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Risco de inundações: uma metodologia para a cartografia
Autor(es): Sá, Luis; Vicêncio, Henrique
Publicado por: Associação Portuguesa de Riscos, Prevenção e Segurança
URL
persistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/36076
DOI: DOI:http://dx.doi.org/10.14195/1647-7723_18_20
Accessed : 23-May-2020 21:55:56
digitalis.uc.pt
impactum.uc.pt
territorium
Revista da Associação Portuguesa de Riscos, Prevenção e Segurança
2011
18
RISCOS A.P.R.P.S.
territorium 18
NOTA DE ABERTURA
Fernando Rebelo ....................................................................................................................................... 3
ARTIGOS
Ricardo Alvarez
Proposing an empirical approach to risk management focusing on damage-reduction. . ....................................... 5
António Betâmio de Almeida
Risco e gestão do risco. Questões losócas subjacentes ao modelo técnico conceptual. ...................................23
Teresa Viseu, António Betâmio de Almeida
Gestão do risco nos vales a Jusante de barragens . .........................................................................................33
Filipa Carvalho, Rui Bettencourt Melo
Avaliação de riscos: comparação entre vários métodos de avaliação de risco de natureza semi-quantitativa. .......43
Abel Pinto, Isabel L. Nunes, Rita A. Ribeiro
Método de avaliação de riscos para a segurança ocupacional na indústria da construção. ...................................55
Maria Teresa Reis, João Alfredo Santos
Vericação da segurança de estruturas marítimas utilizando métodos probabilísticos de níveis II e III. ...............73
Diogo Ruben Neves, Conceição Juana Fortes, João Alfredo Santos, Maria Teresa Reis, Sara Rodrigues
Avaliação do risco para a navegação utilizando o sistema Guiomar. O caso do Porto de Sines. ............................89
Rui Figueira, João Paulo C. Rodrigues, António Leça Coelho
Avaliação do risco de incêndio em centros urbanos antigos parte I - Aplicação do método de arica ao Centro Histórico
do Funchal . ..................................................................................................................................................99
Érico Soriano, Norma F. L. S. Valencio
Cultura de risco e segurança coletiva no Brasil: A vulnerabilidade socioespacial a jusante de Itaipu Binacional. ..109
Susana Gaspar, José Massano, Paulo Fernandez
Tecnologias “Websig” no planeamento municipal da defesa da oresta contra incêndios. Caso de estudo: Concelho
de Gouveia. ................................................................................................................................................119
Teresa Santos, José Carlos Góis
Análise de riscos no transporte rodoviário de combustíveis líquidos e gasosos em Portugal: relação entre a sinistralidade
e o tráfego. .................................................................................................................................................125
Rui M. Cruz, João Santos Batista, Miguel Tato Diogo
Gestão de emergência em escolas. ...............................................................................................................133
Norma Valencio, Arthur Valencio
Os desastres como indícios da vulnerabilidade do sistema nacional de defesa civil: O caso brasileiro. ................147
Carmen Diego Gonçalves
O fenómeno sísmico. Génese e previsibilidade. ..............................................................................................157
Carla Juscélia de Oliveira Souza, Janete Regina de Oliveira
Representação de áreas de riscos sócio-ambientais: Geomorfologia e ensino. ..................................................175
Marta Foeppel Ribeiro, Marcos Aurélio Vasconcelos de Freitas, Vivian Castilho da Costa
Environmental management of the buffer zones of conservation units in urban areas. ......................................185
Miguel Cerqueira dos Santos
Urbanização e riscos ambientais, na cidade de Salvador - Bahia. .....................................................................193
Leo Name, Rita de Cássia Martins Montezuma, Elisa Sesana Gomes
Legislação urbanística e produção de riscos: o caso de Peu das Vargens (Rio de Janeiro, Brasil). ......................201
Archimedes Perez-Filho, Salvador Carpi Junior, Cristiano Capellani Quaresma
Gestão Pública e riscos ambientais relacionados a processos erosivos: caso de São Pedro, São Paulo, Brasil. ....219
Luis Sá, Henrique Vicêncio
Risco de inundações - uma metodologia para a sua cartograa. ....................................................................227
Glória Gonçalves
Percepção dos danos após inundação nos concelhos de Arcos de Valdevez e Ponte da Barca entre 1900 e 2007. 231
Victor Quintanilla
Alteracion en la vegetacion endemica por fuegos, en el macizo montañoso mas extenso de la cordillera costera en
la zona mediterranea de Chile. ....................................................................................................................239
Miguel Castllo S., Guillermo Jullio A., Víctor Quintanilla P.
Vulnerabilidad y daño potencial por incendios en áreas de interfaz urbano-forestal, Provincia de Valparaíso. Chile
Central. .....................................................................................................................................................247
Mário Talaia
Areia uidizada como olhos de água - um potencial risco. .............................................................................255
Emanuel Ferreira, João Paulo C. Rodrigues, Leça Coelho
Risco de incêndio numa fossa de resíduos sólidos. ........................................................................................263
Jorge Pinto, Humberto Varum, António Duarte, Luís Afonso, João Varajão, Isabel Bentes
Risco de cenários de dano vulneráveis de redes de abastecimento de água. ...................................................271
NOTAS, NOTÍCIAS E RECENSÕES:
Luís Miguel Guerra Neri, Maria João Cancela de Amorim Seiça Neves, Luís Correia Antunes, Cláudia
Isabel da Silva Paixão
Plataforma integrada de gestão e accionamento de cenários. .........................................................................279
Nuno Camacho Mondril
Avaliação e controlo de riscos químicos graves e a protecção civil, no transporte e na directiva “Seveso II”. .......285
António Bento Gonçalves, António Vieira, Luciano Lourenço, Flora Ferreira-Leite
International meeting of re effects on soil properties - 3rd edition (FESP III)...................................................295
Margarida Queirós
O socorro em Portugal. Organização, formação e cultura de segurança nos corpos de bombeiros, no quadro da
protecção civil. ............................................................................................................................................297
Fernando Rebelo
Tesis doctoral de Enrique Morán Tejeda sobre recursos hídricos en la cuenca del duero. ..................................301
Armar as Ciências Cindínicas
227
territorium 18, 2011, 227-230
journal homepage: http://www.nicif.pt/riscos/Territorium/numeros_publicados
RISCO DE INUNDAÇÕES - UMA METODOLOGIA PARA A SUA CARTOGRAFIA*
Luis Sá
Autoridade Nacional de Protecção Civil
luis.sa@prociv.pt
Henrique Vicêncio
Autoridade Nacional de Protecção Civil
henrique.vicencio@prociv.pt
RESUMO
O risco de inundações é um dos mais importantes em Portugal, sendo provavelmente no século XX responsável por
impactes económicos e sociais muito signifi cativos. Uma carta que caracterize áreas vulneráveis a inundações será
um instrumento que permitirá antecipar as reacções do território face a essas situações. A metodologia proposta
procura enquadrar diversas dinâmicas naturais com tradução territorial e que hoje podem ser integradas em múltiplos
conjuntos de dados espaciais nos Sistemas de Informação Geográfi ca (SIG).
Palavras-Chave: Risco, Inundações, Cartografi a.
RESUMEN
Riesgo de Inundación - Una metodología para el mapeo - El riesgo de inundación es un de los más importantes en
Portugal, y en el siglo XX fue probablemente la causa de impactos económicos y sociales muy importantes. Un mapa que
incluye las zonas vulnerables a las inundaciones será un instrumento para anticipar las reacciones del territorio frente
a esas situaciones. La metodología propuesta pretende encajar varias dinámicas naturales con la traducción territorial
y que ahora puede ser integrado en múltiples conjuntos de datos espaciales en SIG.
Palabras clave: Riesgo, Inundaciones, Cartografi a.
RÉSUMÉ
Risque d´ inondation - Une méthode de cartographie - Le risque d’inondation est l’un des plus importants au Portugal,
qui est probablement responsable dans le XXe siècle pour impacts économiques et sociaux très importants. Une carte
qui présente les zones vulnérables aux inondations sera un instrument d’anticiper les réactions du territoire face à de
telles situations. La méthode vise à proposer plusieurs ajustement dynamique naturelle avec la traduction territoriale
et qui peut maintenant être intégré dans de multiples ensembles de données spatiales dans les SIG.
Mots – Clé: Risques, Inondations, Cartographie.
ABSTRACT
Flooding Risk- A methodology for mapping - The risk of fl ooding is one of the most important in Portugal and in the
twentieth century was probably responsible for very signifi cant economic and social impacts. A map that features
the areas vulnerable to fl ooding will be an instrument to anticipate the reactions of the territory dealing with such
situations. The propose methodology seeks to fi t several natural dynamics with territorial translation and that now can
be integrated into multiple sets of spatial data in GIS.
Keywords: Risk, Flooding, Cartography.
* O texto deste artigo corresponde à comunicação apresentada ao II Congresso Internacional de Riscos e VI Encontro Na-
cional, tendo sido submetido para revisão em 31-05-2010, tendo sido aceite para publicação em 19-08-2010.
Este artigo é parte integrante da Revista Territorium, n.º 18, 2011, ® RISCOS, ISBN: 0872- 8941.
RISCOS - Associação Portuguesa de Riscos, Prevenção e Segurança
228
Introdução
Valores elevados de acumulados de precipitação, em
pequenos períodos, são fenómenos pouco frequentes
e que podem resultar de precipitações moderadas e
prolongadas ou de precipitações muito fortes de curta
duração. As precipitações moderadas e prolongadas são
consequência do atravessamento sucessivo de sistemas
frontais associados a núcleos de baixa pressão que, no
caso de Portugal, têm a sua formação e desenvolvimento
no Oceano Atlântico. Estes originam longos períodos de
chuva que podem durar vários dias, contribuindo para
a saturação dos solos e para o aumento das cargas de
escoamento para os cursos de água.
As chuvas fortes de curta duração caracterizam-se pela
concentração de elevados níveis de precipitação em
períodos reduzidos de tempo. São geradas por fenómenos
meteorológicos de origem convectiva, caracterizados por
chuvas violentas, por vezes associadas a trovoadas e queda
de granizo. Estas precipitações podem durar algumas
horas ou apenas alguns minutos. De um modo geral, as
suas consequências, para além de dependerem da sua
magnitude, dependem fortemente das características
da bacia ou sub-bacia hidrográfi ca, capacidade local de
drenagem e escoamento das águas pluviais.
Nos últimos vinte anos, os estudos de hidrologia urbana
têm dedicado especial atenção ao impacto da urbanização
no escoamento potencial dos pequenos lençóis de água. As
alterações hidrológicas provocadas pelo tecido urbanizado
apresentam relações de 90 a 100% de escoamento
superfi cial para 0 a 10% de infi ltração, com elevados picos
de escoamento em curtos períodos de tempo. A mesma
relação para condições naturais de uso de solo é de 80 a
100% de infi ltração e de 0 a 20% de escoamento no sistema
de drenagem natural (OLIVEIRA, 2005). Os principais efeitos
verifi cados são: o aumento dos volumes de escoamento
superfi cial devido à impermeabilização que reduz o
nível de infi ltração do solo; e, as mudanças de efi ciência
hidráulica associadas à artifi cialização de canais,
entulhamento de linhas de água, provocando alterações
nas características do escoamento.
As consequências mais signifi cativas que podem resultar
da ocorrência de precipitações e que deverão ser
consideradas no planeamento de emergência são:
1. Formação de cheias progressivas por aumento dos
caudais dos cursos de água de grandes bacias
provocando extravase do leito normal com
inundações de margens e áreas circunvizinhas,
desenvolvendo-se durante períodos de dias;
2. Inundações súbitas, em pequenas bacias com
reduzido tempo de concentração (também chamadas
cheias rápidas), ou pela confl uência e acumulação
do escoamento das águas pluviais em zonas de baixa
capacidade de drenagem.
Sendo um dos objectivos principal da Protecção Civil
a prevenção dos riscos colectivos e a ocorrência de
acidente grave ou de catástrofe deles resultante, a
cartografi a de risco é uma ferramenta essencial para a
prossecução desse propósito. Nesse sentido, uma carta
de risco de componente hidrológica deverá identifi car
e localizar convenientemente as vulnerabilidades
de índole hídrica que afectam o território. Feita a
identifi cação e a caracterização dos riscos e localizadas
as áreas expostas a eventos extremos, sobretudo onde
podem manifestar-se com gravidade elevada, é possível
defi nir as melhores estratégias de resposta a catástrofes
ou acidentes graves, testar a efi cácia dos meios e
recursos existentes, perceber os constrangimentos
físicos e funcionais à mobilidade e encontrar alternativas
de gestão integrada, incluindo a aplicação do princípio
da precaução e o apoio à decisão.
No presente trabalho, será analisada uma metodologia de
análise de vulnerabilidades do território aos fenómenos de
inundações visto presentemente estar a ser elaborada, sob
coordenação do INAG, a transposição da Directiva Cheias
(2007/60/CE, de 23 de Outubro de 2007) para direito
nacional que procurará traçar uma metodologia e a execução
de cartografi a de risco para situações de cheias progressivas.
Metodologia
Procurou-se utilizar uma metodologia acessível,
recorrendo a um algoritmo de fácil percepção que permite
o cálculo de um índice de vulnerabilidade (V) para cada
área em estudo. No presente estudo foi decidido que a
escala de trabalho seria a concelhia, tendo sido usados os
seguintes sub-índices para o cálculo de (V):
– α - Média anual das ocorrências de protecção civil, por
concelho, registadas no sistema informático da ANPC
e referenciadas como “inundações”;
– β - Percentagem em relação à área total do concelho
que pertence à classe Corine urbana ou periurbana;
– γ - Número de quilómetros lineares de linhas de água
por km2 reportado ao concelho;
– δ - Precipitação máxima horária associada a um período
de retorno de 100 anos reportada ao concelho;
– ε – Densidade populacional reportada ao concelho.
O sub-índice α foi obtido por pesquisa à base de dados
da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) e
suportada pela aplicação PCGO – Protecção Civil Gestão de
Ocorrências, que é alimentada pelas ocorrências inscritas
pelos Corpos de Bombeiros do continente; foram procuradas
as ocorrências que possuíssem a referência 3500 ou 3600 ou
9100, de acordo com o expresso pela Norma Operacional nº
3101/2009. O sub-índice α é então dado pela média anual
das ocorrências acima referenciadas (obtida no intervalo
2006 a 2009) por concelho.
O cálculo do sub-índice β foi feito a partir dos dados
disponibilizados pelo Instituto Geográfi co Português (IGP)
que recentemente publicou os trabalhos resultantes da
actualização do Programa Corine Land Cover referentes
a 2006. Os produtos cartográfi cos Corine constituem a
informação mais recente e comparável sobre ocupação
e uso do solo no território de Portugal Continental,
territorium 18
229
fornecendo um retrato da paisagem e caracterizando o tipo
de alterações decorridas entre actualizações. A partir do
levantamento Corine podem ser escolhidas as áreas com
classifi cação urbana e periurbana (Classes 111 e 112) sendo
esse valor ser normalizado com a área total do concelho.
O cálculo do sub-índice γ foi obtido a partir de
informação fornecida pelo Instituto da Água, através do
seu Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos
com a implantação em SIG das linhas de água (Classe I a
V) existentes no continente. Essa informação foi cruzada
com aquela existente na ANPC, sobre áreas concelhias,
com o intuito de se calcular a densidade de linhas de
água por km2, variável que fornece uma indicação da
quantidade de linhas de água existentes na área em
estudo. O raciocínio a aplicar será que, em princípio, se
uma área possui mais linhas de água poderá então ser mais
vulnerável a fenómenos de cheias rápidas ou inundações.
O cálculo do sub-índice δ foi o que se mostrou menos
acessível, tendo requerido uma pesquisa a publicações de
duas fontes (INAG e Universidade de Valência). De facto
para encontrar a precipitação máxima horária associada
a um período de retorno de 100 para cada área em
análise é necessário determinar uma escala matemática
que englobe todas as possíveis intensidades do fenómeno
em causa; no caso da precipitação, segundo MONCHO et al.
(2008) a curva IDF geral para a península ibérica é:
em que P é a precipitação, P∞ a precipitação associada a
um retorno, r o período de retorno e t o tempo
Adaptando esta metodologia, analisando o registo das
séries de precipitação e consultando o trabalho de
Brandão et al. (2001) concluímos que em Portugal a
precipitação horária associada a um período de retorno
de 100 anos varia desde os 62.3 mm/h no Algarve até os
32.5 mm/h em Trás-os-Montes.
QUADRO I - Precipitações associadas a um período de retorno de
100 anos.
Distrito Precipitação associada (mm/h)
Viana do Castelo 54.9
Braga 54.9
Vila real 32.5
Porto 41.8
Bragança 37.7
Guarda 50.5
Viseu 45.1
Aveiro 34.8
Coimbra 46.0
Castelo branco 43.4
Leiria 45.3
Santarém 43.4
Portalegre 42.9
Lisboa 46.5
Évora 44.2
Setúbal 38.4
Beja 58.1
Faro 62.3
Tendo os valores distritais, apurados por média
aritmética dos registos das estações udométricas locais,
foi assumido que para cada concelho pertencendo a
um dado distrito, esse mesmo concelho possuirá uma
precipitação com um período de retorno de 100 anos
semelhante ao valor do distrito que integra; no entanto
é de notar que esta assumpção/simplifi cação poderá
conduzir a algumas incorrecções quando pensamos em
casos excepcionais ou de fronteira.
O cálculo do sub-índice ε foi obtido a partir de
informação fornecida pelos censos populacionais
do INE (2001) conjugada com a área do respectivo
concelho, tendo sido os dados obtidos agrupados em
5 classes.
A partir do cálculo dos valores fi nais dos sub-índices (α,
β, γ, δ e ε) os mesmos podem ser então agrupados em
5 classes, majoradas de 1 a 5 de forma directa (valores
mais elevados correspondem a classes mais altas) de
acordo com o método de partições naturais proposto por
G. JENKS em 1963.
Obtidas as majorações de α, β, γ, δ e ε por concelho é
possível ser calculado (V) para o mesmo por intermédio
de uma expressão do género f(α, β, γ, δ, ε) que relacione
os 5 sub-índices. Após cuidadosa análise iterativa
concluiu-se que a expressão que melhor relaciona as
diferentes componentes será:
(V) = 0.15 α + 0.23 β + 0.15 γ + 0.23 δ + 0.24 ε (2)
O valor fi nal de (V) deverá ser agrupado numa escala
qualitativa, de preferência ímpar, de modo a minorar a
dispersão de valores calculados.
Resultados
O cálculo do índice de vulnerabilidade (V) foi feito
utilizando cada sub-índice obtido por concelho e
a expressão (2) que os relaciona. Foi então obtido
um valor de (V) por cada concelho (variando no
intervalo de 1 a 5) que nos dá uma grandeza da
vulnerabilidade a uma inundação para o concelho
em análise; no entanto, dada a dispersão dos valores
obtidos foi necessário estabelecer uma escala
qualitativa com diferentes classes. Escolhendo-se
5 classes (mínima, reduzida, moderada, elevada e
máxima), foi decidido, com auxílio a um ajuste ao
método de partições naturais (Jenks, 1963), fixar-se
os intervalos em:
• Vulnerabilidade Mínima → (V) < 1.75
• Vulnerabilidade Reduzida → 1.75 < (V) < 2.15
• Vulnerabilidade Moderada → 2.15 < (V) < 2.65
• Vulnerabilidade Elevada → 2.65 < (V) < 3.25
• Vulnerabilidade Máxima → (V) > 3.25
Do acima descrito resulta a seguinte carta:
(1)
RISCOS - Associação Portuguesa de Riscos, Prevenção e Segurança
230
Figura 1 – Carta concelhia de vulnerabilidade ao risco
de inundação com 5 classes.
Conclusões
O território continental está exposto a riscos naturais,
nomeadamente a cheias rápidas e inundações, havendo
uma vulnerabilidade crescente envolvendo áreas e
populações das áreas urbanas e periurbanas; nesse
sentido as ideias expressas neste trabalho terão sempre
de ter presente o facto de que a ocorrência destes
fenómenos são, na sua maioria, situações inevitáveis e
a tarefa importante a realizar será eliminar as condições
que possam intensifi car as consequências inerentes.
A utilização do elemento fundamental deste estudo, a
carta de vulnerabilidade ao risco de inundação, pode
contribuir para minimizar os riscos de cheia. Salienta-se
que mapas como estes, identifi cando vulnerabilidades,
podem ser um importante instrumento de apoio à decisão
no ordenamento, visando o planeamento e a gestão
sustentável do território, podendo constituir peças
prioritárias para a adopção de medidas de prevenção das
catástrofes naturais e minimizadoras dos seus efeitos
para evitar situações de emergência e socorro.
Da análise às cartas obtidas e à metodologia associada,
concluímos que em fenómenos como os agora estudados
o peso da urbanidade é factor preponderante para uma
maior vulnerabilidade a estes riscos, que é potenciada
por fenómenos de desordenamento do território, onde a
construção em leito de cheias ou um mau escoamento da
rede de saneamento, muitas vezes de carácter unitário,
ainda hoje são algo de presente no quotidiano. É o caso
de certas zonas envolventes a Lisboa, que possuem a
maior vulnerabilidade do país a estes riscos.
A metodologia agora analisada, apesar de simples, já
detecta tais casos, importando agora aperfeiçoá-la de
modo a incluir mais variáveis. Uma hipótese de evolução
metodológica será a utilização de modelos hidrológicos e
hidráulicos, assentes em informação relativa à altimetria,
hidrografi a, dados meteorológicos e hidrométricos, que
permitam calcular os níveis de escoamento. Outra hipótese,
por ora não analisada é a recorrer ao registo cartográfi co
de inundações ocorridas; de facto com base em imagens
de satélite ou em fotografi as aéreas com o registo de
inundações ocorridas será possível conhecer áreas
afectadas, deste modo será possível relacionar as áreas
inundáveis com as características do terreno, aprofundando
o conhecimento acerca das características físicas e humanas
de cada concelho; de igual modo as respectivas bacias
hidrográfi cas podem ser caracterizadas tendo em conta o
relevo, a geomorfologia, o coberto vegetal, o clima, a rede
de saneamento básico e a ocupação humana.
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