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REVISTA VERDE DE AGROECOLOGIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
GRUPO VERDE DE AGRICULTURA ALTERNATIVA (GVAA) ISSN 1981-8203
Artigo Científico
Revista Verde (Mossoró – RN – Brasil) v.6, n.2, p.212 - 220 julho/setembro de 2011
http://revista.gvaa.com.br
A PERCEPÇÃO DOS QUINTAIS RURAIS POR CRIANÇAS DE SÃO
MIGUEL, RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL
Ana Valeria Lacerda de Freitas
3Universidade Federal Rural do Semi Arido - UFERSA, Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia. CP. 137, CEP. 59625-
900, Mossoró, RN, Brasil.
Maria de Fatima Barbosa Coelho
4Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro Brasileira-UNILAB, Av. da Abolição, 7. CEP 62790-000,
Redenção-CE, Brasil.
Sandra Sely Silveira Maia
3Universidade Federal Rural do Semi Arido - UFERSA, Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia. CP. 137, CEP. 59625-
900, Mossoró, RN, Brasil.
Rodrigo Aleixo Brito de Azevedo
4Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro Brasileira-UNILAB, Av. da Abolição, 7. CEP 62790-000,
Redenção-CE, Brasil.
Resumo - Os quintais são espaços agroflorestais que mantém diversas espécies medicinais e as crianças são atores
importantes na manutenção do conhecimento sobre essas espécies. O objetivo do presente trabalho foi analisar a
percepção dos recursos genéticos vegetais existentes nos quintais das crianças e adolescentes em São Miguel, RN.
Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas e oficinas com a confecção de desenhos dos quintais pelas crianças. Em
47% dos desenhos estavam presentes elementos da fauna. As 23 crianças entrevistadas citaram um total de 82 táxons,
abrangendo 41 famílias botânicas. As famílias com maior número de espécies foram Anacardiaceae, Rosaceae e
Rutaceae. As espécies mais citadas nos quintais foram Anacardium occidentale L. (18%), Mangifera indica L. (17%),
Spondia monbim L. (15%), Spondia purpurea L. (15%), Spondia tuberosa Arr. Cam.(14%). As crianças reconhecem
40% das espécies com uso alimentício, 20% ornamental e 17% medicinal. A participação ativa das crianças nas oficinas
e atividades desenvolvidas confirma o interesse pelo tema e a importância dos quintais tanto para o convívio da família,
como para o cultivo de plantas e criação de animais.
Palavras-chave: Caatinga, Etnobotanica, Plantas Medicinais
THE PERCEPTION OF RURAL HOMEGARDENS BY CHILDREN OF SÃO
MIGUEL, RIO GRANDE DO NORTE, BRAZIL
Abstract - The homegardens are agroforest systems has several medicinal species and children are important players in
maintaining knowledge about these species. The objective of this work was to verify the perception of plant genetic
resources existing in homegardens of children and adolescents in São Miguel, RN. Were conducted semi-structured
interviews and workshops with making drawings of homegardens by children. In 47% of drawings were present
elements of fauna. 23 children interviewed cited a total of 82 taxa, covering 41 botanical families. Families with the
largest number of species were Anacardiaceae, Rosaceae and Rutaceae. The species most cited in homegardens were
Anacardium occidentale L. (18%), Mangifera indica L. (17%), Spondia monbim L. (15%), Spondia purpurea L.
(15%), Spondia tuberosa Arr. Cam.(14%). Children recognize 40% of species using food, 20% ornamental and 17%
medicinal. The active participation of children in the workshops and activities developed confirms the interest by theme
and the importance of homegardens for both the conviviality of the family, as for the cultivation of plants and animals.
Key words: Caatinga, Ethnobotany, Medicinal Plants
INTRODUÇÃO
Os quintais são subsistemas de uso da terra que
possuem importância sócio-econômica, cultural e
ambiental, principalmente no semi-árido brasileiro, onde
as dificuldades são agravadas pelas condições
edafoclimáticas típicas da região. De acordo com
Blanckaert et al. (2004), os quintais possuem grande
importância como fonte de recursos para os habitantes das
caatingas e matas secas, pois garantem diversidade à
produção agrícola familiar. Os quintais são sistemas
tradicionais resultantes de conhecimentos acumulados e
transmitidos através de gerações (ROSA et al. 2007). De
acordo com Diegues (1996), estes conhecimentos são
encontrados junto às populações tradicionais e são
essenciais na manutenção da biodiversidade.
Entretanto, observa-se tendência ao desaparecimento
do conhecimento motivado pela ação constante da
modernidade. Nesse sentido, o resgate desses
conhecimentos tem merecido atenção especial nos últimos
anos, principalmente devido à aceleração no processo de
aculturação e à erosão genética provocada pela forte
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pressão antrópica e uso insustentável dos recursos naturais.
Assim, estudos sobre o conhecimento e uso dos recursos
naturais pelas populações locais, bem como os impactos de
suas práticas sobre a biodiversidade são fundamentais
(ALBUQUERQUE & ANDRADE, 2002; DUQUE-
BRASIL et al. 2007).
Neste contexto, a etnobotânica é um campo
interdisciplinar que compreende o estudo e a interpretação
do conhecimento, significação cultural, manejo e usos
tradicionais dos elementos da flora (CABALLERO, 1979).
A etnobotânica compreende também o estudo das
sociedades humanas, passadas e presentes, e suas
interações ecológicas, genéticas, evolutivas, simbólicas e
culturais com as plantas podendo, suas investigações,
reunir informações acerca de todos os possíveis usos de
plantas, como uma contribuição para o desenvolvimento
de novas formas de exploração dos ecossistemas (BRITO
& COELHO, 2002; FONSECA-KRUEL & PEIXOTO,
2004; HEIDEN, 2006; ALVES et al., 2007).
Estudos etnobotânicos recentes têm enfocado o quintal
rural (NODA & NODA, 2003) e o urbano (CARNIELO et
al., 2010), dentre outros, como uma importante unidade de
paisagem reveladora da incorporação, uso e conservação
de biodiversidade. Os quintais podem ser considerados
relevantes depositários de germoplasma, além de outros
aspectos como segurança alimentar, estético e cultural
(AMOROZO, 2002). Para Freire et al. (2005), o quintal é
um laboratório da vida no contexto da agricultura familiar,
enquanto que para Oakley (2004), a conservação dos
quintais é uma responsabilidade cultural.
De acordo com Albuquerque et al. (2005), muito pouco
se conhece acerca da percepção local e estrutura
fitossociológica de quintais no Brasil. No Rio Grande do
Norte, são raros os registros de investigações sobre
quintais na literatura (MOSCA & LOIOLA, 2009;
GUERRA et al. 2010). Assim, realizou-se um estudo
etnobotânico sobre quintais sob a percepção das crianças e
adolescentes em São Miguel-RN, município com grande
expressão da agricultura familiar, conseqüentemente, com
comunidades tradicionais detentoras de amplo
conhecimento.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi desenvolvido no Município de
São Miguel situado na altitude de 679 m, longitude 38º 29’
49” e latitude 6º 12’ 43”, distante 444 Km de Natal, capital
do estado do Rio Grande do Norte. O clima é tropical
semi-árido, com precipitação pluviométrica anual de 788
mm e período chuvoso nos meses de janeiro a junho. A
temperatura média é 28ºC, com máxima de 36ºC e mínima
de 21ºC e a umidade relativa do ar é de 66%, com
insolação de 2.700 horas por ano. A vegetação é
caracterizada como caatinga hiperxerófila. Os solos são
argissolos com fertilidade média a alta, textura argilosa
bem drenada. São Miguel encontra-se com 100% de seu
território inserido na Bacia Hidrográfica do Rio Apodi-
Mossoró, abastecido pelo Aqüífero Cristalino e Aluvião
(IBGE, 2008).
O Sítio Cruz está localizado na zona rural do município
de São Miguel, a 6 Km da sede, fazendo divisa com o
município de Pereiro-CE, sendo composto por 110
residências. Apesar de possuir uma Escola Municipal,
observa-se a baixa escolaridade dos membros da
comunidade. Os serviços de saúde são precários, e muitos
moradores são obrigados a procurar atendimento no
hospital da cidade ou em Pereiro-CE, município vizinho. A
agricultura de subsistência, a criação de pequenos animais
e a exploração de pedras para confecção de
paralelepípedos são as principais atividades econômicas. A
presença de quintais agroflorestais ocorre na maioria das
residências da comunidade.
Foram realizadas visitas à Escola Municipal Manoel
Vaz de Lima, localizada no Sítio Cruz, para contato inicial
com os professores e alunos e expor a idéia do trabalho.
Neste momento, foi apresentado o objetivo do trabalho e a
importância da participação das crianças e adolescentes no
estudo. Assim, foram agendadas oficinas visando
sensibilizar os alunos quanto à importância dos quintais
para toda a família. Na escola funcionam turmas de 1ª a 4ª
séries do ensino fundamental, além do Programa de
Educação de Jovens e Adultos (EJA). À tarde, período em
que foram realizadas todas as visitas, estudam 48 crianças
e adolescentes, na faixa etária de sete a doze anos, que
cursam da 1ª a 4ª série do ensino fundamental.
Oficinas são reuniões onde os participantes discutem
problemas e potencialidades, promovendo o
aprofundamento de conceitos básicos e questões que
constituem a referência para ações. De acordo com
Costantin (2005) as oficinas são reuniões que contam com
um pequeno grupo de informantes e um animador para
intervir e animar as discussões, devendo ser valorizadas
como forma de abordagem qualitativa. As oficinas foram
realizadas no período de 16 a 30 de outubro de 2008
(Figura 1).
No último encontro, os alunos foram convidados a
confeccionar os desenhos de seus quintais e
posteriormente, apresentá-los. Conforme Vivan (2000) a
forma de representação utilizando desenhos é importante
porque deixa clara a possível função das espécies,
entendida pelos diferentes atores sociais, dentro de um
quintal agroflorestal ou de outro tipo de sistema similar.
Além disso, no término dessa atividade, solicitou-se que
cada criança, escrevesse os nomes das plantas presentes
nos seu quintal. Assim, pode-se diagnosticar a composição
dos quintais de 23 alunos.
As etnoespécies apresentadas foram identificadas com
auxílio de bibliografia especializada. Todas as oficinas
foram apresentadas utilizando material bastante ilustrado,
com o auxílio de aparelho multimídia, para dinamizar e
facilitar a compreensão dos alunos. Esses encontros foram
registrados com câmera digital e anotações. Além disso, no
intuito de manter contatos periódicos com as crianças e
adolescentes, foram realizadas quinzenalmente, visitas de
curta duração à escola com a devida permissão dos
professores.
Após a apresentação teórica do assunto, as crianças e
adolescentes formaram pequenos grupos e receberam os
materiais necessários para que desenhassem os quintais de
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suas casas. Quando todos concluíram, houve a
apresentação, de forma voluntária, de alguns alunos, que
relataram as características e representações de seus
quintais, bem como as experiências vividas neste
ambiente.
Figura 1. Oficinas para a confecção dos desenhos de quintais do Sitio Cruz, São Miguel, RN.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em todas as visitas e oficinas realizadas na Escola
Municipal Manoel Vaz de Lima, localizada no Sítio Cruz,
observou-se constante interesse das crianças e adolescentes
na proposta de estudo, obtendo-se grande participação dos
mesmos nas atividades desenvolvidas. A metodologia das
oficinas e confecção de desenhos revelou-se eficiente para
atingir os objetivos do estudo.
Nos desenhos foi possível observar características
particulares das residências do Sítio Cruz, como por
exemplo, a presença de cisternas de placas em todas as
casas. Esse resultado pode estar relacionado à importância
que estas estruturas apresentam para as famílias e,
conseqüentemente para as crianças e adolescentes do local.
Apesar de haver água encanada na comunidade, as
cisternas de placa representam alternativa eficiente no
armazenamento de água, bem como na preservação da
qualidade nos períodos mais secos do ano.
Os alunos procuraram ilustrar em seus desenhos
características inerentes aos quintais de suas casas, como a
presença de cercas, currais, faxinas e chiqueiros,
destacando a presença de elementos como árvores, frutas,
flores, hortas, pássaros, chuva, varais de roupas, antenas
parabólicas e pessoas exercendo algum tipo de atividade
(Figura 2).
Figura 2. Desenhos de quintais do Sitio Cruz, São Miguel, RN.
Em 47% dos desenhos foi constatada a presença de
animais domésticos, como galinhas, cachorros, gatos,
porcos, vacas, cavalos e jumentos, demonstrando, assim, a
interação entre plantas e animais nesses espaços. Siqueira
et al. (1998) em trabalho realizado com crianças de 1ª a 4ª
série de uma escola em Recife-PE verificou que os
organismos que permeiam o ambiente socialmente
construído, como animais domésticos e plantas frutíferas,
foram representados com maior clareza e freqüência, assim
como ocorreu também no presente estudo.
Os quintais são espaços com alta diversidade de
espécies. Dois quintais apresentaram 28 e 26
etnovariedades respectivamente, enquanto os demais
quintais apresentaram de 4 a 24 etnovariedades. A
composição floristica dos quintais foi de 82 plantas com
denominações locais distintas que correspondem a
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etnovariedades. Verifica-se na Tabela 1 que as 23 crianças
citaram um total de 82 táxons pertencentes a 41 famílias botânicas.
Tabela 1 - Plantas presentes nos quintais agroflorestais do Sítio Cruz, São Miguel-RN, de acordo com as crianças e adolescentes.
Nc=número de citações; Hab=habito de crescimento; N=nativa; E=exótica; ab=arbórea; at=arbustiva; hb=herbácea; tr=trepadora;
ra=rasteira; al=alimentícia; med=medicinal; orn=ornamental; ou=outros usos. São Miguel, RN.
FAMÍLIA/espécie
Etnovariedade
Nc
Hab
N/E
Categoria de uso
ANACARDIACEAE
Anacardium occidentale L.
Cajueiro
18
ab
N
al;med;ou
Mangifera indica L.
Mangueira
15
ab
E
al;med
Spondias monbim L.
Cajá
03
ab
N
al;med
Spondias purpurea L.
Serigüela
14
ab
E
l;orn
Spondias tuberosa Arr. Cam.
Cajarana
08
ab
N
al;med
ANNONACEAE
Annona muricata L.
Graviola
06
ab
E
al;med
Annona squamosa L.
Pinheira
04
ab
E
al
APIACEAE
Daucus carota L.
Cenoura
02
hr
E
al
Anethum graveolens L.
Endro
02
hr
E
med
APOCYNACEAE
Hancornia speciosa Gomez
Mangaba
01
ab
N
al;med
Catharanthus roseus (L.) Don.
Boa tarde
01
hb
E
orn
Amaranthaceae
Amaranthus viridis L.
Bredo
01
hb
N
al
ARECACEAE
Cocos nucifera L.
Coqueiro
03
ab
E
al
ASTERACEAE
Lactuca sativa L.
Alface
01
hb
E
al
Dahlia pinnata
Rosa Dália
01
at
E
orn
BIGNONIACEAE
Crescentia cujete L.
Coité
03
ab
N
med;orn;ou
Tabebuia impetiginosa (Mart. Ex. DC.) Standl.
Pau d’arco
01
ab
N
med;orn
BIXACEAE
Bixa orellana L.
Urucum
03
at
N
al;med
BOMBACACEAE
Pachira aquatica Aubl.
Castanhola
01
ab
E
orn
BRASSICACEAE
Nasturtium officinale R. Br.
Agrião
03
hb
E
al
CACTACEAE
Opuntia sp.
Palmatória
02
hb
N
al;orn
CANNACEAE
Canna x generalis
Bananinha
01
hb
N
orn
CAPPARACEAE
Capparis cynophallophora L.
Feijão Bravo
03
at
N
ou
CARICACEAE
Carica papaya L.
Mamoeiro
12
at
E
al
CHENOPODIACEAE
Chenopodium ambrosioides L.
Mastruz
04
hb
N
med
CONVOLVULACEAE
Ipomoea batatas
(L.) Lam.
Batata doce
02
ra
N
al
CRASSULACEAE
Kalanchoe pinnata (Lamarck) Persoon
Corama
04
hb
E
med
CUCURBITACEAE
Sechium edule Sw.
Chuchu
02
tr
E
al
Curcubita pepo L.
Jerimum
01
ra
N
al
EUPHORBIACEAE
Croton sp.
Crote
02
at
E
orn
Manihot esculenta Crantz
Macaxeira
04
at
N
al
Croton sonderianus
Marmeleiro
01
at
N
med
LAMIACEAE
Plectranthus barbatus Andr.
Boldo
02
hb
E
med
Mentha x villosa.
Hortelã
07
hb
E
med
Plectranthus amboinicus
Malvarisco
05
hb
E
med
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Ocimum basilicum.
Manjericão
02
hb
E
med
LAURACEAE
Persea americana Mill.
Abacateiro
03
at
E
al
Ocotea glomerata (Ness)
Louro
01
at
E
al
FABACEAE - CAESALPINIOIDEAE
Senna spectabilis (DC.)
Canafístula
07
hb
N
orn
Caesalpinia pyramidalis Tul.
Catingueira
01
ab
N
med;orn
Delonix regia (Boj. ex Hook) Raf.
Flamboyant
01
ab
E
orn
Caesalpinia echinata Lam.
Pau Brasil
02
ab
N
orn
FABACEAE - MIMOSOIDEAE
Mimosa caesalpiniifolia Benth
Sabiá
04
ab
N
orn;ou
Prosopis juliflora (Sw.) DC.
Algaroba
01
E
ou
Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong
Timbaúba
05
ab
N
orn;ou
FABACEAE - PAPILIONOIDEAE
Arachis hipogaea L.
Amendoim
01
hb
N
al
Phaseolus lunatus L.
Fava
03
hb
N
al
LILIACEAE
Aloe vera L.
Babosa
01
hb
N
med
Allium cepa L.
Cebola
05
hb
E
al
MALPIGHIACEAE
Malpighia glabra L.
Acerola
06
at
E
al
MALVACEAE
Gossypium barbadense L.
Algodoeiro
03
at
N
orn;ou
Hibiscus rosa-sinensis L.
Papoula
02
at
E
orn
MORACEAE
Ficus carica L.
Figo
04
at
E
al
Artocarpus integrifolia L.
Jaca
01
ab
N
al
MUSACEAE
Musa paradisiaca L.
Bananeira
11
at
E
al
MYRTACEAE
Syzygium jambolanum (Lam.) DC.
Azeitona
01
ab
E
al;orn
Psidium guajava L.
Goiabeira
17
at
E
al;med
PASSIFLORACEAE
Passiflora edulis Sims
Maracujá
02
tr
N
al;med
POACEAE
Coix lacryma-jobi L.
Rosário de Nossa Senhora
01
hb
E
orn;med
Saccharum officinarum L.
Cana-de-açúcar
03
hb
E
al
Cymbopogon citratus Stapf
Capim santo
04
hb
E
med
Zea mays L.
Milho
02
hb
E
al;med
POLYPODIACEAE
Polypodium sp.
Samambaia
01
hb
N
orn
Punicaceae
Punica granatum L.
Romã
08
at
E
al;med
ROSACEAE
Malus sp.
Maçã
01
ab
E
al
Rosa sp. 2
Rosa Amélia
03
at
E
orn
Rosa sp. 3
Rosa céu
01
at
E
orn
Rosa sp.1
Rosa vermelha
01
at
E
orn
Rosa chilensis Jacq
Rosa menina
01
at
E
orn
RUTACEAE
Ruta graveolens L.
Arruda
04
hb
E
med
Citrus sinensis (L.) Osbeck
Laranjeira
15
at
E
al
Citrus limeta Risso
Lima
02
at
E
al
Citrus limonia Osbeck
Limão
07
at
E
al
Citrus reticulata Blanco
Tangerina
02
at
E
al
SAPINDACEAE
Paullinia sp.
Guaraná
01
at
N
al;med
Talisia esculenta Radlik.
Pitombeira
03
ab
N
al
SOLANACEAE
Solanum tuberosum L.
Batata inglesa
01
hb
E
al
Lycopersicum esculentum Mill.
Tomate
03
hb
E
al
VERBENACEAE
Lippia alba (Mill.) Brow.
Cidreira
11
hb
N
med
VITACEAE
Leea sp.
Café
01
hb
E
al
Vitis vinifera L.
Uva
01
hb
E
al
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As famílias com maior número de espécies foram
Anacardiaceae, Rosaceae e Rutaceae, cada uma delas com
cinco espécies (Figura 3).
0
1
2
3
4
5
6
número de especies
Figura 3. Famílias presentes nos quintais do Sitio Cruz, São Miguel, Rio Grande do Norte.
Observou-se que as plantas mais citadas foram as da
família Anacardiaceae como o cajueiro (Anacardium
occidentale L.), citado por 78% dos alunos, seguido da
mangueira (Mangifera indica L.), por 74%, da cajá
(Spondias monbim L.) por 62%, da serigüela (Spondias
purpurea L.) por 62% e da cajarana (Spondias tuberosa
Arr. Cam.) por 60,8% (Figura 4). Estes resultados diferem
da maioria dos trabalhos conduzidos no Brasil por outros
autores (AMOROSO et al. 2002; ALBUQUERQUE et al.
2005; AMARAL & GUARIM NETO, 2008;
CARNIELLO et al. 2010), que geralmente indicam que as
principais famílias são Lamiaceae e Asteraceae.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Anacardium occidentale L.
Mangifera indica L.
Spondias monbim L.
Spondias purpurea L.
Spondias tuberosa Arr. Cam.
Annona muricata L.
Annona squamosa L.
Daucus carota L.
número de citações
Figura 4. Espécies presentes nos quintais do Sitio Cruz, São Miguel, Rio Grande do Norte, com o maior numero de citações.
No Rio Grande do Norte apenas dois trabalhos
etnobotânicos foram conduzidos. Em um deles foi feito
levantamento de espécies vegetais usadas na medicina
popular em bairros urbanos nos municípios de Natal,
região Litorânea, e de Santa Cruz, região Agreste, por
Mosca & Loiola, (2008) e as famílias com maior
representatividade em número de espécies foram:
Lamiaceae (sete), Euphorbiaceae (quatro), Myrtaceae
(quatro), Zingiberaceae (três) e Lauraceae (três). Em outro
conduzido no Assentamento Moacir Lucena em Mossoro,
Guerra et al. (2010) verificaram que das famílias
catalogadas, as que apresentaram maior número de
espécies foram: Lamiaceae (10%), Rutaceae (8%),
Anacardiaceae (5%), Asteraceae (5%), Malvaceae (5%),
Myrtaceae (5%) e Rosaceae (5%). As características da
vegetação e a cultura específica em cada região podem
explicar estes resultados.
No nordeste brasileiro, principalmente no estado do
Ceará, que faz divisa com o município de São Miguel, o
cajueiro é uma das espécies mais importantes para as
populações, fornecendo sombra para os animais, polpa
para sucos e doces, castanha para a comercialização, lenha
para combustão domestica e para a venda e cascas para
remédios. Destaque-se que o cajueiro vem se constituindo,
ainda, grande expressão, dentre outras, pela utilização do
pedúnculo in natura e sob forma de sucos, doces e mais de
30 outros produtos que podem ser industrializados, em
pequena, média e grande escala, com tecnologia disponível
para uso imediato.
As espécies presentes nos quintais do Sítio Cruz são
em sua maioria herbáceas, seguidas das arbustivas e
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arbóreas (Figura 5). Monteles & Pinheiro (2007)
constataram os mesmos hábitos de crescimento
predominantes nas plantas do quilombo Sangrador no
Maranhão. Quanto à origem das espécies cerca de 50% são
nativas e 50% exóticas. As plantas nativas com utilização
alimentícia, medicinal, e ornamental indicam que a
incorporação dessas espécies nos quintais se deve às
interações estabelecidas pelos moradores com o ambiente
de ocorrência dessas plantas e com pessoas conhecedoras
dos respectivos atributos conferidos a estas, segundo
Carnielo et al. (2010).
arboreo
arbustivo
herbaceo
trepador
rasteiro
Figura 5. Habito de crescimento das espécies presentes nos quintais do Sitio Cruz, São Miguel, RN.
Na Figura 6 observam-se as categorias de uso
estabelecidas pelas crianças. As categorias foram
alimentícias, plantas usadas na alimentação humana;
medicinais, plantas utilizadas para fins terapêuticos;
ornamentais, plantas utilizadas na ornamentação de casa e
jardins; e outros usos, englobando os mais diversos usos,
como: construção, comércio, fornecimento de lenha e
carvão, sombra e arborização, artesanato, forragem,
veneno, repelente de insetos, cosméticos, além de uso
místico, doméstico e tecnológico.
40
17
20
13
4
4
2
alimenticio
medicinal
ornamental
medicinal e alimenticio
alimenticio e ornamental
medicinal e ornamental
alimenticio medicinal e ornamental
Figura 6. Porcentagem das categorias de uso estabelecidas por crianças para as espécies
do Sitio Cruz, São Miguel, Rio Grande do Norte.
Das espécies citadas 40% são fruteiras, verduras e
legumes utilizadas principalmente, para alimentação
humana, fato que comprova a importância dos quintais na
garantia da segurança alimentar das famílias. As espécies
com uso medicinal representam 17% e as ornamentais
20%. Essas três categorias são também as que se
destacaram em estudos conduzidos em diferentes regiões
do Brasil por Albuquerque e Andrade, (2002), Santos et al.
(2004), Pasa et al. (2005) e Carnielo et al. (2010).
CONCLUSÕES
As crianças e adolescentes possuem conhecimento de
grande número de espécies e tiveram participação ativa nas
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Artigo Científico
Revista Verde (Mossoró – RN – Brasil) v.6, n.2, p.212 - 220 julho/setembro de 2011
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oficinas e atividades desenvolvidas, demonstrando
interesse pelo tema e destacando a importância dos
quintais tanto para o convívio da família, como para o
cultivo de plantas e criação de animais.
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq, pela Bolsa de Produtividade concedida a
segunda autora e em especial as crianças de São Miguel
que participaram da pesquisa.
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Recebido em 30/03/2011
Aceito em 29/06/2011