Content uploaded by Janio Santurio
Author content
All content in this area was uploaded by Janio Santurio on Feb 03, 2016
Content may be subject to copyright.
DIAGNÓSTICO HISTOPATOLÓGICO E IMUNOISTOQUÍMICO DE PITIOSE CUTÂNEA EM
EQÜINOS
PEDRO MIGUEL OCAMPOS PEDROSO1; PEDRO SOARES BEZERRA JÚNIOR1; ANDRÉ GUSTAVO
CABRERA DALTO1; AYRTON SYDNEI CAVALHEIRO2; JANIO MORAIS SANTURIO2; DAVID
DRIEMEIER1
ABSTRACT: PEDROSO, P.M.O.; BEZERRA JÚNIOR, P.S.; DALTO, A.G.C.; CAVALHEIRO, A.S.;
SANTURIO, J.M.; DRIEMEIER, D. Histopathological and Immunohistochemical diagnosis of cutaneous
pythiosis in horses. Pythiosis is a cosmopolitan disease caused by Pythium insidiosum that has been observed in
tropical, subtropical and temperate regions of the world. Pythium infection typically affects skin and subcutis of
horses, cattle, sheep, dogs and human, but it also can affect the intestinal tract of horses, dogs and cats. A
retrospective study (2000 to 2006) of equine cutaneous pythiosis was performed by analysis of diagnostic files at the
Veterinary Pathology Sector, UFRGS. The aim of this survey was to describe macroscopic, histologic and
immunohistochemical findings of five cases occurred form 2000 to 2006. Microscopic examination of hematoxylin
and eosin (HE) stained tissues sections revealed necrotic foci infiltrated and surrounded by eosinophils, neutrophils,
and macrophages. Examination of Grocott’s methenamine silver-stained sections showed branching, septate hyphae.
Tissue sections were also examined by immunohistochemistry which confirmed the diagnosis of equine cutaneous
pythiosis. Immunohistochemical methods on formalin fixed material can be useful for diagnosis in retrospective
surveys or when materials for cultivation are not more available.
KEY WORDS: Equine, Pythium insidiosum, immunohistochemistry.
INTRODUÇÃO
A pitiose é uma enfermidade cosmopolita, de ocorrência em áreas temperadas, tropicais e subtropicais1,2 . O agente
causador da pitiose pertence ao Reino Stramenopila, Classe Oomycetes, Ordem Pythiales, Família Pythiaceae,
Gênero Pythium e espécie P. insidiosum2 . É uma doença que afeta a pele e subcutâneo de eqüinos1,3, bovinos4,
ovinos5 caninos6,7 e humanos8 e pode afetar também o trato intestinal de eqüinos9, caninos10 e felinos11. Nos eqüinos
não há predisposição de raça, sexo ou idade e a forma clínica mais comum é a cutânea2 sendo caracterizada por
lesões ulcerativas granulomatosas, formando grandes massas teciduais , com massas necróticas branco-amareladas
semelhantes a “corais”, chamadas de “Kunkers”2,12. O objetivo deste trabalho é relatar os achados patológicos e
imunoistoquímicos de casos de pitiose em eqüinos diagnosticados na rotina laboratorial do Setor de Patologia
Veterinária da UFRGS (SPV-UFRGS).
MATERIAL E MÉTODOS
O material deste estudo foi obtido de 4 biópsias e 1 necropsia de eqüinos submetidos ao SPV-UFRGS durante o
período de 01 de janeiro de 2000 a 01 de maio de 2006. Os dados gerais dos animais foram informados pelos
veterinários requisitantes. Todas as amostras foram fixadas em formalina tamponada a 10%, processadas
rotineiramente para exame histopatológico, incluídas em parafina, cortadas a 5µm de espessura e coradas pela
hematoxilina-eosina (HE) e pela Prata Metenamina de Grocott (GMS)13. Adicionalmente fragmentos de tecidos
foram submetidos à técnica de imunoistoquímica2 (IHQ) utilizando-se anticorpo primário policlonal anti-P.
insidiosum produzido em coelho na diluição de 1:100 em Phosphate Buffered Saline (PBS), empregando-se o
método complexo streptavidina-biotina. Como cromógeno foi utilizado o VECTOR®NovaRED.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados referentes à idade, sexo, raça e localização anatômica das lesões estão representados na Tabela 1.
Macroscopicamente as amostras analisadas neste estudo apresentavam tecido conjuntivo fibroso juntamente com
material necrótico de coloração amarelada que se desprendiam facilmente do tecido circunjacente (“Kunkers”). No
exame histopatológico, o aspecto geral das lesões foi semelhante em todos os casos. Observaram-se focos necróticos
1 Setor de Patologia Veterinária (SPV) / Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – Avenida Bento Gonçalves, 9090, CEP 91540-
000, Bairro: Agronomia, Porto Alegre, RS – E-mail: davetpat@ufrgs.br
2 Laboratório de Pesquisas Micológicas – Dep. de Microbiologia -UFSM 97105-900 Santa Maria RS
107
Medicina de Eqüinos
Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, RJ, EDUR, v. 27, suplemento, 2007.
associados com imagens negativas tubuliformes de hifas fúngicas, circundados por infiltrado de eosinófilos,
neutrófilos e macrófagos e abundante tecido conjuntivo fibroso. Na coloração de Grocott as hifas foram evidenciadas
nas áreas de necrose como estruturas septadas e ramificadas e de coloração marrom-escuras (Figura 1). Foi enviado
para exame micológico somente uma amostra de tecido, e isolou-se P. insidiosum. As demais amostras não puderam
ser encaminhadas para este exame, pois o material recebido já estava fixado em formalina tamponada a 10%, não
permitindo a cultura. O diagnóstico de pitiose nos casos descritos pelo SPV-UFRGS foi confirmado pela técnica de
imunoistoquímica, através de marcação das estruturas semelhantes a hifas septadas com anticorpo anti-P. insidiosum
(Figura 2). A técnica de imunoistoquímica14, bem como a de anticorpos fluorescentes15 foi um importante passo para
identificação de Pythium insidiosum em amostras histopatológicas. A técnica de imunoistoquímica tem sido utilizada
com bons resultados no diagnóstico de pitiose em eqüinos9,16 , caninos7,17,18,19,20 , bovinos2, ovinos5 e humanos21 . O
diagnóstico definitivo da pitiose normalmente requer o cultivo e isolamento do agente. Nos casos em que o material
é enviado para diagnóstico em formol a técnica de imunoistoquímica é de grande valia para a confirmação da
doença, permitindo um diagnóstico específico2,14,22.
Tabela 1. Casos de pitiose cutânea em eqüinos diagnosticados pelo SPV-UFRGS durante o período
de 2000-2006.
Eqüino n0. Idade
(anos) Sexo Raça Loc. Anat. GMS IHQ
1 * M Quarto de Milha Lábio superior + +
2 6 anos M Puro Sangue Inglês NI + +
3 6 anos F Mestiço Lábio + +
4 * * * Narina + +
5 * * * Membro anterior + +
*: Não Informado; +:Positivo; M: Macho; F: Fêmea.
Figura 1: Hifas longitudinais de P. insidiosum com estruturas ramificadas e septadas e de coloração
marrom-escuras. Coloração pela Prata Metenamina de Grocott. Obj.100. Figura 2: Marcação
positiva para P. insidiosum em imunoistoquímica. Obj. 100.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. SALLIS, E.S.V.; PEREIRA, D.I.B.; RAFFI, M.B. Ciência Rural, 33 (5): 899-903, 2003.
2. SANTURIO, J.M., ALVES, S.H., PEREIRA, D.B.; ARGENTA, J.S. Acta Scientiae Veterinariae, 34 (1): 1-14,
2006
3. HEADLEY, S.A.; ARRUDA JÚNIOR, H.N. Ciência Rural, 34 (1): 289-292, 2004.
4. SANTURIO, J.M.; MONTEIRO, A.B.; LEAL, A.T.; KOMMERS, G.D.; SOUZA, R.S.; CATTO, J.B.
Mycopathologia, 141 (3): 123-125, 1998.
5. TABOSA, I.M.; RIET-CORREA, F.; NOBRE, V.M.T.; AZEVEDO, E.O.; REIS-JÚNIOR, J.L; MEDEIROS,
R.M. Vet. Pathol., 41 (4): 412-415, 2004.
6. DYKSTRA, M.J.; SHARP, N.J.H.; OLIVRY, T.; HILLIER, A.; MURPHY, K.M.; KAUFMANS, L.;
KUNKLE, G.A.; PUCHEU-HASTON, C. Med. Mycol., 37 (6): 427-433, 1999.
1 2
108
Medicina de Eqüinos
Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, RJ, EDUR, v. 27, suplemento, 2007.
7. HOWERTH, E.W.; BROWN, C.C.; CROWDER, C. J. Vet. Diagn. Invest. 1 (1): 81-83, 1989.
8. BOSCO, S.M.G.; BAGAGLI, E.; ARAÚJO Jr., J.P.; CANDEIAS, J.M.G.; FRANCO, M.F.; MARQUES,
M.E.A.; MENDONZA, L.; CAMARGO, R.P.; MARQUES, S.A. Emerg. Infect. Dis., 11 (5): 715-718, 2005.
9. PURCELL, K.L.; KREEGER, J.M; WILSON, D.A. JAVMA, 205 (2): 337-339, 1994.
10. MENDONZA, L.; ARIAS, M.; COLMENAREZ, V.; PERAZZO, Y. Mycopathologia, 159 (2): 219-222, 2005.
11. RAKICH, P.M.; GROOTERS, A.M.; TANG, K. J. Vet. Invest., 17 (3): 262-269, 2005.
12. LEAL, A.T.; LEAL, A.B.M.; FLORES, E.F.; SANTURIO, J.M. Ciência Rural, 31 (4): 735-743, 2001.
13. PROPHET, E.B.; MILLS, B.; ARRINGTON, J.B.; SOBIN, L.H. Laboratory Methods in Histotechnology.
Washington: American Registry of Pathology, 1992. p.279.
14. BROWN, C.C.; McCLURE, J.J; TRICHE, P.; CROWDER, C. Am. J. Vet. Res., 49 (11): 1866-1868, 1988.
15. MENDOZA, L.; KAUFMAN, L.; STANDARD, P.G. J. Clin. Microbiol. 25 (11): 2159-2162, 1987.
16. BROWN, C.C. & ROBERTS, E.D Aust Vet J., 65, (3): 88-89, 1988.
17. FISCHER, J.R.; PACE L.W.; TURK, J.R.; KREEGER, J.M.; MILLER, M.A.; GOSSER H.S. J. Vet. Diagn.
Invest., 6: 380-382, 1994.
18. HELMAN, R.G. & OLIVER. J. Am. Anim. Hosp. Assoc., 35 (2): 111-114, 1999.
19. JAEGER, G.H.; ROTSTEIN, D.S.; LAW, J.M. J. Vet. Intern. Med. 16: 598-602, 2002.
20. LILJEBJELKE, KA.; ABRAMSON, C.; BROCKUS, C.; GREENE, C.E. J.Am. Med. Assoc. 220 (8): 1188-
1191, 2002.
21. TRISCOTT, J.A.; WEEDON, D.; CABANA, E. J. Cutan. Pathol. 20 (3): 267-271, 1993.
22. REIS JÚNIOR, J.L.; NOGUEIRA, R.H.G. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., 54 (4): 358-365, 2002.
109
Medicina de Eqüinos
Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, RJ, EDUR, v. 27, suplemento, 2007.