Content uploaded by Eusímio F. Fraga Jr
Author content
All content in this area was uploaded by Eusímio F. Fraga Jr on Mar 08, 2016
Content may be subject to copyright.
UTILIZAÇÃO DO SILÍCIO NO CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS DO
CAFEEIRO IRRIGADO
FERNANDES, A. L. T.1; MERRIGHI, A. L. N.2; SILVA, G. A.3; FRAGA JÚNIOR, E. F. F.4
1Prof. Dr.Engenharia de Água e Solo., FAZU – Faculdades Associadas de Uberaba e UNIUBE - Universidade de Uberaba;
e-mail: andre.fernandes@uniube.br;
2Engenheiro Agrônomo Marca Agropecuária;
3Engenheiro Agrônomo, SLC Agrícola;
4Mestrando ESALQ – USP.
RESUMO: Usualmente, o manejo fitossanitário do cafeeiro é realizado somente com o uso de defensivos químicos.
Porém, produtos alternativos provindos de silício aparecem como opção sustentável para a realização do controle de
pragas e doenças. O presente experimento foi desenvolvido para avaliar a eficiência do silício (Si) no controle das
principais doenças do cafeeiro (ferrugem e cercosporiose) e da principal praga, o bicho-mineiro, comparado com
tratamentos químicos. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com 5 tratamentos e 6 repetições,
totalizando 30 parcelas, compostos por uma testemunha (T1); a aplicação de 2000 kg ha-1 de Agrosilício (T2); a aplicação
do defensivo Azoxistrobina + Ciproconazol (0,6 L ha-1) e Tiametoxan (1,6 kg ha-1) em 2 e 1 aplicação, respectivamente
(T3); a aplicação de 4 000 kg ha-1 de Agrosilício (T4) e a aplicação de 4 L ha-1 de silício líquido solúvel (Sili-K) (T5). Os
tratamentos T3 e T5 obtiveram os melhores resultados no controle de cercosporiose e da ferrugem. Os tratamentos T2 e T4
obtiveram bons resultados em ferrugem apenas aos 90 DAA. Já em T2, T3 e T5 obtiveram-se bons resultados aos 120
DAA, diferenciando de T4 que não obteve resultados satisfatórios em cercosporiose. Para a infestação de bicho-mineiro, o
T5 obteve resultados satisfatórios.
PALAVRAS CHAVE: Coffea arabic; Leucoptera coffeella; Hemileia vastatrix; Cercospora coffeicola.
SILICON USE IN COFFEE IRRIGATED TO CONTROL PESTS AND DISEASES
ABSTRACT: Usually, the control handling of coffee true is only carried through with the use of chemical defensives,
however alternative products come from silicon appear as sustainable option for the construction of the same. The present
work has been developed to evaluate the efficacy of the silicon (Si) in the control of diseases as rustiness, Cercospora and
plagues the leaf miner (Leucoptera coffeella) in the coffee crop, compared with others forms of control. The experimental
outline was completely occasional, with 5 treatments and 6 repetitions, totalizing 30 experimental parcels, begin composed
by one witness (T1); the application of 2000 kg ha-1 of Agrosilício (T2), the application of Azoxistrobina + Ciproconazol
(0,6 L ha-1) and Tiametoxan (1,6 kg ha-1 in 1 application (T3), the application of 4 000 kg ha-1 of Agrosilício (T4) and the
application of 4 L ha-1 of dissolvable liquid silicon (Sili-K) (T5). The treatments T3 and T5 have obtained the best results
in the control of the cercosporiose and the rustiness. The treatments T2 and T4 have obtained good results in the rustiness
only 90 DAA. The treatments T2, T3 and T5 obtained good results at 120 DAA, different from the treatment T4 which has
not obtained satisfactory results in cercosporiose. For the leaf miner (Leucoptera coffeella) infestation, the treatment T5
obtained satisfactory results on its control.
KEYWORDS: Coffea arabic; Leucoptera coffeella; Hemileia vastatrix; Cercospora coffeicola.
INTRODUÇÃO
O silício é um elemento capaz de aumentar a
resistência natural das plantas, possibilitando assim uma
agricultura mais sustentável, com menor custo e
ecologicamente correta. A crescente demanda nutricional
por variedades cada vez mais produtivas, assim como o
aumento de áreas plantadas em solos de baixa fertilidade
tem exigido uma melhor compreensão da dinâmica dos
nutrientes na cultura do café. No Brasil, há poucos
experimentos relacionados com o efeito que o silício
apresenta no controle das principais doenças do cafeeiro, já
que a cultura é bastante susceptível a um grande número de
pragas e doenças (KORNDÖRFER; PEREIRA;
CAMARGO, 2004).
Segundo Carvalho e Chalfoun (1998), a busca por
novas técnicas para a redução da aplicação de defensivos
químicos leva a adoção de um novo conceito do controle
de doenças e pragas do cafeeiro, esta busca constante por
altas produtividades leva o agricultor a usar intensivamente
defensivos químicos procurando erradicar as doenças,
causando, na maioria das vezes, grandes prejuízos para o
agrossistema.
Já que os mecanismos de defesa dos patógenos pelo
hospedeiro tratado com silício ainda não são muito bem
conhecidos, existem duas propostas para explicar esta
supressão: o aumento do silício na parede celular impede o
Agronomia/Agronomy 45
FAZU em Revista, Uberaba, n. 6, p. 11-52, 2009.
crescimento e a penetração do fungo e de outros
patógenos, nos tecidos da planta; a ativação dos
mecanismos naturais de defesa da planta como, por
exemplo, a produção de compostos fenólicos, quitinases,
peroxidases e acúmulo de lignina, além também da
interação que pode existir entre a barreira física e química
(FIGUEIREDO; RODRIGUES, 2004).
As plantas, de modo geral são capazes de produzir
substâncias tóxicas e outros compostos, que, uma
vezexsudados, atuam como mecanismos de defesa contra
vários agentes. Estes compostos são capazes de promover
alteração no gosto do tecido vegetal, tornando-o menos
palatável aos animais, que por isso, diminuem seu
consumo, ou ainda, esses vegetais produzem efeitos
tóxicos e antinutricionais, para os organismos que os
consomem (KORNDÖRFER; PEREIRA; CAMARGO,
2004).
Nelson e Moser (1994), afirmam que síntese e o
acúmulo de vários destes compostos naturais evoluíram,
conforme as plantas foram se adaptando à grande
diversidade de ambiente, sendo observado que, a proteção
fornecida pelo Si às plantas está relacionada com a
resistência aos efeitos bióticos quanto abióticos (EPSTEIN,
1999).
O silício (Si) é o segundo elemento mais abundante,
em peso, na crosta terrestre, sendo componente majoritário
de minerais do grupo dos silicatos (RAIJ, 1991).
Várias classes de solo da região central do Brasil,
principalmente nas áreas sob vegetação de cerrado, são
pobres em silício solúvel, disponível para as plantas (RAIJ;
CAMARGO, 1973).
Os silicatos tem comportamento no solo similar ao
dos carbonatos de cálcio e magnésio, sendo capazes de
elevar o pH e neutralizar o Al trocável, quando aplicados
como corretivo. Ainda por comportamento semelhante ao
dos carbonatos, ocorrem sítios de troca com fósforo
absorvido nas argilas, deslocando estes nutrientes para a
solução do solo, tornando-os assim mais assimiláveis pelas
plantas (KORNDÖRFER; PEREIRA; CAMARGO, 2004).
Os principais solos sob vegetação de cerrado
apresentam alto grau de intemperismo, com alto potencial
de lixiviação, baixa saturação de bases, baixos teores de Si-
trocável e baixas relações (Ki) Si2 –Al2O3 e (Kr) Sílica –
Sesquióxidos de Fe e Al, apresentando, portanto, baixa
capacidade de fornecimento de Si disponível para as
plantas (BRADY, 1992).
Em relação à disponibilidade do Si no solo, a
textura do solo (teor de argila) tem sido considerada como
um dos principais parâmetros para se prever a necessidade
de Si para as plantas. A definição do extrator é uma peça
fundamental a ser considerada na recomendação de adubos
contendo Si (KORNDÖRFER; PEREIRA; CAMARGO,
2004).
Nas plantas o silício é absorvido na forma de ácido
monosilícico – H4SiO4 (JONES; HANDREK, 1967).
Seu transporte, na mesma forma assimilada, é feito
através do xilema, sendo sua distribuição dependente da
transpiração dos órgãos envolvidos. Nas folhas de arroz,
forma-se uma camada dupla de sílica abaixo das cutículas
nas células epidérmicas. Segundo alguns autores, essa
camada de sílica limita a perda de água pelas folhas e
dificulta a penetração e o desenvolvimento de hifas de
fungos, conforme mostrado na FIG. 1 (MALAVOLTA,
1980).
Portanto, o silício tem como função a proteção
mecânica dos tecidos vegetais onde há grande penetração
de patógenos. Várias doenças causadas por fungos e
bactérias em diversas culturas, bem como algumas pragas
podem ser reduzidas significativamente com a fertilização
silicatada.
FIGURA 1 - a) Corte transversal do limbo foliar de
monocotiledônea B) Desenvolvimento de
hifa de fungo em tecido foliar sem
acúmulo de sílica. C) Camada de sílica
abaixo da cutícula dificultando o
desenvolvimento da hifa de fungos.
Fonte: KORNDÖRFER; PEREIRA; CAMARGO, 2004.
Entretanto, é necessário conhecer a características e
demandas para a cultura, tipo de solo e microclima em que
realiza o manejo fitossanitário. Para isto, o objetivo deste
trabalho foi avaliar a influência da aplicação de silício em
duas formas (sólido e líquido) no controle das principais
doenças e pragas da cultura do cafeeiro, comparado com
outras diferentes formas de controle utilizadas na região.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado no Campus
Experimental da Universidade de Uberaba – Fazenda
Escola, em lavoura de café Catuaí 144, plantado em
dezembro de 1998 no espaçamento de 4,0 x 0,5 m, no
município de Uberaba, MG, cujas coordenadas geográficas
são: latitude 19º44’13 “S, longitude 47º57’27” W e altitude
de 850 m, em um solo classificado como Latossolo
Vermelho Amarelo, distrófico, com teores de areia de
72,64%, argila de 21,96% e silte de 5,4%. A precipitação
anual é de 1474 mm e a temperatura média anual é de
22,6ºC. O sistema de irrigação utilizado no experimento foi
a aspersão em malha, com aspersores instalados em uma
malha hidráulica de 15 x 15 m.
Para a análise da água utilizada no experimento,
foram retiradas amostras da água no reservatório da
fazenda, e feitas análises dos parâmetros físicos,
organolépticos, biológicos, químicos, bacteriológicos e de
metais pesados. Antes do início do experimento, foram
retiradas amostras de solo em cada parcela, que foram
46 Agronomia/Agronomy
FAZU em Revista, Uberaba, n. 6, p. 11-52, 2009.
submetidas à análise. As análises de solo foram repetidas
anualmente. As características físico-hídricas do solo do
experimento estão agrupadas na TAB. 1.
TABELA 1 – Características físico-hídricas do solo do
experimento. Uberaba, 2006.
Características Valor
Areia 72,60%
Silte 5,40%
Argila 21,96%
Ponto de murcha
permanente 0,132 cm3 cm-3
Capacidade de campo 0,213 cm3 cm-3
Água disponível 0,081 cm3 cm-3
Densidade aparente 1,47 kg dm3
Foram estudados os seguintes tratamentos
fitossanitários, que estão dispostos de forma detalhada na
TAB. 2: a) Tratamento 1 – Testemunha; b) Tratamento 2 -
2 Toneladas de Silício em pó ha-1, aplicado via solo; c)
Tratamento 3 - Tratamento Químico convencional, com
inseticidas e fungicidas – (Azoxistrobina + Ciproconazol -
0,6 L ha-1 e Tiametoxan - 1,6 kg ha-1), aplicado via folha;
d) Tratamento 4 - 4 Toneladas de silício em pó ha-1,
aplicado via solo; e) Tratamento 5 - 4 L de silício solúvel
ha-1, aplicado via folha.
TABELA 2 - Tratamentos realizados no experimento, com
início em dezembro de 2006, Fazenda Escola
da Uniube, Uberaba – MG.
Trat. Produtos
comerciais Dose Época de
aplicação
T1 - - -
T2 AgroSilício 2 ton ha-1 Dezembro
T3
Azoxistrobina +
Ciproconazol +
Tiametoxan
3 aplicações de
0,6 L ha-1 +
1 aplicação de
1,6 Kg ha-1
Dezembro e
Fevereiro
T4 AgroSilício 4 Ton ha-1 Dezembro
T5
Silício líquido
solúvel
(Sili-K)
4 L ha-1
(4 aplicações)
Dezembro à
Março
O delineamento experimental foi o inteiramente
casualizado, com 5 tratamentos e 6 repetições, totalizando
30 parcelas experimentais.
Para a análise nutricional das folhas, foi utilizada a
metodologia de Matiello et al. (2006), que recomendam a
retirada de 40 a 60 folhas por talhão, em pelo menos 20
plantas de café. Foram retiradas folhas de cerca de 100
plantas para cada tratamento (100 e 200 m de linhas
laterais). As folhas foram coletadas do terceiro/quarto par
(contando da ponta para a base), em ramos produtivos
situados na altura média do cafeeiro, e dos dois lados da
linha de café. As folhas foram acondicionadas em envelope
de papel (furado), e levadas para o laboratório para análise.
A retirada das amostras foi realizada em duas
épocas: uma antes do início do experimento e outra 6
meses após o início da aplicação dos tratamentos.
Para a avaliação da incidência de pragas e
patógenos, foram realizadas cinco avaliações mensais para
obtenção da incidência das pragas e doenças em todos os
tratamentos. Em cada avaliação, foram coletadas 100
folhas ao acaso em 20 plantas centrais de cada repetição,
no 3º e 4º pares dos ramos no terço superior dos cafeeiros,
determinando-se a porcentagem de folhas com minas
vivas, pústulas de ferrugem e infecção de cercosporiose.
Com o intuito de avaliar o efeito da aplicação do
silício na formação de camada protetora no mesófilo foliar,
foram feitas fotografias microscópicas do corte transversal
do mesófilo, para a avaliação do acúmulo de sílica entre a
cutícula e a epiderme, antes e após a finalização do
experimento, com o intuito de verificar se nos tratamentos
com silício, é formada uma camada protetora externamente
à cutícula das folhas do café. As fotos foram tiradas em
laboratório, com uma ampliação de 10 x 10 a 10 x 100, no
mês de janeiro, sendo repetidas ao final do experimento,
utilizando-se a mesma metodologia.
Para o acompanhamento dos níveis nutricionais no
perfil de solo antes do experimento, foram realizadas
análises de solo antes nas profundidades de 0–20 cm e 20–
40 cm de profundidade. Para a retirada das amostras de
solo, foi utilizada a metodologia proposta pelo Ministério
da Agricultura (MATIELLO et al., 2006), que
recomendam a retirada em 2 profundidades (na mesma
cova), de 0-20 e de 20-40, para possibilitar a orientação
sobre a necessidade de correção diferenciada, importante
na detecção do estado nutricional na região das raízes do
cafeeiro. As amostras, de acordo com esta recomendação,
foram retiradas na projeção da saia dos cafeeiros, em
ambos os lados da linha, na faixa onde são feitas as
adubações.
A colheita foi realizada em junho de 2007, para todos os 5
tratamentos, colhendo-se 6 plantas em 4 repetições,
totalizando 24 plantas por amostra. Foi colhido
separadamente o café do pé do café do chão, obtendo-se a
média de produtividade, maturação, infecção de
cercosporiose nos frutos e peso das amostras. Os resultados
foram submetidos à análise estatística, com aplicação do
teste T de variância e comparação das médias a partir teste
de Tukey, a 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nota-se na TAB. 3, nas análises do solo antes da
realização do experimento, o baixo teor de Ca e Mg no
solo. Após o final do experimento, foi realizada outra
amostragem de solo, onde se pode notar o aumento do teor
de Ca e Mg, nos tratamentos que receberam o silicato de
cálcio e magnésio (TAB. 4).
Agronomia/Agronomy 47
FAZU em Revista, Uberaba, n. 6, p. 11-52, 2009.
TABELA 3 - Características químicas do solo retirada na profundidade de 0 a 20 e de 20 a 40 cm, antes do começo do
experimento (Dezembro de 2006).
pH N P K Al Ca Mg H+Al S.B. T V M.O.
Prof./cm
H2O -----g dm -3 ---- ---------------------- mmolc dm -3 -------------------------- % g dm -3
0 a 20 4,2 0,9 25 1,2 15 8 2 34 11 45 24 18
20 a 40 4,1 0,6 12 0,8 16 7 1 34 9 43 21 11
TABELA 4 – Características químicas do solo retirada na profundidade de 0 à 20 cm e 20 a 40 cm, no final do
experimento (Jun/2007).
pH N P K Al Ca Mg H+Al
S.B. T V M.O.
Prof./cm H2O ----g dm -3---- --------------------- mmolc dm -3 -------------------------- % g dm -3
T1 0-20 4,3 0,8 18 1,8 18 11 3 34 16 50 32 16
T2 0-20 4,7 0,8 18 2,9 9 15 5 28 23 51 45 16
T3 0-20 4,4 0,9 12 1,2 14 14 3 31 18 49 37 19
T4 0-20 4,2 0,7 18 4 18 12 2 37 18 55 33 14
T5 0-20 5,1 0,7 20 2,1 0 13 7 21 22 43 51 14
T1 20-40 4,2 0,7 14 1,6 20 10 4 36 16 52 31 14
T2 20-40 4,6 0,7 13 2,9 8 15 6 24 24 54 44 14
T3 20-40 4,3 0,8 12 1 15 14 2 35 17 52 33 16
T4 20-40 4,1 0,7 5 2,4 21 10 2 37 14 51 27 13
T5 20-40 4,9 0,8 5 2,1 0 15 5 25 22 47 47 16
Os teores de nutrientes foliares obtidos antes e após
a realização dos tratamentos estão dispostos na TABELA
5, onde se observou redução no teor de silício nas folhas na
testemunha (T1), 6 meses após o início da aplicação dos
tratamentos. No tratamento (T2), que se caracteriza pela
aplicação de Agrosilício em pó via solo (2 ton ha-1), houve
um aumento de 45% no teor de silício. Já no tratamento
(T3), que se caracteriza pela aplicação do programa Café
Forte (Azoxistrobina + Ciproconazol + Tiametoxan),
houve um aumento de 16% no teor de silício. Observando
o tratamento (T4), que se caracteriza pela aplicação de
Agrosilício em pó via solo (4 ton ha-1), houve um aumento
de 27% no teor de silício. E, finalmente, no tratamento
(T5), que se caracteriza pela aplicação de silício líquido
solúvel, houve um aumento de 23% no teor de silício nas
folhas. Nos tratamentos baseados na aplicação de silício
via solo (agrosilício), foram encontrados valores de 0,6 mg
kg-1, e no tratamento via folha (silício solúvel), o valor de
0,7 mg kg-1.
Ferreira et al. (2007) obtiveram a determinação de
silício em tecido vegetal através do método AID
tradicional e modificado, que foi realizado na Universidade
Federal de Uberlândia, e chegaram a conclusão de que, os
teores de silício em uma folha de café em média é de 0,3
mg kg -1 em condições normais de campo.
TABELA 5 – Teores de macro e micronutrientes + silício na folha, antes e no final do início do experimento Fazenda
Escola da Uniube, Uberaba-MG.
N P K Ca Mg S Fe Mn Cu Zn B Si
Tratamentos -------------------------------------------------mg kg-1--------------------------------------------------
Antes do experimento
T1 22,2 1,7 10,8 12,4 3,6 2,2 75,0 48,0 11,0 13,5 52,5 0,4
T2 22,2 1,5 11,2 12,4 3,6 2,2 72,0 53,0 13,0 15,5 57,0 0,3
T3 20,8 1,5 10,3 14,0 4,3 2,3 111,0 56,5 12,5 13,5 51,5 0,3
T4 23,5 1,3 9,2 13,6 3,4 1,6 305,0 61,5 9,5 12,5 52,0 0,2
T5 22,1 1,5 9,2 13,2 3,4 1,4 72,0 57,5 14,5 17,0 56,5 0,2
No final do experimento
T1 17,4 1,7 14,1 20,8 4,2 1,4 72,0 66,0 13,5 16,0 53,5 0,3
T2 20,2 1,7 14,3 19,6 4,2 1,9 100,0 57,5 14,5 19,0 58,0 0,6
T3 17,8 1,3 13,4 17,2 3,7 1,6 61,0 61,5 11,5 12,0 51,5 0,2
T4 20,5 1,7 12,0 17,6 4,6 2,2 86,0 57,5 12,0 14,0 54,0 0,6
T5 17,5 1,7 13,3 19,2 3,5 2,3 100,0 66,0 16,5 18,5 57,0 0,7
48 Agronomia/Agronomy
FAZU em Revista, Uberaba, n. 6, p. 11-52, 2009.
Na FIG. 2, observa-se claramente a ausência de
uma camada sílica nos tratamentos TAB. 1 e TAB. 3, já
nos tratamentos TAB. 2, TAB. 4 e TAB. 5, foi observada
em microscopia, uma camada de silício entre a cutícula e a
epiderme, com uma cor escura destacando-se na superfície
adaxial da folha de cafeeiro.
FIGURA 2 - Corte do mesófilo em 10 X 100 e 10 X 10, nos tratamentos T1, T3, T4, T5 e T2, sendo (a), (b), (c), (d) e
(e) respectivamente.
Na TAB. 6 constam os valores de infecção de
ferrugem de 30 dias após a aplicação (DAA) (Dezembro de
2007) até 150 DAA (Junho de 2007).
Verifica-se que a testemunha T1 atingiu níveis de
infecção superiores a 60%, aos 120 e 150 DAA. Mesmo
com esta alta infecção, os tratamentos silício líquido
solúvel (T5) e Azoxistrobina + Ciproconazol +
Tiametoxan (T3) promoveram controle satisfatório aos 120
DAA. No tratamento T5, esta eficiência no controle da
doença pode ser atribuída ao teor de silício na folha (0,7
mg kg-1) Já aos 150 DAA, apenas no tratamento
Azoxistrobina + Ciproconazol + Tiametoxan houve o
controle satisfatório da doença. Os tratamentos baseados
na aplicação do silício sólido T2 e T4 não promoveram
controle satisfatório no início (30 DAA), melhorando a
performance aos 90 DAA, embora os níveis foliares do
elemento estarem em 0,7 mg kg-1. Isso pode ser explicado
pela translocação mais lenta do silício na planta, quando o
elemento é aplicado via solo. O controle não se estendeu
nos tratamentos via solo aos 120 e 150 dias após a
aplicação provavelmente devido ao fato das doenças e
pragas já se encontrarem em níveis altos, dificultando o
controle com este produto (silício).
Figueiredo et al. (2006) obtiveram como já
mencionado neste trabalho, uma redução de forma
quadrática de ferrugem, até o mínimo estimado de 12%,
usando uma dose de 10,63 L ha-1 de silício liquido solúvel
em 3 aplicações.
Ausência de Silício
Presença de Silício
(a) (b)
(c) (d)
Presença de Silício
Agronomia/Agronomy 49
FAZU em Revista, Uberaba, n. 6, p. 11-52, 2009.
TABELA 6 - Infecção de ferrugem nos diferentes tratamentos, Uberaba – MG, Dez. a Jun. de 2007.
% de folhas com pústulas de ferrugem
Tratamentos 30 DAA 60 DAA 90 DAA 120 DAA 150 DAA
Testemunha (T1) 19,8c 17,0b 21,5c 66,3c 63,5c
Silício sólido 2000 kg ha-1 (T2) 26,5c 16,1ab 12,1b 34,8b 29,5b
Azoxistrobina + Ciproconazol +
Tiametoxan (T3) 6,1ab 5,3a 2,3a 10,0a 7,8a
Silício sólido 4000 kg ha-1 (T4) 18,5bc 13,5ab 6,33ab 48,1bc 31,6bc
Silício líquido 4 l ha-1 (T5) 2,3ab 6,8ab 6,5ab 9,0a 25,1a
CV% 22,84 27,61 25,43 37,7 24,1
DMS 12,4 10,9 7,8 21,5 12,9
*Médias seguidas de mesma letra não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Na TAB. 7 constam os valores de infecção de
cercóspora, de 30 dias após a aplicação (dezembro/2007)
até 150 DAA (junho/2007), onde se verificou que os
tratamentos T2, T3, T4 e T5 não diferenciaram dos 30 até
90 DAA. Os tratamentos T2, T4 e T5 foram os que tiveram
aplicações de silício, na folha ou no solo, repercutindo nos
níveis de silício na folha (0,6 e 0,7 mg kg-1). Aos 120
DAA, somente a testemunha T1 e o tratamento T4 não
tiveram um controle satisfatório diferenciando dos demais
tratamentos, mesmo com a redução da infecção. Já aos 150
DAA, não houve diferença entre os tratamentos.
TABELA 7 - Infecção de cercosporiose nos diferentes tratamentos, Uberaba-MG, Dez. à Jun. de 2007.
% de folhas infecção por cercosporiose
Tratamentos 30 DAA 60 DAA 90 DAA 120 DAA 150 DAA
Testemunha (T1) 9,1b 24,3b 2,5a 3,5bc 26,4a
Silício sólido 2000 kg ha-1 (T2) 5,0a 16,6ab 2,6a 2,1abc 20,8a
Azoxistrobina + Ciproconazol +
Tiametoxan (T3) 6,3ab 13,1ab 1,3a 1,3ab 16,8a
Silício sólido 4000 kg ha-1 (T4) 7ab 13,6ab 1,1a 4,0c 21,1a
Silício líquido 4 l ha-1 (T5) 2,8a 10,3a 1,1a 1,1a 16,8a
CV% 23,6 25,45 32,8 29,04 38
DMS 4,4 13,1 2,7 2,3 13,1
*Médias seguidas de mesma letra não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Ferreira et al. (2007), conduziram um experimento
na Fazenda Experimental da Universidade Federal de
Uberlândia, em um Latossolo Vermelho Distrófico Típico
textura argilosa, em um delineamento blocos casualizados
com 6 repetições. Utilizou-se como fonte de silício o
silicato de cálcio em cinco doses (0, 500, 1000, 2000 e
4000 kg ha-1). Não se observou uma redução significativa
na incidência de cercosporiose no cafeeiro. Por ser uma
planta que não acumula silício, a falta de resposta das
plantas ao ataque desta doença pode estar associada à baixa
concentração de Si no tecido foliar.
Conforme a TAB. 8, até os 60 dias após a aplicação,
não houve diferença significativa entre os tratamentos. Já
aos 90 DAA os tratamentos (T3) e (T4), diferenciaram-se
dos outros. Aos 120 DAA apenas o tratamento T5
apresentou controle satisfatório da praga. Aos 150 DAA
não houve novamente diferença significativa entre os
tratamentos, provavelmente devido à redução na infestação
da praga na lavoura.
50 Agronomia/Agronomy
FAZU em Revista, Uberaba, n. 6, p. 11-52, 2009.
TABELA 8 - Infecção da praga bicho-mineiro nos diferentes tratamentos, Uberaba-MG, Dez. à Jun. de 2007.
% infestação de larva viva do bicho-mineiro nas folhas
Tratamentos 30 DAA 60 DAA 90 DAA 120 DAA 150 DAA
Testemunha (T1) 0,6a 0,6a 15,3c 34,8b 3,8a
Silício sólido 2000 kg ha-1 (T2) 0,5a 1,0a 12,1bc 28,0b 3,3a
PrioriXtra + Actara (T3) 0,5a 0,5a 6,0a 26,3b 0,6a
Silício sólido 4000 kg ha-1 (T4) 1,0a 0,6a 9,0ab 34,1b 1,5a
Silício líquido 4 l ha-1 (T5) 0,3a 0,3a 10,0abc 7,1a 3,5a
CV% 28,0 25,1 32,2 30,4 36,9
DMS (Tukey) 1,4 1,4 5,7 13,4 3,2
*Médias seguidas de mesma letra não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Na TAB. 9, verificou-se a maior produtividade no
tratamento T2, com 86 sacas beneficiadas ha-1,
estatisticamente superior à testemunha (T1), com 39 sacas
ha-1. Em seguida, destacaram-se os outros tratamentos,
embora sem diferenças estatísticas com relação à
testemunha (T1). Esta superioridade em produtividade dos
tratamentos que utilizaram alguma forma de controle
químico, embora sendo avaliada apenas uma safra, pode
ter sido decorrência dos maiores danos causados pelas
pragas e doenças na testemunha, além da bienalidade do
cafeeiro.
Silva et al. (2008), ao avaliar a produtividade do
café após uma aplicação de silício liquido, observou uma
produtividade superior a testemunha, devido à
partenocarpia dos grãos (maior volume de grãos em
relação aos outros tratamentos); o tratamento com silício
apresentou peso inferior a todos os outros tratamentos,
exceto a testemunha, tendo assim o silício agido como
regulador hormonal do cafeeiro.
TABELA 9 - Produtividade (sacas beneficiadas ha-1) para os diferentes tratamentos, Uberaba-MG. Safra 2006/2007
Produtividade
Tratamentos Sacas beneficiadas ha-1
Testemunha (T1) 39a
Silício sólido 2000 kg ha-1 (T2) 86b
PrioriXtra + Actara (T3) 67ab
Silício sólido 4000 kg ha-1 (T4) 71ab
Silício líquido 4 l ha-1 (T5) 64ab
CV% 24,69
DMS 34,85
*Médias seguidas de mesma letra não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade
CONCLUSÃO
A utilização de silício no controle fitossanitário é
uma alternativa eficiente no controle de pragas e doenças,
devendo ser utilizada com prática auxiliar.
A fonte líquida foi tão eficiente quanto a aplicação
de produtos fitossanitários.
A fonte sólida, pela menor velocidade de
translocação do elemento silício na planta, não teve
resultados satisfatórios no presente experimento,
provavelmente devido ao período curto de observações.
REFERÊNCIAS
BRADY, N. C. The nature and properties of soil, 10 ed.
New York; Macmilhan, p.179-200, 1992.
CARVALHO, V. L. DE; CHALFOUN, S. M. Manejo
integrado das principais doenças do cafeeiro. Informe
Agropecuário, Belo Horizonte, v.19, n.193, p.27-35,
1998.
EPSTEIN, E. Silicom. Annual Reviw of plant physiology
and plant molecular biology, v.50, p.641-664, 1999.
FERREIRA, D. A. A. et al. Eficiência do silício no
controle de cercosporiose e atributos químicos do solo
da lavoura cafeeira. Uberaba. Agronelli, v.1.1CD-Rom,
2007.
FIGUEIREDO, F. C.; RODRIGUES, C. R. Silício líquido
solúvel. Revista Campo e Negócio, Uberlândia, n.44,
2004.
FIGUEIREDO, F. C. et al. Influência da adubação foliar
com silício líquido solúvel na redução de doenças foliares
e aumento do crescimento foliar do cafeeiro. 32º
CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS
Agronomia/Agronomy 51
FAZU em Revista, Uberaba, n. 6, p. 11-52, 2009.
CAFEEIRAS. 32º, Poços de Caldas. Anais… p.290-291,
2006.
JONES, L. H. P.; HANDRECK, K. A. Silica in soils,
plants and animals. Adreanus in Agronomy, San Diego,
v.19, p.107-149, 1967.
KORNDÖRFER, G. H.; PEREIRA, H. S.; CAMARGO,
M. S. DE. Silicatos de cálcio e magnésio na agricultura.
Boletim técnico, 2 ed. Uberlândia, n.1, p.23, 2004.
MALAVOLTA, E. Elementos de nutrição mineral de
plantas, Piracicaba, Ceres, v.1, 1980.
MATIELLO, J. B. et al. Ferrugem do cafeeiro no Brasil
e seu controle, v.1, 2006.
NELSON, C. J.; MOSER, L. E. Plants factory for quality.
Forge quality, evoluation and utilization. Madison: ASA,
CSA, SSSA, cap.3, p.115-154, 1994.
RAIJ, B. Fertilidade do solo e adubação. Piracicaba, ed.
Ceres, p.343, 1991.
RAIJ, B; CAMARGO, M. S. DE. Sílica solúvel em solos.
Bragantia, Campinas, v.32, p.223-236, 1973. SILVA, G.
A. et al. Resultado do uso de diferentes produtos
alternativos na produtividade do cafeeiro irrigado. 2008,
Caxambu MG. Anais... Lavras. p.386-387.
FAZU em Revista, Uberaba, n. 6, p. 11-52, 2009.
52 Agronomia/Agronomy