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Espaço para a morte. O Terraço da foz do Medal (Vale do Sabor, Nordeste de Portugal) durante a Idade do Bronze

Authors:
  • Museu de História Natural e da Ciência, Universidade do Porto / Natural History and Science Museum of University of Porto

Abstract and Figures

A intervenção arqueológica no Terraço da Foz do Medal decorreu no âmbito das medidas de minimização patrimoniais aplicadas no projeto de construção do Aproveitamento Hidroelétrico do Baixo Sabor (AHBS). A intervenção revelou uma importante ocupação da Idade do Bronze materializada num conjunto de estruturas negativas de tipo fossa. Quatro dessas estruturas apresentavam enterramentos primários, três individuais e um duplo, nomeadamente de 1 sub-adulto e 4 adultos. Este artigo apresenta especificamente o espaço reservado aos mortos dentro desta jazida.
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Estudos do Quaternário, 10, APEQ, Braga, 2014, pp. 59-72
http://www.apeq.pt/ojs/index.php/apeq.
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1. INTRODUÇÃO
A ocupação da Idade do Bronze no Terraço
da Foz do Medal (Meirinhos, Mogadouro) foi
identificada no decorrer do programa de sondagens
de diagnóstico aplicado aos terraços fluviais do
vale do Sabor. Este programa de minimizações de
impacte desenvolveu-se no âmbito do Plano de
Salvaguarda do Património (PSP), aplicado ao
projeto de construção do Aproveitamento
Hidroeléctrico do Baixo Sabor (AHBS) promovido
pela EDP e implementado pelo consórcio
construtor Baixo Sabor-ACE. A intervenção
arqueológica decorreu entre 2011 e 2013 com a
parceria das empresas Archeoestudos, Lda e
Arqueologia e Património, Lda.
O Terraço da Foz do Medal localiza-se na
margem esquerda do rio Sabor, freguesia de
Meirinhos, concelho de Mogadouro, distrito de
Bragança, às coordenadas geográficas 52’
52,599’’W, 41º15’17,344’’N (Sistema de
referência PT-TM06-ETRS89) (Fig.1). O sítio
implanta-se na confluência das ribeiras de Pedra de
Asma e do Medal com o rio Sabor, a uma cota
absoluta que varia entre os 163 m e 166 m acima
do nível médio das águas do mar. Esta plataforma
aplanada situa-se no fundo do vale do Sabor,
apenas oito metros acima do curso de água atual.
Encontra-se delimitada a norte pela linha de água
principal (o rio Sabor), a oeste pela foz da ribeira
do Medal, a sul pela ribeira de Pedra de Asma e a
este pela presença de uma acentuada vertente de
substrato xistoso. Estes elementos naturais
estruturam o espaço ocupado pelas comunidades
pré-históricas na ampla diacronia identificada na
plataforma.
De um modo geral, o rio Sabor desenvolve-se
num vale bastante encaixado, ainda que com uma
importante variedade geomorfológica que se reflete
claramente nas estratégias de ocupação do vale
pelas comunidades paleo-humanas. Localiza-se na
área marginal da superfície aplanada da Meseta,
onde uma forte drenagem fluvial e importantes
deslocações tectónicas relacionadas com o
desligamento tardivarisco de Bragança-Manteigas
tornam o relevo muito acidentado (FERREIRA
2005). A área apresenta grandes desníveis (na
ordem dos 700 a 800m) sobretudo na envolvente
do rio Sabor (SILVA et al. 1989), contrastando com
o território aplanado (peneplanície da Meseta) a
leste do mesmo curso de água (PEREIRA et al.
2008).
(1) Baixo Sabor-ACE. E-mail: ritantunesgaspar@gmail.com
(2) UTAD Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
(3) Arqueologia e Património, Lda.
ESPAÇO PARA A MORTE. O TERRAÇO DA FOZ DO MEDAL (VALE DO
SABOR, NORDESTE DE PORTUGAL) DURANTE A IDADE DO BRONZE
RITA GASPAR(1), JOANA CARRONDO (1), (2), LUÍS NOBRE (1), (2), ZÉLIA RODRIGUES(3) & GLÒRIA DONOSO(1)
Received: 22 January 2014; Accepted: 3 March 2014
Resumo: A intervenção arqueológica no Terraço da Foz do Medal decorreu no âmbito das medidas de minimização
patrimoniais aplicadas no projeto de construção do Aproveitamento Hidroelétrico do Baixo Sabor (AHBS). A
intervenção revelou uma importante ocupação da Idade do Bronze materializada num conjunto de estruturas
negativas de tipo fossa. Quatro dessas estruturas apresentavam enterramentos primários, três individuais e um
duplo, nomeadamente de 1 sub-adulto e 4 adultos. Este artigo apresenta especificamente o espaço reservado
aos mortos dentro desta jazida.
Palavras-chave: Idade do Bronze, enterramentos, vale do Sabor, nordeste de Portugal.
Abstract: Place for death. The Terraço da Foz do Medal (Sabor valley, northeast of Portugal) during the Bronze Age
The following work was carried out as part of a project to register the heritage that is going to be affected by
the construction of a hydroelectric dam on the river Sabor in north-eastern Portugal. The work carried out at
the river terrace of Foz de Medal revealed a Bronze Age occupation consisting on a concentration of negative
structures, 4 of which contained the remains of 5 individuals (4 adults and 1 sub-adult). These will be pre-
sented here.
Keywords: Bronze Age; human burials; Sabor valley, northeast Portugal.
Rita Gaspar, Joana Carrondo, Luís Nobre, Zélia Rodrigues & Glòria Donoso
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O vale do Sabor, com um perfil predominante
em V e desníveis muito consideráveis entre o fun-
do do vale e as superfícies aplanadas localizadas
nos topos, apresenta também três áreas com condi-
ções geomorfológicas distintas, decorrentes preci-
samente das condições específicas deste território,
sejam as distintas resistências apresentadas pelas
litologias que o curso de água atravessa ou a neo-
tectónica ativa (PEREIRA E AZEVÊDO 1995). Nestas
áreas (Fig.2) o vale apresenta-se mais aberto tendo
sido permitida a formação de amplas plataformas de
origem fluvial. As boas condições de habitabilidade
destas plataformas e a possibilidade de exploração
de recursos bióticos e/ou abióticos justificam a utili-
zação recorrente deste espaço. Sendo escassas na
região, estas áreas são ocupadas de forma intensiva
pelas populações desde época Pré-Histórica.
O troço do vale onde se localiza a confluência
entre a foz da ribeira do Medal e o rio Sabor é disso
um excelente exemplo. Na margem direita do rio
Sabor desenvolve-se um amplo terraço quaternário
onde foi recolhido um conjunto material lítico
enquadrado no Paleolítico antigo (intervencionado
pela primeira signatária), sendo que no topo do ter-
raço foi edificada, no séc. XVIII, a capela de Santo
Antão (TRINDADE et al. 2012) símbolo derradeiro da
sacralização deste ponto específico do vale, traves-
sia natural do rio Sabor. Em ambas as margens do
rio Sabor, bem como nas ribeiras que se desenvol-
vem na sua margem esquerda, surgem afloramentos
com grafismos rupestres de cronologia holocénica
destacando os zoomorfos de Cabeço do Aguilhão e
Fig. 1. Localização do Terraço da Foz do Medal na margem esquerda do rio Sabor
(superior) e implantação do sítio arqueológico num extrato da Folha 119 – Felgar
(Torre de Moncorvo) da CMP (inferior). (Cartografia por Ana Rita Ferreira).
Fig. 1. Location of Terraço da Foz do Medal on the left bank of the river Sabor (upper) and
position of the site on Folha 119 Felgar (Torre de Moncorvo) da CMP (inferior) (Map by
Ana Rita Ferreira).
Espaço para a morte. O Terraço da Foz do Medal (vale do Sabor, nordeste de portugal) durante a Idade do Bronze
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de Santo Ano da Barca (FIGUEIREDO 2013). A densi-
dade de rochas gravadas neste troço do vale parece
também indicar uma marcação específica desta paisa-
gem. Na margem esquerda do rio principal localizam-
se dois dos mais importantes sítios arqueogicos inter-
vencionados no vale. O Terraço da Foz do Medal apre-
senta vários níveis com ocupão paleo-humana abar-
cando uma ampla sequência do Paleolítico superior que
culmina com uma importante ocupação da fase final
deste período, onde foi identificado um conjunto de arte
móvel gravada (GASPAR, no prelo; FIGUEIREDO et al.
2014) com cerca de 1500 fragmentos de placas de xisto
e grauvaque e mais de 250 000 elementos de pedra
lascada. Sobre esta sequência desenvolve-se uma ocu-
pação da Idade do Bronze, onde se encontraram os
contextos funerários que o alvo deste trabalho.
A jusante localiza-se a Quinta de Crestelos, uma impor-
tante propriedade de cariz rural, onde também foram
identificados vestígios de uma ocupação pré-histórica a
par de uma importante ocupão da Idade do Ferro.
Nesta plataforma e crista rochosa associada foi identifi-
cada uma longa sequência, com especial relencia
para as fases da Idade do Ferro e período romano
(SASTRE, no prelo).
Fig. 2. Vista geral, para sudeste, do vale do Sabor. A seta localiza o Terraço da Foz do Sabor (Fotografia de Adriano Borges).
Fig. 2. South-westerly view of the Sabor valley. The arrow marks the location of Terraço da Foz do Sabor (Photo by Adriano Borges).
2. CONTEXTOS DA IDADE DO BRONZE
Os trabalhos de escavação em área iniciaram-se
em dezembro de 2011 com objetivo de caracterizar os
contextos da Pré-hisria Antiga identificados em son-
dagens de diagnóstico. No decorrer da intervenção foi
identificada uma ocupação da Idade do Bronze, carac-
terizada por um conjunto de estruturas negativas, dis-
persas pela plataforma. Estas foram escavadas nos
depósitos fluviais de matriz fina apresentando dimen-
sões variadas, mas na sua maioria de perfil tendencial-
mente cilíndrico. Associada a esta ocupação da plata-
forma surgiram também seis estruturas de combustão
em covacho, com preenchimento de termoclastos. O
topo desta ocupação encontrava-se bastante alterado,
não tendo sido identificadas estruturas em positivo.
Registaram-se apenas acumulações de grandes lajes de
xisto que se encontravam em posição vertical ou sub-
vertical, apresentando uma inclinação que acompanha-
va o sentido da vertente. Estas estavam associadas aos
níveis de enchimento das fossas. As características
específicas desta ocupação da Idade do Bronzeo
serão abordadas neste estudo, que se destina apenas
a divulgar os contextos funerários.
Fig. 3. Estruturas negativas da Idade do Bronze identificadas na plataforma.
Fig. 3. Bronze Age pits identified in the river terrace.
Rita Gaspar, Joana Carrondo, Luís Nobre, Zélia Rodrigues & Glòria Donoso
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siltes para abrir as estruturas negativas (Fig. 4).
Estas estruturas cortam os depósitos de crono-
logia paleolítica existentes, e surgem parcial-
mente afetadas pelo plantio de vinha em época
contemporânea.
A sequência estratigráfica da plataforma é
bastante desenvolvida e complexa, composta
predominantemente por depósitos finos de ori-
gem aluvionar, com alguns contributos de ver-
tente. A ocupação da Idade do Bronze dá-se no
topo da sequência aluvionar fina, utilizando os
Fig. 4. Pormenor da sequência estratigráfica do Terraço da Foz do Medal com a localização dos contextos da Idade do
Bronze. A castanho algumas das fossas identificadas, abertas no depósito fino de topo de sequência fluvial. Este nível é
coberto por depósitos de origem coluvionar (Desenho de Patricia Fuentes Melgar).
Fig. 4. Stratigraphical sequence of the site with the location of the Bronze Age contexts. The pits/negative structures are repre-
sented in brown, and were covered by fine deposits from the top of the fluvial sequence. This level is covered by colluvium
deposits (Drawing by Patricia Fuentes Melgar).
Do ponto de vista morfológico as 69 fossas
identificadas apresentam plantas circulares ou
ovais, variando os perfis. Estão presentes perfis
cilíndricos, de paredes retas e fundo plano, globu-
lares, em cone, e troncocónicos (estes últimos são
mais raros). Os diâmetros das fossas variam entre
os 80 e os 180 cm, e a profundidade entre os 14 cm
e os 158 cm. É provável, no entanto, que o topo de
algumas fossas esteja truncado pelo que a profun-
didade registada nem sempre corresponderá à pro-
fundidade original da estrutura. Algumas destas
estruturas negativas estão relacionadas com uma
ocupação holocénica anterior, nomeadamente o
núcleo identificado a oeste na plataforma (cf Fig. 6).
Das 69 estruturas negativas de tipo fossa
identificadas, quatro continham enterramentos
(uma criança, uma mulher adulta, um enterramento
duplo de um casal e um indivíduo adulto de sexo
indeterminado) associados à ocupação da idade do
Bronze. O outro enterramento identificado, uma
criança no núcleo de estruturas a sul, encontra-se
associado a uma ocupação de cronologia anterior.
Algumas fossas apresentam vestígios de combus-
tão na sua base, sendo que os macrorrestos vegetais
recolhidos encontram-se em análise. Existem ainda
vestígios de possíveis revestimentos das estruturas
com lajes de grauvaque e xisto tendo sido identifi-
cado o seu abatimento no interior. Algumas destas
lajes apresentam mesmo revestimentos carbonata-
dos em metade da superfície, indicando que esta-
riam apenas parcialmente enterradas aquando da
utilização das estruturas.
O conjunto material relacionado com a ocu-
pação da Idade do Bronze é bastante escasso,
tendo sido identificado na sua quase totalidade
nos depósitos coluvionares que cobrem as estrutu-
ras negativas. Trata-se de um conjunto com 171
fragmentos de recipientes cerâmicos, sendo que
apenas 32 fragmentos foram recolhidos nos depó-
sitos de enchimento das fossas. O mau estado de
preservação dos fragmentos inviabiliza à partida
uma análise detalhada. Do reduzido número de
fragmentos onde foi possível averiguar a forma
do recipiente é notório o domínio de formas aber-
tas. Predomina a decoração incisa, estando tam-
bém presente a impressa e a excisa. Os motivos
identificados incluem bandas paralelas, bandas
paralelas com motivos triangulares, espigas e
cordão plástico. A maior parte do conjunto cerâ-
mico recolhido parece remeter para um contexto
do período Proto-Cogotas (Fig. 5: 2 e 3), no
entanto, foram igualmente identificados alguns
fragmentos que se enquadram no período
Cogotas I (Fig. 5: 1 e 4).
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3. CONTEXTOS FUNERÁRIOS
Os cinco enterramentos identificados e exu-
mados apresentavam, de um modo geral, um exce-
lente estado de conservação. Trata-se de inumações
primárias, encontrando-se preservadas conexões
anatómicas e articulações lábeis tais como ossos
das mãos e dos pés.
Todos os indivíduos foram inumados em
estruturas negativas de tipo fossa, correspondendo
às fossas 1, 16, 28 e 61. A sua distribuição pela
plataforma (Fig. 6) não parece obedecer a critérios
espaciais específicos, pelos menos reconhecíveis
por ora. No entanto, é possível observar que os
enterramentos 1 (fossa 1), 2, 3 (fossa 16) e 4 (fossa
61) surgem numa localização bastante central na
Fig.5. Fragmentos de recipientes cerâmicos recolhidos (desenhos de Patricia Fuentes Melgar).
Fig. 5. Fragments of ceramic vessels recovered during the excavation (drawings by Patricia Fuentes Melgar).
Rita Gaspar, Joana Carrondo, Luís Nobre, Zélia Rodrigues & Glòria Donoso
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Nenhuma fossa apresenta vestígios de reves-
timento com argila. Quatro dos cinco enterramen-
tos exumados encontravam-se inumados em
três fossas que apresentavam grandes lajes de
xisto (com comprimento máximo que rondava os
80 cm). A presença destas lajes e a sua posi-
ção indica a existência de uma estruturação
intencional. Situações idênticas estão referen-
ciadas noutrostios peninsulares com con-
textos funerários (BLASCO et al. 1991; BLASCO
1997; PRIETO et al. 2009; SANTOS et al. 2009) ,
onde se identificaram acumulações pétreas, cuida-
dosamente colocadas sobre os enterramentos.
As lajes não foram observadas na sua
posição original encontrando-se no centro da
fossa em posição sub-vertical, como resultado
de um abatimento. Possivelmente estas esta-
riam dispostas na vertical a revestir a boca da
fossa. Na verdade, a fossa que apresentava
uma estruturação melhor preservada era a
fossa 16, que continha o enterramento 2
(indivíduo adulto do sexo feminino). A fossa
apresenta uma boca com morfologia circular
e 180 cm de diâmetro, um metro de profundi-
dade e perfil cilíndrico. No topo da fossa
encontrava-se um montículo de seixos de
quartzo e quartzito assim como blocos de
grauvaque, abaixo deste e junto ao enterra-
mento estavam diversas lajes de xisto dispos-
tas em X que cobriam a inumação.
Nº Fossa Perfil Fundo Ø Boca
(Metros)
Ø Base
(Metros) Prof. Preservação Morfologia
Original
1 - U.E. [1033] Globular Concavo 1.05 1.00 0.14 Não
16 - U.E. [1124] Em cone Concavo 1.80 0.50 1.15 Sim
28 - U.E. [1177] Em campânula Plano 0.80 1.30 0.90 Sim
61 - U.E. [1156] Globular Plano 1.20 0.90 0.12 Não
Tabela 1. Características das fossas com enterramentos
Table 1. Characteristics of burial pits
Fig. 6. Distribuição das estruturas negativas registadas na plataforma e identificação das fossas com enterramentos. (Desenho de
Patricia Fuentes Melgar)
Fig. 6. Distribution of pits and burial pits (enlarged) excavated in the platform (Drawing by Patricia Fuentes Melgar).
ocupação. Tendo em conta que não foi possível
identificar a presença de estruturas de cariz clara-
mente habitacional, quer seja pela sua ausência do
registo arqueológico ou por questões de erosão pos
-deposicional (das quais existem inúmeros vestí-
gios na plataforma), não é também possível estabe-
lecer relações espaciais entre os contextos funerá-
rios e os restantes identificados.
Espaço para a morte. O Terraço da Foz do Medal (vale do Sabor, nordeste de portugal) durante a Idade do Bronze
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A fossa 28, que continha um enterramento
duplo, apresentava também indícios de estrutura-
ção, com presença de blocos de xisto e grauvaque,
que se encontravam na horizontal, à exceção de
uma laje de grauvaque que estava na vertical
encostada à parede da fossa. Ao contrário da estru-
tura anterior esta registava uma boca mais estreita
(80 cm de diâmetro), também circular e as paredes
retas que se tornavam mais largas à medida que se
aproximavam da base plana.
Estas lajes de grauvaque deveriam, em alguns
casos, estar parcialmente expostas, i.e., parcial-
mente fora da fossa. Esta situação é indiciada pela
presença de revestimentos carbonatados em algu-
mas lajes.
3.1. Enterramento 1
O indivíduo [1032] foi inumado na fossa 1,
com a orientação sudeste (crânio)- noroeste (pés).
Apresentava-se com o tronco em decúbito dorsal e
o crânio sobre o lado esquerdo com a face voltada
a sudoeste. Os membros superiores estavam com-
pletamente fletidos para o lado esquerdo, com a
mão direita a repousar sobre as primeiras costelas
direitas e a esquerda sob o crânio, e os inferiores
fletidos para o mesmo lado.
O esqueleto encontra-se bastante completo,
tendo sido recuperados todos os elementos ósseos
constituintes do esqueleto humano a exceção do
esterno, das rótulas e de alguns ossos das mãos e
dos pés. As peças ósseas recuperadas exibem um
razoável estado de conservação, sendo as diáfises
dos ossos longos as que melhor se conservaram
A análise paleodemografica, in situ, revelou
tratar-se de um indivíduo sub-adulto, com provável
idade a morte a rondar os 8-9 anos 2 anos), a
avaliar pelo processo de calcificação e erupção
dentária. Este diagnóstico é corroborado pelos
comprimentos máximos diafisiários dos ossos lon-
gos dos seus membros superiores e inferiores. Ten-
do em conta tratar-se de um indivíduo sub-adulto
não foi possível determinar o sexo nem a estatura.
Torna-se também inviável o cálculo dos índices de
robustez e achatamento dos ossos longos e conse-
quente estudo dos padrões de atividade das popula-
ções.
Uma observação sumária dos vários elemen-
tos ósseos recuperados não revelou a presença de
quaisquer evidências de cariz paleopatológico.
Fig. 7. Perfis das fossas de inumações que apresentam estruturação interna (Desenhos
de Patricia Fuentes Melgar).
Fig. 7. Sections of the burial pits which contained internal structures (Drawing by Patricia
Fuentes Melgar).
Fig. 8. Enterramento 1- Indivíduo sub-adulto
Fig. 8. Burial 1 A sub-adult.
Rita Gaspar, Joana Carrondo, Luís Nobre, Zélia Rodrigues & Glòria Donoso
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3.2. Enterramento 2
O indivíduo [1212] foi inumado na fossa 16
em posição de decúbito lateral esquerdo, numa
orientação sudeste (crânio) noroeste (pés), com o
crânio sobre o lado esquerdo e a face voltada a
nordeste. Os membros superiores encontravam-se
fletidos para o lado esquerdo, com o direito a
sobrepor-se ao esquerdo e as mãos junto a face. Os
membros inferiores estão fletidos para o mesmo
lado com os ossos longos do direito sobre os do
esquerdo. Este esqueleto estava completo, tendo
sido recuperadas todas as peças ósseas constituin-
tes do esqueleto humano, as quais exibem um bom
estado de conservação.
A análise morfológica aos ilíacos, ossos mais
discriminantes neste exercício, permitiu determinar
o sexo feminino para este indivíduo. Estes elemen-
tos exibem características típicas deste sexo, desig-
nadamente, a grande chanfradura ciática em forma
de U, o arco composto duplo e o acetabulo peque-
no. Esta diagnose é corroborada pelas análises
morfológicas ao crânio, elemento ósseo a seguir
aos ossos da bacia mais fiável a este exercício
(arcadas supraciliares pouco marcadas, inion pouco
saliente e apófises pouco robustas) e métricas aos
úmeros, aos fémures e aos calcâneos.
As extremidades esternais das clavículas
encontram-se encerradas permitindo estabelecer o
limite inferior da idade da morte nos 30 anos. As
metamorfoses das superfícies auriculares dos ilía-
cos, numa análise preliminar, aparentam ser com-
patíveis com uma idade a morte entre os 30-40
anos, a qual é corroborada pelo fato das suturas
cranianas ainda não estarem obliteradas.
Morfologicamente esta mulher caracteriza-se
por possuir uma estatura que situaria entre os
155,36 cm e os 158,12 cm determinada a partir dos
comprimentos máximos do úmero (290 mm),
fémur (425 mm) e tíbia (340 mm) esquerda. Quan-
to aos caracteres morfológicos não métricos refira-
se a presença de 3º trocanter no fémur direito.
Fig. 9 e 10. Enterramento 2. Sepultura em estrutura negativa tipo fossa (esquerda) e enterramento de indivíduo adulto do sexo
feminino (direita).
Fig. 9 and 10. Burial 2. Internal structure of a burial pit (left) and the burial of a female adult (right).
Nas peças ósseas recuperadas para este indivíduo
foram detetadas evidências patogicas de cariz oral, dege-
nerativo e, provavelmente, infecioso. As peças denrias
permanecem, aparentemente, todas in situ, e não exibem
rtaro nem lesões cariogenicas. O desgaste dentário é de
um modo geral, moderado a acentuado. As evidências de
patologia degenerativa surgem sob a forma de artrose ligei-
ra, nas articulões da anca, do joelho e do tornozelo direi-
tos, traduzindo as marcas identificadas num ligeiro picotado
vascular e moderada na articulão do tornozelo esquerdo.
Destaca-se a identificão, nas diáfises dabia e do
perónio esquerdos, de marcas, aparentemente, compatíveis
com periostite e que se traduzem numa estrião longitudi-
nal ligeira e remodelada.
Deste enterramento foi obtida uma data por AMS
Centre for Isotope Research (University of Groningen),
tendo sido usada a curva de calibração de REIMER et al.
2013 - Calib radiocarbon calibration program (Calib Rev
7.1.0.) (Tab. 2).
Ref.
Laboratório
Contexto
arqueológico
Data BP Cal. BC (1 sigma) Cal. BC (2 sigmas)
GrA - 54503 Fémur direito - Indivíduo [1212]
Enterramento 2, fossa 16 3385±35 1695 1636 (76%) 1768 - 1610 (99,2%)
Tabela 2. Datação absoluta obtida para o enterramento 2
Table 2. Absolute date obtained for burial 2
Espaço para a morte. O Terraço da Foz do Medal (vale do Sabor, nordeste de portugal) durante a Idade do Bronze
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3.3. Enterramentos 3 e 4
O indivíduo [1213] foi inumado na fossa
28 com o indivíduo [1214]. Apresentam orien-
tação sudoeste(crânio)-nordeste(pés), ambos
com o tronco em decúbito dorsal. O crânio
sobre a base a descrever uma ligeira inclinação
para o lado esquerdo, no caso do indivíduo
[1213], e o crânio deposto sobre o lado direito
com a face voltada a sudeste, no caso do indiví-
duo [1214].
O indivíduo [1213] esquerda na Fig.
12) apresenta o membro superior direito fletido
para o lado direito num ângulo de aproximada-
mente 45º e a mão a repousar sobre as primei-
ras vértebras torácicas e o membro superior
esquerdo esticado e paralelo ao corpo com a
mão sobre o ilíaco esquerdo. Os membros infe-
riores apresentavam-se fletidos para o lado
esquerdo, depositados sobre os do indivíduo
[1214] com o pé esquerdo, sob o membro infe-
rior direito deste último indivíduo.
O esqueleto encontra-se completo, tendo
sido recuperados todos os seus elementos
ósseos em excelente estado de conservação.
Pertence a um indivíduo do sexo feminino, a
avaliar pelas características morfológicas dos
ilíacos e do crânio e pelas análises métricas ao
úmero, ao fémur e ao calcâneo esquerdos, com
idade a morte entre os 21 e os 30 anos, uma vez
que as epífises esternais das clavículas não
estão fundidas e os terceiros molares superiores
já erupcionaram e a crista ilíaca de ambos os
ilíacos está encerrada. A estatura desta
mulher foi determinada a partir dos compri-
mentos máximos do úmero (320 mm), do fémur
(430mm) e da tíbia (362) esquerda e oscilaria
entre os 159,30±5,96 cm e os 162,04±7,70 cm.
Morfologicamente, caracteriza-se ainda por
possuir foramina parietal, perfuração esternal e
abertura septal no úmero direito. No âmbito da
análise paleopatologica foram detetadas algu-
mas lesões, não muito graves, de cariz degene-
rativo (artrose e entesopatias) e oral.
A análise às superfícies articulares preser-
vadas, permitiu identificar marcas compatíveis
com artrose de grau 1 na articulação do cotove-
lo direito e moderada a acentuada (graus 2/3)
nos condilos mandibulares. No esqueleto axial
foi também observada artrose ligeira (grau 1),
nas vertebras cervicais. Ainda no âmbito da
patologia degenerativa foi observado o desen-
volvimento de entesopatias de grau 1 no tendão
de Aquiles do calcâneo esquerdo.
As peças dentárias deste indivíduo ainda
permanecem todas in situ, à exceção do segun-
do pré-molar direito e dos primeiros e dos
segundos molares superiores que sofreram,
aparentemente, perdas ante mortem e dos ter-
ceiros molares inferiores que poderão ter sofri-
do perda ante mortem ou até mesmo agenese.
Todas as peças dentárias preservadas exibem
um desgaste dentário muito acentuado, sobretu-
do os molares, e depósitos de rtaro muito
severos, sobretudo nas superfícies linguais.
Destaca-se ainda a deteção de umarie de
média cavidade e com origem interproximal no
pré-molar superior esquerdo.
O indivíduo [1214] (à direita na Fig. 12)
apresentava-se com o tronco em decúbito dor-
sal e o membro superior direito estava semi-
fletido ao alto, num ângulo de aproximadamen-
te 120º, enquanto o esquerdo se encontrava
fletido num angulo de 90º sobre o tórax. Os
membros inferiores encontravam-se semi-
fletidos para o lado esquerdo, com o direito a
sobrepor-se ligeiramente ao esquerdo na região
dos joelhos e encontrando-se sob os ossos lon-
gos dos membros inferiores do indivíduo
[1213].
Este esqueleto, encontra-se completo e em
excelente estado de conservação, e pertencia a
um indivíduo adulto jovem com idade a morte
entre os 21-30 anos. Os terceiros molares
erupcionaram mas não estão completamente
formados e as extremidades esternais das claví-
culas ainda não entraram em processo de fusão
com as diáfises.
Os ilíacos, elementos ósseos determinan-
tes para a diagnose sexual, exibem característi-
cas morfológicas tipicamente masculinas, tais
como: grande chanfradura em forma de V, arco
composto simples, ausência de sulco pre-
auricular e acetabulo grande. Esta diagnose
écorroborada pelas análises: morfológica ao
crânio (frontal fugidio, arcadas supraciliares
marcadas, inion saliente e apófises mastoides
robustas) e tricas aos úmeros, mures e
astrágalos.
A análise morfológica efetuada em campo,
revelou a permanência de sutura supranasal e
permitiu, através dos comprimentos máximos
obtidos para o úmero, fémur e tíbia esquerdos
respectivamente, 310 mm, 442 mm e 380 mm
determinar, para este homem, uma estatura de
cerca de 163,45 cm. Uma análise paleopatolo-
gica breve revelou a presença de patologias do
foro oral e degenerativo. As peças dentárias
foram todas recuperadas, a exceção dos incisi-
vos superiores e do incisivo central inferior
direito que sofreram perdas post mortem, e exi-
bem um desgaste dentário e depósitos de tárta-
ro, de um modo geral, severos. As evidências
de patologia degenerativa estão patentes sob a
forma de artrose ligeira nas articulações do
ombro esquerdo e do joelho, tornozelo e
direitos e de entesopatias ligeiras a moderadas
no tendão de Aquiles do calcâneo direito.
Rita Gaspar, Joana Carrondo, Luís Nobre, Zélia Rodrigues & Glòria Donoso
68
3.4. Enterramento 5
Este indiduo [1155] encontrava-se depositado na
fossa 61, em posição de decúbito lateral esquerdo, numa
orientação nordeste (cnio)-sudoeste (pés), com o crânio
sobre o lado esquerdo e a face voltada a sudeste. Os mem-
bros superiores apresentavam-se fletidos para o lado
esquerdo, com o antebraço direito a sobrepor-se ao
esquerdo. O membro inferior esquerdo estava totalmente
fletido e paralelo ao corpo e o direito fletido para o lado
esquerdo, num ângulo de aproximadamente 90°, com o
joelho a sobrepor-se ao cotovelo direito e a tíbia e o peró-
nio sobre o antebro direito.
O esqueleto encontra-se bastante completo, tendo
sido recuperados os seguintes elementos ósseos: cnio,
mandibula, claculas, omoplatas, ossos longos dos mem-
bros superiores e inferiores, ilíacos e alguns fragmentos de
costelas e vertebras e dos ossos do direito. No entanto,
estas peças ósseas encontram-se em ssimo estado de
conservão, ficando, aquando do levantamento, reduzi-
das a escassas esqrolas ou mesmo pó. Os dentes e as
diáfises dos ossos longos o as reges ósseas que melhor
se conservaram, dado tamm serem as mais resistentes, e
as epífises estão ausentes.
Trata-se de um indiduo adulto a avaliar pela denti-
ção, os terceiros molares estão completamente formados,
e pela dimensão das peças ósseas. No entanto, a elevada
fragmentação dos elementos determinantes à estimativa
da idade a morte, tais como o crânio e os iacos, impede o
acesso a um intervalo erio mais preciso. Por este motivo
e dado que estes são os elementos ósseos mais discrimi-
nantes na obtenção de um diagnostico sexual, o acesso ao
mesmo ficou tamm comprometido.
Ainda assim, em campo, a avalião morfológica
ao crânio permitiu constatar características típicas do sexo
feminino (arcadas supraciliares pouco marcadas, frontal,
aparentemente, vertical e inion pouco saliente).
A análise métrica, in situ, ao úmero direito, com um
comprimento máximo aproximado de 264 mm permitiu
estimar uma estatura para este indiduo, que rondaria os
145,18 ± 7,70 cm. Não foram encontrados quaisquer
caracteres discretos. A má conservação do esqueleto limi-
tou a reconstrução paleopatológica. Apenas foram deteta-
das evincias patológicas na cavidade oral, designada-
mente, o desgaste denrio e os depósitos dertaro acen-
tuados nas peças dentárias, que permanecem, aparente-
mente, todas in situ. Não foram encontradas cáries.
Fig. 11 e 12. Enterramentos 3 e 4. Sepultura em fossa (esquerda) e enterramento duplo de indivíduos do sexo feminino à esquerda
e masculino à direita (direita)
Fig. 11 and 12. Burials 3 e 4. Pit burial (left image) and double burial (right image) of an adult female (left) and male (right).
Fig. 13. Enterramento 5. Indivíduo adulto.
Fig. 13. Burial 5. Adult.
Espaço para a morte. O Terraço da Foz do Medal (vale do Sabor, nordeste de portugal) durante a Idade do Bronze
69
3.5. Síntese dos dados osteológicos
A observação in situ deste conjunto per-
mitiu constatar que as inumações foram efetua-
das em posição de decúbito lateral, esquerdo ou
direito, ou com o tronco em decúbito dorsal,
seguindoltiplas orientações (se-no, so-ne,
ne-so, no-se). Registaram-se algumas variações
na posição dos crânios e dos ossos longos dos
membros superiores e inferiores, encontrando-
se maioritariamente depositados sobre ou fleti-
dos para um dos lados. A deposição do indiví-
duo fez-se, num dos casos, com as costas
encostadas à parede da fossa, à semelhança do
verificado noutros sítios de cronologia idêntica
(SANTOS et al. 2008; SANTOS et al. 2009).
A análise paleodemográfica revelou qua-
tro indivíduos adultos, duas mulheres, um
homem e um indeterminado, e um sub-adulto.
A estimativa da idade à morte para o indivíduo
sub-adulto foi possível com alguma acuidade,
constatando-se que teria 8 a 9 anos. Os indiví-
duos adultos teriam idades compreendidas entre
os 21 e os 40 anos.
O estudo morfológico revelou valores de
estatura, que oscilam entre um valor mínimo de
160,75±8,44 cm e um máximo de 165,28±3,05 cm
para o único indivíduo do sexo masculino recu-
perado e um mínimo de 145,18±7,70 cm e um
máximo de 162,04±7,70 cm para as mulheres.
No que respeita à variação não métrica destaca-
se a deteção de foramina parietal, de perfuração
esternal e de abertura septal, no indíviduo femi-
nino [1213] e as presenças de sutura supranasal
e de 3º trocanter, respetivamente, nos indiví-
duos [1214] e [1212].
O exame paleopatológico, baseado na
observação macroscópica das peças ósseas
revelou algumas afeções da cavidade oral, entre
as quais se destaca sobretudo o desgaste dentá-
rio acentuado, a perda ante mortem de algumas
peças dentárias e o desenvolvimento de uma
cárie. Embora escassos, estes indícios parecem
traduzir alguma precariedade nos cuidados e
hábitos de higiene oral. Apenas uma análise
química dos isótopos estáveis e dos oligoele-
mentos possibilita obter uma abordagem mais
direta sobre os itens ingeridos.
No que concerne as patologias degenerati-
vas foram registadas evidências do desenvolvi-
mento de artrose e entesopatias, de um modo
geral, não muito graves, que no entanto, e dada
a reduzida dimensão da amostra não nos possi-
bilitaram efetuar grandes ilações sobre as possí-
veis atividades desempenhadas pelos indiví-
duos exumados. Ainda assim observou-se que a
frequência de artrose é ligeira sendo as lesões
pouco severas o que pode testemunhar a longe-
vidade breve dos indivíduos exumados e refor-
çar deste modo os dados da idade a morte. No
entanto, os dados apresentados são preliminares
e constituem apenas um breve contributo para
traçar o perfil paleobiológico dos indivíduos
exumados.
4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E ENQUA-
DRAMENTO REGIONAL
A ocupação do Terraço da Foz do Medal
não encontra paralelo na Idade do Bronze do nor-
deste português. Embora o enquadramento crono-
lógico da totalidade das inumações ainda esteja
por aferir, o enterramento 2, o único datado até ao
momento, insere-se no Bronze Médio. Surge,
assim, pela primeira vez uma implantação de fun-
do de vale, a uma cota altimétrica muito baixa
relativamente ao nível do curso de água e apro-
veitando uma ampla plataforma, de origem flu-
vial, com grande potencial de geração de recursos
bióticos e abióticos. Este tipo de implantação é
único na região, mas encontra-se bem registada
no noroeste do território nacional, sobretudo
datando da Idade do Bronze Médio
(BETTENCOURT 2009a).
A presença de povoados de fossas encontra-
se, de facto, bem documentada tanto no litoral
norte (SAMPAIO et al. 2008; BETTENCOURT
2009a; LUZ 2010; BOTELHO 2013) como no inte-
rior alentejano (ANTUNES et al. 2012; ALVES et
al. 2012; COSTA & BAPTISTA, no prelo) no entan-
to, no nordeste português este tipo de ocupação
era desconhecido até ao momento. Esta estratégia
de implantação caracterizada pela presença de
dezenas ou mesmo centenas de fossas, em terra-
ços fluviais, ou paisagens abertas, parece ter-se
banalizado após 1800 a.C. na Meseta Ibérica
(ABARQUERO et al 2013). Outra questão a salien-
tar será a seleção de locais com ocupações prévias
por parte destas comunidades da Idade do Bronze
(36% dos sítios no caso das ocupações Proto-
Cogotas e 50% dos sítios no caso das ocupações
Cogotas I). Estes sítios surgem como locais de
regresso recorrente, apresentando um elevada
taxa de reocupação (BLANCO 2011). Este é tam-
bém o caso no Terraço da Foz do Medal. Associa-
do a este tipo de sítios é frequente a presença de
contextos funerários, situação que se verifica
igualmente no vale do Sabor e que constitui um
dado inédito nesta região.
Os contextos funerários já identificados em
Trás-os-Montes enquadravam-se em três tipos
distintos: as inumações em cista, o aproveitamen-
to de monumentos megalíticos e os abrigos ou
grutas naturais (Fig. 14).
Rita Gaspar, Joana Carrondo, Luís Nobre, Zélia Rodrigues & Glòria Donoso
70
Os dados disponíveis, relativos a sítios de
natureza funerária no território contíguo ao vale, e
anteriores aos trabalhos desenvolvidos no baixo
Sabor remetem para a existência de uma necrópole
de cistas datada do período Calcolítico e outra
datada no Bronze Inicial. No primeiro caso, o Vale
da Casa (Pocinho) com uma cronologia da primeira
metade do III milénio a. C., apresenta várias cistas
cobertas, na sua maioria, por mamoas pétreas
(BAPTISTA 1983) dispostas num terraço fluvial do
rio Douro. O segundo caso a necrópole de cistas de
Lagares, em Macedo de Cavaleiros (BETTENCOURT
2010) enquadra-se no Bronze Inicial e apresenta
sepulturas formadas por lajes de xisto. Num âmbito
regional mais alargado, do Bronze Inicial e Médio
referimos ainda as cistas da Lomba da Fonte
(Fontela de Godim) e Cabriadas/Gorgolão
(Montalegre) (BETTENCOURT 2009b, 2010).
Integrado no Bronze Final destaca-se o pro-
vável enterramento do Abrigo 2 da Fraga dos Cor-
vos (Macedo de Cavaleiros) materializado por um
conjunto material metálico de onde se destaca uma
fíbula de dupla mola (SENNA MARTINEZ et al.
2006; BETTENCOURT 2009b).
Os sítios arqueológicos com contexto funerá-
rio das fases Proto-Cogotas e Cogotas I surgem
amplamente representados na sub-meseta norte
espanhola, em povoados de fossas, em abrigos ou
túmulos megalíticos (MONTERO 2011). Este autor
destaca uma série de sítios com enterramentos em
fossa, da fase Proto-Cogotas, dispersos por toda
esta região: o sítio de Carrelasvegas (Santillana de
Campos, Palencia): Los Rompizales (Alfoz de
Quintanadueñas, Burgos) com enterramento múlti-
plo; El Cerro (La Horra, Burgos) com enterramen-
to triplo; Las Vegas (Jabares de los Oteros, León) e
Los Tolmos (Caracena, Soria) com enterramentos
individuais e triplos, localizados no interior das
cabanas ou em frente destas, sendo marcante tam-
bém a ausência de espólio a acompanhar o morto.
Dos sítios onde também estão presentes as duas
fases (incluindo a fase Cogotas I) destacam-se El
juncal (Villaralbo, Zamora); Tres Chopos-Abarre
(Villegas, Burgos) e Las Veguillas (Burgos), este
último implantado num terraço fluvial. Inseridos
na fase Cogotas I surgem enterramentos em fossa
em Canto Blanco (Calzada del Coto/Sahagún,
León); Tordillos (Aldeaseca de la Frontera, Sala-
manca); o Renedo de Esgueva (Renedo de Esgue-
va, Valladolid); La Requejada (San Román de la
Hornija, Valladolid) em terraço fluvial e com um
enterramento triplo e C/ Obispo Manso (Zamora)
(MONTERO 2011).
Os cinco enterramentos identificados no Ter-
raço da Foz do Medal não apresentam qualquer
espólio associado. Nos indivíduos não foram iden-
Fig. 14. Enquadramento geral dos contextos funerários pré-históricos em Trás-os-Montes, citados no texto (Cartografia Ana Rita
Ferreira).
Fig. 14. Location of prehistorical funeral contexts in Trás-os-Montes, mencioned in text (map by Ana Rita Ferreira).
1-Terraço das Laranjeiras; 2-Terraço da Foz do Medal; 3-Lorga de Dine; 4-Cortelhos; 5-Fraga do Gato/Alto de Trás da Fraga; 6-
Ladeira Chã de Vales; 7-Alto dos Merouços; 8-Fragão da Pitorca; 9-Abrigo 2 da Fraga dos Corvos; 10 -Vale da Casa; 11-Santo
Ambrósio; 12-Madorras; 13-Cista da Lomba da Fonte; 19-Cistas de Lagares; 15-Gruta de Ferreiros; 16-Estante 17-Carvalhas
Alvas 1; 18-Cistas da Portela do Gorgolão.
Espaço para a morte. O Terraço da Foz do Medal (vale do Sabor, nordeste de portugal) durante a Idade do Bronze
71
tificadas quaisquer marcas de morte violenta ou
doença grave. Encontra-se presente no grupo uma
criança, tendo sido enterrada do mesmo modo que
os adultos. Todas as situações mencionadas ante-
riormente enquadram-se no descrito como norma
para o universo Proto-Cogotas (ABARQUERO et al.
2013). Os rituais e formas de enterramento Proto-
cogotas e Cogotas I têm sido amplamente discuti-
dos e novas hipóteses levantadas como a exposição
de cadáveres (GONZALEZ et al. 1994; ESPARZA et
al. 2012). No entanto, estas práticas não foram
identificadas nos enterramentos do Terraço da foz
do Medal.
O grupo Cogotas I, bem como o Proto-
Cogotas, caracteriza-se pela sua longa distensão
temporal bem como pela sua ampla extensão terri-
torial, ainda que apresente o seu núcleo central na
bacia do Douro e setor superior da Sub-Meseta sul.
Abarquero (2012) considera como zona de contato
o médio e alto Ebro, o vale de Jalón, a serra de
Cuenca, a margem esquerda do Tejo e o norte da
Extremadura. A presença de sítios deste âmbito
cultural em zona mais periféricas da Península
Ibérica, como no vale do Ebro, costa mediterrânica
e Andaluzia, está há muito identificada, sendo que
também em território português se encontram refe-
renciados Bouça do Frade e Tapado da Caldeira
(Baião), Castelo Velho (Vila Nova de Foz Côa) e
Fraga dos Corvos (Macedo de Cavaleiros)
(CASTRO et al. 1995; ABARQUERO 2012; BLANCO,
2014). Estes sítios, também com fossas e enterra-
mentos (no caso de tapado da Caldeira) deverão
ser, tal como a ocupação do Terraço da Foz do
Medal aqui apresentada, considerados na zona de
influência da cultura. A zona de contato, bem deli-
mitada para este e sul, deverá ser revista para oeste.
A ocupação registada no Terraço da Foz do
Medal será seguramente da máxima relevância
para a compreensão da Idade do Bronze do nordes-
te de Portugal. A presença de enterramentos em
excelente estado de conservação deverá de futuro
possibilitar o avanço da investigação na área do
conhecimento das populações antigas, nomeada-
mente através da aplicação de estudos de ADN
antigo e de isótopos estáveis. Por outro lado a asso-
ciação de enterramentos a um conjunto de estrutu-
ras negativas de tipo fossa e a estruturas de com-
bustão é inédita na região sendo premente repensar
a Idade do Bronze à luz dos novos dados. A distri-
buição dos enterramentos na plataforma em relação
às restantes estruturas identificadas não revela apa-
rentemente uma estruturação espacial dos espaços
de morte. No entanto, deve ser tido em conta que
os processos erosivos que a plataforma sofreu após
esta ocupação poderão ter truncado os vestígios da
ocupação não permitindo neste momento percecio-
nar a organização interna do espaço. Não foi iden-
tificado outro tipo de estruturas além das negativas,
como sucede noutros sítios de cronologia idêntica,
sendo difícil de perceber se existiria uma articula-
ção dos enterramentos com espaços habitacionais.
Apesar da inexistência de espólio arqueológi-
co associado diretamente aos enterramentos, os
depósitos coluvionares que cobrem estas estruturas
contêm um conjunto cerâmico, que de acordo com
as suas características, se enquadra no Bronze
Médio/Final. A única datação absoluta obtida até
ao momento, para o enterramento 2, é consistente
com o conjunto material, tal como com o tipo de
implantação e a ausência de espólio associado às
deposições funerárias.
AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer a EDP, entidade
promotora do Aproveitamento Hidroelétrico do Baixo Sabor;
a Baixo Sabor ACE Odebrecht; Bento Pedroso construções
S.A.; Lena construções, consórcio construtor; empresas
Archeoestudos e Arqueologia e Património, parceiras na
escavação arqueológica, e a todos os arqueólogos e técnicos
envolvidos nos trabalhos. Um especial agradecimento para a
equipa da Direção-Geral do Património Cultural pela cedên-
cia de informação cartográfica e ao colega Andrew May pela
tradução para Inglês.
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GASPAR, R. no prelo. O vale do Sabor enquanto palco de
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González & V. Fernández (coord.) I Reunión Cien-
tífica de Arqueomalacología de la Península Ibéri-
ca. León, 20-21 de Maio.[Férvedes 6]:141-145.
... This rainfall regime leads to drastic differences between the flow of water in watercourses: almost dried during the summer, while experiencing flooding episodes during winter. Geology of the valley is characterized by the occurrence of schist formations and it is strongly conditioned by micro-plate tectonics and faults (Gaspar et al., 2014a). In consequence, in the affected section, the river course runs through sections of steep and narrow V-shaped valleys (north-south) interspaced by wide and plain areas (east-west) (Pereira et al., 2014; Figure 1). ...
... Abundant Bronze Age evidence was identified, particularly from c. 2000 BC to 1200 BC. Even if small sites like Quinta do Rio 14, continued to be visited during this period, ampler structural evidence exist in flat fluvial platforms just a few meters above the river level that revealed funerary and domestic structures, particularly pits -Foz do Medal and Terraço das Laranjeiras (Gaspar et al., 2014a(Gaspar et al., , 2014bJesus et al., 2020;Martín-Seijo et al., 2017) -as in other sites of this chronology throughout Iberia (González, 1994;Lillios, 2019;Márquez Romero, 2001;Rodríguez et al., 2010). Stratigraphy, radiocarbon dates and archaeobotanical data, demonstrate these platforms were recurrently used, probably for agricultural purposes (Jesus et al., 2020). ...
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NW Iberia is dominated by Atlantic climate areas that favour pollen preservation, useful for palaeoecological studies. However, the region also includes Mediterranean sectors in which preservation of such palaeoenvironmental evidence is more difficult. To overcome these constraints, archaeological plant macroremains can be used to help characterize flora and vegetation dynamics at a local and regional level. To fill the gap in knowledge in an understudied Mediterranean region, a large archaeobotanical study was conducted at the river Sabor valley, NE Portugal. With 13 archaeological sites sampled for charcoal, fruits and seeds, it allowed the study of vegetation throughout the Holocene, starting in the Mesolithic up to Modern times, with some chronological gaps. Tree taxa dominates the older period and an expansion of shrubby taxa since Bronze age was observed. Diversification of plants used during the Iron Age and Roman period suggests an intensification of resources exploitation and deforestation. These trends seem to be related with changes in human settlements and productive strategies. During Prehistory, agricultural fields were established in flat and wide areas, and, during Iron Age, fortified granaries were used to store large amounts of grains, particularly free-threshing wheat. Drastic changes in settlement during Roman times and the establishment of small farms producing wine and/or olive oil were testified by the occurrence of Olea and Vitis in both anthracological and carpological datasets. Data from more recent periods is scarce. Results highlight that the combination of several proxies and integration of archaeological evidence helps to understand ecological dynamics in areas without pollen data and contributes to the characterization of heterogeneous areas under diverse climatic conditions and with a variety of social trends.
... The tradition of burial in caves continued, of which the Lorga de Dine is a paradigmatic case of continuity between the second half of the 3rd and the beginning of the 2nd millennia BCE, with burials carried out at staggered intervals over this period . The same can be said for the tradition of inhumation of corpses in cists in riparian areas, which existed from the Chalcolithic period (Vale da Cerva) to the Early Bronze Age (Terraço das Laranjeiras) (Gaspar et al. 2014a) to indicate the territorial appropriation of fertile valleys (Bettencourt 2009b;. Contrary to the situation in the Atlantic sub-region, no individual tombs are known emphasising the social status of certain individuals, symbolised by exceptional artefacts (perhaps with the exception of one of the cists in the necropolis of Lagares), which may be related to the lack of research into this period and the lack of radiocarbon dating of some caves with human remains accompanied by daggers, that have been considered to be older. ...
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The Northwest Iberian Peninsula is not a uniform region. Geographers have divided it into two main biogeographic sub-regions: Atlantic and Mediterranean, each with its own characteristics, in terms of geomorphology and climate. The perception that these two sub-regions have distinct identities since, at least, the first half of the 3rd millennium BCE, i.e. since the Chalcolithic period, has led us to analyse separately developments in the last quarter of the 3rd millennium BCE, which is viewed as a key period for understanding the emergence of the Bronze Age. During the Early Bronze Age new settlement strategies emerged in the Atlantic sub-region, associated with the appearance of innovative pottery shapes and decorations, resettlement of high-altitude areas for burial in small cairns, circulation of new prestigious metallic icons, the emergence of new styles of rock art, such as engravings of dozens of halberds, the emergence of the phenomenon of structured depositions of metallic objects, such as the deposits of halberds, or halberds and daggers, and, consequently, new social relationships, new power structures and new places for negotiating social relations, which revealed significant structural changes compared to Chalcolithic communities. In the Mediterranean sub-region, despite new locations for certain settlements, changes seem to have occurred across a broader timeframe, including the abandonment of several community and ceremonial spaces-such as walled enclosures or shelters with collective depositions-, the emergence of metallic deposits, consisting of halberds, and the timid adoption of new iconographies in rock art. These are characterised by phenomena of continuity or social resistance, and reveal that, in this region, social changes and new scenarios of power or social aggregation occurred in a manner that differed from the Atlantic sub-region. On the basis of the analysed data it seems possible to hypothesise that, during the last quarter of the 3rd millennium BCE, together with the phenomena of social resistance and permeability to new developments, the Northwest Iberian Peninsula was subjected to multiple and distinct influences that spawned the development of a mosaic of societies, apparently united and standardised by generalised phenomena. The factors that contributed to this change were multiple and distinct in each of the two sub-regions. This includes important external factors, such as the climate conditions in the middle of the 3rd millennium BCE and events that occurred during the second half of this millennium, that had distinct repercussions on the two sub-regions; greater or lesser permeability to Atlantic contacts; 'dismantling' of supra-regional exchange networks with southern regions, as a result of social upheavals in the Southern Mediterranean. In terms of internal factors, it is worth highlighting the capacity for resilience and adaptation to changes. Phenomena such as the migration of populations of Pontic-Caspian origin during the second half of the 3rd millennium BCE, revealed by DNA studies of human remains from the South, Southeast, and Southwest Iberian Peninsula, are not proven for this region, and therefore will not be taken into account. Keywords: Northwest Iberian Peninsula, sub-regions, transition from the 3rd to the 2nd millennium BCE, continuity or change?
... Por oposição, este tipo de construções funerárias, não parecem encontrar eco no Planalto de Penedono. Apesar de aqui não se encontrar referencias a tumulações, já em áreas envolventes regista-se a presença de dois enterramentos em contentores funerários sem tumulus, nomeadamente: Vale da Cerva (Vila Nova de Foz Côa) (Cruz, 2001: 262) e Terraço das Oliveiras (Torre de Moncorvo) (Gaspar et al., 2014). Ainda que cronologicamente em extremos opostos, pois a primeira data da primeira metade do 3º milénio e a segunda encontra-se na transição entre o 3º e o 2º milénio. ...
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Neste trabalho ensaia-se a perceção das dinâmicas territoriais numa longa diacronia entre o 4º e o 1º milénio a.C. entre o Planalto da Serra da Nave e o Planalto de Penedono, apresentando-se o interflúvio Tedo/Távora como um delimitador destes dois contextos geomorfológicos, cada um deles com as suas especificidades, mas também com evidentes semelhanças e traços comuns. Para o efeito faz-se uma análise em ambos os planaltos de algumas das arquiteturas e materialidades mais representativas e contrastam-se os resultados. No que às arquiteturas diz respeito, analisa-se o padrão de dispersão das construções funerárias. O registo arqueológico destas estruturas deteta-se a partir do 4º milénio até inícios do 1º milénio. Do “mundo dos vivos” serão genericamente analisados contextos habitacionais e outras formas de apropriação e marcação da paisagem (contextos não funerários). Quanto às materialidades, efetua-se uma breve análise aos padrões de dispersão daquelas mais abundantes e caracterizadoras dos diferentes momentos cronológicos. Considerando que não são abundantes os sítios escavados, serão tidas em conta, principalmente as referentes a achados de superfície, nomeadamente aquelas que possuem matrizes decorativas.
Conference Paper
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RESUMO Com este artigo pretendemos dar a conhecer a intervenção arqueológica realizada em finais de 2019, na Pedreira do Poio. Estes trabalhos integram-se no Projecto de Investigação denominado “Uma investigação sobre a Pré-história Recente do Vale do Côa. Dinâmicas de uso e ocupação do território”. O sítio foi identificado por ar- queólogos da Fundação Côa Parque. Localiza-se em plena área de exploração da pedreira do Poio e, quando foi reconhecido, encontrava-se já muito destruído. O principal objectivo desta intervenção consistiu na recuperação do máximo de informação possível. No final dos trabalhos duas ideias surgem: 1 – o sítio cronologicamente insere-se na Pré-história Recente; 2 – o seu tipo é inédito na região: um sítio de fossas. Palavras-chave: Alto Douro, Pré-história Recente, Escavação, Sítio de fossas. ABSTRACT This article intends to disclose the archaeological intervention carried out in late 2019, in Pedreira do Poio, as part of the Research Project “An investigation on the Late Prehistory of the Côa Valley. Dynamics of use and occupation of the territory”. The site was identified by archaeologists from the Côa Park Foundation. It is located in the middle of the exploration area of the Poio quarry and, when recognized, it was already quite destroyed. The main objective of this intervention was to recover as much information as possible. At the end of the work two ideas emerge: 1 – the site chronologically falls within Late Prehistory; 2 – its type is unprecedented in the region: a pit site. Keywords: High Douro, Late Prehistory, Excavation, Pit-site.
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O volume que agora sai a público reúne um conjunto de estudos e reflexões apresentado no Colóquio Internacional Romper Fronteiras, Atravessar Territórios. Identidades e Intercâmbios da Pré-história Recente no Interior Norte Peninsular, que se realizou nos dias 23 e 24 de setembro de 2021, e organizado pelo Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória» (CITCEM) e pelo Departamento de Ciências e Técnicas do Património (DCTP), da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Este colóquio, programado inicialmente para abril de 2020, foi confrontado com uma pandemia que obrigou a dois adiamentos e à reformulação dos moldes em que foi concebido, tendo-se realizado inteiramente em formato online. Tal não significou uma desmobilização dos participantes ou da assistência, resultando num preenchido programa de vinte e quatro comunicações, com um largo alcance de visualizações e animados debates entre sessões. (...) O volume que agora apresentamos é constituído por vinte e um artigos, submetidos a revisão científica por pares, aos quais muito agradecemos. São textos assinados por quarenta e dois investigadores: vinte e um espanhóis, vinte portugueses (ou a fazer investigação em Portugal) e um britânico. Dois dos artigos são mesmo assinados por investigadores de diferentes nacionalidades. Esta obra está organizada em dois grandes blocos temáticos. Um primeiro reúne textos de abordagem geral a processos históricos à escala regional; o segundo bloco é dedicado a casos de estudo. No seu conjunto, estes textos constituem o retrato da investigação arqueológica no interior norte peninsular da atualidade e corporizam o desenvolvimento de sinergias que romperam fronteiras, contribuindo para a integração desta região no amplo espaço do interior peninsular no que à investigação arqueológica diz respeito. O diálogo agora encetado não resolverá, por si só, todas as vicissitudes que decorrem da tradicional separação que, desde há mais de um século, aparta conceptualmente os territórios do interior peninsular, mas assume-se como uma plataforma de gestação de narrativas mais profícuas à investigação atual.
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In this paper, the perception of territorial dynamics is tested in a long diachrony, from the 4th to the 1st millennium BC, between Nave and Penedono plateaus. For this purpose, was carried out an analysis drawing on the contrast between the most representative architectures and materialities found to the east and west of the study area. As far as architectures are concerned, the archaeological record covers the period between the 4th millennium and the end of the 1st millennium BC. For the materialities, a brief analysis is made regarding the dispersion patterns of the most abundant and representative ceramics grammars belonging to particular chronological periods.
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The present volume brings together a set of studies and reflections presented at the International Conference Breaking Borders, Crossing Territories. Identities and exchanges during the Late Prehistory in the northern interior of the Iberian Peninsula, held on 23 and 24 September 2021 and organized by the Transdisciplinary Research Centre «Culture, Space and Memory» (CITCEM) and the Department of Heritage Studies (DCTP) of the Faculty of Arts of the University of Porto. This conference, initially programmed for April 2020, was confronted with a pandemic that forced two postponements and the reformulation of the format in which it was conceived, having been held entirely in an online format. This did not lead to a demobilization of the participants or the audience, resulting in a full program of twenty-four presentations, with a wide range of views and lively debates in between sessions.
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Neste artigo realizou-se uma abordagem à ocupação Pré-histórica do Cabeço de Caria Talaia, no concelho do Sabugal (Portugal). A intervenção arqueológica desenvolvida em 2008 e 2009 determinou a natureza e a cronologia dessa ocupação, de uma fase avançada entre o Bronze Médio e os inícios do Bronze Final. Apesar do mau estado de conservação das estruturas, os trabalhos permitiram assinalar um local de habitação e, entre os materiais recuperados, um significativo conjunto de cerâmicas, mas também elas bastante fragmentadas, cujas formas e motivos decorativos se inserem na tradição das produções de proto-Cogotas e Cogotas I. Com base nestes conceitos, analisam-se e discutem-se detalhes sobre a sua posição geográfica e a sua relação com o território, procurando compreender o seu enquadramento na Beira Interior, no limite mais ocidental da Meseta e, consequentemente, na periferia do complexo mundo de Cogotas I.
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This article intends to disclose the archaeological intervention carried out in late 2019, in Pedreira do Poio, as part of the Research Project “An investigation on the Late Prehistory of the Côa Valley. Dynamics of use and occupation of the territory”. The site was identified by archaeologists from the Côa Park Foundation. It is located in the middle of the exploration area of the Poio quarry and, when recognized, it was already quite destroyed. The main objective of this intervention was to recover as much information as possible. At the end of the work two ideas emerge: 1 – the site chronologically falls within Late Prehistory; 2 – its type is unprecedented in the region: a pit site.
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Studies focusing on Palaeolithic portable rock art have a long tradition in Europe. Nevertheless, they tend to only focus over formal and stylistic criteria of the motifs, important as they provide chronolo- gies for cave art. This article proposes a multiple approach to a sample of 25 engraved plaques of the Foz do Medal archaeological site, where horses and aurochs were depicted, in order to construct a preliminary model able to guide the future analysis of the whole collection composed of more than 1500 fragments. On the one hand, relevant archaeological data was collected and systematized into a database that can be subjected to statistical analysis, for which we develop different variables and their respective attributes. On the other hand, laboratory techniques of analysis and examination of materials were applied, valuing the motifs details, their potential surface treatment by fire or pig- ments ornamentation, as well as the identification of raw materials and their origins. In this article, we present the obtained results, which allow us to propose some hypotheses regarding the social importance of this specific kind of artefact, as well as its possible manipulations.
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Resumo: Com esta comunicação pretendemos, em primeiro lugar, efectuar uma síntese sobre os conhecimentos existentes relativos às práticas funerárias da Idade do Bronze da orla mais oriental do Noroeste peninsular. Em segundo, e a partir das materialidades conhecidas, en-saiar algumas interpretações sobre o papel social dos mortos, das oferendas e do funeral, nos diferentes contextos cronológico-culturais e espaciais, discutindo, sempre que possível, algumas premissas vulgarmente aceites. Em terceiro e último lugar preconizar o tipo de abordagem que consideramos mais premente no contexto actual da investigação sobre a morte. Concluímos que alguns mortos continuam agentes socialmente activos quer em termos religiosos quer como referentes de memória e de identidade grupal, principalmente durante o Bronze Inicial. A partir do Bronze Médio os cenários de promoção e negociação da identidade parecem deslocar-se para a esfera dos vivos. Palavras-chave: Noroeste Peninsular, Idade do Bronze, Práticas Funerárias, Importância do funeral e do papel social dos mortos. Abstract:In this paper we aim to, first, produce a synthesis of the existing body of knowledge concerning Bronze Age funerary practices in the easternmost edge of the northwest Iberia. Second, to propose, according to the materiality known, some interpretations on the social role of the dead, the offerings and the funeral, in different cultural contexts, discussing, whenever possible, some commonly accepted assumptions. Thirdly and lastly we will express some considerations that we consider most significant in the context of the current investigation on death in Prehistory. We conclude that some deaths are still socially active agents or in religious terms or as related to memory and group identity, especially during the Early Bronze Age. From the Middle Bronze scenarios promotion and negotiation of identity seem to move to the realm of the living.
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Este artículo plantea un ejercicio de autocrítica sobre la comprensión actual del final de Cogotas I en el interior de la Península Ibérica. Diversas dinámicas socio-políticas postuladas para este contexto como la concentración poblacional, la especialización artesanal o la jerarquización social suscitan problemas interpretativos por su deficiente engranaje con la evidencia aducida. Se reúne y escudriña la información contextual disponible sobre los lugares en altura de esta época para elucidar cómo se formaron. Se concluye interpretándolos como sedes estacionales de ceremonias agregativas, fruto de episodios de ocupación intermitentes y reiterados. Las ‘biografías culturales’ de varios recipientes cerámicos recuperados en hoyos permiten rastrear pautas de abandono complejas, reproducidas tanto en sitios encumbrados como en campos de hoyos en llanura. Ambos enfoques enfatizan la inadecuación de cualquier esquema dualista y simplificador para explicar el registro arqueológico y demandan barajar otras lecturas también posibles.
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[EN] Despite new findings of tombs (often with secondary remains) the funerary information about the Cogotas I archaeological group remains too scanty. Consequently, non-preserving burial rites,including the exposure of corpses, have been suggested at some point. The discovery of a number of skeletons in burial pits at the site of Tordillos encourages us to explore further the potential of that approach, since the bioarchaeological study has shown unambiguous evidence of that practice (canid teeth marks andother postdepositional alterations) in two of them dating in the Protocogotas I phase. Based on this, and considering ethnographic and anthropological references, it is hypothesized that corpse exposure has been the Cogotas I funerary standard. Therefore, human remains that have subsisted would belong to a small fraction of the population, those who died in unforeseen or anomalous circumstances (‘bad death’) and hence were relegated to burial pits. Thus, these tombs, that have been considered so far to be the Cogotas I standard funerary practice, would really be an exception. [ES] La información funeraria del grupo arqueológico Cogotas I sigue siendo, pese a nuevos descubrimientos de tumbas –a menudo con restos secundarios–, demasiado reducida, por lo que alguna vez se sugirieron ritos no conservadores, entre ellos la exposición de cadáveres. El hallazgo de un buen número de esqueletos sepultados en el campo de hoyos de Tordillos invita a profundizar en ese planteamiento, ya que el estudio bioarqueológico ha permitido reconocer en dos de ellos, datables en la fase Protocogotas I, mordeduras de cánidos y otras alteraciones postdeposicionales, inequívocos indicios de haber sido expuestos. Sobre esta base, y con apoyo etnográfico y antropológico, se plantea como hipótesis que la exposición fuera la norma funeraria en Cogotas I, habiendo subsistido solamente los restos de un mínima parte de la población, aquella que, fallecida en circunstancias imprevistas o anómalas (‘mala muerte’), habría sido relegada a la sepultura en hoyo. Así, estas tumbas, que pese a su escaso número pasaban por ser la regla funeraria de Cogotas I, en realidad serían su excepción.
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Este artículo se aproxima al ámbito ritual y simbólico de Cogotas I atendiendo a las prácticas sociales partícipes de su realidad material. Partiendo de algunos confusos tópicos historiográficos, se presenta un marco sociológico más relacional e inclusivo, inspirado en propuestas no positivistas. Se resalta la peculiar relación “histórica” e interactiva mantenida por tales comunidades con su pasado, así como la importancia de las actividades cotidianas ritualizadas en la reproducción de sus valores culturales. Se reivindica el ensayo de otros métodos de estudio del registro material de Cogotas I, cuya configuración y legibilidad responderían a tales pautas ordenadas y reiterativas. Como ejemplo, se revisan la reocupación de los campos de hoyos, el relleno de las fosas y la cerámica decorada con Boquique. Tales elementos ordinarios y cotidianos, inmersos en largas tradiciones culturales, revelan su cualidad de recursos mnemónicos, que presidieron la enculturación y socialización de los individuos.
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Quaternary evolution of this sector of the Hesperic Massif is recognized by the valley morphology and sediments, the Serra de Bornes' uplift and tectonic displacement (horizontal and vertical) of granites and Paleozoic series. All these evidences are associated with the Braganca-Vilarica-Manteigas NNE-SSW tectonic accident, where more sediments are being studied. Many of these sediments have in common an alluvial fan origin and ages since Paleogene are proposed. Vilarica deposits and Pleistocene Douro terraces present identical characteristics in geomorphological position and some sedimentologic features. The variation of other sedimentological characteristics along the valley suggests the presence of several alluvial fans.