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REVISTA DE ESTUDIOS E INVESTIGACIÓN
EN PSICOLOGÍA Y EDUCACIÓN
ISSN: 1138-1663; eISSN: 2386-7418 © UDC / Uminho
2015, Vol. 2, No. 1, 35-40. DOI: 10.17979/reipe.2015.2.1.721
Hilda Bayma-Freire, Faculdade Anchieta, Av. Domingos Ferreira, 1990, Boa Viagem no Recife – PE, Brasil. Antonio Roazzi, Universidade Federal de
Pernambuco, Av. Professor Morais Rego, 1235 - Cidade Universitária, Recife - PE, 50670-901, Brasil. Maira M.. Roazzi, Faculdade Pernambucana de
Saúde, R. Jean Emile Favre, 422 - Imbiribeira, Recife - PE, 51200-060, Brasil.
Correspondência relativa a este artigo: Hilda Freire - hilda_freire@hotmail.com , Antonio Roazzi - roazzi@gmail.com
O nível de escolaridade dos pais interfere na permanência dos filhos
na escola?
Does parental education level interferes with the permanence of children in school?
Hilda Bayma-Freire*, Antonio Roazzi**, Maira M. Roazzi ***
*Faculdade Anchieta do Recife, **Universidade Federal de Pernambuco, ***Faculdade Pernambucana de Saúde
Resumo
O objetivo deste estudo é verificar se o nível de escolaridade dos pais (pai e mãe) de família nuclear,
monoparental, reconstituída e pais ausentes é um fator determinante para a desistência escolar de adolescentes
brasileiros em desenvolvimento formativo. Nesta perspectiva, foram analisados alunos (entre os 15 e 17 anos)
do ensino médio público brasileiro e os seus pais (pai/ mãe). Os resultados apontam que o nível de escolaridade
baixa dos pais (pai/mãe) interfere diretamente na continuidade dos estudos dos filhos, um problema prejudicial
e de grandes repercussões nas classes desfavorecidas brasileiras.
Palavras-chave: nível de escolaridade, tipos de família, abandono escolar.
Abstract
The aim of this study is to verify whether the level of education of parents (father and mother) of nuclear family,
single-parent, reconstituted and absent fathers is a determining factor for school dropout among adolescents in
development for the training. In this perspective, 504 students were investigated (between 15 and 17 years)
studying in Brazilian state school and their parents (father / mother). The results show that low educational level
of parents (father / mother) directly affects the continuity of children's studies, an adverse problem and a major
impact in Brazilian lower classes.
Keywords: level of education, family, school dropout
Este artigo tem como foco principal ressaltar o
abandono escolar causado pelo baixo nível de escolaridade
dos pais (pai-mãe) de família nuclear, reconstruída,
monoparental e pais ausentes de classe desfavorecida. É
pertinente ressaltar que, a família brasileira desfavorecida
está marcada ainda pela desigualdade socioeconómica,
retratada no momento pela pluralidade das relações
afetivas, a qual ostenta uma estrutura vulnerável diante dos
seus membros e não consegue manter um equilíbrio no
processo de automatização dos filhos (Bayma - Freire,
2009). Nota-se uma fragilidade forte do nível de
escolaridade destas famílias acompanhada de
desmotivação para a continuidade dos estudos dos filhos. A
classe desfavorecida no Brasil se insere num contexto
muito vulnerável proveniente de muitas adversidades, no
âmbito financeiro, familiar, escolar, social e pessoal
(Lyche, 2010; Bayma-Freire, 2009). Um problema sério e
de difícil resolução, pois a desigualdade socioeconómica e
cultural da classe desfavorecida é um fator que se encontra
arraigado na própria sociedade e as ações de prevenção não
conseguiram atingir ainda o ápice do problema, por ser
muito alargado. Ora, a pobreza reflete-se nos baixos
salários, no desemprego, no analfabetismo, no baixo nível
de escolaridade e na comunidade (Rumberguer, 2011;
BAYMA-FREIRE, ROAZZI E ROAZZI
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Balancho, 2010; Bayma-Freire, 2009). Motivos de forte
cariz e de alta interferência nos contextos familiares
vulneráveis (família nuclear, reconstruída, monoparental e
pais ausentes) que culminam com o abandono escolar dos
filhos. Até porque, abandonar os estudos não é uma decisão
de impulso momentâneo, e sim, um resultado de acúmulo
de desajustes (Santos, 2010; Monteiro, 2009). Nesta linha
de ideias, o abandono dos estudos para muitos jovens é uma
fuga do estado de tensão, já que, o somatório de frustrações
no percurso escolar culmina com a desmotivação para a
continuidade deste processo. Verifica-se que os pais com o
seu nível baixo de escolarização não têm a formação
escolar como prioridade, uma prática comum nas classes
desfavorecidas brasileiras. Note-se que o acúmulo de
fatores de risco nesse período de escolaridade (Ensino
médio/Secundário), resulta na saída precoce desses alunos
da escola (Kagan, 2011; Rutter, 2010). Já que o nível de
stress provocado pelos fatores que interferem na
aprendizagem do aluno promove a vulnerabilidade para o
enfrentamento das atividades escolares do dia a dia. No
Brasil, o abandono escolar é um fenómeno complexo,
desencadeado por motivos socioeconómico, cultural,
institucional, familiar, pessoal e outros, no âmbito de uma
estrutura social promovida por políticas educativas
vigentes (Euguita, 2011; Fonseca, 2010; Bayma-Freire,
2009). Tal como os vê, esse problema requer um
questionamento reflexivo das ações implementadas para
combater e/ou diminuir a interferência desses motivos
promotores de desajustes, desmotivação e insegurança, no
enfrentamento das dificuldades no período da escolaridade
de adolescentes carenciados. Esta diversidade de fatores
culmina sempre com o abandono escolar e é pertinente
entender as ações para a prevenção dessas causas e
subsidiar os alunos em risco de desistência dos estudos
(Lüscher & Dore, 2011; Bessa & Pereira, 2011). Diante da
desigualdade socioeconómica persistente no Brasil, intervir
nos motivos requer muito entendimento das causas,
interesse e uma análise minuciosa, positiva e/ou negativa,
para verificar os efeitos das interferências, no âmbito da
família, escola e comunidade, já que o abandono escolar
está vinculado a esses contextos, o que demanda soluções
complexas.
É de referir que os tipos de famílias desfavorecidas na
influência dessas variáveis apresentam uma estrutura
familiar vulnerável, mediante o enfrentamento de fatores de
risco, os quais diante da persistência levam ao
conformismo e neste marasmo não incentivam os filhos a
continuidade dos estudos, de forma que os efeitos são
prejudiciais a todos (Balancho, 2010; Santos, 2010; Bayma
- Freire 2009). Acresce que as perspectivas dos pais, em
relação à ascendência cultural dos filhos, são muito baixas
e, por necessidade de subsistência, a trocam por um
emprego para o filho em qualquer momento, a priori a
sobrevivência é mais prevalente. Para Ribeiro (2011),
diante de tantos motivos que interferem na continuidade
dos estudos de alunos desfavorecidos, faz-se necessário
atentar para as ações de intervenções direcionadas ao foco
do problema, pois o índice de abandono escolar ainda é
alto, em face de tantas ações já ministradas. Isso significa
que as medidas precisam delimitar o motivo principal de
cada fator e investir nas ações de prevenção do problema.
Além disso, é pertinente efetuar uma análise reflexiva dos
processos de organização, gestão e de práticas pedagógicas
(Fialho, 2012). Até porque, os motivos que desencadeiam
este problema são diversificados e afetam de forma
prejudicial ao aluno em desenvolvimento formativo.
È notório o interesse dos governantes junto ao Sistema
Educacional brasileiro ostentado na implementação de
muitos programas para combater o abandono escolar. Mas,
estas metas e ações precisam ser direcionadas a cada fator
de risco (Grilo, 2010; Bayma- Freire, 2009). Tendo em
vista, o abandono escolar ser um fenómeno crónico que se
encontra persistentemente arraigado à cultura do povo
brasileiro. Portanto, é pertinente levar a cabo as ações
preventivas para o abandono escolar, em função de evitar
maiores danos na sociedade (Lyche, 2010). Já que a
educação é um instrumento promotor de oportunidades
igualitárias e a desigualdade cultural, provocada por
políticas públicas de educação, compromete o futuro da
humanidade (Lima, 2012). Haja vista, um país
desaculturado é o caos para o desenvolvimento e um
reforço para a desigualdade socioeconómica e cultural do
seu povo. Há de se convir que as políticas públicas
preventivas são de grande relevância para combater o
abandono escolar (Baggi & Lopes, 2011). Ou seja, só
através de ações multifatoriais que se pode intervir
diretamente no foco do problema e combater os efeitos
subjacentes dos motivos mais preeminentes.
É de ressaltar nesta dinâmica que a sociedade que não
evolui no nível cultural do seu povo, não pode sair da
pobreza (Dias Sobrinho, 2010). Ou seja, o povo brasileiro
precisa de apoio para superar as origens do analfabetismo,
da submissão e ter a consciência do valor do saber
científico construído como um fator de mudança
socioeconómica e da estrutura da própria sociedade. Diante
da realidade dos fatos, o abandono escolar é um resultado
das ações negativas implementadas na própria sociedade,
em função do povo e para o povo. Este fenómeno por sua
prevalência e abrangência se insere também no domínio da
conduta do aluno (Santos & Balancho, 2010). Ora, o
reflexo de todas as vivências negativas (família, escola,
sociedade), no percurso escolar reflete diretamente no
aluno, o qual se desmotiva com o acúmulo de stress e opta
precocemente pela saída da escola, uma forma paradoxal
de resolver os seus problemas.
É pertinente destacar que a obrigatoriedade dos estudos
é um instrumento de promoção social, mas o Sistema
Escolar de certa forma define bem o fracasso escolar em
relação à idade, à frequência mais alongada e à própria
dicotomia entre o abandono e a permanência na escola
(Martins, 2012; Euguita, 2011). Um dilema de
questionamentos e incertezas entre ficar ou sair da escola,
ESCOLARIDADE DOS PAIS E PERMANÊNCIA DOS FILHOS NA ESCOLA
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em que na maioria das vezes culmina com o abandono
escolar, diante da fragilidade do aluno provocada por
fatores de risco relevantes no seu percurso escolar, os quais
se inserem na vida cotidiana do aluno e o deixa vulnerável.
Nesta dinâmica de fragilidade e onipotência, o abandono
escolar no Brasil é ainda um fenómeno abrangente, crónico,
prejudicial e de grades repercussões culturais que, por mais
que se combata ressurge sempre com mais persistência e/ou
com novos focos. Este fenómeno já é sinalizado também,
na educação superior brasileira, e que, no momento a
preocupação é com o comprometimento do nível da
qualidade das aprendizagens (Azevedo, 2012). Note-se
que, as pseudos aprendizagens tendem a avançar para o
nível superior e as dificuldades se representam através da
fraca subjetividade do aluno, ostentadas na sua própria
representação do saber formativo através das ações, onde o
resultado do fracasso acumulado culmina também com a
desistência dos estudos. Nesta direção, o presente estudo
detém-se a analisar mais um fator de prevalência para o
abandono escolar de alunos carenciados do ensino médio
(secundário em Portugal) público brasileiro. O objetivo do
estudo é: (1) verificar entre os tipos de famílias brasileiras
(nuclear, monoparental/pai ausente e reconstruída) se o
nível de escolaridade dos pais (pai-mãe) contribui para o
abandono escolar; (2) detectar entre os tipos de famílias
(nuclear, monoparental/pai ausente, reconstruída), se este é
um fator comum entre pai e mãe destes alunos e, se é
prevalente para a descontinuidade dos estudos; (3) detectar
entre os tipos de famílias, o maior nível de escolaridade dos
pais (pai-mãe) e se este é um fator de desmotivação para a
continuidade dos estudos.
Método
Participantes
Este estudo insere-se no ensino médio público brasileiro
(1º, 2º e 3º anos), com o objetivo de verificar o nível de
escolaridade dos pais (pai-mãe) na dinâmica de família
(nuclear, monoparental/pai ausente e reconstruída) de
alunos adolescentes que abandonaram os estudos no ensino
médio público brasileiro. A amostra compreendeu 504
alunos (com idades entre os 15 e os 17 anos) e seus
respectivos pais (pai-mãe). Destes, 207 são rapazes e 297
são raparigas. A recolha das informações foi realizada em
“escolas de médio e de grande porte”, isto é, escolas com
um número elevado de alunos (frequentantes e
abandonantes dos estudos). No tratamento dos dados das
variáveis (amostra -2008), alguns participantes (pais)
foram excluídos, em face à falta de informação
indispensável ao processo do estudo.
Instrumentos
Os Instrumentos utilizados na recolha dos dados foram
dois Guiões. O Guião I, estruturado com 15 questões
relativas aos dados do aluno: sociodemográficos e variáveis
pessoais (sexo, idade, naturalidade ano da desistência
escolar, interesse e participação nas atividades escolares,
número de reprovações, absentismo, motivo de eventual
expulsão, estilo de vida e conduta) e, o Guião II, composto
de 8 questões com várias alíneas relativas a dados da
família e do processo interativo aluno-escola-família (nível
de escolaridade dos pais, estado civil dos pais, nível
socioeconómico da família, situação profissional dos pais,
relação e atitude dos pais, em relação às atividades
escolares e às dificuldades de aprendizagem no percurso
escolar).
Procedimentos
Os dados foram recolhidos na ficha individual do aluno,
(contendo informações necessárias ao estudo) sendo
completados junto aos dirigentes escolares responsáveis
pelos alunos e conhecedores das suas dificuldades (família-
escola).
Depois da autorização dos órgãos diretivos da Secretaria
da Educação e Cultura do Estado de Pernambuco-Recife e
das escolas públicas da Gerência Regional Recife Norte,
foram selecionadas 8 escolas públicas de “médio e grande
porte” do ensino médio, as quais atendem um número
alargado de adolescentes, onde os índices de alunos
desistentes dos estudos são muito elevados. Além disso, foi
realizada uma reunião com os dirigentes escolares para
esclarecimento dos objetivos da investigação e possíveis
dúvidas. Em seguida, iniciou-se a coleta dos dados sobre os
alunos e sua família (ficha individual do aluno). Depois, os
Guiões I e II (Aluno/família) foram completados com as
informações dos dirigentes escolares, os quais
demonstraram conhecedores de sua comunidade escolar.
Por último, os dados foram tratados com a versão 17.0 do
SPSS, porém as análises condizentes com a diferença entre
as variáveis foram submetidas ao teste de Pearson Qui-
quadrado (p<0.05) e ao teste de McNemar Bowker.
O foco do estudo volta-se para analisar o nível de
escolaridade dos pais (pai-mãe) dos adolescentes em seu
percurso escolar, relativo à descontinuidade dos estudos.
Resultados
Tipo de família e relação com o nível de escolaridade do
pai
Na abrangência dos fatores que contribuem para o
abandono escolar, caracteriza-se cada família consoante a
sua estrutura: 132 pais (pai) incluem-se em família nuclear,
211 pais (pai) de família monoparental e/ou pai ausente
(inseridos na mesma categoria por não estarem presentes),
e 106 pais (pai) enquadram-se em família reconstruída. A
Tabela 1 apresenta a dinâmica relacional do tipo de família
(nuclear, monoparental/pai ausente, reconstruída) com o
nível de escolaridade dos pais (pai) de adolescentes que
abandonaram os estudos no ensino médio público brasileiro
(Secundário em Portugal).
BAYMA-FREIRE, ROAZZI E ROAZZI
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Tabela 1
Tipo de família e relação com o nível de escolaridade do
pai
Tipo de
Familia
Analfabeto e
Fundamental
incompleto
Fundamental
completo
Médio
incompleto
e completo
Nuclear
n
22
48
62
%
16,7
36,4
47,0
Monoparental
n
54
94
63
/Pai ausente
%
25,6
44,5
29,9
Reconstruída
n
26
44
36
%
24,5
41,5
34,0
2 = 11.63, g.l. = 4, p < .026
Na leitura da Tabela 1, observa-se que a maior
percentagem do nível de escolaridade dos pais (pai) dessa
amostra de alunos que abandonaram o ensino médio
público recifense está representada nas famílias nucleares
por ensino médio incompleto e completo (47,0%), nas
famílias monoparentais/pais ausentes por ensino
fundamental completo (44,5%) e nas famílias reconstruídas
por ensino fundamental completo (41,5%). As menores
percentagens do nível de escolaridade dos pais (pai) estão
compreendidas entre analfabetos e com ensino fundamental
incompleto. Verifica-se que os pais dos adolescentes que
abandonaram os estudos no ensino médio público, a sua
representatividade do nível de escolaridade estava
compreendida entre analfabetos e ensino médio completo,
em todos os tipos de famílias (nuclear, monoparental/pai
ausente e reconstruída), diferenciando-se apenas pelos
percentuais. Em face de estas diferenças, a relação entre
estas duas variáveis (i.e., tipo de família e nível de
escolaridade do pai) foi significativa (2=11,63, g.l.4,
p<0.026) – cf. Tabela 1.
Tipo de família e relação com o nível de escolaridade da
mãe
Ressalta-se de seguida os dados referentes ao tipo de
família e a relação com o nível de escolaridade das mães de
alunos adolescentes que abandonaram os estudos no ensino
médio público brasileiro. Representam-se por: 132 mães
que pertencem à família nuclear, 249 mães incluem-se em
família monoparental e/ou pai ausente e 105 mães de
família reconstruída. Note-se que a maioria das famílias
desta amostra se retrata por família monoparental/pais
ausentes. A Tabela 2 apresenta a dinâmica relacional do
tipo de família, com o nível de escolaridade das mães, em
relação ao abandono escolar dos filhos.
A leitura dos dados da Tabela 2 mostra as maiores
percentagens do nível de escolaridade das mães: família
nuclear com representação também no ensino médio
incompleto e completo (50,0%), família monoparental/pai
ausente com ensino fundamental completo (40,6%) e
família reconstruída com ensino fundamental incompleto e
analfabeta (35,5%). E as menores percentagens estão
representadas por mães analfabetas, ensino fundamental
incompleto e ensino médio incompleto e completo
(famílias reconstruídas). O nível de escolaridade das mães
dos alunos abandonantes dos estudos dessa amostra, oscila
entre os tipos de família, porém não ultrapassaram o ensino
médio (secundário). Verifica-se nestas diferenças
(i.e., tipos de famílias e nível de escolaridade da mãe) que
a relação entre estas duas variáveis mostrou-se altamente
significativa (2=23.63; g.l.4, p<0.001).
Tabela 2
Tipo de família e relação com o nível de escolaridade da
mãe
Tipo de
Familia
Analfabeto e
Fundamental
incompleto
Fundamental
completo
Médio
incompleto
e completo
Nuclear
n
19
47
66
%
14,4
35,6
50,0
Monoparental
n
74
101
74
/Pai ausente
%
29,7
40,6
29,7
Reconstruída
n
37
34
34
%
35,2
32,4
32,4
2 = 23.63, g.l. = 4, p < .001)
Conclusões
As análises dos resultados confirmam que a classe
desfavorecida no Brasil e/ou em qualquer país pode ser o
foco determinante de muitos fatores de risco que
contribuem para o abandono escolar. Destaca-se que a
desigualdade socioeconómica brasileira é um marco
diferenciador das classes sociais (Balancho, 2010; Bayma-
Freire, 2009). Ou seja, as famílias com baixos recursos de
qualquer tipo (nuclear, monoparental/pais ausentes e
reconstruídas) enfrentam muitos problemas para
sobreviverem e manterem os seus filhos na escola. Nesta
dinâmica, o abandono escolar é um desafio para as políticas
de ações referentes ao combate desse fenómeno. No
momento, o Brasil se empenha pela melhoria e qualidade
das aprendizagens, a qual deve acontecer através de ações
interfaceadas com os sistemas de mudanças educativas no
contexto escolar e demais setores de apoio ao problema
(Bolívar, 2012; Verdasca, 2011). Haja vista, uma luta
pertinente e importante para a prevenção do abandono
escolar, mas é imprescindível iniciar as ações de prevenção
pelo motivo mais relevante de cada sociedade, pois este
desencadeia os outros fatores. Note-se que, no Brasil, por
exemplo, um fator de grande prevalência é a desigualdade
socioeconómica, a qual é promotora de inúmeros fatores
(familiar, pessoal, social e outros), os quais, na sua
abrangência, prejudicam o desenvolvimento da própria
sociedade.
Concorda-se com Bissoli (2010) que a autoestima é um
fator imprescindível para a continuidade dos estudos. Até
porque muitos desencontros, principalmente em classes
desfavorecidas, reforçam a desmotivação pela continuidade
dos estudos de alunos de qualquer tipo de família. Verifica-
se que, entre os inúmeros fatores que interferem na
ESCOLARIDADE DOS PAIS E PERMANÊNCIA DOS FILHOS NA ESCOLA
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continuidade dos estudos, a desmotivação do aluno pelas
atividades escolares assume um papel de relevância neste
processo (Neri & Bayma-Freire, 2009). Ora, pais
desmotivados por inúmeros desencontros, com nível de
escolaridade baixo e inseridos na pobreza, a escolaridade
dos filhos nem sempre é prioridade da família. Um
problema já verificado nas estruturas de famílias ciganas
com baixo nível de escolaridade, o qual reflete na
desvalorização da escola dos filhos, além de apresentar
comportamentos inadequados (Rumberguer, 2011,
Euguita, 2011, Mendes, 2012). Verifica-se que, a
instabilidade das estruturas familiares e o baixo nível de
escolaridade dos pais de classes desfavorecidas são
motivos de alta representatividade apontados como fatores
de desmotivação para os estudos dos filhos, já que
comungam do mesmo nível de escolaridade, ou seja, o
valor de ascendência profissional através de estudos é uma
expectativa muito baixa. Acrescenta Justino (2010), o
baixo valor social do ensino, o estatuto familiar e
socioeconómico baixo, a expectativa de ascendência social
baixa e a desestruturação do próprio ensino, têm a ver com
a desvalorização dos estudos. Na realidade, são motivos
pertinentes que contribuem de uma forma ou de outra, para
a desacreditação dos estudos, o que é prejudicial para os
filhos em processo formativo. No âmbito deste estudo, esta
realidade é bem definida, onde se pode verificar na relação
do tipo de família com o nível de escolaridade dos pais (pai
e mãe) que existe ainda muitos pais analfabetos, com
ensino fundamental incompleto e completo, em que o
maior nível de escolaridade desses pais foi o ensino médio
completo, para um percentual alargado de pai e de mãe.
Uma situação muito crítica para a sociedade brasileira que
está sempre a lutar pela educação do seu povo. Nesta
amostra de adolescentes que abandonaram os estudos no
ensino médio público, a família nuclear se destacou com o
maior nível de escolaridade (pai /mãe), o ensino médio
incompleto e completo. As famílias desfavorecidas não
apresentaram um nível de escolaridade mais alto, ou seja, a
maioria se retrata com um baixo nível de escolaridade e
com um percentual significativo de pai e mãe analfabetos.
Em síntese, diante da realidade dos dados, o nível de
escolaridade baixo dos pais (pai-mãe) de qualquer tipo de
família desfavorecida, tem alta representatividade entre os
alunos abandonantes dos estudos e, por seu lado, é um fator
que contribui diretamente para o abandono escolar de
adolescentes do ensino médio público brasileiro.
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Contributos teóricos e práticos (pp.33-60). Évora:
Universidade de Évora.
Fecha de recepción: 8 de mayo de 2015.
Recepción revisión: 28 de junio de 2015.
Fecha de aceptación: 11 de julio de 2015.