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Verbalizações e o estudode eventos encobertos: discussão metodológica

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Resumo Abstract Os eventos privados têm sido alvo de discussão pela comunidade behaviorista radical, na última década. Skinner, embora admita a ocorrência de elos encobertos em eventos comportamentais complexos, como é o caso da resolução de problemas, não indica como torná-los públicos. A busca de alternativas metodológicas é, pois, fundamental uma vez que em diferentes fenômenos, eventos privados estão envolvidos. Quaisquer que sejam, as alternativas de publicização de elos encobertos apóiam-se no comportamento verbal dos indivíduos (falado ou escrito), que precisa ser analisado e interpretado. Partindo de dados obtidos em tarefa de resolução de problemas em grupo, o presente trabalho apresenta proposta de categorização, discutindo decisões metodológicas e implicações das mesmas no tratamento de verbalizações ocorridas durante o processo de resolução de problemas. Palavras-chave: interações verbais; categorização de verbalizações; resolução de problemas; eventos privados; linguagem. In the last decade, radical behaviorists have been studying private events. Skinner overtly admits the occurrence of covert links in behavioral complex events, as it is the case of the problem solving behavior, but presents no explicit procedure to study covert behavior. In order to understand problem solving behavior it is necessary to focus on subject's flow of the responses in their attempts to reach the solution. Therefore we must find procedures to explicit covert behaviors which occur while one solves a problem. Whichever they may be, they must rely on subject's (spoken or written) verbal behavior which has to be analyzed and interpreted. This work proposes a procedure for classifying the subject's verbal behavior emitted during a task of problem solving. It also discusses methodological decisions and implications for the study of private events.
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Verbalizaçõeseoestudodeeventosencobertos:
discussão metodológica
Private events and oral verbalization: methodological discussion
Melania Moroz - Denize Rosana Rubano¹
Adriana Lourenço Lopes - Alessandra Argolo Maurutto - Marcos Antonio Lucci²
Hélia Hisako Utida - Ketney Bonfogo Bocchi³
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Resumo
Abstract
Os eventos privados têm sido alvo de discussão pela comunidade behaviorista radical, na última
década. Skinner, embora admita a ocorrência de elos encobertos em eventos comportamentais
complexos, como é o caso da resolução de problemas, não indica como torná-los públicos. A busca
de alternativas metodológicas é, pois, fundamental uma vez que em diferentes fenômenos, eventos
privados estão envolvidos. Quaisquer que sejam, as alternativas de publicização de elos
encobertos apóiam-se no comportamento verbal dos indivíduos (falado ou escrito), que precisa ser
analisado e interpretado. Partindo de dados obtidos em tarefa de resolução de problemas em
grupo, o presente trabalho apresenta proposta de categorização, discutindo decisões
metodológicas e implicações das mesmas no tratamento de verbalizações ocorridas durante o
processo de resolução de problemas.
Palavras-chave: interações verbais; categorização de verbalizações; resolução de problemas;
eventos privados; linguagem.
In the last decade, radical behaviorists have been studying private events. Skinner overtly admits
the occurrence of covert links in behavioral complex events, as it is the case of the problem solving
behavior, but presents no explicit procedure to study covert behavior. In order to understand
problem solving behavior it is necessary to focus on subject's flow of the responses in their
attempts to reach the solution. Therefore we must find procedures to explicit covert behaviors
which occur while one solves a problem. Whichever they may be, they must rely on subject's
(spoken or written) verbal behavior which has to be analyzed and interpreted. This work proposes
a procedure for classifying the subject's verbal behavior emitted during a task of problem solving.
It also discusses methodological decisions and implications for the study of private events.
Keywords: verbal interactions; classificatory proposal; problem solving; private events; language.
1
2
3
Professoras, respectivamente, do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia da Educação e da Faculdade de Psicologia
(morozm@pucsp.br; drubano@osite.com.br)
Doutorandos do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Psicologia da Educação.
Mestrandos do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Psicologia da Educação.
ISSN 1517-5545
2005, Vol. VII, nº 2, 179-195
Revista Brasileira de
Terapia Comportamental
e Cognitiva
179
Melania Moroz - Denize Rosana Rubano - Adriana Lourenço Lopes - Alessandra Argolo Maurutto
Marcos Antonio Lucci - Hélia Hisako Utida - Ketney Bonfogo Bocchi
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 2, 179-195
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A resolução de problemas é um evento com-
portamental complexo, cujo estudo faz emer-
gir a problemática dos eventos privados na
abordagem behaviorista radical, já que, como
salientado por Skinner, parte do processo
pode ocorrer de forma encoberta. Como des-
tacado por Moroz (1993), a resolução de pro-
blemas envolve a relação entre comporta-
mentos preliminares e a emissão da resposta-
solução. E, como o próprio Skinner (1968/
1975, p.117) afirma, “Uma vez que o compor-
tamento preliminar opera principalmente pa-
ra tornar o comportamento subseqüente mais
eficaz, não precisa ter manifestações públi-
cas”.
Para Skinner, comportamentos que ocorrem
de forma encoberta são comportamentos que
originariamente foram públicos, podendo
retornar a esta dimensão novamente, sempre
que contingências adequadas forem estabe-
lecidas . Referindo-se à resolução de proble-
mas, afirma:
Como destacado por Moroz (1993), para com
preender a resolução de problemas é preciso
considerar o ocorrido até
a emissão da resposta-solução. Ora, se podem
ocorrer elos encobertos que afetam o próprio
fluxo comportamental de um indivíduo, en
tão é importante propor alternativas que per
mitam tornar públicos os elos de tal fluxo
durante a resolução de problemas.
Tornar públicos eventos que ocorreriam de
forma encoberta depende das contingências
ambientais, como salientado por Simonassi
(1999), Simonassi, Tourinho e Silva (2001) e
Gongora e Abib (2001). Conforme Simonassi
(1999, p. 89), eventos serão potencialmente
observáveis, dependendo
”; para Simonassi, Tourinho e Silva
(2001, p. 134),
conforme Gongora e
Abib (2001, p. 17)
endo assim, uma ques
tão se evidencia: que contingências possibili
tariam a publicização de elos que poderiam
permanecer encobertos durante a resolução
de problemas?
Vários autores, em diferentes contextos, têm
buscado alternativas para investigar eventos
encobertos e seu papel como variável operan-
te no controle do comportamento expresso.
Banaco, Zamignani e Kovac (1999) elabora-
ram um trabalho cujo objetivo era “... des ven-
dar quais variáveis estariam operando no con-
trole do comportamento expresso do terapeu-
ta durante o atendimento e levantar dados
que pudessem responder se os comportamen-
tos encobertos do terapeuta que ocorriam
durante a sessão faziam parte também dessas
variáveis” (p. 294). Sessões de terapia em
grupo foram gravadas em vídeo, registradas
cursivamente e transcritas. Uma entrevista
posterior com o terapeuta enfocava momen-
tos da sessão que eram revistos (assistidos),
procedimento que tinha por hipótese que
estímulos semelhantes àqueles que atuaram
na sessão possibilitariam que o participante
recordasse o que havia passado/sentido e
também que tivesse seu comportamento no-
vamente sob controle de estímulos semelhan-
tes àqueles que atuaram naquele momento (na
sessão terapêutica). O pesquisador questiona-
va o participante, diante de certos trechos a-
presentados e descritos, sobre o que pensou
e/ou sentiu naquele momento. O trabalho re-
vela ter obtido sucesso em sua busca de proce-
dimento para publicização de eventos enco-
bertos.
4
Quer a solução de problemas surja simplesmente
de contingências, ou de instruções fornecidas por
outrem, é adquirida de forma manifesta (com a
possível exceção de uma estratégia aprendida em
nível encoberto a partir de conseqüências
privadas) que pode sempre ser transportada para
o nível manifesto. (1974/1982, pp. 98-99)
-
fluxo comportamental
-
-
“ ... das contingências
sociais que produzirão a publicização de possíveis
respostas precorrentes momentaneamente
privadas.
“ Pode-se então dizer que o compor-
tamento encoberto é apenas circunstancialmente
encoberto, podendo variar quanto a esta condição
de acordo com as contingências sociais com as quais
o indivíduo interage.”;
“(... ) as respostas verbais
encobertas podem facilmente retornar ao nível
público, sempre que houver condições apropriadas
de controle ambiental.”. S -
-
4Além dos textos de Skinner, especialmente os de 1945 e 1957, podem ser consultados, dentre outros, os de Lampreia, C. (1996),
Tourinho, E. Z. ( 1997) e Gongora e Abib (2001) no que se refere à posição de Skinner sobre eventos privados
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Verbalizações e o estudo de eventos encobertos
Quanto aos comportamentos dos clientes, Ba-
naco, Zamignani e Kovac (1999) indicam que
terapeutas comportamentais têm utilizado o
questionamento a seus clientes para ter acesso
a possíveis eventos encobertos, utilizando-se
de perguntas básicas tais como: “o que você
sente quando...?” ou “o que você pensa quan-
do...?“. No entanto, segundo Banaco (1999), as
respostas têm sido equivocadamente utiliza-
das mais como um fim do que como um meio
para a obtenção de informações sobre as con-
tingências em ação. Afinal, o evento encoberto
é um possível “elo de cadeia comportamen-
tal” que deveria fazer parte de uma relação
funcional com eventos externos, sob pena de
não se poder planejar intervenções. Respon-
dendo à questão “Como o relato sobre o mun-
do interior pode ser indicativo das relações
contingenciais das quais o comportamento a
ser modificado é função?” (p. 138), Banaco,
Zamignani e Kovac (1999) afirmam a neces-
sidade de seguir a investigação até serem
encontradas relações entre respostas abertas e
eventos abertos, única maneira de se perma-
necer coerente com a abordagem skinneriana.
Fora do campo clínico, em diversos estudos
(Simonassi, Oliveira e Gosch, 1997; Simonassi,
Oliveira, Gosch e Carvalho, 1997; e Simonassi,
Tourinho e Silva, 2001) propôs-se alternativa
em que o participante, a despeito de trabalhar
individualmente, é posto diante de contin
gências sociais (no caso, instrução para escre
ver a regra que descreve contingências em
vigor) que levam à explicitação de regras que,
se ocorressem na ausência dessas contin
gências, permaneceriam encobertas. Varia
ções no procedimento produziram variações
no momento da explicitação e no conteúdo
das regras formuladas. Em relação ao conteú
do, Simonassi, Oliveira, Gosch e Carvalho
(1997 propõem que os dados anteriores ao
momento da formulação da regra devem ser
considerados, já que a formulação da regra
não ocorreu de uma vez, mas foi gradativa.
Nas palavras dos autores “... dados importan
tes são perdidos se o experimentador analisa
exclusivamente o momento da formulação da
regra deixando de lado as palavras que são
redigidas pelo sujeito antes da formulação.”
(p. 193)
Em relação aos trabalhos anteriormente refe-
ridos, algumas pontuações merecem ser fei-
tas: 1) no caso dos trabalhos em clínica, a prin-
cipal variável controladora para o retorno ao
nível público de eventos encobertos é o ques-
tionamento do pesquisador/terapeuta, proce-
dimento que, conforme Banaco, Zamigniani e
Kovac (1999), é eficaz na publicização de even-
tos que permaneceriam encobertos; no caso, o
relato do participante é sobre um evento
passado, seja ele mais ou menos remoto; 2) de
forma similar, o questionamento feito pelo
pesquisador é procedimento utilizado por
Simonassi, Oliveira e Gosch (1997), Simonassi,
Oliveira, Gosch e Carvalho (1997) e Simonassi,
Tourinho e Silva (2001), porém em um dos tra-
balhos, em função de variação no procedi-
mento proposto (solicitação de momento a
momento), houve possibilidade de publici-
zação de elos que eram privados, permitindo
acompanhar, em parte, o fluxo comportamen-
tal do indivíduo.
Moroz (1991), em trabalho de análise da inter-
pretação de Skinner sobre resolução de pro-
blemas, propôs alternativa para a explicitação
de elos que poderiam permanecer encobertos;
a alternativa envolveria a atuação conjunta de
mais de um indivíduo em situação de reso-
lução de problemas. Esta proposta estava an-
corada na suposição de que um parceiro seria
uma variável que possibilitaria a publicização
de elos de forma mais natural, ou seja, sem a
interferência direta do pesquisador, isto por-
que, ambos os participantes estariam contro-
lados pela situação problemática, ao mesmo
tempo em que estariam controlados um pelo
outro. Seguindo esta proposta, trabalho reali-
zado por Moroz e Tourinho (1998), que com-
parava situação de resolução individual de
problema e situação de resolução de problema
em dupla, permitiu verificar que ocorreu um
número superior de verbalizações na situação
em dupla, indicando que a presença de um
parceiro é contingência eficiente para levar à
-
-
-
-
-
)
-
Moroz - Rubano - Lopes - Maurutto - Lucci - Utida - Bocchi
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emissão de respostas orais, tornando públicos
elos do fluxo comportamental.
Essa alternativa parece coadunar-se com a
denominada 'observação direta não-invasiva'
(Starling, 1999), já que o comportamento ver-
bal emergiu sem a intervenção direta dos pes-
quisadores. Starling (1999) defende o uso de
observação direta não-invasiva como proce-
dimento metodológico útil para o estudo do
comportamento humano, tendo utilizado este
procedimento em estudo sobre enfermidades.
O comportamento verbal dos participantes,
pacientes submetidos à cirurgia, foi “... dire-
tamente observado através de um aparelho
eletrônico, especialmente projetado para ob-
servação direta não-invasiva das suas verba-
lizações.” (p. 109). No caso do estudo de Mo-
roz e Tourinho (1998), também se observou
diretamente o comportamento verbal dos
participantes durante a resolução do pro-
blema, registrando-se sua ocorrência em
vídeo, sem que tivesse havido interferência
dos pesquisadores no sentido de explici-
tamente solicitarem algum tipo de verbali-
zação.
Essa alternativa coaduna-se, também, com um
aspecto importante da visão skinneriana
sobre comportamento verbal: a de que o ou-
vinte é o Sd para a emissão de verbalizações.
Nessa alternativa, a emergência de verbali-
zações é possibilitada pela presença de um
parceiro que, ao mesmo tempo em que está
sob controle da situação problemática, é um
ouvinte, situação que se aproxima de contex-
tos naturais de emissão do comportamento
verbal, como já apontado anteriormente.
A busca de alternativas metodológicas para
lidar com fenômenos que envolvem a pro
blemática dos eventos encobertos é necessária
no campo da Análise do Comportamento,
como fica claro em estudo realizado por Sund
berg (1991). Analisando os tópicos de pesqui
sa gerados pela obra Verbal Behavior, o autor
lista um conjunto de aspectos que deveriam
ser pesquisados. Ao agrupar itens que com
poriam a categoria “Questões conceituais e
outras complexas relacionadas ao compor
tamento verbal”, o autor afirma que alguns
tópicos, fundamentais para a denominada
psicologia tradicional, não receberam atenção
dos behavioristas. Exemplificando, cita com
portamento verbal sob controle de eventos
privados, pensamento, resolução de proble
mas, entendimento, raciocínio, criatividade e
. Defendendo que pesquisas focali
zando esses tópicos seriam benéficas para o
entendimento do comportamento, o autor
salienta que são desafiadoras, especialmente
devido a problemas metodológicos. De fato, o
desafio metodológico faz-se presente ainda
hoje, quando se tem como objeto de estudo o
comportamento verbal, tal como pontuado
por Moroz, Rubano, Rodrigues e Lucci (2001)
e, especialmente, quando se tem como foco os
eventos privados. Como afirmam Simonassi,
Tourinho e Silva (2001)
Por serem inovadoras, as propostas metodo-
lógicas merecem ser alvo de análise. Há
questões referentes a procedimentos metodo-
lógicos que merecem ser abordadas, dentre
elas, a preparação (transcrição e represen-
tação) e a categorização de verbalizações serão
focalizadas no presente trabalho.
Os dados considerados no presente trabalho
referem-se às verbalizações de uma dupla de
participantes atuando em conjunto numa
tarefa de resolução de problemas denominada
"Descubra qual é o salário". Nesta tarefa, apre
sentam-se o objetivo e um rol de questões, as
quais permitem aos participantes obter
maiores informações. O objetivo da tarefa é
descobrir o salário de José,
para obter as informações
-
-
-
-
-
-
-
self-editing -
:
-
consultando o menor
número de questões
Estudos sobre eventos privados têm sido es-
cassos na literatura da área de análise do com-
portamento (Cf. Anderson, Hawkins & Scotti,
1997; Tourinho, 1995), a despeito da importância
do tema e do esforço interpretativo de Skinner.
Estudos nessa área são, portanto, inovadores e
não se amparam em delineamentos já consagra-
dos como produtivos. (p. 135)
Informações preliminares
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 2, 179-195 183
Verbalizações e o estudo de eventos encobertos
necessárias. À medida que as questões são
escolhidas pelos participantes, as respectivas
informações são fornecidas, por escrito, pelo
pesquisador (vide Anexo 1). A atuação dos
participantes foi registrada por câmera
filmadora, e as verbalizações ocorridas foram
posteriormente transcritas. No caso da
resolução de problemas em dupla, as verbali-
zações ocorridas são o foco central da descri-
ção, já que elas são o fator diferenciador em
relação à resolução individual de um proble-
ma. Isto porque, embora também precisem ser
registrados outros comportamentos emitidos
durante a resolução da tarefa proposta (tais
como 'fazer anotações por escrito', 'ler as ano-
tações feitas', 'rever as informações das ques-
tões feitas'), estes também ocorrem na situa-
ção individual.
A transcrição das falas foi feita em forma de
diálogo, de acordo com a seqüência em que
foram emitidas pelos participantes. No caso
de verbalizações pouco audíveis, registrou-se
a perda com o sinal <...>, utilizando-se [ ]
para registro de outros comportamentos (não
verbalizações): ler, apontar, anotar etc. No
caso de verbalizações em que as falas de am
bos os participantes praticamente ocorrem ao
mesmo tempo, transcreveu-se a fala completa
do falante, seguida pela fala do ouvinte. Por
exemplo: o falante diz: “
e o ouvinte, quase ao mesmo tempo em que o
falante, diz
Na transcrição, as verbalizações
apareceram como:
S1 - Se citar a escolaridade
S2 - Se está implícita a escolaridade, vem aqui
e aqui.
O conjunto de verbalizações foi disposto em
três formas. Inicialmente as falas foram dis-
postas seqüencialmente (Forma 1), conforme
apresentado a seguir.
S1
S2 A primeira coisa a saber é qual o critério
utilizado pela empresa na atribuição de salá
rio. Caso a gente saiba
S1 Peraí
S2 Acho que a chave é esta: qual o critério uti
lizado. A partir do momento que a gente sabe
o critério, a gente pode
S1 - Não, a gente já sabe aqui, não, a gente < ...
> quanto ganha.
S2 Eu sei, mas, por exemplo, se o critério
utilizado pela empresa na atribuição dos salá
rios é '
', aí a gente vem aqui '
'.
Posteriormente, tomou-se como referência a
forma utilizada por Skinner para representar
a interação falante-ouvinte (Forma 2). Abaixo,
na Figura 1, o mesmo conjunto de verbali-
zações.
-
Se citar a escolaridade
“Se está implícita a escolaridade, vem
aqui e aqui”.
[pega a folha de perguntas]
[pega a folha com as questões]. [lê a folha
de perguntas e S2 olha as questões]
-
-
empregado com mais de 10 anos ganha salá-
rio x José trabalha há quan-
tos anos na empresa
.
.
-
.
.-
Figura 1. Forma 2 de organização das verbalizações.
(S1)
Cond. Antec. [Pega folha 1.Peraí [pega a folha 2. Não, a gente já
de perguntas] com as questões]. [Lê a folha sabe aqui, não, a
de perguntas e S2 olha as gente <...> quanto
questões] ganha.
Problema
Questões
+
Audiência
1. A primeira coisa a saber
é qual o critério utilizado 2.Acho que a chave é esta: 3. Eu sei, mas, por exemplo,
pela empresa na atribuição qual o critério utilizado. A se o critério utilizado pela
de salário. Caso a gente partir do momento que a empresa na atribuição dos
saiba gente sabe o critério, a salários é ´empregado com
gente pode mais de 10 anos ganha salário
x´, aí a gente vem aqui ´José
trabalha há quantos anos na
empresa´.
(S2)
+
Moroz - Rubano - Lopes - Maurutto - Lucci - Utida - Bocchi
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 2, 179-195
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A Forma 2 de dispor as verbalizações permite
visualizar as interações falante-ouvinte, mos-
trando, de forma evidente, o fluxo comporta-
mental dos participantes até solucionar o pro-
blema. Permite, ainda, visualizar as escolhas
parciais feitas pelos participantes e o número
de elos orais emitidos para chegar tanto a cada
escolha parcial como à resposta-solução.
A terceira forma (Forma 3) utilizada dispõe as
verbalizações em díades falante-ouvinte, nu-
meradas na seqüência em que foram emitidas
e categorizadas em relação a três aspectos,
conforme ficará esclarecido no próximo item.
A seguir, na Tabela 1, exemplo da Forma 3 de
representação.
Tabela 1. Forma 3 de organização das verbalizações.
Falante Ouvinte Categorias Subcategorias Efeito
FBK
[S1: Pega folha de perguntas]
S2.1:A primeira coisa a saber é
qual o critério utilizado pela
empresa na atribuição de salário.
Caso a gente saiba
S1.1:Peraí
[pega a folha com as questões]
[lê a folha de perguntas e S2 olha
as questões]
S1.1:Peraí
[pega a folha com as questões]
[lê a folha de perguntas e S2 olha as
questões]
S2.2:Acho que a chave é esta:
qual o critério utilizado. A
partir do momento que a gente
sabe o critério, a gente pode
S2.2:Acho que a chave é esta: qual
o critério utilizado. A partir do
momento que a gente sabe o
critério, a gente pode
S1.2: Não, a gente já sabe aqui,
não, a gente <...> quanto ganha.
S1.2 - Não, a gente já sabe aqui,
não, a gente < ... > quanto ganha.
S2.3 – Eu sei, mas, por exemplo,
se o critério utilizado pela
empresa na atribuição dos
salários é ‘empregado com mais de
10 anos ganha salário x’, aí a
gente vem aqui ‘José trabalha há
quantos anos na empresa’.
Esta disposição foi proposta quando já se
tinha definido o tipo de análise a ser feita. É
uma forma que facilita a alocação da catego-
rização, aspecto importante porque, como se
verá a seguir, a categorização envolve dife-
rentes recortes de análise. As Formas 2 e 3,
usadas como complementares, revelaram-se
como as mais úteis para a disposição das ver-
balizações ocorridas durante a resolução da
tarefa proposta, porque é possível identificar,
a cada verbalização, os “papéis” de falante e
de ouvinte que, alternadamente, os dois par-
ticipantes assumem.
Um destaque deve ser feito: as diferentes for-
mas de disposição das verbalizações foram
sendo adotadas à medida que se definia a
forma final de categorização. Essa definição
foi fruto de um processo: à medida que impas-
ses ou questionamentos foram ocorrendo, no-
vas alternativas foram buscadas. Assim, o ex-
posto até o momento deve ser relacionado
com o que será apresentado no item a seguir.
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 2, 179-195 185
Verbalizações e o estudo de eventos encobertos
Categorização das verbalizações
Souza Filho (2000), em trabalho realizado em
situação de interação terapeuta-paciente,
propõe categorias para classificar as verbali-
zações ocorridas, conforme exposto a seguir:
Conselho/Regra (COR): verbalizações que
explicitam ou sugerem cursos de ação e/ou
contingências em vigor.
Explicação (EXP): verbalizações que suge-
rem origens (causas), descrições para os
assuntos já discutidos na sessão.
Feedback (FBK): verbalizações de aprova-
ção ou desaprovação de verbalização(ões)
anterior(es), ou ainda verbalizações que
sugerem a continuidade da verbalização
anterior.
Inferência (IFR): verbalizações que afir-
mam relações não explicitadas verbal-
mente pelo interlocutor sobre pessoas/
eventos relacionados ao contexto de vida
do cliente.
Investigação (INV): verbalizações que in-
dagam ou solicitam informações.
Informação (IFO): verbalizações que infor-
mam sobre aspectos do processo terapêu-
tico, sobre conceitos da Terapia Analítico-
Comportamental, ou sobre assuntos abor-
dados pelo cliente.
Outra verbalização (OUT): outras verbali-
zações.
Considerando a possibilidade de aplicar esta
categorização a verbalizações ocorridas em
contexto não-clínico, o que possibilitaria am-
pliar a generalidade da mesma, após treina-
mento dos pesquisadores , essa categorização
foi aplicada às verbalizações de uma dupla de
participantes na tarefa de resolução de proble-
mas. Durante este procedimento, observou-se
a necessidade de refinamento ou ampliação
das categorias. Para tanto, recorreu-se ao pró-
prio Skinner (1957/1992) e aos trabalhos de
Bijou, Chao e Ghezzi (1988) e Botomé e Souza
(1982).
Bijou, Chao e Ghezzi (1988) fazem uma pro-
posta para identificação e análise de intera-
ções verbais (lingüísticas, como chamam), ten-
do como participantes crianças em situação
natural. Nesse trabalho, a mudança do refe-
rente (conteúdo/assunto) é critério de iden-
tificação das interações. Por exemplo, uma
criança começa a falar sobre o resfriado que
teve, e enquanto o diálogo com o parceiro per-
manece com este referente, considera-se a
mesma interação verbal. Quando há alteração
do referente, inicia-se nova interação, a qual é
considerada finalizada a partir da introdução
de novo referente e assim sucessivamente, até
que o diálogo total tenha sido recortado em
interações. Essas interações apresentam
diferentes tamanhos, isto é, há um número
variável de díades falante-ouvinte (S1-S2),
sendo a interação, e não a díade, categorizada.
A interação foi categorizada em relação aos
referentes, o que permitiu aos pesquisadores
verificar sobre o que as crianças falam; além
disso, registrou-se também quem iniciava a
interação e o que ocorria subseqüentemente a
cada interação, o que permitiu avaliar se
houve continuidade ou mudança de referente,
o iniciador do(s) referente(s) e se a interação
foi ou não interrompida. No que diz respeito
àquilo que as crianças falam, foram criadas
categorias relativas aos referentes, como, por
exemplo, tempo (passado, presente, futuro,
nenhum), real ou imaginário, assunto abor-
dado (família, amigos, animais de estimação,
outras pessoas, objetos, atividades, locais,
sentimentos). Os referentes são, neste estudo,
fundamentalmente o guia para a análise do
comportamento verbal na relação falante-ou-
vinte.
Em contexto muito diferente, pois trabalhou
com pacientes em situação pós-operatória,
também Starling (1999) enfatizou o conteúdo.
Observando pacientes pós-cirúrgicos, tam-
bém considerou os temas ou “conteúdos” das
verbalizações, os quais foram classificados em
categorias (episódio clínico pós-cirúrgico, re-
5
5Para o treinamento, foram utilizados tanto material de Souza Filho (2000), relativo à situação terapêutica, como registros de
verbalizações de outras duplas em situação de resolução de problemas.
Moroz - Rubano - Lopes - Maurutto - Lucci - Utida - Bocchi
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 2, 179-195
186
lações sociais, vida cotidiana, mais a residual
“outras”) e subcategorias (exemplo de subca-
tegorias da categoria “episódio clínico do pós-
cirúrgico”: alta hospitalar, estado físico, esta-
do psicológico, medicação, dor, relações com
o médico). Novamente, o conteúdo da verba-
lização é privilegiado.
Focalizar o conteúdo é uma alternativa que
pode ser, e vem sendo, utilizada por pesqui-
sadores que estudam diferentes aspectos
relacionados ao comportamento verbal, mas
há outra possibilidade: a de "...organizar o que
as pessoas dizem do ponto de vista dos resul-
tados obtidos (e procurados) sobre quem ouve
(ou lê) o que se diz (ou escreve) ....", conforme
salientado por Botomé e Souza (1982, p. 21).
De acordo com os autores:
Apoiando-se na proposta skinneriana de
interpretar o comportamento verbal, para o
qual é essencial considerar a função da res
posta, Botomé e Souza, (1982) defendem a
importância de se considerar a "... relação en
tre o que a pessoa diz e os resultados de sua
ação (o que resulta em termos de efeitos) sobre
os ouvintes ou leitores.” (p.21).
Os autores identificam três funções da lin-
guagem (informativa, diretiva e expressiva),
que se diferenciariam em termos dos efeitos
de fato produzidos. O discurso tem função
informativa quando alguém faz com que ou-
tra pessoa domine certa informação sobre al-
go; pode ser examinado como falso ou verda-
deiro; correto ou incorreto logicamente. A
função diretiva diz respeito ao uso voltado
para “dirigir as ações dos ouvintes ou
leitores”; ou seja, existe quando alguém, “ao
falar, escrever, visa fazer com que outra pes-
soa aja de acordo com o que quer o falante”
(p.27). Não havendo uma descrição de fatos
ou objetos, tal discurso não pode ser analisado
como falso ou verdadeiro, de forma similar ao
que ocorre com o discurso com função expres-
siva. Este expressa sentimentos e emoções,
provocando no ouvinte ou no leitor, dispo-
sições semelhantes; no discurso com função
expressiva, é freqüente o emprego de analo-
gias, metáforas e outras figuras de linguagem,
adjetivação intensa etc. De acordo com os
autores, a identificação do tipo de função da
linguagem só é possível pela análise dos três
termos, sendo que a relação mais definidora
para as funções diretiva e expressiva se dá
entre resposta e conseqüência produzida, isto
é, entre o que é dito e os efeitos sobre o ou-
vinte .
Dois destaques a serem feitos: 1) Os autores
salientam que, no discurso, freqüentemente
mais de uma função podem ser identificadas;
exemplificando, fazem referência à "...lin-
guagem com função expressiva contendo
informações factuais e tendo efeito duplo: in-
formar e, ao mesmo tempo, envolver e predis-
por sentimentos e disposições na audiência e
nos leitores” (p. 37-38). Há, no entanto, a pos-
sibilidade de identificar a função que é pre-
ponderante. 2) A identificação da função deve
levar em conta o efeito produzido no ouvinte,
e não a intenção do falante.
A partir do proposto por Botomé e Souza
(1982), decidiu-se analisar as verbalizações
emitidas pelas duplas quanto a essas três
funções, decisão que trazia implícita a neces-
sidade de focalizar a relação falante-ouvinte,
olhando para o efeito produzido pela ver-
balização do falante. Dado que as falas se en-
cadeavam, com vários elos até a escolha da
questão a partir da qual se obtinham infor-
mações para resolver o problema, optou-se
As variáveis envolvidas, e mesmo determinan-
tes, do comportamento verbal são mais do que
apenas os referentes da palavra, do que a estru-
tura das frases ou do discurso, do que a aproxi-
mação ou o distanciamento entre o que é dito ou
escrito e as regras ou convenções a respeito.
O assunto (conteúdo ou referente) e a estrutura
da linguagem são importantes enquanto aspec-
tos relacionados a dimensões da resposta verbal.
Mas, é necessário, também, esclarecer o que acon-
tece quando uma pessoa fala ou escreve (o pro-
cesso de falar ou escrever) sobre algo e de uma
determinada maneira. (p.7)
-
-
6
6Conforme pontuado por Engelmann (1978), um grupo de estudiosos da linguagem destaca seu papel funcional; como afirma, “
L (p. 16). Diferentes funções são identificadas por
Engelmann, dentre as quais, as funções que Botomé e Souza (1982) denominam como informativa, diretiva e expressiva.
ingüistas e psicólogos da linguagem dizem-nos que a fala pode desempenhar diversas funções.”
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 2, 179-195 187
Verbalizações e o estudo de eventos encobertos
por classificar cada díade falante-ouvinte por
seus Para tanto, o pesquisador se
questionava: Em função de quê o ouvinte está
respondendo? Por exemplo, S1 poderia su-
gerir um rumo (“Vamos pedir a questão 5”),
que só seria efetivado após muitas outras falas
ocorrerem; essas outras falas, por sua vez,
poderiam sugerir rumos, apresentar infor-
mações, que por sua vez poderiam ou não ser
aproveitados. Neste caso, se o falante verba-
lizasse “Vamos pedir a questão 5”, os possí-
veis efeitos seriam o ouvinte aceitar o rumo
sugerido ou se contrapor a ele, ou, ainda,
complementar, por exemplo. Se o efeito sobre
o ouvinte fosse uma verbalização em função
da direção dada pelo falante, concluía-se que a
seria diretiva
A utilização das propostas de Souza Filho
(2000) e de Botomé e Souza (1982) para clas-
sificar as verbalizações que ocorreram duran-
te a resolução do problema em duplas per-
mitiu verificar que poderia haver aproxi-
mação entre ambas. O Quadro 2, a seguir,
apresenta as referidas propostas, bem como a
nova proposta de definição das categorias.
efeitos.
função .
Tabela 2. Categorias para classificação de verbalizações - Botomé e Souza, Souza Filho e proposta das autoras.
Funções
Botomé e Souza
Categorias
Souza Filho
Categorias
Proposta Atual
Diretiva (DIR)
Dirigir as ações do
ouvinte
Conselho/Regra (COR):
verbalizações que explicitam ou
sugerem cursos de ação e/ou
contingências em vigor.
Conselho/Sugestões (COS): verbalizações que
explicitam ou sugerem cursos de ação, isto é,
explicitam como o indivíduo deve agir;
explicitam ou sugerem inadequação de
cursos de ação, isto é, explicitam ou sugerem
que o indivíduo não deve agir de
determinada forma; propõem cursos de ação
alternativos.
RTM cos: Retomada de conselhos/sugestões
RTM obj: Retomada de objetivo
Idem Investigação (INV):
verbalizações que indagam ou
solicitam informações.
Investigação (INV): verbalizações que
indagam/solicitam informação.
RTM inv: Retomada de investigações
Informativa (INF)
Permitir que ouvinte
domine informações
sobre fatos, pessoas,
processos, etc
Informação (IFO): verbalizações
que informam sobre aspectos do
processo terapêutico, sobre
conceitos da Terapia Analítico-
Comportamental, ou sobre
assuntos abordados pelo cliente.
Informação (IFO): verbalizações sobre
processos, conceitos e temas, isto é,
verbalizações que fazem referência a esses
diferentes aspectos em relação ao mundo, às
pessoas e ao próprio indivíduo.
RTM ifo: Retomada de informações
Idem Explicação (EXP): verbalizações
que sugerem origens (causas),
descrições para os assuntos já
discutidos na sessão.
Explicação (EXP): verbalizações que sugerem
origens (causas), fatores e descrições, isto é,
verbalizações que explicitam conexão entre x
e y; descrevem contingências ou parte delas
(pelo menos dois dos elementos: resposta,
propriedade(s) da ocasião; possível
conseqüência); descrevem comportamento(s)
que não satisfaz(em) contingências, isto é,
que não produz (em) determinada
conseqüência.; eliminam alternativas, isto é,
restringem conjunto possível de estímulos
discriminativos (Sd).
RTM exp Retomada de explicações
Moroz - Rubano - Lopes - Maurutto - Lucci - Utida - Bocchi
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 2, 179-195
188
Idem Inferência (IFR): verbalizações
que afirmam relações não
explicitadas verbalmente pelo
interlocutor sobre
pessoas/eventos relacionados ao
contexto de vida da cliente.
Inferência (IFR): verbalizações que explicitam
conexões entre outras conexões.
RTM ifr Retomada de inferências
Expressiva (EPR):
expressar
sentimentos e
emoções e eliciar
sentimentos,
emoções e
disposições
semelhantes nos
ouvinte ou leitores.
Expressiva (EPR): verbalizações que fazem
referência a emoções, sentimentos e
disposições do falante.
Feedback (FBK): verbalizações de
aprovação ou desaprovação de
verbalização(ões) anterior(es), ou
ainda verbalizações que sugerem
a continuidade da verbalização
anterior.
Feedback (FBK): verbalizações de
concordância/aprovação(CCD),discordância
/desaprovação(DIS), continuidade (CNT),
interrupção de verbalização(ões) anterior(es)
(INT).
(~FBK): verbalizações ou ações
não-verbais que indicam que o ouvinte
ignorou ação do falante (IGN)
Obs. Considerar esta categoria para ação do
ouvinte.
Outra verbalização (OUT):
outras verbalizações.
Outra verbalização (OUT): outras
verbalizações.
Elo perdido (E LP): verbalizações subaudíveis
ou não audíveis.
Tabela 2. Continuação
Como pode ser observado na Tabela 2, as cate-
gorias (Souza Filho, 2000) IFO, EXP e IFR
teriam função informativa. No caso da cate-
goria COR, esta abrangeria, em parte, verbali-
zações que teriam função diretiva (como é o
caso de explicitação /sugestões de rumos de
ação) e verbalizações que teriam função infor-
mativa (como é o caso de descrição de contin-
gências que, ao identificar relações funcionais,
propõe uma explicação). Na proposta atual, as
verbalizações que descreveriam contingên-
cias são categorizadas como EXP, com função
informativa. Permanecem categorizadas
como COR as verbalizações que sugerem/
explicitam cursos de ação, as quais, juntamen-
te com a categoria INV, têm função diretiva.
Verifica-se, na Tabela 2, a inserção da cate-
goria RTM, que permite identificar verba-
lizações que retomam (correta ou incorreta-
mente) sejam dados já obtidos (reafirmar in-
formações, conexões entre elementos, cone-
xões entre conexões) sejam cursos de ação pro-
postos.
Quanto à categoria FBK, considerou-se que
esta deveria sempre ser aplicada às verba-
lizações, aspecto necessário para analisar a
relação falante-ouvinte; a cada verbalização
do falante, decidiu-se identificar a reação do
ouvinte, especificando-se o tipo de feed-back
ocorrido ou a não ocorrência de feed-back,
quando fosse o caso.
As propostas de representação (Formas 2 e 3) e
de categorização foram aplicadas a verba-
A aplicação da categorização
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 2, 179-195 189
Verbalizações e o estudo de eventos encobertos
Tabela 3. Exemplo de categorização das verbalizações.
Falante Ouvinte Catego-
rias
Subcate-
gorias
Efeito
FBK
Seqüência 1
[S1: Pega folha de perguntas]
S2.1: A primeira coisa a saber é
qual o critério utilizado pela
empresa na atribuição de salário.
Caso a gente saiba
S1.1: Peraí
[pega a folha com as questões]
[lê a folha de perguntas e S2 olha as
questões]
DIR COS INT
S1.1: Peraí
[pega a folha com as questões]
[lê a folha de perguntas e S2 olha as
questões]
S2.2: Acho que a chave é esta: qual o
critério utilizado. A partir do
momento que a gente sabe o critério, a
gente pode
DIR COS
(ritmo)
IGN
S2.2: Acho que a chave é esta: qual
o critério utilizado. A partir do
momento que a gente sabe o
critério, a gente pode
S1.2: Não, a gente já sabe aqui, não, a
gente <...> quanto ganha.
DIR COS DIS
S1.2: Não, a gente já sabe aqui,
não, a gente <...> quanto ganha.
S2.3: Eu sei, mas por exemplo, se o
critério utilizado pela empresa na
atribuição dos salários é empregado
com mais de 10 anos ganha salário x’,
aí a gente vem aqui ‘José trabalha há
quantos anos na empresa.
ELP* ELP ELP
S2.3: Eu sei, mas por exemplo, se o
critério utilizado pela empresa na
atribuição dos salários é
empregado com mais de 10 anos
ganha salário x’, aí a gente vem
aqui ‘José trabalha há quantos anos
na empresa.
S1.3: <...>
[recomeça a ler as questões]
INF EXP ELP
S1.3: <...>
[recomeça a ler as questões]
S2.4: E tira pelas características dele
ao mesmo tempo.
ELP ELP ELP
S2.4: E tira pelas caracter ísticas
dele ao mesmo tempo.
S1:[lê questões] INF EXP IGN
S1:[lê questões] ELP ELP ELP
S2.5: Ó, vem aqui [aponta uma
questão] e[aponta aqui outra]
S1.4: [olha as questões]
Se citar a escolaridade
DIR COS CNT
* Atentar para o fato de que, na díade anterior, a verbalização S1.2 pôde ser categorizada, em Efeito/FBK, como discordância. No
entanto, quando passou a se referir como verbalização do falante, não houve possibilidade de categorização do ponto de vista da função
em virtude dos elos perdidos, daí ser ELP. Situações similares ocorreram outras vezes.
S2.6: Se está implícita a
escolaridade, vem aqui e aqui
S1.5: Acho que é a mesma coisa, quer
ver?
INF EXP CCD
S1.5: Acho que é a mesma coisa,
quer ver?
S2.7: Mas a gente <...> por um, né? INF IFO ELP
S2.7: Mas a gente <...> por um, né? S1.6: Vamos fazer um? Questão 1. ELP ELP ELP
S1.6: Vamos fazer um? Questão 1. S2.8: Questão 1. DIR COS CCD
S2.8: Questão 1.
Primeira escolha.
1ª infor
mação
S1.4: [olha as questões]
Se citar a escolaridade
S2.6: Se está implícita a escolaridade,
vem aqui e aqui
OUT OUT CNT
Moroz - Rubano - Lopes - Maurutto - Lucci - Utida - Bocchi
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 2, 179-195
190
lizações de uma dupla de participantes traba-
lhando em uma tarefa de resolução de proble-
mas . Como já salientado, a tarefa dos partici-
pantes era descobrir o salário de José, com o
menor número de questões. Nesse tipo de
tarefa, parte das informações é deliberada-
mente omitida e disponível ao participante a
partir de questões por ele formuladas. O rol de
questões fornecidas para escolha varia em
abrangência: há questões cujas informações
decorrentes permitem eliminar conjunto
maior de alternativas do que outras, dirigindo
as escolhas posteriores.
Na Tabela 3, apresenta-se, como exemplo,
parte do fluxo de verbalizações dos partici-
pantes categorizadas por díade falante-ou-
vinte (Forma 3); a função da verbalização do
falante foi classificada segundo categorias e
subcategorias, e a ação do ouvinte foi consi-
derada enquanto efeito (feedback).
7
A utilização da Forma 3 permitiu evidenciar
as seqüências de verbalizações, por díades fa-
lante-ouvinte, que levaram à escolha de cada
questão, as questões escolhidas e as categorias
das verbalizações.
Na Tabela 4, apresentam-se os dados produ-
zidos pela aplicação da proposta de catego-
rização.
A dupla de participantes analisada chegou à
resposta-solução com cinco questões (ques
tões 1, 20, 18, 8 e 16); considerando-se ser este o
número mínimo de questões necessárias para
obter as informações que levam à resposta-
solução, essa dupla atingiu o grau máximo de
eficiência. Até a chegada à resposta-solução,
ocorreram seis - a
última referente ao encaminhamento para a
solução -, sendo a 2 seqüência a que teve mais
elos orais.
Levar em conta as questões escolhidas per
mite verificar a "qualidade" das informações
obtidas, aspecto que precisa ser considerado
na resolução desse tipo de tarefa, já que
algumas são mais “eficientes” por eliminarem
maior número de alternativas. Exemplo disso
é a questão 1, que explicita critérios para atri-
buição dos salários, a qual foi escolhida pela
dupla em primeiro lugar; as questões subse-
qüentes relacionam-se à primeira como se
dela fossem subconjunto: os participantes
obtiveram as informações das mais abrangen-
tes às mais específicas, sendo compreensível
que a 2 .seqüência, queéadedecisão acerca de
qual caminho seguir diante dos critérios, te
nha sido a maior.
Na Tabela 4, verifica-se que, no total, ocorre-
ram 85 elos orais (perfazendo 85 díades falan-
te-ouvinte), 07 dos quais (8,23%) foram per-
didos.
Quanto à verifica-se que em maior
freqüência apresentam-se verbalizações com
função com 41 ocorrências
(48,23%), e com 29 ocorrências
(34,11%). Praticamente não ocorreram elos
orais com função expressiva (somente um
caso), o que não é de se estranhar já que a
tarefa proposta se configura mais como um
"desafio cognitivo", em que expressões afe
tivas e emocionais apresentariam baixa proba
bilidade de ocorrência. No entanto, é possível
que, em situações terapêuticas ou em situa
ções problemáticas pessoais, elos orais com
função expressiva aparecessem com maior
freqüência, suposição que pode ser testada em
estudos posteriores.
Quanto às subcategorias, verifica-se que infor-
mações, sugestões de cursos de ação e expli-
cações (IFO+RTM ifo/ COS+RTMcos/ EXP)
apareceram com, respectivamente, 25, 20 e 12
ocorrências. Informações e explicações apare-
cem associadas a indicações e sugestões de
cursos de ação. Interessante destacar a presen-
ça da categoria RTM, que identifica a presença
de periódicas seja do conjunto de
informações/explicações já elaboradas, seja
do objetivo/ problema, ou ainda dos cursos
de ação já produzidos. Essas retomadas, por
sua vez, pressupõem meios apropriados e
construídos para tal, tais como releitura de
material escrito, registros de informações que
possam ser consultados. A consulta a esse ma-
terial, que pode ser inferida na resolução indi-
vidual de problema por indícios como olhar
para o registro das anotações feitas, é clara-
mente detectada na dupla, ao emitir verbali-
zações sobre o realizado anteriormente. Um
-
seqüências de verbalizações
função,
informativa,
diretiva,
-
-
-
a
-
a
-
retomadas
7Vale destacar que, durante o processo de elaboração das formas de representação e de categorização, foram utilizadas as verbalizações
de duas outras duplas de participantes (duplas 1 e 2). A categorização, cujos dados serão apresentados na Tabela 1, foi aplicada às
verbalizações de uma terceira dupla (dupla 3)
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 2, 179-195 191
Verbalizações e o estudo de eventos encobertos
INT (Interrupção) 10000001
IGN (Ignora) 22100005
DIS (Discordância) 1 10 1 4 0 2 18
CNT (Continuação) 2 18 0 10 5 1 36
CCD
(Concordância)
23131115
ELP (Elo Perdido) 51010007
OUT (Outros) 03040007
TOTAL 13 37 3*** 22 6 4 85
* Verbalização categorizada duplamente (DIR/IFO).
** Verbalização categorizada duplamente (COS/IFO)
*** Verbalização categorizada duplamente (DIS/ IGN)
Tabela 4. Categorização das verbalizações ocorridas em díades.
1a.
Seqüência
2a.
Seqüência
3a.
Seqüência
4a.
Seqüência
5a.
Seqüência
6a.
Seqüência
CATEGORIAS Freqüência Freqüência Freqüência Freqüência Freqüência Freqüência TOTAL
DIR (Diretiva) 5 13 2 7 2 0 29
IFO (Informativa)
EPS (Expressiva)
4
0
19
0
1
0
9
1
4
0
4
0
41
01
ELP (Elo Perdido) 33010007
OUT (Outros) 12040007
TOTAL 13 37 3 * 22 6 4 85
COS (Curso de
ação, ordem,
sugestão, etc.)
48221017
COS ritmo (Ritmo) 10000001
RTM cos (Retomada
de curso de ação,
etc.)
02010003
INV (Investigação) 03041008
EXP (Explicação) 35002212
IFO (Informação) 17142217
RTM ifo (Retomada
de Informação)
03050008
RTM obj (Retomada
de objetivo)
EPS (Expressão)
0
0
4
0
0
0
0
1
0
0
0
0
04
01
ELP (Elo Perdido) 33010007
OUT (Outros) 1204007
TOTAL 13 37 3** 22 6 4 85
SUBCATEGORIAS Freqüência Freqüência Freqüência Freqüência Freqüência Freqüência TOTAL
bom exemplo é a 2 seqüência, na qual há certo
predomínio da função informativa, que se ex-
pressa nos diálogos em que informações e
explicações (razões pelas quais determinado
curso de ação seria o mais adequado) são
fornecidas e retomadas, em especial os obje-
tivos da tarefa e as informações já obtidas a
partir da primeira questão, o que indica sob
controle de que a dupla foi encaminhando a
solução do problema.
Considerar a reação do ouvinte ao falante
(Efeito/FBK) permite verificar que as infor
mações, explicações, e indicações de cursos de
ação foram predominantemente "comple
mentadas" pelo interlocutor, indicando que
cada um dos participantes ficou, na maior
parte do tempo, sob controle das informações
que o outro fornecia. E de que forma foram
a
-
-
Moroz - Rubano - Lopes - Maurutto - Lucci - Utida - Bocchi
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 2, 179-195
192
complementadas? Focalizando os efeitos das
verbalizações, verifica-se que a maior fre
qüência foi de continuidade (CNT), com 36
ocorrências (42,35%), com freqüência menor
de discordâncias (DIS), com 18 ocorrências
(21,17%), e concordâncias (CCD), com 15 ocor
rências (17,64%), possibilitando a “cons
trução” do caminho que conduziria à respos
ta-solução. As discordâncias apresentam fun
ção produtiva: o participante, sob controle da
fala do interlocutor, questionou-o acerca do
caminho indicado ou informação fornecida,
contrapondo a eles outras alternativas e/ou
exigindo do parceiro a explicitação das razões
pelas quais estaria sugerindo algo (sob con
trole de que a verbalização foi emitida). Tal
procedimento parece ajudar na eliminação de
alternativas pouco prováveis de levarem à
solução e na consideração daquelas que possi
velmente contribuirão para a resolução do
problema. As discordâncias também revelam
, o que possibilita que ambos os ele
mentos da dupla possam ficar sob controle
das mesmas informações para prosseguir em
direção à solução.
Para a resolução deste tipo de problema, os
dados obtidos revelam a importância de:
Estar sob controle do problema
Estar sob controle do que já se sabe acerca
dele
Estar sob controle de alternativas possíveis a
serem escolhidas
Eliminar alternativas que se prevê não con-
duzirem à solução. A previsão das conse-
qüências de dada conduta, que possibilita a
eliminação de determinadas alternativas ex-
pressou-se, no caso dos participantes obser-
vados, por formulações do tipo “Se........,
então” .
No tipo de problema proposto, seria possível a
formulação de uma regra que levaria à so-
lução - por exemplo, escolher as questões mais
abrangentes e, em seqüência, as específicas
delas decorrentes -, no entanto isso não foi
solicitado aos participantes. Considerando as
falas dos participantes é possível inferir que
tal regra poderia ter sido formulada corre-
tamente.
Como salientado, no estudo da resolução de
problemas, defronta-se com a problemática
dos eventos encobertos, sendo a busca de
procedimentos metodológicos para a publici-
zação de elos que poderiam permanecer enco-
bertos, um desafio a ser superado. Questões
metodológicas se fazem presentes, tanto no
que se refere ao modo de tornar públicos tais
elos, quanto ao tratamento analítico das infor-
mações obtidas. Foi nessa última vertente que
o presente trabalho foi apresentado, já que
procurou discutir questões metodológicas
decorrentes da aplicação de uma proposta
para a publicização de elos que poderiam per-
manecer encobertos durante a resolução de
problemas.
O exposto anteriormente sobre representação
e categorização de verbalizações permite de-
fender que a utilização das duas formas de
representação (Formas 2 e 3) são comple-
mentares, sendo útil sua aplicação conjunta. A
proposta de categorização parece promissora
no tratamento das verbalizações registradas,
possibilitando obter informações sobre o
fluxo comportamental dos indivíduos em
-
-
-
-
-
-
-
correções -
Considerações Finais
contexto de resolução de problemas. Embora
aparentemente promissoras, tanto as formas
de representação quanto a categorização pro-
postas deveriam continuar sendo avaliadas.
No campo da resolução de problemas, novos
estudos utilizando outros tipos de tarefa
permitiriam avaliar sua aplicabilidade intra-
área; já estudos envolvendo interações verbais
entre crianças em situação natural, seme-
lhantes aos de Bijou, Chao e Ghezzi (1988) e
estudos na área clínica poderiam avaliar sua
generalidade inter-áreas.
!
!
!
!
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 2, 179-195 193
Verbalizações e o estudo de eventos encobertos
Anexo 1
Questões oferecidas aos participantes com
respectivas informações
Tarefa: Descubra qual é o salário
A companhia para a qual José trabalha paga
até 03 S.M. (salários mínimos) para alguns dos
empregados, de 4 a 10 S.M. para outros e,
ainda, mais de 10 S.M. para um outro grupo de
empregados. O objetivo é descobrir qual é o
salário de José.
Algumas condições serão dadas a você: a) há
um conjunto de questões que permitem obter
informações adicionais; b) estas questões se-
rão apresentadas a você em uma folha.
Leia todas as questões antes de escolher as que
lhe permitem obter as informações mais
relevantes para descobrir qual é o salário de
José.
Há apenas uma restrição: você deve descobrir
o salário, fazendo o menor número possível de
questões; daí ser importante pensar bem sobre
as questões que serão feitas.
1. Quais os critérios utilizados pela empresa
na atribuição de salários?
Para definir o nível salarial, a empresa leva
em conta as seguintes informações sobre
seus funcionários: nível de escolaridade;
tempo de trabalho na própria empresa;
experiência anterior na função que exerce;
disponibilidade de horário fora do expe-
diente ou para realizar viagens.
2. José já completou o 1º grau (até a oitava sé-
rie)?
Sim, José já completou o 1º grau.
3. José já completou o 2º grau?
Sim, José já completou o 2º grau.
4. José tem curso superior completo?
Não, José não freqüenta, nem freqüentou,
curso superior.
5. José trabalha há mais de 5 anos na empre-
sa?
Não, José não trabalha há mais de 5 anos na
empresa.
6. José trabalha há 5 anos na empresa?
Não, José não trabalha há 5 anos na em-
presa.
7. José trabalha há menos de 5 anos na empre-
sa?
Sim, José trabalha há menos de 5 anos na
empresa.
8. José tem experiência anterior na função que
exerce?
Sim, José tem experiência anterior na fun-
ção que exerce.
9. José tem disponibilidade de horário fora do
expediente ou disponibilidade para via-
gens?
Não, José não tem disponibilidade de horá-
rio fora do expediente, nem disponibili-
dade para viagens.
10.José tem cursos extracurriculares, além da
escolaridade formal?
Sim, José tem cursos extracurriculares,
além da escolaridade formal; ele fez cursos
de informática.
11.Qual é a idade de José?
José tem 41 anos de idade.
12.José tem filhos em idade escolar?
Sim, José tem três filhos, todos em idade
escolar.
13.A empresa considera em sua política sala-
rial o fato de os funcionários terem filhos
em idade escolar?
Não, o número de filhos dos funcionários e
sua faixa etária não são utilizados como
critério de atribuição salarial.
14.A empresa considera em sua política sa-
larial a idade dos funcionários?
Não, a idade dos funcionários não é utili-
zada como critério de atribuição salarial.
15.Qual é o nível mínimo de escolaridade exi-
gido pela empresa em que José trabalha?
O nível mínimo de escolaridade exigido
pela empresa em que José trabalha é o fun-
damental completo.
16.Há quanto tempo José trabalha nesta em-
presa?
José trabalha nesta empresa há dois anos.
17.Quanto ganha um funcionário com funda-
mental completo?
O funcionário ganha: a)até 3 salários míni-
Moroz - Rubano - Lopes - Maurutto - Lucci - Utida - Bocchi
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 2, 179-195
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Resumos de Comunicações Científicas da 28ª.
Reunião Anual de Psicologia
Revista Brasileira de
Terapia Comportamental e Cognitiva, 3
-mos, se tiver até 5 anos de tempo de
serviço na própria empresa e se não tiver
disponi-bilidade de horários fora do
expediente; b)de4a10salários mínimos, se
tiver mais de 5 anos de tempo de serviço na
empresa e se tiver disponibilidade de
horários fora do expediente.
18.Quanto ganha um funcionário com médio
completo?
O funcionário ganha: a)de 4 a 10 salários
mínimos, se tiver até 5 anos de tempo de
serviço na empresa e se tiver experiência
anterior na função que exerce; b)mais de 10
salários mínimos, se tiver mais de 5 anos de
tempo de serviço na empresa e se não tiver
experiência anterior na função que exerce.
19.Quanto ganha um funcionário com
superior completo?
O funcionário ganha: a)de 4 a 10 salários
mínimos, se não tiver disponibilidade de
horários fora do expediente e não tiver
experiência anterior na função que exerce;
b)de 10 a 15 salários mínimos, a)se tiver
menos de 5 anos de tempo de serviço na
empresa e não tiver experiência anterior na
função que exerce; c)mais de 15 salários
mínimos, tiver disponibilidade de horários
fora do expediente e tiver experiência ante-
rior na função que exerce.
20.Qual é o nível de escolaridade de José?
José tem o médio completo.
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2005, Vol. VII, nº 2, 179-195 195
Verbalizações e o estudo de eventos encobertos
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30/11/2005
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Psicologia: Teoria e Pesquisa, 13
Psicologia: Teoria e Pesquisa, 13
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Assertividade e passividade na terapia analítico-comportamental: análise de um
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Verbal Behavior, 9
Psicologia: Teoria e Pesquisa, 13
ª
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Article
Full-text available
Behavior analysis distinguishes itself from other behaviorist approaches in the treatment it offers to the issue of subjectivity, which includes the use of the concept of private events. Since behavior analysis has been related to pragmatism, on the basis of the criteria used to validate scientifi c concepts and propositions, this paper discusses the scientifi c character of the concept of private events in the light of those criteria. The paper presents James’s and Rorty’s statements concerning the relation between instrumentality and coherence in the validation of concepts and propositions. Those statements are used as a reference to the analysis of the validity of the concept of private events in the treatment of problems related to subjectivity, considering on two problems: a) the lack of a consensus about the concept’s coherence with the behavior-analytic explanatory system; and b) the functions of the concept. We argue that behavior analysts have used the concept of private events under the control of phenomena of variable complexity, which might explain the lack of consensus about its coherence with the behavior-analytic explanatory system. When some sort of consensus about its coherence is reached, it lacks about its instrumentality. Thus, the recognition of coherence and instrumentality of the concept is dependent on the emission of the verbal response “private events” under the control of specific classes of events.
Article
Full-text available
This study addresses the relevance of some methodological strategies of the Applied Behavior Analysis to examine parental educative practices. An instrument and a concept related to the data collection and analysis are discussed from a theoretical and applied perspective: verbal reports and descriptive functional behavioral analysis. The conclusion, considering the limitations of the reports, is that the information acquired using this strategy in addition to the descriptive functional behavioral analysis permitted the inference of some hypotheses concerning the behavior of parents and children, which can be used in actions aimed to investigate and intervene on behavioral problems and social skills.
Article
Discutir a resotução de problemas, tal como interpretada por Skinner, envolvería colocar em foco sua conceítuação específica, estabelecendo conexões corn outros aspectos do comportamento humano, tais como comportamento governado por regras, manipulação de variáveis, auto controle e eventos encobertos. O presente trabalho restringir-se-á ao primeiro dos aspectos mencionados acima: a conceítuação específica da resotução de problemas. Quando Skinner discute a resolução de problemas, ele dá énfase arelação entre o individuo e a sítuação com a qual se defronta. Esta énfase implica em negar a idéia de que exista urna snuação problemática 'ern si'; urna sítuação poderá ou nao ser problemática, dependendo da relação que com ela o individuo estabelece. Se nao é possível falar em situação problemática 'em si', é preciso ter parámetros que permitam sua identiflcação. Ao apresentar o referencial conceitual da resolução de problemas, Skinner faz añrrnações que permitem concluir que dois parámetros devem estar presentes: 1)3 presença de urna condição retorçãdora (positiva ou negativa, já que haveria a possibilidade ou de promoção de urn estímulo reforçador ou de impedimento/ afastamento de um estímulo aversivo), e, 2)a auséncia momentanea de urna resposta que a promoveria. Embora esres dois parámetros sejam identificados, há lacunas na ínterprctação do autor e implicações para o pesquisador interessado em estudar a resolução de problemas. Urna delas, por exemplo, é identificada na questão: Como saber se uma resposta nao está momentáneamente disponivel? Em outras palavras, se a situação não é problemática 'em si', o que o pesquisador precisa observar de modo a concluir que a pessoa se defronta com urna situação problemática? Neste trabalho, omissões na interpretacáo de Skinner e suas tmptícacces seráo apresentadas e discutidas. Além disso, apresentar-se-a urna proposta de indicadores empíricos a serem utilizados para cada urn dos parámetros em questão.
Article
São descritas e comparadas concepções diversas sobre a consciência enquanto um evento cognitivo. Discute-se na literatura se a descrição de uma contingência deve vir antes ou depois da ocorrência de uma discriminação. São discutidos dados empíricos da literatura que procuram fundamentar os seguintes pontos: 1) possibilidade de sujeitos que solucionam problemas, sem que os descrevam; 2) se é necessário que a descrição de contingências ocorra antes da solução do problema; 3) se o aumento da freqüência do comportamento ocorre antes ou depois da descrição. Descrevem-se experimentos que concluem ser possível a solução de problemas sem prévia descrição das contingências em vigor.
Article
In a previous publication Bijou, Umbreit, Ghezzi, and Chao (1986a) outlined, in the form of a Manual, specific procedures for analyzing referential linguistic interactions based on Kantor’s Psychological Linguistics (1977). At that time, we focused primarily on the analysis of the speaker’s behavior. Here we present additional instructions, as well as revised and new data sheets, to be used for analyzing the linguistic behavior of both a speaker and a listener. Included also is an example of the use of this two-way analysis based on the conversation between two preadolescent girls.
Article
A set of procedures, based on J. R. Kantor’s analysis of referential linguistic interactions as a class of adjustive behavior, is presented for guiding raters in the analysis of videotapes showing two people talking to one another. The rater’s first task is to identify each interaction that involves a speaker’s initiation of a referent and a listener’s relevant reaction to it. To assist the rater, 14 guidelines, together with correct and incorrect examples and explanatory comments, are provided. The second task is to analyze some or all of the identified interactions in terms of their frequency of occurrence during a session, average duration, topography (verbal-vocal and gestural), and concurrent behaviors, plus the listener’s responses which are classified as narrative, mediative, or both. The rater also categorizes the time frame, reality dimension, persons, animals, objects and activities, and any associated feeling reactions. In addition, the rater surveys the speaker’s interactions in terms of their secondary linguistic function (secondary to the communicative function of language), as for example, to amuse, teach, persuade, and so on. Finally, the rater classifies the setting conditions prevailing during the sessions. Procedures are also provided for a complete two-way analysis of linguistic interactions, that is, when the listener also takes the role of the speaker by initiating a referent, and the speaker also responds as a listener. The basic recording forms used in making both a one-way and two-way analysis of linguistic referential interactions are included.
Article
The major contributions of operationism have been negative, largely because operationists failed to distinguish logical theories of reference from empirical accounts of language. Behaviorism never finished an adequate formulation of verbal reports and therefore could not convincingly embrace subjective terms. But verbal responses to private stimuli can arise as social products through the contingencies of reinforcement arranged by verbal communities. In analyzing traditional psychological terms, we need to know their stimulus conditions (“finding the referent”), and why each response is controlled by that condition. Consistent reinforcement of verbal responses in the presence of stimuli presupposes stimuli acting upon both the speaker and the reinforcing community, but subjective terms, which apparently are responses to private stimuli, lack this characteristic. Private stimuli are physical, but we cannot account for these verbal responses by pointing to controlling stimuli, and we have not shown how verbal communities can establish and maintain the necessary consistency of reinforcement contingencies. Verbal responses to private stimuli may be maintained through appropriate reinforcement based on public accompaniments, or through reinforcements accorded responses made to public stimuli, with private cases then occurring by generalization. These contingencies help us understand why private terms have never formed a stable and uniform vocabulary: It is impossible to establish rigorous vocabularies of private stimuli for public use, because differential reinforcement cannot be made contingent upon the property of privacy. The language of private events is anchored in the public practices of the verbal community, which make individuals aware only by differentially reinforcing their verbal responses with respect to their own bodies. The treatment of verbal behavior in terms of such functional relations between verbal responses and stimuli provides a radical behaviorist alternative to the operationism of methodological behaviorists.