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Aplicação de Nitrogênio em Taxas Variáveis a Partir de Produtividade de Cana-
de-Açúcar Estimada por Sensor de Dossel
Lucas Rios do Amaral(1); José Paulo Molin(2)
(1) Professor Doutor; Faculdade de Engenharia Agrícola; Universidade Estadual de Campinas, Av. Cândido Rondon, 501,
Campinas/SP; lucasamaral@agronomo.eng.br. (2) Professor Associado; Departamento de Engenharia de Biossistemas; Universidade
de São Paulo; Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”; Avenida Pádua Dias, 11, Piracicaba/SP; jpmolin@usp.br.
RESUMO – A correta fertilização nitrogenada em cana-
de-açúcar é um desafio. Para auxiliar na recomendação
desse nutriente, um algoritmo de prescrição de N, que tem
como informação básica os dados de refletância do dossel
da cultura obtidos por um sensor, foi recentemente
proposto, mas ainda carece de resultados em áreas
comerciais. Com esse objetivo, realizou-se a avaliação de
três talhões cultivados com cana-de-açúcar com o sensor
de dossel CropCircle, modelo ACS-430. Os dados do
sensor foram convertidos em doses de nitrogênio e criou-
se mapas de recomendação. O desenvolvimento da cana-
de-açúcar varia espacialmente e sensores de dossel são
capazes de captar tal diferença. O algoritmo de
fertilização permitiu variação na dose de N da ordem de
33% a 45%, dependendo da área. A variação na
distribuição de N ocorre conforme a variabilidade
espacial existente na área e é mais promissora quando
existem regiões com desenvolvimento contrastante da
cana dentro do mesmo talhão. O algoritmo proposto
permite e aplicação de N em taxas variáveis, embora seu
efeito na produtividade da cana ainda precise ser avaliado.
Palavras-chave: agricultura de precisão, algoritmo de
fertilização, sensor óptico.
INTRODUÇÃO - A correta fertilização da cana-de-
açúcar com nitrogênio (N) é um desafio, já que a
disponibilidade desse elemento no solo não é estimada
eficientemente através de análises de solo de rotina e,
frequentemente, a cultura apresenta resposta inconsistente
à sua aplicação (Lofton et al., 2012; Amaral e Molin,
2014). Com base nisso, pesquisas vêm sendo realizadas
com sensores que mensuram a refletância do dossel da
cana-de-açúcar (Portz et al., 2011; Lofton et al., 2012;
Amaral e Molin, 2014) e têm como objetivo principal
direcionar a aplicação de N em taxas variáveis (Raun et
al., 2002).
Embora existam algoritmos de fertilização que
utilizem como informação básica as leituras com sensores
de dossel para culturas como milho e trigo (Raun et al.,
2005; Kitchen et al., 2010; Solie et al., 2012), ainda não
existe uma proposta validada para a cana-de-açúcar.
Amaral et al. (2015a) propõem um algoritmo para tal
finalidade, assumindo que a cana pode ter sua
produtividade de colmos estimada por meio das leituras
com um sensor de dossel realizadas durante o ciclo de
desenvolvimento da cultura. No entanto, esse algoritmo
ainda carece de resultados que comprovem sua eficácia ao
mensurar a variabilidade de áreas comerciais, sendo este o
objetivo do presente trabalho.
MATERIAL E MÉTODOS – Três talhões comerciais
cultivados com cana-de-açúcar (Tabela 1) na região de
Ribeirão Preto - SP tiveram todas as fileiras de plantas
avaliadas com o sensor óptico CropCircle, modelo ACS-
430 (Holland Scientific Inc., Lincoln, NE, EUA), quando
a cultura apresentava altura média de colmos de 0,5 m,
seguindo recomendação de Amaral e Molin (2014). Esse
sensor emite luz modulada e capta a refletância do dossel
centrada em três comprimentos de onda (670, 730 e 780
nm), sendo que no presente estudo se utilizou apenas duas
(730 e 780 nm) para o cálculo do índice de vegetação da
diferença normalizada pelo red-edge (NDRE, Barnes et
al., 2000).
O sensor de dossel foi embarcado em um veículo
Uniport 3000 NPK (Jacto Máquinas Agrícolas, Pompéia,
SP) e mantido a uma distância média de 1,0 m acima do
dossel, com frequência de coleta de um dado por segundo
e velocidade de deslocamento em torno de 14 km h-1
(Amaral et al., 2012).
Tabela 1 – Características dos talhões de cana estudados.
Área
Tamanho
(ha) Variedade Corte Produtividade
média (t ha-1)
11 16,3 CTC7 Segundo
117
22 14,9 CTC2 Quarto 84
32 6,3 SP80-1816 Oitavo 60
1 safra 2012/2013; 2 safra 2011/2012
A dose de N recomendada para cada dado coletado
pelo sensor foi calculada pela equação 1, conforme o
proposto por Amaral et al. (2015a).
Em que: Napp é a dose de N (kg ha-1) recomendada para
cada dado obtido com o sensor; NDREread é o valor de
NDRE mensurado pelo sensor em cada ponto; NDREaver
é o valor de NDRE médio calculado para toda a área;
- VII SIMPÓSIO TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA DE AÇÚCAR -
Piracicaba-SP, 8 a 10 de Julho de 2015 - Resumo Expandido -
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Yieldabs é a produtividade média estimada para a área
(Tabela 1); Nkt é a quantidade de N a ser aplicada para
cada tonelada de colmos esperada, sendo usado 1,3 kg de
N t-1 (Vitti e Rodella, 2008); Nupt é a porcentagem do N
total absorvido pela cana no momento da avaliação com
sensor, sendo adotado que 30% do N requerido pela
planta já havia sido absorvido (Oliveira, 2011). Estes
valores podem ser ajustados conforme as recomendações
de produtores e consultores.
A dose de N para cada leitura do sensor foi então
interpolada pelo método do inverso da distância ao
quadrado em pixels de 5m x 5m. As estatísticas
descritivas das doses de N recomendadas foram
calculadas a partir desses dados interpolados.
Adicionalmente, obteve-se uma imagem do satélite
RapidEye de 25 de dezembro de 2012, disponibilizada
pelo Ministério do Meio Ambiente, com a finalidade de
compará-la com os dados obtidos com os dados do sensor
de dossel (NDRE) obtidos em 29 de novembro de 2012 na
Área 1. Para tanto, calculou-se o índice de vegetação da
diferença normalizada (NDVI) da imagem, o qual tende a
se relacionar com a produção de biomassa da cana-de-
açúcar (Fortes, 2003; Machado e Lamparelli, 2007;
Farinassi et al., 2014). Ambos os dados foram
normalizados (autoescalados) pela média (valor do pixel
menos o valor médio e multiplicado pelo desvio padrão),
para que os mapas fossem representados na mesma escala
de valores e, assim, fossem comparáveis visualmente.
Nessa mesma área, após a leitura com o sensor de dossel,
algumas faixas dentro da lavoura receberam a aplicação
de 100 kg ha-1 de N, por se tratar de área com outros
experimentos.
Todos os mapas e cálculos foram realizados utilizando
o sistema de informação geográfica QGIS.
RESULTADOS E DISCUSSÃO – O sensor de dossel
foi capaz de identificar a variabilidade no
desenvolvimento da cana-de-açúcar, assim como
observado por Amaral et al. (2015b), já que o mapa
gerado foi condizente com a imagem de satélite (Figura
1). Na mesma figura, observa-se que a aplicação de N
logo após a leitura com o sensor de dossel não influenciou
significativamente o desenvolvimento da cultura,
mensurado pela imagem de satélite obtida quase um mês
após a aplicação. Isso mostra que a cana pode não
responder a fertilização nitrogenada, assim como
afirmado por Lofton et al (2012) e Amaral e Molin
(2014).
Já que o algoritmo proposto por Amaral et al. (2015a)
tem o objetivo básico de realizar a distribuição do N
conforme o maior potencial produtivo da cultura, as doses
médias para cada área (Tabela 2) ficaram similares ao que
seria recomendado em taxa fixa seguindo a mesma
recomendação. No entanto, observa-se que a
produtividade esperada e a dose de N recomendada
variaram de 33 a 45% dentro de cada área (Tabela 2).
Essa variabilidade, em termos de dose recomendada,
representa, indiretamente, que o desenvolvimento da
cultura foi significativamente heterogêneo nos talhões
estudados. Logo, mostra que a adoção de técnicas de
agricultura de precisão pelo setor sucroenergético pode
possibilitar ganhos gerenciais e econômicos.
A magnitude com que o algoritmo varia a dose de N
em uma área é função das características de cada talhão.
Por exemplo, na Área 1, apenas 15,3% da área receberia
dose diferente da dose média ± 5%; por outro lado, a Área
3 receberia dose diferente da dose média ± 5% em 41,8%
da área (Figura 2). Esse comportamento é reflexo da
variabilidade espacial existente no desenvolvimento da
cultura, sendo que na Área 3, regiões com
desenvolvimento contrastantes ocorreram ao longo do
talhão (Figura 2c). Tal comportamento diferenciado
demonstra o potencial da aplicação de N em taxas
variáveis, o qual tende a variar mais a dose quanto maior
a variabilidade existente no talhão. Porém, maiores
respostas à aplicação de N em taxas variáveis são
esperadas nos canaviais que apresentem regiões com
desenvolvimento contrastante ao longo das áreas. Ainda,
quando a variação é aleatória, as próprias máquinas
aplicadoras de fertilizantes apresentam dificuldade em
respeitar a variação de doses em pequenas distâncias.
Contudo, é importante ter em mente que esses
resultados foram mensurados através da interpolação de
pontos em pixels de 5 m. Se fosse analisado diretamente o
conjunto de dados obtido com o sensor, a variabilidade
aumentaria bastante; por outro lado, se fosse aumentado o
tamanho dos pixels, ocorreria uma suavização dos dados
e, consequentemente, a variabilidade seria menos intensa.
Assim, o correto uso dos dados oriundos de sensores de
dossel exige conhecimento técnico por parte do usuário,
ajustando o processamento dos dados conforme as
necessidades e maquinário disponível. Ainda, os
parâmetros utilizados no algoritmo podem ser ajustados,
seguindo a recomendação específica para cada situação.
Embora ocorra variação na dose aplicada, a proposta
apresentada por Amaral et al. (2015a) ainda carece de
mensuração de seu efeito na produtividade da cultura.
Logo, experimentos de validação de campo estão sendo
conduzidos.
CONCLUSÕES – O desenvolvimento da cana-de-açúcar
varia espacialmente e o sensor de dossel pode captar tal
diferença. Logo, é possível estimar a produtividade de
colmos por meio de leituras com esse tipo de
equipamento e, usando-se dessa informação, o algoritmo
proposto anteriormente permite e aplicação de N em taxas
variáveis. Maiores impactos positivos dessa tecnologia
são esperados quando os canaviais apresentam regiões
bem definidas de desenvolvimento contrastante.
AGRADECIMENTOS – À FINEP, projeto
PROSENSAP, pelo apoio financeiro; à FAPESP, pela
concessão de bolsa ao primeiro autor (Projeto FAPESP n°
2009/03372-0 e 2011/08882-7); à Usina São Martinho e à
Jacto Máquinas Agrícolas, pela parceria.
REFERÊNCIAS
AMARAL, L.R. Sensor de refletância do dossel para
direcionar a aplicação de nitrogênio em taxas variáveis na
cultura da cana-de-açúcar. Piracicaba, Escola Superior de
- VII SIMPÓSIO TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA DE AÇÚCAR -
Piracicaba-SP, 8 a 10 de Julho de 2015 - Resumo Expandido -
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Tabela 2 – Estatística descritiva dos dados interpolados e estimados pelo sensor de dossel (produtividade da cana e
recomendação da dose de nitrogênio) para as três áreas estudadas.
Área 1 Área 2 Área 3
Prod. estimada
Dose de N Prod. estimada
Dose de N Prod. estimada Dose de N
(t ha
-
1
)
(kg ha
-
1
)
(t ha
-
1
)
(kg ha
-
1
)
(t ha
-
1
)
(kg ha
-
1
)
Média 116 106 84 76 60 54
Desvio Padrão
4,5 4,6 4,1 3,7 4,1 3,8
Mínimo 75 68 66 60 39 36
Máximo 133 121 97 89 72 65
Amplitude 58 53 32 29 33 30
Diferença (%)1
43 44 33 33 45 45
1 Relação entre amplitude dos dados e valor máximo observado
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Figura 1 – Mapas da Área 1 apresentando os valores normalizados do sensor de dossel (a) e do NDVI calculado a partir
da imagem do satélite RapidEye (b). As faixas delineadas dentro da área (contorno com linhas pretas contínuas)
mostram os locais onde foi aplicado nitrogênio após a leitura com o sensor de dossel.
Figura 2 – Mapas de recomendação de N conforme o algoritmo para as Áreas 1 (a), 2 (b) e 3 (c). Os valores ao lado da
legenda indicam a dose de N, sendo que a classe intermediária representada a dose média recomendada para cada área,
com 5% para mais e para menos; a área representativa de cada classe de dose indicada; e a proporção da área
representada por cada classe de dose.