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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ
ESCOLA DE SAÚDE E BIOCIÊNCIAS
CURSO DE BACHARELADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
DANILO GOMES DE ARRUDA
PERFIL MOTOR DE CRIANÇAS E JOVENS PARCIPANTES DE UM PROJETO DE
INICIAÇÃO ESPORTIVA NO VOLEIBOL
CURITIBA
2013
DANILO GOMES DE ARRUDA
PERFIL MOTOR DE CRIANÇAS E JOVENS PARCIPANTES DE UM PROJETO DE
INICIAÇÃO ESPORTIVA NO VOLEIBOL
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Graduação em
Educação Física da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná, como
requisito parcial à obtenção do título de
Bacharelado em Educação Física.
Orientador: Prof. Ms. Rafael Kanitz Braga
CURITIBA
2013
PÁGINA RESERVADA PARA FICHA CATALOGRÁFICA QUE DEVE SER
CONFECCIONADA APÓS APRESENTAÇÃO E ALTERAÇÕES SUGERIDAS
PELA BANCA EXAMINADORA.
DEVE SER IMPRESSA NO VERSO DA FOLHA DE ROSTO
DANILO GOMES DE ARRUDA
PERFIL MOTOR DE CRIANÇAS E JOVENS PARCIPANTES DE UM PROJETO DE
INICIAÇÃO ESPORTIVA NO VOLEIBOL
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Graduação em
Bacharelado em educação física da
Pontifícia Universidade Católica do
Paraná, como requisito parcial à obtenção
do título de Bacharelado em Educação
Física.
COMISSÃO EXAMINADORA
_____________________________________
Professor 1(Titulação e nome completo)
Instituição 1
_____________________________________
Professor 2 (Titulação e nome completo)
Instituição 2
_____________________________________
Professor 3 (Titulação e nome completo)
Instituição 3
Cidade, ____ de ________ de 2012.
À Deus e todas as pessoas que me
apoiaram.
AGRADECIMENTOS
À Deus, meus familiares, meus amigos e à mim mesmo pelo esforço e dedicação.
Ninguém conhece as suas próprias
capacidades enquanto não as colocar à
prova.
Públio Siro, s/d
RESUMO
Introdução: O voleibol foi criado em 1895 para um público adulto, como objetivo de
ser uma modalidade de baixa intensidade, porém, da sua criação até os dias de hoje
a modalidade tem se tornada cada vez mais complexa, com uma melhora no
sistema tático e na parte física dos jogadores. Assim sendo importante determinar o
perfil motor de jovens iniciantes, pois o desenvolvimento dessas capacidades devem
ser realizados na infância e adolescência, caso isso não ocorra o atleta pode não
desenvolver as capacidades de maneira excelente. Objetivos: Investigar o perfil
motor de crianças e jovens participantes de um projeto de iniciação esportiva no
voleibol e verificar se há diferenças estatisticamente significativas entre os grupos, à
nível quantitativo e qualitativo. Metodologia: A amostra foi composta por 42 crianças
e adolescentes (15 meninos e 27 meninas) com idade entre 10 e 14 anos,
praticantes de voleibol em um clube com mais de 7 meses de treinamento com
frequência de três vezes na semana. Foram realizados os testes para determinar a
flexibilidade, resistência muscular abdominal, resistência cardiorrespiratória, força
explosiva de membros inferiores e superiores, velocidade de deslocamento (20m) e
agilidade. Todos utilizando o protocolo sugerido pela bateria de testes do PROESP
(Projeto Esporte Brasil) Resultados: No teste de flexibilidade o resultado foi de
24,2±7,6cm para meninos e 27,9±7,7cm para meninas; na resistência muscular
abdominal de 42±11 repetições para os meninos e 35±10 para as meninas; na
resistência cardiorrespiratória de 1190±133m e 938±142m para meninos e meninas
respectivamente; no teste de impulsão horizontal obteu-se 189,3±40,4cm e
168,8±40,8cm para meninos e meninas respectivamente; no arremesso de medicine
ball houve como resultados 408±98cm e 300±34cm para meninos e meninas
respectivamente; no teste de agilidade 5,49±0,71s e 6,33±0,60s para meninos e
meninas respectivamente e no teste de velocidade em deslocamento com o
resultado de 3,74±0,31s e 4,27±0,50s para meninos e meninas respectivamente,
acontecendo diferenças significativas entre os sexos nos testes de resistência
abdominal, resistência cardiorrespiratória, impulsão horizontal, arremesso de
medicine ball, agilidade e deslocamento em 20 metros. Conclusão: Com este
estudo pode-se concluir que existem diferenças entre os sexos na maioria dos
testes, é possível afirmar que o perfil motor de praticantes de voleibol é que estes
possuem boa potência de membros inferiores e superiores, e elevado nível de
agilidade, sendo deficiente na velocidade em deslocamentos maiores. Pode-se
afirmar é necessário para praticantes de voleibol exercícios específicos para o
desenvolvimento de flexibilidade, resistência muscular abdominal e resistência
aeróbia, pois estas capacidades demonstraram não serem muito influenciadas pelo
treinamento de voleibol.
Palavras-chave: Voleibol, Perfil motor, Capacidades motoras, Aptidão física
ABSTRACT
Introduction: Volleyball was created in 1895 for an adult people, intended to be a
form of low intensity sport, but since of your creation to the present day, the sport has
become each more complex, with an improved tactical system and on the physical
form of athletes. Therefore important to determine the motor profile of young
beginners, because the development of these skills must be performed in childhood
and adolescence, if this not occur the athlete will can’t develop the skills optimally.
Aim: To investigate the motor profile of children and young people participating in a
project of initiation in volleyball and verify for statistically significant differences
between male and female, in quantitative and qualitative level. Methodology: The
sample comprised by 42 children and adolescents (15 boys and 27 girls) aged
between 10 and 14 years practicing volleyball on a club with more than 7 months of
training with a frequency of three times a week. Tests were conducted to determine
the stretching, abdominal muscle endurance, cardiorespiratory endurance, explosive
strength of upper and lower limbs, the running speed (20m) and agility. All using the
protocol suggested by the battery of tests PROESP (Project Sport Brazil) Results: In
the stretching test result was 24.2±7.6cm for boys and 27.9±7.7cm for girls;
resistance in abdominal muscle 42±11 repetitions for boys and 35±10 for girls;
cardiorespiratory endurance in 1190±133m and 938±142m for boys and girls
respectively, the test horizontal jump obtained was 189.3±40.4cm and 168,8±40.8cm
for boys and girls respectively, in the throw of medicine ball as results were
408±98cm and 300±34cm for boys and girls respectively; agility test in 5.49±0.71s
and 6.33±0,60s for boys and girls respectively, and the speed test with the result of
3.74±0.31s and 4.27±0.50s for boys and girls respectively, happening significant
differences between the sexes in abdominal endurance tests, cardiorespiratory
endurance, horizontal jump, medicine ball throwing, agility and running by 20 meters.
Conclusion: With this study, we can conclude that there are differences between the
sexes in most tests, it can be said that the motor profile of volleyball players is that
they have good power of upper and lower limbs, and a high level of agility, being
deficient in speed at larger displacements. Can say is necessary for practicing
volleyball specific exercises for developing stretching, abdominal muscle endurance
and aerobic endurance as demonstrated these capabilities are not very influenced by
volleyball training.
Keywords: Volleyball, Motor profile, motor skills, physical fitness
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Dimensões da quadra de voleibol.................................................................... 19
Figura 2 - Sequência cronológica das ações no voleibol ............................................... 20
Figura 3 - Zonas e posições do voleibol............................................................................ 22
Figura 4 - Posição básica baixa.......................................................................................... 29
Figura 5 - Posição básica média ........................................................................................ 30
Figura 6 - Posição básica alta............................................................................................. 31
Figura 7 - Padrão correr....................................................................................................... 32
Figura 8 - Galope lateral ...................................................................................................... 32
Figura 9 - Passada lateral.................................................................................................... 33
Figura 10 - Passada Cruzada ............................................................................................. 33
Figura 11 - Realização da manchete ................................................................................. 35
Figura 12 - Execução do toque por cima para frente...................................................... 36
Figura 13 - Saque por baixo ................................................................................................ 37
Figura 14 - Saque flutuante ................................................................................................. 38
Figura 15 - Saque viagem ................................................................................................... 39
Figura 16 - Movimento da cortada ..................................................................................... 41
Figura 17 – Movimento de bloqueio................................................................................... 42
Figura 18 - Comportamento da frequência cardíaca ao longo de uma partida de
voleibol .................................................................................................................................... 49
Figura 19 - Classificação de resistência............................................................................ 53
Figura 20 - Tipos de força.................................................................................................... 57
Figura 21 - Tipos de equilíbrio ............................................................................................ 64
Figura 22 - Interdependência entre as capacidades biomotoras .................................. 68
Figura 23 - Teste de flexibilidade ....................................................................................... 71
Figura 24 - Teste de resistência abdominal...................................................................... 72
Figura 25 - Impulsão horizontal .......................................................................................... 72
Figura 26 – Teste de arremesso de medicine ball .......................................................... 73
Figura 27 - Teste do quadrado ........................................................................................... 74
Figura 28 - Teste de velocidade de deslocamento.......................................................... 74
Gráfico 1 - Classificação nos testes................................................................................... 77
Gráfico 2 - Classificação do grupo masculino .................................................................. 78
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Frequência cardíaca média por gesto técnico e função tática ................... 49
Tabela 2 - Fases sensíveis para o desenvolvmento das capacidades motoras ........ 67
Tabela 3 - Descrição da amostra ....................................................................................... 76
Tabela 4 - Resultados nos testes ....................................................................................... 76
Tabela 5 - Resultados do grupo masculino ...................................................................... 78
Tabela 6 - Resultados do grupo feminino ......................................................................... 79
Tabela 7 - Comparação entre os dois grupos através do teste T ................................. 80
Tabela 8 - Comparação entre a classificação dos dois grupos pelo teste Qui-
Quadrado................................................................................................................................ 80
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 15
1.1 PROBLEMATIZAÇÃO ................................................................................................... 17
1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................. 18
1.3 OBJETIVOS .................................................................................................................... 18
1.3.1 Objetivo Geral .......................................................................................................... 18
1.3.2 Objetivos Específicos ............................................................................................ 18
2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 19
2.1 CARACTERIZAÇÃO DA MODALIDADE ................................................................... 21
2.1.1 Dimensão Espaço ................................................................................................... 21
2.1.2 Dimensão Tempo .................................................................................................... 22
2.1.3 Dimensão Jogador.................................................................................................. 24
2.1.4 Dimensão Técnica .................................................................................................. 27
2.1.4.1 As Posições Básicas .............................................................................................. 28
2.1.4.2 Os deslocamentos específicos ............................................................................. 31
2.1.4.3 Manchete.................................................................................................................. 34
2.1.4.4 O toque por cima .................................................................................................... 35
2.1.4.5 Saque........................................................................................................................ 37
2.1.4.6 Cortada ..................................................................................................................... 40
2.1.4.7 Bloqueio.................................................................................................................... 41
2.1.4.8 Demais Recursos.................................................................................................... 43
2.1.5 Dimensão Tática ...................................................................................................... 43
2.1.6 Dimensão Psicológica ........................................................................................... 45
2.1.7 Dimensão Fisiológica ............................................................................................ 46
2.1.7.1 Frequência Cardíaca .............................................................................................. 48
2.2 CAPACIDADES MOTORAS ........................................................................................ 50
2.2.1 Capacidades condicionais ................................................................................... 51
2.2.1.1 Resistência .............................................................................................................. 51
2.2.1.2 Velocidade ............................................................................................................... 53
2.2.1.3 Força ......................................................................................................................... 56
2.2.1.4 Flexibilidade ............................................................................................................. 59
2.2.2 Capacidades Coordenativas ................................................................................ 60
2.2.2.1 Capacidade de concatenação dos movimentos ................................................ 62
2.2.2.2 Capacidade de diferenciação ............................................................................... 62
2.2.2.3 Capacidade de equilíbrio ....................................................................................... 63
2.2.2.4 Capacidade de orientação .................................................................................... 64
2.2.2.5 Capacidade de ritmo .............................................................................................. 65
2.2.2.6 Capacidade de reação ........................................................................................... 65
2.2.2.7 Capacidade de adaptação a variações ............................................................... 66
2.2.2.8 Agilidade................................................................................................................... 66
2.2.3 Fases Sensíveis....................................................................................................... 66
2.2.4 O treino das capacidades ..................................................................................... 68
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................................... 70
3.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDOS .......................................................................... 70
3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA ......................................................................................... 70
3.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ...................................................................................... 70
3.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS ......................................................... 70
3.4.1 Flexibilidade ............................................................................................................. 71
3.4.2 Resistência abdominal .......................................................................................... 71
3.4.3 Corrida de 6 minutos.............................................................................................. 72
3.4.4 Impulsão Horizontal ............................................................................................... 72
3.4.5 Arremesso de medicine ball ................................................................................ 73
3.4.6 Teste do quadrado .................................................................................................. 73
3.4.7 Corrida de 20 metros.............................................................................................. 74
3.5 COLETA DE DADOS .................................................................................................... 74
3.6 TRATAMENTO ESTATÍSTICO ................................................................................... 75
4 RESULTADOS ................................................................................................................. 76
4.1 RESULTADOS DE TODO O GRUPO ........................................................................ 76
4.2 RESULTADOS DO MASCULINO ............................................................................... 77
4.3 RESULTADOS DO FEMININO ................................................................................... 78
4.4 COMPARAÇÃO ENTRE O GRUPO FEMININO E O GRUPO MASCULINO ..... 79
5 DISCUSSÃO ..................................................................................................................... 81
5.1 TESTE DE FLEXIBILIDADE ........................................................................................ 81
5.2 TESTE DE RESISTÊNCIA ABDOMINAL .................................................................. 82
5.3 RESISTÊNCIA CARDIORRESPIRATÓRIA .............................................................. 83
5.4 TESTE DE IMPULSÃO HORIZONTAL ...................................................................... 84
5.5 TESTE DO ARREMESSO DE MEDICINE BALL ..................................................... 86
5.6 TESTE DO QUADRADO .............................................................................................. 87
5.7 TESTE DA CORRIDA DE 20 METROS ..................................................................... 88
6 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 90
REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 91
ANEXO A– APROVAÇÃO NO COMITÊ DE ÉTICA .................................................... 109
15
1 INTRODUÇÃO
O voleibol é uma modalidade esportiva, onde duas equipes com seis
jogadores cada jogam em uma quadra separados por uma rede. É permitido dar três
toques na bola, não sendo consecutivos de cada jogador, o objetivo do jogo é fazer
com que a bola caia no piso da quadra adversária e impedir que o mesmo aconteça
em sua quadra (FIVB, 2013). Foi criado em 1895 em Massachusets por Willian G.
Morgan, no início a modalidade era chamada de Mintonete, e foi idealizada com
base em outras modalidades, como o basquete e tênis, com o objetivo de ser uma
esporte sem contato físico, para diminuir assim o risco de lesões em pessoas
adultas e idosas, praticantes da modalidade naquele período (BIZZOCCHI, 2008;
FIVB, 2011). A bola era feita de uma câmara de bola de basquete, e a rede utilizada
na época tinha 1,83m. O voleibol chegou na América do Sul em 1910, na cidade do
Peru, tornando-se esporte olímpico a partir do congresso de Sofia em 1962, e foi
incluído nas olimpíada em 1964 na cidade Tóquio no Japão, demonstrando assim
sua popularidade (BIZZOCCHI, 2008; BOJIKIAN; BOJIKIAN, 2008).
A modalidade cresceu muito desde seu início, principalmente no Brasil, onde
chegou entre 1916 e 1917 na Associação Cristã de Moços (ACM). Este crescimento
do esporte pode ser explicado pela boa representação das seleções masculinas,
femininas e desempenho de diversas duplas em competições de nível internacional
(BIZZOCCHI, 2008; BOJIKIAN; BOJIKIAN, 2008). Ao longo dos anos o voleibol vem
sofrendo diversas alterações em suas regras. Desde 1996 a Federação
Internacional de Voleibol (FIVB) vem adequando as regras para suprir as
necessidades dos meios de comunicação, com o objetivo de diminuir o tempo de
jogo e manter a bola no ar, mantendo assim o espetáculo da modalidade (MARCHI
JR, 2003). Em suas regras antigas o voleibol era disputado com 15 pontos, havendo
a vantagem (marcação do ponto apenas com a posse do saque) (LUIZ; RIGOLIN,
2000). Hoje em dia o jogo é disputado em sets de 25 pontos sem vantagem, pode-se
tocar a bola com todas as partes do corpo (com exceção do saque), e foi incluído um
jogador específico para defesa (líbero) (FIVB, 2013). Hoje a modalidade deixou de
ser praticado só por pessoas adultas e idosas, e já é muito difundida, a modalidade
no alto nível exige elevados níveis de aptidão física, requisitando muita força e
velocidade, demonstrando assim a importância das capacidades motoras bem
desenvolvidas para a prática do voleibol (BIZZOCCHI, 2008).
16
As capacidades motoras são qualidades inatas a todo ser humano que são
utilizadas para a prática de tarefas ou habilidades motoras, que podem ser treinadas
e desenvolvidas, como força, velocidade, resistência (MAGILL, 2002; WEINECK,
2005; WILMORE; COSTILL, 2008). Podem ser divididas em dois grandes grupos,
sendo: capacidades motoras condicionais, que são as capacidades que sofrem
influência direta dos sistemas energéticos e metabólicos para obtenção e
transformação da energia, ou seja, são condicionadas pela energia disponível no
sistema, tendo assim caráter quantitativo, como a força; capacidades motoras
coordenativas, que são no geral determinados pelos processos de organização,
controle e regulação do movimento por parte do sistema nervoso central (SNC), são
condicionadas pela capacidade de elaborar as informações por parte dos
analisadores (visão, propriocepção etc.) implicados na formação e realizada do
movimento, tendo assim caráter qualitativo, como a noção espaço-temporal
(FURTADO, 2009; MAGILL, 2002; REGA; SOARES; BOJIKIAN, 2008; WEINECK,
2005; WILMORE; COSTILL, 2008).
Estas capacidades não seguem um desenvolvimento linear, existem períodos
que o organismo está mais ou menos “sensível” para o desenvolvimento dessas
capacidades, sendo chamada de fase sensível quando o organismo tem mais
facilidade para desenvolver determinada capacidade. Para o desenvolvimento pleno
de todas as capacidades é necessário um desenvolvimento multilateral visando
desenvolver todas as capacidades, e essas que por sua vez irão se inter-relacionar,
tendo influência direta no desempenho da outra (KRÖGER; ROTH, 2002; LOPES et
al., 2010; RODRIGUES; SARAIVA, 2011; WEINECK, 2005). De acordo com o treino
que a sujeito é subestimado determinadas capacidades serão de maior ou de menor
importância, construindo-se assim a diferença física entre as modalidades, e no
voleibol não é diferente, onde capacidades específicas devem ser tratadas com mais
ênfase do que outras (BÖHME, 2000; DUWE; NOVAES, 2009).
As capacidades físicas específicas do voleibol, devem ser consideradas à
partir da caracterização da modalidade, ou seja, no voleibol diversas habilidades
exigem elevada força e velocidade de membros inferiores, como realizar o ataque,
bloqueio e defesa (STAMM; STAMM; KOSKEL, 2002). Desta maneira ficando
evidente que deve-se dar uma ênfase no desenvolvimento dessa capacidade em
voleibolistas, não só pelo desempenho na hora de jogo, mas também para aguentar
a sobrecarga de treinamentos e não se lesionar (BORIN et al., 2007; GARRETT,
17
2003; MARQUES, 2001; ROCHA; BARBANTI, 2004). A maneira correta para se
desenvolver as capacidades físicas devem ser ponderadas, pois ela sofrerá
influência de diversos fatores como: idade, sexo, aptidão física atual entre outros.
Sendo assim o treino para crianças e adolescentes não deve ser o mesmo para
adultos, existindo a preocupação por parte dos técnicos pela questão
desenvolvimentista que a criança e adolescente se encontram (GAYA et al., 2003;
GLANER, 2003; PINTO; FILHO; DANTAS, 2000; RAMOS; NEVES, 2008).
O treino para crianças e adolescentes deve ser aplicado com
responsabilidade, levando em consideração a condição orgânica dos sujeitos, a
intensidade e duração do exercício (BOMPA, 2002a; WEINECK; CARVALHO;
BARBANTI, 1999). Não devendo-se assim na infância realizar uma especialização,
mas sim desenvolver todas as capacidades motoras de maneira equilibrada e
pensando em um desenvolvimento à longo prazo, visando não apenas a obtenção
de resultados (BOMPA, 2002a; KRÖGER; ROTH, 2002). Evidenciando desta
maneira que o conhecimento do técnico deve ser apurado para que este realize
exercícios de maneira correta e no momento certo, levando em consideração faixa
etária e sexo (BIZZOCCHI, 2008; MENZEL, 2001; SCHNEIDER; BENETTI; MEYER,
2004). Sendo assim este trabalho pretende descrever e explicar as capacidades
motoras pertinentes ao voleibol, e no desenvolvimento destas capacidades de
maneira correta em crianças e adolescentes, e verificar o estado atual de aptidão
física de um grupo de atletas crianças e adolescentes praticantes da modalidade e
realizar as possíveis comparações e verificar as relações com estudos parecidos na
literatura.
1.1 PROBLEMATIZAÇÃO
O ensino do voleibol é complexo e envolve diversas variáveis (BIZZOCCHI,
2008; BOJIKIAN; BOJIKIAN, 2008), devido a não retenção da bola e das habilidades
não serem naturais, o ensino é específico e diferente da maioria das outras
modalidades coletivas (REGA; SOARES; BOJIKIAN, 2008; VIEIRA; BOJIKIAN,
2008). As capacidades motoras servem de base para o ensino destas habilidades
específicas (MAGILL, 2002; SCHMIDT; WRISBERG, 2010), sendo como pré-
requisito para a boa aprendizagem e desempenho dessas tarefas motoras,
18
tornando-se fundamental o treino destas valências desde a fase de iniciação,
levando em consideração fatores como a idade, sexo e maturação sexual (MALINA;
BOUCHARD, 2002; SCHMIDT; WRISBERG, 2010; STAMM; STAMM; KOSKEL,
2002). Quando estas capacidades não são estimuladas nas fases iniciais, o
desenvolvimento geral da criança para a modalidade não será atingido de forma
plena, evidenciando que o ensino deve ser prescrito de maneira correta e
direcionada pelos técnicos, que devem dominar este assunto de maneira teórica e
saber como aplica-los na prática (MESQUITA, 1998; WEINECK, 2003).
1.2 JUSTIFICATIVA
O tema das capacidades motoras é bastante abordado na literatura
(ANDERSEN et al., 2009; BOZZA et al., 2009; CARRARO; SCARPA; VENTURA,
2010; FURTADO, 2009; REGA; SOARES; BOJIKIAN, 2008), devido a sua
importância em quase todas as áreas da educação física , porém no voleibol foram
encontrados poucos materiais que descrevam e associem as capacidades motoras à
modalidade, discriminando entre os fundamentos e fatores do jogo, inclusive para o
nível dos praticantes considerados como iniciantes, e os dividindo por sexo,
trabalhando a modalidade em todas as suas peculiaridades. Este trabalho virá à
auxiliar os técnicos que trabalham com o voleibol, reunindo informações importantes
sobre as capacidades motoras e como aplica-las no treinamento de maneira eficaz e
sem riscos para os praticantes.
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Objetivo Geral
Investigar o perfil motor de crianças e jovens participantes de um projeto de
iniciação esportiva no voleibol.
1.3.2 Objetivos Específicos
a) Identificar o desempenho motor dos participantes.
b) Comparar os desempenho motor entre os sexos.
19
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O voleibol é uma modalidade esportiva praticada por duas equipes de seis
jogadores, em uma quadra retangular dividida por uma rede à 2,24m ou 2,43m do
chão para o feminino e masculino respectivamente, não existindo contato físico entre
as equipes (BIZZOCCHI, 2008; FIVB, 2011; VANDRESEN; MAFLI, 2011).
Figura 1 - Dimensões da quadra de voleibol
Fonte: Portal São Francisco, 2013
O objetivo do jogo é fazer com que a bola cruze a rede e caia dentro dos
limites da quadra adversária (FIVB, 2013). Sendo permitido três toques por equipe,
desde que não seja realizado consecutivamente pelo mesmo jogador (BIZZOCCHI,
2008). Os movimentos no geral são realizados com as mãos e antebraços, não
sendo permitido a retenção da bola (GOUVEA, 2005; MARCHI JUNIOR, 2001).
O início do jogo acontece com uma ação denominada saque, onde um
jogador da equipe vai até a linha de fundo e envia a bola pôr sobre a rede para a
quadra adversária, onde a equipe que receber deverá tentar realizar o ponto e assim
por diante (MORAES, 2009)
As partidas acontecem em sets até 25 pontos ou mais até abrir-se dois pontos
de diferença, excetuando-se quando empatam-se dois sets e é realizado o set
20
desempate (tie-break) até 15 pontos ou quando abrir mais que dois pontos depois de
15, ficando com a vitória a equipe que ganhar três sets (FIVB, 2013).
O voleibol é uma modalidade coletiva de cooperação-oposição com o
adversário, sendo um esporte acíclico onde predomina-se a potência muscular,
sendo a maioria dos movimentos de potência máxima (BIZZOCCHI, 2008;
GONZALEZ, 2004; MORAES, 2009). Apresentando características bem específicas
que o diferenciam dos outros esportes, devido a sua dinâmica estrutural funcional e
da própria regulação do jogo (MORAES, 2009), construindo-se assim um sistema
complexo e dinâmico, ou seja, de natureza imprevisível (GOUVEA, 2005; ROCHA;
BARBANTI, 2007). Sendo então estruturado à partir de um conjunto de
condicionantes (regras), que irão determinar como acontecerá as ações do jogo,
como os atletas devem se portar e qual ação executar, formando assim uma
sequência lógica das ações à serem desempenhadas pelas equipes (COLLET;
DONEGÁ, 2009; MORAES, 2009), assim como na figura 2 mostrada abaixo:
Figura 2 - Sequência cronológica das ações no voleibol
Fonte: Greco, 2009.
Para cada fase do jogo são usados recursos técnicos específicos, como
manchete, toque e o movimento da cortada (BOJIKIAN; BOJIKIAN, 2008; REGA;
SOARES; BOJIKIAN, 2008). Sendo estes recursos técnicos no geral sendo não
naturais ao ser humano, ou seja, movimentos construídos, demonstrando assim a
21
dificuldade da modalidade, aliada a não-retenção da bola dificultando ainda mais o
jogo (BOJIKIAN; BOJIKIAN, 2008; DUWE; NOVAES, 2009).
2.1 CARACTERIZAÇÃO DA MODALIDADE
Para entender as capacidades motoras no voleibol em sua plenitude é
necessário entender como funciona e como é regulamentado o jogo, pois este é o
contexto que todas as ações são executadas (GOUVEA, 2005; MORAES, 2009).
Como visto no capítulo acima o voleibol possui suas características, diferenciando-o
de todas as outras modalidades. Essas características são melhor entendidas
através de dimensões, que “fragmentam” a modalidade em alguns fatores
importantes para a compressão da funcionalidade e dinâmica do jogo (MORAES,
2009).
2.1.1 Dimensão Espaço
O espaço formal de jogo é representando por duas áreas de 9x9 metros cada,
porém diferente das outras modalidades, o espaço formal do jogo não se limita a
essas linhas, havendo necessidade de regulamentar diversas outras áreas da
quadra, que irão determinar a efetivação das ações pelas equipes, para recuperação
ou manutenção da bola durante o rally (COSTA, 1999; FERREIRA; PAULA, 2006;
MORAES, 2009).
O espaço conformacional do voleibol divide a quadra em três zonas; a zona
de ataque, a zona de defesa e a zona de saque, sendo que na zona de ataque
existem três posições (4,3 e 2), assim como também na zona de defesa (1,6 e 5),
acontecendo um rodízio no sentido horário entre essas posições, como é
exemplificado na figura 3 (BIZZOCCHI, 2008; FIVB, 2013).
22
Figura 3 - Zonas e posições do voleibol
Fonte: Nascimento, 2013
Com o avanço da especialização no voleibol, determinados jogadores irão
ocupar “sempre” as mesmas posições em quadra, a exemplo os ponteiros que irão
atacar quase sempre na posição 4 e os centrais na posição 3, esta especialização é
fundamental para o entendimento das capacidades motoras, onde de acordo com a
posição que o jogador desempenha na equipe determinará seus níveis de aptidão
física, o diferenciando das demais posições (LUCIANO, 2006; MARTINS, 2009;
MESQUITA, 2005).
2.1.2 Dimensão Tempo
O tempo no voleibol é determinante, diferente de algumas modalidades que
regulamentam um tempo limite para a realização da partida, o voleibol não tem essa
limitação, sendo então um gerador de oportunidades, manifestando-se em duas
formas (COSTA; MESQUITA; et al., 2010; MORAES, 2009):
a) tempo total de jogo e de pausas: O voleibol é uma modalidade sem tempo
limite, durando de três a cinco sets de 25 pontos (com dois pontos de vantagem),
com exceção do set desempate que vai até 15 pontos (FARIA, 2006; NOGUEIRA,
2004; PIRES, 2009).
Hoje em dia as partidas duram em torno de 90 minutos, bem mais rápido que
anteriormente quando se existia a vantagem do saque, onde a equipe primeiro
deveria possuir a vantagem do saque para então pontuar, naquele tempo as partidas
poderiam durar mais de duas horas, o que era inviável para a televisão transmitir,
23
devido a necessidade de divulgação da modalidade pela mídia alterou-se a regra da
vantagem e desde então o voleibol tem se tornado cada vez mais rápido e dinâmico
(DUWE; NOVAES, 2009; FARIA, 2006; MANUEL; ANDRES, 2001; MORAES, 2009;
NOGUEIRA, 2004; PIRES, 2009).
Pelo fato do voleibol ser uma modalidade intermitente, onde durante o jogo
ocorrem situações de esforço e pausa/descanso, o tempo total de jogo não é
utilizado apenas com ações e gestos motores, sendo aproximadamente 85% do
tempo total do jogo utilizado para descanso e apenas 15% utilizado para esforço
(COSTA, 1999; FARIA, 2006; MORAES, 2009).
Em uma partida de um campeonato argentino feminino, Esper (2003) verificou
que 50% dos pontos se realizam entre zero e cinco segundos de duração, e 31%
entre os seis e dez segundos, e 92% dos pontos totais não ultrapassam 15
segundos de duração. No masculino 98% dos pontos são decididos antes de 15
segundos e 71,3% entre zero e cinco segundos. Entre um ponto e outro existe uma
pausa entre 16 e 30 segundos (74% dos casos) (COSTA, 1999; ESPER, 2003).
Ficando claro que no voleibol o tempo de recuperação é muito maior do que o tempo
de esforço, o que pode proporcionar durante toda a partida movimentos de alta
intensidade;
b) tempo para realizar determinadas ações: O tempo para realizar a maioria
das ações no voleibol é de curta duração, pois o jogo não permite a retenção da
bola, desta forma obrigando o jogador a realizar os gestos e tomar decisões com
máxima rapidez, sendo a maioria das ações condicionadas em três fases:
preparação/ajuste, ação e “retorno”. Aplicadas geralmente em todos os recursos
técnicos aplicados no jogo (MARTINS, 2009; MORAES, 2009).
A ação de ataque, é a mais representativa quanto a questão temporal, sendo
caracterizada como a saída do jogador em direção a bola determinado pelo
momento em que a bola sai da mão do levantador, que o tempo é determinado pela
relação da saída do jogador para o ataque e da saída da bola da mão do levantador,
sendo a velocidade dessa jogada como fator determinante para o sucesso de uma
equipe no alto nível, pois quanto mais rápido for o ataque mais difícil será a
marcação do bloqueio e organização da defesa da outra equipe (MARTINS, 2009;
MESQUITA, 2005; ROCHA; BARBANTI, 2004)
Existindo quatro tempos, tempo zero, tempo um, tempo dois e tempo três,
sendo tempo zero quase que exclusivamente realizado pelo jogador central, que
24
ataca a bola muito próxima ao levantador quase em simultâneo com o levantamento
(COSTA; MESQUITA; et al., 2010; MESQUITA, 2005; MORAES, 2009).
O voleibol é um esporte de muita agilidade, pois a bola é atacada em uma alta
velocidade e os deslocamentos devem ser realizados em máxima velocidade para
que se possa efetuar a defesa. Segundo a FIVB (2011) um ataque no alto nível é
realizado à 96,56 km/h e 64,37km/h no masculino e feminino respectivamente,
levando 0,333s e 0,50s para cair na linha no masculino e feminino respectivamente.
O braço leva 0,440s para ir do joelho ao ombro para atacar e 0,390s para ir do
ombro ao joelho depois de ter realizado o ataque (FIVB, 2011).
As ações de deslocamento naturalmente são executadas com menos rapidez
que a movimentação dos braços, em uma queda à frente para pegar a bola à três
metros demora-se 1,21s, e a seis metros leva-se 1,87s no voleibol feminino (FIVB,
2011). Nas ações de bloqueio leva-se em média 1,42s para deslocar-se 3,45m
usando a passada cruzada. Como pôde-se verificar os deslocamentos são feitos
com velocidade máxima, exigindo elevada potência dos atletas, necessitando assim
o desenvolvimento das capacidades motoras específicas ao máximo (COUTINHO,
2009; DUWE; NOVAES, 2009; FIVB, 2011).
2.1.3 Dimensão Jogador
Nos esportes coletivos a organização do jogo, se dá pela especialização dos
jogadores, assim como no futebol existem os atacantes, laterais e os goleiros, no
basquete os pivôs e alas entre outras modalidades. No voleibol, decorrente da
evolução tática e técnica, surgiu a necessidade de especialização dos jogadores, e
essa especialização é definida de acordo com a rentabilidade do jogador em
determinada posição do jogo, neste contexto se deu o início das especializações
com o surgimento do levantador, seguidamente por razões ofensivas surgiram os
ponteiros, os centrais e o oposto. A partir da identificação da necessidade de
encontrar uma solução para aumentar o tempo dos rallies, foi criada a posição do
líbero (CRISTINO et al., 2011; GUERRA, 2007; MAQUIEIRA; FRAGA, 2003).
No voleibol, diferente de outras modalidades, pelas regras do esporte, todos
os jogadores devem passar por todas as posições, com exceção do líbero,
configurando assim a necessidade de realizar trocas de posição após o saque, para
essas trocas existem diversos sistemas de jogo, que poderão ser adotados de
25
acordo com o nível da equipe e com uma estratégia específica, no voleibol de alto
nível por exemplo utiliza o sistema de jogo 5x1, sendo constituído por cinco
atacantes (dois ponteiros, dois centrais e um oposto) e um levantador (BIZZOCCHI,
2008). Onde todos os jogadores são fundamentais para que o sistema seja realizado
com sucesso, pois exige trocas rápidas e coordenadas entre todos os membros da
equipe, para entender melhor cada especialização de jogadores no voleibol, abaixo
será explicado detalhadamente as funções de cada posição (CASTRO; MESQUITA,
2008; LUCIANO, 2006; MARTINS, 2009):
a) levantador: Sendo o jogador que atua geralmente no segundo toque,
realizando a transição da defesa ou passe para o ataque, e foi criado para garantir a
qualidade dos levantamentos, tendo que ser um jogador habilidoso e preciso. Por
ele ser o jogador que deve receber o segundo toque, os sistemas de jogo no geral
excluem este jogador do passe para garantir que ele se desloque e realize o
levantamento. Cabe ao levantador escolher a opção mais adequada para o ataque,
onde, e o tempo em que se dará a ação ofensiva, levando em conta fatores táticos
que cabem ao levantador absorver essas informações do jogo, como por exemplo
verificar o bloqueador mais baixo da equipe adversária e colocar seu atacante contra
este bloqueador (ALFONSO et al., 2010; CRISTINO et al., 2011; JULIO; GRECO,
2010; JULIO; MATIAS; GRECO, 2009).
O levantador deve ser um jogador rápido, para que se desloque com
velocidade até onde a bola foi passada ou defendida. Deve possuir também
excelente antecipação, pela necessidade de avalição das intenções/movimentações
dos jogadores adversários, e do contexto atual do jogo. É o jogador que geralmente
joga na posição 3, entre a posição 3 e a posição 2 ou na posição 2, variando de
acordo com o sistema de jogo adotado (MORAES, 2009; ZANATTA et al., 2010);
b) ponteiro: É o atacante mais solicitado nas ações ofensivas (MARQUES
JUNIOR, 2011; ROCHA; BARBANTI, 2004; ROCHA, 2009), é o jogador que ataca
predominantemente pela posição 4, deve realizar ataques potentes e recepções com
qualidade, a maioria de seus ataques no alto nível são de tempo dois (ROCHA,
2009). Quando o passe não chega em perfeitas condições para o levantador
também é o jogador responsável por passar a bola para o outro lado, tentando
dificultar a defesa da outra equipe, este atacante executa também ataques pela
segunda linha (fundo) geralmente pela posição seis (MARTINS, 2009; ROCHA,
2009).
26
Sendo um jogador que deve possuir excelente potência de membros
inferiores e superiores, e também boa capacidade anaeróbia, para suportar manter a
qualidade dos ataques ao longo dos rallys. Sendo dois por equipe, ficando um na
diagonal do outro (COSTA, 1999; FERREIRA; PAULA, 2006);
c) central: Conhecido também como meio de rede, é um atacante que realiza
ataques pela posição 3. No alto rendimento sua permanência na zona defensiva se
dá geralmente apenas quando está no saque, em outro momento ele é substituído
pelo líbero para a realização do passe e da defesa. O central é um especialista
fundamental para parte ofensiva e defensiva de uma equipe, onde é o atacante que
deve realizar a bola de tempo mais rápida, e mesmo que não ataque deve prender a
atenção do bloqueador adversário, dissimulando-o a acreditar que este a qualquer
momento vai atacar uma bola, deixando os atacantes das extremidades com menos
um bloqueador ou com um dos bloqueadores sem condições perfeitas para realizar
o bloqueio. Desta maneira o central em uma equipe é uma peça fundamental nas
ações táticas e de fintas para efetivar o ataque do mesmo e de outros jogadores
(CASTRO; SOUZA; MESQUITA, 2011; COSTA; MESQUITA; et al., 2010; GUERRA,
2007).
O central é um jogador que deve ter passadas rápidas para chegar nas
posições 4 e 2 para ajudar no bloqueio, é um jogador que no alto nível possui
estatura elevada, e deve possuir excelente capacidade anaeróbia, pois este jogador
deve bloquear quase em todas as ações ofensivas da equipe adversária, e também
sempre simular um ataque, pois este geralmente sai antes que todos os outros
atacantes para a realização do ataque, e são dois por equipe, ficando um na
diagonal do outro (BIZZOCCHI, 2008; HIROTSU et al., 2004);
d) oposto: É o atacante que sempre está em oposto ao levantador no rodízio,
ele ataca predominantemente pela posição 2, e seu ataque é facilitado se este
jogador for canhoto, no elevado rendimento é um dos jogadores que mais pontuam
nas equipes, demonstrando papel fundamental nas ações ofensivas. Este jogador,
dependendo do sistema tático adotado não realiza a função da recepção, se
posicionando então após o saque para atacar, tanto na linha de frente como no
fundo (indo para posição 1) (GUERRA, 2007; MAIA, 2005; MESQUITA, 2006;
SANTOS, 2005).
e) líbero: Este é o jogador que tem a função do passe e de defesa, não sendo
permitido sacar nem atacar, e foi inserido no ano de 2000 pelas necessidades já
27
supracitadas, é um jogador que possui extrema habilidade e velocidade, para
garantir a qualidade da defesa e gerar assim um bom contra-ataque, quando a
defesa ou passe não chega na mão do levantador é utilizado muitas vezes para
realizr esta ação (JOÃO et al., 2006; LUCIANO, 2006; MESQUITA; MANSO, 2004).
2.1.4 Dimensão Técnica
As habilidades técnicas são movimentos específicos criados para a resolução
de problemas recorrentes do jogo (MESQUITA, 2002; MONTE-RASO et al., 2009). A
utilização de determinado gesto técnico é condicionado pela característica
momentânea do jogo, as quais estão em constante mutação, demonstrando assim
que os gestos motores específicos devem ter uma alta adaptabilidade, para que se
possa utilizar determinada técnica em situações nem sempre idênticas de jogo
(COLLET; DONEGÁ, 2009; MACKENZIE, 2002; MORAES, 2009).
Segundo Mesquita (1995) existem quatro fatores que norteiam a técnica no
voleibol, tanto nos âmbitos de ensino e aplicação no jogo:
a) troca de bola sem ser permitido agarrá-la: É um dos fatores mais
importantes quando se pensa em execução da técnica, configurando a lógica e o
sistema estrutural do jogo, desta maneira a atitude normal de retenção da bola,
como é visto em diversas outras modalidades coletivas, é substituída na voleibol,
pela repulsão da bola, o que implica no curto espaço de tempo de contato com a
bola, e consequentemente, diminuindo o tempo para seleção e execução da tarefa
de acordo com as condicionantes ambientais do momento;
b) penalização pelo erro técnico: Diversas habilidades motoras específicas
tem restrições, que quando não são realizadas da maneira correta a equipe é
penalizada, acarretando em ponto para a equipe adversária, impondo assim a
exigência do controle de movimento pelo atleta e uma certa pressão constante não
lhe permitindo o erro;
c) Número de contato limitado: O fato de não ser permitido a realização de
mais de três toques por equipe e de dois consecutivos pelo mesmo jogador em uma
ação, exige alto controle e perfeição na execução das habilidades motoras, para que
a ação seguinte seja realizada com eficiência e eficácia, tanto nas ações defensivas
como nas ofensivas;
28
d) zonas corporais de manipulação da bola: Os contatos com a bola são
realizados no plano superior (levantamento, ataque, bloqueio, saque por cima) e no
plano inferior (saque por baixo e técnicas de defesa), o que dificulta sua
aprendizagem, pois as atividades do cotidiano são realizadas no nível médio do
corpo, como comer e escrever.
A maioria das ações técnicas utilizadas no voleibol são movimentos criados,
que diferem em geral dos movimentos naturalmente desenvolvidos pelo ser humano,
como o movimento da manchete e toque em suspensão (ROSA et al., 2010). Sendo
que para realizar qualquer ação técnica, algumas capacidades motoras são pré-
requisitos fundamentais, e sem estas a execução do fundamento específico não
será possível. Abaixo serão apresentadas os gestos técnicos mais comuns utilizados
na modalidade, onde ao final de cada descrição será citado as principais
capacidades motoras inerentes à habilidade, que devem ser desenvolvidas em
paralelo com a técnica, visto que para entender as capacidades motoras no voleibol,
é necessário entender à que gestos essas capacidades estão relacionadas,
diferenciando-se muito de gesto pra gesto (BIZZOCCHI, 2008; BOJIKIAN;
BOJIKIAN, 2008; REGA; SOARES; BOJIKIAN, 2008).
2.1.4.1 As Posições Básicas
As posições básicas antecipam todas as ações técnicas do voleibol, não
chegam a ser habilidades propriamente ditas, pelo não manuseio da bola e ser
realizado sem movimentação. Porém, a manutenção desta posição exige certo
esforço pelos seus executantes, exigindo no geral resistência dos membros
inferiores e lombar (BIZZOCCHI, 2008; FIVB, 2011).
Essas posições irão variar de acordo com a percepção do jogador do que
poderá acontecer na jogada, o levando assim a escolher a melhor posição para que
ele possa realizar a próxima ação com mais facilidade e eficiência. As posições
básicas podem ser classificadas em três tipos (ARMINDA; GON, 2007; FIVB, 2011;
MORAES, 2009):
a) posição baixa: É a posição em que o atleta está “mais próximo” ao chão,
utilizado para a defesa, proteção do ataque, recepção do saque “viagem”, certas
recuperações e algumas vezes o levantamento, quando o passe é realizado em um
nível baixo. Nesta posição desloca-se o centro de gravidade à frente, o que facilita o
29
deslocamento, pois é utilizado em bolas geralmente mais rápidas (JO et al., 2006;
PEREIRA; MESQUITA, 2008).
O atleta deverá ficar com o joelho semi-flexionado (90º a 100º entre coxa e
perna), com os MMII na linha dos ombros, e um MMII ligeiramente à frente do outro,
com os calcanhares levemente erguidos, com o tronco flexionado à frente, os
membros superiores a frente do tronco quase paralelo ao solo e cabeça erguida
(BIZZOCCHI, 2008).
Esta posição exige elevada resistência muscular, principalmente da
musculatura da coxa e perna (Quadríceps, isquio-tibiais e gastrocnêmio) e da lombar
(extensores da coluna) (BIZZOCCHI, 2008; INÁCIO, 2006). A figura 4 abaixo ilustra
a posição baixa;
Figura 4 - Posição básica baixa
Fonte: Coutinho, 2010
b) posição média: É a posição que antecede a recepção de saques normais e
utilizado antes do levantamento, aplicado também para o deslocamento do jogador
para o seu local de defesa depois do levantamento da equipe adversária (FIVB,
2011).
30
A posição média se assemelha a posição baixa, porém agora com o centro de
gravidade mais alto e mais para dentro do corpo, com os MMII menos flexionados e
com o tronco em uma posição mais natural, sendo uma posição mais confortável,
porém ainda com a mesma utilização dos músculos em menor intensidade
(BIZZOCCHI, 2008), a figura 5 ilustra a posição;
Figura 5 - Posição básica média
Fonte: Gross, 2012
c) posição alta: É a posição utilizada pelos bloqueadores, que estão no
aguardo da definição da jogada da equipe adversária, que analisam o passe o
levantamento para iniciar a corrida buscando o bloqueio do ataque (BIZZOCCHI,
2008).
Nesta posição o jogador fica com os MMII estendidos ou quase estendidos e
com os MMSS á frente, sendo uma posição irá variar de acordo com o
deslocamento que o executante realizará na sequência, a figura 6 ilustra melhor esta
posição (BIZZOCCHI, 2008).
31
Figura 6 - Posição básica alta
Fonte: Countinho, 2010
2.1.4.2 Os deslocamentos específicos
As movimentações específicas são as técnicas utilizadas para se chegar ao
local onde o jogador poderá receber a bola, como na recepção, para o
levantamento, para o ataque, para o bloqueio, para a defesa, para a proteção de
ataque e para a recuperação de bolas. Salientando que apenas velocidade absoluta
não é o suficiente para chegar a bola, pois o fundamento à ser realizado na
sequência exigirá equilíbrio corporal para que se saia com eficácia (BIZZOCCHI,
2008; FIVB, 2011; HESPANHOL; ARRUDA, 1998).
Estes deslocamentos são habilidades que não envolvem diretamente o
contato com a bola, mas são eles que irão predizer a eficácia do fundamento à ser
realizado, onde a posição básica, já tratada acima, deverá anteceder esses
deslocamentos e muitas vezes mantida durante o próprio deslocamento
(COLETIVOS; FEDERAL, 2010).
As técnicas específicas de deslocamento, permitem ao jogador chegar ao
local da bola e manter uma postura corporal adequada de acordo com a ação
seguinte a fazer, e podem ser realizados em diversas direções: para a frente, para
trás, para os lados, para as diagonais, mistas; podendo também ser realizada nos
níveis alto, médio e baixo, e são ainda divididos em seis tipos, sendo: corrida
normal, galope, passada lateral, passada cruzada, passada mista e o saltito. Que
serão abordadas com mais detalhes abaixo, levando sempre em consideração as
capacidades motoras envolvidas (BIZZOCCHI, 2008; BOJIKIAN; BOJIKIAN, 2008):
32
a) corrida normal: Um dos poucos deslocamentos no voleibol que o ser
humano desenvolve naturalmente, é utilizada para ganhar maior velocidade ou para
ajudar na impulsão (BIZZOCCHI, 2008). É muito usada para salvar bolas que saem
da zona formal de jogo, como bolas atacadas que batem no bloqueio e “espirram”
para distância maiores (BIZZOCCHI, 2008).
Envolve todos os grandes músculos do corpo, porém no voleibol, essa corrida
é feita geralmente em alta velocidade, exigindo então equilíbrio, potência muscular,
coordenação e ritmo (GALLAHUE; OZMUN, 2005; GARRETT, 2003). Como ilustrado
na figura 7 abaixo;
Figura 7 - Padrão correr
Fonte: Gallahue; Ozmun, 2001
b) galope: É um movimento técnico mais complexo, utilizado para distâncias
curtas e para o ajuste do corpo para receber a bola, sendo deslocamentos onde os
pés não se cruzam, justamente para aumentar o equilíbrio do corpo e possibilitar o
ajuste perfeito ao final do movimento para receber a bola, exigindo como
capacidades motoras equilíbrio, velocidade e ritmo (GALLAHUE; OZMUN, 2005;
MAGILL, 2002). Abaixo a figura 8 ilustra o movimento;
Figura 8 - Galope lateral
Fonte: Marques, 2010
33
c) passada Lateral: Este deslocamento é realizado lateralmente, os pés
novamente não se cruzam, porém, desta vez não se impulsionam como no galope,
ficando o pé em todo o deslocamento em contato com o solo, é utilizado para
deslocamentos curtos ou de ajuste, as capacidades específicas envolvidas são:
equilíbrio e grande diferenciação/precisão motora (BIZZOCCHI, 2008; MAGILL,
2002) a figura 9 abaixo ilustra o movimento;
Figura 9 - Passada lateral
Fonte: Bizzochi 2008
d) passada cruzada: É o movimento técnico onde uma das pernas irá cruzar a
frente da outra, é utilizado em distâncias maiores, onde a passada lateral
despenderia mais tempo, as capacidades motoras são basicamente as mesmas,
porém exige-se mais força e equilíbrio, pois em determinado momento o apoio e a
impulsão para o movimento será feito apenas em uma perna (BIZZOCCHI, 2008;
FIVB, 2011), assim como mostra a figura 10 abaixo;
Figura 10 - Passada Cruzada
Fonte: Bizzochi, 2008
34
e) passada mista: A passada mista como o nome já diz, é uma mistura de
outros deslocamentos, geralmente utilizada em distâncias maiores, em situações
que primeiro necessita-se ganhar velocidade e depois um ajuste à bola, utilizando
todas as capacidades já supracitadas (BIZZOCCHI, 2008).
f) saltito: É um tipo de deslocamento muito rápido utilizado para chegar a um
local específico, usando por exemplo quando os bloqueadores não tem tempo hábil
para abrir a passada, e com um saltito é a única maneira de marcar/bloquear o
atacante adversário (BIZZOCCHI, 2008).
2.1.4.3 Manchete
A manchete é o fundamento técnico mais utilizado na hora da recepção e da
defesa, é um gesto de alta precisão, devido a plataforma formada pelos antebraços
realizando um contato “consistente” da bola, precisão que muitas vezes é perdida
em situações de defesa onde o atacante tem vantagem sobre o defensor, é um
fundamento que exige um bom ajuste corporal, onde este definirá quase que por
completo a resultado da ação (BIZZOCCHI, 2008; BOJIKIAN; BOJIKIAN, 2008). A
habilidade motora da manchete tem uma alta adaptabilidade, sendo realizada de
várias formas, variando quanto ao ângulo dos braços, pernas; ao nível e assim por
diante. Devido a velocidade no voleibol de alto nível por vezes o atleta não consegue
se ajustar perfeitamente para realizar a manchete, fazendo assim um movimento
adaptado para solucionar o problema proposto pela situação ambiental no momento
(BIZZOCCHI, 2008; BOJIKIAN; BOJIKIAN, 2008; FIVB, 2011; MORAES, 2009;
PEREIRA; MESQUITA, 2008; SGMA; USA VOLLEYBALL, 2004).
A maneira ideal de realizar a manchete, em quase todas as vezes, é executar
a manchete básica, à frente do quadril. Porém a postura adotada antes de realizar
este fundamento dependerá da situação em que o jogo está ocorrendo, se na
defesa, se no passe etc. (BIZZOCCHI, 2008; FIVB, 2011). O jogador deverá se
antecipar e se posicionar equilibrado (uma perna mais a frente do que a outra) no
local em que a bola está sendo direcionada, o corpo deverá se posicionar atrás da
bola, com os membros inferiores afastados e joelhos semiflexionados, com o quadril
e tronco levemente inclinados à frente, então o atleta deverá posicionar os membros
superiores estendidos à frente formando um ângulo de aproximadamente 90º com o
35
tronco, os punhos cerrados a frente e as mãos sobrepostas, com os dois polegares
encostados. O contato com a bola deve ser realizado nos antebraços, na região dos
músculos flexores do punho, possibilitando um melhor amortecimento e
“acomodação” da bola para a ação ser realizada com precisão, os MMII se
estendem a frente, e o quadril é levado para a frente juntamente com o corpo, indo
em direção para onde a bola foi enviada (BIZZOCCHI, 2008; FIVB, 2011; SGMA;
USA VOLLEYBALL, 2004), a figura 11 ilustra a habilidade.
Figura 11 - Realização da manchete
Fonte: FIVB, 2010
A manchete envolve como principais capacidades motoras a agilidade;
coordenação dinâmica geral; velocidade de reação; coordenação visual motora;
força isotônica e isométrica de membros inferiores, dorsal e cintura escapular;
flexibilidade de punhos, equilíbrio estático, dinâmico e recuperado (BIZZOCCHI,
2008).
2.1.4.4 O toque por cima
O toque por cima é a principal habilidade motora utilizada no levantamento
(início da ação ofensiva), devido a sua precisão e velocidade, é o primeiro
fundamento com bola à ser ensinado na infância, devido a sua facilidade em relação
aos outros fundamentos, pois, o contato da bola na ponta dos dedos é maior do que
nas outras habilidades, o que facilita o controle da bola pelo jogador (ALFONSO et
al., 2010; BIZZOCCHI, 2008; CRISTINO et al., 2011).
Para a realização do toque é necessário que o jogador desloque-se para a
posição que a bola irá, posicionando-se abaixo dela em posição baixa ou média,
dependendo da altura da bola, com os membros inferiores afastados e um
levemente a frente do outro para dar equilíbrio, permitindo-lhe assim se necessário
realizar possíveis ajustes antes da execução do toque, com os MMSS
36
semiflexionados, de modo que os cotovelos fiquem acima da linha do ombro e
levemente à frente do corpo, com as mãos estendidas e acima da cabeça formando
um triângulo com o dedo polegar e indicador, com os dedos quase na posição
natural, porém levemente rígidos para favorecer o amortecimento da bola na
execução da habilidade. A bola deve “encaixar-se na mão do executante, e deverá
ser impulsionada para a direção específica com a participação dos dez dedos, a
saída da bola deve ser seguida de uma série de movimentos rítmicos e coordenados
do corpo todo, seguidos de uma extensão de dedos, braços, pernas e pés
(BIZZOCCHI, 2008; BOJIKIAN; BOJIKIAN, 2008; FIVB, 2011; SGMA; USA
VOLLEYBALL, 2004). A figura 12 abaixo ilustra a habilidade.
Figura 12 - Execução do toque por cima para frente
Fonte: FIVB, 2011
O toque pode ser aplicado em diferentes situações e de diferentes maneiras,
sendo possível sua realização para frente, para trás ou para os lados, podendo ser
em suspensão e seguidos por rolamento, que será abordado melhor na sequência
(BIZZOCCHI, 2008).
Entre as capacidades motoras envolvidas no fundamento do toque, pode-se
citar: agilidade; coordenação dinâmica geral; velocidade de reação; coordenação
visual-motora; força isotônica de membros inferiores, membros superiores, punhos,
dedos e cintura escapular; flexibilidade de cintura escapular, braços, punhos e
dedos; equilíbrio estático, dinâmico e recuperado; flexibilidade abdominal e força
dorsal (toque de costas) e potência de salto (toque em suspensão) (BIZZOCCHI,
2008).
37
2.1.4.5 Saque
O saque é o fundamento que inicia as ações subsequentes do jogo,
antigamente era utilizado apenas para colocar a bola em jogo, hoje em dia é
utilizado por diversas equipes com objetivo de realizar o ponto ou “quebrar” o passe
adversário para que este não consiga realizar suas ações ofensivas em plenitude
(BIZZOCCHI, 2008; FEMININO; MAEHLER; JÚNIOR, 2000; FIVB, 2011; MORAES,
2009).
Ao longo dos anos foram criados diversos tipos de saque, que diferenciam-se
entre si por diversos fatores, abaixo será abordado com mais detalhes o saque por
baixo, fundamental na iniciação do voleibol; o saque flutuante, que é muito comum
no naipe feminino e o saque “viagem” que é muito utilizado no voleibol de alto
rendimento (FIVB, 2011; SGMA; USA VOLLEYBALL, 2004).
a) saque por baixo: É o saque mais fácil de se executar, sendo ensinado na
iniciação à modalidade, é realizado da seguinte forma: o atleta fica de frente pra
quadra, com as pernas levemente flexionadas e paralelas aos ombros com a perna
contrária do braço que golpeará a bola à frente, manter o tronco inclinado à frente, a
outra mão segura a bola, com o braço quase estendido, na linha entre o joelho e
quadril na linha do ombro (lateral ao corpo), com o outro MS o jogador deve
impulsionar o braço com uma extensão para o plano posterior e rapidamente bater
na bola à frente do corpo com o braço estendido (BIZZOCCHI, 2008; FIVB, 2011;
SGMA; USA VOLLEYBALL, 2004). Como ilustrado na figura 13 abaixo.
Figura 13 - Saque por baixo
Fonte: FIVB, 2011
O saque por baixo envolve as capacidades motoras de coordenação dinâmica
geral; força isométrica de sustentação de tronco, membros inferiores, cintura
38
escapular e punho; força isotônica de cintura escapular, membros superiores,
membros inferiores e tronco; velocidade de deslocamento (retorno à quadra)
(BIZZOCCHI, 2008);
b) o saque por cima do tipo flutuante: Tem este nome pois a bola parece
“flutuar” enquanto está no ar, a bola segue sua trajetória sem girar em seu próprio
eixo, o que a deixa totalmente vulnerável as correntes de ar, e a deixa com uma
trajetória inconsistente, podendo subir, descer, fazer curvas etc. É um dos saques
mais difíceis de se recepcionar, devido ao atleta não conseguir fazer a leitura precisa
da trajetória da bola, ou quando se ajusta para tal, a bola já “trocou de caminho”
(BIZZOCCHI, 2008).
Para executar este saque o atleta deverá estar na posição alta de frente para
a quadra, com o membro inferior contrário do superior dominante à frente para
proporcionar equilíbrio, o jogador deve segurar a bola com a mão não dominante
com o braço estendido mais ou menos na altura do rosto, o outro braço fica
flexionado com a mão próxima à orelha, a bola deverá ser jogada em direção ao
braço que golpeará a bola porém a frente do corpo, o momento em que a bola não
está subindo nem descendo (ponto zero), deve coincidir com o momento que o
jogador bater na bola com o membro dominante em total extensão com a palma da
mão espalmada (hiperextensão), o golpe na bola deve ser “seco”, travando o braço
após ao movimento para evitar que a bola gire (SGMA; USA VOLLEYBALL, 2004), a
descrição das fases está ilustrado na figura 14 abaixo:
Figura 14 - Saque flutuante
Fonte: FIVB, 2011
O saque por cima tipo flutuante envolve as seguintes capacidades:
coordenação dinâmica geral; equilíbrio estático; coordenação visual-motora;
agilidade; mobilidade de cintura escapular; força de sustentação dorsal (preparação
39
para o saque); potência abdominal, de membros superiores, cintura escapular e
peitoral; força isométrica de punho e dedos (ataque a bola); e velocidade de
deslocamento (retorno a quadra) (BIZZOCCHI, 2008);
c) o saque viagem: Este saque vem sendo utilizado como uma estratégia para
diminuir a qualidade do passe dos adversários, utilizado mais pela categoria
masculina, onde o jogador solta a bola alta e a frente do corpo, saltando e batendo
na bola realizando praticamente o mesmo movimento de ataque, imprimindo muita
potência na bola, dificultando assim o ajuste do corpo para recepcionar pelos seus
adversários, diminuindo assim a probabilidade do passe ir em perfeitas condições
para o levantador e organizar o sistema ofensivo de maneira eficiente (CONTI et al.,
2011; FIVB, 2011; MAQUIEIRA; FRAGA, 2003).
Para a realização deste saque, os padrões de lançamento da bola, e corrida
de ajuste para bater na bola são muito individuais, porém no geral para a realização
do saque, lança-se a bola com uma mão, imprimindo-lhe rotação para frente no seu
eixo horizontal, a bola deve ser lançada em uma altura e distância o suficiente para
o atleta realizar as passadas, saltar, bater na bola com potência e cair dentro da
quadra (FIVB, 2011; SGMA; USA VOLLEYBALL, 2004), assim como mostrado na
figura 15 abaixo:
Figura 15 - Saque viagem
Fonte: FIVB 2013
Para realizar o saque viagem o atleta deve possuir as seguintes capacidades
motoras: coordenação dinâmica geral; capacidade de diferenciação (lançamento da
bola); agilidade; equilíbrio; velocidade de reação; coordenação visual-motora;
velocidade específica de deslocamento; potência de membros inferiores e dorsal,
velocidade de membros superiores e cintura escapular (salto); força de sustentação
dorsal, flexibilidade abdominal e de cintura escapular (preparação do saque);
flexibilidade dorsal, potência de membros superiores, peitorais, cintura escapular,
40
abdominal, mãos e punhos e força excêntrica da cadeia muscular do salto (queda)
(BIZZOCCHI, 2008).
2.1.4.6 Cortada
É o fundamento do voleibol que geralmente culmina em ponto, é o momento
do jogo que os espectadores mais esperam, devido a elevada estatura e força dos
jogadores do alto nível, o ataque é realizado em uma elevada altura, podendo
chegar à 3,7m (masculino), e com uma velocidade alta, a bola não levando mais que
0,4s (masculino) para cair no chão (BIZZOCCHI, 2008; FIVB, 2011).
A cortada começa com a posição inicial alta do atleta, e o deslocamento em
direção local de ataque, que lhe dará velocidade à ser convertido em impulsão
vertical. O executante pode realizar para esse deslocamento de duas a quatro
passadas, dependendo do tamanho dos membros inferiores, o ideal é que sejam
realizadas três passadas, com a última passada sendo um “salto” razante forte, a
outra perna (esquerda à frente para atacantes destros, e direita à frente para
atacantes canhotos) “trava” o movimento um pouco à frente para toda a energia ser
convertida em salto vertical. Nesta trava o tronco se inclina a frente, os joelhos se
flexionam à aproximadamente 100º, os braços vão para trás do corpo estendidos o
máximo, concentrando toda a energia para converte-la em impulsão. Para o salto o
atleta tráz os braços pra frente e acima estendidos, e ritmamente vai estendendo os
joelhos para realizar o salto, o corpo se estende o máximo para alcançar a máxima
altura, o braço dominante vai para trás com os cotovelos flexionados na linha do
ombro com a mão atrás da cabeça, o tronco também é hiperestendido, o braço que
realizará o ataque é trazido pra frente, e o outro que estava dando equilíbrio começa
a descer, o tronco se flexiona e ajuda na potência do ataque, amortecendo a queda
se possível caindo com as duas pernas no chão. Todas essas etapas são feitas em
velocidade máxima, fluindo naturalmente (BIZZOCCHI, 2008; FIVB, 2011), abaixo a
figura 16 ilustra o fundamento.
41
Figura 16 - Movimento da cortada
Fonte FIVB: 2011
Para realizar o ataque o atleta deve possuir as seguintes capacidades
motoras: coordenação dinâmica geral; agilidade; equilíbrio; velocidade de reação;
coordenação visual-motora; velocidade específica de deslocamento; potência de
membros inferiores e dorsal, velocidade de membros superiores e cintura escapular
(salto); força de sustentação dorsal, flexibilidade abdominal e de cintura escapular
(preparação do saque); flexibilidade dorsal, potência de membros superiores,
peitorais, cintura escapular, abdominal, mãos e punhos e força excêntrica da cadeia
muscular do salto (queda) (BIZZOCCHI, 2008).
2.1.4.7 Bloqueio
O bloqueio é o recurso defensivo que os jogadores da linha de frente usam
para tentar impedir, dificultar o ataque ou facilitar a bola para o sistema defensivo
Como habilidade motora não é um fundamento difícil, porém o ato de bloquear não
se limita apenas ao gesto, mas sim de percepção e antecipação (conhecido também
como “leitura de jogo”) de acordo com a corrida do adversário, levantamento,
distância da rede, potencial do atacante etc. (BIZZOCCHI, 2008; FIVB, 2011;
ROCHA; BARBANTI, 2007).
42
O bloqueio tem relação direta ao deslocamento que o precede, e o tempo
disponível que o jogador tem para realizar a ação, desta maneira, existindo diversos
tipos de deslocamentos. O bloqueio pode ser ofensivo (alcance mais alto), com as
palmãos das mãos voltadas para a quadra adversária, e defensivo (alcance mais
baixo), com as palmas das mãos voltadas para cima, apenas para amortecer a bola
do ataque (FIVB, 2011).
Para realizar o bloqueio o jogador geralmente irá utilizar a passada lateral
(jogadores das pontas) ou a passada mista (jogadores de meio), ao chegar no local
da efetivação do bloqueio deverá estar com as palmas das mãos voltadas para a
rede com os cotovelos a 90º, para o salto deverá flexionar e estender os joelhos
rapidamente, os braços sobem na linha dos ombros no plano ântero-posterior e eixo
latero-lateral, e se estendem buscando a maior altura, e devem “invadir” a quadra
adversária com a ajuda do tronco, a mão pode ficar em maneira ofensiva ou
defensiva, e cair com os dois pés amortecendo a queda (BIZZOCCHI, 2008). A
figura 17 ilustra o fundamento.
Figura 17 – Movimento de bloqueio
Fonte: FIVB, 2011
43
Para a realização do bloqueio são exigidas as seguintes capacidades:
coordenação dinâmica geral; agilidade; velocidade de reação; coordenação visual-
motora; velocidade específica de deslocamento; força excêntrica de membros
inferiores e tronco; potência de membros inferiores e dorsal; velocidade de membros
superiores e cintura escapular; força de sustentação dorsal, cintura escapular,
abdominal e de punhos; e força excêntrica de cadeia muscular do salto (queda)
(BIZZOCCHI, 2008).
2.1.4.8 Demais Recursos
O Voleibol é um esporte dinâmico, e a gama de movimentos é grande, os
fundamentos apresentados acima são os mais utilizados e sistematizados no
voleibol, porém, de acordo com a situação do jogo outros movimentos podem ser
criados para que se deixe a bola em jogo (MORAES, 2009; PAULO, 2000).
Na defesa principalmente existem diversos recursos, como defesa com uma
mão, defesa com o pé, chute para recuperar a bola, quedas com rolamentos,
deslizes e mergulhos (BIZZOCCHI, 2008; BOJIKIAN; BOJIKIAN, 2008; FIVB, 2011).
No ataque o jogador pode fazer diversas outras ações do que simplesmente a
cortada, como a largada, que com a ponta dos dedos coloca a bola para o outro
lado; o ataque direcionado, onde tira a força da bola e a direciona para um lugar
específico; o ataque para exploração do bloqueio; para bater no bloqueio e voltar
entre diversos outros recursos (BIZZOCCHI, 2008; BOJIKIAN; BOJIKIAN, 2008;
FIVB, 2011).
Devido a estes fatores supracitados é fundamental que o jogador saiba a
técnica, porém, seja dinâmico e criativo para resolver os problemas que surgirão
durante o jogo. Se o atleta tiver todas as capacidades motoras bem desenvolvidas
será mais fácil a adaptação destes recursos e aplicação no momento do jogo
(REGA; SOARES; BOJIKIAN, 2008; SILVA; GRECO, 2009; VIEIRA; BOJIKIAN,
2008).
2.1.5 Dimensão Tática
A tática tem sua importância nas capacidades motoras, pois, para
desempenhar qualquer ação tática (fintas, posicionamento da defesa, troca de
44
posições) o indivíduo deve possuir certa aptidão física para tal (COSTA;
NASCIMENTO, 2004).
Para este estudo é importante dar ênfase a tática individual. Aquela relativa à
posicionamento em quadra, os sistemas de jogo não serão abordados.
Quando fala-se em tática individual é importante entender o termo tomada de
decisão, que está intimamente relacionado à adaptabilidade do atleta perante
situações adversas impostas pela partida de voleibol. O termo significa tomar uma
decisão quanto à situação, por exemplo; sacar como? Em qual lugar da quadra?
Viagem ou flutuante? São perguntas que cercam o jogador de voleibol durante toda
a partida, e estão vinculados a processos cognitivos em três níveis (DOUTORA;
MESQUITA, 2007; NEVES, 2012).
Identificação do problema (1) (percepção e análise da situação), que nada
mais é que o atleta tomar consciência a situação, perceber o jogo, fase crucial, que
irá determinar o sucesso do atleta. Jogadores que tem boa percepção levam
vantagem no voleibol, pois irão se antecipar melhor a situação de jogo, e nada mais
é do que a capacidade cognitiva de percepção, que é determinante nas capacidades
motoras, a percepção será trabalhada mais a frente detalhadamente (BOTELHO,
2010; COSTA; NASCIMENTO, 2004; JULIO; MATIAS; GRECO, 2009; KRÖGER;
ROTH, 2002; MONTAGNER; SILVA, 2003).
Elaboração da solução (2), é a resposta que o atleta escolhe para
determinada situação, muitas vezes acontecendo de maneira inconsciente devido a
velocidade no voleibol ser muito alta, e por diversas vezes o estímulo é processado
em níveis inferiores do sistema central (coluna vertebral). O ato por exemplo de
atacar e a bola bater no bloqueio e voltar para a sua quadra, taticamente o correto é
deixar a bola para o outro jogador que está fazendo a proteção do ataque
(cobertura), porém, diversas vezes, pelo atleta não ter automatizado a função de
quando a bola bater deixar para o atleta da cobertura, ele próprio se volta e pega a
bola que seria do companheiro de time, e muitas vezes à tornando a próxima ação
dificultuosa, assim, elaborando a solução de maneira incorreta (BOTELHO, 2010;
COSTA; NASCIMENTO, 2004; JULIO; JUAN, 2010; JULIO; MATIAS; GRECO, 2009;
KRÖGER; ROTH, 2002; MONTAGNER; SILVA, 2003).
Execução motora (3), sendo o ato propriamente dito para solução do
problema no jogo, nesta fase as capacidades motoras que o atleta possui são
determinantes na eficiência da execução servindo de suporte para tal. A tomada de
45
decisão deve ser estimulada de diversas maneiras (BOTELHO, 2010; COSTA;
NASCIMENTO, 2004; GRECO, 2006; JULIO; JUAN, 2010; JULIO; MATIAS;
GRECO, 2009; KRÖGER; ROTH, 2002; MONTAGNER; SILVA, 2003).
A capacidade tática do jogador tem relação direta com suas experiências
prévias, ou seja, se o atleta treina situações parecidas, se ele já vivenciou momentos
similares, para que na hora da ação possa se fazer um feedback, uma comparação
com a situação vivenciada anteriormente e em cima dessas informações escolher a
melhor ação a seguir (NEVES, 2012). As capacidades motoras quando bem
desenvolvidas no atleta, facilitam a tomada de decisão de qualquer forma, pois o
organismo irá escolher a ação à tomar de acordo com as capacidades que o atleta
possui, como velocidade de reação, força entre outras (BOTELHO, 2010; CARLOS;
MORALES; GRECO, 2007; COSTA; NASCIMENTO, 2004; GRECO, 2006; JULIO;
JUAN, 2010; JULIO; MATIAS; GRECO, 2009; KRÖGER; ROTH, 2002;
MONTAGNER; SILVA, 2003; WEINECK, 2000a).
2.1.6 Dimensão Psicológica
A dimensão psicológica por muitas vezes determina o desempenho de atletas
(BODAS; LÁZARO; FERNANDES, 2007; FABIANI, 2009; REM; FERREIRA, 2006;
SANTOS; SHIGUNOV, 2010), sendo importante ter o conhecimento sobre esta
dimensão, para que o técnico não se precipite ao diagnosticar problemas em outros
fatores como nas capacidades motoras, problemas estes que podem ter causa
psicológica e não física em sí (FABIANI, 2009; SANTOS; SHIGUNOV, 2010;
SONOO et al., 2010).
O voleibol por ser uma modalidade que exige ao atleta muita precisão e
regularidade, implica uma pressão nos praticantes de “não poder errar”, o que nem
sempre acontece na hora do jogo, e atleta terá de saber lidar com isso, caso
contrário as questões psicológicas podem alterar a execução de habilidades
específicas, percepção visual e coordenação geral (GARCIA UCHA, 2006 Apud
BOSSIO; RAIMUNDI; CORREA, 2007).
Diversos estudos (ANDRADE, 2005; BODAS; LÁZARO; FERNANDES, 2007;
JOÃO; FERNANDES FILHO, 2002) vêm tentando determinar o perfil psicológico de
diversas modalidades, no voleibol o atleta deve possuir as seguintes características:
percepção, concentração, criatividade, decisão, motivação, autoconfiança,
46
determinação, força de vontade, agressividade, controle de todos os tipos de
estresse, responsabilidade social, liderança, união e comunicação (BIZZOCCHI,
2008).
Essas virtudes citadas acima podem e devem ser treinadas, juntamente a
outros exercícios, uma ferramenta por exemplo é o estabelecimento de metas, que
irá motivar o atleta, e ao mesmo tempo impor uma pressão, que ele deverá saber
lidar com esta para alcançar o objetivo do exercício (BIZZOCCHI, 2008; BOJIKIAN;
BOJIKIAN, 2008; BOSSIO; RAIMUNDI; CORREA, 2007; MORAN, 2012).
Para a formação do atleta de alto rendimento, todas essas variáveis já citadas
são fundamentais, e somar este conhecimento ao treinamento e utilização das
capacidades motoras deve existir, pois como pode-se perceber até agora, muitas
dimensões (espaço, tempo, jogador) estão interligadas, todas tendo alguma relação
com as capacidades físicas, e influenciam ou são influenciadas uma pelas outras de
alguma maneira (BALBINO, 2001; FABIANI, 2009; FIVB, 2011; MORAES, 2009).
2.1.7 Dimensão Fisiológica
Para que se possa entender plenamente a dimensão fisiológica no voleibol, é
necessário uma compreensão quanto aos sistemas energéticos, que servem de
base para todos os movimentos no voleibol, lembrando ressaltar que esta dimensão
tem relação direta com as capacidades motoras (MARQUES JUNIOR, 2002;
NOGUEIRA, 2004; STANGANELLI et al., 2006).
O voleibol é uma modalidade intermitente (esforço/pausa), de trabalho físico
dinâmico e de intensidade variada, sendo umas modalidades mais complexas,
exigindo perfeição na execução das habilidades, como já citadas, e características
físicas específicas, requisitando do organismo um sistema eficiente na regulação e
controle dos movimentos (FIVB, 2011; LUIZ; RIGOLIN, 2000).
O corpo humano, para realizar qualquer atividade física utiliza um substrato
chamado ATP (adenosina trifosfato). A produção de ATP é feita através das fontes
energéticas, que são a gordura, carboidratos e a proteína, variando a utilização de
cada fonte de acordo com a intensidade e duração do exercício, sendo então esta
produção/utilização do ATP classificada por sistemas energéticos, que durante o
exercício a predominância de cada sistema pode ir se alterando, de maneira que
47
todos os sistemas energéticos tem uma parcela diferente para cada tipo de exercício
(intensidade) (WILMORE; COSTILL, 2008).
Em exercícios de maior intensidade, como um salto de ataque no voleibol, a
utilização do ATP se dá prioritariamente através do sistema ATP-PC, sendo o ATP já
pronto para ser utilizado, é a energia mais rápida e pronta para consumo no
músculo, onde uma enzima chamada ATPase faz hidrólise (quebra) de ATP, o
transformando em ADP + Pi (adenosina difosfato+fosfato inorgânico), essa reação
fornece cerca de 7,6 kcal (energia), depois do ATP quebrado ele se liga a uma
molécula de fosfocreatina, gerando ainda mais energia (MCARDLE, 2003;
WEINECK, 2005). Este sistema não necessita de O2 (oxigênio), assim sendo um
sistema totalmente anaeróbio e dura em torno de cinco a dez segundos para ser
depletado (esgotado) (WEINECK, 2005) e de cinco a dez minutos para ser
totalmente ressintetizado pelo organismo (WEINECK, 2005).
O segundo sistema energético usado após dez segundos de atividade física,
é o sistema de metabolismo anaeróbio lático, neste sistema acontece a quebra da
glicose, situada no sarcoplasma por diversas reações químicas enzimáticas, até ser
degradado em duas moléculas de ácido pirúvico, tendo como resultado a produção
de dois ATPs (ROBERGS; ROBERTS, 2002; WEINECK, 2005; WILMORE;
COSTILL, 2008). O sistema anaeróbio lático é mobilizado quando a atividade requer
uma quantidade de energia por um período relativamente curto (maior que dez
segundos) ou de uma intensidade pouco abaixo da máxima, como alguns
deslocamento a contração muscular é realizada de maneira tão rápida que o sistema
cardiorrespiratório ainda não consegue suprir a demanda de oxigênio para fazer a
ressíntese de ATP, sendo assim um sistema realizado na ausência de oxigênio
(MCARDLE; KATCH; KATCH, 2003; WEINECK, 2005; WILMORE; COSTILL, 2008).
Após um minuto de atividade física as reservas de glicose pronta para uso no
organismo se esgotam, e a partir deste momento a glicose necessária será obtida
através das reservas de glicogênio (glicose sem ser quebrada) nos músculos, se
mantendo por até vinte minutos (FOX,2000).
O terceiro sistema de energia é o sistema oxidativo ou aeróbio, que usa como
predominância de fontes energéticas a gordura. Esse sistema é composto de várias
reações e é utilizado por um tempo determinado de acordo com as reservas de
gordura, neste sistema existe o uso do oxigênio para obtenção de energia
(WILMORE e COSTTIL, 2002). No voleibol este sistema é muito importante para
48
recuperação de energia nos tempos de repouso, se o atleta possui boa condição
aeróbia ele vai ressintetizar mais rapidamente as reservas de energia (MARQUES
JUNIOR, 2002; NOGUEIRA, 2004; WEINECK, 2005)
Entre os sistemas energéticos citados, o metabolismo anaeróbio (ATP-PC e
anaeróbio alático) é o mais utilizado no voleibol, devido a alta intensidade e
velocidade da maioria dos movmentos (FRANCHINI et al., 2003). Podendo ser
dividido em potência e capacidade anaeróbia, existe a necessidade de avaliação da
potência e da capacidade anaeróbia. A potência anaeróbia pode ser definida como o
máximo de energia liberada por unidade de tempo por esse sistema, enquanto a
capacidade anaeróbia pode ser definida como a quantidade total de energia
disponível nesse sistema (FRANCHINI, 2002).
A capacidade anaeróbia é a capacidade de regenerar ATP tendo uso de
fontes não mitocondriais (oxigênio) (ROBERGS; ROBERTS, 2002), assim utilizando
o sistema alático e glicolítico, ou seja, a quantidade total de energia disponível
(WEINECK, 2000b).
A potência anaeróbia é a execução de um movimento (trabalho) que é
representado pela produção de energia através do sistema alático, ou seja, o
máximo de energia por unidade de tempo (BISHOP; LAWRENCE; SPENCER,
2003).
Durante a realização do exercício de alta intensidade o ATP é ressintetizado
pela glicose anaeróbica, tornando a produção de ATP limitada e diminuindo a
capacidade muscular de manter determinada força constante, o que vai gerar fadiga
devido aos metabólicos liberados (FRANCHINI, 2002).
O desempenho anaeróbio depende basicamente dos seguintes fatores:
concentração inicial de fosfocreatina (CP) nos músculos onde, a taxa de declínio
aumenta de acordo com a intensidade da força, esse declínio tem relação direta à
fadiga muscular, as maiores concentrações de CP atrasariam uma possível
predominância do metabolismo lático, retardando assim a fadiga (BISHOP;
LAWRENCE; SPENCER, 2003).
2.1.7.1 Frequência Cardíaca
A avaliação da frequência cardíaca frequentemente vem sendo adotada para
controle da intensidade do exercício, principalmente por se mostrar um método
49
eficaz e barato para avaliar a condição cardíaca do indivíduo (FARIA, 2006; INÁCIO,
2006).
O valor da frequência cardíaca tem relação direta com a intensidade do
exercício, quanto maior a intensidade, mais alta será a frequência cardíaca, situação
que fica bem visível ao final de um longo rally no voleibol, que os jogadores ficam
exaustos (LUIS et al., 2011).
No voleibol a frequência cardíaca ao longo da partida segue uma trajetória
não-linear, bem tradicional de esportes intermitentes, como pode se verificar no
estudo de Oliveira, Deschapelles e Oliveira (2010) mostrado na figura 26 abaixo.
Figura 18 - Comportamento da frequência cardíaca ao longo de uma partida de voleibol
Fonte: Oliveira, Deschapelles e Oliveira (2010)
Como pode-se observar na figura acima a frequência cardíaca mínima
encontrada foi de 110 batimentos por minuto (bpm) e máxima de 181 BPM,
corroborando com o estudo de Dyba (1982 apud Faria, 2006) que encontrou uma
frequência cardíaca média de 145 bpm, o mesmo autor avaliou a frequência
cardíaca média de cada gesto motor e de cada função tática, os resultados
encontram-se na tabela 1 abaixo:
Tabela 1 - Frequência cardíaca média por gesto técnico e função tática
Gesto Técnico/Função Tática
Média da Frequência Cardíaca (bpm)
Ataque
138
Saque
104
Bloqueio
s.d.
50
Passe
126
Manchete
131
Levantadores
150
Centrais
143
Pontas/Opostos
141
*s.d.=sem dados
Fonte: Dyba (1982 apud Faria, 2006)
Os dados encontrados de frequência cardíaca parecem realmente refletir a
situação real de jogo, onde o levantador está e constante movimento, pois ele deve
pegar todas as bolas vindas do passe de seu time. Quanto ao quesito técnico, o
ataque por ser movimento que exige mais fisicamente do atleta foi o que obteve uma
maior frequência cardíaca (BIZZOCCHI, 2008; FARIA, 2006; NOGUEIRA, 2004).
Estes dados são fundamentais para o técnico desportivo, para que este consiga
aplicar no treinamento uma intensidade parecida com à de jogo, para que na hora da
partida o jogador consiga aplicar de maneira efetiva toda a técnica treinada sem se
desgastar e perder eficiência, levando em consideração a idade e nível dos atletas,
jamais exigindo de um atleta iniciante desempenho de um profissional
(STANGANELLI et al., 2006; TUBINO, 2003)
2.2 CAPACIDADES MOTORAS
As capacidades motoras são os pressupostos que todo o ser humano possui
para desempenhar ações motoras. São as qualidades que todos têm para correr,
levantar pesos, equilibrar objetos entre outras ações. São capacidades: força,
velocidade, resistência, flexibilidade, agilidade entre outras. (BARBANTI, 2004;
BORIN et al., 2007; BOZZA et al., 2009; GARRETT, 2003; WEINECK, 2005).
Cada pessoa possui estas capacidades em diferentes níveis, podendo uma
pessoa ser naturalmente mais forte que a outra (SCHNEIDER; BENETTI; MEYER,
2004). Assim, as capacidades motoras possuem uma carga motora pré-estabelecida
pela genética, que ao longo da vida sofrerá alterações, chegando à um limite
máximo e posteriormente acontecendo uma regressão. As valências físicas podem
ser treinadas e melhoradas, e de acordo com o estímulo sofrem uma alteração no
geral bem significativa (CEZÁRIO, 2008; KRÖGER; ROTH, 2002; PENHA;
PIÇARRO; BARROS, 2012; PETROSKI et al., 2011; WEINECK, 2005; WILMORE;
COSTILL, 2008).
51
As capacidades motoras podem ser divididas em condicionais e
coordenativas, sendo a primeira ações mais quantitativas determinadas pelos
processos energéticos e metabólicos para obtenção e transformação de energia, por
isso são condicionadas à energia que existe no músculo. A segunda tem um caráter
mais qualitativo, determinadas pela organização, controle e regulação do movimento
pelo sistema nervoso central de acordo com as informações oferecidas pelos
sistemas sensoriais como a visão e o tato (WEINECK, 2005).
2.2.1 Capacidades condicionais
As capacidades condicionais servem de base para a realização de qualquer
tarefa motora, pois, sem os músculos e funções metabólicas a contração muscular
para os gestos não ocorreria (WEINECK, 2005).
2.2.1.1 Resistência
A capacidade de resistência pode ser definida segundo Weineck (2005),
como: “(...) a capacidade psicofísica do esportista resistir à fadiga.”. No voleibol
pode-se aplicar esta definição usando como exemplo um longo rally, onde o atleta
deve resistir a fadiga, para que consiga saltar e se deslocar sem perder o bom
desempenho (COSTA; MESQUITA; et al., 2010; HESPANHOL; ARRUDA, 1998;
WEINECK, 2005).
A resistência pode ser dividida de acordo com os seguintes fatores
(WEINECK, 2003):
a) quanto à modalidade esportiva:
- Geral: Sendo a resistência que não tem relação com a modalidade
esportiva, e serve de base para a prática de atividades físicas (PLATONOV, 2008;
ROSA; FARTO, 2007; WEINECK, 2003);
- Específica: Onde a resistência se manifesta por movimentos específicos das
modalidades, como a resistência exigida para suportar uma partida de voleibol
(FARTO, 2002; HESPANHOL; ARRUDA, 1998; PLATONOV, 2008; WEINECK,
2003); b) quanto à participação da musculatura em um exercício:
- Geral: Onde mais de 1/6 à 1/7 da musculatura total é utilizada no exercício,
como uma corrida por exemplo, onde usa-se membros inferiores e superiores para
52
realizar o exercício, sendo limitada pela capacidade respiratória, cardiovascular e
pelo fornecimento do oxigênio, sendo expressa geralmente em função do consumo
máximo de oxigênio (VO2max) (ROSA; FARTO, 2007; WEINECK, 2003).
- Localizada: Sendo a resistência de menos de 1/6 à 1/7 da musculatura total
de uma pessoa, como o exercício rosca direta (flexão de cotovelo contra
resistência), e é geralmente limitada pela capacidade anaeróbia e pelas formas
limitantes da força, como resistência de velocidade, resistência de força rápida, bem
como a especificidade do gesto, dependendo da coordenação neuromuscular para
melhor eficiência (WEINECK, 2003);
c) quanto à mobilização energética:
- Aeróbia: Onde há oxigênio disponível para a queima oxidativa de
substâncias energéticas, sendo requisitada em exercícios de menor intensidade e de
maior duração (GARRETT, 2003; PLATONOV, 2008; WEINECK, 2003);
- Anaeróbia: Sendo determinada pela predominância do sistema anaeróbio,
como em exercícios de maior intensidade e menor duração (GARRETT, 2003;
PLATONOV, 2008; WEINECK, 2003);
d) quanto à duração:
- Curta: Ocorrendo sob estímulos de no máximo 45 segundos à 2 minutos,
sendo suportada predominantemente pelo sistema anaeróbio (WEINECK, 2003);
- Média: Sendo utilizada em estímulos de dois a oito minutos, ocorrendo uma
crescente mobilização do sistema aeróbio (WEINECK, 2003);
- Longa: Ocorrendo em exercícios superiores à oito minutos, mobilizando
predominantemente o sistema aeróbio. Existindo ainda outras subdivisões desse
sistema em resistência de longa duração (RLD) I, II e III, sendo respectivamente até
30 minutos de duração, de 30 a 90 minutos de duração e superiores a 90 minutos de
duração (WEINECK, 2003);
e) quanto aos principais requisitos motores:
- Força: Quando a força é o principal requisito para resistir a fadiga, será
melhor abordado no tópico sobre força (GOMES, 2009);
- Força rápida: Tem a mesma aplicabilidade da força, porém com ênfase na
contração rápida, será melhor abordado no tópico sobre força (GOMES, 2009);
- Velocidade: Sendo determinando pelo ritmo da velocidade que o sujeito está
aplicando (GOMES, 2009), será melhor abordado na sequência no tópico sobre
velocidade.
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A figura 18 na sequência ilustra as classificações da resistência para facilitar o
entendimento:
Fonte: Weineck, 2002
A capacidade motora de resistência é muito complexa, existindo ainda outras
classificações como segundo o seu aspecto dinâmico ou estático, a primeira
referindo-se aos movimentos e a segunda à postura (WEINECK, 2003). Ou então
ainda à resistência do sistema nervoso central, que em movimentos que exijam um
alto desempenho coordenativo pode ocorrer, sendo muito comum no voleibol, devdo
a complexibilidade dos movimentos, acontecendo inclusive antes do que a fadiga
física, fator que compromete a qualidade dos gestos técnicos específicos da
modalidade (HESPANHOL; ARRUDA, 1998; WEINECK, 2003).
O entendimento dos tipos de resistência é fundamental para o professional
que trabalha com esporte, sendo que a interpretação dos requisitos fisiológicos de
cada modalidade, serve de base a prescrição do treino de resistência. Apesar de
todos os tipos de resistência, é necessário compreender que as subdivisões são
dinâmicas, e estão em constante alternância ao longo do exercício (PLATONOV,
2008; ROSA; FARTO, 2007; WEINECK, 2003).
2.2.1.2 Velocidade
A velocidade é uma das capacidades mais importantes nos esportes, sendo
muitas vezes o principal requisito motor, permitindo tanto a movimentação como
também a assimilação de outras capacidades de condicionamento, como força e
coordenação (PLATONOV, 2008; WEINECK, 2003).
Figura 19 - Classificação de resistência
54
É uma gama variada, incomum e complexa de capacidades, se apresentando
nos esportes de diversas maneiras e formas específicas, não sendo apenas a
capacidade de correr velozmente, como também a capacidade de coordenar todas
as estruturas para a realização do movimento (PLATONOV, 2008; ROSA; FARTO,
2007; WEINECK, 2003).
A velocidade depende não somente das estruturas musculares, mas também
das funções de ordenação das fibras pelo sistema nervoso central (SNC), sendo
considerado muitas vezes até como o fator mais importante para o desempenho da
velocidade (PLATONOV, 2008; WEINECK, 2003; WILMORE; COSTILL, 2008).
Na literatura há diversas definições desta capacidade:
Segundo Platonov (2008): “Por capacidade de velocidade do desportista,
devemos entender o conjunto das características funcionais que garantem a
realização das ações motoras nun tempo mínimo”.
Segundo Gomes (2009): “A capacidade de velocidade manifesta-se na
possibilidade de o atleta executar as ações motoras, no menor tempo possível, em
determinado percurso”.
Segundo Weineck (2003, p. 379):
a velocidade motora resulta, portanto, da capacidade psíquica, cognitiva,
coordenativa e do condicionamento, sujeitas às influências genéticas, do
aprendizado, do desenvolvimento sensorial e neuronal, bem como de
tendões, músculos e capacidade de mobilização energética.
Segundo Grosser (1991) citado por Weineck (2003, p. 378):
velocidade no esporte é a capacidade de atingir maior rapidez de reação e
de movimento de acordo com o condicionamento específico, baseada no
processo cognitivo, na força máxima de vontade e no bom funcionamento
do sistema neuromuscular.
As definições supracitadas permitem o melhor entendimento da velocidade,
deixando claro os dois componentes da velocidade; a operacionalidade do
mecanismo neuromotor (transmissão do impulso nervoso de acordo com o estímulo
recebido) e a capacidade de mobilização rápida das articulações na ação motora
(contração muscular e mecanismos envolvidos). O primeiro componente é
55
determinado em grande parte pela carga genética, e seu aperfeiçoamento é quase
insignificante, devido a isto, o tempo de reação simples em pessoas normais é de
0,2 à 0,3s, enquanto em sujeitos treinados é de 0,1 à 0,2s, mostrando assim uma
melhora de no máximo 0,1s (PLATONOV, 2008). O segundo componente sofre
maior influência do treinamento, e serve de base para as formas elementares da
velocidade. Assim a rapidez da ação motora é garantida pelo ajuste das estruturas
motoras à resposta da solução da tarefa e pelo controle dos componentes
coordenativos (PLATONOV, 2008; ROSA; FARTO, 2007; WEINECK, 2003).
O pesquisador Schiffer (1993 apud Weineck, 2003), divide a velocidade em
duas grandes categorias; “puras” e “complexas”.
A velocidade pura é dividida em: (1)velocidade de reação, sendo a
capacidade de reação a um estímulo em um menor espaço de tempo possível, como
o tempo em que soa o sinal e os nadadores caem na água para iniciar a prova;
(2)velocidade de ação, sendo a capacidade de realizar movimentos únicos, de
maneira acíclica com a máxima velocidade, como uma queda para defesa no
voleibol; e a (3)velocidade de frequência como a capacidade cíclica de realizar
movimentos repetidos e iguais com a máxima velocidade, como em uma prova de
atletismo de 100m rasos (WEINECK, 2003).
As formas complexas da velocidade são divididas em: (1)velocidade de força,
como sendo a capacidade resistir a uma força mais alta possível por um tempo
determinado; (2)resistência de força rápida , sendo a capacidade da velocidade sob
fadiga, manutenção da velocidade de contração de movimentos acíclicos em
resistência crescente; (3) resistência de velocidade máxima, como sendo a
capacidade de resistência da velocidade máxima sob os processos de fadiga na
manutenção da velocidade em movimentos cíclicos e de máxima velocidade de
contração (WEINECK, 2003).
Há ainda diversos outros fatores que têm relação com a velocidade, é
importante entender que para a execução de ações de velocidade nas modalidades
desportivas existem outras capacidades segundarias fundamentais para a execução
(COIMBRA, 2005; FURTADO, 2009; WEINECK, 2003), estas serão descritas abaixo
para melhor entendimento.
A velocidade de percepção é uma capacidade fundamental nas modalidades
coletivas, sendo caracterizada como a capacidade de perceber as situações do jogo
e suas alterações no menor tempo possível (WEINECK, 2003). Sua importância se
56
dá pelo fato de que quem percebe melhor o jogo, consegue organizar as respostas
para os problemas impostos no jogo de maneira mais eficiente, principalmente no
voleibol (BRIGGS, 1994).
A velocidade de antecipação é a capacidade de antecipar ações no menor
tempo possível, em especial, a ação dos adversários, como por exemplo ao
defender no voleibol se antecipar à direção que a bola irá cair, tem total relação com
a capacidade de percepção (COIMBRA, 2005; THOMSON; WATT; LIUKKONEN,
2009; WEINECK, 2003).
A velocidade de decisão se refere à ao tempo para iniciar a tomada de
decisão de acordo com uma situação que ocorre no jogo, como o ato de escolher
usar o toque ou a manchete de acordo com a trajetória da bola oriunda do saque
(TOMASINO et al., 2012; WEINECK, 2003).
No voleibol a velocidade que se apresenta mais importante é a velocidade de
reação, decisão e de membros. Pois sem estas capacidades bem desenvolvidas é
impossível alcançar desempenhos ótimos, principalmente pelo fato da dinâmica
espacial da modalidade, onde as distâncias são curtas, e os movimentos exigidos
são de máxima velocidade em um curto espaço de tempo (ARAÚJO et al., 2006;
BIZZOCCHI, 2008; MACIEL et al., 2009; REGA; SOARES; BOJIKIAN, 2008; SGMA;
USA VOLLEYBALL, 2004).
O técnico ciente dessas informações deverá proporcionar aos alunos o
desenvolvimento da capacidade de velocidade, dando ênfase as velocidades purax
e complexas, levando em conta o perfil dos alunos, idade, estágio maturacional etc.
(BOMPA, 2002a; CDP, 2010; ROCHA; ROCHA; BERTOLASCE, 2010)
2.2.1.3 Força
A força é um que termo engloba diversos componentes e tem diferentes
aplicações (HESPANHOL et al., 2007; WEINECK, 2005). Platonov (2008) a define
como: “Capacidade do indivíduo de superar uma resistência ou agir contra ela pela
atividade muscular”.
A manifestação da força pode ocorrer como resultado de um trabalho
muscular isométrico (estático), sem alteração no comprimento do músculo durante o
trabalho, ou, de um regime isotônico (dinâmico), com alteração do comprimento do
segmento muscular. Na contração dinâmica pode-se destacar duas fases: a
57
concêntrica, onde é caracterizada pela superação da resistência por conta da tensão
e da diminuição do comprimento do músculo (ex. músculos da parte anterior da coxa
ao levantar-se de uma cadeira); e da excêntrica onde a resistência é controlada e o
comprimento muscular aumentado (ex. músculos da parte anterior da coxa ao
sentar-se em uma cadeira) (PLATONOV, 2008; VIEIRA et al., 2008; WEINECK,
2005; WILMORE; COSTILL, 2001).
Existem três tipos de força, sendo força máxima, força rápida e a força de
resistência. Que podem se manifestar sob o aspecto de força geral, onde trata-se da
força de todos os grupos musculares independente do esporte ou especialização; e
força específica, sendo está empregada em uma determinada modalidade específica
ou exercício direcionado à um grupo muscular selecionado para algum gesto
específico (GARRETT, 2003; HALL, 1993; ROBERGS; ROBERTS, 2002; WEINECK,
2005).
Figura 20 - Tipos de força
Fonte:Letzelter/Letzelter, 1983 (Apud Weineck, 2003)
A força máxima representa a maior quantidade de força gerada pelo sistema
neuromuscular através de uma contração voluntária (UGRINOWITSCH, 2005;
WEINECK, 2005). A força absoluta representa o valor da força máxima mais o valor
da força de reserva, porém ela só é mobilizada sob condições extremas (risco de
vida, hipnose, etc.) (WEINECK, 2003).
A diferença entre a força absoluta e a força máxima é denominada de “déficit
de força”, podendo variar de 30% (não treinados) à 10% (pessoas treinadas) de
58
acordo com a treinabilidade, este déficit pode ser avaliado através de métodos
específicos como a eletroestimulação (ALVES et al., 2009; WEINECK, 2003).
A força máxima pode ser dividida em estática (isométrica) e dinâmica
(isotônico), sendo que força máxima é a maior quantidade de força que o sistema
neuromuscular tem capacidade de gerar com uma contração voluntária para vencer
determinada resistência; a força dinâmica é a força aplicada em uma determinada
sequência de movimentos. Sendo a força estática sempre maior que a dinâmica,
pois a máxima só poderá ser desenvolvida se a capacidade de contração do
músculo estiver de acordo com a carga limite (WEINECK, 2005).
Este tipo de força depende de alguns componentes como: as estrias
transversais dos músculos (linhas Z), ou seja, de como as proteínas específicas
(actina e miosina) estão dispostas na fibra muscular; da coordenação inter e
intramuscular, que se desenvolve com o treinamento (BOMPA, 2005; WEINECK,
2003).
A força rápida é a capacidade do sistema neuromuscular de realizar
contrações musculares com uma velocidade máxima diante de uma resistência, e
tem relação direta com o tipo de fibra muscular distribuída pelo corpo, podendo ser
diferente em uma mesma pessoa (ex. a força rápida de um braço é diferente de
outro), e tem forte influência do treinamento (MCARDLE, 2003; WEINECK, 2003).
Os movimentos que exigem força rápida são regidos por um “programa”,
sendo processado através do sistema nervoso central, por exemplo, atletas que
conseguem desempenhar movimentos mais rápidos, possuem um programa mais
rápido e eficiente, sendo que movimentos parecidos são controlados por um mesmo
programa “básico”, como os movimentos de rebater por baixo e na altura da cintura
(MAGILL, 2002; SCHMIDT; WRISBERG, 2010; WEINECK, 2003).
Os programas de processamento rápido (programas temporais curtos)
conseguem ter essa velocidade pois os impulsos vão diretamente para o músculo
atuante, tendo uma inervação específica que proporciona velocidade da transmissão
do impulso nervoso (WEINECK, 2005).
Como já foi visto anteriormente há uma íntima relação entre força máxima
isométrica e velocidade de movimento, sendo que uma melhora na força isométrica
sempre está associado à uma melhoria da velocidade do movimento, assim, com a
força isométrica é possível verificar e diferenciar a influência da força máxima sobre
a força rápida e suas subcategorias, evidenciando-se em movimentos específicos
59
(WEINECK, 2003). Na flexão de cotovelo, para realizar o movimento depende-se de
13% da capacidade de força máxima, enquanto que a velocidade desta flexão
depende de 39% de força máxima, e se a flexão passar de 51% da força máxima,
então a velocidade desta flexão dependerá de 79% de força máxima
(VERKHOSHANSKY, 1978 apud WEINECK, 2003).
A resistência de força, é a capacidade de resistência à fadiga em situações
que seja necessário a exigência de força por um período prolongado. A força de
resistência possui alguns critérios, como a intensidade do estímulo (dado em
percentual da força máxima), e o volume do estímulo (soma das repetições), sendo
que o tipo de mobilização energética resulta da intensidade de força, volume do
estímulo e da duração (BOMPA, 2002b; ROBERGS; ROBERTS, 2002)
A capacidade de resistência de força deve visar uma adaptação da função
oxidativa das fibras, incluindo-se também novos processamentos
neuromomusculares e formação de novas estruturas contráteis do músculo
(WILMORE; COSTILL, 2008)
No voleibol é importante ressaltar a força explosiva, conhecida também como
potência, sendo que esta capacidade norteia pela grande maioria das ações no
voleibol. Tanto para membros inferiores, superiores e também de tronco, verificado
na ação dos músculos abdominais no movimento de ataque, sendo assim uma
capacidade que é pré-requisito para a aprendizagem e desempenho de diversos
gestos motores específicos (LOMBARDI, 2011; LUIZ et al., 2004; PIRES;
NAVARRO, 2010; TUBINO, 2003).
2.2.1.4 Flexibilidade
A flexibilidade é a capacidade que o ser humano possui de realizar
movimentos de grande amplitude sem gerar problemas para as estruturas corporais
(pele, músculo, tendão, ligamento etc.), é considerada também como sendo uma
capacidade mista (condicional e coordenativa) (BOMPA, 2002a; PLATONOV, 2008;
WEINECK, 2003).
A flexibilidade pode ser dividida em:
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a) ativa: Onde se realiza movimentos de grande amplitude com o auxílio dos
próprios músculos, como por exemplo se abaixar e sozinho tentar alcançar na ponta
dos pes sem flexionar os