A bicicleta, ao ser utilizada como modo de acesso e difusão ao transporte público, pode ser ferramenta para redução de disparidades, permitindo maior acessibilidade à população de baixa renda dependente do transporte público. Apesar das potencialidades dessa integração em países em desenvolvimento, a comunidade científica tem feito a conceitualização do fenômeno a partir da realidade de países desenvolvidos, a qual é, por hipótese, diferente daquela observada no contexto de grandes cidades brasileiras. Esse trabalho busca, dessa forma, caracterizar a ocorrência da integração bicicleta-transporte público (B+TP) em uma capital brasileira, Fortaleza, do ponto de vista da oferta e da demanda. Partindo de uma representação conceitual dessa integração, analisou-se dados empíricos de preferência revelada e declarada, provenientes de entrevistas com usuários dos bicicletários e sistemas de bicicleta compartilhada de pesquisas já realizadas. As hipóteses investigadas apontam que a integração B+TP é influenciada por aspectos como renda, gênero, motivo e distância de viagem, bem como segurança pública e viária. ABSTRACT Bicycle, when used as an access or egress mode to transit, can be a tool to reduce disparities, allowing greater accessibility to the low-income population which is dependent on public transportation. Despite the potential of this integration in developing countries, the scientific community has been conceptualizing the phenomenon from the reality of developed countries, which is hypothetically different from that observed in the context of large Brazilian cities. This work seeks to characterize the occurrence of public transport-bicycle integration (B+TP) in a Brazilian capital, Fortaleza, from the point of view of supply and demand. Based on a conceptual representation of this integration, we analyzed empirical revealed and stated preference data, from interviews with users of bicycle parking and shared bicycle systems from previous researches. The hypotheses investigated indicate that B+TP integration is influenced by aspects such as income, gender, trip purpose and travel distance, as well as public and road safety. 1. INTRODUÇÃO Os atuais avanços conceituais e metodológicos no paradigma de planejamento urbano vêm suscitando discussões sobre importantes valores e princípios como acessibilidade, sustentabilidade e equidade (Banister, 2008; Lopes et al., 2018; Macário, 2014). No entanto, as cidades são cada vez mais dependentes da mobilidade motorizada (Bertolini, 2012) e o crescimento da motorização vem resultando em novos desafios pro transporte urbano, associados a impactos ambientais e sociais negativos. Em resposta a isto, as grandes cidades adotaram a redução de distâncias e durações de viagens como principal objetivo de planejamento dos transportes (Givoni e Banister, 2013), especialmente entre residências e empregos (Burbidge e Goulias, 2009). Outra abordagem aponta para o incentivo do uso de modos alternativos, em substituição ao veículo motorizado (Holden, 2012; Modarres, 2013) como uma possível solução. Para manter os princípios e valores introduzidos e lidar com o dilema dos estilos de vida dependentes da mobilidade com práticas insustentáveis, muitos planejadores e pesquisadores veem a adoção de modos ativos de transporte (Vale et al., 2016) 2853