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Fatores que contribuem para a ocorrência da gravidez na adolescência

Authors:
Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007 405
Fatores que contribuem para aFatores que contribuem para a
Fatores que contribuem para aFatores que contribuem para a
Fatores que contribuem para a
ocorrência da gravidez na adolescênciaocorrência da gravidez na adolescência
ocorrência da gravidez na adolescênciaocorrência da gravidez na adolescência
ocorrência da gravidez na adolescência
Gabriela Luiza da Silva
Eliana Faria de Angelice Biffi
Carla Denari Giuliani
Resumo: Este estudo se propõe a descrever os fatores
que direta ou indiretamente contribuem para a ocorrência
da gravidez na adolescência. A análise dos depoimentos
mostrou que não basta ter programas de educação e pre-
venção, mas sim programas que considerem os aspectos
sociais, culturais e psicológicos das adolescentes.
Palavras-chave: Gravidez. Adolescência. Prevenção.
Abstract: This study presents a purpose to describe the
factors that contribute direct or indirectly to the Pregnancy
occurrence during the adolescence. The analysis of the
personal accounts showed that it is not sufficient to have
programs to educate and to be prepared the adolescents.
The programs need to include the aspect of class, culture
and psychological of the adolescence.
Keywords: Pregnancy. Adolescence. To prevent.
Gabriela Luiza da Silva. Enfermeira do Hospital de Clínicas de Uberlândia.
Eliana Faria de Angelice Biffi. Professora doutora do Departamento de
Enfermagem da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de
Uberlândia.
Carla Denari Giuliani. Professora mestre do Departamento de Enferma-
gem da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia.
Fatores que contribuem para a ocorrência da gravidez na adolescência
406 Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007
IntroduçãoIntrodução
IntroduçãoIntrodução
Introdução
Apesar das ações de caráter Federal com progra-
mas de educação sexual, da ampla discussão em torno
da sexualidade, na escola, na televisão, e do acesso
mais fácil a métodos anticoncepcionais nestas últimas
décadas; as adolescentes não estão se prevenindo, e a
gravidez vem aumentando significativamente. A ocor-
rência da gravidez na adolescência envolve vários fa-
tores, como psicológicos, sociais, culturais e econômi-
cos. Este trabalho se propõe a fazer uma abordagem
mais complexa em relação à influência que esses fato-
res têm sobre o comportamento da adolescente, no
que se diz respeito à indução da relação sexual sem
prevenção, e do processo de gravidez precoce.
A adolescência é conceituada como uma fase de
desenvolvimento do ser humano situada entre a in-
fância e a idade adulta1. Segundo a Organização Mun-
dial de Saúde (OMS) a adolescência é delimitada cro-
nologicamente como a fase dos 10 aos 19 anos. Do
ponto de vista social, a adolescência corresponde ao
período da vida
na qual o indivíduo perde direitos e privilégios de
criança e começa a assumir direitos e responsabilida-
des de adulto2. Não se pode deixar de considerar que
a forma de inserção da adolescência na vida social
adquire formas e importância diferenciadas ao longo
da história, variando de sociedade para sociedade, de
cultura para cultura e de acordo com o contexto eco-
nômico de cada época. Atualmente, a sociedade atri-
bui a adolescência, como a etapa onde se deve dar
atenção exclusiva aos estudos e a preparação profissi-
onal. A constituição da família só deve acontecer após
a formação profissional e a conquista da estabilidade
financeira3.
Apesar da gravidez na adolescência não ser novi-
dade, este fenômeno tem sido objeto de grande inte-
resse, nos últimos anos, no Brasil, pois se constata um
aumento considerável do número de mães adolescen-
1REATO, L. F. N. Desenvolvi-
mento da sexualidade na ado-
lescência. In: GEJER, D.;
FRANÇOSO, L. A.; REATO,
L. F. N. R. Sexualidade e saúde
reprodutiva na adolescência. São
Paulo: Atheneu, 2001, p.1-10.
2ABDALLAH, Vânia O. S. et
al. Gravidez na adolescência:
experiência de um hospital
universitário. Pediatria Moder-
na, v. 34, n.9, p.561-570,
set.1998.
3ECOS. Estudos e Comunica-
ção em Sexualidade e Repro-
dução Humana. Instituto
Polis. Gravidez na adolescência.
Instituto Polis. DICAS 191.
2001. Disponível em: <http:
www.ecos.org.br/docs/dicas
_191.pdf >. Acesso em: 13
dez.2003.
Gabriela Luiza da Silva, Eliana Faria de Angelice Biffi, Carla Denari Giuliani
Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007 407
tes contrapondo a queda na fecundidade. Esta ques-
tão é apresentada como problema de saúde pública,
além de social; sendo em sua grande maioria uma gra-
videz precoce, inesperada, indesejada e não-planeja-
da. Acarretando assim conseqüências físicas, psicoló-
gicas e socioeconômicas.
TT
TT
Trajetórias da pesquisarajetórias da pesquisa
rajetórias da pesquisarajetórias da pesquisa
rajetórias da pesquisa
Tratou-se de um estudo no qual foi realizada uma
revisão bibliográfica e uma reflexão sobre os fatores
que interferem na gravidez em adolescentes (10 a 19
anos). A revisão da literatura foi baseada nos dados
Medline e Lilacs, acessadas através da Bireme e
Pubmed, no período de 1996 a 2004. A partir da leitu-
ra de resumos, livros e artigos pertinentes ao tema,
disponíveis na biblioteca da Universidade Federal de
Uberlândia (UFU).
Discussão teóricaDiscussão teórica
Discussão teóricaDiscussão teórica
Discussão teórica
Adolescência e sexualidadeAdolescência e sexualidade
Adolescência e sexualidadeAdolescência e sexualidade
Adolescência e sexualidade
A adolescência deve ser vista como etapa essenci-
al do processo de crescimento e desenvolvimento,
marcada pela transformação nos aspectos físicos e
psíquicos do ser humano, inserido nas mais diferentes
culturas4.
Ao final da adolescência espera-se que cada indi-
víduo tenha adquirido corpo adulto, capacidade
reprodutiva, responsabilidade social, independência
sexual, além de maturidade emocional e escolha pro-
fissional.
A puberdade que marca o início da vida reprodutiva
e é constituída pelas modificações físicas, é caracteri-
zada, principalmente, pela aceleração e desaceleração
do crescimento físico, mudança da composição cor-
poral, eclosão hormonal, envolvendo hormônios se-
xuais e evolução da maturação sexual.
Paralelamente às mudanças físicas evoluem aque-
4SAITO, M. I. Adolescência,
sexualidade e ética. In: GEJER,
D; FRANÇOSO, L. A.; REA-
TO, L. F. N. R. Sexualidade e
saúde reprodutiva na adolescência.
São Paulo: Atheneu, 2001,
p.51-8.
Fatores que contribuem para a ocorrência da gravidez na adolescência
408 Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007
5LEVISKY, D. L. Adolescência:
reflexões psicanalíticas. 2. ed.
São Paulo: Casa do Psicólogo,
1998.
las de ordem psicoemocional, como exemplo, a busca
da identidade, a tendência grupal, o desenvolvimento
do pensamento conceitual, a evolução da sexualidade;
havendo às vezes um descompasso entre o corpo,
pronto para a reprodução, e o psíquico despreparado
para esse evento4.
O(A) adolescente pode estar apto fisicamente para
exercer suas funções sexuais, mas encontra-se diante
de si as forças da cultura, da sociedade e dos riscos
que existem ante os desejos de plena liberação e de-
senvolvimento dessas funções5. Surgem questões
como homossexualidade, gravidez precoce, aborto,
DSTs/AIDS. Uma série de pressões e, repercussões
que recaem sobre a vida emocional do(a) adolescente.
As características psicológicas, sua expressividade
e manifestações ao nível do comportamento e da adap-
tação social são dependentes da cultura e da socieda-
de em que estão inseridos.
Segundo Araújo; Morés; Antunes6 a sexualidade
se estrutura e assume seu papel definitivo na adoles-
cência. As maneiras de lidar com ela são aprendidas e
precisa ser elaborada, cuidada, de forma que o(a) ado-
lescente se desenvolva sadiamente, e sua sexualidade
possa ser expressa, sem ter que estar associada a algo
proibido.
O desenvolvimento da sexualidade está intimamen-
te ligado ao desenvolvimento integral do indivíduo.
Da maneira como cada ser humano aprende a relacio-
nar-se consigo mesmo e com os outros e alcançar um
equilíbrio emocional que lhe permita manifestar seus
sentimentos; dar e receber afeto dependerá, em gran-
de parte, do exercício harmonioso de sua sexualidade.
A sexualidade é um atributo de qualquer ser hu-
mano. Mas para ser compreendida, não pode separá-la
do individuo como um todo. É muito mais do que
simplesmente ter um corpo desenvolvido, apto para
procriar e apresentar desejos sexuais. Trata-se, tam-
bém, de uma forma peculiar que cada individuo de-
senvolve e estabelece para viver suas relações pesso-
6ARAÜJO, V. M de; MORÉS,
A.; ANTUNES, H. S. Os di-
zeres das adolescentes sobre a
gravidez precoce: desafios para
a escola. Revista do Centro de
Educação, v.26, n.1, 2001. Dis-
ponível em: <http:www.
ufsm.br/ce/revista/revce/
2001/01/r5.htm>. Acesso
em: 13 dez.2003.
Gabriela Luiza da Silva, Eliana Faria de Angelice Biffi, Carla Denari Giuliani
Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007 409
ais e interpessoais a partir de seu papel sexual. Ela
fundamenta-se no aspecto biopsicossocial de cada in-
divíduo. Assim, ela é construída a partir de três ele-
mentos primordiais: o potencial biológico, o processo
de socialização e a capacidade psicoemocional. Nas
últimas décadas, a sociedade sofreu mudanças con-
tundentes com relação ao estilo de vida e aos valores
ligados à sexualidade. Com isto, deixou de exercer,
ativamente, o papel de controladora da vida sexual
dos jovens e transferiu para eles próprios a responsa-
bilidade por suas condutas sexuais. O exercício da
sexualidade pode ser uma fonte de imenso prazer e
de expressão de sentimentos profundos próprios do
encontro amoroso, mas também pode ser uma fonte
de graves transtornos na vida pessoal e social de um
indivíduo. A presença da AIDS e o aumento de gravi-
dez na adolescência são fatos constatados e que re-
forçam a hipótese de que a desinformação, a repres-
são, o silêncio, o medo e outros sentimentos negativos
parecem limitar as escolhas do(a) adolescente, ante a
vida sexual e reprodutiva, criando situações de difícil
atuação para pais e profissionais que lidam com jo-
vens.7
PP
PP
Perspectiva histórica e cultural da sexualidadeerspectiva histórica e cultural da sexualidade
erspectiva histórica e cultural da sexualidadeerspectiva histórica e cultural da sexualidade
erspectiva histórica e cultural da sexualidade
Portanto, a sexualidade é considerada uma das mais
importantes dimensões da condição humana, sendo
histórica e mutável.8 Segundo Davi e Rodrigues, o sexo
tem sido concebido de forma diferente pelas diversas
culturas, desta maneira se faz necessário compreen-
der a sexualidade humana como uma construção só-
cio-cultural e lingüística.9
As questões relativas à sexualidade surgiram com
a própria humanidade e vêm sendo discutidas, desde a
idade antiga até nossos dias, segundo concepções de
mundo que as pessoas têm, nas diferentes épocas e
sociedades. Cada sociedade impõe às pessoas viverem
a sexualidade segundo normas, valores e regras cons-
7GHERPELLI, M. H. B. V. A
educação preventiva em sexu-
alidade na adolescência. Série
Idéias, São Paulo: FDE, n.29,
p.61-72, 1996. Disponível em:
<http:www.crmariocovas.sp.
gov.br/eds_l.php?7=001>.
Acesso em: 13 dez. 2003.
8BELLOL. Expressões da se-
xualidade nas artes plásticas: a
construção do feminino e do
masculino em Magritte e Ar-
cimboldo. Boletim informativo
CDHIS, n.5, ano 3, Uberlân-
dia, 1995.
9DAVI, E. H. D. & RODRI-
GUES J. F. S. Os caminhos da
homossexualidade: Inserção
ou exclusão? Caderno Espaço
Feminino, v.9, n.10/11, 2001/
2002, p.35.
Fatores que contribuem para a ocorrência da gravidez na adolescência
410 Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007
truídas ao longo do processo histórico-cultural10.
A visão da sexualidade no tempo nos permite
entendê-la não como proposta individual, mas sim vin-
culada a uma relação de poder de ordem política, eco-
nômica, cultural, social, religiosa, moral e ética, su-
bordinando conceito e comportamento sexual do in-
divíduo a valores e instituições que evoluem de for-
ma dinâmica, a cada época, nas diferentes civilizações11.
No Cristianismo, a virgindade e a castidade eram
exaltadas11. Na idade Média, para a nobreza, a virgin-
dade deveria ser mantida até o casamento; para as cam-
ponesas não havia essa imposição, devendo as mes-
mas procriar cedo, independentemente do matrimô-
nio, em virtude da urgência de braços para as lavouras
e para as guerras4.
O conflito entre os ideais da Reforma e o pensa-
mento do Iluminismo proporcionou o ressurgimento
dos ideais da Teologia; depreciou-se o celibato, pro-
clamou-se o sexo conjugal como livre de mácula, as
transgressões sexuais eram motivações para o exílio e
o adultério, motivo para a morte. Os séc. XVII e XVIII
marcaram a época do Racionalismo e esclarecimento
na Europa. A Teologia decaía e o Racionalismo avan-
çava. O racional seria elevar ao máximo o prazer e
reduzir ao mínimo a dor. A partir do século XIX ex-
primir abertamente a sexualidade era sinal de corrupção
moral. A sociedade estabeleceu um regime de repres-
são sexual representado por todo um conjunto de re-
gras, normas, leis e valores explícitos determinando
permissão e proibição nas práticas sexuais. Tais nor-
mas foram definidas pela religião, pela moral, pelo di-
reito e até pela ciência. O prazer era considerado pe-
cado. A sexualidade estava associada à procriação, re-
duzida a uma atividade puramente genital parcial, des-
provida de erotismo. A origem da repressão sexual
coincide com o desenvolvimento do capitalismo. No
início do século XX o processo educativo formava
indivíduos que conviviam com regras e normas pré-
estabelecidas, basicamente opressoras. Este sistema
10 JESUS, M. C. P. de. Educação
sexual e compreensão da sexuali-
dade na perspectiva da enfermagem.
In: RAMOS, F. R. S; MON-
TICELLI, M; NITSCHKE, R.
G. (Org.).
11 ZAN, R. P. Educação sexual.
In: GEJER, D; FRANÇOSO,
L. A.; REATO, L. F. N. R. Se-
xualidade e saúde reprodutiva na
adolescência. São Paulo: Athe-
neu, 2001. p.11-20.
Gabriela Luiza da Silva, Eliana Faria de Angelice Biffi, Carla Denari Giuliani
Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007 411
vigorou até que a ciência e alguns movimentos sociais
alteraram os modelos. A ciência tornou a sexualidade
um tema legítimo de estudo e obrigou o mundo a
reavaliar a satisfação sexual, tão penosamente encara-
da como vergonha e repulsa, considerando-a como
função necessária, saudável e nobre. A obra de Freud
representa uma revolução no curso do pensamento
sobre a sexualidade11.
No Brasil, a partir dos anos 60, dá-se a eclosão do
movimento feminista que levou à revolução sexual,
conseqüentemente, houve a liberdade sexual e a di-
minuição das desigualdades entre os sexos. Os va-
lores relativos à família ostentam significativas mu-
danças e salientam que essas são expressivas de uma
ideologia igualitária que vem ganhando espaço no País,
contrapondo-se ao caráter tradicional da sociedade
brasileira. Os traços pertinentes de tal ideologia
explicitam-se na contestação da distinção de gênero
como conformadora da unidade e dinâmica conjugal,
na afirmação da liberdade do exercício da sexualidade
para os dois sexos fora dos parâmetros de uma relação
estável, na proliferação de arranjos conjugais, na am-
pla aceitação do divórcio e também da maternidade
voluntária fora do casamento12.
A metamorfose da comunicação e do transporte
foi outro fator que influenciou as transformações na
moralidade e no comportamento sexual humano. O
telefone, as revistas, os filmes, a dança, o automóvel e
a informática são exemplos que se tornaram estímulos
para as relações interpessoais11.
A crescente tendência da liberação do comporta-
mento social, especificamente, o sexual, contribui para
o aumento da gravidez na adolescência, devido à falta
de conhecimento do próprio corpo enquanto função
reprodutora, vinda da falta de uma educação
esclarecedora tanto no âmbito familiar como no esco-
lar e social13.
12 HEILBORN, M.L. Gravidez
na adolescência: considerações
preliminares sobre as dimen-
sões culturais de um proble-
ma social. In: VIEIRA, Eliza-
beth Meloni et al. Seminário gra-
videz na adolescência. Rio de Ja-
neiro. Associação Saúde da
Família, 1998. p.23-32
13 BUENO, G. M. Variáveis de
risco para a gravidez na ado-
lescência. 2001. Dissertação de
mestrado. Disponível em:
<http:www.virtualpsy.org/in-
fantil/gravidez.html>. Aces-
so em: 13 dez.2003.
Fatores que contribuem para a ocorrência da gravidez na adolescência
412 Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007
Gravidez na adolescênciaGravidez na adolescência
Gravidez na adolescênciaGravidez na adolescência
Gravidez na adolescência
A gravidez na adolescência não constitui fenôme-
no recente na história da humanidade. Na Antiguida-
de, contratos de casamento eram lavrados quando a
menina encontrava-se entre 13 e 14 anos. Durante o
apogeu do Império Romano, as mulheres casavam-se
em média aos 14 anos, época em que a expectativa
média de vida era inferior aos 25 anos. Como nas soci-
edades antigas, a expectativa de vida era baixa, a ma-
nutenção da espécie só era possível aproveitando-se
precocemente a fecundidade. As mulheres iniciavam
a vida sexual após a menarca e os homens tão logo
despertassem os instintos sexuais e a capacidade de
fecundar14.
No Brasil, país de cultura fortemente patriarcal,
especialmente no interior, a mulher tinha como fun-
ção social a reprodução e a criação dos filhos19. Du-
rante muitos anos, as meninas eram educadas para se-
rem esposas e mães; portanto, logo após a menarca, as
meninas tornavam-se mães. E ainda, até no inicio do
século passado, a gravidez precoce era considerada
um acontecimento habitual para os padrões culturais
da época.
Apesar de o fenômeno da gravidez na adolescên-
cia não ser novidade, nos últimos anos o mesmo vem
sendo caracterizado como um “problema social”. O
mercado de trabalho passou a exigir habilidades e qua-
lificação especifica dos(as) trabalhadores(as). As-
sim, a sociedade impôs aos(às) adolescentes a função
social de se dedicar exclusivamente aos estudos e à
profissionalização, garantindo assim um futuro de su-
cesso15. Dessa forma, a maternidade na adolescência é
considerada indesejável e apontada como origem de
vários problemas; pois se tornou incompatível com as
novas demandas sociais19.
As expectativas sociais diante da adolescência al-
teram-se social e historicamente: o que em dado mo-
mento é tido por aceitável e “natural” em outro con-
14 COSTA, M. C. O. Fecundida-
de na adolescência: perspecti-
va histórica e atual. Jornal de
Pediatria, v.74, n.2, p.87-90,
1998.
15 AQUINO, Estela M. L. et al.
Adolescência e reprodução no
Brasil: a heterogeneidade dos
perfis sociais. Caderno Saúde
Pública, Rio de Janeiro, v.19,
supl. 2, p.377-388, 2003.
Gabriela Luiza da Silva, Eliana Faria de Angelice Biffi, Carla Denari Giuliani
Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007 413
texto considera-se inaceitável.
Sexualidade e gravidez na adolescênciaSexualidade e gravidez na adolescência
Sexualidade e gravidez na adolescênciaSexualidade e gravidez na adolescência
Sexualidade e gravidez na adolescência
na perspectiva de gênerona perspectiva de gênero
na perspectiva de gênerona perspectiva de gênero
na perspectiva de gênero
Segundo Davi e Rodrigues9, a análise de Gênero
passou a ser usada por várias disciplinas e em contex-
tos diversos, a partir do movimento feminista, nos anos
70 do século XX. De acordo com Flax16 “as relações
de gênero estão envolvidas em todos os aspectos da
experiência humana e são elementos constituintes dela”.
O gênero enquanto uma categoria de análise nos per-
mite compreender que a sexualidade e os papéis se-
xuais são criados historicamente e variam de cultura
para cultura
Aos poucos, a criança aprenderá o valor simbólico
de ter nascido mulher ou homem. Ao brincar, a crian-
ça não apenas conhece a si própria, mas também apren-
de as normas sociais de comportamento, os hábitos
determinados pela cultura; o jogo e a brincadeira são
meios para a fabricação da sua identidade cultural.
Para Swain17 a definição do ser mulher organiza
práticas sociais que delimitam sua importância e suas
atividades culturais no tempo e no espaço. Ao longo
da infância e da adolescência, meninos e meninas, re-
cebem mensagens diferentes sobre comportamento e
sobre o que se espera deles, vindas da família, dos
pais, da mídia, da sociedade como um todo. Muitas
delas são aceitáveis para meninos e não para meninas
e vice-versa.
Assim, homens e mulheres começam a ser condi-
cionados por uma diversidade de experiências sociais,
e passam a assumir padrões de comportamento de uma
forma tão sutil que facilmente integram nosso cotidia-
no como algo “da natureza” do sexo masculino ou
feminino. Portanto, tem-se uma categoria biológica
determinante (diferenças sexuais ligadas à anatomia-
fisiologia) e outra importante que é a do gênero (que
se refere à construção social do sexo — o que é pró-
16 FLAX, J. Pós modernismo e
relações de gênero na teoria
feminista, In: HOLLANDA,
S. B. de (Org.). Moder nismo e po-
lítica. Rio de Janeiro: Rocco,
1991, p.217-250-ref 17.
17 SWAIN T.N. Figuras de mu-
lher em Simone de Beauvoir:
a mãe, a prostituta. Caderno
Espaço Feminino, v.11, n.14,
Jan./Jul;2004, p.43.
Fatores que contribuem para a ocorrência da gravidez na adolescência
414 Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007
prio para o gênero feminino e para o gênero masculi-
no)18.
As categorias de gênero tendem a ser naturalizadas,
usando-se as diferenças biológicas para justificar dife-
renças socialmente construídas. A diferenciação entre
os sexos não é simplesmente o resultado de um fenô-
meno social, mas é modelada pela interação dos dois
fatores, no contexto de uma cultura determinada. Cons-
truídas ao longo de todo o processo de socialização,
as categorias de gênero masculino e feminino com-
portam a reconstrução permanente de valores, papéis,
atribuições e normas de interação18.
Assim, a formação da identidade, no contexto co-
letivo, tanto para o homem quanto para a mulher de-
corre da diferente vivência no meio social onde se
está inserido. E a construção social dessa identidade
resulta da aprendizagem social, não apenas ligada às
ações ativamente exercidas nos diferentes círculos
sociais, mas também ligadas às suposições mais gerais
a respeito de idéias, tabus e mitos presentes no meio
social.
É inegável a relação entre o grupo social no qual
se insere o indivíduo e sua relação com o próprio
corpo, suas funções, necessidades e as formas de
satisfazê-las19. Não é possível isolar o fenômeno da
gravidez adolescente de um contexto maior, constitu-
ído pelos roteiros sexuais, que modelam a experiência
da sexualidade e nos fornecem cenários sobre a soci-
alização dos gêneros, da inserção dos jovens em de-
terminadas configurações de família.
A ausência de estudos sobre paternidade na ado-
lescência acompanha a tradição dos estudos de gêne-
ro cuja produção inicial está voltada principalmente
para o gênero feminino. Esta situação acaba reforçan-
do a idéia de que a gravidez e a prevenção sejam fun-
ções ou obrigações femininas. A gravidez imprevista e
indesejada passa a ser de responsabilidade exclusiva
da menina, uma questão de gênero, negligenciando-se
a responsabilidade do menino19.
18 PINHEIRO, V. de S. Repen-
sando a maternidade na ado-
lescência. Estudos de Psicologia,
v.5, n.1, p. 243-251. 2000.
19 CABRAL, Cristiane S. Contra-
cepção e gravidez na adolescên-
cia na perspectiva de jovens
pais de uma comunidade fa-
velada do Rio de Janeiro. Ca-
derno Saúde Pública, Rio de Ja-
neiro, v.19, sup.l.2, p.283-292.
2003.
Gabriela Luiza da Silva, Eliana Faria de Angelice Biffi, Carla Denari Giuliani
Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007 415
Portanto, as relações de gênero transformam-se ao
longo da história e nas diferentes culturas e socieda-
des. A liberdade sexual permitiu às mulheres o direito
de ter relação sexual desvinculada do matrimônio; a
virgindade vem perdendo seu valor moral. Há uma
maior liberdade em exercer a sexualidade; e conse-
qüentemente há um aumento na iniciação sexual pre-
coce.
Por meio de um estudo feito pela UNESCO (Or-
ganização das Nações Unidas para a Educação, à Ci-
ência e a Cultura) constatou-se que os(as) jovens bra-
sileiros(as) estão cada vez mais distantes dos tabus
sexuais das gerações passadas. Mais da metade dos(as)
jovens entrevistados(as) não dão importância à virgin-
dade. Em geral, transam cada vez mais cedo e vêem a
sexualidade de homens e mulheres em pé de igualda-
de. Ao contrário das gerações anteriores, 77% dos jo-
vens acham que o sexo é tão importante para as mu-
lheres quanto para os homens e a maioria acredita que
gostar de “ficar” não é um comportamento exclusiva-
mente masculino. A iniciação sexual precoce é citada
por muitos autores, como sendo uma das causas da
gravidez precoce, pois na maioria das vezes essa acon-
tece sem a prevenção adequada.
EpidemiologiaEpidemiologia
EpidemiologiaEpidemiologia
Epidemiologia
A gravidez na adolescência vem sendo objeto de
estudo; pois, embora os(as) adolescentes ainda este-
jam em fase de crescimento e desenvolvimento, es-
tes(as) vêm participando efetivamente no aumento das
taxas de fecundidade, mortalidade materna e infantil20.
Segundo a Pesquisa Nacional de Demografia e Saú-
de (DHS) de 1996 revelou-se que, no Brasil, nos últi-
mos 10 anos, a fecundidade diminuiu em todas as fai-
xas etárias em torno de 30%, com exceção da faixa
adolescente (10 a 19 anos)21.
A incidência de gravidez na adolescência está cres-
cendo nos EUA, de 1975 à 1989 a porcentagem dos
20 COATES, Veronica; SANT’
ANNA, Maria J.C. Gravidez
na Adolescência. In: GEJER,
D; FRANÇOSO, L. A.; REA-
TO, L. F. N. R. Sexualidade e
saúde reprodutiva na adolescência.
São Paulo: Atheneu, 2001,
p.71-84.
21 BEMFAM – Sociedade Civil de
Bem Estar Familiar. Pesquisa
Nacional sobre Demografia e
Saúde. Rio de Janeiro: relató-
rio BEMFAM; 1996.
Fatores que contribuem para a ocorrência da gravidez na adolescência
416 Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007
22 Segundo Coates e Sant’Anna
21, aproximadamente 40% dos
abortos realizados ocorrem
em menores de 20 anos, e se-
gundo dados do Ministério da
Saúde (1996) o coeficiente de
mortalidade decorrente do
aborto é 2,5 vezes maior em
menores de 20 anos; em 1994
um terço das mortes decorren-
tes de aborto ocorreu entre 15
e 19 anos.
nascimentos de adolescentes grávidas e solteiras au-
mentou 74,4 %. Em 1990, os partos de mães adoles-
centes representaram 12,5% de todos os nascimentos
no país. Nos EUA, estima-se que aos 20 anos, 40%
das mulheres brancas e 64% de mulheres negras terão
experimentado ao menos uma gravidez.
No Brasil, a cada ano, cerca de 20% das crianças
que nascem são filhas de adolescentes, número que
representa três vezes mais garotas com menos de 15
anos grávidas que na década de 70. A falta de condi-
ções socioeconômicas e emocionais, além da falta de
apoio da família e do parceiro, pode muitas vêzes, le-
var as adolescentes a provocarem um aborto ou não
procurarem um acompanhamento médico adequado e
contínuo22.
Em 1998, foi realizado pelo SUS 666.000 partos de
mães adolescentes entre 10 e 19 anos, sendo 32.000
de mães entre 10 e 14 anos. O número de recém-
nascidos de mães adolescentes corresponde em todo
Brasil a 26,75% dos nascimentos, havendo variações
regionais com maiores taxas no Norte e Nordeste21.
Entre as gestantes adolescentes atendidas pelo SUS,
no período de 1993 à 1998, houve aumento de 31%
entre adolescentes de 10 a 14 anos.
Os números são realmente assustadores, represen-
tam mais de 700 mil partos de adolescentes no Brasil
por ano, e algo em torno de 500 mil abortos, todos
clandestinos e ilegais.
Em 2007, cerca de 30% dos partos realizados fo-
ram de adolescentes.
Com esses dados, podemos perceber a dimensão
do fenômeno da gravidez na adolescência, pois ela
causa um grande impacto no âmbito da saúde, além do
impacto social.
PrevençãoPrevenção
PrevençãoPrevenção
Prevenção
De acordo com Silva23 ainda há falhas em oferecer
à mulher informações sobre seu corpo, sobre sexuali-
23 SILVA, João Luiz Pinto e.
Gravidez na adolescência: de-
sejada x não desejada. Femina,
v.26,n.10, p.825-830, nov-dez
1998.
Gabriela Luiza da Silva, Eliana Faria de Angelice Biffi, Carla Denari Giuliani
Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007 417
dade, sobre reprodução e seu controle através de mé-
todos anticoncepcionais oportunos e de eficientes ser-
viços disponíveis para sua obtenção. A inexistência de
uma oferta variada e contínua de contraceptivos, re-
duz as possibilidades de se encontrarem alternativas
mais adequadas para cada usuária, dando oportunida-
de para o aparecimento de distorções que aumentam
o risco de gravidez indesejada. Como não há distribui-
ção gratuita suficiente dos métodos anticoncepcionais,
muitas adolescentes não fazem uso dos mesmos, pois
não têm condições econômicas para adquiri-los.
Diversos estudos na América Latina têm mostrado
que menos de 20% dos homens e de 15% das mulhe-
res usam algum método anticoncepcional na primeira
relação24. Quanto mais precoce a iniciação sexual, me-
nores são as chances de uso dos métodos anticoncep-
cionais, e conseqüentemente, maiores são as possibili-
dades de gravidez20.
Segundo pesquisa realizada por Dadoorian25 todas
as adolescentes entrevistadas afirmaram ter conheci-
mento de que exercer a atividade sexual sem o uso de
um método anticoncepcional poderia provocar uma
gravidez; entretanto, não fizeram o uso desse quando
iniciaram sua vida sexual.
De acordo com a pesquisa de Almeida et al26, 97,4%
dos(as) adolescentes conheciam os métodos anticon-
cepcionais, 41% dos meninos e 56,1% das meninas
declararam o uso de algum método anticoncepcional.
Os meninos apresentaram pouco conhecimento sobre
questões relacionadas à fertilidade e contracepção; mas
conhecem algum tipo de método anticoncepcional,
principalmente, o preservativo masculino.
Na pesquisa de Antunes e Moura concluiu-se que,
80% das adolescentes tinham conhecimento sobre al-
gum método anticoncepcional, embora não tenham
usado, os motivos para o não uso foram muitos: 27%
não estavam usando camisinha no dia por descuido,
11,0% porque achavam o preservativo horrível, ou-
tras 11,0% não tomavam a pílula por medo de fazerem
24 DIAS, A.C.G; GOMES, W.B.
Conversas, em família, sobre
sexualidade e gravidez na ado-
lescência: percepção das jovens
gestantes. Psicologia Reflexão
Critica., Porto Alegre, v.13, n.1,
p.109-125, 2000.
25 DADOORIAN, Diana. A gra-
videz desejada na adolescência.
Arquivos Brasileiros de psicologia.
v.50, n.3, p.60-70, jul-set.1998.
26 ALMEIDA, M.C.C et al. Uso
de contracepção por adolescen-
tes de escolas públicas na
Bahia. Revista Saúde Pública,
v.37, n.5, p.566-75. 2003.
Fatores que contribuem para a ocorrência da gravidez na adolescência
418 Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007
27 GUIMARÃES, A. M.D.N;
VIEIRA, M.J; PALMEIRA, J
A Informações dos adolescen-
tes sobre métodos anticoncep-
cionais. Revista Latino-America-
na de Enfermagem.v.11, n.3,
p.293-8, mai-jun 2002.
mal à saúde, outras 11,0% por medo de engordar e
outras 11,0% não usaram nenhum método porque não
quiseram e 10,0% disseram “Não achei que fosse acon-
tecer comigo”.
Segundo a pesquisa de Aquino et al15, 68,6% das
adolescentes não faziam uso de métodos anticoncep-
cionais, 15,2% queriam engravidar.
Quando analisada exclusivamente a freqüência de
informações sobre métodos anticoncepcionais, Gui-
marães et al27 observou que 28% das informações vi-
nham de revistas, livros e jornais; 18,8% de amigos;
18% do rádio e televisão; 13,5% de profissionais de
saúde; 8,6% de professores; 6,7% de pais e 6,2% de
namorados(as).
Para Oliveira17 o fato das adolescentes viverem uma
vida sexual não autorizada, cria o medo de a família
descobrir o uso do método utilizado por elas e a ver-
gonha de se submeter ao exame ginecológico. Além
da própria necessidade moral da não-premeditação da
relação sexual, o que inviabilizaria uma análise pela
adolescente sobre qual método utilizar.
A vida sexual ocasional é outro motivo da ocor-
rência da gravidez na adolescência. A ocasionalidade
dificulta o planejamento em longo prazo do uso de
um método eficaz, como por exemplo, a pílula. A ado-
lescente questiona o porquê de usá-la se não está com
um parceiro fixo. Mesmo quando numa vida sexual
ativa, há no mínimo, vergonha em pedir ao parceiro
que use camisinha. A paixão pelo namorado transfor-
ma-o em alguém que a protegerá dos perigos da gravi-
dez e de doenças sexualmente transmissíveis17.
A imprevisibilidade das relações sexuais é outro
motivo, bastante citado por adolescentes, para justifi-
car o não uso de métodos27.
Outro fator relacionado ao não-uso de métodos
anticoncepcionais está na crença da própria invulne-
rabilidade, no “pensamento mágico” de que “isto nunca
vai acontecer comigo”19.
A utilização de métodos contraceptivos não ocor-
Gabriela Luiza da Silva, Eliana Faria de Angelice Biffi, Carla Denari Giuliani
Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007 419
re de modo eficaz na adolescência, e isso está vincu-
lado inclusive aos fatores psicológicos inerentes ao
período, pois a adolescente nega a possibilidade de
engravidar e essa negação é tanto maior quanto menor
a faixa etária; o encontro sexual é mantido de forma
eventual, não justificando, conforme acreditam o uso
rotineiro da contracepção; não assumem perante a fa-
mília a sua sexualidade e a posse do contraceptivo
que seria a prova formal de vida sexual ativa28.
Outro fator relacionado ao não-uso dos métodos
anticoncepcionais está nos papéis de gênero, no qual
o uso de preservativo “é função do homem” e o uso
de outros métodos anticoncepcionais “ser responsa-
bilidade da mulher”; além do fato de que a mulher
deve ter um comportamento passivo, enquanto o ho-
mem um comportamento ativo. O preparo para uma
primeira relação implicaria a postura ativa por parte da
mulher, atitude que poderia dar a idéia de que ela
seria “experiente”, o que por sua vez colocaria dúvi-
das sobre a sua moralidade. Além disso, tanto as ado-
lescentes quanto os parceiros condicionam o uso do
preservativo masculino ao tipo de relacionamento
afetivo mantido pelo casal. Assim, quando o relacio-
namento atinge o estágio “namoro firme”, prevalece o
não-uso da camisinha, atitude que denota valores cor-
respondentes à confiança entre os parceiros29.
Outra questão relacionada à questão de gênero, é a
classificação moral que se dá às mulheres como “da
vida” e “de família”, com as primeiras os homens usam
preservativos, com as segundas não precisa, pois são
fiéis20.
Segundo algumas pesquisas, outro motivo, dado
pelas adolescentes, para o não-uso dos métodos anti-
concepcionais está relacionado com o próprio desejo
de engravidar; o que contrapõe a visão de que a gravi-
dez na adolescência seja algo indesejável.
Como podemos perceber, além da falta de infor-
mações, existem outros fatores relacionados à falta de
prevenção, os quais devem ser considerados para se
28 VITALLE, M.S.S ; AMAN-
CIO, O.M.S. Gravidez na ado-
lescência. 2001. Disponível em:
< http: www.brazilpednews.
org.br/set2001/bnpar101.
htm >. Acesso em: 13 dez.
2003
29 PANTOJA, Ana L. N. Ser al-
guém na vida: uma análise
sócio-antropológica da gravi-
dez/maternidade na adoles-
cência, em Belém do Pará, Bra-
sil. Caderno Saúde Pública, Rio
de Janeiro, v.19, supl.2, p.335-
343. 2003.
Fatores que contribuem para a ocorrência da gravidez na adolescência
420 Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007
criar programas e projetos de educação e prevenção
voltados para o(a) adolescente, de forma eficaz.
Fatores psicológicos e culturaisFatores psicológicos e culturais
Fatores psicológicos e culturaisFatores psicológicos e culturais
Fatores psicológicos e culturais
Os fatores psicológicos têm mostrado grande in-
fluência no comportamento das adolescentes, levan-
do muitas à gravidez precoce.
A família é o grupo social no qual o indivíduo
pode se expressar com intimidade e espontaneidade,
sendo um importante elemento para a saúde de seus
membros. Em uma família na qual a falta de afeto, a
agressão, a indiferença e comunicação inadequada im-
peram, promovem-se péssimos resultados a ela pró-
pria; assim a comunicação entre seus integrantes pos-
sui fundamental importância para o bem-estar emoci-
onal dos mesmos13. Dessa maneira, o contexto famili-
ar pode influenciar no comportamento dos adolescen-
tes e na ocorrência da gravidez precoce. Segundo Cos-
ta14, adolescentes sem suporte emocional, seja pela
presença de conflitos na família ou ausência dos pais,
apresentam poucos planos e expectativas quanto à es-
colaridade e profissionalismo. Em contrapartida, nas
famílias onde os relacionamentos são mais estáveis e
as questões da sexualidade abordadas de forma sim-
ples e explicativa, os(as) adolescentes mostram-se
menos susceptíveis a riscos, como exemplo, a gravi-
dez precoce.
A gravidez pode representar, para a adolescente,
uma tentativa de superação de carências afetivas de-
correntes de relações insatisfatórias; as adolescentes
buscam compensar essas carências através da ligação
com o próprio bebê ou com o parceiro através da
constituição de uma família19.
A ausência de laços afetivos fortes na família e da
atenção dos seus peculiares problemas e o sentimento
de abandono podem levar a jovem a apoiar-se apenas
no namorado. Com receio do abandono também por
parte deste, a adolescente, já carente de afetividade,
Gabriela Luiza da Silva, Eliana Faria de Angelice Biffi, Carla Denari Giuliani
Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007 421
30 CAMARANO, Ana Amélia.
Fecundidade e anticoncepção
da população de 15 a 19 anos.
IN: VIEIRA, Elizabeth Me-
loni et al. Seminário: gravidez na
adolescência. Rio de Janeiro.
Associação Saúde da Família,
1998. p.35-46.
vai aceitando o curso que o namoro vai tomando sem
aperceber-se dos riscos físicos e emocionais. Além
disso, pode ver na gravidez, a solução para agredir os
pais punindo-os pela falta de afeto17.
Adolescentes que iniciam a vida sexual precoce-
mente ou engravidam nesse período, geralmente vêm
de famílias cujas mães também engravidaram na ado-
lescência. Quanto mais jovens e imaturos os pais, mai-
ores as possibilidades de desajustes e desagregação
familiar13.
Outro fator que pode levar a adolescente engravidar
é a influência que a mídia tem sobre o comportamen-
to da mesma. Filmes, músicas ou novelas atuam como
estímulo para o início precoce da relação sexual. Ga-
rotas têm o “pensamento mágico” de que se imitarem
personagens de novelas e filmes terá o mesmo fim, o
qual costuma ser um “final feliz”. Além disso, vêem
em ídolos, um exemplo de vida, e procuram imitá-
las13.
Podemos perceber que o fator psicológico e cultu-
ral tem uma grande influência sobre o comportamen-
to das adolescentes, elas não conseguem enxergar os
riscos a que estão expostas, e o impacto negativo que
essas atitudes inconseqüentes podem causar em suas
vidas.
Fatores socioeconômicosFatores socioeconômicos
Fatores socioeconômicosFatores socioeconômicos
Fatores socioeconômicos
Segundo Camarano30 a incidência de gravidez na
adolescência é maior nas classes economicamente
desfavorecidas.
De acordo com Galleta13, a ocorrência da gravidez
precoce na classe média deve-se mais à falta de pers-
pectiva de vida do que somente a falta de orientação
sexual ou conhecimento sobre os métodos anticon-
cepcionais.
Oliveira17 afirma que nas adolescentes em condições
socioeconômicas mais baixas, a gravidez é um fenôme-
no “natural”, pois para elas há poucas opções de vida.
Fatores que contribuem para a ocorrência da gravidez na adolescência
422 Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007
31 SOF – Sempreviva Organiza-
ção Feminista. Boletim Mulher
e Saúde. N.15 e16. maio-ago.,
1997.
Segundo pesquisa realizada por Aquino15 a ocor-
rência da gravidez na adolescência variou inversamente
com a renda e a escolaridade. A prevalência da gravi-
dez em adolescentes com o primeiro grau incompleto
(59,6%) corresponde a 13 vezes o valor entre aquelas
com nível superior de instrução (4,6%).
De acordo com o boletim da SOF – Sempreviva
Organização Feminista31 meninas que ficam mais de
cinco anos na escola, 5 em cada 100 engravidam antes
de fazer 19 anos. Entre as meninas sem instrução a
proporção sobe para 17 em cada 100. Esses dados
podem significar que a escola está ensinando algo so-
bre corpo, sexualidade e relações afetivas. Uma outra
hipótese é que o fator de continuar os estudos au-
mente a auto-estima e proporcione às adolescentes
projetos de vida profissionais mais amplos que o de
ser apenas esposa e mãe17.
De acordo com Leite32; o risco de uma adolescen-
te com cinco ou mais anos de escolaridade ter um
filho é 58% menor do que o risco de uma adolescente
com menos de cinco anos de escolaridade. Quanto
maior o grau de escolaridade dos adolescentes maio-
res são as chances de conhecimento e uso dos méto-
dos anticoncepcionais.
Doering26 acredita que existe uma diferença com
relação à perspectiva do papel social desempenhado
pela mulher em função do seu nível socioeconômico.
Para adolescentes de nível socioeconômico mais fa-
vorável a gravidez atrapalharia a sua perspectivas de
estudo e de trabalho, visto que a maternidade não é
prioridade para elas. Por outro lado, para as adoles-
centes de nível socioeconômico desfavorável, a ma-
ternidade é a única perspectiva de vida, em que o
papel social mais importante por elas desempenhado
é o de ser mãe.
A gravidez pode envolver dimensões complexas,
remetendo tanto à mudança de status, quanto à
reafirmação de projetos de mobilidade social; poden-
do ser como parte de um projeto de vida, uma espécie
32 LEITE, I.C.; RODRIGUES,
R.N.; FONSECA, M.C. Fato-
res associados com o compor-
tamento sexual e reprodutivo
entre adolescentes das regiões
Sudeste e Nordeste do Brasil.
Caderno Saúde Pública. Rio de
Janeiro, v.20,n.2, p.474-481,
mar-abr.2004.
Gabriela Luiza da Silva, Eliana Faria de Angelice Biffi, Carla Denari Giuliani
Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007 423
de “passaporte” para entrar na vida “adulta” e ser re-
conhecida pela família e por colegas como tal. A gra-
videz pode representar a ascensão social30.
A sexualidade e a gravidez na adolescência são vis-
tas e vividas pelas adolescentes de formas distintas
em diferentes níveis socioeconômicos; ou seja, a gra-
videz pode significar para algumas adolescentes um
“problema” e para outras uma “solução” ou “fenôme-
no natural”.
Educação sexualEducação sexual
Educação sexualEducação sexual
Educação sexual
A educação sexual enquanto constitutiva do pro-
cesso educativo das pessoas pode resultar no modo
como as mesmas reagem às questões sexuais e na ma-
neira como vivem as sexualidades. Por isso, é impor-
tante tratar os assuntos sexuais durante toda a vida,
principalmente na infância e na adolescência10.
A sexualidade do(a) adolescente, provavelmente,
é o tema mais difícil de lidar pelos pais, profissionais
de educação e de saúde, pois, nisto implica trabalhar
com as dificuldades pessoais, um auto-conhecimento
e, freqüentemente, com informações inadequadas ou
insuficientes. Até pouco tempo atrás, a regra era não
tocar no assunto para não despertar o interesse.
Com o aumento de casos de DST/AIDS e gravi-
dez indesejada na adolescência, demonstrando assim
a dimensão do problema, do início precoce da ativida-
de sexual sem proteção, houve uma consciência da
necessidade de uma educação sexual efetiva.
Conceituar educação sexual não é fácil, pois é ne-
cessário valorizar vários aspectos considerados subje-
tivos. Entende-se por educação sexual como a aquisi-
ção de um conjunto de normas de comportamento e
expressão do ser humano vinculado aos processos
somáticos, psicológicos e sociais do sexo. O processo
educativo deve estar vinculado à formação integral de
crianças e adolescentes, apontando elementos de es-
clarecimento e reflexão para favorecer e desenvolver
Fatores que contribuem para a ocorrência da gravidez na adolescência
424 Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007
33 CAVASIN, S. M. P; ARRUDA,
S. Educação sexual e comuni-
cação para adolescentes. In:
VIEIRA, Elizabeth Meloni et
al. Seminário: gravidez na adoles-
cência. Rio de Janeiro. Associa-
ção Saúde da Família, 1998.
p.110-118.
atitudes positivas para a sexualidade; reconhecer, iden-
tificar e aceitar o ser sexual e sexuado, sem medos,
temores, angústias e sem sentimentos de culpa; favo-
recer as relações interpessoais, propiciando condições
de respeito e igualdade, superando todo o critério de
discriminação de gênero; compreender o exercício da
sexualidade de forma consciente, responsável e livre,
buscando a felicidade; propiciar a vida em parceria e a
harmonia familiar, bem como a sua repercussão na
sociedade e promover a saúde integral e a qualidade
de vida do indivíduo. A moderna educação sexual
abrange todo o aspecto da informação científica, ati-
tudes culturais e aprendizagem que estão implícitas
no homem e na mulher. Considera-se que ela deva ser
de responsabilidade do esforço comum da família, das
instituições educativas, de saúde, culturais, religiosas
e da sociedade em geral11.
Os programas de educação e saúde para adoles-
centes devem, antes de tudo, levar em conta os as-
pectos sociais, culturais e econômicos onde estão in-
seridos. É preciso valorizar os sentimentos e preocu-
pações dos(as) adolescentes para conhecer o mundo
deles(as)33.
Muitos programas de educação sexual usam uma
abordagem didática, focalizando somente a informa-
ção sobre a reprodução. Para satisfazer aos(às) jovens
e desenvolver um programa efetivo de prevenção é
necessária uma abordagem que atenda também aos as-
pectos sociais e psicológicos da sexualidade. Por meio
da educação sexual deve-se acabar com os mitos,
desinformações e preconceitos que ainda cercam a
sexualidade; refletir e discutir sobre relações de gêne-
ro, valores, sentimentos e emoções; garantir que o
aprendizado e a discussão sobre sexualidade, contra-
cepção e prevenção de DST/AIDS aconteçam antes
da iniciação da relação sexual.
Gabriela Luiza da Silva, Eliana Faria de Angelice Biffi, Carla Denari Giuliani
Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007 425
Educação sexual na famíliaEducação sexual na família
Educação sexual na famíliaEducação sexual na família
Educação sexual na família
A família é a estrutura mais sólida, como referên-
cia de modelos e padrões de conduta na formação do
indivíduo, fornecendo a ele as bases da sua personali-
dade11. Ela é considerada a estrutura social ideal para
a educação dos filhos, principalmente, em relação à
sexualidade, mas tem-se mostrado impotente para atu-
ar na educação sexual desses(as) filhos(as) frente às
dificuldades que os pais relatam no trato com as ques-
tões sexuais10.
O atual modo de vida não proporciona que os pais
fiquem muito tempo com os(as) filhos(as), o que pode
levar ao distanciamento nessas relações. Outro fato
que prejudica a convivência familiar é o processo de
modernização das sociedades urbanas. Muitos(as) ado-
lescentes incorporam as novas tecnologias, os novos
valores sociais e culturais, muito diferentes dos valo-
res dos pais, o que favorece o distanciamento entre
esses e os(as) filhos(as). Por esses motivos, muitos
pais deixam de participar do desenvolvimento dos(as)
filhos(as), o que reflete na ausência ou deficiência de
diálogos sobre temas, como, por exemplo, a educação
sexual. Ela fica a cargo dos amigos, da televisão, das
revistas e de outros meios.
Em um trabalho realizado por Morais e Garcia34,
verificou-se que os familiares caracterizam as adoles-
centes como calmas ou imaturas e rebeldes. Para os
pais a rebeldia das adolescentes justifica o comporta-
mento, as atitudes e a atividade sexual, tendo como
conseqüências conflitos e desavenças nos relaciona-
mentos intrafamiliares. Ainda a esse respeito, os fami-
liares apontaram as “más companhias” como sendo
um dos aspectos responsáveis pelo comportamento
da adolescente; outros se opunham ao namoro. Isso
comprova haver ausência de compartilhamento das
vivências de cada um no âmbito da familiar, a que as
adolescentes se contrapõem.
Por meio de uma pesquisa com adolescentes, Dias
34 MORAIS, F. R. S; GARCIA,
T. R. G. Gravidez em mulhe-
res adolescentes: a ótica de fa-
miliares. Revista Brasileira En-
fermagem. Brasília, v. 55, n.4,
p.377-383, jul./ago. 2002.
Fatores que contribuem para a ocorrência da gravidez na adolescência
426 Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007
35 DIAS, A.C.G; GOMES, W.B.
Conversas sobre sexualidade
na família e gravidez na ado-
lescência: a percepção dos pais.
Estudos de Psicologia, Natal, v.4,
n.1, p.79-106, jun.1999.
e Gomes35, concluíram que as informações sobre se-
xualidade e prevenção recebidas da mãe, principal-
mente, foram percebidas como parciais e incompletas
e a comunicação mostrou-se prejudicada por falta de
confiança na mãe. Além de despreparados(as), os pais
apresentam dificuldades associadas à falta de informa-
ção e a não aceitação da sexualidade adolescente. Esta
pesquisa destacou três aspectos relacionados com a
gravidez na adolescência: reafirmou a liberdade e a
iniciativa da mulher em relação a sua sexualidade, con-
firmou a ausência da discussão franca e informada
sobre sexualidade e mostrou a substituição do mito
do amor romântico pela expectativa clara do sexo
prazeroso.
Os mesmos autores realizaram uma pesquisa com
os pais e dela concluiu-se que esses encontram-se
confusos em relação ao seu papel na educação sexual.
A informação é ambígua desde que os pais não têm
clareza dos valores que pretendem transmitir aos fi-
lhos. A comunicação não se estabeleceu pela ambigüi-
dade associada a resignificação da experiência sexual
dos pais diante das vivências das filhas, e das transfor-
mações de valores da atualidade. Os pais percebem
adequadamente o que está acontecendo com a vida
sexual das filhas, mas não conseguem meios expressi-
vos efetivos para a orientação; pois estimam equivo-
cadamente o conhecimento das filhas sobre anticon-
cepcionais, por tentarem postergar a iniciação sexual
das filhas e por não se considerarem aptos para falar
de sexualidade e de métodos anticoncepcionais.
Conclui-se que para a maioria das famílias, discuti-
rem aspectos referentes à sexualidade ainda é um tabu,
especialmente quando se trata da sexualidade das mu-
lheres. Os pais ou responsáveis não sabem ou não se
sentem capacitados para abordar, por não estarem pre-
parados ou por vergonha, a discussão desses aspectos
e, assim, reprimem ou negam a possibilidade de ex-
pressão da sexualidade das adolescentes. Os familia-
res, pela inabilidade para o trato dessas questões, se
Gabriela Luiza da Silva, Eliana Faria de Angelice Biffi, Carla Denari Giuliani
Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007 427
esquivam e de certa forma, não ajudam as adolescen-
tes a fazer escolhas conscientes e responsáveis no
tocante à atividade sexual.
Os pais devem proceder com os filhos de forma
natural, dando informações verdadeiras, sinceras, cla-
ras e objetivas, ampliando gradativamente o conheci-
mento e respeitando o nível de desenvolvimento da
criança e do adolescente. O estímulo ao diálogo, a
compreensão e a confiança mútua é fundamental para
aproximar pais e filhos11.
Educação sexual na escolaEducação sexual na escola
Educação sexual na escolaEducação sexual na escola
Educação sexual na escola
No Brasil, a história da educação sexual sempre
esteve ligada à escola e sofreu uma forte influência da
Igreja Católica, o que contribuiu para limitar a discus-
são do assunto na escola, durante muitos anos10,11.
A dificuldade dos pais em abordar a sexualidade
cm seus filhos, impulsionou a escola a assumir parte
dessa responsabilidade. A escola é um espaço social
significativo para onde o(a) adolescente pode levar
suas experiências de vida, suas curiosidades, fantasias,
dúvidas e inquietações sobre a sexualidade. Entretan-
to, juntamente com as ações implementadas pela es-
cola em relação à orientação sexual de crianças e ado-
lescentes, deve-se oportunizar momentos de reflexão
aos(às) educadores(as) para pensar em seus valores 10 .
Pois, apesar da modernidade, muitos(as) educadores(as)
carregam consigo mitos, tabus, valores, preconceitos;
permitindo com que estes influenciem na sua conduta
com os(as) alunos(as).
A educação sexual dada nas escolas, ainda, se res-
tringe a transmitir informações relacionadas à anato-
mia e à fisiologia do corpo humano, ou seja, aos as-
pectos biológicos do homem e da mulher, sem dimen-
sionar outros aspectos, como o cultural e o social35.
Com o advento da AIDS, houve uma maior preo-
cupação em relação à transmitir, aos(às) alunos(as), in-
formações sobre prevenção das DSTS/ AIDS e mé-
Fatores que contribuem para a ocorrência da gravidez na adolescência
428 Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007
todos anticoncepcionais.
A escola não dispõe de profissionais habilitados
para abordar assuntos como sexualidade e métodos
anticoncepcionais; e os(as) professores(as) acabam ten-
do atitudes preconceituosas. Como exemplo, muitos
professores tentam excluir das salas de aula as meni-
nas grávidas, com o intuito de não servirem de “mau
exemplo” para as outras colegas. Muitas adolescentes
abandonam a escola devido à gravidez, sendo que pou-
cas retornam aos estudos.
A sexualidade como uma instância constitutiva do
humano, deverá atravessar as práticas cotidianas dos(as)
professores(as) na escola, não para controlar ou repri-
mir suas manifestações, mas para possibilitar ao(à) ado-
lescente a construção de sua própria identidade, e por
isso também, de sua própria sexualidade6.
Os(As) profissionais devem ter consciência da sua
própria sexualidade, possuir formação continuada, res-
peitar as diferenças individuais, inspirar confiança. A
escola, por sua vez, deve atender aos seguintes requi-
sitos: sensibilizar-se quanto à necessidade da educa-
ção sexual; refletir sobre sexo e sexualidade, enquan-
to dimensões do relacionamento humano; ampliar co-
nhecimentos sobre o desenvolvimento biopsicossocial
do ser humano para o cumprimento de deveres11.
Mesmo considerando os avanços frente à discus-
são da sexualidade nos últimos anos, educadores(as) e
pais ainda realçam suas dificuldades em abordar esse
tema.
ConclusãoConclusão
ConclusãoConclusão
Conclusão
Atualmente, a gravidez na adolescência é conside-
rada um problema social e de saúde pública, que pre-
cisa ser melhor compreendida para ser combatida.
Várias políticas de educação e prevenção foram reali-
zadas; no entanto, o índice de gravidez na adolescên-
cia vem aumentando.
Há alguns anos, este fenômeno era relacionado,
Gabriela Luiza da Silva, Eliana Faria de Angelice Biffi, Carla Denari Giuliani
Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007 429
principalmente, à falta de informação ou de acesso
aos métodos anticoncepcionais. Hoje, percebe-se que
muitas adolescentes têm conhecimento sobre os mé-
todos anticoncepcionais e mesmo assim não fazem uso,
ou usam inadequadamente.
Este estudo teve como objetivo levantar alguns
fatores que contribuem para a ocorrência da gravidez
precoce e os motivos que levam as adolescentes a
não fazerem o uso dos métodos anticoncepcionais ou
desejarem a gravidez. Por meio desta pesquisa foi pos-
sível concluir que a ocorrência da gravidez precoce
envolve vários fatores, como, psicológicos, culturais e
socioeconômicos.
A literatura nos revelou que a gravidez na adoles-
cência recebe vários significados nas diferentes socie-
dades e culturas. Houve uma época que a gravidez
ocorria precocemente e era tida como um fenômeno
natural e desejado. A mulher tinha como papel social,
o de ser mãe e esposa. Após os movimentos feminis-
tas e com a inserção da mulher no mercado de traba-
lho, muitas mulheres da classe média e alta, passaram
a ter novos papéis sociais e conquistaram a liberdade
e a autonomia de decidirem por si mesmas sobre a sua
vida. Assim, muitas conquistaram o direito de exerce-
rem sua sexualidade desvinculada do matrimônio. Com
isso, as adolescentes vêm iniciando suas relações se-
xuais precocemente, de forma mais eventual, sem pre-
meditação, o que justificaria o não uso dos métodos
anticoncepcionais.
De acordo com a literatura há falhas em oferecer à
mulher informações sobre seu corpo, sobre a sexuali-
dade, sobre reprodução e seu controle através de mé-
todos anticoncepcionais oportunos e de eficientes ser-
viços disponíveis para sua obtenção.
Falta uma educação sexual adequada na família, na
escola e nos serviços de saúde. Os pais, educadores(as)
e profissionais da saúde estão geralmente desprepa-
rados para falarem de sexualidade; eles ainda carre-
gam consigo mitos, tabus e preconceitos.
Fatores que contribuem para a ocorrência da gravidez na adolescência
430 Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007
Segundo a literatura, há várias justificativas para as
adolescentes não usarem os métodos anticoncepcio-
nais: vergonha de pedir ao parceiro que use a camisi-
nha, crença da própria invulnerabilidade, não assumem
perante a família a sua sexualidade e a posse do con-
traceptivo seria a prova formal de vida sexual ativa.
De acordo com a literatura há diferenças nos pa-
péis de gênero, no qual o uso de preservativo é fun-
ção do homem e o uso de outros métodos anticon-
cepcionais é responsabilidade da mulher. Além disso,
tanto as adolescentes quanto os parceiros condicionam
o uso do preservativo masculino ao tipo de relaciona-
mento afetivo mantido pelo casal, se encontrar um
relacionamento “sério” não precisa do preservativo.
Segundo a literatura, muitas adolescentes desejam
a gravidez, dentre os motivos para esse desejo estão:
tentativa de superação de carências afetivas decorren-
tes de relações insatisfatórias, as adolescentes buscam
compensar essas carências através da ligação com o
próprio bebê ou com o parceiro através da constitui-
ção de uma família; vêem na gravidez, a solução para
agredir os pais punindo-os pela falta de afeto; alimen-
tam um sonho de que estarão se realizando sendo mães;
acreditam que é isso que o namorado quer; querem
ser vistas como adultas; desejo de construir uma iden-
tidade feminina ou de demonstrar independência frente
aos pais; querem conquistar um novo status social;
querem testar sua fertilidade.
A literatura nos mostrou que as adolescentes en-
gravidam para imitar personagens de novelas e filmes
ou colegas; ou até mesmo, de alguém da família, como
a própria mãe.
Segundo a literatura, o nível socioeconômico pode
contribuir para a gravidez na adolescência. Adoles-
centes com condições socioeconômica desfavoráveis
e baixa escolaridade têm menos conhecimento sobre
o corpo e os métodos anticoncepcionais e acesso aos
mesmos. Além disso, para muitas, a maternidade é a
única perspectiva de vida, onde o papel social mais
Gabriela Luiza da Silva, Eliana Faria de Angelice Biffi, Carla Denari Giuliani
Caderno Espaço Feminino, v.18, n.2, Ago./Dez. 2007 431
importante por elas desempenhado é o de ser mãe.
Concluímos, através deste estudo, que a gravidez
na adolescência envolve vários fatores, e que é ne-
cessário analisar e conjugá-los de forma mais ampla,
complexa e interdisciplinar. Os programas de educa-
ção e prevenção não devem abordar somente os mei-
os de prevenção. A adolescência é uma fase delicada,
onde ocorrem várias mudanças psicológicas, portanto,
o(a) adolescente pode se encontrar vulnerável, cheio
de conflitos e dúvidas. Deve-se promover uma edu-
cação sexual adequada, que aborde os aspectos soci-
ais, culturais e psicológicos; é preciso respeitar o(a)
adolescente.
O(A) adolescente merece um atendimento mais
humanista e holístico e de uma equipe multiprofissional
que passe por formação continuada.
ReferênciasReferências
ReferênciasReferências
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... A condição de gênero, juntamente com as questões de classe e raça, denominada de interseccionalidade, compõem, como citado anteriormente, a tríade analítica que fundamenta e estrutura o fenômeno da gravidez entre menores. O "gênero", enquanto construção sociocultural, se presentifica no imaginário popular quando se leva em conta concepções de que, por exemplo, meninas são sinônimo de cuidado e maternidade, ou seja, que tanto a gravidez, quanto a prevenção são responsabilidades femininas, enquanto meninos estariam, ainda, na posição de escolha, sem que haja grandes consequências sociais, por exemplo, em relação ao desejo de assumir ou não a paternidade (Silva et al., 2007). Essa realidade também se expressa no cenário da Atenção Básica em Saúde, tendo em vista que, segundo todas as psicólogas entrevistadas, observa-se uma frequência quase nula dos parceiros durante o acompanhamento longitudinal das gestantes adolescentes: "Raro, raríssimo os parceiros delas aparecerem" (Isildinha); "Na maioria não observo a presença do parceiro. ...
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INTRODUÇÃO: A gravidez na adolescência é compreendida como um dos grandes desafios para a saúde pública brasileira, pois se configura como um fenômeno social multifacetado, que entende as questões relacionadas à saúde diretamente associadas aos aspectos sociais, econômicos, de gênero e de raça. Nesse contexto, caracteriza-se a Atenção Básica como um dos locais em que profissionais de saúde estão em contato regular com as menores gestantes e no qual os profissionais de Psicologia podem ser incluídos em muitas equipes. OBJETIVO: Esta pesquisa tem como objetivo compreender as percepções das (os) psicólogas (os), no contexto da Atenção Básica, na cidade de Salvador, em relação às adolescentes grávidas, a partir dos aspectos de gênero, raça e interseccionalidades. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo exploratório-descritivo, fundamentado na abordagem qualitativa. A coleta de dados ocorreu com 08 psicólogas que realizavam atendimento a adolescentes grávidas no contexto da Atenção Básica. RESULTADOS: Os resultados indicaram que grande parte desses profissionais consegue identificar um perfil populacional em seus atendimentos, em relação aos determinantes de gênero e raça, contudo, percebeu-se uma dificuldade em reconhecer, especialmente, o quesito raça, como um fator determinante no processo saúde-doença-cuidado.
... A gravidez pode representar uma tentativa de superação dessas carências afetivas decorrentes de relações insatisfatórias com os pais . As jovens podem buscar compensar suas carências por meio da ligação com o próprio bebê ou com o parceiro, pela constituição de uma nova família (Silva et al., 2007). ...
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Este trabalho trata de uma breve revisao nao sistematica da literatura acerca da gestacao e maternidade na adolescencia. Propos-se uma reflexao ampliada sobre o tema da gestacao e maternidade adolescente, para alem da recorrente perspectiva biomedica, que trata o fenomeno apenas como um problema de saude publica. Constatou-se que a maioria dos estudos descreve a presenca de problemas e aspectos nao saudaveis destas experiencias na vida da adolescente e de seu bebe. No entanto, outros estudos revelam a presenca de consequencias positivas em termos de desenvolvimento associadas a essas experiencias. Dois fatores que interferem, de maneira significativa, na forma como sao percebidas a gestacao e a maternidade nesse periodo de vida sao os contextos socioeconomico e cultural. Alguns estudos demonstram que adolescentes que vivenciam dificuldades socioeconomicas ou afetivas podem perceber a gestacao e consequente maternidade como um projeto de vida viavel e valorizado que lhes possibilita reconhecimento social. Desta forma, fatores contextuais devem ser considerados no desenvolvimento de programas de atendimento voltados a essa populacao.
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A adolescência é um período que se caracteriza pelas experimentações, no que diz respeito à valores, comportamentos, sonhos e preferências. ERIKSON(1976) diz que este período é "um modo de vida entre a infância e a idade adulta." Aliado à gravidez precoce, o processo de adolescer pode se tornar bastante problemático e trazer sérias conseqüências para um desenvolvimento saudável do adolescente. Problemas de saúde causados por um aborto provocado ou falta de condições financeiras da mãe - menina e/ou de seu parceiro, são alguns dos fatores que evidenciam a problemática social da gravidez precoce. Assim, este trabalho discute a gravidez precoce e a necessidade de um trabalho de educação sexual nas escolas que busque informar não só aspectos que dizem respeito à fisiologia do corpo humano, mas também que possa abarcar o universo de significados que caracterizam a subjetividade adolescente, com suas dúvidas, emoções, medos e desejos. Palavras-chave: adolescência, gravidez precoce, educação sexual
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Estudou-se a percepção sobre dificuldades informativas e comunicativas em conversas sobre sexualidade com as filhas. Entrevistou-se quatro casais e cinco mães, envolvendo oito famílias com filhas adolescentes grávidas, pertencentes à classe média baixa. Na análise, seguiram-se os três passos reflexivos da Psicologia Fenomenológica: descrição, que indica o modo de compreensão do tema em foco; redução, que especifica criticamente o modo de compreensão e sua relação com a concretude da situação; e interpretação, que explora novas possibilidades para compreensão, explicação e intervenção. Interpretou-se que os pais encontravam-se confusos em relação aos valores relacionados à sexualidade das jovens e também em relação ao seu papel na educação sexual. A informação era ambígua desde que os pais não tinham clareza dos valores que pretendiam transmitir aos filhos. Por conseguinte, a comunicação não se estabelecia pela ambigüidade associada à re-significação da experiência sexual dos pais diante das vivências das filhas, e das transformações de valores da atualidade. Os pais percebiam adequadamente o que estava acontecendo com a vida sexual das filhas mas não conseguiam meios expressivos efetivos para orientação 1) por estimarem equivocadamente o conhecimento das filhas sobre anticoncepcionais; 2) por tentarem postergar a iniciação sexual das filhas; e 3) por não se considerarem aptos para falar de sexualidade e de métodos anticoncepcionais.
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Realizou-se estudo de corte transversal, com o objetivo de identificar, em escolares do ensino médio, informações relativas aos métodos anticoncepcionais. A amostra compreendeu 816 adolescentes de ambos os sexos de escolas públicas de Aracaju, Sergipe. Em relação a essas informações, foram investigados também aspectos demográficos, pedagógicos, comportamentais e reprodutivos. Verificou-se que 59% dos adolescentes possuíam vida sexual ativa e 57,7% afirmaram não receber informações sobre métodos anticoncepcionais nas escolas. As fontes de informações, revistas, livros e jornais, alcançaram o percentual de 28% e o condon masculino (84,5%) foi o método mais conhecido. A análise possibilitou identificar a necessidade de maior discussão na escola e a inserção dos pais nesse processo.
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Apresenta-se uma análise fenomenológica da ambigüidade na tomada de decisão em comportamento sexual de meninas adolescentes que vieram a engravidar. A análise foi contextualizada nas relações informativas e comunicativas entre filhas e pais sobre temas de sexualidade e cuidados contraceptivos. As considerações analíticas foram baseadas em entrevistas com onze adolescentes gestantes e uma jovem mãe, todos de nível sócio-econômico médio baixo, com idade entre 12 e 19 anos. A informação sobre prevenção foi percebida, pelas jovens, como parcial e incompleta e a comunicação mostrou-se prejudicada por falta de confiança no interlocutor preferencial (no caso, a mãe). A rede de apoio, constituída por tias e amigas, mostrou-se falha em apresentar esclarecimentos ou reduzir incertezas. Além de despreparados, os interlocutores apresentaram dificuldades associadas à falta de informação e a não aceitação da sexualidade adolescente. A interpretação destacou três aspectos relacionados com a gravidez na adolescência: 1) reafirmou a liberdade e iniciativa da mulher em relação à sua sexualidade; 2) confirmou a ausência da discussão franca e informada sobre sexualidade; e, 3) mostrou a substituição do mito do amor romântico pela expectativa clara do sexo prazeroso.
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Neste artigo são analisados os fatores associados com o comportamento sexual e reprodutivo das adolescentes das regiões Nordeste e Sudeste do Brasil. A análise é implementada focando três dimensões deste processo: a iniciação sexual, o uso de métodos anticoncepcionais na primeira relação sexual e fecundidade. Modelos hierárquicos são implementados, pois adolescentes selecionadas de uma mesma comunidade devem ter comportamento sexual e reprodutivo mais semelhantes do que adolescentes selecionadas de áreas diferentes. O nível educacional da adolescente revelou-se o fator de risco mais importante nas três análises implementadas. Adolescentes com cinco ou mais anos de escolaridade são menos prováveis de ter a primeira relação sexual na adolescência; mais propensas a usar métodos anticoncepcionais nesta relação e apresentam menores riscos de ter filhos, quando comparadas com adolescentes com menos de cinco anos de escolaridade.
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Neste estudo, estimou-se a prevalência de gravidez na adolescência (GA), em Salvador, Rio de Janeiro e Porto Alegre, analisando-se o perfil de quem engravida e seus parceiros e os resultados da gestação. Trata-se de inquérito domiciliar, com entrevistas de uma amostra estratificada de homens e mulheres entre 18 e 24 anos, para a avaliação retrospectiva da GA. Foram entrevistados 4.634 jovens (85,2% dos elegíveis); 21,4% dos homens e 29,5% das mulheres com 20 anos e mais referiram GA, mas poucas se deram antes dos 15 anos (0,6% e 1,6%). A gravidez entre adolescentes foi relatada por 55,1% dos homens e 27,9% das mulheres; a maioria dessas teve a GA em relacionamento estável com parceiro mais velho (79,8%). A ocorrência de GA variou inversamente com a escolaridade e a renda. A primeira GA foi levada a termo por 72,2% das mulheres e 34,5% dos homens, estes com maior percentual de relato de aborto provocado (41,3% contra 15,3% das moças). Com o nascimento de um filho antes dos 20 anos, parte das moças parou os estudos temporária (25,0%) ou definitivamente (17,3%), mas 42,1% já se encontravam fora da escola.
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Tendo como universo de análise um grupo de jovens de camadas populares de Belém do Pará, este estudo traz para debate a questão da gravidez/maternidade na adolescência com base em uma perspectiva sócio-antropológica. Objetivando uma compreensão dos significados culturais do evento nesse contexto, o estudo aponta que o mesmo não implica, para as meninas, a ruptura ou abandono de projetos de vida. Ao contrário, a gravidez/maternidade é valorizada por traduzir tanto mudanças de status social para as mesmas, quanto a afirmação de projetos de mobilidade social no futuro, justificando assim, a continuidade dos estudos diante das dificuldades que a situação impõe.
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Resumo: Este texto aborda a cultura homossexual que vem se afirmando na cidade de Uberlândia (MG), através de seus locais de freqüência específica. Para tanto, incorporamos às nossas análises as categorias de gênero, representação e imaginário que permitiram uma melhor compreensão sobre a temática. Abstract: This paper aim to aproproch the homossexual’s cultire that is getting stronger in Uberlândia (MG) through the specific frequently places. In order to get better understanding about this theme, gender, representation and imaginary categories were incorporate in our analysis. Compreender a sexualidade humana como uma construção sócio-cultural e lingüística nos indica que o sexo tem sido concebido diferentemente pelas diversas culturas. Da mesma forma, a homossexualidade tem tido conotações controvertidas e variadas nas civilizações conhecidas. Os (as) pederastas, sodomitas, homossexuais, gays e lésbicas como foram chamados (as) durante os processos civilizatórios fizeram uso de uma enorme quantidade de símbolos, práticas e representações para demonstrar seu desejo sexual. Este texto traz algumas discussões sobre a forma com a qual gays e lésbicas exprimem seu desejo sexual e vem construindo uma cultura particular na cidade de Uberlândia-MG. Para conhecer essa cultura fez-se o uso de fotografias, de visitas a ambientes GLS 1 e também de entrevistas com freqüentadores (as) e proprietários (as) desses locais.