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02 Revista Ciência & Saúde, Porto Alegre, v. 4, n. 1, p. 2-6, jan./jun. 2011
ARTIGO ORIGINAL
Proteção solar para crianças: estudo preliminar sobre
conhecimentos e atitudes dos pais
Sun protection for children: preliminary study on the knowledge and
attitudes of parents
Luana Rosa da Silva1, Aline do Carmo França-Botelho2
RESUMO
Objetivo: Este estudo objetivou analisar os conhecimentos e atitudes dos pais quanto as práticas de proteção solar
para crianças em Araxá-MG.
Materiais e Métodos: Foi uma pesquisa de campo de caráter quanti-qualitativa e exploratória, realizada por meio de
entrevista, no mês de agosto de 2010, com pais ou responsáveis por alunos da quarta série do ensino fundamental. Foi
realizada uma estrevista semi-estruturada abrangendo medidas de fotoproteção, conhecimento dos perigos da
exposição solar e também aspectos sociais como renda familiar e escolaridade.
Resultados: O período do dia de maior exposição foi entre 10 e 16 horas com 65,5%. Quanto ao tempo de exposição
solar diário, notou-se que de três a quatro horas por dia foi o tempo mais relatado (33,3%). Quanto ao uso frequente de
outras formas de proteção solar como: chapéu, boné, camisetas apropriadas, óculos, 66,7% afirmaram não fazer uso.
Quando abordados em relação ao uso de protetor solar, 50% dos participantes relataram que as crianças não fazem o
uso de protetor solar nem quando expostas a sol intenso.
Conclusão: Os hábitos, cuidados e práticas de exposição solar dos pais para com seus filhos não estão adequados e o
conhecimento acerca do assunto câncer da pele é dito por eles insuficiente, embora tenham noções dos perigos da
exposição solar exagerada.
Palavras-chave: câncer de pele; fotoproteção; saúde da criança; promoção da saúde.
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ABSTRACT
Objective: This study aimed to analyze the knowledge and attitudes of parents about sun protection practices for
children in Araxá-MG.
Materials and Methods: It was a field research, with a quantitative-qualitative exploratory approach, conducted through
interviews in the month of August 2010 with parents or guardians of students from the fourth grade of primary education.
We conducted a semi-structured interview covering measures of sun protection, knowledge of the dangers of sun
exposure and also social aspects such as family income and schooling.
Results: The day period of most exposure was between 10 and 16 hours (65.5%). Concerning the amount of daily sun
exposure, we found that three to four hours per day was reported more often (33.3%). Regarding the frequent use of
other forms of sun protection such as hat, cap, appropriate t-shirts, glasses, 66.7% reported no use. When asked
regarding the sunscreen use,50% of the participants reported that the children do not use sunscreen even when exposed
to intense sun.
Conclusion: The habits, care and sun exposure practices of parents towards their children are not adequate and the
knowledge about the subject of skin cancer is considered by them as insufficient, although they have an understanding
of the dangers of excessive sun exposure.
Keywords: skin cancer; sun protection; child health; health promotion.
1Enfermeira. Egressa do curso de Enfermagem do Centro Universitário do Planalto de Araxá (UNIARAXÁ).
2Cirurgiã-Dentista. Doutora em Parasitologia. Professora do Instituto de Ciências da Saúde do Centro Universitário do Planalto de
Araxá (UNIARAXÁ).
Proteção solar para crianças: estudo preliminar... Silva LR et al.
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INTRODUÇÃO
De acordo com a Organização Mundial de Saúde
(OMS) o câncer é um processo de crescimento e
disseminação incontrolados de células. É a segunda
causa principal de mortalidade, depois das doenças
cardiovasculares¹. Em 2010, no Brasil, as estimativas
apontam para uma ocorrência de 489.270 casos novos
de câncer na população brasileira².
O tipo mais incidente é o de pele, com 119.780 novos
casos, sendo que a exposição ao sol é considerada a
principal causa³. A radiação ultravioleta é um
reconhecido carcinógeno de efeito cumulativo4.
Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, a
radiação ultravioleta é o principal responsável pelo
desenvolvimento do câncer da pele, sendo encontrada
não apenas nos raios solares, mas, também em cabines
de bronzeamento artificial. O efeito da radiação
ultravioleta é cumulativo, mesmo depois que a pessoa
para de se expor ao sol poderá ter alterações da pele
muitos anos depois5.
A forma com que as pessoas se expõem ao sol é de
fundamental importância na prevenção do câncer de
pele. A exposição ao sol na infância é um importante
fator de risco para câncer de pele6. Quando a exposição
excessiva dá-se na infância e juventude, aumenta o
risco de desenvolvimento do câncer da pele no futuro. A
infância é uma fase em que a criança fica mais
vulnerável ao efeito nocivo por ter várias atividades
recreativas e esportivas ao sol.
A prevenção primária do câncer da pele deve ter
como principal população-alvo a infantil, uma vez que as
crianças se expõem ao sol três vezes mais que os
adultos, e a exposição cumulativa durante os primeiros
10 a 20 anos de vida determinam o risco de câncer da
pele, mostrando ser a infância uma fase particularmente
vulnerável aos efeitos nocivos do sol. Assim, um
programa de prevenção primária do câncer da pele
envolve necessariamente pais e professores,
responsáveis por evitar a exposição solar das crianças
nos horários de maior radiação ultravioleta, ou seja,
entre 10h e 16h. É fundamental também estimular bons
hábitos de proteção física, como chapéu ou guarda-sol,
e evidentemente, o uso de protetores solares com fator
de proteção solar no mínimo de 157.
Considerando a importância do câncer da pele num
país de clima tropical como é o Brasil, este estudo
tornou-se pertinente, pois objetivou analisar os
conhecimentos e atitudes dos pais quanto às práticas de
proteção solar para as crianças, grupo altamente
vulnerável à exposição solar excessiva. Além disso, os
resultados obtidos podem servir de subsídios para o
desenvolvimento de ações de educação em saúde na
escola, focando a prevenção do câncer da pele.
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de uma pesquisa de campo de caráter
quanti-qualitativa e exploratória. O projeto obedeceu às
normas da Resolução 196/96, foi encaminhado ao
Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário do
Planalto de Araxá (UNIARAXÁ) e só após a sua
aprovação foi iniciado. A diretora da escola onde a
pesquisa foi realizada assinou previamente um termo de
autorização para o desenvolvimento da pesquisa.
A coleta de dados foi realizada no mês de agosto de
2010 em uma escola da rede pública municipal de
Araxá-MG, localizada na periferia da cidade, que
atende, em dois turnos, cerca de 800 alunos do ensino
fundamental. A amostra foi de conveniência, em reunião
de pais e mestres, sendo composta pelos pais ou
responsáveis pelos alunos da quarta série, que,
voluntariamente, concordaram em participar da
pesquisa assinando um termo de consentimento livre e
esclarecido, totalizando 30 voluntários. Foi realizada
uma estrevista semi-estruturada abrangendo medidas
de fotoproteção, conhecimento dos perigos da
exposição solar e também aspectos sociais como renda
familiar e escolaridade. As eventuais dúvidas sobre o
tema foram esclarecidas imediatamente após as
entrevistas.
Os dados foram tabulados e analisados através de
estatística descritiva, com cálculo de médias e desvios-
padrão através dos programas Instat e Excel.
RESULTADOS
De acordo com a tabela 1 nota-se que o ensino
fundamental incompleto foi o nível de escolaridade mais
Proteção solar para crianças: estudo preliminar... Silva LR et al.
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TABELA 1 - Distribuição dos entrevistados quanto ao
nível de escolaridade.
Escolaridade
N
%
Ensino fundamental incompleto
12
40
Ensino fundamental completo
4
13,4
Ensino médio incompleto
3
10
Ensino médio completo
9
30
Ensino superior incompleto
1
3,3
Ensino superior completo
TOTAL
1
30
3,3
100
TABELA 2 - Distribuição dos entrevistados quanto à
renda familiar.
Renda Familiar
N
%
Menos de 1 salário mínimo
3
10
Entre 1 e 2 salários mínimos
23
76,6
Entre 3 e 4 salários mínimos
2
6,7
Mais que 4 salários mínimos
2
6,7
TOTAL
30
100
presente (40%). Segundo a tabela 2, a renda familiar
entre um e dois salários mínimo foi a mais relatada
(76,6%).
A figura 1 mostra os horários de maior exposição
solar das crianças relatados pelos pais, destaca-se que
o período do dia de maior exposição é entre 10 e 16
horas com 65,5%. Quanto ao tempo de exposição solar
diário da criança, notou-se que de três a quatro horas
por dia foi o tempo mais citado (33,3%). E quanto ao
uso frequente de outras formas de proteção solar como:
chapéu, boné, camisetas apropriadas, óculos, 66,7%
afirmaram que os filhos não fazem uso.
Em relação à tabela 3, quando abordados em relação
ao uso de protetor solar (50%) dos participantes
entrevistados relataram que as crianças não fazem o
TABELA 3 - Distribuição dos entrevistados quanto ao
uso de protetor solar pelos seus filhos.
Uso de Protetor Solar
N
%
Diariamente
4
13,4
Somente no verão quando se expõe ao sol
intenso
10
33,3
Em qualquer estação, quando se expõe ao sol
intenso
1
3,3
Não usa
15
50
TOTAL
30
100
FIGURA 1 - Índices percentuais relativos aos horários de maior
exposição solar das crianças segundo as respostas de seus
pais.
FIGURA 2 - Índices percentuais relativos ao conhecimento
sobre câncer de pele relatado pelos entrevistados.
uso de protetor solar nem quando expostas a sol
intenso.
A figura 2 mostra as respostas relativas ao
questionamento feito aos pais sobre seus
conhecimentos sobre câncer de pele, destaca-se a
resposta “insuficiente”, mencionada por 80% dos
participantes.
DISCUSSÃO
Esse estudo buscou conhecer hábitos de exposição
solar e práticas de fotoproteção em escolares. Os
resultados mostraram que essas crianças correm risco
de desenvolvimento de câncer de pele no futuro, pois
não fazem uso de medidas adequadas de proteção
solar.
Um trabalho realizado na cidade de Botucatu, 78,79%
dos participantes de um estudo com um grupo de risco,
Proteção solar para crianças: estudo preliminar... Silva LR et al.
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os carteiros, possuiam o segundo grau completo, talvez
pelo fato dessa profissão exigir esse nível de
escolaridade8. No presente estudo o nível de
escolaridade foi baixa, com 40% apresentando ensino
fundamental incompleto. A baixa renda familiar
observada no estudo pode estar relacionada à
escolaridade. A renda foi bem diferente de outro estudo
similar a esse, realizado em Recife, onde 75,4% dos
participantes recebiam acima de 10 salários mínimos e
o nível de escolaridade deles também era maior4.
De acordo com estudo realizado no Distrito Federal,
50% dos participantes universitários afirmaram
exposição das 10 às 16 horas, corroborando com o
presente estudo9. No Recife, em academia de ginástica,
apenas 13,3% dos participantes não utilizam protetor
solar4. Esse percentual, bem mais baixo que o abtido
aqui, pode estar relacionado ao perfil da amostra,
predominantemente jovem, e ao fato de ser uma cidade
litorânea.
Um estudo multicêntrico na Europa relativo à
exposição solar de crianças durante as férias de verão
foi realizado de 1995 a 1997, um total de 631 crianças
foram recrutadas na Bélgica, Alemanha, França e Itália.
Apenas 25% das crianças sempre utilizava protetor
solar10.
O fato dos pais não tomarem o cuidado quanto à
exposição solar excessiva dos seus filhos pode ser
consequencia do baixo nível de informação que tem
sobre o tema, o que sugere a necessidade de ações de
educação em saúde efetivas na escola e também na
comunidade. Vale salientar que quando questionados
sobre o sol como prejudicial à pele, 82,8% dos
participantes disseram que sim, que o sol pode ser
prejudicial a qualquer pessoa e quanto aos possíveis
danos à visão, 93,4% responderam afirmativamente.
Observa-se que embora tenham noções dos perigos da
exposição solar prolongada, não adotam as medidas
necessárias para a fotoproteção de seus filhos, isso
pode estar relacionado ao baixo nível de informações
sobre o câncer da pele e sua relação causal com a
exposição solar cumulativa, especialmente na infância e
juventude.
Além disso, a renda familiar e a escolaridade dos pais
pode ter ligação com a baixa adesão as práticas de
proteção solar, especialmente ao filtro solar, que
embora tenha se popularizado mais, ainda não é um
produto compatível ao poder aquisitivo de muitas
famílias brasileiras. Reconhecendo que a escola tem um
papel importante na vida diária das crianças, é local
onde elas passam grande parte de seu tempo e com
muitas atividades realizadas ao sol, é um local
estratégico para ações de educação em saúde sobre o
tema câncer da pele. Nesse contexto, os docentes
desempenham um papel central, mas para que a
atuação dos professores tenha bons resultados, é
necessário primeiramente conscientizá-los quanto ao
problema, só assim poderão atuar como colaboradores
em prol de uma mudança de atitudes e práticas dos
alunos e dos pais.
Ações de intervenção de educação em saúde são
uma proposta, a exemplo do programa Sol Amigo11,
realizado no Brasil desde 2006, que tem por objetivo
levar informação a comunidade que não está bem
informada sobre os efeitos à saúde decorrentes da
exposição excessiva à radiação ultravioleta. As práticas
saudáveis adquiridas na escola são mais efetivas se
tiverem amplo apoio e conscientização das famílias,
professores e direção.
Com base nos resultados podemos concluir que os
hábitos, cuidados e práticas de exposição solar dos pais
para com seus filhos não estão adequados e o
conhecimento acerca do assunto câncer da pele é dito
por eles insuficiente, embora tenham noções dos
perigos da exposição solar exagerada.
REFERENCIAS
1. Organização Mundial de Saúde (OMS). Câncer.
[capturado em 2011 mar 14]; Disponível em:
http://www.who.int/topics/cancer/es.
2. Instituto Nacional de Câncer (INCA). Estimativa 2010.
Incidência de câncer no Brasil. [capturado em 2011 mar
14]; Disponível em:
http://www.inca.gov.br/estimativa/2010.
3. Instituto Nacional de Câncer (INCA). Câncer de pele,
2010. [capturado em 2011 mar 14]; Disponível em:
http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=333.
4. Hora C, Guimarães PB, Martins S, Batista CVC, Siqueira
R. Avaliação do conhecimento quanto à prevenção
docâncer da pele e sua relação com exposição solar em
freqüentadores de academia de ginástica, em Recife. An
Bras Dermatol. 2003 nov/dez; 78(6):693-701.
Proteção solar para crianças: estudo preliminar... Silva LR et al.
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06 Revista Ciência & Saúde, Porto Alegre, v. 4, n. 1, p. 2-6, jan./jun. 2011
5. Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Câncer de
pele. [capturado em 2011 mar 14]; Disponível em:
http://www.sbd.org.br/doenca/cancerdepele.aspx.
6. Eakin P, Maddock J, Techur-Pedro A, Kaliko R, Derauf
DC. Sun protection policy in elementary schools in Hawaii.
Prev Chronic Dis. 2004; 1(3):A05.
7. Sociedade Brasileira de Dermatologia. Análise de dados
das campanhas de prevenção ao câncer da pele
promovidas pela Sociedade Brasileira de Dermatologia de
1999 a 2005. An Bras Dermatol. 2006 nov/dez; 81(6):533-
9.
8. Popim RC, Corrente JE, Marino JAG, Souza CA. Câncer
de pele: uso de medidas preventivas e perfil demográfico
de um grupo de risco na cidade de Botucatu. Cien Saude
Colet. 2008 aug; 13(4):1331-6.
9. Castilho IG, Sousa MAA. Fotoexposição e fatores de risco
para câncer de pele: uma avaliação de hábitos e
conhecimentos entre estudantes universitários. An Bras
Dermatol. 2010 mar/abr; 85(2):173-8.
10. Severi G, Cattaruzza MS, Baglietto L, Boniol M, Doré JF,
Grivegnée AR, Luther H, Autier P. Sun exposure and sun
protection in young European children: an EORTC
multicentric study. Eur J Cancer. 2002 Apr; 38(6):820-6.
11. Programa Sol Amigo. [capturado em 2011 mar 14];
Disponível em: http://www.solamigo.org.
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