociais em função da tomada de perspetiva.
QUADRO 3
Aquisições e atividades que podem ser estimuladas
ao longo do 2.º Ciclo
ÁREA AQUISIÇÕES ATIVIDADES
Motora
Processamento
da informação
Destreza e coordenação
visual e motora.
Utilização espontânea
de estratégias e técnicas
de memória.
Emergência da
metamemória.
Diferentes níveis de
complexidade de
coordenação motora.
Associação de itens ou
ideias.
Análise de diferentes
estratégias de memorização
e de aprendizagem.
124
Repensar as TIC na educação
ÁREA AQUISIÇÕES ATIVIDADES
Processamento
da informação
RaciocínioCriatividadeLinguagem
Monitorização dos
processos de tratamento
da informação.
Aumento do conhecimento
armazenado na memoria
a longo prazo.
Operações complexas
embora persista a
incapacidade de considerar
mais que uma possibilidade
de solução.
Flexibilidade e imaginação
de possíveis.
A fantasia começa a
separar-se do concreto.
Aquisição sólida da estrutura
da língua, incluindo verbos
metalinguísticos e expressões
abstratas.
Compreensão e uso da
ambiguidade e do sarcasmo.
Capacidade para manter
conversas e compreender
textos escritos extensos.
Modelagem de estratégias
de autorregulação utilizadas
por diferentes personagens.
Mapas e redes conceptuais.
Resolução de problemas
complexos com múltiplas vias
e soluções.
Encontrar múltiplas ideias
e soluções.
Avaliar a exequibilidade
de soluções divergentes
para resolver problemas
reais.
Aplicação de termos
abstratos como «inferir»,
«concluir» ou «acreditar».
Compreensão do segundo
sentido de palavras e frases
(e.g., fazer corresponder
imagens diferentes para
uma expressão ambígua ou
metafórica).
Utilização de textos escritos
ou orais longos.
125
APÊNDICE I — O que podem aprender os alunos: uma perspetiva desenvolvimentista
ÁREA AQUISIÇÕES ATIVIDADES
Representação gráficaSocioemocionalJogo socialMoral
Realismo visual e não
fotográfico, respeitando o
ponto de vista do observador
e representação de muitos
detalhes.
Descoberta do plano e da
tridimensionalidade.
Expressão do sentimento.
Reavaliação da sua
competência.
Capacidade de autorreflexão
colocando-se na perspetiva
do outro e compreendendo-o,
reconhecendo que os outros
podem fazer o mesmo.
Medo de testes, exames,
resultados escolares e da sua
aparência física.
Jogo pelo prazer da disputa,
de acordo com as regras, que
não são fixas e dispõem de
possibilidade de mudanças,
decididas pelo grupo.
Compreensão da
intencionalidade dos
atos que podem ter
consequências distintas.
Análise detalhada de
imagens.
Mostrar vistas de objetos
tridimensionais e fazê-las
corresponder a objetos.
Analisar a expressividade de
obras contemporâneas.
Avaliar obras de acordo com
múltiplos critérios e dimensões.
Refletir sobre diferentes
estados emocionais
provocados por situações
quotidianas.
Mostrar os benefícios dos
erros (e.g., para passar para
outro jogo é necessário
emendar um erro típico).
Alterar regras em conjunto.
Confronto com pequenos
dilemas morais a partir de
casos plausíveis ou análise de
provérbios.
126
Repensar as TIC na educação
A criação de oportunidades de expressão natural sem cons-
trangimentos veiculando a ideia de que as produções de ideias ou
criativas não possuem uma versão correta favorece a autonomia e
a competência na compreensão de diferentes ângulos das situa-
ções que se ganha nesta fase. Interessa, através das TIC, fomentar
mais a produção do que a resposta correta. Nas situações em que
há apenas uma solução plausível, é importante incentivar a ideia
de que existem vários caminhos para chegar ao resultado. A aná-
lise dos erros também sem juízos de valor deve ser incentivada.
A tomada de perspetiva e atribuição de causas e de efeitos tam-
bém constituem estímulos ao desenvolvimento, quer incidam
sobre objetos físicos quer sobre situações sociais.
O ALUNO DO 3.º CICLO E DO SECUNDÁRIO
A entrada na adolescência caracteriza-se por mudanças ao
nível físico, cognitivo, emocional e social e traz consigo a procura
da independência. No início surge frequentemente um desfasa-
mento entre a segurança sentida pela criança e a autonomia
adulta. A aquisição da estrutura operatória formal caracteriza-se
pela formulação de hipóteses, pela planificação, pela sistematiza-
ção e pela abstração. O acesso a este tipo de pensamento
envolve o raciocínio hipotético-dedutivo e científico e permite a
manipulação simultânea e coordenação de variáveis (probabilida-
des, combinatória, derivação de princípios lógicos) e de represen-
tações mentais (conceitos, imagens, esquemas e scripts). A utili-
zação de algoritmos (regras ou procedimentos metódicos e
lógicos que garantem a resolução de um problema particular) e
de heurísticas (estratégias simples que permitem julgamentos e
127
APÊNDICE I — O que podem aprender os alunos: uma perspetiva desenvolvimentista
resolução eficaz de problemas, mais rápidas, mas menos fiáveis
do que os algoritmos) também se consegue nesta etapa.
QUADRO 4
Aquisições e atividades que podem ser estimuladas
ao longo do 3.º Ciclo e do ensino secundário
ÁREA AQUISIÇÕES ATIVIDADES
Motora
Processamento
da informação
RaciocínioCriatividade
Destreza e coordenação
visual e motora idênticas
à do adulto (o que difere
é a persistência e motivação
para o treino).
Acesso à metacognição.
Acesso ao pensamento
operatório formal que
envolve o raciocínio
hipotético-dedutivo
e científico.
Manipulação de
representações mentais.
Produção de ideias criativas,
adequadas, inovadoras
e originais.
Treino deliberado da destreza
e coordenação.
Situações que exijam
monitorização constante
dos passos e decisões
anteriores.
Descoberta de problemas
e de soluções possíveis
através da manipulação
e coordenação de
múltiplas variáveis
e critérios.
Utilização de redes
de conceitos, imagens,
esquemas e scripts.
Inventar problemas
e soluções através
da ideação criativa
e consequente avaliação
da sua adequação.
128
Repensar as TIC na educação
ÁREA AQUISIÇÕES ATIVIDADES
LinguagemRepresentação gráficaSocioemocional
Vocabulário ilimitado
e sintaxe elaborada.
Usa linguagem elaborada
com fins de persuasão
e negociação.
Escrita formal com utilização
de palavras eruditas.
Criação de um mundo
simbólico.
Acuidade e pormenor na
produção gráfica.
Autoconceito formado.
Tolerância às emoções
voláteis.
Integração num grupo de
pares.
Aprendizagem e vivência
da estrutura de um grupo
social, com padrões
de dominância, normas
e expectativas.
Análise de provérbios
e citações.
Simulação de situações
de persuasão.
Escrita criativa.
Análise de símbolos em
obras artísticas.
Programas informáticos
que permitam jogar
com perspetiva, luz,
sombra, profundidade,
textura.
Familiarização com
biografias de pessoas
que superaram as
limitações da infância
e adolescência.
Situações que exijam
controlo emocional.
Resolução de dilemas em
que o esforço do grupo é a
chave da superação.
Observação de
funcionamento de grupos
sociais envolvidos em
atividades.
129
APÊNDICE I — O que podem aprender os alunos: uma perspetiva desenvolvimentista
ÁREA AQUISIÇÕES ATIVIDADES
Moral
Tomada de perspetiva do
outro (empatia), preocupação
com questões de humanidade,
e/ou afeto relativo às
consequências das próprias
ações.
Discussão sobre problemas
éticos e morais.
Embora o adolescente seja capaz de pensar em termos
abstratos sobre tudo, torna-se egocêntrico por se fascinar tanto
com a sua pessoa enquanto objeto de reflexão e de compreen-
são. O adolescente possui um sentido mais coerente de si e
alarga os seus horizontes aprofundando temas que lhe interes-
sam e que o preocupam relativamente ao mundo do conheci-
mento. As suas preocupações também se centram nas mudan-
ças físicas que ocorrem ao longo deste período e no modo como
se vê a si próprio e como os outros o veem, no significado que o
meio externo tem e no papel que nele desempenha. Experi-
menta diferentes papéis para responder às grandes questões da
identidade pessoal: Quem é? O que é? Para onde vai? Uma
forma de superar o egocentrismo típico deste período são as
oportunidades de descentração através da assunção de diversos
papéis, exposição a diferentes pontos de vista e a materiais e
problemas que estimulem o raciocínio hipotético-dedutivo e
imaginação. O contacto com diferentes formas de olhar para
temas da atualidade e o debate de ideias sem imposição de
perspetivas e com reforço das tentativas de relativização auxiliam
a descentração e a consciência de valores éticos. Por seu turno,
o treino dos processos de monitorização e controlo dos proces-
sos cognitivos e metacognitivos também constituem uma área
de intervenção educacional e ajudam o adolescente a investir
130
Repensar as TIC na educação
nos seus pontos fortes. A possibilidade de expressão bem como
o sentimento de que é ouvido e apreciado constituem eixos
estruturantes do desenvolvimento.
Em jeito de síntese
Incluir o que potencia a aprendizagem e o desenvolvimento
na conceção e implementação de aplicações ligadas às TIC,
aumenta a probabilidade da sua eficácia, tanto mais se esta for
avaliada em função das dimensões cognitivas (conhecimento,
resolução de problemas e criatividade), mas também motivacio-
nais, afetivas, sociais e morais. Em termos gerais, uma aplicação
informática é adequada quando desenvolve várias áreas e esti-
mula múltiplas aquisições. Esta avaliação deve ser realizada tendo
em conta indicadores quantitativos, que podem passar pelo
número de respostas adequadas ou níveis conseguidos, mas tam-
bém qualitativos, que se prendem com as verbalizações feitas
pelos alunos, a flexibilidade na resolução de problemas ou o grau
de envolvimento dos alunos na atividade.
REFERÊNCIAS E SUGESTÕES DE LEITURA
Bahia, S. e JanEiro, I. (2008). Avaliação da eficácia das intervenções educacionais em
museus: uma proposta teórica. International Journal of Developmental and
Educational Psychology, 1 (3), pp. 35-42
BrunEr, J. (1960). The Process of Education. Cambridge, Mass.: Harvard University
Press.
Havighurst, R. J. (1971). Developmental Tasks and Education. (3rd Ed.). New York:
McGraw-Hill.
NEwMan, B. M., e NEwMan, P. R. (2009). Development through life: A psychosocial
approach (10th edition) . Belmont, CA: Cengage/Wadsworth.
Papalia, D. E.; Olds, S. W. e FEldMan, R. D. (2009). Human development (11th Ed.).
New York: McGraw-Hill.
131
APÊNDICE I — O que podem aprender os alunos: uma perspetiva desenvolvimentista
PiagEt, J. (1971). O nascimento da inteligência na criança. Lisboa: Codex.
PiagEt, J. (1977). O desenvolvimento do pensamento: equilibração das estruturas
cognitivas. Lisboa: D. Quixote.
Santrock, J. W. (2008). Essentials of Life-Span Development. New York:
McGraw-Hill.
Spinillo, A. G. (1999). As relações entre aprendizagem e desenvolvimento discutidas
a partir de pesquisas de intervenção. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 51(1),
pp. 55-74.
UhlEndorFF, U. (2004). «The concept of Developmental Task and its Significance for
Education and Social Work», in Social Work and Society, 2(1), pp. 54-63.
Vygotsky, L. (1978). Mind in society: The development of higher psychological
processes. Cambridge, MA: Harvard University Press.
133
Apêndice II
QUADRO 1
Metas TIC para a educação pré-escolar
ÁREA METAS FINAIS
Informação
Meta Final 1)
No final da educação pré-escolar, a criança explora livremente
jogos e outras atividades lúdicas acedendo a programas
e a páginas da Internet a partir do ambiente de trabalho,
disponibilizadas pelo educador.
Meta Final 2)
No final da educação pré-escolar, a criança identifica informação
necessária em recursos digitais offline e online (jogos de
pares, de sinónimos e contrários, de cores e tamanhos, etc.),
disponibilizados pelo educador a partir do ambiente de trabalho.
Meta Final 3)
No final da educação pré-escolar, a criança categoriza e
agrupa informação em função de propriedades comuns
recorrendo a fontes offline e online disponibilizadas pelo
educador a partir do ambiente de trabalho.
134
Repensar as TIC na educação
ÁREA METAS FINAIS
ComunicaçãoProduçãoSegurança
Meta Final 4)
No final da educação pré-escolar, a criança identifica as
tecnologias como meios que favorecem a comunicação e
o fortalecimento de relações de reciprocidade com outras
pessoas (família/escola; comunidade/escola; escola/escola).
Meta Final 5)
No final da educação pré-escolar, a criança interage com
outras pessoas utilizando ferramentas de comunicação em
rede, com assistência do educador.
Meta Final 6)
No final da educação pré-escolar, a criança representa
acontecimentos e experiências da vida quotidiana ou
situações imaginadas, usando, com o apoio do educador,
ferramentas digitais que permitam inserir imagens, palavras
e sons.
Meta Final 7)
No final da educação pré-escolar, a criança utiliza as
funcionalidades básicas de algumas ferramentas digitais
(e.g., programas de desenho) como forma de expressão livre.
Meta Final 8)
No final da educação pré-escolar, a criança participa na
definição de regras, comportamentos e atitudes a adotar
relativamente ao uso dos equipamentos e ferramentas
digitais, incluindo regras de respeito pelo trabalho dos
outros.
Meta Final 9)
No final da educação pré-escolar, a criança cuida
e responsabiliza-se pela utilização de equipamentos
e ferramentas digitais, observando as normas elementares
de segurança definidas em grupo (e.g., ligar/desligar
o computador; ter cuidado com as tomadas).
135
APÊNDICE II
QUADRO 2
Metas TIC para o 1.º Ciclo
ÁREA METAS FINAIS METAS INTERMÉDIAS ATÉ AO 4.º ANO
Informação
Meta Final 1)
O aluno utiliza
recursos digitais
online e offline
para pesquisar,
selecionar e tratar
a informação,
de acordo com
os objetivos
definidos e as
orientações
fornecidas pelo
professor.
O aluno reconhece diferentes
ferramentas digitais de acesso
à informação (dicionários digitais,
enciclopédias digitais, motores
de busca online, etc.) e identifica,
com o apoio do professor,
as características de cada uma
delas.
O aluno prepara e realiza pesquisas
digitais em endereços de Internet
fornecidos, motores de busca
online e fontes offline definindo
previamente com o professor
as ferramentas e as palavras-chave
a utilizar.
O aluno seleciona, com o apoio do
professor, a informação resultante
de pesquisas digitais identificando
as ideias centrais do conteúdo
e verificando a sua pertinência face aos
objetivos da pesquisa.
O aluno classifica e organiza, em
conjunto com o professor, a informação
selecionada recorrendo a ferramentas
digitais adequadas (programas de
gráficos e/ou de desenho, ferramentas
para criação de mapas conceptuais,
etc.).
136
Repensar as TIC na educação
ÁREA METAS FINAIS METAS INTERMÉDIAS ATÉ AO 4.º ANO
ComunicaçãoProdução
Meta Final 2)
O aluno comunica
e interage com
outras pessoas
usando, com
o apoio do
professor,
ferramentas
de comunicação
síncrona e
assíncrona e
respeitando as
regras de conduta
subjacentes.
Meta Final 3)
O aluno
desenvolve,
com o apoio
e orientação
do professor,
trabalhos
escolares com
recurso
a ferramentas
digitais
fornecidas,
O aluno reconhece diferentes
ferramentas de comunicação síncrona
e assíncrona (programas de mensagens
instantâneas, voz por IP, correio
eletrónico) e identifica, com o apoio
do professor, as características de cada
uma delas.
O aluno comunica, sob orientação do
professor, com outras pessoas utilizando
as funcionalidades elementares das
ferramentas de comunicação escolhidas
e com respeito pelas regras de conduta
subjacentes.
O aluno interage e colabora com outras
pessoas partilhando, sob orientação do
professor, ideias e trabalhos em espaços
online previamente concebidos para
o efeito (páginas Web de projetos, blog
de turma, etc.).
O aluno reconhece, com o apoio do
professor, as características de diferentes
ferramentas digitais (processador de
texto, programas de apresentações
eletrónicas, programas de desenho,
etc.).
O aluno cria, sob orientação do
professor, documentos digitais simples
(mapas de ideias, textos, relatos,
apresentações eletrónicas, desenhos,
etc.), como resultado de tarefas de
aprendizagem.
137
APÊNDICE II
ÁREA METAS FINAIS METAS INTERMÉDIAS ATÉ AO 4.º ANO
ProduçãoSegurança
para representar
conhecimentos,
ideias e
sentimentos.
Meta Final 4)
O aluno adota
comportamentos
elementares de
segurança na
utilização das
ferramentas
digitais
fornecidas,
respeitando os
direitos de autor.
O aluno cria documentos digitais
originais para exprimir ideias, emoções e
sentimentos utilizando as diferentes
funcionalidades das ferramentas de
desenho livre e produção de texto.
O aluno reconhece, com a ajuda do
professor, a existência de perigos na
utilização de ferramentas digitais (para
o utilizador e para os equipamentos) e
adota comportamentos de segurança.
O aluno identifica, com o apoio do
professor, a autoria da informação
disponibilizada nas fontes eletrónicas
consultadas.
O aluno assume comportamentos que
respeitam as regras de conduta online
(«Netiqueta») e as normas de utilização
subjacentes a cada ferramenta digital.
QUADRO 3
Metas TIC para o 2.º Ciclo
ÁREA METAS FINAIS METAS INTERMÉDIAS ATÉ AO 6.º ANO
Informação
Meta Final 1)
O aluno utiliza
recursos digitais
online e offline
para, com o apoio
do professor,
pesquisar,
O aluno reconhece diferentes
ferramentas digitais de acesso à
informação (enciclopédias digitais,
diretórios, motores de busca online,
etc.) e seleciona, sob orientação do
professor, as mais adequadas à sua
pesquisa.
138
Repensar as TIC na educação
ÁREA METAS FINAIS METAS INTERMÉDIAS ATÉ AO 6.º ANO
InformaçãoComunicação
selecionar e tratar
informação,
de acordo
com objetivos
concretos
e com critérios
de qualidade
e pertinência.
Meta Final 2)
O aluno comunica,
interage e
colabora com
outras pessoas
usando
ferramentas e
ambientes de
comunicação em
rede, selecionados
com o apoio do
professor, como
O aluno prepara e realiza, com o apoio
do professor, pesquisas digitais online
e offline, com base em palavras-chave
adequadas aos objetivos previamente
definidos.
O aluno reconhece diferentes
ferramentas digitais de comunicação
(correio eletrónico, serviços de
mensagens instantâneas, etc.) e
seleciona, sob orientação do professor,
as mais adequadas a diferentes
situações de comunicação.
O aluno comunica com outras pessoas,
utilizando as várias funcionalidades do
correio eletrónico e de programas de
mensagens instantâneas, com respeito
pelas regras de conduta subjacentes.
O aluno seleciona, com o apoio do
professor, informação resultante de
pesquisas digitais verificando a
qualidade da informação (autoridade,
rigor, objetividade, etc.) e identificando
a sua pertinência face aos objetivos
definidos para a pesquisa.
O aluno classifica e organiza a informação
selecionada, recorrendo a ferramentas
digitais adequadas (programas de
gráficos, bases de dados, ferramentas
de criação de mapas conceptuais, etc.),
de acordo com categorias definidas em
conjunto com o professor.
139
APÊNDICE II
ÁREA METAS FINAIS METAS INTERMÉDIAS ATÉ AO 6.º ANO
ComunicaçãoProdução
estratégia de
aprendizagem
individual
e coletiva.
Meta Final 3)
O aluno concebe
e desenvolve,
com orientação e
apoio do professor,
trabalhos escolares,
recorrendo a
diferentes
ferramentas
digitais, para
exprimir e
representar
conhecimentos,
ideias e
sentimentos.
O aluno interage e colabora com outras
pessoas em ambientes online propostos
pelo professor (plataformas de
aprendizagem, blog, etc.) e utiliza as
ferramentas de comunicação disponíveis
com respeito pelas regras de conduta
subjacentes.
O aluno reconhece diferentes
ferramentas digitais de produtividade
pessoal (processador de texto,
programas de apresentação eletrónica,
etc.) e, sob orientação do professor,
seleciona-as de acordo com o tipo de
documento a produzir.
O aluno cria, com o apoio do professor,
documentos digitais diversificados
(esquemas, mapas de ideias,
relatórios escritos, apresentações
eletrónicas, blog, wikis, etc.),
adequados a diferentes finalidades,
como resultado de tarefas de
aprendizagem.
O aluno cria documentos digitais
originais, delineados em conjunto com o
professor, para exprimir conhecimentos,
ideias, emoções e sentimentos,
utilizando ferramentas que permitam a
edição de texto, imagem, som e vídeo
(programas de desenho e de tratamento
de imagem, ferramentas de áudio e de
vídeo, etc.).
140
Repensar as TIC na educação
ÁREA METAS FINAIS METAS INTERMÉDIAS ATÉ AO 6.º ANO
Comunicação
Meta Final 4)
O aluno adota
comportamentos
seguros, respeita
direitos de autor
e de propriedade
intelectual e
observa normas
de conduta na
utilização de
ambientes digitais
online.
O aluno reconhece a existência de
perigos na utilização de ferramentas
digitais (para o utilizador e para os
equipamentos) e assume comportamentos
responsáveis de segurança.
O aluno respeita os direitos de autor e a
propriedade intelectual da informação
disponibilizada em fontes eletrónicas.
O aluno assume comportamentos que
respeitam as regras de conduta online
e as normas de funcionamento
subjacentes a cada ambiente digital.
QUADRO 4
Metas TIC para o 3.º Ciclo
ÁREA METAS FINAIS METAS INTERMÉDIAS ATÉ AO 9.º ANO
Informação
Meta Final 1)
O aluno utiliza
recursos digitais
online e offline
para pesquisar,
selecionar e tratar
informação de
acordo com
objetivos
concretos,
decorrentes de
questões e
problemas
O aluno reconhece as potencialidades
e os constrangimentos das várias
ferramentas digitais de acesso à
informação (enciclopédias digitais, bases
de dados, diretórios, motores de busca
online, etc.,) e seleciona as mais adequadas
para diferentes tipos de pesquisa.
O aluno prepara e realiza pesquisas
digitais online e offline em função
de objetivos concretos, decorrentes
de questões e problemas previamente
identificados, utilizando critérios
de pesquisa avançada.
141
APÊNDICE II
ÁREA METAS FINAIS METAS INTERMÉDIAS ATÉ AO 9.º ANO
InformaçãoComunicação
previamente
identificados,
e com critérios
de qualidade
e pertinência.
Meta Final 2)
O aluno comunica,
interage e colabora
usando ferramentas
e ambientes de
comunicação em
rede, selecionados
de acordo com
as respetivas
potencialidades e
constrangimentos,
como estratégia
de aprendizagem
individual e
coletiva.
O aluno seleciona informação resultante
de pesquisas digitais analisando as
páginas de resultados obtidas,
verificando a qualidade da informação
(autoridade, rigor, objetividade, etc.)
e identificando a sua pertinência face
aos objetivos definidos para
a pesquisa.
O aluno reconhece as potencialidades e
os constrangimentos das várias
ferramentas digitais de comunicação
(correio eletrónico, serviços de
mensagens instantâneas, fóruns de
discussão, videoconferência, etc.) e
seleciona as ferramentas mais
adequadas a diferentes situações de
comunicação.
O aluno comunica com outras pessoas
recorrendo a ferramentas digitais de
comunicação síncrona e assíncrona
(através de texto, áudio e vídeo), com
respeito pelas regras de conduta
subjacentes.
O aluno classifica, categoriza e organiza
a informação selecionada recorrendo
a ferramentas digitais adequadas,
tais como programas de gráficos,
bases de dados, ferramentas
de criação de mapas conceptuais,
sistemas de gestão de informação
online, etc.
142
Repensar as TIC na educação
ÁREA METAS FINAIS METAS INTERMÉDIAS ATÉ AO 9.º ANO
ComunicaçãoProdução
Meta Final 3)
O aluno concebe
e desenvolve
trabalhos
escolares com
recurso a
diferentes
ferramentas
digitais, e cria
documentos
originais que
exprimam e
representem
conhecimentos,
ideias e
sentimentos.
O aluno interage e colabora com outras
pessoas em ambientes online (plataformas
de aprendizagem, grupos de discussão,
redes sociais, blog, etc.), que seleciona
em função de objetivos previamente
definidos, e utiliza as ferramentas de
comunicação disponíveis com respeito
pelas regras de conduta subjacentes.
O aluno reconhece as potencialidades
e os constrangimentos das várias
ferramentas digitais de produtividade
pessoal (processador de texto, programas
de apresentação eletrónica, folha de
cálculo, etc.) e seleciona-as de acordo
com o tipo de documento a produzir.
O aluno cria documentos digitais
diversificados (esquemas e mapas de
ideias, relatórios escritos, apresentações
eletrónicas, vídeos, blog, wikis,
podcasts, hiperdocumentos, etc.),
adequados a diferentes finalidades,
contextos e públicos, como resultado
de tarefas de aprendizagem.
O aluno cria documentos digitais
originais para exprimir conhecimentos,
ideias, emoções e sentimentos utilizando
ferramentas que permitam a criação
e/ou edição de texto, imagem, som e
vídeo (programas de desenho e de
tratamento de imagem, ferramentas de
áudio e de vídeo, sistemas-autor, etc.).
143
APÊNDICE II
ÁREA METAS FINAIS METAS INTERMÉDIAS ATÉ AO 9.º ANO
Segurança
Meta Final 4)
O aluno adota
comportamentos
seguros, respeita
direitos de autor
e de propriedade
intelectual, e
observa normas
de conduta na
utilização de
ambientes digitais
online.
O aluno reconhece a existência de
perigos na utilização de ferramentas
digitais (para o utilizador e para os
equipamentos), assume
comportamentos responsáveis de
segurança e certifica-se da existência de
medidas técnicas de proteção (antivírus,
antispyware, etc.).
O aluno respeita os direitos de autor e a
propriedade intelectual da informação
disponibilizada em fontes eletrónicas.
O aluno assume comportamentos que
respeitam as regras de conduta online
e offline e as normas de funcionamento
de cada ambiente digital.