ArticlePDF Available

O povoado campaniforme fortificado da Moita da Ladra (Vila Franca de Xira, Lisboa) e a sua cronologia absoluta

Authors:
  • Center for Archaeological Studies (Oeiras City Council) and ICArEHB (Algarve University)

Abstract and Figures

The Chalcolitic fortified settlement of Moita da Ladra is located on the top of a high volcanic chimney that dominates the Tagus estuary. The archaeological site was entirely excavated due to the exploitation prosecution of a basalt quarry. The identified archaeological structures are both defensive and residential. The remains of an ellipsoidal wall with 80 m length and 44 m width including two massive towers and an entrance facing the Tagus estuary on the southern side. This settlement’s builders wanted it to be easily seen from the river and at a long distance. Besides its defensive function this archaeological site is intended to be a landmark in this landscape. The implantation of this Chalcolithic settlement is related with the access control of the large inner basin of Loures lowland, related with Sizandro river basin flux catchement in which Zambujal fortified settlement is located. The site has only one occupation phase with few but diversified archaeological remains characterized with both decorated ceramics of “folha de acacia/ crucífera” group and bell beakers ceramics represented by maritime vases and vases with geometric decoration. Radiocarbon dating points out to the occupation of this site during the second half of the 3rd millennium BC, the same of other high fortified settlements of this region, such as Penha Verde, Sintra or Leceia, Oeiras. The coexistence of both bell beakers ceramics and non beaker’s ceramics of “folha de acacia/ crucífera” group has an important cultural meaning that is valued in this article.
Content may be subject to copyright.
SÉRIE V . VOLUME 3
MUSEU NACIONAL DE ARQUEOLOGIA
IMPRENSA NACIONAL ‑CASA DA MOEDA
LISBOA, 2013
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
O povoado campaniforme
fortificado da Moita da Ladra
(Vila Franca de Xira, Lisboa)
e a sua cronologia absoluta
* 1
joão luís cardoso**, antónio m. monge soares***, josé m. matos martins***
2 3
RESUMO
O povoado calcolítico muralhado de Moita da Ladra implanta ‑se no topo
de uma elevada chaminé vulcânica, que domina todo o estuário do Tejo. O
pretendido prosseguimento da exploração de uma pedreira de basalto no local
determinou a sua escavação integral. As estruturas identificadas são de carácter
defensivo e habitacional. As primeiras integram uma muralha de contorno
elipsoidal, em parte desaparecida, mas cujo comprimento foi possível estimar
em cerca de 80 m, possuindo a largura de cerca de 44 m, englobando duas torres
maciças e uma entrada, voltada para o estuário do Tejo, que se estende do lado sul.
O enorme esforço construtivo envolvido em tal operação explica ‑se, sobretudo,
pela preocupação de conferir visibilidade acrescida ao dispositivo implantado
no topo da elevação, até pelo contraste oferecido com a coloração negra dos
basaltos subjacentes. Esta evidência conduz a admitir que, a par da função
defensiva corporizada pelo recinto muralhado – e talvez mais importante do que
ela – estaria implícita, na sua construção, a necessidade de marcar fortemente
o lugar, constituindo um verdadeiro marco construído na paisagem. Por outro
lado, a implantação deste povoado calcolítico pode relacionar ‑se com o controlo
do acesso à vasta bacia interior correspondente à várzea de Loures, cuja rede de
* Os segundo e terceiro signatários encarregaram -se da redação do capítulo 7. Os restantes capítulos são da respon-
sabilidade do primeiro signatário, que coordenou a realização do trabalho e a execução dos desenhos de campo e de
espólios arqueológicos, da autoria de Bernardo L. Ferreira e de F. Martins. As fotografias de campo são do primeiro
signatário.
** Universidade Aberta (Lisboa) e Centro de Estudos Arqueológicos do Concelho de Oeiras (Câmara Municipal de
Oeiras), e -mail: cardoso18@netvisao.pt
*** Laboratório de Radiocarbono, C2TN, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa, e ‑mail: amsoares@ctn.
ist.utl.pt; jmartins@ctn.ist.utl.pt
JOÃO LUÍS CARDOSO, ANTÓNIO M. MONGE SOARES, JOSÉ M. MATOS MARTINS
214
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
drenagem se articula, a montante, com a bacia hidrográfica do rio Sizandro, na
parte vestibular da qual se localiza o povoado calcolítico fortificado do Zambujal.
A única fase de ocupação identificada, condiz, por seu turno, com o facto de
a edificação do dispositivo muralhado ter sido efetuada de uma única vez, corre‑
lativa de camada pouco potente contendo espólios arqueológicos escassos mas
diversificados, caracterizados pela associação das cerâmicas decoradas do grupo
«folha de acácia/crucífera» a produções campaniformes, de técnica pontilhada,
integrando vasos marítimos e vasos com decorações geométricas.
As datações de radiocarbono indicam que a ocupação do povoado se
verificou na segunda metade do 3.º milénio a.C., tal como se observou noutros
sítios altos e fortificados da região, como Penha Verde e Leceia, sendo coeva dos
pequenos sítios abertos de encosta onde comunidades campaniformes de raiz
familiar se dedicavam às atividades agropecuárias. As diferenças na qualidade
dos recipientes campaniformes característicos de ambos os tipos de implantação
indica que nos primeiros se sediaram as elites a quem caberia o controlo dos
territórios respetivos, como foi o caso dos habitantes da Moita da Ladra. Por outro
lado, a coexistência de produções campaniformes e não campaniformes do grupo
«folha de acácia/crucífera», configura uma realidade cultural cuja importância foi
devidamente valorizada no presente artigo.
Palavras ‑chave: Moita da Ladra – fortificação – campaniforme – povoamento –
península de Lisboa.
ABSTRACT
The Chalcolitic fortified settlement of Moita da Ladra is located on the top
of a high volcanic chimney that dominates the Tagus estuary. The archaeological
site was entirely excavated due to the exploitation prosecution of a basalt quarry.
The identified archaeological structures are both defensive and residential. The
remains of an ellipsoidal wall with 80 m length and 44 m width including two
massive towers and an entrance facing the Tagus estuary on the southern side.
This settlement’s builders wanted it to be easily seen from the river and at a
long distance. Besides its defensive function this archaeological site is intended to
be a landmark in this landscape.
The implantation of this Chalcolithic settlement is related with the access
control of the large inner basin of Loures lowland, related with Sizandro river
basin flux catchement in which Zambujal fortified settlement is located.
The site has only one occupation phase with few but diversified archaeological
remains characterized with both decorated ceramics of “folha de acacia/ crucífera”
O POVOADO CAMPANIFORME FORTIFICADO DA MOITA DA LADRA (VILA FRANCA DE XIRA, LISBOA)… 215
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
group and bell beakers ceramics represented by maritime vases and vases with
geometric decoration.
Radiocarbon dating points out to the occupation of this site during the
second half of the 3rd millennium BC, the same of other high fortified settlements
of this region, such as Penha Verde, Sintra or Leceia, Oeiras.
The coexistence of both bell beakers ceramics and non beaker’s ceramics
of “folha de acacia/ crucífera” group has an important cultural meaning that is
valued in this article.
Keywords: Moita da Ladra – fortification – bell ‑beakers – settlement – Lisbon
peninsula.
O POVOADO CAMPANIFORME FORTIFICADO DA MOITA DA LADRA (VILA FRANCA DE XIRA, LISBOA)… 217
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
1. GENERALIDADES
O povoado calcolítico fortificado da Moita da Ladra situa ‑se no topo de uma
chaminé basáltica de idade fini ‑cretácica, pertencente ao Complexo Vulcânico
de Lisboa, entre os 220 e os 228 m de altitude. Tal implantação corresponde a
largo domínio visual sobre o estuário do Tejo (fig. 1) bem como para nascente e
poente; só para o lado norte a visibilidade se afigura mais limitada.
Possui as seguintes coordenadas geográficas, lidas na Carta Militar de Portu‑
gal na escala de 1/25 000, folha n.º 403: 38º 53´30´´ Lat. N. e 09º 03´58´´ Long.
W de Greewich.
A sua exploração integral foi realizada sob a direção do primeiro signatário,
em parceria com J. C. Caninas, sob a égide da empresa Emérita, L.da em sucessivas
campanhas arqueológicas que se estenderam de 2003 a 2006, e cujos resultados
preliminares já foram publicados (Cardoso e Caninas, 2010).
A decisão de escavação integral do sítio, seguida da desmontagem acompa‑
nhada das estruturas arqueológicas postas a descoberto, trabalho com que ter‑
minou a intervenção arqueológica, na primavera de 2006, foi determinada pelo
então Instituto Português de Arqueologia, por forma a permitir a continuidade
da progressão da lavra da referida pedreira. Os trabalhos foram integralmente
custeados pelo dono da obra, a empresa Alves Ribeiro, S. A., que também cedeu
a mão ‑de ‑obra não especializada que permitiu a escavação integral da estação
arqueológica.
Além desses colaboradores, assumiram papel de relevo na escavação arqueo‑
lógica do sítio os Dr. Mário Mascarenhas Monteiro e Filipe Martins. Os desenhos
devem‑se a este último e a Bernardo Ferreira. As fotos são da autoria de João Luís
Cardoso, Filipe Martins e Bernardo Ferreira.
JOÃO LUÍS CARDOSO, ANTÓNIO M. MONGE SOARES, JOSÉ M. MATOS MARTINS
218
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
2. ESTRATIGRAFIA
A escavação integral do sítio permitiu verificar a existência de uma única camada
arqueológica de época calcolítica, assente diretamente no substrato geológico, na
parte mais alta da elevação, onde aquela poderia faltar em absoluto; já na periferia
daquele sector, delimitado por linha muralhada, tal camada atingia a sua maior
potência, formada em parte pela acumulação de materiais oriundos da zona mais
alta da estação; foi também naquela área que se identificaram espólios do Neolítico
Antigo, subjacentes à camada e às estruturas calcolíticas, relacionados com fino
depósito residual, cuja distribuição cartográfica foi já anteriormente apresentada,
bem como os espólios mais relevantes recolhidos (Cardoso e Caninas, 2010).
3. ESTRUTURAS DEFENSIVAS: SUA INTERPRETAÇÃO E JUSTIFICAÇÃO
As estruturas identificadas são de carácter defensivo e habitacional. As primeiras
integram uma muralha de contorno elipsoidal, em parte desaparecida, mas cujo
eixo maior foi possível estimar em cerca de 80 m, possuindo o eixo menor cerca
de 44 m (fig. 2), englobando torres maciças incluídas na muralha (fig. 3) e uma
entrada, voltada para o estuário do Tejo, que se estende do lado sul (fig. 4). É de
destacar o facto dos paramentos interno e externo desta muralha se encontrarem
revestidos, pelo menos ao nível do seu embasamento, que é a única parte deles
Fig. 1 – A chaminé basáltica de Moita da Ladra vista de sudoeste, dominando a várzea de Loures.
O POVOADO CAMPANIFORME FORTIFICADO DA MOITA DA LADRA (VILA FRANCA DE XIRA, LISBOA)… 219
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
conservada, por blocos calcários, os quais assumem a sua máxima expressão na área
do dispositivo defensivo voltada para o estuário do Tejo. A sua utilização estende‑
‑se pela área adjacente, sob a forma de lajes calcárias, forrando o piso de circulação
tanto na zona interna, como na zona externa da referida entrada. Importa destacar
a existência de vários prismas basálticos, resultantes da disjunção destas rochas,
observada em diversos locais da chaminé vulcânica, dispostos transversalmente do
lado externo da referida entrada, por forma a conferirem ‑lhe estabilidade, visto a
mesma se situar no limite da área onde os declives começam a ser mais acentuados.
O recinto apresenta ‑se em geral mal conservado, tendo desaparecido quase
completamente no sector voltado para poente e norte; o seu estado de conservação
é melhor no sector voltado a nascente, embora em grande parte dele se apresente
sofrível (fig. 5).
É fácil imaginar o enorme esforço construtivo envolvido nesta operação, já que
foi necessário transportar do sopé do morro tais elementos, recolhidos nos aflora
Fig. 2 – Moita da Ladra. Fotografia aérea do povoado ainda em
curso de escavação, em dezembro de 2004, evidenciando -se o
troço da muralha melhor conservado, voltado a leste, no qual se
interpõe torre maciça.
Fig. 4 – Moita da Ladra. Vista da entrada voltada para sul e para
o estuário do Tejo, cujos paramentos são constituídos por blocos
calcários, travados do lado externo por prismas basálticos, por
forma a conferir -lhe estabilidade.
Fig. 3 – Moita da Ladra. Vista parcial da torre maciça interposta
na muralha, observável em segundo plano, evidenciando -se os
paramentos, tanto da torre, como da muralha, forrados de blocos
de calcário branco.
JOÃO LUÍS CARDOSO, ANTÓNIO M. MONGE SOARES, JOSÉ M. MATOS MARTINS
220
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
mentos de calcários mesozóicos mais pró xi mos
encaix an tes da chaminé basáltica, requerendo a
mobi lização de blocos que, nalguns casos, atin
gem centenas de quilos. A explicação para esta
opção deve ‑se, sobretudo, à preocupação de con
ferir visibilidade acrescida ao dispositivo implan
tado no topo da elevação, pelo contraste oferecido
entre os elementos calcários e a coloração negra
dos basaltos subjacentes. Com efeito, no decurso
das escavações, quem circulasse pela A1, no sen
tido de Lisboa ‑Porto, podia ver, bem evidenciados
no topo da elevação, as construções calcárias refle
tindo o sol, apesar de se encontrarem reduzidas
apenas ao seu embasamento.
Tal realidade leva a admitir que, a par da
função defensiva corporizada pelo recinto mura
lhado – e talvez mais importante do que ela –,
estaria implícita, na sua construção, a necessi
dade de sinalizar o lugar, através da construção
de um verdadeiro marco construído na paisa
gem para quem navegasse no Tejo vindo da mar
gem esquerda. Com efeito, a implantação deste
povoado calcolítico pode relacionar ‑se com o
controlo do acesso à vasta bacia interior correspondente à várzea de Loures, cuja
rede de drenagem se articula, a montante, com a bacia hidrográfica do rio Sizandro,
na parte vestibular da qual se localiza o povoado calcolítico fortificado do Zambujal.
Deste modo, é lícito pensar que a implantação do dispositivo defensivo da Moita
da Ladra, mais do que controlar localmente a navegação no estuário adjacente, se
articulava com a circulação entre o Alentejo e o litoral atlântico estremenho, por
alturas de Torres Vedras, onde existem, para além do povoado referido, diversos
outros importantes povoados calcolíticos, cujos espólios, especialmente os artefac
tos de pedra polida, denunciam o abastecimento regular de anfibolitos oriundos do
Alto Alentejo: transposto o estuário do Tejo, a forma mais simples de chegar àquelas
paragens seria através dos sistemas fluviais que atravessam obliquamente a Baixa
Estremadura, dispensando deste modo uma viagem de cabotagem contornando o
litoral da península de Lisboa, alternativa muito mais morosa e demorada (fig. 6).
Outros povoados situados a meio caminho entre os sítios mais próximos do litoral
atlântico e o estuário do Tejo, como o Penedo do Lexim, poderiam também benefi
ciar destas redes de distribuição dos anfibolitos e de outras matérias ‑primas oriundas
de além ‑Tejo, como os minérios de cobre, em bruto ou já sob a forma de lingotes.
Fig. 5 – Moita da Ladra. Troço de muralha do lado nascente, mal
conservada, onde se misturam, em resultado de remobilização
local, blocos basálticos e calcários.
O POVOADO CAMPANIFORME FORTIFICADO DA MOITA DA LADRA (VILA FRANCA DE XIRA, LISBOA)… 221
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
4. ESTRUTURAS DE CARÁCTER
HABITACIONAL
As estruturas habitacionais identificadas
no interior do recinto muralhado estão repre‑
sentadas por covachos abertos na rocha basál‑
tica alterada (fig. 7), podendo corresponder,
nos casos de menores dimensões, a buracos
de poste das cabanas ali existentes. Estruturas
negativas de maiores dimensões afiguram ‑se
ter sido reaproveitadas como lixeiras, como
sugere o preenchimento de duas delas por
cinzas e de outra por conchas de amêijoa, nal‑
guns casos com as duas valvas, umas abertas,
outras fechadas, ainda em conexão.
Uma estrutura baixa, de planta circular,
corresponde a lareira, relacionada com a meta‑
lurgia do cobre (fig. 8), como sugere a ocor‑
rência de um cadinho encontrado in situ na
sua adjacência imediata (fig. 14, n.º 5).
Já no exterior da área muralhada, e do
seu lado sul, voltada para o Tejo, explorou‑
‑se uma estrutura de planta elipsoidal, esca‑
vada no substrato geológico alterado, inter‑
rompendo em parte afloramento basáltico
ostentando bonita disjunção prismática. Esta
estrutura evidencia duas fases de utilização,
a mais moderna em que se delimitou o seu contorno, recorrendo a elementos
basálticos e calcários, que poderia corresponder ao embasamento de cabana (fig.
9), de características idênticas às duas cabanas campaniformes identificadas em
Leceia, igualmente do lado externo do recinto defensivo (Cardoso, 1997/1998).
Tal estrutura fundou ‑se em depósito fino avermelhado, correspondente a mistura
de cinzas, materiais arqueológicos fragmentados e detritos orgânicos, por vezes
formando leitos lenticulares de conchas, correspondentes a despejos alimenta‑
res suscetíveis de serem individualizados; a parte mais funda deste depósito, de
coloração anegrada, devido à presença de matérias carbonosas, assenta em acu‑
mulação de blocos que configura um embasamento estruturado (fig. 10). Esta
estrutura, que evidencia deste modo duas fases de construção/utilização, é de
difícil interpretação funcional, não podendo recorrer ‑se à analogia com a estru‑
tura identificada em Leceia, de planta subcircular, a que foi atribuída a função de
lixeira, depois de poder ter sido utilizada como silo de armazenamento (Cardoso,
Fig. 6 – Moita da Ladra. Localização do sítio na Península Ibérica
e na Península de Lisboa, onde se encontraria articulado com os
povoados calcolíticos fortificados assinalados, entre outros.
JOÃO LUÍS CARDOSO, ANTÓNIO M. MONGE SOARES, JOSÉ M. MATOS MARTINS
222
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
Cunha e Aguiar, 1991). Com efeito, no caso agora em apreço, verifica ‑se que a
acumulação de detritos domésticos terá ocupado área mais extensa que aquela
que foi ulteriormente delimitada por blocos de planta elipsoidal, compatível com
fundo de cabana.
5. RELAÇÃO ENTRE A SEQUÊNCIA ESTRATIGRÁFICA E A SEQUÊNCIA
CONSTRUTIVA
A única fase de ocupação identificada no contexto habitacional em estudo,
indicada pela existência de uma única camada arqueológica calcolítica, condiz
com a edificação do dispositivo muralhado não ter revelado quaisquer fases
construtivas diferenciadas. A construção do mesmo terá sido efetuada de uma
única vez, o que configura curto período de ocupação do sítio, que poderá não
ter excedido algumas dezenas de anos, realidade aliás confirmada pela escassez
Fig. 7 – Moita da Ladra. Vista parcial da área intramuros,
observando -se diversas estruturas negativas, de carácter
habitacional, escavadas no substrato geológico, de natureza
basáltica.
Fig. 9 – Moita da Ladra. Estrutura habitacional, de planta
elipsoidal, identificada do lado sul, na área extramuros.
Fig. 8 – Moita da Ladra. Estrutura de combustão de planta circular,
definida por blocos basálticos.
Fig. 10 – Moita da Ladra. Vista da estrutura da fig. 9,
evidenciando -se a existência de um depósito arqueológico
subjacente, atribuível à utilização anterior do mesmo local como
área de despejos domésticos.
O POVOADO CAMPANIFORME FORTIFICADO DA MOITA DA LADRA (VILA FRANCA DE XIRA, LISBOA)… 223
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
dos espólios arqueológicos exumados, quando comparado com a abundância
observada em outras estações similares da região, como os povoados da Penha
Verde (Sintra) (Cardoso, 2010/2011), ou do Outeiro Redondo (Sesimbra) (Car
doso, 2013), para dar dois exemplos de sítios calcolíticos fortificados direta
mente comparáveis, pelo facto de as respetivas ocupações terem decorrido ape
nas no decurso da segunda metade do 3.º milénio a.C., como se verificou no
sítio em apreço.
6. ESPÓLIO ARQUEOLÓGICO
Como se referiu, o espólio arqueológico recolhido provém de um único
depósito pouco potente e ascende a um conjunto pouco numeroso, em resultado
da duração limitada da ocupação do sítio.
6.1. Cerâmicas
6.1.1. Cerâmicas decoradas
Do ponto de vista tipológico, o conjunto das produções cerâmicas revela‑
‑se coerente, caracterizando ‑se pela associação das cerâmicas decoradas do grupo
«folha de acácia/crucífera» (figs. 11, 12) a produções campaniformes (fig. 13); a
contemporaneidade da utilização destes dois grupos de produções na Moita da
Ladra não oferece, deste modo, quaisquer dúvidas.
No grupo de produções decoradas não campaniformes, de estilos regionais,
ocorrem diversas formas, com destaque para os esféricos com decorações de diver
sos padrões em torno da abertura, feitas por impressões, caneluras fundas ou recor
rendo à técnica incisa, padrões característicos do designado Calcolítico Pleno da
Estremadura. A par desta forma, outra se afigura importante, a dos recipientes de
paredes verticais, designados por «copos», ostentando padrões do grupo da «folha
de acácia» (fig. 11, n.º 6; fig. 12, n.os 4 e 6), sucedâneos dos recipientes com a mesma
forma, ainda que com pastas mais depuradas e acabamentos mais cuidados, que
caracterizam o Calcolítico Inicial, ou pré ‑campaniforme, da Baixa Estremadura.
Outros recipientes, igualmente comuns na panóplia das produções do Calco‑
lítico Pleno da Estremadura, são os grandes vasos com uma pronunciada goteira
em torno da abertura (fig. 12, n.º 5), que poderia ter uma funcionalidade prá‑
tica, como se observa nos antigos potes meleiros, embora nestes a referida goteira
seja muito mais acentuada. Outros recipientes correspondem a esféricos altos de
bordo simples (fig. 12, n.os 2 e 3). Uma taça em calote de corpo alto (fig. 12,
n.º 7) ostenta, em torno do bordo, uma banda em espinhado produzido por
ténues linhas incisas, característica que aproxima singularmente esta peça; uma
outra oriunda das furnas do Poço Velho, Cascais (Paço, 1941, Est. 29, de Gon‑
JOÃO LUÍS CARDOSO, ANTÓNIO M. MONGE SOARES, JOSÉ M. MATOS MARTINS
224
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
Fig. 11 – Moita da Ladra. Cerâmicas não campaniformes.
O POVOADO CAMPANIFORME FORTIFICADO DA MOITA DA LADRA (VILA FRANCA DE XIRA, LISBOA)… 225
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
Fig. 12 – Moita da Ladra. Cerâmicas não campaniformes.
JOÃO LUÍS CARDOSO, ANTÓNIO M. MONGE SOARES, JOSÉ M. MATOS MARTINS
226
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
çalves, 2008, p. 392), embora nesta última publicação o desenho denote erro
grosseiro, pois representa linhas incisas como se estas fossem a pontilhado, pro‑
duzidas pela impressão de um pente.
Dois fragmentos de pastas e acabamentos grosseiros, suscetíveis de pertencer
apenas a um recipiente de formato trococónico ostentam decorações de unhadas
(fig. 12, n.º 1). Este padrão decorativo ocorre em contextos campaniformes, como
é o caso do povoado da Penha Verde (Sintra) (Cardoso, 2010/2011) e de Leceia,
na camada atribuída ao Calcolítico Pleno, coeva das produções campaniformes
(Cardoso, 2006, fig. 230, n.º 16). À mesma época devem reportar ‑se os exemplares
do povoado da Rotura (Setúbal) (Gonçalves, 1971, Est. 11). No centro interior
do país, reconheceram ‑se no sítio campaniforme da Fraga da Pena (Fornos de
Algodres) (Valera, 2000). Tais produções são igualmente conhecidas em contextos
campaniformes extra ‑peninsulares, integrando as designadas produções «de
acompanhamento» das cerâmicas campaniformes. A distribuição de tais
ocorrências no território francês foi já apresentada (Besse, 1996, fig. 11). Uma
das ocorrências mais expressivas é a do povoado de Calades, Bouches ‑du ‑Rhône,
onde se registaram recipientes de paredes direitas com decorações unguladas, em
tudo idênticos ao agora publicado e, tal como neste caso, associados a produções
com decorações pontilhadas, onde ocorrem vasos marítimos (Convertini, 1996,
figs. 22 e 23).
Trata ‑se de ungulações produzidas pela oposição de dois dedos, o indicador
e o polegar, dando origem a depressões paralelas e aproximadamente simétricas.
A presença, na região da Baixa Estremadura, em sítios de altura e fortificados,
de produções campaniformes dominadas pela presença de vasos marítimos e
de outros recipientes com decorações geométricas a pontilhado, de assinalável
qualidade, contrasta com as produções características das granjas campaniformes
situadas nas áreas adjacentes. Nestas, apesar de serem coevas das sediadas em
sítios de altura, como ficou demonstrado através dos resultados das datações
radiocarbónicas obtidas (Cardoso, 2014), dominam produções menos cuidadas,
onde os vasos marítimos são a exceção, substituídos por caçoilas de maiores
dimensões e com decorações incisas, corporizando o chamado «Grupo Inciso»,
até agora considerado o mais moderno dos três de há muito identificados na
região (Soares e Silva, 1974/1977).
As cerâmicas campaniformes recolhidas neste povoado fortificado confir‑
mam em absoluto tais conclusões, já que ostentam sempre decorações produzi‑
das a pontilhado, onde pontificam os vasos marítimos (fig. 13, n.os 2, 4, 5 e 12).
Tais recipientes são acompanhados, como é usual, de caçoilas de diversos tipos
(fig. 13, n.os 1 e 7), ostentando uma (fig. 13, n.º 8) decoração de triângulos opos‑
tos idêntica à de exemplar oriundo do Outeiro da Assenta (Cardoso e Martins,
2009, fig. 28, n.º 6).
O POVOADO CAMPANIFORME FORTIFICADO DA MOITA DA LADRA (VILA FRANCA DE XIRA, LISBOA)… 227
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
Fig. 13 – Moita da Ladra. Cerâmicas campaniformes, excetuando o n.º 11, correspondente a produção do Tipo
Outeiro da Assenta.
JOÃO LUÍS CARDOSO, ANTÓNIO M. MONGE SOARES, JOSÉ M. MATOS MARTINS
228
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
Ocorrem outros tipos de vasos, incluindo esféricos baixos (fig. 13, n.º 6),
com decorações geométricas a pontilhado, igualmente integrados no chamado
«Grupo Internacional» (Soares e Silva, 1974/1977).
É interessante sublinhar a existência de um recipiente cuja tipologia se
integra nos copos do Calcolítico pré ‑campanifome, mas cuja decoração marítima
clássica, do tipo AOO, o remete claramente para este grupo (fig. 13, n.º 3). Trata‑
‑se de um exemplar que se poderá considerar «híbrido», e o mais evidente dos
três que até agora foram inventariados na região estremenha, aproximando ‑se do
exemplar recolhido numa das grutas artificiais da Quinta das Lapas, Torres Vedras
(Cardoso, 2004, fig. 87). Este recipiente documenta a existência de produções
campaniformes, refletindo o gosto das populações locais que as utilizavam. Aliás,
no caso dos chamados copos, trata ‑se de forma cuja continuidade no Calcolítico
Pleno da Estremadura se encontra bem documentada, mesmo na Moita da Ladra,
como atrás se referiu.
Outras produções cerâmicas merecem referência, como é o caso de vaso inte‑
grável no conjunto dos esféricos de colo apertado, semelhante tanto na forma,
como na decoração de triângulos invertidos, a exemplar do povoado da Penha
Verde (Sintra) (Cardoso, 2014, fig. 8, n.º 10).
Uma taça de carena suave, situada na parte superior do exemplar (fig. 13,
n.º 10), possui decoração constituída por linhas horizontais de círculos tenue‑
mente impressos, técnica equivalente, em termos visuais, das decorações maríti‑
mas lineares.
Enfim, um fragmento de esférico alto, ostenta decoração produzida por
sucessivas impressões de matriz abaixo do bordo, formando métopas verticais
(fig. 13, n.º 11). Esta técnica, com evidentes afinidades com a técnica campani‑
forme a pontilhado, foi pela primeira vez valorizada por J. L. Marques Gonçalves,
ao identificá ‑la, associada à técnica penteada, num grupo de povoados próximos
uns dos outros, situados na Alta Estremadura: trata ‑se dos povoados de Pragança
(Cadaval), Outeiro da Assenta (Óbidos) e Outeiro de São Mamede (Bombarral).
Na verdade, os recipientes em causa apresentam ‑se frequentemente decorados por
ambas as técnicas, a impressão (que origina as linhas a pontilhado) e as incisões
arrastadas, produzindo linhas contínuas e paralelas, com recurso ao mesmo ins‑
trumento, o pente. O referido autor em 1991 já tinha identificado corretamente o
enquadramento cronológico e cultural deste tipo de produções, ao afirmar: «tal‑
vez se pudesse supor que estas técnicas pontilhada e ‘penteada’ se situariam num
momento final do Calcolítico médio, já em contacto com as cerâmicas campa‑
niformes, coexistindo ao mesmo tempo com estas e com as cerâmicas do tipo
«folha de acácia» (Gonçalves, 1991, p. 218).
Na verdade, as produções cerâmicas com aquelas características estendem ‑se
pouco mais para sul daquela área, pois apenas se recolheram escassos exemplares
O POVOADO CAMPANIFORME FORTIFICADO DA MOITA DA LADRA (VILA FRANCA DE XIRA, LISBOA)… 229
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
nos povoados da Penha Verde (Sintra), de Leceia (Oeiras) e da Rotura (Setúbal),
cuja relevância justificou estudo específico (Cardoso, 1995a), aos quais mais
tarde mais alguns outros exemplares recolhidos em Leceia se juntaram (Cardoso,
2006).
O estudo sistemático dos exemplares do Outeiro de São Mamede, primeiro
(Cardoso e Carreira, 2003) e, depois, do Outeiro da Assenta (Cardoso e Martins,
2009), conduziu o signatário a considerar a existência de um novo grupo
ceramográfico de carácter regional no território português, que se designou como
«Grupo da Assenta», dando ‑se deste modo resposta a J. L. Marques Gonçalves que,
ao notar a distribuição geográfica circunscrita das produções decoradas a pente
não campaniformes se interrogava sobre a existência, na Alta Estremadura, «de
uma especificidade cultural própria» (Gonçalves, 1991, p. 218). Tal especificidade
não pode ocultar a existência de uma forte influência campaniforme, a começar
pelo recurso ao pente, cuja aplicação ao longo das superfícies dos recipientes,
produzindo linhas incisas que não se observam naquelas cerâmicas. Contudo, tal
técnica ocorre nas produções coevas das campaniformes e consideradas, nalguns
casos, como imitação destas, do norte de Portugal, como é o caso das recolhidas
no Buraco da Pala (Mirandela) (Sanches, 1997). Com efeito, nestas produções
transmontanas, as decorações de bandas horizontais, direitas ou onduladas,
obtidas pela aplicação longitudinal do pente, têm evidentes afinidades com as
bandas horizontais do tipo «herringbone» dos vasos marítimos pontilhados do
grupo AOO. A ocorrência de produções calcolíticas decoradas a pente na Beira
Alta, documentadas, por exemplo, no pequeno sítio de natureza habitacional
de Linhares (Santa Comba Dão) (Valera, 1999), constituem argumento para
se considerar a existência de relações entre as produções transmontanas e as
estremenhas, sendo embora estas muito menos abundantes do que aquelas.
Deste modo, a ocorrência de um fragmento na Moita da Ladra deste tipo
de produções cerâmicas vem sublinhar a natureza essencialmente setentrional
das mesmas, claramente coevas das campaniformes, a ponto de, nalguns casos, a
diferenciação entre ambos os grupos ser discutível.
Um último fragmento obriga a outras considerações, pelas suas particulari
dades: trata ‑se de exemplar ostentando abaixo do bordo decoração de triângu
los alternados separados por faixa não decorada (fig. 12, n.º 8). O interior dos
triângulos encontra ‑se preenchido por depressões circulares preenchidas de pasta
branca. Esta característica está presente em certas produções campaniformes da
região, algumas recentemente estudadas, como as de Freiria (Cascais) (Cardoso,
Cardoso e Encarnação, 2013). Porém, os paralelos mais evidentes do território
português para este fragmento provêm do Calcolítico do sul de Portugal, o que
faz reportar a origem deste exemplar a esta vasta região. Da Anta Grande do Oli
val da Pega (Reguengos de Monsaraz), provêm fragmentos de pelo menos qua
JOÃO LUÍS CARDOSO, ANTÓNIO M. MONGE SOARES, JOSÉ M. MATOS MARTINS
230
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
tro vasos esféricos, possuindo decorações de triângulos ora invertidos, em torno
da abertura, como os do presente exemplar, ora deitados (Leisner e Leisner,
1951, Est. 30, n.os 6, 7, 11 e 12), alguns deles preenchidos, tal como o fragmento
em causa, por pasta branca (op. cit., Est. 60, n.º 1). Outro paralelo provém do
povoado calcolítico do Cerro do Castelo de Corte João Marques (Alcoutim). Neste
sítio, recolheram ‑se dois fragmentos com triângulos preenchidos interiormente
por depressões circulares, atribuíveis a decorações simbólicas (Gonçalves, 1989,
Est. 156, em cima, à direita). Um deles aproxima ‑se singularmente do exemplar
em apreço: corresponde a fragmento de bordo de recipiente de paredes direitas,
igualmente decorado abaixo do bordo por triângulos preenchidos interiormente
e alternados. Ambos os fragmentos apresentam decorações preenchidas por pasta
branca, tal como o fragmento da Moita da Ladra e o da Anta Grande do Olival
da Pega. Esta realidade aproxima singularmente estas produções calcolíticas, de
cunho claramente simbólico.
Com efeito, o padrão de triângulos preenchidos interiormente por depres‑
sões punctiformes podem revestir simbolismo mais marcado, quando associadas
a representações antropomórficas, como é o caso das tatuagens faciais e dos olhos
radiados, presentes num dos exemplares da Anta Grande do Olival da Pega (Leis‑
ner e Leisner, 1951, Est. 30, n.º 14). A este propósito, tenha ‑se presente o conhe‑
cido vaso da tholos do Monte do Outeiro (Aljustrel), o qual, para além da repre‑
sentação antropomórfica patente num dos lados, exibe duas bandas de triângulos
alternados no lado oposto, em tudo idênticas à do exemplar em estudo (Leisner,
1965, Tf. 128, n.º 1).
6.1.2. Cerâmicas industriais
Outro grupo de produções respeita às chamadas cerâmicas industriais, as
quais se encontram relacionadas com as diversas atividades económicas realizadas
no povoado. Assim, a metalurgia do cobre, bem ilustrada pelas escórias e restos
de fundição recuperados, está documentada pela recolha de um cadinho de fun
dição de formato elipsoidal, quase completo (fig. 14, n.º 5), que jazia in situ, em
posição horizontal, perto de estrutura de combustão (fig. 8), a que atrás se fez
referência. A tipologia deste cadinho é frequente entre os cadinhos recolhidos em
outros povoados calcolítico da região, apresentando ‑se pouco fundo e desprovido
de pés de sustentação no seu lado externo, ao contrário do que se verifica nos
exemplares de corpo de tendência subretangular e mais fundos, como exemplar
recolhido em Leceia (Müller e Cardoso, 2008, fig. 4) e noutros povoados fortifica
dos estremenhos, como o da Pedra de Ouro (Alenquer) (Paço, 1966, fig. 13). No
entanto, ambos os tipos podem coexistir, como se observou no povoado calcolí
tico fortificado do Outeiro Redondo (Sesimbra) (escavações inéditas do primeiro
signatário). Alguns dos exemplares publicados do povoado do Zambujal (Torres
O POVOADO CAMPANIFORME FORTIFICADO DA MOITA DA LADRA (VILA FRANCA DE XIRA, LISBOA)… 231
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
Vedras) incluem ‑se entre os melhores paralelos (Sangmeister, 1995, Tf. 13, n.os 4
e 6) para o exemplar agora estudado, a par de outros, oriundos do Cerro do Cas
telo de Santa Justa (Alcoutim) (Gonçalves, 1989, Est. 95 e 96), com formas baixas,
de paredes convexas, e fundos aplanados, semelhantes aos recolhidos no povoado
de Cabeço Juré (Huelva) (Nocete, 2014, fig. 6).
Em Vila Nova de São Pedro (Azambuja) reconheceu ‑se também a presença de
cadinhos munidos de pés de sustentação (Jalhay e Paço, 1945, Lám. 28, n.º 4), que
coexistem com exemplares idênticos ao da Moita da Ladra, ainda que com paredes
verticais que lhes conferem maior profundidade (Soares, 2005, fig. 2, n.º 2).
Outro artefacto diretamente relacionado com a metalurgia, e muito mais raro
do que os cadinhos, são os tubos de algaravizes, de que se recolheu a extremi
dade distal de um exemplar (fig. 14, n.º 4). No povoado do Outeiro Redondo
recolheram ‑se em 2014 quatro exemplares, um deles completo, e outros se conhe
cem em Vila Nova de São Pedro (Jalhay e Paço, 1945, Est. 21, n.º 4), e na Pedra de
Ouro (Paço, 1966, fig. 13, b). O exemplar de Vila Nova de São Pedro reproduzido
pelos escavadores foi depois desenhado, confirmando ‑se a sua estreita analogia
com os exemplares do Outeiro Redondo (Soares, 2005, fig. 2, n.º 2).
O grupo dos pesos de tear, peças correspondentes a placas de barro retan‑
gulares com perfurações nos quatro vértices, encontra ‑se representado por vários
exemplares lisos ou decorados. Já no estudo anteriormente publicado dedicado a
este sítio arqueológico se tinha chamado a atenção para o facto de apenas os dois
orifícios existentes em um dos lados maiores de cada exemplar possuírem des‑
gaste devido à fricção da fibra que se mantinha tensa devido ao seu peso próprio
(Cardoso e Caninas, 2010, fig. 33). Esta realidade vem demonstrar que apenas
dois dos quatro orifícios que usualmente possuem seriam utilizados de cada vez.
Por outro lado, em trabalho recente a propósito dos exemplares recolhidos no
povoado calcolítico fortificado de Outeiro Redondo (Cardoso, 2013), discutiu ‑se
a ocorrência nestas peças, de cunho evidentemente funcional, de decorações que
remetem para o domínio do simbólico. A conclusão foi a de que tais decorações
deveriam de alguma forma relacionar ‑se com as atividades associadas à produção
de fibras têxteis, possuindo cunho apotropaico cujo significado ou fundamento
nos escapa. Tal é também o caso dos dois exemplares agora publicados (fig. 14,
n.os 1 e 2). Um deles ostenta, em ambas as faces, uma figura antropomórfica
estilizada (fig. 14, n.º 1), cujos paralelos mais próximos se encontram nos cha‑
mados «ídolos almerienses», em placas recortadas de osso, xisto ou cerâmica, por
vezes com atributos sexuais reportados à divindade feminina calcolítica, como é o
caso dos exemplares oriundos do povoado metalúrgico de Cabeço Juré (Huelva)
(Nocete, 2004, fig. 8.50). O outro exemplar apresenta em ambas as faces repre‑
sentações de linhas onduladas, que poderiam simbolizar a água, embora numa
das faces, aquelas, pela sua morfologia, se assemelhem às chamadas «tatuagens
JOÃO LUÍS CARDOSO, ANTÓNIO M. MONGE SOARES, JOSÉ M. MATOS MARTINS
232
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
faciais» das representações da deusa calcolítica; mas a má conservação da parte
central da peça impede a confirmação dessa possibilidade.
Ao conjunto das cerâmicas industriais pertencem também os artefactos des
providos de fundo, com as paredes totalmente perfuradas, de que se representa um
dos exemplares recolhidos (fig. 14, n.º 3). Trata ‑se de peças geralmente associadas
ao fabrico de laticínios, e por isso designadas muitas vezes, mas impropriamente,
como «queijeiras», e não cinchos, como seria mais adequado. São raros, pela fragi
lidade induzida pelas perfurações, os exemplares cuja parede se encontra integral
mente conservada, entre os quais se encontra um exemplar do Cerro do Castelo de
Corte João Marques (Alcoutim) (Gonçalves, 1989, Est. 8), a que se soma um outro,
da Pedra de Ouro (Paço, 1966, fig. 13a; Leisner e Schubart, 1966, Abb. 10, n.º 3).
Enfim, no grupo de produções cerâmicas em apreço integram ‑se também os
impropriamente designados «ídolos de cornos», cuja natureza funcional, relacio‑
nada com o aquecimento de produtos em estruturas de combustão, fora há muito
atribuída a «pés de fogareiro» (Paço e Arthur, 1952), ulteriormente comprovada
(Cardoso e Ferreira, 1990). Contudo, é hoje ainda frequente a utilização, embora
entre aspas, da primeira designação. A questão tem sido retomada pelo signatário
em diversas ocasiões, a última das quais a propósito dos exemplares recolhidos no
povoado calcolítico fortificado do Outeiro Redondo (Sesimbra) (Cardoso, 2013).
Na Moita da Ladra, recolheu ‑se apenas um exemplar, muito incompleto,
deste tipo de artefactos (fig. 14, n.º 6).
6.2. Pedra polida
Os artefactos de pedra polida relacionados com a ocupação calcolítica da
Moita da Ladra são todos de anfibolito. Tal realidade confirma os resultados
anteriormente obtidos no povoado de Leceia, onde se identificou um aumento
percentual da utilização das rochas anfibolíticas desde o Neolítico Final, corres‑
pondente à primeira ocupação do povoado, até ao Calcolítico campaniforme
(Cardoso, 1999/2000 e 2004; Cardoso e Carvalhosa, 1995). Tal evidência ilustra
um dos aspetos mais relevantes observados no decurso do Calcolítico, que é a
intensificação económica, com a diversificação e especialização das importações,
designadamente daquelas que se revelavam estratégicas para a realização das ati‑
vidades quotidianas das populações que então ocupavam a Baixa Estremadura,
como era o caso dos anfibolitos, graças à sua dureza e tenacidade. O sítio, pela
sua implantação estratégica, dominando o estuário do Tejo, poderia ter desem‑
penhado um papel de distribuição daqueles artefactos por toda a Baixa Estrema‑
dura, recebendo ‑os diretamente do Alentejo, pela via do atravessamento do Tejo,
provavelmente ainda sob a forma de lingotes.
Estão representados os machados, as enxós (fig. 15, n.º 9) e os martelos
(fig. 15, n.º 11), estes resultantes da reutilização de qualquer dos tipos anteriores,
O POVOADO CAMPANIFORME FORTIFICADO DA MOITA DA LADRA (VILA FRANCA DE XIRA, LISBOA)… 233
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
Fig. 14 – Moita da Ladra. Cerâmicas industriais.
JOÃO LUÍS CARDOSO, ANTÓNIO M. MONGE SOARES, JOSÉ M. MATOS MARTINS
234
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
quando os gumes se inutilizavam pelo uso. As formas espalmadas e de contorno
subtrapezoidal destes artefactos evocam os seus congéneres metálicos, já então
em plena utilização. Não deixa, no entanto, de ser contraditório o facto de os
anfibolitos, de importação por certo envolvendo custos assinaláveis, serem fre‑
quentemente reutilizados, nos povoados calcolíticos estremenhos, como simples
percutores, tarefas que qualquer rocha dura mais facilmente disponível, como
o sílex, ou os quartzitos, sob a forma de seixos rolados, poderiam assegurar de
forma mais económica e sem perda de eficácia.
Por outro lado, existem certos artefactos cujo gume foi substituído por uma
estreita superfície polida, pelo que não poderiam ter a função de corte (fig. 15,
n.º 10). É possível que tais artefactos fossem utilizados na manufatura de artefac‑
tos metálicos, permitindo martelagens precisas das superfícies dos instrumentos
que se pretendiam produzir. Tal hipótese foi já apresentada em diversos trabalhos
do primeiro signatário, a propósito dos exemplares recolhidos em Leceia (Car‑
doso, 1999/2000) e na Moita da Ladra (Cardoso e Caninas, 2010, p. 86), tendo
sido recentemente reafirmada aquando do estudo de um exemplar recolhido no
povoado campaniforme de Freiria (Cardoso; Cardoso e Encarnação, 2013, fig. 7,
n.º 11).
6.3. Artefactos metálicos
Recolheram ‑se cerca de sete dezenas de exemplares metálicos, embora a larga
maioria corresponda a peças inclassificáveis, e de pequenas dimensões; noutros
casos, trata ‑se de tiras dobradas e retorcidas, por vezes dobradas sobre si próprias
(Fig. 15, n.º 3), certamente destinadas a refundição, a par com fragmentos de
artefactos de maiores dimensões (Fig. 15, n.º 5 e 7). Seja como for, a assinalável
abundância de peças metálicas contrasta com a escassez de outras produções, com
excepção das pontas de projéctil, o que sublinha o carácter dominante da econo‑
mia desta população a um tempo de metalurgistas, e de comerciantes, entregues
ao controlo do território e das vias de circulação nele existentes, indispensáveis à
redistribuição de matérias ‑primas aqui chegadas de além‑Tejo. Esta realidade dual
está aliás corporizada pela existência de uma ponta Palmela dobrada por impacto
violento (fig. 15, n.º 4). Esta particularidade tem sido raramente observada nestes
artefactos, o que em parte se explica pelo facto de a maioria deles provir de ofe‑
rendas funerárias; um dos raros exemplares compulsados provém de Trévago, na
bacia do Douro (Garrido ‑Pena, 2000, Lám. 81, n.º 26).
Os artefactos integram ‑se nos tipos mais frequentes, com destaque para os
furadores e punções, cujas funções os equivalentes metálicos desempenhariam
com menor eficácia, para além das serras (que poderiam ser utilizadas como foi‑
ces metálicas de fio serrilhado) (fig. 15, n.º 6) e de machados de cobre (fig. 15,
n.º 8), que, embora ocorram com certa insistência em sítios calcolíticos da Baixa
O POVOADO CAMPANIFORME FORTIFICADO DA MOITA DA LADRA (VILA FRANCA DE XIRA, LISBOA)… 235
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
Fig.15 – Moita da Ladra. Produções metálicas (n.os 1 a 8) e de pedra polida (n.os 9 a 11).
JOÃO LUÍS CARDOSO, ANTÓNIO M. MONGE SOARES, JOSÉ M. MATOS MARTINS
236
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
Estremadura, não deixam de constituir artefactos de assinalável importância, até
pela quantidade de metal envolvida na sua confeção.
A prática da metalurgia no local, já demonstrada pelos fragmentos de
cadinhos e de tubo de algaraviz, está ilustrada também pela presença de escórias
(fig. 15, n.º 2) e de outros restos de fundição (fig. 15, n.º 1).
As análises químicas efetuadas deste conjunto (Pereira et al., 2015) indicam
cobres ou cobres arsenicais, convencionalmente com teores de arsénio superiores
a 2 %, valor que se estabeleceu de forma apriorística, e que não significa, natural
mente, que tais ligas tenham sido intencionalmente produzidas, de acordo com
a doutrina defendida há mais de 50 anos em Portugal (Ferreira, 1961) e ulterior
mente confirmada por Salvador Rovira no sudeste peninsular (Rovira, 2004).
Importa destacar uma excecional peça sobre folha de ouro batido, que origi‑
nalmente teria a forma de um tubo, atualmente achatado, que poderia envolver
uma haste de matéria perecível (fig. 18, n.º 7). Em alternativa, poderia constituir
uma conta tubular, à semelhança de exemplares lisos calcolíticos do sul peninsu‑
lar (Perea, 1991, p. 38).
A decoração, produzida por buril, consiste na sucessão de triângulos alternados
preenchidos interiormente a partir dos dois lados menores da folha, ambos
delimitados por linhas paralelas. As características da decoração são próximas dos
padrões das cerâmicas campaniformes. As cinco placas quadrangulares calcolíticas
de ouro batido decoradas por incisões abertas igualmente a buril, constituindo
triângulos dispostos de forma idêntica às dos produzidos nesta peça, recolhidas
em La Pijotilla (Badajoz) (Celestino Pérez e Blanco Fernández, 2006, p. 96, 97)
constituem os paralelos conhecidos mais próximos.
As recentes descobertas de materiais auríferos calcolíticos vieram sublinhar,
pela quantidade de exemplares, a importância da metalurgia do ouro no sudoeste
peninsular no decurso do 3.º milénio a.C. (Nocete et al., 2014; Soares et al., 2012),
embora a área estremenha continue a representar uma das que maior número de
tais peças tem fornecido, no contexto da Península Ibérica.
6.4. Pedra lascada
Os artefactos de pedra lascada são variados, embora pouco abundantes, em
consonância com a realidade evidenciada pela generalidade do espólio, em resul‑
tado da duração relativamente curta da ocupação pré ‑histórica do local.
No quadro 1 apresenta ‑se a distribuição tipológica da utensilagem.
Avultam as pontas de seta (fig. 16), fabricadas em geral em sílex de origem
local ou regional, de tonalidades predominantemente acinzentadas a esbranqui‑
çadas, ou acastanhadas. Esta realidade é condizente com a presença de alguns
exemplares inacabados, configurando uma indústria de preparação local de tais
artefactos (fig. 16, n.os 2, 6 e 10). As origens das escassas matérias ‑primas de carác‑
O POVOADO CAMPANIFORME FORTIFICADO DA MOITA DA LADRA (VILA FRANCA DE XIRA, LISBOA)… 237
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
ter exógeno podem situar ‑se na região de Rio Maior, no respeitante aos exempla‑
res de tonalidades rosadas a avermelhadas e ao Baixo Alentejo, no respeitante aos
exemplares em xisto jaspóide (fig. 16, n.os 13 e 14). Estas peças, em bruto ou já
acabadas, poderiam ter chegado ao povoado através do vale do Sado, visto serem
comuns no povoado da Rotura (Setúbal) (Gonçalves, 1971, Est. XVI), e daí terem
passado diretamente ao estuário do Tejo.
A explicação para a presença destes exemplares, de rochas de qualidade
inferior quando comparadas com as disponíveis na região, explicar ‑se‑á por
poderem ter acompanhado o comércio dos minérios de cobre, cuja origem seria
maioritariamente alto ‑alentejana, de acordo com os resultados analíticos obtidos
relativamente aos espólios de Leceia (Müller e Cardoso, 2008).
Do ponto de vista tipológico, as pontas de seta apresentam ‑se quase exclu‑
sivamente de base côncava e bordos laterais subretilíneos ou convexos; algumas
possuem a base em forma de «V» invertido (fig. 16, n.º 7), ou de contorno muito
pronunciado (fig. 16, n.º 11), lembrando as produções calcolíticas do sul penin‑
sular; outras são de base retilínea ou ligeiramente convexa. Alguns tipos especiais
estão também presentes, como as do tipo «Torre Eiffel», com base e bordos late‑
rais côncavos (fig. 16, n.º 3) ou do tipo mitriforme (fig. 16, n.º 12).
Comparativamente à importância das pontas de seta, as produções restan
tes de pedra lascada são pouco variadas e em número reduzido. Entre elas estão
presentes lamelas (fig. 17, n.os 1 e 2) e núcleos de lamelas (fig. 17, n.º 12), refor
çando a produção local de tais artefactos, a par de escassos furadores (fig. 17,
n.os 3 e 4) e foliáceos, de talhe bifacial (fig. 17, n.os 7 e 9), alguns deles aparen
temente abandonados em curso de execução (fig. 17, n.os 13 e 14), o que con
firmaria a existência de uma produção local de tais artefactos, a par de pontas
de seta.
Utensílios líticos Número de ocorrências e percentagens respetivas
N.º %
Núcleos 2 0,7 %
Lamelas 51 16,9 %
Lâminas 37 12,3 %
Lasca retocada 1 0,3 %
Raspadeiras 29 9,6 %
Entalhes 1 0,3 %
Furadores 3 1 %
Lâminas foliáceas 35 11,6 %
Pontas de seta 142 47,2 %
TOTAL 301 100 %
Quadro 1 – Moita da Ladra. Classificação da utensilagem de pedra lascada em grandes categorias, em termos
tecnológicos e tipológicos.
JOÃO LUÍS CARDOSO, ANTÓNIO M. MONGE SOARES, JOSÉ M. MATOS MARTINS
238
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
Fig. 16 – Moita da Ladra. Pontas de seta de sílex e de xisto jaspóide (n.os 13 e 14).
O POVOADO CAMPANIFORME FORTIFICADO DA MOITA DA LADRA (VILA FRANCA DE XIRA, LISBOA)… 239
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
Característica interessante desta indústria é a existência de raspadeiras, de
diversos tipos (fig. 17, n.os 5, 6, 8, 10 e 11); a relativa importância destes artefactos,
também recentemente observada no povoado campaniforme de Freiria (Cascais)
(Cardoso, Cardoso e Encarnação, 2013), pode ser considerada como característica
dos conjuntos desta época, com paralelos em outros povoados peninsulares e
extra ‑peninsulares como então se referiu.
6.5. Osso polido e afeiçoado
Identificaram ‑se escassos artefactos ósseos, entre os quais sovelas (fig. 18,
n.os 8 e 9), totalmente polidas, de secções subcirculares ou subtriangulares, bem
como furadores, distintos das peças anteriores pela sua maior robustez e tamanho,
conservando ainda a morfologia dos suportes ósseos originais, em geral ossos
longos de ovino ‑caprinos seccionados obliquamente na diáfise (fig. 18, n.º 10).
As espátulas, feitas em tábuas ósseas totalmente polidas, com uma extremidade
alargada e plana, estão também presentes (fig. 18, n.º 12). Todas estas produções
têm estreitos paralelos noutros contextos calcolíticos da região, com destaque
para o conjunto exumado em Leceia (Cardoso, 2003).
Identificaram ‑se também quatro exemplares de pontas de projétil de osso
(fig. 18, n.º 11), de secção subcircular, cujo interesse arqueológico justificou a
elaboração de estudo específico, a propósito dos exemplares recolhidos em Leceia
(Cardoso, 1995b). Estas peças encontram ‑se presentes em diversos sítios estre‑
menhos, cuja distribuição foi então atualizada, partindo da apresentada anterior‑
mente por Konrad Spindler (Spindler, 1981).
É interessante verificar a presença relativa destas peças, face à raridade de
outras produções ósseas representadas na estação, tendo ainda presente a escassez
deste tipo de pontas de projétil em outros contextos calcolíticos estremenhos. Tal
facto, a par da abundância relativa de pontas de seta, sublinha a natureza deste
sítio, cuja população seria pouco dada a atividades domésticas do quotidiano
que requeriam outros tipos de utensilagem, lítica ou óssea, nele escassamente
representados.
6.6. Adornos
Para além da folha de ouro batida, que poderá ser considerada neste grupo
de artefactos, recolheram ‑se 10 contas de rochas diversas, das quais se analisaram
7 (Odriozola et al., 2013), sendo 4 de moscovite e 3 de variscite. Assim, os
exemplares da fig. 18, n.os 1, 3 e 4 são de moscovite, e os da fig. 18, n.os 2 e 5, são
de variscite, representando a Moita da Ladra o povoado calcolítico entre os de
Leceia e da Penha Verde onde a variabilidade é maior, contrariando a dominância
quase exclusiva da variscite observada nos outros dois povoados calcolíticos
considerados. A razão para tal não se afigura clara, embora a procedência da
JOÃO LUÍS CARDOSO, ANTÓNIO M. MONGE SOARES, JOSÉ M. MATOS MARTINS
240
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
Fig. 17 – Moita da Ladra. Produções de pedra lascada.
O POVOADO CAMPANIFORME FORTIFICADO DA MOITA DA LADRA (VILA FRANCA DE XIRA, LISBOA)… 2 41
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
Fig. 18 – Moita da Ladra. Contas de moscovite e de variscite (n.os 1 a 5); ídolo cilíndrico de calcário (n.os 6);
chapa dobrada de ouro batido com decoração incisa aberta a buril (n.º 7); e indústrias de osso polido e afeiçoado
(n.os 8 a 12).
JOÃO LUÍS CARDOSO, ANTÓNIO M. MONGE SOARES, JOSÉ M. MATOS MARTINS
242
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
variscite utilizada nos três sítios se afigure com origem na região de Palazuelo de
las Cuevas, próximo da fronteira portuguesa do nordeste transmontano, a várias
centenas de quilómetrtos de distância.
6.7. Objetos ideotécnicos
Tratando ‑se de um povoado, são escassos os artefactos integráveis nesta
categoria: é o caso de dois ídolos cilíndricos lisos, de calcário branco, de que se
representa um (fig. 18, n.º 1). Estes exemplares, conjuntamente com outros, de
terracota, e de forma antropomórfica, com paralelos no povoado calcolítico de
Cabezo Juré (Huelva) (Nocete, 2004, fig. 8.50), devem documentar a existência
de altares domésticos, no interior da área habitada, à semelhança do admitido em
Leceia (Cardoso, 2009).
7. DATAÇÕES ABSOLUTAS
Foram datadas pelo radiocarbono diversas amostras da biosfera marinha
(conchas de Venerupis decussata e de Mytilus sp.) e da biosfera terrestre (fauna
mamalógica não identificada), cujas localizações se apresentam na fig. 19.
As datas convencionais obtidas, calculadas segundo as recomendações de
Stuiver e Polach (1997), encontram ‑se no quadro I, acompanhadas de alguns
dados julgados pertinentes, designadamente da respetiva proveniência e do valor
do fracionamento isotópico em 13C.
Ref. de
Laboratório
Ref. da
Amostra
Proveniência da
Amostra (ver Fig. 19)
Tipo de Amostra δ13C
(‰)
Data 14C
(BP)
Sac-2370 ML 5 5 - Vala 8 Ossos (colagénio) -21,65 3930±80
Sac-2335 ML 5 V1* 5 - Vala 8 Venerupis decussata -1,08 4240±45
Sac-2336 ML 5 V2* 5 - Vala 8 Venerupis decussata -0,37 4360±50
Sac-2371 ML 6 2 - Vala 3 Ossos (colagénio) -20,62 3810±60
Sac-2337 ML 6 V 2 - Vala 3 Venerupis decussata -0,86 4330±40
Sac-2122 ML 1 1 - ML55 (30-45) Ossos (colagénio) -21,04 3700±50
Sac-2057 ML 1 V 1 - ML55 (30-45) Venerupis decussata 0 4170±40
Sac-2124 ML 3 3 - ML6 (45-60) Ossos (colagénio) -20,20 3460±90
Sac-2082 ML 3 3 - ML6 (45-60) Venerupis decussata -0,55 4160±40
Sac-2123 ML 2 4 - ML9 (30-45) Ossos (colagénio) -21,06 3700±50
Sac-2081 ML 2 4 - ML9 (30-45) Venerupis decussata -0,32 4100±40
Sac-2172 ML 4 V1* 6 - Lixeira Sul C12 Venerupis decussata +0,08 4060±40
Sac-2173 ML 4 V2* 6 - Lixeira Sul C12 Venerupis decussata -1,99 4060±45
Sac-2171 ML 4 M 6 - Lixeira Sul C12 Mytilus sp. -0,49 3980±45
* V1 – fração intermédia; V2 – fração interna.
Quadro 2 – Datas convencionais de radiocarbono para Moita da Ladra
O POVOADO CAMPANIFORME FORTIFICADO DA MOITA DA LADRA (VILA FRANCA DE XIRA, LISBOA)… 243
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
Fig. 19 – Moita da Ladra. Planta da área escavada, com a localização e número das amostras de osso submetidas a
datação pelo radiocarbono.
JOÃO LUÍS CARDOSO, ANTÓNIO M. MONGE SOARES, JOSÉ M. MATOS MARTINS
244
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
Normalmente, as datas de radiocarbono e os valores de δ13C obtidos a partir
das designadas frações intermédias das amostras de conchas servem apenas para
avaliar da fiabilidade das datas determinadas com as frações internas das respeti‑
vas amostras, tomando ‑se em linha de conta, em cálculos e raciocínios posterio‑
res, somente o valor da data obtida com a fração interna. Assim, analisando os
pares (Sac ‑2335 4240±45 BP e Sac ‑2336 4360±50 BP) e (Sac ‑2172 4060±40 BP
e Sac ‑2173 4060±45 BP) verifica ‑se que o valor da data da fração interna não se
diferencia estatisticamente (para 2 σ) do valor da data da fração intermédia e os
valores de δ13C estão dentro do esperado para a composição isotópica de conchas
marinhas, pelo que se deverá atribuir uma elevada fiabilidade às datas obtidas a
partir das frações internas.
Como se sabe, o reservatório geoquímico marinho é deficiente em radiocar
bono comparado com a atmosfera. Em consequência, existe uma idade 14C de
reservatório, isto é, existe uma diferença de idades de 14C entre amostras contem
porâneas contendo carbono de origem marinha, umas, e carbono de origem ter
restre, as outras. Segundo Stuiver et al. (1986), a idade de reservatório R(t) pode
ser definida como a diferença entre datas convencionais de radiocarbono de um
par de amostras coevas que se formaram em diferentes reservatórios geoquímicos
do carbono (oceano e biosfera terrestre). R(t) é dependente do tempo, devido
a variações do teor em 14C na atmosfera, e varia de região para região marinha,
devido à mistura de diferentes massas de água, ao regime de ventos, à batimetria
e ao upwelling (e ao downwelling). Considerando estes factos, Stuiver et al. (2006)
modelaram a resposta do oceano global às variações das concentrações atmosfé
ricas do 14C. Dessa modelação resultaram as curvas de calibração para as datas de
amostras marinhas. Devido à variabilidade regional das condições oceanográfi
cas, existe uma diferença do teor em 14C entre a água superficial de uma determi
nada região e a água superficial do oceano considerado como um todo e, por isso,
define‑seumparâmetrodenominadoΔR(efeitodereservatóriomarinhoregional
para o radiocarbono), o qual mais não é que a diferença entre a idade de reser
vatório da água superficial do oceano regional e a idade de reservatório da água
superficial do oceano global. Para se converterem em datas de calendário solar as
datas convencionais de radiocarbono determinadas a partir de organismos mari
nhosé necessário calcularovalordeΔR,istoé, ovalordo efeito dereservatório
marinho para a região em que ocorreu a colheita desses organismos quando vivos.
Ovalor deΔRé,muitas vezes,calculadodatando pelo14C pares de amostras da
mesma idade mas de diferente origem (terrestre e marinha), convertendo a data
da amostra terrestre numa idade marinha a partir do modelo referido atrás e, por
fim, subtraindo essa idade marinha modelada da data de 14C da amostra marinha
do par (Stuiver e Braziunas, 1993). Contrariamente à idade de reservatório R(t),
queédependentedotempo,ΔRnãooé,anãoserqueocorraalgumavariaçãodas
O POVOADO CAMPANIFORME FORTIFICADO DA MOITA DA LADRA (VILA FRANCA DE XIRA, LISBOA)… 245
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
condições oceanográficas restrita à região do oceano em causa. Isso acontece, na
maior parte dos casos, em regiões afetadas pelo fenómeno de upwelling. Uma vez
que as taxas do upwelling regional podem variar ao longo do tempo e a intensidade
do empobrecimento em 14C das águas superficiais depende da maior ou menor
atividade do upwelling, a qual geralmente está relacionada com o variável sistema
aerológicoprevalecentenessaregião,entãoéexpectávelqueovalordeΔRtambém
varie ao longo do tempo (Ascough et al., 2005; Ingram, 1998; Kennett et al., 1997;
Soares, 1993; Soares e Dias, 2006, 2007; Soares e Martins, 2010). Valores altos de
ΔR,paraessasregiões,podemnormalmentesercorrelacionadoscomaexistência
de um upwelling intenso, ao passo que valores baixos ou nulos indiciam que, para
essa época, o upwelling era fraco ou, mesmo, inexistente.
Felizmente, da intervenção em Moita da Ladra, resultaram quatro pares de
amostras associadas de diferente reservatório de origem, o que permitiu a deter‑
minaçãodovalordeΔRaplicávelnacalibraçãodasdatasderadiocarbonoobtidas
a partir de conchas marinhas recolhidas neste sítio arqueológico e que figuram no
quadro i.AdeterminaçãodosvaloresdeΔReR(t)apartirdosquatroparesrefe
ridos encontra ‑se indicada no quadro ii. O valor médio ponderado de ΔR é de
110±40 anos 14C, o qual se deverá utilizar na calibração daquelas datas fazendo
uso da curva Marine13 (Reimer et al., 2013).
No quadro iii e na fig. 20 encontram ‑se as datas calibradas através das curvas
IntCal13 e Marine13 (Reimer et al., 2013), para as amostras de ossos e de con‑
chas, respetivamente, e fazendo também uso do programa OxCal (Bronk Ram‑
sey, 2009). Se se determinar a soma das distribuições de probabilidade das várias
datas calibradas, verifica ‑se que o intervalo que lhe corresponde é de 2440 ‑1950
cal BC (1 σ) ou de 2560 ‑1820 cal BC (2 σ), o que permite afirmar que a ocupação
de Moita da Ladra terá ocorrido na segunda metade do 3.º milénio a.C., podendo
ter ‑se estendido aos primeiros decénios do 2.º milénio a.C.
Referência
Laboratório
Descrição da
Amostra Marinha
δ13C
(‰)
Data 14C
(anos BP)
Referência
Laboratório
Descrição da
Amostra Terrestre
δ13C
(‰)
Data 14C
(anos BP)
Sac-2336 Venerupis decussata -0,37 4360 ± 50 Sac-2370 Ossos (Colagénio) -21,65 3930 ± 80
ΔR = 85 ± 110 anos 14C R(t) = 430 ± 95 anos 14C
Sac-2337 Venerupis decussata -0,86 4330 ± 40 Sac-2371 Ossos (Colagénio) -20,62 3810 ± 60
ΔR = 190 ± 90 anos 14C R(t) = 520 ± 70 anos 14C
Sac-2057 Venerupis decussata 0 4170 ± 40 Sac-2122 Ossos (Colagénio) -21,04 3700± 50
ΔR = 125 ± 70 anos 14C R(t) = 470 ± 65 anos 14C
Sac-2081 Venerupis decussata -0,32 4100 ± 40 Sac-2123 Ossos (Colagénio) -21,06 3700 ± 50
ΔR = 55 ± 70 anos 14C R(t) = 400 ± 65 anos 14C
Quadro 3 – Datação por 14C de pares de amostras coevas (conchas de origem marinha/ossos) provenientes de Moita da Ladra. Determinação
dos valores do efeito de reservatório (ΔR) e da idade de reservatório (R(t)).
JOÃO LUÍS CARDOSO, ANTÓNIO M. MONGE SOARES, JOSÉ M. MATOS MARTINS
246
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
Ref. de
Laboratório
Tipo de Amostra Data 14C
(BP)
Data Calibrada (cal BC)
(modelada)
1 σ2 σ
Sac-2370 Ossos (colagénio) 3930±80 2570-2290 2840-2140
Sac-2336 Venerupis decussata 4360±50 2490-2290 2580-2200
Sac-2371 Ossos (colagénio) 3810±60 2400-2140 2470-2050
Sac-2337 Venerupis decussata 4330±40 2460-2290 2530-2190
Sac-2122 Ossos (colagénio) 3700±50 2200-2020 2280-1940
Sac-2057 Venerupis decussata 4170±40 2230-2040 2330-1960
Sac-2082 Venerupis decussata 4160±40 2210-2020 2310-1940
Sac-2123 Ossos (colagénio) 3700±50 2200-2020 2280-1940
Sac-2081 Venerupis decussata 4100±40 2130-1960 2210-1870
Sac-2173 Venerupis decussata 4060±45 2090-1900 2190-1820
Sac-2171 Mytilus sp. 3980±45 1980-1780 2060-1700
Soma 2440-1950 2560-1820
Quadro 4 – Calibração das datas convencionais de radiocarbono para Moita da Ladra*
* Calibração efetuada fazendo uso da curva Marine09 (Reimer et al. 2009) e do programa OxCal 4.1.3 (Bronk Ramsey 2001, 2008).
Utilizou-se para ΔR o valor de 110±40 anos 14C.
8. SÍNTESE CONCLUSIVA
As características da implantação geográfica do povoado da Moita da Ladra,
no topo de uma chaminé vulcânica, dominando visualmente o vasto estuário
do Tejo, foram determinantes para o controlo de uma das entradas naturais no
hinterland da Península de Lisboa, a qual, no decurso do Calcolítico, se encontrava
densamente povoada, articulando por via dos vales que a atravessam, o interior
do estuário do Tejo com o litoral atlântico, por alturas de Torres Vedras. Deste
modo, os produtos e matérias ‑primas oriundos do Alto e do Baixo Alentejo,
confluiriam ao estuário do Tejo, cuja transposição, em embarcações, se poderia
efetuar na secção adjacente ao povoado pré ‑histórico.
A preocupação com a visibilidade do sítio, essencial para a identificação para
quem transpusesse o rio, foi ao ponto de se terem selecionado, como elementos
de construção, grandes blocos calcários transportados do sopé do morro basál‑
tico, com os quais se revestiram os paramentos das estruturas defensivas, voltadas
para sul, refletindo o sol por contraste com a cor negra dos basaltos subjacentes.
Entre as matérias ‑primas estratégicas oriundas do Alentejo cuja circulação seria
controlada pelos habitantes do povoado, contam ‑se os anfibolitos, de utilização
generalizada em todos os povoados calcolíticos da península de Lisboa, a par do
cobre. Este seria importado sob a forma de lingotes, ou ainda como minério em
bruto, cuja metalurgia se encontra atestada no local. A assinalável quantidade
de artefactos metálicos, boa parte dos quais inclassificáveis e destinados à
O POVOADO CAMPANIFORME FORTIFICADO DA MOITA DA LADRA (VILA FRANCA DE XIRA, LISBOA)… 247
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
Fig. 20 – Moita da Ladra. Representação gráfica das distribuições de probabilidade das datas de radiocarbono
calibradas de Moita da Ladra, a par de outras de contextos campaniformes da Península de Lisboa (in Cardoso, 2014).
JOÃO LUÍS CARDOSO, ANTÓNIO M. MONGE SOARES, JOSÉ M. MATOS MARTINS
248
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
refundição, sublinha o carácter metalúrgico deste sítio. Tal abundância contrasta
com a escassez de artefactos do quotidiano, com exceção dos relacionados com
atividades bélicas, como as pontas de seta e as pontas de projétil de osso, o que
sublinha a natureza particular desta ocupação. Deste modo, pode considerar‑
‑se que a comunidade que ocupou o local se encontrava essencialmente
vocacionada para atividades de distribuição e comercialização de matérias ‑primas
e produtos oriundos do Alentejo, tornando ‑se para tal essencial o domínio das
vias de circulação que penetravam no hinterland da península de Lisboa, a par
da produção ou transformação de objetos metálicos, os quais se destinariam
também essencialmente à comercialização. Com efeito, os cerca de meia centena
de artefactos metálicos recolhidos afiguram ‑se algo desproporcionados quando
comparados com a escassez de outros artefactos relacionados com as tarefas do
quotidiano.
Estar ‑se ‑ia, pois, perante uma comunidade a um tempo de artífices e comer‑
ciantes, a quem caberia também o controlo dos territórios e das vias de circula‑
ção relacionadas diretamente com as características de implantação do sítio, no
quadro das redes de povoamento e da circulação de bens e matérias ‑primas na
península de Lisboa, no decurso da segunda metade do 3.º milénio a.C., época
em que se encontrava densamente povoada.
O estatuto social desta comunidade, distinto do inerente aos habitantes dos
territórios adjacentes, entregues às atividades agropecuárias, encontra ‑se ilustrado
pelas produções cerâmicas campaniformes, de assinalável qualidade, onde ocor‑
rem vasos marítimos associados a recipientes com decoração geométrica, exclusi‑
vamente decorados a pontilhado.
As datações sistemáticas realizadas para contextos campaniformes da
península de Lisboa, tanto de sítios de altura fortificados, como Penha Verde
(Sintra), Leceia (Oeiras) e o agora estudado, como para sítios de encosta,
correspondentes a pequenos povoados ou casais agrícolas de cunho familiar, como
Freiria (Cascais), Monte do Castelo (Oeiras), para além de diversas necrópoles,
como a de Verdelha dos Ruivos (Vila Franca de Xira), muito perto do povoado em
apreço, e a gruta da Ponte da Laje (Oeiras) vieram provar que ambos os tipos de
ocupações foram coevas, inscrevendo ‑se na rede de povoamento desenvolvida na
região no decurso da segunda metade do 3.º milénio a.C. (Cardoso, 2014), como
se evidencia na fig. 20.
As diferenças verificadas nas produções campaniformes dos dois tipos de
sítios – nos primeiros, produções finas, dominadas pelo grupo dos vasos maríti‑
mos e geométricos a pontilhado; nos segundos, produções mais grosseiras, onde
os recipientes incisos são dominantes, incluindo grandes caçoilas de armazena‑
mento – terão incidências sociais. Assim, as produções campaniformes mais cui‑
dadas estariam essencialmente reservadas a comunidades sediadas em sítios de
O POVOADO CAMPANIFORME FORTIFICADO DA MOITA DA LADRA (VILA FRANCA DE XIRA, LISBOA)… 249
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
altura, a partir dos quais controlavam os territórios adjacentes, detendo estatuto
social elevado, enquanto as produções campaniformes mais grosseiras seriam
as utilizadas sobretudo pelas populações que se distribuíam pelos espaços geo‑
gráficos adjacentes, em sítios abertos, de cunho familiar, entregues a atividades
agropecuárias.
Esta interpretação é condizente com a pequena comunidade que se fixou, no
decurso da segunda metade do 3.º milénio a.C., no morro basáltico de Moita da
Ladra, cujo estatuto se diferenciava claramente do inerente às comunidades agro‑
‑pastoris que, na mesma altura, se sediavam na região.
Igualmente a reter é a coexistência entre produções campaniformes e produ‑
ções de cunho regional, pertencentes ao grupo «folha de acácia/crucífera».
Esta observação corporiza a convivência de duas tradições culturais distintas,
com paralelos em outras estações da região, como os povoados calcolíticos forti‑
ficados da Penha Verde, Sintra (Cardoso, 2010/2011), da Rotura (Ferreira e Silva,
1970) e de Leceia (Cardoso, 1997/1998). Esta evidência, à qual até época recente
não tinha sido dada a relevância adequada, consubstancia a possibilidade de
terem existido duas comunidades de raízes culturais distintas, de cuja interação
teria resultado a ocorrência de materiais próprios de cada uma delas, nos mesmos
espaços domésticos. Tal interação ter ‑se ‑ia dado em fase ulterior à da simples
coexistência não interativa, como se comprova em Leceia, onde uma cabana, com
espólios cerâmicos exclusivamente campaniformes, datada do segundo quartel
do 3.º milénio a.C., se implantou em zona adjacente à da primeira linha defen‑
siva do povoado calcolítico, onde nessa época as produções campaniformes ainda
não eram utilizadas pela população nele residente (Cardoso, 1997/1998, e Car‑
doso, 2014).
Deste modo, a génese e desenvolvimento das manifestações campaniformes
na região do estuário do Tejo fez ‑se de forma independente da cultura mate‑
rial, no que à cerâmica decorada diz respeito, cuja origem remonta, tal como no
povoado fortificado do Zambujal (Torres Vedras) (Kunst e Lütz, 2010/2011), aos
inícios do segundo quartel a.C. A primeira consequência desta realidade, agora
incontroversa, é a revogação da perspetiva de se fazer coincidir a emergência das
produções campaniformes com o início do Calcolítico Final, quando na verdade
as mesmas eram já conhecidas na região desde o Calcolítico Inicial, de acordo
com a fronteira cronológica de 2600/2500 anos a.C. definida em Leceia entre o
Calcolítico Inicial e o Calcolítico Pleno (Cardoso e Soares, 1996).
JOÃO LUÍS CARDOSO, ANTÓNIO M. MONGE SOARES, JOSÉ M. MATOS MARTINS
250
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
BIBLIOGRAFIA
ASCOUGH, P.; COOK, G.; DUGMORE, A.
(2005) – Methodological approaches to deter‑
mining the marine radiocarbon reservoir effect.
Progress in Physical Geography. 29:4, p. 532 ‑547.
BESSE, M. (1996) – Le campaniforme en France.
Analyse de la céramique d´accompagnement. Oxford.
BAR International Series 635.
BRONK RAMSEY, C. (2001) – Development of
the Radiocarbon calibration program OxCal.
Radiocarbon. 43: 2A, p. 355 ‑363.
BRONK RAMSEY, C. (2008) – OxCal Program
v4.1.03. Disponível em http://c14.arch.ox.ac.uk/
oxcal.html.
BRONK RAMSEY, C. (2009) – Bayesian analy‑
sis of radiocarbon dates. Radiocarbon. 51: 1,
p. 337 ‑360.
CARDOSO, J. L. (1995a) – Cerâmicas decoradas
a pente, do Calcolítico Pleno de Leceia (Oeiras) e
da Penha Verde (Sintra). Estudos Arqueológicos de
Oeiras. Oeiras. 5, p. 243 ‑249.
CARDOSO, J. L. (1995b) – Possíveis pontas de
seta calcolíticas de osso do povoado de Leceia
(Oeiras). Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras.
5, p. 233 ‑241.
CARDOSO, J. L. (1997/1998) – A ocupação cam‑
paniforme do povoado pré ‑histórico de Leceia
(Oeiras). Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras.
7, p. 89 ‑153.
CARDOSO, J. L. (1999/2000) – Os artefactos de
pedra polida do povoado pré ‑histórico de Leceia
(Oeiras). Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras.
8, p. 241 ‑323.
CARDOSO, J. L. (2003) – A utensilagem óssea de
uso comum do povoado pré ‑histórico de Leceia
(Oeiras). Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras.
11, p. 25 ‑84.
CARDOSO, J. L.; CARREIRA, J. R. (2003) – O
povoado calcolítico do Outeiro de São Mamede
(Bombarral): estudo do espólio das escavações
de Bernardo de Sá (1903/1905). Estudos Arqueoló‑
gicos de Oeiras. Oeiras. 11, p. 97 ‑228.
CARDOSO, J. L. (2004) – A Baixa Estremadura dos
finais do iv milénio a.C. até à chegada dos Romanos:
um ensaio de História Regional. Oeiras: Câmara
Municipal de Oeiras. (Estudos Arqueológicos de
Oeiras; 12).
CARDOSO, J. L. (2004) – Polished stone arte‑
facts at the prehistoric settlement of Leceia (Oei‑
ras). Madrider Mitteilungen. Mainz. 45, p. 1 ‑32.
CARDOSO, J. L. (2006) – As cerâmicas decoradas
pré ‑campaniformes do povoado pré ‑histórico de
Leceia: suas características e distribuição estrati‑
gráfica. Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 14,
p. 9 ‑276.
CARDOSO, J. L. (2009) – Estatuetas do Neolítico
Final e do Calcolítico do povoado pré ‑histórico
de Leceia (Oeiras) e o simbolismo a elas asso‑
ciado. Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 17,
p. 73 ‑96.
CARDOSO, J. L. (2010/2011) – O povoado calco‑
lítico da Penha Verde (Sintra). Estudos Arqueológi‑
cos de Oeiras. Oeiras. 18, p. 467 ‑551.
CARDOSO, J. L. (2013) – O povoado pré‑
‑histórico do Outeiro Redondo (Sesimbra).
Resultados da primeira fase de escavações
arqueológicas (2005 ‑2008). Estudos Arqueológicos
de Oeiras. Oeiras. 20, p. 641 ‑730.
CARDOSO, J. L. (2014) – Absolute chronology
of the Beaker phenomenon North of the Tagus
estuary: demographic and social implications.
Trabajos de Prehistoria. Madrid. 71: 1, p. 56 ‑75.
CARDOSO, J. L.; CANINAS, J. C. (2010) – Moita
da Ladra (Vila Franca de Xira). Resultados prelimi
nares da escavação integral de um povoado calco
lítico muralhado. In GONÇALVES, V. S.; SOUSA,
A. C., eds. – Transformação e mudança no centro e
sul de Portugal: o 4.º e o 3.º milénios a.n.e. Actas
do Colóquio Internacional (Cascais, 2005). Cascais:
Câmara Municipal de Cascais. p. 65 ‑95.
CARDOSO, J. L.; CARDOSO, G.; ENCARNAÇÃO,
J. D. (2013) – O campaniforme de Freiria (Cas‑
cais). Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 20,
p. 525 ‑588.
CARDOSO, J. L.; CARVALHOSA, A. B. (1995)
Estudos petrográficos de artefactos de pedra
polida do povoado pré ‑histórico de Leceia (Oei‑
ras). Análise de proveniências. Estudos Arqueológi‑
cos de Oeiras. Oeiras. 5, p. 123 ‑151.
O POVOADO CAMPANIFORME FORTIFICADO DA MOITA DA LADRA (VILA FRANCA DE XIRA, LISBOA)… 251
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
CARDOSO, J. L.; CUNHA, A. S.; AGUIAR, D.
(1991) – O Homem pré ‑histórico no concelho de
Oeiras. Estudos de Antropologia física. Oeiras:
Câmara Municipal de Oeiras. (Estudos Arqueo‑
lógicos de Oeiras; 2).
CARDOSO, J. L.; FERREIRA, O. V. (1990) – Três
suportes de lareira da Penha Verde (Sintra).
Revista de Arqueologia. Lisboa. 1, p. 5 ‑12.
CARDOSO, J. L.; MARTINS, F. (2009) – O
povoado pré ‑histórico do Outeiro da Assenta
(Óbidos). Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras.
17, p. 261 ‑356.
CARDOSO, J. L.; SOARES, A. M. M. (1996) –
Contribution d’une série de datations 14C, pro‑
venant du site de Leceia (Oeiras, Portugal), à la
chronologie absolue du Néolithique et du Chal‑
colithique de l’Estremadura portugaise. In Actes
du colloque de Périgueux 1995, Supplément à la
Revue d’Archéométrie. p. 45 ‑50.
CELESTINO PÉREZ, S.; BLANCO FERNÁNDEZ,
J. L. (2006) – La joyería en los orígenes de
Extremadura: el espejo de los dioses. Badajoz:
Instituto de Arqueologia de Mérida/CSIC.
(Ataecina, Colección de Estudios Históricos de la
Lusitania).
CONVERTINI, F. (1966) – Production et
signification de la céramique campaniforme à la fin
du 3ème millénaire av. J. ‑C. dans le Sud et le Centre‑
‑Ouest de la France et en Suisse occidentale. Oxford:
BAR. (International Series; 656).
FERREIRA, O. da Veiga (1961) – Acerca da pre‑
sença de Arsénio em instrumentos primitivos,
encontrados em Portugal. Boletim de Minas. Lis‑
boa. 12. 8 p. Separata.
FERREIRA, O. V.; SILVA, C. T. (1970) – A
estratigrafia do povoado pré ‑histórico da Rotura
(Setúbal). Nota preliminar. In Actas das I Jornadas
Arqueológicas (Lisboa, 1969). Lisboa: Associação
dos Arqueólogos Portugueses. 2, p. 203 ‑225.
GARRIDO ‑PENA, R. (2000) – El campaniforme en la
Meseta Central de la península Ibérica (c. 2500 ‑2000
AC). Oxford: BAR. (International Series; 892).
GONÇALVES, J. L. M. (1991) – Cerâmica
calcolítica da Estremadura. In Actas das IV Jornadas
Arqueológicas (Lisboa, 1990). Lisboa: Associação
dos Arqueólogos Portugueses. p. 215 ‑226.
GONÇALVES, V. S. (1971) – O castro da Rotura
e o vaso campaniforme. Setúbal: Junta Distrital de
Setúbal.
GONÇALVES, V. S. (1989) – Megalitismo e
metalurgia no Alto Algarve Oriental. Lisboa: INIC.
2 volumes.
GONÇALVES, V. S. (2008) – As ocupações pré‑
‑históricas das furnas do Poço Velho (Cascais).
Cascais: Câmara Municipal de Cascais.
INGRAM, B. L. (1998) – Differences in
radiocarbon age between shell and charcoal from
a Holocene Shellmound in Northern California.
Quaternary Research. 49, p. 102 ‑110.
JALHAY, E.; PAÇO, A. do (1941) – El castro de
Vilanova de San Pedro. Actas y Memorias de la
Sociedad Española de Antropología, Etnografía y
Prehistoria. Madrid. 20, p. 55 ‑141.
KENNETT, D. J.; INGRAM, B. L.; ERLANDSON, J.
M.; WALKER, P. (1997) – Evidence for temporal
fluctuations in marine radiocarbon reservoir
ages in the Santa Barbara Channel, southern
California. Journal of Archaeological Science, 24:11,
p. 1051 ‑1059.
KUNST, M.; LÜTZ, N. (2010/2011) – Zambujal
(Torres Vedras), investigações até 2007. Parte
1: sobre a precisão da cronologia absoluta
decorrente das investigações na quarta linha
da fortificação. Estudos Arqueológicos de Oeiras.
Oeiras. 18, p. 419 ‑466.
LEISNER, G.; LEISNER, V. (1951) – Antas do
concelho de Reguengos de Monsaraz. Lisboa:
Instituto para a Alta Cultura.
LEISNER, V. (1965) – Die Megalithgräber der
Iberischen Halbinsel. Der Westen. Berlin: Walter de
Gruyter. 2 volumes.
LEISNER, V.; SCHUBART, H. (1966) – Die
kupferzeitliche befestigung von Pedra do Ouro/
Portugal. Madrider Mitteilungen. Heidelberg. 7,
p. 9 ‑60.
MÜLLER, R.; CARDOSO, J. L. (2008) – Polished
stone artefacts at the prehistoric settlement of
Leceia (Oeiras). Madrider Mitteilungen. Mainz.
45, p. 1 ‑32.
MÜLLER, R.; CARDOSO, J. L. (2008) – The
origin and use of copper at the chalcolithic
fortification of Leceia (Oeiras, Portugal).
Madrider Mitteilungen. Wiesbaden. 49, p. 64 ‑93.
JOÃO LUÍS CARDOSO, ANTÓNIO M. MONGE SOARES, JOSÉ M. MATOS MARTINS
252
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
NOCETE, F. (2004) – Odiel. Proyecto de
investigación arqueológica para el análisis del origen
de la desigualdad social en el Suroeste de la Península
Ibérica. Sevilla: Consejería de Cultura; Dirección
General de Bienes Culturales.
NOCETE, F. (2014) – Las sociedades complejas
(iv e iii milénio cal B.C.) en la Iberia meridional. In
Protohistoria de la Península Ibérica: del Neolítico a
la Romanización. Burgos: Universidad de Burgos;
Fundación Atapuerca. p. 83 ‑94.
NOCETE, F.; SÁEZ, R.; BAYONA, M. R.; NIETO,
J. M.; PERAMO, A.; LÓPEZ, P.; GIL ‑IBARGUCHI,
J. I.; INÁCIO, N.; GARCÍA, S.; RODRÍGUEZ, J.
(2014) – Gold in the Southwest of the Iberian
Peninsula during the 3rd Millenium BC. Journal
of Archaeological Science. 41, p. 691 ‑704.
ODRIOZOLA, C.; VILLALOBOS GARCIA, R.;
BOAVENTURA, R.; SOUSA, A. C.; MARTÍNEZ‑
‑BLANES, J. M.; CARDOSO, J. L. (2013) – Las
producciones de adorno personal en rocas verdes
del SW peninsular: los casos de Leceia, Moita
da Ladra y Penha Verde. Estudos Arqueológicos de
Oeiras. Oeiras. 20, p. 605 ‑622.
PAÇO, A. (1941) – As grutas do Poço Velho ou
de Cascais. Comunicações dos Serviços Geológicos de
Portugal. Lisboa. 22, p. 45 ‑84.
PAÇO, A. (1966) – Castelo da Pedra de Ouro.
Anais da Academia Portuguesa da História. Lisboa.
Série II, 16, p. 117 ‑152.
PAÇO, A.; ARTHUR, M. L. C. (1952) – Castro de
Vila Nova de S. Pedro. 15.ª campanha de esca‑
vações (1951). Brotéria. Lisboa. 54:3, p. 289 ‑309.
PEREA, A. (1991) – Orfebreria prerromana. Arqueo‑
logía del oro. Madrid: Caja de Madrid; Consejeria
de Cultura; Dirección General de Patrimonio
Cultural.
PEREIRA, F.; SILVA, R.; SOARES, A. M. Monge;
ARAÚJO, M. F.; CARDOSO, J. L. (no prelo) –
Metallurgical production evidences in the chal‑
colithic settlement of Moita da Ladra (Vila Franca
de Xira, Portugal). Archaeometry in Europe IV
(Madrid, 2015).
REIMER, P. J.; BARD, E.; BAYLISS, A.; BECK, J. W.;
BLACKWELL, P. G.; BRONK RAMSEY, C.; BUCK,
C. E.; CHENG, H.; EDWARDS, R. L.; FRIEDRICH,
M.; GROOTES, P. M.; GUILDERSON, T. P.;
HAFLIDASON, H.; HAJDAS, I.; HATTÉ, C.;
HEATON, T. J.; HOFFMANN, D. L.; HOGG, A.
G.; HUGHEN, K. A.; KAISER, K. F.; KROMER,
B.; MANNING, S. W.; NIU, M.; REIMER, R. W.;
RICHARDS, D. A.; SCOTT, E. M.; SOUTHON,
J. R.; STAFF, R. A.; TURNEY, C. S. M. ; Van der
PLICHT, J. (2013) – IntCal13 and Marine13
Radiocarbon Age Calibration Curves, 0 ‑50,000
Years cal BP. Radiocarbon. 55:4, p. 1869 ‑1887.
ROVIRA, S. (2004) – Tecnología metalúrgica y
cambio cultural en la Prehistoria de la Península
Ibérica. Norba. Revista de Historia. 17, p. 9 ‑40.
SANCHES, M. J. (1997) – Pré ‑Histórica recente de
Trás ‑os ‑Montes e Alto Douro. Porto: Sociedade Por‑
tuguesa de Antropologia e Etnologia. 2 volumes.
SANGMEISTER, E. (1995) – Zambujal Kupfer‑
funde aus den Grabungen 1964 bis 1973.
Madrider Beiträge. Mainz. Band 5, p. 4 ‑154.
SOARES, A. M. M. (2005) – A metalurgia de
Vila Nova de São Pedro. Algumas reflexões. In
ARNAUD, J. M.; FERNANDES, C. V., coord. –
Construindo a Memória. As colecções do Museu
Arqueológico do Carmo. Lisboa: Associação dos
Arqueólogos Portugueses, p. 179 ‑188.
SOARES, A. M. M. (1993) – The 14C content of
marine shells: evidence for variability in coastal
upwelling off Portugal during the Holocene. In
Isotope Techniques in the Study of Past and Current
Environmental Changes in the Hydrosphere and the
Atmosphere. Vienna: International Atomic Energy
Agency. p. 471 ‑485.
SOARES, A. M. M.; DIAS, J. M. A. (2006) – Coastal
Upwelling and Radiocarbon – Evidence for
Temporal Fluctuations in Ocean Reservoir Effect
off Portugal during the Holocene. Radiocarbon.
48:1, p. 45 ‑60.
SOARES, A. M. M.; DIAS, J. M. A. (2007) –
Reservoir Effect of Coastal Waters off western
and Northwestern Galicia. Radiocarbon. 49:2,
p. 925 ‑936.
SOARES, A. M. M.; MARTINS, J. M. M. (2010)
– Radiocarbon dating of marine samples from
Gulf of Cadiz: The reservoir effect. Quaternary
International. 221:1 ‑2, p. 9 ‑12.
SOARES, J.; SILVA, C. T. (1974/1977) – O Grupo
de Palmela no quadro da cerâmica campaniforme
em Portugal. O Arqueólogo Português. Lisboa. Série
III, 7/9, p. 101 ‑112.
SOARES, A. M. M.; ALVES, L. C.; FRADE, J. C.;
VALÉRIO, P.; ARAÚJO, M. F.; CANDEIAS, A.;
SILVA, R. J. C.; VALERA, A. C. (2012) – Bell beaker
O POVOADO CAMPANIFORME FORTIFICADO DA MOITA DA LADRA (VILA FRANCA DE XIRA, LISBOA)… 253
O Arqueólogo Português, Série V, 3, 2013, p. 213-253
gold foils from Perdigões (Southern Portugal. In
Proceedings of the 39th International Symposium for
Archaeometry (Leuven, 2012). p. 120 ‑124.
SPINDLER, K. (1981) – Cova da Moura. Die Besie‑
dlung des Atlantischen Küstengebietes Mittelportu‑
gals vom Neolithicum bis an das Ende der Bronzezeit.
Mainz: Philipp von Zabern. (Madrider Beiträge;
Band 7).
STUIVER, M.; BRAZIUNAS, T. F. (1993) –
Modeling Atmospheric 14C Influences and
14C Ages of Marine Samples to 10,000 BC.
Radiocarbon. 35:1, p. 137 ‑189.
STUIVER, M.; PEARSON, G. W.; BRAZIUNAS, T.
(1986) – Radiocarbon Age Calibration of Marine
Samples back to 9000 cal yr BP. Radiocarbon.
28:2B, p. 980 ‑1021.
STUIVER, M.; POLACH, H. A. (1997) –
Discussion. Reporting of 14C Data. Radiocarbon.
19:3, p. 355 ‑363.
VALERA, A. C. (1999) –The re ‑creation of terri‑
torialities and identities in the III millenium BC:
research problems in Central Portugal. Journal of
Iberian Archaeology. Porto. 1, p. 109 ‑115.
VALERA, A. C. (2000) – O fenómeno campani‑
forme no interiorcentro de Portugal: o contexto
da Fraga da Pena. In Actas do 3.º Congresso de
Arqueologia Peninsular (Vila Real, 1999). Porto:
ADECAP. Vol. 4, p. 269 ‑290.
... The seven walled enclosures are all located in Estremadura -Leceia, Penha Verde, Castro do Penedo, Moita da Ladra and Vila Nova de São Pedro, in the Lisbon Peninsula, and Castro da Rotura and Outeiro Redondo in the southern margin of Tagus river (Cardoso, 1998;Cardoso et al., 2013Cardoso et al., , 2010Gonçalves, 1971;Paço and Jalhay, 1942;Spindler and Trindade, 1970)-. These sites are thought to belong to the same general architectonical, cultural and chronological environment -'fortified' settlements (Cardoso, 1998;Cardoso et al., 2013;Gonçalves, 1971)-but at the same time present diversified trajectories, related with the different sizes, structures, materials and occupation intensities (Valera et al., 2019). ...
... The seven walled enclosures are all located in Estremadura -Leceia, Penha Verde, Castro do Penedo, Moita da Ladra and Vila Nova de São Pedro, in the Lisbon Peninsula, and Castro da Rotura and Outeiro Redondo in the southern margin of Tagus river (Cardoso, 1998;Cardoso et al., 2013Cardoso et al., , 2010Gonçalves, 1971;Paço and Jalhay, 1942;Spindler and Trindade, 1970)-. These sites are thought to belong to the same general architectonical, cultural and chronological environment -'fortified' settlements (Cardoso, 1998;Cardoso et al., 2013;Gonçalves, 1971)-but at the same time present diversified trajectories, related with the different sizes, structures, materials and occupation intensities (Valera et al., 2019). This reality and the intense processes of internal modifications makes it unclear which contexts, chronologies and artefacts can be directly linked to the pinched motifs. ...
Article
Full-text available
"To be or not to be a Bell Beaker: Chalcolithic paired fingernail imprints in S-shaped vessels from the Iberian Peninsula" The paper’s title, including the errors in English spelling, is the sole responsibility of the journal's editors. This is the result of an imposition which, even against the author's will, and after much contestation and warning, was carried forward. The original title, attributed by the author, was "To be or not to be a Bell Beaker: Chalcolithic paired fingernail imprints in S-shaped vessels from the Iberian Peninsula". The Bell Beaker phenomenon is the sum of several regional answers. Those are diluted into a reality with several shared characteristics. Nevertheless, and although being one of the most studied expressions of the European Recent Prehistory, more specific adaptations are still to be understood. This is the case of the paired fingernail imprints, or pinched motifs, that due to their scarceness are mostly unnoticed in Iberia. However , one was able to highpoint a scarceness of these standardised motifs in funerary contexts and a concentration in contexts dated from the last quarter of the iii rd millennium bc, in the precise period of transition in the way of life of the peninsular human groups. Also, the regression in the communicative ability of the vessels, but at the same time clear links with other European Bell Beaker contexts seems to strengthen the hypothesis that this large-scale style must be understood as another agent in the ongoing identarian and social processes acting, as such, in the transition to the beginning of the Peninsular Bronze Age.
... 80 m-long major axis, roughly orientated north-south, and a ca. 44 m-long minor axis, which was unearthed along its entire preserved length (Figure 3), This corresponds to a single occupation, related to the formation of a single archaeological layer with a maximum thickness of no more than 0.60 m, resting directly on the bedrock, whose chronology is essentially centred on the last quarter of the 3rd millennium BC (Cardoso, Soares, Martins 2013). ...
Article
Full-text available
The three major walled sites where the author conducted archaeological excavations - Leceia (Oeiras), between 1983 and 2002; Moita da Ladra (Vila Franca de Xira), between 2003 and 2006; and Outeiro Redondo (Sesimbra), between 2005 and 2016 - yielded a body of information of unquestionable relevance to our knowledge of architectures, stratigraphies and absolute datings. This data became essential for understanding the economy and social organisation of the populations that occupied this vast region, with its own cultural significance: the socalled ‘Chalcolithic of Extremadura’. In addition to this remarkable wealth of information, the exhumed archaeological remains have been thoroughly studied and published in detail. This paper will describe the main architectural features, both defensive and residential, of each site. Moreover, the archaeological assemblages will be enhanced based on the identification of artefacts that, given their typology, could provide objective information about the most relevant economic activities carried out by the sites’ inhabitants. Such conclusions, combined with the sites’ features, including their geographical location and size, led, for the first time, to conclusions on their functional nature and how they fitted into the demographic and economic fabric of the densely populated Lisbon/Setúbal peninsulas during the 3rd millennium BC. Keywords: Leceia, Moita da Ladra, Outeiro Redondo; architectures; assemblages; functionalities; ‘Chalcolithic of Extremadura’; Portugal.
... Together, these results constrain the burial activity to the 2nd half of the 3 rd millennium BC. In the Lisbon peninsula, available radiocarbon dates place the start of the Bell Beaker culture in the middle of the 3 rd millennium BC (Soares et al. 2007;Cardoso et al. 2013;Mataloto et al. 2013). Therefore, even though no Beaker ceramics (e.g., "maritime" vessels, Palmela bowls, or Ciempozuelos-type cooking pots) were present among the site's large pottery assemblage, we can be certain that the funerary use of Galeria da Cisterna spans a period during which these different styles of Beaker pottery decoration would seem to have co-existed (Cardoso 2014). ...
Article
Full-text available
La excavación de la necrópolis prehistórica de Galeria da Cisterna (1988-1989) recuperó los restos de varios individuos. La datación de cuatro de ellos demuestra que la cavidad fue usada con fines funerarios en época campaniforme. No se ha encontrado ningún fragmento de la característica cerámica del periodo, pero un pequeño fragmento de espiral en oro y un conjunto de botones con perforación en V justifican la asignación cultural del contexto. Su asociación con los restos humanos fechados puede considerarse segura. La observación macroscópica de los botones concluyó que la materia prima usada había sido el marfil de cachalote, lo que confirmó el análisis de densidad. Este indicador se eligió debido a que el análisis es no destructivo y discrimina bien los diferentes tipos de marfil conocidos en el Calcolítico de la península ibérica. La densidad media obtenida para los 13 botones de Galeria da Cisterna es de 2,32 ± 0,12, claramente por encima del rango de variación de los marfiles de elefante y de hipopótamo y acorde con el valor medio (2,2) publicado por Schuhmacher et al. (2013) para marfil de cachalote. El oro usado para la espiral es probablemente de origen local. Estos datos revelan la amplitud de las redes intrarregionales del Calcolítico de la península de Lisboa y sugieren que los intercambios extrarregionales serían bastante más limitados, puesto que los oros de los yacimientos coevos del Alentejo suelen tener una composición distinta y el cachalote no se ha podido identificar nunca entre sus marfiles (los cuales son de elefante norteafricano, raro en la península de Lisboa).
Chapter
Full-text available
Aperspective of the late Neolithic and Chalcolithic bone-working industry in the Portuguese Estremadura (c. 3500- 2200 BC) is presented in this paper, using the region of Ribeira de Cheleiros, now in the municipalities of Mafra and Sintra as a case study. In the current Portuguese territory this is the region with the best preservation of organic matter, concentrating in important groups of settlements and tombs. However, there are big information gaps: most of the sites have old excavations, with poor chronostratigraphic information and no use wear studies exist for any assemblage. Given the great diversity of bone artifacts and the lack of use wear studies it is very diffi cult to make functional classifi cations for most of the worked bone artifacts: tool ? adornment ? idol ? Starting with the case study region, especially the Chalcolithic settlement of Penedo do Lexim, the main issues are presented in general terms and then proceed to a diachronic reading of the chronological spectrum under study
Chapter
Full-text available
During the 3rd millennium B.C., the communities that occupied the archaeological site of Vila Nova de São Pedro (Azambuja) witnessed a period of remarkable alterations and changes, punctuated by the intensification and diversification of socioeconomic systems. One of the aspects of this economic diversification is centered on the exploitation and consumption of “secondary products”, visible through the archaeological record, be it through faunal studies, as well as specific artefactual categories such as the so called “cheese strainers”. These vessels, whose functional characteristics indicate a use related to the processing of dairy products, are considered a “type-fossils” of the 3rd millennium B.C in the Portuguese Estremadura, being identified in numerous settlements. In Vila Nova de São Pedro a large quantity of cheese strainer fragments was collected, coming either from the excavations directed by Afonso do Paço, or from within the scope of the VNSP3000 project. This paper will present the main results of the morphological and technological analysis of this collection, allowing a systematic approach to this artefactual category.
Article
Full-text available
The dolmen of Monte Serves (Vialonga, Vila Franca de Xira, Lisbon): architecture, chronology and socio-cultural integration of a small megalithic tomb in Lower Estremadura. Abstract: The dolmen of Monte Serves, located in Vila Franca de Xira (Lisbon peninsula), corresponds to a small megalithic tomb with a trapezoidal plan built using limestone slabs. It was identified in 1972 by Octávio da Veiga Ferreira, being excavated that same year under the direction of Christopher Thomas North. In 2014, within the scope of the project MEGAGEO – Moving Megaliths in the Neolithic, this monument was the subject of new archaeological works, directed by Rui Boaventura and João Luís Cardoso, intending to define its specific architecture and the respective construction sequences, mainly regarding the Tumulus and the Atrium areas. Despite the practical absence of votive materials, it was possible to collect human osteological samples, thus allowing to perform radiocarbon dating – whose average result places at least one use episode of this tomb (not necessarily its first) in the transition from the first to the second quarter of the 3rd millennium BCE (median probability: 2706 cal BCE 2σ; mean: 2715 cal BCE 2σ). Indeed, this result differs greatly from the chronological framework established for this type of small tombs in Southwestern Iberia (mid‑4th millennium BCE), but is close to the chronology (relative and absolute) documented in the contiguous funerary contexts of Casal do Penedo and Verdelha dos Ruivos, as well as in the settlements of Moita da Ladra and Pedreira do Casal do Penedo, culturally included in the typical Chalcolithic of Portuguese Estremadura. This paper thus intends to present the results obtained with the excavation of this small tomb, in terms of its architecture and chronology, framing it within the socio-cultural dynamics documented in Lower Estremadura during the Neolithic and Chalcolithic, mainly regarding the origin and development of the megalithic phenomenon. Keywords: Megalithism; Architecture; Radiocarbon; Neolithic‑Chalcolithic; Lower Estremadura.
Article
Full-text available
This paper presents a synthesis of the results obtained during the eight archaeological field seasons conducted at the prehistoric fortified settlement of Outeiro Redondo (Sesimbra) between 2005 and 2016. According to the results of the radiocarbon analyses, the occupation of the site can be dated to between 2600 and 2100 cal BC. During these ca. 500 years of human presence on that rocky hill, dominating the bay of Sesimbra, a mighty defensive system was built, using large blocks of locally available hard limestones, with an elipsoidal plan and surrounding the highest part of the hill. This walled line defended an área occupied by several circular or ellipsoidal habitational structures, accompanied by several combustion structures, in some cases used for copper metallurgy, a very well documented economic activity at this site. The joint analysis of the absolute chronology, the stratigraphic sequence, the typology of the recovered archaeological assemblages and the construction sequence of both habitational and defensive structures, supports the following correlations: First cultural phase – Early Chalcolithic (2600–2500 cal BC): scarce metallurgical evidence; ceramic production with fluted decoration; absence of defensive structures; habitational structures represented by sub-circular huts and structured hearths. Short occupation hiatus (which might be only partial), perhaps of one or two decades, following a major fire that destroyed the most densely populated part of the settlement, corresponding to the platform located on its eastern side. Second cultural phase – Full/Final Chalcolithic (2440–2110 cal BC): strong evidence of copper metallurgy; ceramics with ›acacia leaf‹ and ›cruciferae‹ decorative patterns; defensive structures built during a single construction phase; ellipsoidal huts and structured hearths.
Book
Full-text available
Apresenta-se a síntese dos resultados obtidos nas oito campanhas arqueológicas de escavações realizadas no povoado calcolítico fortificado do Outeiro Redondo (Sesimbra) entre 2005 e 2016 sob direcção do signatário. / In this study we present the results of the archaeological excavations at the fortified Chalcolithic settlement of Outeiro Redondo, Sesimbra between 2005 and 2016, directed by the author.
Book
Full-text available
Volume completo - 384 páginas ÍNDICE GERAL: ISALTINO MORAIS - Prefácio; JEAN GUILAINE - La question campaniforme: sur quelques débats d’hier et d’aujourd’hui; JOÃO LUÍS CARDOSO - Os mais antigos vasos marítimos e sua difusão a partir do estuário do Tejo (Portugal); PATRÍCIA DIOGO MONTEIRO & JOÃO LUÍS CARDOSO - Contributo para o conhecimento do coberto vegetal no decurso do 3.º milénio a.C. na região de Oeiras: resultados dos estudos antracológicos de Leceia; JOÃO LUÍS CARDOSO - Outeiro Redondo – Sesimbra – Escavações 2005‑2016; ANA CATARINA SOUSA, ÍRIS DIAS, ELISA SOUSA & MARTA MIRANDA - A ocupação do bronze final na Serra do Socorro (Mafra, Torres Vedras): os trabalhos arqueológicos de 2007 e 2008; CENTRO DE ESTUDOS ARQUEOLÓGICOS DO CONCELHO DE OEIRAS. Relatório das actividades desenvolvidas em 2018
Article
Full-text available
Apresenta-se a síntese dos resultados obtidos nas oito campanhas arqueológicas de escavações realizadas no povoado calcolítico fortificado do Outeiro Redondo (Sesimbra) entre 2005 e 2016 sob direcção do signatário. / In this study we present the results of the archaeological excavations at the fortified Chalcolithic settlement of Outeiro Redondo, Sesimbra between 2005 and 2016, directed by the author.
Article
Full-text available
Notícia sobre o III Congresso da Associação dos Arqueólogos Portugueses. Disponível em: http://issuu.com/almadan
Conference Paper
Full-text available
The chalcolithic fortified settlement of Moita da Ladra is located on a high volcanic chimney overlooking the Tagus estuary. A request for the exploitation of basaltic resources on the site has lead to the total excavation of it, performed by a large team under the supervision of the authors of this study, between September 2003 and March 2005. It is still going on (May 2006) the excavation on a closed structure located outside the fortified area and found when the archeological excavation was undertaken. Its publication will be made elsewhere. The structures identified are defensive and domestic. The former integrate a Wall having an ellipsoidal shape, in part lost, and whose length was estimated in about 80m, having a width of 44m, encompassing two massive towers and an entrance, facing the estuary of Tagus, extending to the southern area. It is interesting to note that the area of the precinct with the highest visibility and also the more monumental, corresponds to the local where the two towers and the entrance have been built and incorporates massif coating blocks corresponding to the internal and external faces of the structures, made of white compact limestone, extracted from the cretaceous layers surrounding the basaltic massif on the base of the hill. Such operation included the cutting and transport of several tones of rocks when, on the site itself, they could obtained them in abundance, made of compact basalt. The huge constructive effort involved in such operation can be explained especially by the concern to give more visibility to the fortification located on the top of the hill, which contrasts with the black color of the basaltic rocks of the volcanic chimney. This evidence leads to the conjecture that, not only there was a defensive function for the fortified precinct but also, and even more important, there would be the need to strongly outstand the site as a true landscape mark, as a visual unmistakable reference especially for those that would travel in the region coming from the estuary of Tagus or circulating in it. In fact, the location of this chalcolithic settlement can be related to the control of the access to the vast inner lowland basin of Loures, whose drainage network is articulated with the upper hydrographic basin of the river Sizandro, in the lower part of which is located the fortified chalcolithic settlement of Zambujal, near the atlantic coast. This natural circulation way thus defined could articulate the Atlantic litoral and the inside part of Tagus estuary, setting a route for the supply of this and other settlements, located in the hinterland of Lisbon peninsula, for products originated in Alentejo, through the Tagus river (copper, amphibolites). In this case, one must remember the location, among others, of the fortified settlement of Penedo de Lexim (Mafra) which is located also in a majestic volcanic chimney dominating the entire landscape and occupying the middle part of the referred natural pathway. The habitat structures identified inside the precinct are represented by holes open in the altered basaltic rock and can correspond, in the case of those having the smallest dimensions, to the post holes for the huts that should have existed there, or to container structures reutilised as dump holes, as suggested by the filling of two by ashes and another one by clam shells, in some cases still connected. A low size structure having a circular plant can correspond to a fireplace related to the copper metallurgy. The archeological remains lies in a single deposit of sediments accumulated along the inner wall of the precinct, from the highest part of the elevation, where the basaltic rocks are now at the surface. From a typological point of view, it is a coherent group of materials, characterized by the association of decorated ceramics of the group “acacia leaves/crucifera” to bell beaker productions, integrating maritime bowls (AOO, herringbone variety) and other vessels decorated with geometric patterns. The copper metallurgy is represented, accompanied by weaving weights and by cheese-press artifacts, related to the transformation of milk. Several axes and na adzes made of amphibolite, documented a community economically facing the outsider and with the possibility to use basic supplies not existing in the region, obtained by change. The only phase of occupation that have been identified agrees on the other hand with the fact that the edification of the fortified walls must have been made only once, which indicates a short occupation of the site, not more than a few decades. When the uncover of the chalcolithic structures was made, several neolithic artefacts were collected, where characteristic decorated ceramics are abundant, both impressed and incised, as also flint and polished stone utensils indicating an importante occupation of an advanced phase of the Early Neolithic, circumscribed to the southeastern part of the hill, which has parallel on other hill-tops of the Lisbon peninsula, that can be attributed to residential sites, occupied along all the year.
Article
Full-text available
Neste trabalho serão apresentados os cinquenta e três artefactos relacionados com o simbólico recolhidos no povoado pré-histórico de Leceia (Oeiras), de cerâmica, osso e pedra polida ou afeiçoada. Embora alguns já tenham sido por diversas vezes publicados, é a primeira vez que se apresenta um estudo do conjunto sobre a colecção reunida, no decurso das escavações ali realizadas entre 1983 e 2002, incluindo os que até agora se mantinham inéditos.
Article
Full-text available
O objectivo deste trabalho é o de dar a conhecer o conjunto dos materiais de pedra polida até o presente recuperados nas escavações dirigidas pelo signatário no povoado pré-histórico de Leceia, desde 1983. Trata-se, pois, de recolhas efectuadas no decurso dos últimos 18 anos, correspondentes à escavação de uma área superior a 10 000 m2. Todos os materiais susceptíveis de neles se identificarem pelo menos alguns dos atributos tipológicos considerados foram desenhados: deste modo, é possível confrontação directa, por parte do leitor, com cada uma das peças estudadas. Este trabalho não esgota o assunto: é desejável que alguns dos aspectos agora tratados sejam discutidos de forma mais aprofundada em estudos ulteriores. No entanto, a relevância das conclusões ora apresentadas encontra-se assegurada à partida não só pela riqueza e variedade tipológica das 184 peças que integram o conjunto, aspecto que se afigura singularmente importante, mas, sobretudo, pelas informações estratigráficas associadas a cada uma delas: assim se apresentaram, pela primeira vez, no concernente ao nosso País, considerações quanto à evolução da utensilagem ao longo de um período de cerca de 1000 anos, entre o último quartel do IV milénio e o terceiro quartel do III milénio AC, e quanto às alterações verificadas no âmbito das respectivas matérias-primas utilizadas, ou seja, sobre as próprias fontes de abastecimento a que, no referido intervalo de tempo, sucessivamente se recorreu, com evidentes incidências económicas à escala inter-regional.
Article
This paper highlights some of the main developments to the radiocarbon calibration program, OxCal. In addition to many cosmetic changes, the latest version of OxCal uses some different algorithms for the treatment of multiple phases. The theoretical framework behind these is discussed and some model calculations demonstrated. Significant changes have also been made to the sampling algorithms used which improve the convergence of the Bayesian analysis. The convergence itself is also reported in a more comprehensive way so that problems can be traced to specific parts of the model. The use of convergence data, and other techniques for testing the implications of particular models, are described.
Article
The 14C content of marine shells can be used as an indicator of upwelling intensity and to monitor eventual changes that occurred in the past. At present, along the western coasts of Europe, active upwelling is practically restricted to the Portuguese coast. Radiocarbon dating on marine shells collected alive before 1950 indicates that the difference, ΔR, in reservoir age of this area of the Atlantic Ocean and the reservoir age of the average ocean is 250 ± 25 years. The corresponding value of the apparent age (Tapp) of marine shells is 670 ± 20 years. These values are in accordance with the occurrence of an active upwelling and are valid for all the Portuguese coast. Concerning the eventual upwelling variability during the Holocene, several pairs of samples of marine shells and charred wood or bones collected from the same level (and closely associated) at various archaeological sites of Portugal, representing different periods of time, were dated. The results show that before 1300 BP the mean apparent age was 380 ± 30 years, which corresponds to a coastal environment weakly influenced by the upwelling of deep water, with a possible exception at about 4000 BP, which needs to be confirmed. After 1100 BP, the upwelling intensity would have increased to the present value. All these results suggest that, between 1300 and 1100 BP, a change in some climatological parameters along the Portuguese coast might have occurred, causing a significant intensification of coastal upwelling off Portugal.