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Análise das interações sociais entre pais e professores de alunos com multideficiência num ambiente virtual de aprendizagem

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Resumo: O presente estudo analisa as relações de afiliação estabelecidas entre os utilizadores de um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) constituído por pais e professores de alunos com multideficiência. Esse ambiente virtual procurou promover a interação e a partilha de experiências no domínio da multideficiência. O principal objetivo do artigo é estudar as características e a magnitude das relações de amizade estabelecidas no interior deste ambiente virtual, recorrendo para tal a métodos de análise de redes sociais (Social Network Analysis). Os resultados apresentados decorrem da recolha de dados existentes nas páginas pessoais dos participantes no estudo. Esses dados foram investigados tendo por base uma perspetiva essencialmente sociocêntrica, o que implicou uma pesquisa estrutural do grupo que esteve em interação durante oito meses. A densidade da rede fundada, o seu nível de centralidade, o grau de inclusividade, os participantes que se evidenciaram como mais influentes e com maior prestígio na rede, bem como os subgrupos que se identificaram no seu interior constituíram os indicadores analisados. Os resultados encontrados permitem afirmar que o ambiente virtual criado se relevou favorável à criação de relações afiliativas ou pro-sociais entre os participantes, sendo que teve maior impacto junto dos professores do que dos pais. Infere-se que as relações estabelecidas entre os participantes terão efeitos favoráveis na comunicação e na partilha de informação. Ainda que a extensão das interações estabelecidas entre os participantes não tenha sido muito elevada, particularmente entre os pais, entende-se que o projeto estudado se apresenta como inovador ao colocar em relação online elementos fundamentais ao desenvolvimento de crianças e jovens com multideficiência: os seus pais e os seus professores. Palavras-chave: análise de redes sociais, ambientes virtuais de aprendizagem, multideficiência, relações afiliativas, pais, professores.
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Educação,Formação&Tecnologias(dezembro,2012),5(2),2542
Submetido:maio2012/Aprovado:setembro,2012
RevistaEFT:http://eft.educom.pt
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Análise das interações sociais entre pais e professores de alunos com multideficiência
num ambiente virtual de aprendizagem
CLARISSE NUNES
Escola Superior de Educação de Lisboa do Instituto Politécnico de Lisboa
clarisse@eselx.ipl.pt
NEUZA PEDRO
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa
nspedro@ie.ul.pt
Resumo: O presente estudo analisa as relações de afiliação estabelecidas entre os
utilizadores de um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) constituído por pais
e professores de alunos com multideficiência. Esse ambiente virtual procurou
promover a interação e a partilha de experiências no domínio da multideficiência.
O principal objetivo do artigo é estudar as características e a magnitude das
relações de amizade estabelecidas no interior deste ambiente virtual, recorrendo
para tal a métodos de análise de redes sociais (Social Network Analysis).
Os resultados apresentados decorrem da recolha de dados existentes nas páginas
pessoais dos participantes no estudo. Esses dados foram investigados tendo por
base uma perspetiva essencialmente sociocêntrica, o que implicou uma pesquisa
estrutural do grupo que esteve em interação durante oito meses. A densidade da
rede fundada, o seu nível de centralidade, o grau de inclusividade, os participantes
que se evidenciaram como mais influentes e com maior prestígio na rede, bem
como os subgrupos que se identificaram no seu interior constituíram os
indicadores analisados.
Os resultados encontrados permitem afirmar que o ambiente virtual criado se
relevou favorável à criação de relações afiliativas ou pro-sociais entre os
participantes, sendo que teve maior impacto junto dos professores do que dos pais.
Infere-se que as relações estabelecidas entre os participantes terão efeitos
favoráveis na comunicação e na partilha de informação. Ainda que a extensão das
interações estabelecidas entre os participantes não tenha sido muito elevada,
particularmente entre os pais, entende-se que o projeto estudado se apresenta como
inovador ao colocar em relação online elementos fundamentais ao
desenvolvimento de crianças e jovens com multideficiência: os seus pais e os seus
professores.
Palavras-chave: análise de redes sociais, ambientes virtuais de aprendizagem,
multideficiência, relações afiliativas, pais, professores.
1. INTRODUÇÃO
Estudos realizados na área das Necessidades Educativas Especiais
(NEE) conduziram à opção pela Escola Inclusiva. Em Portugal,
particularmente a partir de 2008 com a publicação do Decreto-Lei n.º3 de
7/01, a possibilidade de se encaminhar alunos com NEE para instituições
de ensino especial deixou de ser praticável, incluindo as crianças e os
jovens com multideficiência. Esta legislação impele as escolas à
organização de estruturas que respondam com qualidade às necessidades
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destes alunos, já que as múltiplas e complexas limitações que apresentam,
torna-os muito dependentes de terceiros para a concretização da maioria
das atividades do dia-a-dia (Hostyn & Maes, 2009). Por outro lado, a atual
sociedade é sustentada, cada vez mais, por redes de comunicação,
suportadas por um conjunto de ferramentas tecnológicas online, das quais
se destaca as da Web 2.01. Estas ferramentas estão associadas a muitas das
atividades que se desenvolvem no quotidiano, mormente situações lúdicas,
de aprendizagem, de comunicação e de interação social.
É neste contexto de desenvolvimento de relações sociais suportadas
por ambientes digitais, que emerge o presente estudo organizado em torno
das vantagens que os mesmos podem evidenciar na promoção das relações
afiliativas entre professores e famílias de crianças e jovens com
multideficiência. A questão central é a de saber como é que a conceção e o
desenvolvimento de um AVA, suportado em ferramentas da Web 2.0, pode
contribuir para diminuir o isolamento psicossocial em que, muitas vezes,
esses pais e professores se encontram.
Pais e professores de crianças e jovens com multideficiência:
dificuldades comuns
Nas últimas décadas, tem-se observado evoluções no que à educação
de alunos com deficiência diz respeito, traduzindo-se em novas e mais
amplas conceções sobre a deficiência que se alargam para além das
alterações estruturais do indivíduo. A nomenclatura proposta pela
Organização Mundial de Saúde em 2001 estuda as questões da
classificação de indivíduos com algum tipo de doença ou deficiência e
perspetiva essa análise em três níveis distintos: estrutura, atividade e
participação. Esta proposta possibilita uma nova forma de olhar para estas
1 Termo atribuído a Tim O’Reilly em 2004. Implica o desenvolvimento de aplicativos que
utilizam a rede como uma plataforma, a qual permite aos utilizadores partilharem,
comunicarem, criarem, elaborarem e publicarem conteúdos online – enfim, colaborarem
na Web (Coutinho, 2008; Downes, 2006). Possibilita ainda a conversação através de
vários formatos (áudio, palavras, imagens, vídeo, etc.) e comporta-se como uma rede,
sendo frequentemente designada como Web Social.
pessoas, procurando considerá-las no seio do seu meio social e avaliar a
sua capacidade de neste atuarem e de participarem ativamente.
Considerando as pessoas com deficiência, as que apresentam
multideficiência são caracterizadas por Vlaskamp e van der Putten (2009)
como as que apresentam limitações profundas a nível intelectual,
associadas a dificuldades a nível motor e sensorial. Este grupo de sujeitos
constitui um grupo heterogéneo com necessidades de aprendizagem
singulares, em virtude das combinações de acentuadas limitações que
apresentam nos diversos domínios. Essas limitações condicionam o seu
desenvolvimento e funcionamento “… levando-os a experimentar graves
dificuldades no processo de aprendizagem e na participação nos diversos
contextos em que estão inseridos: educativo, familiar e comunitário”
(Nunes, 2008, p.9). A severidade e a extensão das limitações apresentadas
levam a que sejam “um grupo muito vulnerável com uma forte ou total
dependência em termos de apoio pessoal para a manutenção dos cuidados
de saúde física, educação, estimulação e recreação” (Vlaskamp & van der
Putten, 2009, p.874).
Conquanto a educação deste grupo de alunos tenha registado nos
últimos tempos alterações positivas (Amaral & Gil, 2008) continuam a ser
assinaláveis os reptos que se colocam aos profissionais que com eles lidam
(Amaral & Nunes, 2008; Nunes, 2001; 2008; Orelove & Sobsey, 1996),
bem como às respetivas famílias. Isto é, os pais de crianças e jovens com
multideficiência são também confrontados com inúmeras dificuldades, as
quais criam situações de stresse, o que os leva a necessitar de procurar
novos canais de informação, sendo que alguns recorrem cada vez mais à
Internet (Zaidman-Zait & Jamieson, 2007). De igual modo, e olhando
especificamente para os profissionais que com elas trabalham, constata-se
que estes enfrentam inúmeros desafios de ordem profissional, assinalando-
se com frequência dificuldades de criação de redes de trabalho e
sentimentos de isolamento profissional. Embora os professores
habitualmente trabalhem a pares em unidades de apoio especializado à
educação destes alunos, constitui um desafio relevante e uma necessidade
crescente a partilha de experiências com outros profissionais.
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Este grupo de profissionais tende a assinalar igualmente falta de
formação específica na área, o que pode constituir uma barreira a uma
educação de qualidade. A criação de redes de apoio é uma possibilidade de
operacionalizar essa troca e de permitir a acessibilidade a informação
particular sobre multideficiência, podendo constituir-se como momentos de
aprendizagem, nomeadamente, de cariz informal.
Ambientes online e redes sociais: novos espaços de comunicação e de
colaboração
As Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) hoje
disponíveis geram múltiplas potencialidades de utilização, criam novos
cenários e impulsionam ambientes (reais ou virtuais) estimuladores de uma
multiplicidade de experiências de interação social. Com a sua evolução
emergiram novos meios de comunicação, de lazer e entretenimento,
conduzindo a formas “proactivas de participação e de exercício da
cidadania e de alargamento de relacionamentos multiculturais” (Bottentuit
Júnior & Coutinho, 2007, p.273). Na verdade, Merkley, Schmidt, Dirksen e
Fulher (2006) salientam que além das formas tradicionais de comunicação
entre pais e professores, assentes em reuniões de pais, chamadas
telefónicas, envio de boletins semanais e/ou notas individuais, encontra-se
cada vez mais iniciativas escolares onde, para combater as
incompatibilidade de calendário, os professores começam a comunicar com
os pais através de emails, de aplicações online de comunicação, por
sistemas de videoconferência: “Web-based communications have emerged
as viable options to increase parent-teacher interaction and provide
school–based information in a timely and consistent manner” (p.12).
Torna-se, por isso, importante analisar as potencialidades destas
ferramentas, concentrando-nos, especificamente, no domínio da educação
de crianças e jovens com multideficiência.
Olhando para as aplicações e as ferramentas existentes na Web 2.0,
designadamente o Software Social, constata-se que nestas se incluem
programas que permitem aceder a uma quantidade imensa de informação,
produzi-la de forma colaborativa e partilhá-la, bem como relacionar-se com
pessoas de localizações geográficas muito distintas. A quantidade de
ferramentas do Software Social que possibilita a colaboração e a interação
orienta-nos para uma nova noção de aprendizagem. O Software Social
evidencia potencial para auxiliar a construção de conhecimento e o
desenvolvimento de competências específicas, através quer da utilização de
práticas educativas abertas e mais orientadas pelo utilizador, quer da
valorização das aprendizagens informais, fortemente apoiadas pelas
interações sociais. Os atuais artefactos tecnológicos permitem, portanto,
criar AVA onde as interações acontecem em espaços e não em lugares, e os
seus utilizadores são, para além de atores, co-construtores desse espaço
virtual, sendo de extrema relevância o conjunto de atividades nas quais
estes constroem e partilham objetos. Estes ambientes de aprendizagem
constituem um espaço socializante e integram uma multiplicidade de
ferramentas que: i) apoiam inúmeras funções: informar, comunicar,
colaborar, aprender e gerir e ii) permitem múltiplas abordagens
pedagógicas (Dillenbourg, 2000). Segundo Inácio (2006), um bom AVA
deve disponibilizar ferramentas que possibilitem o estabelecimento de
interações comunicativas síncronas e assíncronas entre os seus membros,
pois “as comunidades virtuais alimentam-se do fluxo, das interacções e das
relações humanas num meio on-line” (p.274).
Considerando este contexto, a quantidade de informação
presentemente disponível na Internet é vastíssima, porém é necessário
saber escolher a que é pertinente, o que nem sempre é fácil. Centrando nas
particularidades das crianças e jovens com multideficiência é importante
criar e disponibilizar recursos que permitam: i) partilhar informação de
qualidade com as suas famílias e com os profissionais que com elas
trabalham e ii) promover situações de interação e de relacionamento entre
as partes. As atuais ferramentas tecnológicas podem facilitar a interação
entre pais com experiências idênticas, pelo que podem ser um recurso
muito rico a nível de apoio emocional, podendo este assumir diversas
formas de comunicação online. Este recurso pode contribuir assim para
reduzir o sentimento de isolamento das famílias destas crianças e jovens
(Zaidman-Zait & Jamieson, 2007) e dos profissionais que com elas
trabalham.
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2. O PROJETO
A presente política educativa no domínio da educação especial em
Portugal propõe a possibilidade de os agrupamentos de escolas criarem
respostas específicas para alunos com significativas limitações ao nível da
atividade e participação, decorrentes de alterações funcionais e estruturais
de carácter permanente, inserindo-se neste grupo os alunos com
multideficiência. Atualmente existe uma rede nacional de unidades
situadas em escolas ou em agrupamentos de escolas, a qual pretende
concentrar recursos humanos e materiais que permitam disponibilizar uma
resposta educativa de qualidade a estes alunos. No ano letivo 2010/11
existiam cerca de 300 unidades no território nacional, distribuídas pelas
diversas Direções Regionais de Educação: Alentejo, Algarve, Centro,
Lisboa e Vale do Tejo e Norte. A maioria dos profissionais que
desenvolvia a sua prática educativa nestes contextos não convivia
frequentemente entre si e sentia naturais dificuldades na educação desses
alunos.
Neste contexto entendeu-se útil procurar compreender como é que o
uso de TIC, particularmente as ferramentas de software social, poderiam
auxiliar estes profissionais e os pais dos alunos com quem trabalhavam a
estabelecer mais interações entre si e a partilhar mais informações, no
sentido de diminuir o seu isolamento e a falta de informação especializada
sobre multideficiência. Donde, no âmbito de um projeto de doutoramento,
foi criado e dinamizado um Ambiente Virtual de Aprendizagem,
denominado “Multideficiência: pais e docentes em rede”
(http://www.multideficiencia.ning.com).
A investigação centra-se, assim na criação e na dinamização da rede
social2 online que funcionou durante oito meses (de novembro de 2010 a
julho de 2011). Nesse período, entre outros aspetos, foi possível os pais e
2 Uma rede social é constituída por uma estrutura social que contempla vários nós, os quais
normalmente representam indivíduos ou organizações que estabeleceram relações entre si,
decorrente da partilha específica de um ou mais tipos de interdependência (McLoughlin &
Lee, 2011).
os professores estabelecerem relações de afiliação entre si. O estudo em
causa focaliza-se apenas na análise desta dimensão relacional.
Objetivos da investigação
O objetivo deste artigo liga-se à análise da uma rede social constituída
entre um grupo de pais e de professores de crianças e jovens com
multideficiência, especificamente dos comportamentos afiliativos ou pro-
sociais estabelecidos entre os mesmos (Fujisawa, Kutsukake & Hasegawa,
2008), os quais, segundo Strayer (1992) visam atrair indivíduos entre si e
mantê-los ligados numa determinada unidade social de ligação. A rede
social em causa será analisada com base em métodos associados à Social
Network Analysis.
Deseja-se conhecer como é que as relações se estabeleceram no
interior da rede, recorrendo para tal a métodos de análise de redes sociais.
Procura-se pois perceber qual a densidade da rede constituída, qual o seu
nível de centralidade e grau de inclusividade, quais os participantes que se
evidenciaram como mais influentes e com maior prestígio no AVA, bem
como os subgrupos que se revelam possíveis de identificar no seu interior.
Em termos globais, pretende-se compreender como é que este grupo de
participantes usou o AVA para estabelecer interações e criar relações de
amizade entre si, ao mesmo tempo que se pretende estudar a presença e a
magnitude das relações sociais aí estabelecidas.
3. METODOLOGIA
Social Network Analysis como método de recolha, organização e análise
de dados
Uma das ferramentas que possibilita estudar as interações existentes
entre sujeitos e as interdependências verificadas nos seus comportamentos
é a Social Network Analysis ou Análise de Redes Sociais (ARS). A ARS
analisa principalmente as trocas relacionais existentes entre atores sociais
(individuais ou coletivos), não especificamente os seus atributos
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individuais, mas sobretudo as interações que criam e sustêm as suas
relações interpessoais (Garton, Haythornthwaite & Wellman, 1997).
Decorrente da associação entre a Sociometria e a Teoria Matemática
dos Grafos, a ARS veio estabelecer um novo paradigma de análise de
dados relacionais, tanto em termos conceptuais como metodológicos,
focando-se nos aspetos interacionais dos fenómenos sociais e dos padrões
de comportamento (Hirschi, 2010). Mais especificamente, enfatiza as
propriedades da rede, as quais são determinadas pelas conexões/relações
existentes entre os indivíduos que dela fazem parte (Pedro & Matos, 2009).
Wellman (2001) especifica que a ARS se centra na organização,
decomposição e análise de padrões relacionais estabelecidos entre
indivíduos, grupos, organizações e comunidades. Por conseguinte, os
estudos realizados com base nesta metodologia dedicam-se à descrição,
representação e análise de atributos que unem os elementos da rede,
pretendendo entender, explicar e inferir face aos comportamentos e atitudes
dos sujeitos de uma determinada rede.
Sendo a unidade base de análise as relações estabelecidas entre os
membros da rede, o seu estudo permite compreender os padrões de
conexão existente entre esses sujeitos e, consequentemente, definir a
estrutura da rede. Por exemplo, a rede pode ser altamente centralizada num
sujeito único ou estar organizada em pequenos grupos (Effken & Benham-
Hutchins, 2011). O desenvolvimento e a utilização de técnicas
sociométricas de análise de posicionamentos, conexões, papéis, influências
e fluxos de partilha de informação no interior da rede são, portanto, aspetos
sobre os quais esta metodologia incide (Garton, Haythornthwaite &
Wellman, 1997).
Assente em indicadores métricos decorrentes de algoritmos
habilmente criados e interpretados de forma cuidada, a ARS facilita a
identificação de informação importante para o estudo da interação e das
relações estabelecidas com base em situações de comunicação presencial e
em ambientes digitais de suporte a redes ou comunidades online. Neste
último caso podem ser analisadas comunicações que recorram a vários
tipos de recursos: texto, vídeos, áudio, imagens, etc., com vista, por
exemplo, à partilha de informação, discussão de temas, disponibilização de
apoio emocional e criação de relações de amizade online.
Velázquez e Aguilar (2005) mencionam que esta metodologia é
bastante útil na representação numérica de dados relacionais de carácter
qualitativo e constitui-se como uma metodologia adequada e útil, para além
de fiável, quando se deseja investigar a comunicação mediada pelas
tecnologias. Facilita ainda, o estudo de como a informação flui direta e
indiretamente através de redes, como os sujeitos adquirem informação e
como é que as conexões e as clivagens entre estes acontecem. Ao
examinar-se como é que os sujeitos na rede em análise se envolvem, fica
mais fácil compreender e explicar os seus comportamentos, escolhas e
atitudes (Garton, Haythornthwaite & Wellman 1997). A análise de
interações sociais criadas nos AVA tem despertado a atenção de
investigadores e aumentado o interesse em perceber como é que estas se
relacionam com os atores de redes sociais, tendo em vista a aprendizagem
(Fidalgo & Freitas; 2011; Minhoto & Meirinhos, 2011).
Diante de estudos de redes sociais, incluindo as constituídas online,
pode-se assumir dois tipos de abordagem: a sociocêntrica e a egocêntrica,
as quais providenciam informação diversificada e complementar. A
abordagem sociocêntrica foca-se na análise estrutural da comunidade social
em interação e a abordagem egocêntrica (individual) centra-se na posição
específica e no papel social que cada membro desempenha em função da
sua posição na rede (Scott, 2000). A abordagem egocêntrica é mais
comummente utilizada perante populações mais alargadas ou quando as
fronteiras em dada população são difíceis de estabelecer (Garton,
Haythornthwaite & Wellman, 1997).
Várias técnicas e medidas descritivas para análise deste tipo de redes
sociais têm sido desenvolvidas para ajudar a compreender a sua estrutura.
Em termos estruturais, a rede pode ser analisada através de indicadores
distintos, consoante os objetivos que se pretende alcançar. Tais indicadores
podem ser usados em ambos os tipos de abordagem (sociocêntrica e
egocêntrica), possibilitando perceber o grau de conetividade existente entre
os membros da rede. Informações estatísticas sobre a densidade, os índices
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de centralidade e as abordagens que possibilitam a deteção de subgrupos
existentes na rede são outras medidas da rede de cariz descritivo
consideradas fundamentais neste tipo de análise. Estas medidas
proporcionam informações relevantes relativamente à tipologia da rede
social, as quais, no entender de O’Malley e Marsden (2008), possibilitam a
criação de modelos.
A representação das conexões estabelecidas entre os diversos
membros da rede materializa-se com recurso ao uso de representações
gráficas, os sociogramas, os quais permitem mais facilmente compreender
essas ligações. Os sociogramas são normalmente resultantes da elaboração
de uma matriz na qual se introduz previamente a informação existente
sobre determinada unidade de análise.
Recorrendo a tal metodologia de organização de dados, o presente
estudo centra-se na análise dos laços sociais estabelecidos entre pais e
docentes de crianças e jovens com multideficiência (aqui entendidos como
atores da rede social), considerando uma dimensão bastante específica de
análise: os laços de afiliação efetivados no interior do AVA no qual ambos
os sujeitos participavam. Estes laços de afiliação eram materializados
através do envio de pedidos de amizade recorrendo à ferramenta “convidar
amigos”, pelo que foram aqui considerados como «relações de amizade».
Participantes e procedimentos
Assume-se como participantes neste estudo os 45 membros que
integraram o AVA designado “Multideficiência: Pais e docentes em rede”
(www.multideficiencia.ning.com). Este grupo de sujeitos era constituído
por 30 docentes que desenvolviam a sua prática pedagógica junto de alunos
com multideficiência que frequentavam unidades de apoio à sua educação,
nos contextos regulares de ensino, sendo 25 docentes da educação especial
e cinco professores do ensino regular. Dezasseis destes docentes
trabalhavam em áreas consideradas rurais e 14 em áreas urbanas. Os
restantes 15 participantes eram pais de alunos que frequentavam os
contextos educativos anteriormente referenciados, cujas idades oscilavam
entre os seis e os 18 anos. Este conjunto de participantes distribuía-se por
duas áreas distintas: rural e urbana, as quais se integravam na área
geográfica da responsabilidade da Direção Regional de Educação de
Lisboa e Vale do Tejo (DRELTV). Dos 15 pais, sete viviam em áreas
rurais e oito em áreas urbanas.
O moderador do AVA não foi considerado para a análise destes dados,
pelo facto de ter sido este que efetuou os convites para ingressar no
Ambiente Virtual e automaticamente se instituir como amigo de todos os
membros. Os 45 participantes no AVA foram informados que a sua
participação neste AVA se inseria numa investigação, tendo sido facultada,
pelos mesmos, autorização para que os dados contidos nesse espaço
pudessem ser analisados. A informação foi recolhida durante os oito meses
(correspondeu ao período de funcionamento do AVA) e incidiu sobre os
comportamentos afiliativos e pro-sociais estabelecidos entre este grupo de
participantes.
Desde o início do funcionamento do AVA que os 45 participantes
tinham à sua disposição um conjunto de ferramentas que lhes permitia
estabelecer laços afiliativos entre si, explicitamente expressos através do
envio de ‘Pedidos de Amizade’. Essa funcionalidade particular das redes
sociais permite aos utilizadores estabelecer entre si laços de amizade (de
ator para ator) sendo que para se tornarem efetivos requerem que o
utilizador que o recebeu aceite que a relação se estabeleça, tornando-os
amigos online. Bukowski, Pizzamiglio, Newcomb e Hoza, (1996) referem-
se à amizade como uma relação de vinculação específica baseada na
afeição e confiança mútua que implica trocas sociais mutuamente
satisfatórias, e a constituição de um terreno comum entre os indivíduos
envolvidos. As características sinalizadas pelos autores aplicam-se às
amizades constituídas tanto presencial como virtualmente. Foi sobre estas
relações afiliativas criadas e mantidas online, enquanto dados relacionais,
que o presente estudo se estruturou. Estes dados foram recolhidos ao longo
do tempo de funcionamento do AVA, observando-se as páginas pessoais
de cada um dos sujeitos participantes no estudo. Essa informação foi
posteriormente organizada em matrizes, onde os 45 participantes foram
simultaneamente dispostos em linha e em coluna. Quando existia uma
relação, neste caso de amizade, o investigador escrevia «1» no espaço
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correspondente à junção verificada entre dois atores. No caso de não se
registar qualquer relação entre dois atores escreveu-se «0» nesse espaço. O
mesmo é dizer que se construíram matrizes simétricas com dados binários
(0 ou 1), equivale a afirmar que se o ator «A1» se relacionou com «A15»,
«A15» também se conectou a «A1». Com o objetivo de tratar estes dados
relacionais e analisar as suas características estruturais recorreu-se a
métodos de análise de dados utilizados no campo da ARS, tendo sido
utilizados programas específicos para representação, tratamento e análise
dos dados relacionais recolhidos, especificamente, os programas UCINET3,
versão 6 e o NETDRAW4, versão 2.
Optou-se pela escolha destes dois programas por duas ordens de
razão: i) permitem não só armazenar os dados relacionais, como também
investigar as suas propriedades estruturais e ii) são considerados “um dos
mais eficazes nesta matéria” (Limieux & Ouimet, 2008, p.39). Estes
autores dizem ainda que em análise estrutural quando o número de atores é
algo elevado, são bastante relevantes os programas de tratamento e análise
de dados que se utilizam, pois estes possibilitam medir as propriedades
estruturais dos grafos.
4. RESULTADOS ENCONTRADOS
Nesta investigação optou-se por realizar uma análise essencialmente
sociocêntrica, o que implicou uma pesquisa estrutural do grupo que esteve
em interação durante os oito meses, considerando um conjunto de
indicadores específicos, tais como o volume de interações estabelecidas, a
densidade, a centralidade, a proximidade, a inclusividade, a intermediação,
e ainda a identificação de subgrupos no interior da rede (clusters). Como
forma de complementar as informações facultadas por tais indicadores,
procurou-se, em algumas situações, perceber qual a posição de alguns
elementos da rede social e o papel social por estes desempenhado. Estes
3 Ucinet for Windows: Software for Social Network Analysis. Harvard, MA: Analytic
Technologies (Borgatti, Everett & Freeman, 2002).
4 NetDraw © 2002-2011 inventado por Steve Borgatti. Netdraw Network Visualization.
Analytic Technologies: Harvard, MA, (Borgatti, 2002)
dados permitiram descrever algumas propriedades da rede, que passamos a
apresentar, com base nas estruturas sociométricas encontradas.
Volume das interações
O estudo do volume de interações estabelecidas entre os atores da rede
representa uma das propriedades mais básicas a considerar na sua análise.
Na rede em estudo estão representados os 45 membros, 15 pais e 30
docentes. Para uma melhor visualização do volume de interações
estabelecidas a nível dos pedidos de amizade efetuados por estes membros
recorreu-se à apresentação da seguinte representação gráfica em
sociograma patente na Figura 1.
FIGURA 1. Sociograma representativo dos pedidos de amizade efetuados na rede
social
Legenda: Cor: pais professores
Forma: região rural região urbana
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Cada ponto do sociograma (nó) representa um membro da rede. A
organização dos membros na rede é automaticamente feita com base no
número de interações recebidas por cada elemento, sendo colocado mais
perto do centro os atores que receberam mais pedidos de amizade.
A observação do sociograma da rede social em análise indica que se
está perante uma representação do tipo dendrítica, ou seja, com várias
ramificações e não organizada num todo em torno de um ‘core estrutural’
central, e onde se regista um volume substancial de células na matriz
sociométrica que representam a ausência de relações (sinalizadas com o
algarismo 0). Esta situação está, obviamente, visível no sociograma,
constatando-se ser reduzida a concentração de ligações entre estes
atores/nós. Apura-se que do volume total de 990 interações possíveis (no
caso de cada elemento se ligar a todos os outros elementos [n.(n-1)/2], se
registaram somente 216 conexões.
Se se focar a análise apenas nas conexões estabelecidas entre os
membros com estatuto de docentes, verifica-se que o volume de interações
se revela, em oposição, francamente mais elevado. Mais precisamente, do
volume total de 435 ligações possíveis registam-se 194 conexões.
Estudando antes as conexões estabelecidas unicamente entre os atores com
o estatuto de pais, reconhece-se que das 105 ligações possíveis se
concretizaram unicamente sete. A análise do sociograma indica ainda que
estes últimos ocupam uma posição mais periférica na rede.
Com vista ao aprofundamento das características da rede social
estabelecida na dimensão em estudo (relações de afiliação) procedeu-se a
uma análise estrutural e posicional da mesma, apreciando os seguintes
indicadores: densidade, inclusividade, centralidade e partilha, por se
considerar serem pertinentes para a compreensão das relações
estabelecidas. Segundo vários autores (Carrington, Scott & Wasserman,
2005; Scott, 2000) estes são alguns dos indicadores mais comummente
utilizados em análise de redes sociais.
Densidade
A densidade é considerada uma das medidas mais utilizadas na análise
estrutural de uma rede social (Garton, Haythornthwaite & Wellman, 1997).
Esta é determinada pelo número de ligações efetivamente constituídas na
rede social e o total de ligações teoricamente possíveis (Scott, 2000). Este
indicador mostra o valor em percentagem da intensidade das interações no
seio da rede, revelando se existe uma alta ou baixa conetividade no seu
interior (Velázquez & Aguilar, 2005). Este indicador permite ainda inferir
acerca da difusão e da velocidade de disseminação da informação entre os
atores da rede (Hanneman & Riddle, 2005).
Considerando a análise da rede em estudo verifica-se que o índice de
densidade global da rede social em estudo foi de 21,82%, o que pode ser
associado a um nível limitado de conetividade (cf. Tabela I).
TABELA I – Grau de densidade das interações no AVA (global, por
docentes e por pais)
(Average Matrix Value) Densidade Nº de
Ligações
Global 0.2182 216
Docentes 0.4460 194
Pais 0.0667 7
Os resultados são distintos ao se focar a análise deste indicador apenas
a nível dos membros que possuem o estatuto de docentes. Neste caso o
índice de densidade entre os docentes é de 44,60%, pelo que se afirma ser
bastante mais acentuado o nível de conetividade existente entre estes
membros.
Os resultados são igualmente diferentes se se salientar a análise deste
indicador ao nível dos membros com o estatuto de pais. Neste caso o índice
de densidade entre os pais foi de 6,67%, pelo que se assegura ter sido
muito fraco o nível de conetividade existente entre estes membros.
Inclusividade
O grau de inclusividade de uma rede é estabelecido pela proporção de
atores que evidenciam estabelecer conexão, tendo em atenção o total de
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elementos constitutivos da rede (Scott, 2000). Este indicador surge
inversamente associado ao total de membros excluídos, ou seja os que não
obtiveram qualquer registo de interação (Pedro & Matos, 2009). O cálculo
matemático é obtido através da seguinte fórmula: [inclusividade=N com
/N], onde N= total de membros na rede e N con= total de elementos
conectados.
Verifica-se pois que o grau de inclusividade global da rede foi de
0.867 (87%) o que se entende ser um indicador bastante positivo. Revela-
se assim que dos 45 membros da rede apenas seis não estabeleceram
qualquer relação de amizade online com os outros, sendo que cinco deles
assumiam o papel de pais (dois de regiões urbanas e três de áreas
consideradas rurais) e um deles integrava o estatuto de docentes, o qual
pertencia a uma região urbana. Estes seis membros constituem-se como os
nós soltos da nossa rede social, na medida em que evidencia não ter tido
qualquer tipo de fluxo na dimensão em análise, indicando ausência de
vínculos.
Se se centrar o olhar para os dois grupos de estatutos existentes na
rede social: docentes e pais, verifica-se que o grau de inclusividade dos
membros com o estatuto de docentes a nível das redes de afiliação é
bastante superior (0.967) ao dos pais (0.667). Entende-se que estes valores
são indicativos de que o enredo de conexões constituídas na rede se revelou
algo envolvente e pouco segregativa, sobretudo no caso dos membros com
estatuto de professores.
Clusters
Os dados em análise foram igualmente considerados para
identificação de possíveis subgrupos no interior da rede social quanto aos
pedidos de amizade proferidos. Procedeu-se à identificação de Clusters, a
qual pode ser “considerada como uma metodologia aglomerativa de análise
de redes sociais” (Pedro & Matos, 2009, p.1229). Os Clusters são áreas da
rede onde é possível encontrar elevada densidade nas interações,
distinguindo-se os elementos pela sua contiguidade no diagrama e pela sua
separação relativamente a outros clusters (Scott, 2000). Com vista à
apresentação dos Clusters existentes na rede social optou-se pela
reconfiguração do sociograma com base na representação do diagrama em
árvore (cf. Figura 2). A análise ao mesmo permite destacar um subgrupo na
rede formado pelos elementos 41, 28, 34, 23, 35, 30, 45 e 33, sendo este
constituído na totalidade por professores.
FIGURA 2. Diagrama dos Clusters existentes na rede social
Centralidade e Centralização
A análise da centralidade de uma rede social organiza-se sob uma
dupla dimensão: i) a centralidade global da rede- designada de
centralização- que se organiza em torno do conceito de proximidade entre a
totalidade dos pontos, ii) a centralidade de cada elemento da rede que surge
associada à atividade relacional direta de cada ator ou nó.
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Desta forma, e segundo este indicador “o actor que ocupa a posição
mais central é aquele que possui o maior número de conexões directas”
com os restantes (Lemieux & Ouimet, 2008, p.26). Assim, este indicador é
determinado pelos graus de saída e de entrada associados a cada membro
da rede, isto é, o total de elementos (nós) a que cada sujeito se encontra
ligado. O grau de saída corresponde à soma das interações que os atores
têm com os outros. O grau de entrada equivale ao somatório das interações
que os outros nós têm com o ator (Velázquez & Aguilar, 2005).
Consequentemente, através da análise da centralidade é possível obter
o número de elementos a que cada ator se encontra ligado, sendo praticável
localizar elementos mais centrais e mais periféricos. As posições de maior
centralidade tendem a estar associadas a processos de influência na rede
(Freeman, 1978, citado por Pedro & Matos, 2009). Para calcular o grau de
centralidade da rede social recorreu-se ao método Freeman’s Degree
Centrality Measures, o qual segundo Pedro e Matos (2009) se baseia no
conceito de dependência local dos elementos da rede. No geral, os dados
revelam-nos um índice de centralidade relativamente baixo, 12,37% no
geral da rede, sendo bastante inferior quando se analisa apenas os membros
com estatuto de docentes (7,49%) e muito superior no caso específico dos
membros com estatuto de pais (23,08%), considerando-se este último como
moderadamente centralizado (cf. Tabela II).
TABELA II – Grau de Centralidade (global, por docentes e por pais)
Freeman’s Degree
Índice de Centralidade da
Rede
Global 12,37%
Docentes 7,49%
Pais 23,08%
O índice de centralidade expressa-se pela condição especial que um
ator detém ao revelar um papel claramente central por estar ligado aos
restantes nós da rede, os quais necessitam de passar por este para se
ligarem a terceiros. Na verdade, refere-se que determinado ponto da rede
detém elevada centralização na rede se apresenta a mais curta distância
relativamente aos restantes pontos da rede. Se um ator estabelece um
elevado número de interações, pode ser considerado um elemento saliente,
isto é, um ator de grande prestígio na rede. A posição deste ator pode ser
essencial para a comunicação estabelecida entre todos. Pelo contrário,
graus de centralização baixos numa rede indicam a ausência de atores
claramente centrais. Importa referir que dentro da análise de redes existem
também graus de centralização de entrada e de saída.
Focando a análise da centralização apenas dos membros que
integravam o estatuto de docentes na rede, verifica-se que os valores
obtidos evidenciam algumas diferenças relativamente ao valor global (cf.
Quadro 3). Neste caso, o grau de centralização das entradas e das saídas foi
superior ao global, evidenciando um aumento de aproximadamente 5%.
TABELA III – Grau de Centralidade de entradas e saídas (global, por
docentes e por pais)
Freeman’s Degree Centrality Measures
Rede Global Entrada 38,120% Mínimo 0 Máximo 26
Saída 38,120% Mínimo 0 Máximo 26
Rede
Docentes
Entrada 43,044% Mínimo 0 Máximo 25
Saída 43,044% Mínimo 0 Máximo 25
Rede Pais Entrada 46,429% Mínimo 0 Máximo 7
Saída 46,429% Mínimo 0 Máximo 7
A mesma tendência, e ainda mais marcada, registou-se junto dos
membros com estatuto de pais, onde se encontrou o maior grau de
centralidade registado, mais especificamente de 46,42% como sistematiza a
Tabela III. Este valor surge como evidência que no interior do grupo de
pais existe maior assimetria de estatutos entre os mesmos, surgindo pois no
seu interior elementos que detêm maior relevância no interior da rede. Na
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verdade, foi possível constatar que o membro A4 constituiu-se como o
mais influente e com mais prestígio neste grupo em particular.
Investigando-se o grau de centralização de cada membro da rede,
apurou-se a existência de um pequeno grupo de cinco atores que
apresentou uma posição mais central na rede. Para definir os membros que
se revelaram maior centralização assumiram-se valores acima de 0.250 na
medida Continuous Coreness Model (cf. Tabela IV).
TABELA IV – Identificação dos membros da rede com maior grau de
Centralização na rede
Continuous Coreness Model
Membros S15 S19 S10 S33 S20
Valor obtido 0.294 0.280 0.276 0.263 0.251
Freeman’s Degree Centrality Measures
Membros S15 S19 S10 S30 S33
Entrada 26 24 23 23 22
Saída 26 24 23 23 22
O membro S15 foi aquele que manifestou uma posição de maior
centralização (29,4%), seguindo-se os membros S19, S10, S33 e S20
igualmente com valores indicativos de uma posição centralizada. Todos
estes membros ocupavam o estatuto de docentes, sendo dois oriundos de
zonas rurais e três de regiões urbanas. O membro S15 revelou ser ainda o
mais influente (maior grau de saída) na rede e o que apresentou um nível
de prestígio mais elevado (maior grau de entrada). O segundo membro que
revelou ser mais influente e com mais prestígio na rede foi o S19,
seguindo-se os membros S10, S30 e S33.
Ainda que este grupo de membros da rede social patenteie valores de
centralização mais elevados em relação aos restantes 40 elementos da rede,
entende-se contudo serem esses valores moderados na medida em que
indicia uma relativa concentração das interações constituídas sob os
sujeitos em causa. Entende-se que estes valores são favoráveis ao contexto
em causa, dado que elevados níveis de centralidade seriam indicativos de
que as conexões estabelecidas se encontram estruturadas em torno de um
restrito ‘núcleo duro’ de membros, à volta dos quais gravitariam todos os
restantes, integrando assim assimetrias no papel detido por cada um dos
elementos da rede.
Intermediação
Outro dos indicadores considerados para análise da rede e, para
considerar a importância de um ator na rede, foi o índice de intermediação
(Betweenness), em si associado ao controlo da comunicação no interior da
rede. Este interpreta-se como a possibilidade que um nó tem para
intermediar as comunicações entre pares de nós.
O grau de intermediação de um nó obtém-se somando o número de
vezes que este aparece nos caminhos geodésicos que ligam todos os pares
de nós da rede a estes atores, ou seja, o total de vezes que este surge como
ator-ponte. Entende-se por distância geodésica o comprimento (em termos
de aresta ou de arco) do caminho mais curto que liga dois atores da rede.
Para que um nó assuma um grau de intermediação numa rede, deve ter pelo
menos um grau de entrada e de saída e estar no caminho geodésico de pelo
menos um par de nós ligados. Esta medida permite determinar a
capacidade que os atores têm de assegurar um papel de controlo na rede.
Quanto mais um ator se encontra numa posição intermediária, ou seja,
quanto mais se vê numa situação em que os atores têm que passar por ele
para chegar a outros atores, maior a sua capacidade de controlo sobre a
circulação da informação no interior da rede (Lemieux & Ouimet, 2008).
Na presente rede, os atores que revelaram ocupar uma posição
intermediária de destaque foram o S30 (membro com estatuto de docente)
e o S4 (um membro com o estatuto de pai), como se ilustra na Tabela V,
ambos residentes em zonas rurais. Regista-se, ainda a existência de um
outro membro (S15) que também revelou desempenhar uma posição de
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certa forma intermediária, sendo o único membro com estatuto de docente
oriundo de uma zona urbana.
TABELA V – Maiores índices de Intermediação registados pelos membros
Proximal Betweenness
Membros S30 S4 S15
Valor obtido 223 173 139
Freeman’s Betweenness Centrality
Valor obtido 130 123 62
Valor normalizado obtido 14% 13% 7%
Contrariamente ao constatado na análise ao grau de centralização de
cada elemento da rede, no que à intermediação diz respeito, verifica-se que
os elementos que se evidenciam na rede são um docente e um pai,
demonstrando assim algum equilíbrio de estatutos entre os dois grupos em
estudo, atendendo à influência que na rede provam ter a nível da
capacidade de intermediar a relação estabelecida entre terceiros
Proximidade
Surgindo próximo do grau de intermediação, o Grau de Proximidade
(Closeness) associa-se à “capacidade de um nó se ligar a todos os atores de
uma rede” (Velázquez & Aguilar, 2005, p.24). Este indicador sociométrico
calcula-se igualmente com base nas distâncias geodésicas de um ator para
se ligar aos restantes. Como afirmam Fidalgo e Freitas (2011), o grau de
proximidade enfatiza a distância existente entre um ator e os restantes
membros da rede. Resta acrescentar que valores altos de proximidade
anunciam uma melhor capacidade dos nós se ligarem com os restantes
atores da rede.
No plano conceptual, Freeman (1979) refere o grau de afastamento
como o oposto ao de proximidade. O autor criou esta noção com o objetivo
de medir a capacidade de autonomia ou de independência dos atores da
rede, ou seja, quanto mais um membro se encontra afastado dos outros
(farness), mais autónomo será no que se refere às suas escolhas e
comportamentos. Por oposição quanto maior proximidade detém sobre si
(closeness) maior a possibilidade de influenciar os restantes elementos da
rede.
TABELA VI – Maiores graus de Proximidade registados
Proximidade (Closeness Centrality Measures)
Membros S30 S15 S19
Grau de Proximidade 14 14 14
Grau de Afastamento 323 323 325
Verifica-se que os membros S30, S15 e S19 foram os que revelaram
um maior grau de proximidade, membros que assumiam todos o estatuto de
docentes (cf. Tabela VI). Consequentemente, afirma-se que estes membros
foram os que evidenciaram deter maior capacidade para se ligarem aos
outros nós da rede. Constituíram-se, portanto, como os atores que
revelaram ter mais autonomia em relação aos restantes, ao mesmo tempo
que podem usufruir de maior influência sobre os restantes elementos da
rede.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados apresentados permitem sustentar a ideia de que a
Análise de Redes Sociais, enquanto metodologia de representação e análise
de dados relacionais ou de relações interpessoais estabelecidas no seio de
grupos, redes ou comunidades, permite desenvolver uma análise
aprofundada da estrutura social constituída e do papel exercido por cada
elemento no seu interior, tanto num plano tradicional de relacionamento
social, ou seja, no domínio presencial, como nas comunidades ou redes
sociais constituídas online, nomeadamente as suportadas por ambientes
virtuais de aprendizagem.
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Recuperando os objetivos assumidos para esta investigação e que se
ligavam à análise de uma rede social constituída por um grupo de pais e
professores de crianças e jovens com multideficiência, designadamente
através do estudo dos comportamentos afiliativos ou pro-sociais
estabelecidos entre os mesmos, foi possível constatar que a metodologia de
recolha, organização e análise de dados selecionada, a Social Network
Analysis, se mostrou adequada e frutífera. Na realidade, com base nos
métodos que se constituem como técnicas de recurso em análise de redes
sociais revelou-se exequível compreender, de forma ampla, a configuração
e a estrutura da rede constituída online, a qual se organizou em torno do
Ambiente Virtual de Aprendizagem designado “Multideficiência: Pais e
docentes em rede”. Simultaneamente, mostrou-se possível identificar as
diferenças e as semelhanças nos padrões de atuação registados no grupo de
docentes e de pais que constituía a rede, bem como a relevância assumida
por cada um desses grupos na globalidade de relações afiliativas
estabelecidas na rede. Ao mesmo tempo, foi praticável trazer à luz os
papéis distintos que determinados elementos da rede assumiam no seu
interior e os efeitos associados a tais funções na estruturação das relações
existentes no âmago da rede, nomeadamente na influência e prestígio
detidos, no estabelecimento de pontes de ligação e na intensificação da
magnitude das mesmas.
Os resultados registados nos diversos indicadores sociométricos
selecionados para analisar a rede em causa permitiram verificar que, ao
longo dos oito meses de desenvolvimento, a rede online não mostrou um
volume de interações muito marcado, tendo sido este mais elevado entre o
grupo de docentes e mais marcadamente reduzido entre os pais. Um padrão
semelhante de dados foi encontrado nos índices de densidade da rede
registados tanto no global, como para o grupo de professores e de pais.
Todavia, o enredo das conexões estabelecidas revelou-se algo envolvente e
pouco segregativo. Tais resultados permitem concluir que: i) o estímulo à
interação pro-social destes pais e professores se mostrou, por vezes, difícil
de instituir; ii) os membros tendem a manter maior proximidade entre
elementos que desempenham o mesmo papel (professores com professores
e pais com pais) e iii) são os professores que assumem maior expressão no
interior da rede comparativamente ao grupo de pais que fundavam a rede
em análise. Desta forma, entende-se que a rede beneficiaria em ver
estimulado no seu interior a constituição de mais relações afiliativas entre
os vários membros e que tais relações fossem incentivadas entre grupos e
intergrupos.
Uma análise comparativa à posição assumida pelo grupo de
professores e de pais na rede denota, por um lado, que os professores
tendem a assumir posições mais próximas do centro da rede e que,
inversamente, os pais tendem a assumir uma posição mais periférica na
rede. Esta assimetria de posicionamentos aparece em conformidade com o
que a literatura tem vindo a evidenciar como padrão de comunicação entre
escola e família ou entre pais e professores, na medida em que tanto a
informação veiculada como mesmo o processo de tomada de decisão tende
a ser maioritariamente influenciado pelos professores do que pelos
elementos da família das crianças e jovens com deficiência. Na verdade, os
professores dominam maiores conhecimentos e maior experiência sobre as
diversas problemáticas e os pais tendem a perante os mesmos, assumir uma
postura de aprendizagem, procurando nestes informação, apoio e contenção
emocional (Villas-Boas, 1996).
Em oposição ao relativo moderado índice de densidade na rede,
verificou-se que esta apresenta um elevado ou favorável grau de
inclusividade, demonstrando ser uma rede bastante inclusiva relativamente
aos seus elementos. Mais especificamente, apenas seis dos 45 elementos da
rede se constituíram como nós soltos, sendo que cinco desses seis
elementos integravam o grupo de pais. O grau de inclusividade foi ainda
bastante mais marcado no grupo de professores (com um valor próximo de
97% de inclusividade) do que no grupo de pais.
Na identificação de clusters foi igualmente possível incluir a já
evidenciada maior coesão que se pode salientar no grupo de professores,
tendo sido constituído por docentes o único cluster passível de identificar
no interior da rede.
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Outro aspeto a realçar face aos resultados encontrados liga-se aos
moderados graus de centralização encontrados na globalidade da rede, o
que aparece como indicador favorável, na medida em que evidencia a
existência de equilíbrio na preponderância ou relevância assumida pelos
diferentes elementos na rede. A centralização relevou-se, contudo, mais
reduzida no seio do grupo de docentes e mais elevada no interior do grupo
de pais. Porém, tais resultados necessitam ter em consideração as
diferenças no número de elementos que cada grupo integrava.
Efetivamente existem melhores condições para menores graus de
centralização em grupos constituídos por um maior número de atores como
é o caso dos professores (n=30), do que em grupos com menor número de
nós, como é o caso dos pais (n=15).
Considerando os resultados encontrados na sequência da abordagem
egocentrada assumida, conclui-se que os elementos que evidenciaram deter
na rede maior grau de centralização e igualmente de proximidade foram na
totalidade docentes, distribuindo-se estes por zonas rurais e urbanas. Estes
demonstraram deter na rede posições de maior prestígio (pelos maiores
graus de entrada evidenciados) e de maior influência (pelos maiores graus
de saída evidenciados), exercendo papéis determinantes na configuração da
rede e na estruturação das relações afiliativas entre os atores. Todavia, é de
assinalar que os valores assumidos pelos mesmos não foram muito
expressivos, o que se entende como favorável no contexto em causa.
Especificando, níveis muito elevados de centralização surgiram como
indicativos de que as conexões estabelecidas na rede se organizavam em
torno de um restrito núcleo de atores, à volta dos quais se organizariam
todos os restantes elementos da rede.
No que se refere à intermediação, constatou-se que os dois elementos
que assumiram um papel de maior destaque foram um professor (S30) e
um pai (S4), ambos residentes em zonas rurais. O elemento S4 evidenciou
igualmente um maior grau de centralização no grupo de pais, sendo o ator
que se instituiu como o mais influente e com mais prestígio neste grupo.
Em conclusão, a coesão existente entre os pais foi menor e mais
centrada num sujeito específico do que a verificada entre os docentes. Os
pais revelaram ainda ocupar uma menor posição de privilégio e de
influência no interior da rede do que os professores. Julga-se que as
características sociométricas identificadas no grupo de professores trazem à
evidência o estabelecimento de condições favoráveis à criação de maiores,
mais regulares e continuadas práticas de comunicação e de interação entre
os professores da rede. Essas características parecem ser vantajosas para
quebrar o isolamento sob o qual genericamente estes profissionais tendem
a trabalhar ou, pelo menos, em ampliar as suas redes de contacto
profissional. Infere-se ainda que as mesmas contribuem para o aumento das
fontes de informação e das trocas de experiências e de soluções para as
problemáticas profissionais com que estes se deparam no dia-a-dia. O
mesmo se pode dizer para os pais, ainda que as relações estabelecidas por
estes não tenham sido tão densas quanto as dos professores.
Em termos globais, o estudo em apreço pretendeu compreender
como é que o grupo de 45 elementos (pais e professores de crianças e
jovens com multideficiência) utilizou o AVA construído para estabelecer
interações e criar relações de amizade entre si. Os resultados encontrados
permitem afirmar que o ambiente virtual criado relevou-se favorável à
criação de relações afiliativas ou pro-sociais entre os participantes,
nomeadamente e com maior impacto junto dos professores do que
efetivamente no grupo de pais. Infere-se que as relações estabelecidas entre
os participantes terão efeitos favoráveis na comunicação e na partilha de
informação. Ainda que a magnitude das interações estabelecidas entre os
participantes não tenha sido muito elevada, nomeadamente entre o
subgrupo de pais, entende-se que o projeto desenvolvido apresenta um
marcado sentido de relevância, nomeadamente pelo seu sentido inovador
em procurar colocar em relação online elementos fundamentais para a
persecução do sucesso escolar e de um harmonioso desenvolvimento de
crianças e jovens com multideficiência: os seus pais e os seus professores.
Na verdade, a investigação alerta para as escassas práticas de
comunicação e de interação entre pais e professores (Harry, 1992; Villas-
Boas, 1996) ao mesmo tempo que enaltece as mais-valias de um desejável
movimento de aproximação entre estes agentes educativos. Nesse
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movimento revela-se legitimo que se tire partido de todas as ferramentas
que se encontram ao dispor para tal fim. Lembra-se pois que, na atualidade,
os computadores, a internet e as tecnologias móveis fazem parte das
práticas diárias de alguns pais e professores e que por conseguinte podem
ser utilizadas para estimular a comunicação entre tais educadores em
benefício de cada uma das partes (problemas comuns: isolamento e de
acesso limitado a informação atualizada) como sobretudo das crianças e
jovens com multideficiência que destes dependem.
Face aos resultados apresentados, e ainda que o nível de
conetividade tenha sido limitado, mormente no grupo dos pais, infere-se
que a rede social instituída permitiu aos participantes no AVA estabelecer
novos laços sociais com pessoas que vivenciavam experiências e
dificuldades idênticas, o que permitiu minimizar o isolamento social vivido
por estes participantes, especialmente no grupo de professores.
Apesar do AVA criado ter disponibilizado ferramentas que
permitiam aos 45 participantes estabelecer mais relações de afiliação, isso
não se verificou na intensidade possível. Infere-se que tais resultados
possam estar associados a várias circunstâncias: i) as moderadas
competências digitais dos participantes, ii) o facto de não ter sido
suficientemente enfatizado o potencial da aplicação que possibilitava o
estabelecimento de pedidos de amizade na rede e iii) o relativo curto
período de tempo em análise. De facto, os oito meses podem ser um
período relativamente curto na vida útil de uma rede social online, pois as
pessoas precisam de tempo para se familiarizarem com o ambiente, para
estabelecerem laços sociais mais fortes, bem como para desenvolverem um
sentimento de pertença à mesma, elementos determinantes para que uma
comunidade permaneça viva e ativa. Este fator constituiu uma limitação do
estudo.
Conjetura-se ainda que as relações sociais estabelecidas entre estes
participantes possam ter algum impacto positivo na partilha de informação
e de recursos relacionados com a multideficiência entre ambos os grupos e
na resolução colaborativa de situações problemáticas individuais.
Com a presente investigação foi ainda possível salientar as mais-valias
que as técnicas e os processos de análise associados à Social Network
Analysis evidenciam na compreensão de certos fenómenos relacionais e
comportamentos individuais no seio de grupos, redes ou comunidades
online. Recorrendo a análises deste tipo, é possível analisar padrões
relacionais, identificar elementos determinantes no seio da rede e,
consequentemente, desenhar intervenções mais suportadas e produtivas a
fim de alcançar os propósitos ambicionados na rede em causa,
nomeadamente ao longo da vida útil das mesmas. A análise estrutural é
uma abordagem aplicável à análise de todos os dados relacionais e o que
ela permite esclarecer ao nível da lógica das relações sociais não permite
perceber o seu “domínio há muito negligenciado nas ciências humanas e
sociais (Lemieux & Ouimet, 2008, p. 116).
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Abstract: This paper analyses the affiliations established between users of a
Virtual Learning Environment (VLE) composed of parents and teachers of
handicapped students. This virtual environment aimed to promote interaction and
sharing of experiences related to people with multiple handicaps.
The main objective of this work is to study the characteristics and breadth of the
friendships established within this virtual environment using social network
analysis methods.
The results presented in this paper derive from data available in the personal pages
of the study’s participants. These data were investigated with an essentially
sociocentric perspective; this implied researching the group which interacted for
eight months. The indicators analysed comprise the density of the established
network, its level of concentration, the degree of inclusivity, the participants which
stood out as most influential and with most prestige, as well as the subgroups that
emerged within the network.
The results found indicate that the virtual environment created was favourable to
the establishment of affiliations or pro-social relationships between the
participants, with a greater impact on the teachers than on the parents. It can be
inferred that the relationships established between the participants have a
favourable effect on communication and information sharing. Despite the extent of
the relationships between the participants not having been particularly large,
specially amidst the parents, the study is innovative as it establishes an online
relationship between elements crucial to the development of children and youths
with multiple handicaps: their parents and their teachers.
Keywords: social network analysis, virtual learning environments, handicap,
affiliations, parents, teachers.
Texto:
- Submetido: maio de 2012.
- Aprovado: setembro de 2012.
Para citar este artigo:
Nunes, C. & Pedro, N. (2012). Análise das interações sociais entre pais e
professores de alunos com multideficiência num ambiente virtual de
aprendizagem. Educação, Formação & Tecnologias, 5 (2), 25-42 [Online],
disponível a partir de http://eft.educom.pt.
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O livro apresenta um conjunto de estratégias a usar na educação de crianças com multideficiência e deficiência visual nas primeiras idades.
Article
The intuitive background for measures of structural centrality in social networks is reviewed and existing measures are evaluated in terms of their consistency with intuitions and their interpretability.
Article
Worldwide, tertiary educators and institutions are discovering that new models of teaching and learning are required to meet the needs of today's students, and their demands for autonomy, connectivity, and socio-experiential learning. The educational applications of the new wave of Web 2.0-based social software tools compel us to consider how the affordances and potential for generativity and connectivity offered by these tools, as well as the broader societal changes that the Web 2.0 movement forms part of, impact on pedagogy and teaching, and open up the debate on how we conceptualize the dynamics of student learning. This chapter explores the ways in which scholarship and pedagogy are being challenged and redefined in the Web 2.0 era, and the accompanying need for students to develop new skills and competencies to prepare them for work and lifelong learning in a dynamic, networked society and knowledge economy. In response to these challenges the authors propose a pedagogical framework, "Pedagogy 2.0," which addresses the themes of participation in networked communities of learning, personalization of the learning experience, and learner productivity in the form of active knowledge creation and innovation, and discuss how emerging social practices, ethos, and modes of communication influence the roles of teachers and learners.