ArticlePDF Available

O povoado pré-histórico do Outeiro da Assenta (Óbidos)

Authors:
  • Center for Archaeological Studies (Oeiras City Council) and ICArEHB (Algarve University)
  • Pulsar da História

Abstract and Figures

O povoado pré-histórico do Outeiro da Assenta é conhecido na bibliografia arqueológica portuguesa desde 1914, quando o seu explorador, o Dr. Félix Alves Pereira, iniciou a publicação de desenvolvida notícia, nas páginas de “O Arqueólogo Português”, em que deu conta dos principais resultados da primeira campanha de escavações ali efectuada em 1911. Contudo, apesar do evidente interesse arqueológico da estação, sublinhado pela importância dos espólios arqueológicos recolhidos, nem as escavações tiveram a continuidade adequada, pois apenas se efectuou uma segunda campanha, no ano de 1913, dirigida por Luís Chaves, nem os materiais conheceram a publicação sistemática e exaustiva que mereciam. Só a partir de 2006 se deu início ao desenho dos materiais que agora se publicam – quase todos inéditos – guardados no Museu Nacional de Arqueologia, embora nem todos os representados nos trabalhos publicados por aqueles dois autores tivessem sido agora identificados nas colecções. Tal fica-se a dever a diversas reorganizações dos depósitos daquela Instituição, ao longo das últimas décadas.
Content may be subject to copyright.
3
ESTUDOS
ARQUEOLÓGICOS
DE OEIRAS
Volume 17 • 2009
CÂMARA MUNICIPAL DE OEIRAS
2009
4
ESTUDOS ARQUEOLÓGICOS DE OEIRAS
Volume 17 2009 ISSN:
O
872-6
O
86
E
ditor ciEntífico João Luís Cardoso
dEsEnho E fotografia – Autores ou fontes assinaladas
Produção Gabinete de Comunicação / CMO
corrEsPondência Centro de Estudos Arqueológicos do Concelho de Oeiras
Fábrica da Pólvora de Barcarena
Estrada das Fontainhas
2745-615 BARCARENA
Os artigos publicados são da exclusiva responsabilidade dos Autores.
Aceita-se permuta
On prie l’échange
Exchange wanted
Tauschverkhr erwunscht
OriEntação gráfica E
rEvisão d E Provas João Luís Cardoso e Autores
MontagEM, iMPrEssão E acabaMEnto Europress, Lda. – Tel. 218 444 340
dEPósito LEgaL n.º 97312/96
Estudos Arqueológicos de Oeiras é uma revista de periodicidade anual, publicada em continuidade desde 1991, que privilegia,
exceptuando números temáticos de abrangência nacional e internacional, a publicação de estudos de arqueologia da Estremadura
em geral e do concelho de Oeiras em particular.
Possui um Conselho Assessor do Editor Científico, assim constituído:
– Dr. Luís Raposo (Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa)
– Professor Doutor João Zilhão (Universidade de Bristol, Reino Unido)
– Professor Doutor Jean Guilaine (Collège de France, Paris)
– Professor Doutor Martín Almagro Gorbea (Universidade Complutense de Madrid)
– Professor Doutor Jorge de Alarcão (Universidade de Coimbra)
5
CÂMARA MUNICIPAL DE OEIRAS
2009
Editor Científico:
João Luís Cardoso
VOLUME COMEMORATIVO DO
XX ANIVERSÁRIO
do
Centro de Estudos Arqueológicos
do Concelho de Oeiras
(Câmara Municipal de Oeiras)
1988 - 2008
261
Estudos Arqueológicos de Oeiras,
17, Oeiras, Câmara Municipal, 2009, p. 261-356
1. INTRODUÇÃO
O povoado pré-histórico do Outeiro da Assenta é conhecido na bibliografi a arqueológica portuguesa desde 1914,
quando o seu explorador, o Dr. Félix Alves Pereira, iniciou a publicação de desenvolvida notícia, nas páginas de
“O Arqueólogo Português”, em que deu conta dos principais resultados da primeira campanha de escavações ali
efectuada em 1911. Contudo, apesar do evidente interesse arqueológico da estação, sublinhado pela importância
dos espólios arqueológicos recolhidos, nem as escavações tiveram a continuidade adequada, pois apenas se efec-
tuou uma segunda campanha, no ano de 1913, dirigida por Luís Chaves, nem os materiais conheceram a publica-
ção sistemática e exaustiva que mereciam. Só a partir de 2006 se deu início ao desenho dos materiais que agora
se publicam – quase todos inéditos – guardados no Museu Nacional de Arqueologia, embora nem todos os repre-
sentados nos trabalhos publicados por aqueles dois autores tivessem sido agora identifi cados nas colecções. Tal
ca-se a dever a diversas reorganizações dos depósitos daquela Instituição, ao longo das últimas décadas.
Félix Alves Pereira (1865-1936) foi ofi cial e, mais tarde, Conservador do Museu Etnológico, de 15 de Maio de
1902 a 9 de Setembro de 1911, data em que, por incompatibilidade das funções que passou a exercer no Congres-
so da República, onde auferia maior remuneração, pediu a exoneração do Museu Etnológico. Foi até o fi m da vida
dedicado amigo e colaborador de Leite de Vasconcelos, devendo-se-lhe elevado número de trabalhos de campo
ao serviço do Museu, depois publicados no órgão ofi cial do mesmo, O Arqueólogo Português. Foi o caso das
explorações por si conduzidas no Outeiro da Assenta, onde efectuou duas campanhas. A primeira, corresponden-
te a cerca de duas semanas, foi iniciada a 24 de Maio de 1911, quando ainda pertencia ao Museu Etnológico, que
viria a abandonar poucos meses depois. A segunda, realizada em 1913, já não foi por ele dirigida, mas sim por
Luís Chaves, então jovem preparador do Museu, ao serviço do qual se manteve até ser atingido pelo limite de
idade.
São dois os estudos publicados por Félix Alves Pereira em “O Arqueólogo Português”. No primeiro, de 1914,
descreve os trabalhos por si dirigidos no Outeiro em 1911, a estratigrafi a e os principais achados sem, no entan-
to, os descrever em pormenor (PEREIRA, 1914). A caracterização destes é efectuada no segundo estudo de sua
autoria, publicado no ano seguinte, atribuindo a ocupação pré-histórica ali identifi cada à época calcolítica, com
O POVOADO PRÉ-HISTÓRICO DO OUTEIRO DA ASSENTA (ÓBIDOS)*
João Luís Cardoso¹ & Filipe Martins²
* A coordenação e a redacção deste trabalho são da autoria do primeiro signatário, devendo-se os desenhos que o ilustram ao segundo
signatário.
1 Professor catedrático da Universidade Aberta. Coordenador do Centro de Estudos Arqueológicos do Concelho de Oeiras (Câmara Muni-
cipal de Oeiras).
2 Centro de Estudos Arqueológicos do Concelho de Oeiras (Câmara Municipal de Oeiras).
262
base na comparação dos materiais exumados com os recolhidos pelos irmãos Siret na estação de Los Millares,
reportada aos últimos séculos do III milénio a.C.
A ocupação sidérica, com base nas comparações efectuadas com as produções de Santa Olaia (Figueira da Foz),
é atribuída ao século IV a. C. (PEREIRA, 1915), conclusão que, como hoje se sabe, deve ser envelhecida de cer-
ca de trezentos anos, sem prejuízo de existirem materiais no Outeiro da Assenta reportáveis aos fi nais da Idade
do Ferro, até à época republicana, como adiante se verá.
Para melhor conhecer as condições em que Félix Alves Pereira efectuou as explorações nesta importante esta-
ção arqueológica, transcrevem-se as missivas que, no decurso dos trabalhos de campo, foram endereçadas a
J. Leite de Vasconcelos, dando-lhe conta do progresso dos mesmos.
1.ª Campanha de escavações
“Um destes dias ouvi penedro, desconfi ei; mas ontem ouvi oiteiro d´Assenta; o mm aconteceu com Oiteiro
~
ılrei, de que ontem também tive uma repetição. (…).
Já mandei pedir licença para (???) sondagens no tal Oiteiro d´Assenta de que suspeitei e onde encontrei um
machado no solo. P.ª a semana vou ver se é verdade haver uma caverna junto à lagoa (…)”.
Extracto de carta assinada e datada de Caldas da Rainha de 22 de Abril de 1911 (Fig. 1).
“Hoje vou a Óbidos para pessoalmente tratar das sondagens no Oiteiro da Assenta, relativamente a trabalhado-
res, local etc. Por carta disseram ao Dr. Correia que não havia diffi culdades em licenças. Tenciono começar
amanhã, 6.ª feira
Extracto de carta assinada e datada de Caldas da Rainha de 27 de Abril de 1911.
Fig. 1 – Extracto de carta autografa de Félix Alves Pereira a J. Leite de Vasconcelos, datada das Caldas da Rainha de 22 de Abril
de 1911, referindo a intenção de proceder a sondagens no Outeiro da Assenta. Arquivo do Museu Nacional de Arqueologia.
263
“As licenças para as explorações d´Assenta são um pouco complicadas porque são muitos proprietários a entes-
tarem com os seus talhos no escarpado. Mas heide chegar ao fi m. Nas terras pequenas, ninguém tem pressa…”
Extracto de postal assinado e datado de Caldas da Rainha de 30 de Abril de 1911.
Conforme o autor refere no início do extenso relato dos trabalhos publicado em 1914, estes iniciaram-se a 24
de Maio de 1911, em resultado de uma estada na vizinha povoação das Caldas da Rainha, para tratamento nas
termas daquela cidade. Prosseguiram até 17 de Junho de 1911, segundo a informação constante de carta dirigida
a J. Leite de Vasconcelos a 5 de Dezembro de 1915.
2.ª Campanha de escavações (1913)
“Como vou passar estes meses nas Caldas, parecia-me conveniente continuar as escavações no Outeiro da
Assenta (Óbidos); eu não posso assistir mais que uma vez por semana, mas o collector novo poderia talvez ir
para lá pelo menos uns 15 dias; era já bastante e não seria caro. Produzia máu efeito abandonar de todo, e V. Ex.ª
poderá ver que o espólio é interessante bastante. Não me esqueça com a resposta (…)”.
Extracto de bilhete postal assinado, com carimbo dos Correios das Caldas da Rainha de 4 de Julho de 1913.
“Muito favor era que me pudesse dar as respostas ao que perguntei no meu derradeiro postal; a saber:
(…) – ida do colector p.ª o Outeiro da Assenta uns 15 dias pelo menos (…)”.
Extracto de bilhete postal assinado, com carimbo dos Correios das Caldas da Rainha de 8 de Julho de 1913.
“Amanhã já dormimos nas Caldas (Praça da Republica). Se o colector não é bom para ir, eu não queria lá um
insciente e então fi cará para melhor ocasião a continuação dos trabalhos do Outeiro da Assenta (…)”.
Extracto de bilhete postal não assinado, datado de Vale de 13 de Julho de 1913.
“Estava eu em casa do Dr. Correia, matutando num calco de inscripção romana, quando chegou o postal de V.
Ex.ª Agradeço-o pelo carinho com que se me refere. E estimo a vinda do Fulgencio que já me constava achar-se
ao serviço, se é o Fulgencio quem vem p.ª o Outeiro da Assenta. Heide ver se lhe convem mais estar aqui ou em
Óbidos, mas creio ser aqui, porque a distancia de Óbidos também não dispensava o bégueiro. Eu estou nas Cal-
das até ao fi m de Setembro”.
Extracto de carta assinada com rubrica, datada de 29 de Julho de 1913.
“Por informação que tomei, convem mais que a exploração do Outeiro da Assenta se faça mais em Agosto do
que em Setembro, porque neste mês há maior difi culdade em obter trabalhadores por preço razoavel. Também,
se o Chaves não for muito exigente, há em Óbidos casa decente p.ª se hospedar e Óbidos é mais próximo do
logar dos trabalhos do que as Caldas. Isto quasi me faz esquecer que já não sou um estranho ao Museu!”.
Extracto de carta assinada, datada de Caldas da Rainha de 7 de Agosto de 1913.
Desconhece-se a duração da segunda campanha, que terá sido realizada no Verão de 1913, com o auxílio do
colector Fulgencio e de Luís Chaves (1889-1975), preparador do Museu Etnológico desde 31 de Agosto do ano
anterior, aposentando-se como Conservador em 25 de Novembro de 1957. Na verdade, foi sob a orientação deste
etnólogo que se efectuou a segunda e última campanha arqueológica no Outeiro, no ano de 1913, a qual se encon-
tra descrita de forma circunstaciada no trabalho de sua autoria publicado em 1915 (CHAVES, 1915).
264
A riqueza arqueológica da região era já conhecida, sobretudo desde a exploração, anos antes do vizinho povo-
ado pré-histórico do Outeiro de S. Mamede, pelo colector do Museu Etnológico Bernardo de Sá, o qual dista
cerca de 4 km para Sul-sudoeste do Outeiro da Assenta. Também é de registar a presença do povoado calcolítico
fortifi cado da Columbeira, implantado sobre esporão rochoso dominando a planície aluvial, cerca de 7 Km a Sul
Outeiro da Assenta, explorado na década de 1990 por J. L. M. Gonçalves, então arqueólogo da Câmara Municipal
do Bombarral.
A presente publicação vem, pois, na
sequência da que foi anteriormente
realizada sobre aquela importante esta-
ção arqueológica (CARDOSO & CAR-
REIRA, 2003), respeitando idêntica
metodologia e objectivos.
2. SITUAÇÃO GEOGRÁFICA E
TRABALHOS EFECTUADOS
O morro em que se implantou o
povoado pré-histórico que, mais tarde,
foi reocupado na Idade do Ferro e na
época romana, embora nesta última de
forma pouco acentuada, corresponde a
um afl oramento de calcários bem estra-
tifi cados do Infralias, pontuando vasta
planície aluvial – a Várzea da Rainha –
colmatada por depósitos recentes, já na
época histórica e correspondente a um
dos ramos montantes da antiga lagoa
de Óbidos, cujo limite atingia a base do
cabeço.
A evidente individualização na paisa-
gem do Outeiro, está, aliás, na origem
do nome de povoação que lhe fi ca pró-
xima, Trás-do-Outeiro, que expressiva-
mente evoca a sua importância como
acidente orográfi co, tendo aquele nome,
por certo, origem nos habitantes de
Óbidos, para quem a povoação de Trás-
-do-Outeiro estaria de facto encoberta
pelo Outeiro da Assenta, o qual dista
menos de 1 km de Óbidos (PEREIRA,
1914, p. 136, nota 1).
Do ponto de vista administrativo,
pertence ao concelho de Óbidos, fre-
Fig. 2 – Localização do Outeiro da Assenta: na Península Ibérica; à escala regional,
assinalando-se, para além desta estação (1), o Outeiro de São Mamede (2) e o
povoado fortifi cado da Columbeira (3); e na Carta Militar de Portugal à escala de
1/25000 (reduzida), Folha 388, Lisboa: Instituto Geográfi co do Exército, 2004).
265
guesia de São Pedro, sendo as suas coordenadas as seguintes (Carta Militar de Portugal à escala de 1/25 000,
folha 338):
39.º 22´ 20´´ long. N; 9.º 07´ 47´´ lat. W de Greenwich, atingindo a altitude máxima de cerca de 73 metros
(Fig. 2).
O cabeço, de forma alongada, culminando ao longo de todo o seu comprimento em uma crista rochosa orien-
tada NW-SE, descai abruptamente sobre a planície aluvial do lado sul (Fig. 3), sendo igualmente de difícil acesso
do lado nascente, constituindo como que uma muralha natural, “magnifi camente disposta para ao longo dela se
arrumarem muitas habitações primitivas, desde a cumeada até ao sopé” (PEREIRA, 1914, p. 136) enquanto que,
do lado poente, o acesso é mais fácil, a partir da várzea adjacente (Fig. 4).
A fácil defensabilidade, a proximidade de terras férteis, o fácil marisqueio e a captura de pescado, na lagoa, a
juntar à existência de uma nascente próxima, a “Fonte da Moura”, foram razões que levaram Félix Alves Pereira
a considerar a existência de um povoado pré-histórico.
Os primeiros achados, feitos à superfície, por aquele arqueólogo, vieram juntar-se às informações sobre uma
pequena gruta situada na encosta do Outeiro da Assenta descoberta acidentalmente quando se explorava pedra
para a construção da estação do caminho de ferro de Óbidos. Foram então encontrados sete deposições mortu-
árias, acompanhadas de um vaso, munido de duas asas, cuja tipologia, com base num hipotético fragmento do
mesmo recolhido pelo acompanhante de Félix Alves Pereira aquando do reconhecimento ao local, cerca de vinte
anos depois, lhe pareceu romana. Dos despojos humanos, foi ainda possível encontrar pequenos fragmentos
ósseos, dispersos pelo terreno. Mas o achado mais notável foi o de duas pulseiras de ouro, lisas e de secção
circular, as quais foram então vendidas a um ourives das Caldas da Rainha. Aceitando-se a associação destas peças
ao depósito funerário, este seria reportável à Idade do Bronze, não se relacionando, deste modo, com as ocupações
Fig. 3 – A várzea da Rainha, desenvolvendo-se do lado sul do Outeiro da Assenta (do lado direito da foto), a qual, na época de
ocupação do povoado pré-histórico, corresponderia a um braço das cabeceiras da lagoa de Óbidos. Foto de F. Martins.
266
arqueológicas identifi cadas no Outeiro, adiante caracterizadas. Aqui, os trabalhos do descobridor da estação,
iniciaram-se num local situado na parte mais elevada do morro abrigado pela parede rochosa e voltado ao nas-
cente, “onde alguma família primitiva poderia ter construído, com relativo conforto, a sua habitação” (PEREIRA,
1914, p. 139). Este local forneceu-lhe abundantes restos de alimentação pré-histórica, especialmente valvas de
ostra, de mistura com materiais daquela época e alguns romanos, na parte superfi cial da sondagem.
Verifi cando-se infrutífera a exploração encetada noutro local do alto do cabeço, passou-se a investigar as “cama-
das de detritos na encosta abrigada pela alta cortina do penhasco” (PEREIRA, 1914, p. 140), que o arqueólogo
supunha terem-se formado à custa dos materiais remobilizados do alto, juntamente com os pertencentes às habi-
tações que aí se tivessem construído. Para o efeito, abriu uma vala paralela à linha de maior declive, por forma a
poder observar o desenvolvimento dos estratos arqueológicos. À profundidade de 2 m, recolheram-se restos
humanos, também encontrados na sondagem inicial, sendo a terra muito escura. A maiores profundidades,
observaram-se acumulações de valvas de ostra em grande quantidade, de mistura com fragmentos cerâmicos
decorados pré-históricos e ossos. Os materiais romanos, em muito menor quantidade, ocorriam apenas na parte
mais alta dos depósitos. Porém, a falta de uma sequência estratigráfi ca nítida, obrigou Félix Alves Pereira a
procurar outro local, que lhe foi indicado por um dos trabalhadores, correspondendo a plaino existente na
parte superior do Outeiro, situado na extremidade NW da plataforma, limitado por esporão rochoso (Fig. 5).
No decurso da escavação, deparou-se, com sementes que lhe pareceram de trigo, conservados em três grandes
vasos de barro fragmentados, feitos ao torno rápido, associados a barro de revestimento de cabanas, com impres-
sões de caniços, um cossoiro fragmentos pré-históricos decorados, um serrote de bronze (sic), e outros materiais
Fig. 4 – O Outeiro da Assenta, do lado direito da foto, visto do castelo de Óbidos. Em primeiro plano, em baixo, a estação de
caminho de ferro de Óbidos. Foto de F. Martins.
267
pré-históricos. Na continuação, recolheu-
se uma fíbula e um peso de tear calco-
lítico, com os quatro cantos perfura-
dos.
Pela descrição, verifi ca-se que os
grandes recipientes de armazenamento
se encontravam a menor profundidade
(cerca de 2 a 3 palmos) que o depósito
com espólios pré-históricos, alguns a
mais de 1 m de profundidade, entre os
quais “um belo ponteiro de bronze” (sic)
(PEREIRA, 1914, p. 143). A escavação,
que atingiu mais de 1,50 m de profun-
didade, fornecia no níveis mais baixos
artefactos exclusivamente pré-históricos,
concluindo-se que os vasos com semen-
tes não pertenciam à dita ocupação. Ao
oitavo dia, a escavação, afastando-se da parte marginal da plataforma, com maior declive, e progredindo pela zona
central da mesma, permitia, a pouco e pouco, uma melhor identifi cação da sucessão estratigráfi ca. Assim, foi
possível identifi car duas camadas arqueológicas principais. A primeira, desenvolvendo-se por baixo do solo arável,
com cerca de 0,20 m de potência, era constituída por um nível de argila vermelha, relacionada com o pavimento
de habitações; reportam-se a esta ocu-
pação os vasos de armazenamento com
sementes de cereais, pertencentes à
Idade do Ferro (CARDOSO, 2004 b, p.
283), podendo admitir-se que se encon-
travam enterrados no subsolo das
habitações. A camada mais baixa conti-
nha exclusivamente artefactos pré-his-
tóricos, confirmando-se as observa-
ções anteriormente efectuadas noutros
locais, conforme já acima se mencionou
(Fig. 6).
As explorações efectuadas por Luís
Chaves deram continuidade às do seu
antecessor, alargando o sector já aberto
por este no plaino correspondente ao
topo da elevação, procedendo depois a
diversas sondagens naquela área, no
que designou por valas, realizadas
segundo linhas paralelas entre si, ao
comprido e ao través (entenda-se, do
eixo da elevação), em número de seis,
completados por sondagens pontuais,
Fig. 5 – Vista das escavações realizadas por Félix Alves Pereira na extremidade
norte /noroeste da plataforma somital da elevação (in PEREIRA, 1914, Fig. 2).
Fig. 6 – Corte estratigráfi co do Outeiro da Assenta realizado por Félix Alves Pe-
reira. Observa-se a sobreposição da camada da Idade do Ferro, com grandes re-
cipientes utilizados como contentores de cereais, aparentemente enterrados no
subsolo das habitações com piso de barro vermelho calcado, à camada pré-histó-
rica assente no substrato rochoso (in PEREIRA, 1915, Fig. 1).
268
em número de catorze (CHAVES, 1915). Só aquelas deram espólio arqueológico, descrito ao longo do artigo,
repartido entre o Calcolítico e a Época Romana, não sendo, porém, abundante a recolha, o que poderá ter deter-
minado a suspensão dos trabalhos. Com efeito, o autor considerou inútil a abertura de mais sondagens para além
das realizadas na plataforma superior do Outeiro. A última vala foi aberta na base de rochedo na encosta poente,
depois da realização de várias sondagens infrutíferas. Ali recolheu materiais pré-históricos, proto-histórico e roma-
nos.
Parte destes materiais, conjuntamente com os exumados por Félix Alves Pereira, encontravam-se expostos no
Mostrador n.º 47 do Museu Nacional de Arqueologia, a par com espólio do Outeiro de São Mamede e de Leceia,
antes da remodelação de que este foi objecto, na década de 1970 (MACHADO, 1965, p. 245).
3. ESTUDO DO ESPÓLIO ARQUEOLÓGICO
3.1. Espólios do Neolítico Antigo e do Calcolítico
3.1.1. Pedra lascada
Nas Fig. 7 a 10 representam-se os artefactos de pedra lascada existentes nas colecções. Estão representa-
das diversas categorias, comuns em outras estações da mesma época e região: lamelas não retocadas (Fig. 7,
n.º 1 a 12); lâminas ou fragmentos de lâminas, via de regra ostentando retoques ao longo de um ou de ambos
os bordos (Fig. 7, n.º 12 a 15; Fig.8, n.º 1 a 11; Fig. 9, n.º 2); denticulados sobre lasca (Fig. 9, n.º 3, 4); ras-
padores sobre lasca (Fig. 9, n.º 5, 6); raspadeiras (Fig. 10, n.º 2); as chamadas “foicinhas”, ou folhas bifaciais
de contorno elipsoidal (Fig. 9, n.º 1), também sobre lasca apenas com o lado activo retocado marginal-
mente a partir de ambas as faces (Fig. 10, n.º 1); as pontas de seta, de base recta ou côncava e de trabalho
bifacial mais ou menos desenvolvido (Fig. 10, n.º 3 a 8); e, enfi m, os núcleos prismáticos de lamelas, com
planos de percussão preparados, de que se recolheram três exemplares (Fig.9, n.º 7 a 9).
Trata-se de peças invariavelmente de sílex, estando representadas diversas tonalidades, com predomínio das
acinzentadas, acastanhadas e anegradas, sendo duas pontas de seta talhadas em sílex branco.
3.1.2. Pedra polida
Os onze artefactos de pedra polida identifi cados distribuem-se sobretudo pelos dois tipos mais frequentes: os
exemplares possuindo gume simétrico, usualmente integrados na categoria de machados e os de gume assimé-
trico, produzido por um forte biselamento, a partir de um dos lados, tradicionalmente classifi cados como
enxós.
Descontando as peças fragmentadas, cuja classifi cação não foi possível, reconheceram-se quatro machados
(Fig. 12, n.º 1 a 3; Fig. 13, n.º 1), dos quais um foi ulteriormente transformado em martelo, com o gume substi-
tuído por superfície boleada pela percussão (Fig. 12, n.º 3). Trata-se de exemplares de secção sub-rectangular
ou elipsoidal achatada, de tipologia compatível com o Calcolítico, com excepção de um belo exemplar de contor-
no sub-triangular (Fig. 13, n.º 1), cuja cronologia poderia ascender ao Neolítico. A análise petrográfi ca macroscó-
pica indicou em todos os casos rochas anfi bolíticas. A este conjunto pode juntar-se um fragmento, de secção
elipsoidal espessa (Fig. 11, n.º 1), de rocha dolerítica negro-esverdeada, cuja integração no Neolítico é também
provável.
269
As enxós estão representadas por três exemplares, dos quais apenas um completo, com o gume intacto
(Fig. 11, n.º 5; Fig. 13, n.º 2 e 3). Como é usual, as secções apresentam-se lenticulares e as superfícies bem poli-
das. Diferenciam-se dos machados não só por estas características, mas também pela matéria prima, visto não se
ter identifi cado nenhum exemplar de anfi bolito; as rochas compactas, de coloração anegrada, não evidenciam
macroscopicamente nenhum constituinte mineralógico individualizado, assemelhando-se à maioria dos exemplares
conhecidos nas necrópoles colectivas dos Neolítico Final da faixa litoral da Estremadura. A análise petrográfi ca
de exemplares recolhidos na Lapa do Bugio (Sesimbra), revelou vulcanitos básicos pós-orogénicos (CARDOSO,
1992) que, tanto naquele como neste caso, se poderiam relacionar com corpos fi loneanos intrusivos, os quais
abundam na região. Deve, no entanto, assinalar-se, por outro lado, a sua semelhança macroscópica com os vulca-
nitos do grupo dos xistos verdes, de textura microcristalina, que ocorrem na faixa vulcano-sedimentar de Gran-
dola-Castro Verde, da Zona Sul Portuguesa, resultantes de rochas de metamorfi smo de baixo grau, de composição
basalto-andesítica e, por outro, com certos chertes (silexitos), identifi cados em lâmina delgada em duas enxós do
povoado pré-histórico de Leceia, de aspecto em tudo semelhante (CARDOSO & CARVALHOSA, 1995). Ressalvan-
do a falta de análises petrográfi cas, que providenciariam maiores certezas, crê-se que é a hipótese de origem local,
em qualquer dos abundantes corpos fi loneanos conhecidos na região envolvente, que recolhe maiores possibili-
dades.
Deste modo, enquanto os anfi bolitos seriam necessariamente importados, pois não existem na região estreme-
nha, as rochas utilizadas como enxós parecem provir de locais próximos do povoado, realidade que decorre,
certamente, das maiores exigências mecânicas solicitadas aos machados, enquanto instrumento destinado a uso
intensivo, associado a golpes mais violentos que os relacionados com o trabalho das enxós. Os afl oramentos mais
próximos de onde poderiam provir as rochas anfi bolíticas utilizadas na confecção daqueles, situam-se na região
de Abrantes-Tomar e, além Tejo, na região de Avis e Montemor-o-Novo (CARDOSO, 2004 a).
Existe ainda um terceiro grupo de artefactos de pedra polida, representado por duas peças cujo gume foi subs-
tituído por uma superfície estreita e fi namente polida, transformados assim em martelos para trabalhos de
precisão (Fig. 11, n.º 2; Fig. 12, n.º 2). Poder-se-ia pensar em machados reaproveitados, não fosse a estreita faixa
polida contrariar a hipótese de serem exemplares exaustos, porque neste caso a largura dos gumes, embotados
pelo uso, seria muito maior. Já por diversas vezes se discutiu a utilização destas peças, cuja identifi cação, no que
respeita ao território português, foi efectuada por um de nós (CARDOSO, 1994), estando presentes em diversos
povoados estremenhos. A hipótese de serem instrumentos para a martelagem do cobre é uma das alternativas,
retomada ulteriormente por D. Brandherm, a partir da hipótese pela primeira vez formulada no trabalho acima
referido, embora o não cite (BRANDHERM, 2000). Atente-se, contudo, que, em Leceia, foi encontrado pequeno
exemplar em contexto do Neolítico Final, que teria forçosamente outra utilização.
Um dos exemplares possui um sulco de fi xação numa das faces (Fig. 11, n.º 2), comparável à depressão que,
para idêntica fi nalidade, se observa também num dos machados anteriormente estudados (Fig. 12, n.º 1). A exis-
tência deste elemento de caracterização que corporiza uma das modalidades de encabamento das lâminas pétreas
foi já valorizado por J. Leite de Vasconcelos (VASCONCELOS, 1922). Não sendo frequentes, deve assinalar-se que,
no vizinho Outeiro de São Mamede, se identifi caram três machados com tal elemento (CARDOSO & CARREIRA,
2003, Fig. 11, n.º 1 a 3). A matéria-prima afi gura-se ser uma rocha basáltica fi loneana, no exemplar que possui
sulco, enquanto o outro é de atribuir a rocha anfi bolítica.
Um outro exemplar, em vez de exibir um sulco, mostra uma depressão no centro de uma das faces, no terço
mais perto do gume (Fig. 12, n.º 1), a qual se destinaria também a facilitar o encabamento. Exemplar análogo,
mas com duas depressões opostas, provém do dólmen de Monte Abraão (Sintra) (RIBEIRO, 1880, Fig. 11).
270
3.1.3. Indústria óssea
Contrastando com a abundância e diversidade da utensilagem óssea identifi cada no vizinho povoado do Outeiro
de São Mamede, a recolhida no Outeiro da Assenta é muito pobre. Apenas se reconheceram três exemplares,
(Fig. 13, n.º 4 a 6), dois deles duvidosos, por corresponderem provavelmente às extremidades naturalmente poli-
das de
galhos de veado. Deste modo, a amostragem poderá reduzir-se apenas a fragmento distal de agulha ou sove-
la, de secção espessa, totalmente polida.
3.1.4. Indústria metálica
Tal como se verifi ca com o conjunto ósseo, também o espólio metálico é muito inferior ao exumado no Outeiro
de São Mamede. Ao Calcolítico, podem reportam-se apenas seis artefactos, dos quais apenas três são susceptíveis
de se relacionarem com uma determinada utilização. Trata-se de um serrote incompleto, de fi o aparentemente
rectilíneo sobre folha batida, com os dentes embotados pelo uso (Fig. 14, n.º 1); de uma grande sovela ou fura-
dor de cobre, de secção quadrangular com ambas as extremidades apontadas (Fig. 14, n.º 4); e de um pequeno
punção, também de secção quadrangular, mas de menor tamanho e com uma das extremidades terminando em
gume (Fig. 14, n.º 6). No que respeita ao serrote e ao grande furador, Félix Alves Pereira dá informação sobre o
local dos achados, correspondente à extremidade NW da plataforma (PEREIRA, 1914, p. 143). Discutindo a ter-
minologia a aplicar à peça por nós e por ele designada de serrote, refere que A. I. Marques da Costa preferiu
designar de “foice denteada” uma peça recolhida no povoado pré-histórico da Rotura (Setúbal), pelo facto de o
seu fi o se apresentar convexo e não recto ou côncavo como é usual nos serrotes. Porém, tal critério não foi
seguido unanimemente, pois que, como bem refere, L. Siret também designou como serrote objecto de cobre de
gume convexo (PEREIRA, 1915, p. 116). Sem embargo, as folhas de serrote de cobre teriam uma utilização mui-
to limitada, devido à pouca dureza das ligas. É pois, provável, que o seu uso fosse alargado a diversas fi nalidades,
entre as quais a de ceifar, independentemente do seu fi o cortante ser côncavo, rectilíneo (como se verifi ca na
larga maioria dos exemplares calcolíticos), ou convexo.
Além destas, outra peça merece comentário: trata-se de um gume de machado, separado do corpo do objecto
primitivo possivelmente por serragem ou por puncionamento (Fig. 14, n.º 3), como se verifi ca noutros casos
(CARDOSO, 1997, p. 93), aliás recorrentes, tanto em povoados calcolíticos da área estremenha como da área do
Sudoeste, como é o caso do Monte da Tumba (SILVA & SOARES, 1987, Fig. 29, n.º 4), ou ainda do Calcolítico
do norte de Portugal, como testemunha o exemplar do povoado da Vinha da Soutilha, Mairos, Chaves (JORGE,
1986, Est. 83). É interessante verifi car que Félix Alves Pereira já tenha identifi cado correctamente este fragmen-
to, e até discutido as razões da prática frequente da ablação dos gumes de machados de cobre, o que fez nos
seguintes termos: “A segmentação tam regular desta parte de um utensílio metálico talvez possa relacionar-se
com algum processo de fabrico, em que a zona viva daquela arma adquirisse propriedades de menor elasticidade
do que as zonas mortas” (PEREIRA, 1915, p. 115). Esta explicação não se afi gura aceitável, nem tão-pouco a que
preconiza a ablação da parte cortante destas peças em resultado de embotamento pelo uso (CARREIRA, 1998, p.
113). Com efeito, o que se verifi ca na larga maioria destes objectos, é a boa conservação do gume. Além disso,
caso o objectivo fosse a reposição da funcionalidade deste, bastaria, para o efeito, proceder a nova operação de
martelagem, a qual induziria até uma maior dureza da parte útil do instrumento. Aliás, considerando o alto custo
da desta matéria-prima, cuja obtenção e transformação não seria seguramente tarefa fácil, não faria sentido aban-
donar estas porções como se de simples rebotalhos sem valor se tratassem.
271
Deste modo, como já se defendeu anteriormente, a propósito do notável conjunto metálico do Outeiro de São
Mamede (CARDOSO & CARREIRA, 2003), é preferível admitir que estas peças correspondiam a porções retiradas
intencionalmente para transformação em outros tipos de artefactos. Nestes termos, os machados de cobre com-
portar-se-iam, sem embargo de utilização como tal, ou até como peças de prestígio, também como reservas de
matéria-prima, isto é, como lingotes, de onde a matéria-prima poderia ser retiradas à medida das necessidades.
Esta interpretação vem, também, ao encontro de ser a metalurgia calcolítica de carácter essencialmente utilitário,
privilegiando a confecção de pequenos artefactos, como punções, sovelas, anzóis, escopros, com vantagens sobre
os seus equivalentes pétreos ou ósseos.
As duas outras peças de cobre do Outeiro da Assenta são incaracterísticas: trata-se de uma chapa, incompleta,
talvez pertencente a uma espátula (Fig. 14, n.º 2) e de um corpo de objecto cuja extremidade, em falta, seria
cortante, talvez uma espécie de raspador (Fig. 14, n.º 5).
A ocorrência de artefactos de cobre em povoados pré-históricos estremenhos tem sido interpretada, sobretudo,
como resultante do comércio transregional, encontrando-se as fontes abastecedoras tradicionalmente reportadas
com as grandes massas metalíferas da faixa piritosa alentejana. Com efeito, nos hoje quase desaparecidos “chapéus
de ferro”, objecto de intensa exploração pelos Romanos, ocorriam metais nativos, entre eles o cobre, que poderia
assim ser explorado. Contudo, trabalho recente veio demonstrar que o conjunto dos artefactos utilizados em Leceia
foi fabricado com matéria-prima provinda mais provavelmente da zona de Ossa-Morena, em detrimento da Zona Sul
Portuguesa, onde se desenvolvem os referidos “chapéus de ferro” (MÜLLER & CARDOSO, 2008), sendo claro que,
embora a matéria-prima utilizada possa ter origem no cobre nativo ou outras fontes secundárias ricas em arsénio,
diferencia-se claramente, pela composição, do cobre que, na mesma época, era utilizado no Sudeste espanhol.
Este trabalho afastou igualmente a hipótese de o minério utilizado em Leceia ser oriundo da Estremadura
(FERREIRA, 1970; CARREIRA, 1998, p. 134), por exemplo de Matacães (Torres Vedras), onde se conhecem ocor-
rências de pouca expressão, associadas ao tifonismo regional, do mesmo tipo das mineralizações de malaquite,
cuprite e calcosite, assinaladas por Décio Thadeu na faixa meso-cenozóica de Coimbra a Santiago do Cacém, cujas
ocorrências se afi guram de forma disseminada, raramente justifi cando exploração (THADEU, 1965, p. 42). Com
efeito, as tentativas recentes de exploração na região de Dagorda revelaram-se infrutíferas (ZBYSZEWSKI &
ALMEIDA, 1960), mas poderiam ter viabilidade no contexto da economia pré-histórica. No concelho de Óbidos,
foi registada uma mina de cobre com a designação de “Mina do Benjunco” ou “Outeiro da Mina” (GARCIA, 1946).
Deve notar-se, ainda, que Jacinto Pedro Gomes, com base no inventário dos minerais portugueses, então conser-
vados na Direcção dos Trabalhos Geológicos de Portugal e no Museu Nacional de História Natural, em Lisboa,
referiu a existência de cobre nativo em Trás-do-Outeiro, muito perto do Outeiro da Assenta (GOMES, 1896/1898,
p. 199). Desta forma, é provável que, ao menos uma parte das produções metálicas do Outeiro da Assenta, tal
como as do Outeiro de São Mamede, muito mais importantes, tenham origem local, o que estaria conforme a
opinião de A. do Paço no que respeitaria a Vila Nova de São Pedro, invocando a ausência de elementos culturais
no Alentejo susceptíveis de serem atribuídos à Estremadura, por permuta com o cobre dali hipoteticamente oriun-
do (PAÇO, 1955, p. 38). No entanto, os estudos modernamente conduzidos, provasram uma origem provavelmen-
te alto-alentejana para o cobre utilizado em Leceia, o que estaria concordante com o abastecimento maciço da
Estremadura em anfi bolitos oriundos daquela região. No caso do cobre, tratar-se-iam, contudo, sempre de baixas
quantidades de minério, expressivamente representados, seja sob a forma de minérios, como os nódulos de mala-
quite e de uma crosta de azurite, recuperados por A. I. Marques da Costa na Rotura, conservados no Museu
Nacional de Arqueologia, cf. CARREIRA, 1998, p. 134), seja sob a forma de lingotes, como os recolhidos em Leceia
ou no Outeiro Redondo (CARDOSO, 2004 b, Fig. 59).
Enfi m, como bem se referiu em estudos anteriores (CARDOSO, 1998, 2003), a questão da circulação transre-
gional do cobre não pode ser desligada da de outra matéria-prima já atrás mencionada, intensamente utilizada na
272
Estremadura, no decurso do Calcolítico: as rochas anfi bolíticas, cuja origem mais próxima se situa, justamente,
na Zona de Ossa Morena, a mesma de onde terá vindo o cobre utilizado em Leceia.
3.1.5. Indústria cerâmica
3.1.5.1. Neolítico Antigo
A ocorrência de cerâmicas do Neolítico Antigo na faixa litoral da Média Estremadura, entre o estuário do Sado
e, no conceito geográfi co do termo, segundo Orlando Ribeiro, o estuário do Mondego, conquanto tenha sido
assinalada em diversas grutas naturais da região, como a gruta da Casa da Moura (CARREIRA & CARDOSO,
2001/2002) e da Furninha (DELGADO, 1884), não era até agora conhecida em contextos domésticos. Deste modo,
detém acrescida relevância a referência a exemplares decorados tipologicamente integráveis no Neolítico Antigo,
assinalados por J. R.Carreira e por ele atribuídos ao Outeiro da Assenta (CARREIRA, 1994, Fig. 3). Contudo, dos
sete exemplares reproduzidos por aquele autor, apenas dois se confi rmaram agora como provindos do Outeiro da
Assenta: são os que se encontram reproduzidos na Fig. 18, n.º 1 e 2 deste trabalho. Os restantes exemplares
provêm do Outeiro de São Mamede, povoado pré-histórico que, como atrás se referiu, se situa a cerca de 4 km
para sul. Deste modo, uma primeira conclusão se afi gura desde já importante, e que é a de, no Outeiro de São
Mamede, se encontrar representado o Neolítico Antigo, incluindo um exemplar com decoração cardial (CARREI-
RA, 1994, Fig. 3, n.º 1), época que não havia sido identifi cada, pelas razões apontadas, no estudo recentemente
dedicado à estação (CARDOSO & CARREIRA, 2003). A confusão pode ter resultado da proximidade e da analogia
de espólios, bem como das reorganizações das colecções no Museu Nacional de Arqueologia. Seja como for, os
dois fragmentos já publicados do Outeiro da Assenta, somam-se aos agora dados a conhecer, e documentam uma
ocupação de carácter doméstico do Neolítico Antigo, tal como no Outeiro de São Mamede.
Os materiais cerâmicos observados podem incluir-se no Neolítico Antigo Evolucionado da Estremadura (Fig.
15 a 19), sendo compatíveis com os de outras sítios habitados desta região, por vezes situadas também no topo
de elevações e não em zonas de topografi a suave ou solos arenosos, características com que eram tradicionalmen-
te conotados. Naturalmente, a classifi cação fez-se tomando como único critério as características tipológicas, na
ausência de outros elementos.
As cerâmicas lisas apresentam elementos de preensão ou de suspensão cuja tipologia as remete para a
época em causa, sem ignorar que, nalguns casos, poderiam ter atingido épocas mais tardias, como o Neolítico
Final. Deste modo, é o conjunto das cerâmicas decoradas que se afi gura com maior interesse. Estão presentes
vários motivos e técnicas decorativas, que se passam a enunciar.
cordões em relevo segmentados, situados abaixo do bordo (Fig. 15, n.º 2 e 3);
faixas horizontais preenchidas interiormente por linhas incisas oblíquas (Fig. 17, n.º 5; Fig. 19,
n.º ), motivo pela primeira vez identifi cado na gruta da Furninha, e que se afi gura afi m do patente, mais de
dois mil anos depois, em vasos campaniformes, como o exemplar inciso recolhido na gruta 3 da Quinta do
Anjo, Palmela (CARDOSO, 2000, Fig. 10); uma variante desta temática corresponde ao preenchimento das
faixas horizontais por curtas incisões alinhadas na horizontal (Fig. 19, n.º 3);
decorações “em espinha” e “em espiga” (Fig. 18, n.º 2 a 13; Fig. 19, n.º 10); trata-se de motivos execu-
tados por curtas linhas incisas, ou obtidas por aplicação oblíqua arrastada de uma ponta, dispostas em faixas
horizontais, por vezes associadas a faixas verticais. No caso dos motivos “em espinha”, as linhas apresentam-
se desiguais, consoante o comprimento de cada incisão feita individualmente; no segundo caso, nem sempre
273
fácil de distinguir do anterior, as depressões afi guram-se mais regulares, e semelhantes entre si. Embora
característico do Neolítico Antigo, pode admitir-se, nalguns casos, a sua sobrevivência residual desta temaá-
tica decorativa em épocas mais tardias, até o Neolítico Final, como aparentemente é o caso do povoado do
Alto de São Francisco, Palmela (SILVA & SOARES, 1986);
– impressões punctiformes verticais ou obliquas (Fig. 19, n.º 1, 2, 4, 5, 7 a 13); esta técnica foi aplicada em
diversos padrões decorativos, sejam os alinhamentos grosseiramente horizontais abaixo do bordo dos reci-
pientes (Fig, 19, n.º 1, 2, 9 e 12), sejam o preenchimento de superfícies delimitadas por linhas incisas, for-
mando bandas horizontais (Fig. 19, n.º 4, 5, 7, 8, 11 e 13). Tal como a temática decorativa anterior, esta pode
reportar-se, ainda com maior probabilidade, a épocas ulteriores ao Neolítico Antigo, sobrevivendo até o Cal-
colítico, como comprova a ocorrência, sem sair da área cultural da Estremadura, tanto no Neolítico Final
(CARDOSO, 1989, Fig. 111, n.º 3) como no Calcolítico (CARDOSO, 2006, Fig. 91, n.º 6; Fig. 140, n.º 19;
Fig.176, n.º 3 e 4; Fig. 216, n.º 17; Fig. 228, n.º 9) do povoado de Leceia. Um dos fragmentos ora publicados
(Fig. 19, n.º 13) foi anteriormente dado como do Outeiro de São Mamede (CARDOSO & CARREIRA, 2003,
Fig. 61,n.º 5).
A identifi cação do Outeiro da Assenta, como sítio de altura, na região da Média Estremadura, ocupado desde
o Neolítico Antigo, acompanhada pela verifi cação de que outra elevação vizinha, o Outeiro de São Mamede, foi
igualmente ocupado naquela época, confere signifi cado acrescido à anterior demonstração da ocupação de sítios
de altura coevos, na Baixa Estremadura (CARDOSO, CARREIRA & FERREIRA, 1996), confi rmada recentemente
pelas descobertas efectuadas em Moita da Ladra (CARDOSO & CANINAS, 2008). A tipologia dos materiais é
compatível com o Neolítico Antigo evolucionado, tal como se verifi ca no espólio das correspondentes necrópoles
da região, como as grutas da Casa da Moura e da Furninha.
3.1.5.2. Calcolítico
As cerâmicas decoradas calcolíticas repartem-se pelos diversos grupos já identifi cados na área estremenha.
Antes de os identifi car em detalhe, importa elencar os fragmentos que, por lapso, foram anteriormente atribuídos
ao vizinho povoado pré-histórico do Outeiro de São Mamede, indicando-se, entre parêntesis, a referência que lhes
foi atribuída naquela publicação (CARDOSO & CARREIRA, 2003):
Fig. 20, n.º 3 (Fig. 61, n.º 7); Fig. 20, n.º 11 (Fig. 53, n.º 10); Fig. 21, n.º 5 (Fig. 61, n.º 6); Fig. 21, n.º 6
(Fig. 53, n.º 7); Fig. 21, n.º 7 (Fig. 50, n.º 9); Fig. 21, n.º 13 (Fig. 52, n.º 10); Fig. 21, n.º 14 (Fig. 52, n.º 9);
Fig. 24, n.º 3 (Fig. 52, n.º 2); Fig. 23, n.º 3 (Fig. 45, n.º 4); Fig. 23, n.º 5 (Fig. 45, n.º 7); Fig. 23, n.º 10 (Fig. 57,
n.º 7); Fig. 23, n.º 11 (Fig. 58, n.º 9); Fig. 26, n.º 3 (Fig. 50, n.º 4); Fig. 26, n.º 4 e 5 (Fig. 56, n.º 4); Fig. 27, n.º 2
(Fig. 51, n.º 3); Fig. 27, n.º 3 (Fig. 61, n.º 1); Fig. 27, n.º 8 (Fig. 50, n.º 3); Fig. 27, n.º 9 (Fig. 51, n.º 4); Fig. 27,
n.º 13 (Fig. 53, n.º 6; Fig. 56, n.º 1); Fig. 27, n.º 14 (Fig. 51, n.º 5); Fig. 28, n.º 1 (Fig. 61, n.º 4); Fig. 28, n.º 3
(Fig. 61, n.º 2); Fig. 28, n.º 4 (Fig. 61, n.º 3); Fig. 28, n.º 5 (Fig. 60, n.º 4); Fig. 28, n.º 6 (Fig. 60, n.º 6); Fig. 28,
n.º 7 (Fig. 60, n.º 7).
Ao Calcolítico Inicial ou já ao início do Calcolítico Pleno da Estremadura, podem reportar-se diversos
exemplares com a característica decoração de linhas horizontais, obtidas por fi nas incisões ou caneluras,
desenvolvendo-se abaixo do bordo de taças em calote ou esféricos (Fig. 20., n.º 5 a 8). É de assinalar que se
reconheceu apenas um fragmento que poderia pertencer a um copo canelado, produção característica do Cal-
colítico Inicial da Estremadura (Fig. 20, n.º 4), sendo de registar idêntica raridade no Outeiro de São Mamede,
com apenas um exemplar (CARDOSO & CARREIRA, 2003, Fig. 53, n.º 9). Esta realidade poderá ter duas expli-
274
cações: a ocupação destes dois sítios em época em que tais produções já não ocorreriam; ou o cunho regional
das mesmas, confi nando-se aos sítios mais meridionais da região em causa. Das duas hipóteses, a primeira pere-
ce ser a mais plausível. Com efeito, no vizinho povoado calcolítico da Columbeira, explorado por J. L. M. Gonçal-
ves na primeira metade da década de 1990 (GONÇALVES, 1994 b), ocorrem em maior número os copos canelados
(foram publicados três, mas o seu número será certamente superior, dado o carácter não exaustivo do respectivo
artigo). Por outro lado, o facto de, neste importante sítio fortifi cado não se ter recolhido nenhum exemplar das
cerâmicas decoradas do tipo “folha de acácia” e “crucífera”, bem conhecidas tanto no Outeiro de São Mamede,
como no Outeiro da Assenta, levou o referido autor a admitir que a ocupação daquele povoado teria terminado
antes da emergência destas produções, características do Calcolítico Pleno da Estremadura. Idêntico raciocínio
se poderia fazer para a escassez de copos canelados naqueles dois locais, atribuindo-a à tardia ocupação de ambos,
já no decurso do Calcolítico Pleno.
Importa ter presente que o povoamento regional no decurso do Calcolítico refl ecte a forte interacção e dinâmi-
ca estabelecida entre os diversos povoados, sendo certo que o abandono de um deles corresponderia à ocupação
de outro, realidade que se encontra bem comprovada no decurso do Calcolítico, na Baixa Estremadura (SILVA &
SOARES, 1986). Com efeito, verifi cou-se que o abandono do Pedrão (Setúbal), povoado implantado em esporão
rochoso dominando a baixa de Palmela, importante no Calcolítico Inicial, conforme prova a abundância de copos
canelados (SILVA & SOARES, 1975), foi acompanhado pela primeira ocupação do vizinho sítio da Rotura, onde,
como atrás se disse, onde tais produções não ocorrem (FERREIRA & SILVA, 1970; SILVA, 1971), abundando, em
contrapartida, as do grupo “folha de acácia/crucífera”, ausentes no Pedrão.
As Decorações incisas, além de diversos exemplares incisos, afi ns dos “copos” (Fig. 20, n.º 11 e 12), estão
representadas por grande diversidade de padrões decorativos, desde as linhas onduladas simples, desenvol-
vendo-se horizontalmente no bojo de esféricos (Fig. 21, n.º 6 e 13), com paralelos em esférico de Leceia, embora
neste as linhas tenham um desenvolvimento vertical (CARDOSO, 2006, Fig. 57, n.º 1) e em “copos” e taças de
Leceia, reportáveis ao Calcolítico Inicial, com ondulações tanto horizontais como verticais (CARDOSO, 2006, Fig.
57, n.º 19; Fig. 81, n.º 16; Fig. 85, n.º9). Porém, o paralelo mais próximo corresponde a um “copo” recolhido na
Lapa do Bugio (Sesimbra) (CARDOSO, 1992, Est. 5, n.º 1 e 2). São frequentes as linhas cruzadas, formando
reticulados oblíquos, por vezes preenchendo bandas horizontais no bojo de grandes globulares (Fig. 22, n.º 4),
idênticas às observadas em exemplares do Calcolítico Pleno de Leceia, também presentes, como naquela estação,
em recipientes de menores dimensões, de paredes verticais, sucedâneos dos “copos” do Calcoítico Inicial (Fig.
21, n.º 4).
Por vezes, as linhas incisas assumem uma grande fi nura, sugerindo, como já Félix Alves Pereira tinha notado,
execução com lâminas ou ponteiros metálicos, aplicadas em esférico de fi na manufactura (Fig. 21,n.º 1).
Mas os motivos incisos mais abundantes reportam-se aos espinhados, também obtidos através de ponta rom-
ba, produzindo ténues sulcos na pasta fresca, desenvolvendo-se segundo bandas horizontais simples ou compósi-
tas, incluindo zigue-zagues, equivalentes dos motivos em “folha de acácia/crucífera”, dos quais por vezes difi cil-
mente se distinguem (Fig. 23,n.º 7 a 9). Dois critérios são úteis para a pretendida destrinça: por um lado, a própria
forma das depressões elementares, já que, no caso dos motivos “folha de acácia/crucífera”, o seu contorno é em
geral mais largo e bombeado; por outro lado, sendo estas depressões obtidas por impressão de matriz, os folícu-
los apresentam-se idênticos entre si, ao contrário do que se verifi ca com as linhas ou sulcos, de comprimento
desigual (Fig. 21, n.º 8, 10 e 14; Fig. 23, n.º 2 e 8).
As decorações obtidas por caneluras fi nas, através de uma ponta romba deslizante sobre a superfície ainda
plástica dos recipientes, encontram-se particularmente bem representadas em vasos esféricos, em torno da res-
pectiva abertura, a que se sucedem linhas oblíquas ou triângulos preenchidos interiormente (“dentes de
lobo”), ou ainda espinhados, igualmente feitos pela mesma técnica (Fig. 22, n.º 1; Fig.24, n.º 3, 4, 8, 9 e 10 .
275
Trata-se de motivos que acompanham as decorações do tipo “folha de acácia/crucífera” mas que, conforme os
resultados já referidos, obtidos no povoado calcolítico da Columbeira lhes serão anteriores, corporizando uma
etapa de transição do Calcolítico Inicial para o Calcolítico Pleno. Com efeito, é interessante notar que tal técnica
se observa em um grande globular (Fig. 22, n.º 5), decorado com motivos em espinha e em losangos, claramen-
te equivalentes dos motivos em “folha de acácia/crucífera”, característicos deste tipo de recipientes do Calcolítico
Pleno da Estremadura.
Dentro das decorações incisas têm importante representação as decorações em bandas incisas horizontais
obtidas pela aplicação de uma matriz denteada (pente), que, ao deslizar pela superfície fresca dos recipien-
tes, produziu bandas horizontais, rectilíneas ou onduladas (Fig. 25).
Esta técnica decorativa calcolítica encontra-se particularmente bem representada no norte do País, como S.
Oliveira Jorge bem demonstrou nas escavações realizadas nos povoados calcolíticos da região de Chaves-Vila
Pouca de Aguiar (JORGE, 1986) estendendo-se residualmente a sua utilização à Baixa Estremadura, como com-
provam os escassos fragmentos recolhidos no povoado da Penha Verde, Sintra e de Leceia, Oeiras (CARDOSO,
1995 a), a que se somam outros, recolhidos na Rotura, Setúbal (ÅBERG, 1921, Fig. 118; GONÇALVES, 1991, Fig.
5, n.º 4). A sua difusão, pelo interior do País, desde a região transmontana, está comprovada pelos achados rea-
lizados na Beira interior, onde, como seria de esperar, são mais abundantes nos povoados situados na parte mais
setentrional, para se tornarem residuais ou mesmo desaparecerem nos situados mais a sul, como é o caso do
Monte do Trigo, (Idanha-a-Nova) (VILAÇA, 2008, p. 57). No entanto, as cerâmicas decoradas a pente atingiram o
norte-alentejano, pois encontram-se representadas no povoado calcolítico do Pombal, Monforte (BOAVENTURA,
2001, Fig. 10).
Nos povoados da Estremadura Média, como é o caso do Outeiro da Assenta, do Outeiro de São Mamede e de
Pragança, esta técnica decorativa é mais abundante, o que está conforme com a sua origem setentrional. Deste
modo, tais ocorrências serão o refl exo de fl uxos de carácter comercial/cultural de sentido Norte-Sul, acompa-
nhando os fl uxos de sentido contrário que, a partir do sul, atingiram o extremo norte do território português, no
decurso do Calcolítico, identifi cados através de diversos elementos da cultura material devidamente valorizados
por S. O. Jorge (JORGE, 1986).
As indicações para a cronologia destas produções adentro o Calcolítico são escassas, todas apontando para o
Calcolítico Pleno, podendo coexistir com as produções campaniformes, das quais, nalguns casos constituem uma
evidente interpretação local. O exemplo mais fl agrante é corporizado por uma caçoila de perfi l suave, recolhida
no povoado da Pastoria (Chaves), decorada por duas bandas horizontais de linhas incisas a pente, sucedâneas das
decorações campaniformes do tipo “herringbone”, ou bandas horizontais preenchidas por segmentos oblíquos
(JORGE, 1986, Est. 168, n.º 5). As ocorrências mais antigas adentro o Calcolítico, parecem remontar ao Calcolíti-
co Pleno. Assim, no povoado da Rotura e no do Outeiro da Assenta, tal atribuição funda-se por ser esta a época
da mais antiga ocupação calcolítica; no povoado de Leceia, todos os fragmentos registados provêm da ocupação
do Calcolítico Pleno (CARDOSO, 1995 a), conclusão confi rmada por outros fragmentos impressos ulteriormente
identifi cados na estação (CARDOSO, 2006, Fig. 224, , n.º 9 e 12); na Penha Verde, a parte explorada do povoado
conheceu também uma única ocupação calcolítica, correspondente a uma curta época e que se utilizavam em
simultâneo cerâmicas campaniformes e cerâmicas decoradas de carácter regional e de génese anterior, do grupo
“folha de acácia/crucífera”. O grupo cerâmico em apreço encontra-se estreitamente relacionado com as Decora-
ções impressas com matriz denteada (pente), adiante estudadas.
No grande grupo constituído pelas cerâmicas impressas incluem-se decorações de carácter arcaizante, com
reminiscências no Neolítico Antigo, como é o caso do fragmento de “copo” decorado por alinhamentos horizontais
abaixo do bordo de impressões em “meia-cana” (Fig. 23, n.º 1). Mas as decorações impressas são dominadas
pelas impressões de folículos organizados nos já referidos motivos em “folha de acácia/crucífera”, caracte-
276
rísticos do Calcolítico Pleno da Estremadura. Tais motivos foram obtidos através da impressão de uma extremi-
dade romba de secção elipsoidal, mais ou menos alongada, aplicada perpendicularmente à superfície do recipien-
te. Trata-se de recipientes de pequenas dimensões e cuidado acabamento, como é o caso dos “copos” da Fig. 23,
n.º 3 e n.º 4 e dos esféricos das Fig. 23, n.º 4 e 6, desenvolvendo-se num deles a decoração em faixa horizontal,
associada a pequeno ressalto da parede do recipiente, particularidade também observada em exemplares de Leceia
(CARDOSO, 2006, Fig. 172, n.º 14). É interessante notar que se encontram quase ausentes os grandes globulares
ostentando tais decorações em torno da abertura, o que se pode explicar pela escassez da amostra.
As cerâmicas impressas com matriz, encontram-se representadas por fragmentos em que as respectivas
matrizes, denteadas, foram aplicadas perpendicularmente à superfície dos recipientes, produzindo impressões
punctiformes alinhadas, tal qual as cerâmicas campaniformes. Nalguns casos, as matrizes incidiram obliquamente,
dando origem a impressões assimétricas. Nas Fig. 25 e 26 representam-se os fragmentos que evidenciam as duas
referidas variantes. Exemplares idênticos aos do Outeiro da Assenta encontram-se representados nos povoados
de Pragança e do Outeiro de São Mamede, tendo sido objecto de publicação desde a obra de N. Åberg. Sem
dúvida que tais impressões foram executadas com a mesma matriz utilizada para as decorações incisas em bandas,
tratadas anteriormente. Prova disso é a existência, naqueles e noutros povoados, e também no Outeiro da Assen-
ta, de fragmentos que ostentam ambas as técnicas. O presente estudo dá a conhecer um exemplar inédito do
Outeiro da Assenta, cuja existência corrobora aquela indicação (Fig. 21, n.º 7). Consistem tais decorações na
aplicação, ao mesmo exemplar, de uma matriz denteada, de duas maneiras distintas: por arrastamento, produzin-
do linhas incisas, idênticas às observadas nas cerâmicas ditas “penteadas”, acima descritas; e por impressão,
aplicando perpendicularmente os dentes da referida matriz na pasta fresca, produzindo pontuações alinhadas. O
fragmento conservado pertence a um “copo” de paredes direitas, tendo num exemplar do Outeiro de São Mame-
de (GONÇALVES, 1991, Fig. 6, n.º 1), noutro de Pragança (idem, ibidem, Fig. 5, n.º 3) e ainda em peça de Leceia
(CARDOSO, 1995 a, Fig. 2, n.º 2), os melhores paralelos.
Casos particulares são o exemplar da Fig. 26, n.º 2, em que as linhas de impressões coexistem com incisões
produzidas por uma ponta fi na, ou o da Fig. 27, n.º 7, em que as referidas linhas impressas se encontram sobre-
postas por uma banda de impressões quadrangulares pouco profundas.
As cerâmicas incisas/impressas a matriz no quadro do Calcolítico estremenho identifi cadas no Outei-
ro da Assenta fazem parte de um conjunto de distribuição geográfi ca circunscrita à Média Estremadura que
merece comentários específi cos.
Foi J. L. M. Gonçalves quem teve o mérito de retomar o estudo de certas produções cerâmicas dos povoados
calcolíticos da Média Estremadura que, desde a publicação de N. Åberg, de 1921, tinham fi cado a aguardar opor-
tunidade de investigação. Em 1991, publicou exemplares dos povoados de Pragança, do Outeiro de São Mamede
e da Rotura, cartografando ocorrências análogas nos povoados do Outeiro da Assenta, Zambujal e Penedo (GON-
ÇALVES, 1991, Fig. 7).
Alberto del Castillo republicou como campaniformes alguns dos exemplares do Outeiro de São Mamede e de
Pragança , dados a conhecer por Åberg, integrando-os no seu “Grupo de Portugal” (CASTILLO, 1928, Lám. 51,
n.º 3 e 4 e Lám. 52, n.º 1 e 2), com destaque para o fragmento de “copo” do Outeiro de São Mamede, que osten-
ta as duas técnicas decorativas acima caracterizadas, o qual foi depois completado por J. L. M. Gonçalves (GON-
ÇALVES, 1991, Fig. 6, n.º 1). Hoje, podemos reconhecer que não estaria assim tão longe da verdade, até porque
nalguns casos é difícil destrinça entre o que é campaniforme do que corresponde a uma interpretação local
daquelas produções.
Discutindo a questão da integração cronológico-cultural das cerâmicas em apreço, J. L. M. Gonçalves integra-as
no Calcolítico Pleno, de acordo com o signifi cado que tal termo então detinha, acrescentando, mais à frente, que
“talvez se pudesse supor que estas técnicas pontilhada e “penteada” se situariam num momento fi nal do Calcolí-
277
tico médio, já em contacto com as cerâmicas campaniformes, coexistindo ao mesmo tempo com esta e com as
cerâmicas do tipo “folha de acácia” (GONÇALVES, 1991, p. 218). Com efeito, como mais tarde se demonstrou, as
últimas produções do Calcolítico Pleno pré-campaniforme, caracterizadas justamente pelo grupo “folha de acácia/
crucífera”, coexistiram de facto com as primeiras produções campaniformes (atribuíveis do Grupo Internacional,
com vasos marítimos), tal como indica a cronologia absoluta correspondente à emergência das produções cam-
paniformes na região, claramente coevas do Calcolítico Pleno (CARDOSO & SOARES, 1990/1992).
Aquela evidência soma-se às indicações estratigráfi cas que, já na época em que J. L. M. Gonçalves escreveu o
seu artigo, apontavam também para um período de coexistência entre ambas as tradições cerâmicas, assinaladas
em diversos povoados estremenhos, como o da Penha Verde (ZBYSZEWSKI & FERREIRA, 1958) e o da Rotura
(SILVA & FERREIRA, 1970; SILVA, 1971; GONÇALVES, 1971), a que se somam outros, mais recentemente inves-
tigados, como o de Moita da Ladra, que conheceu apenas uma ocupação calcolítica, a que se associam cerâmicas
decoradas do grupo “folha de acácia/crucífera” e campaniformes do Grupo Internacional (CARDOSO & CANINAS,
2008).
Dito isto, nada obstaria a que, nos povoados da Estremadura Média, como o do Outeiro da Assenta, onde ocor-
rem as cerâmicas impressas a pente acima estudadas, estas fossem coevas das produções campaniformes, as
quais, aliás, também ali se encontram representadas. Com efeito, é evidente a semelhança da forma de certos
recipientes, com os que ostentam decorações campaniformes, para já não falar da identidade entre a própria
técnica, recorrendo a impressões de uma matriz denteada, tal como se verifi ca nos campaniformes decorados a
ponteado. É o caso da pequena taça com uma faixa de espinhados horizontais (Fig. 27, n.º 13), e de fragmentos
de pequenas caçoilas de perfi l suave, decoradas por zigue-zagues de linhas impressas a matriz no bojo (Fig. 26,
n.º 4 e 5).
Face ao exposto, admite-se que o conjunto dos exemplares estremenhos decorados pela técnica impressa, asso-
ciada ou não à incisa, num caso ou noutro com o uso de uma matriz denteada, em forma de pente, pode suportar
a criação de um novo grupo ceramográfi co de carácter regional no território português, conjuntamente com os
exemplares homólogos do Outeiro de São Mamede, de Pragança, e de outros sítios estremenhos, incluindo pro-
váveis necrópoles, como a gruta da nascente do rio Almonda, onde foi registado um fragmento de taça de carena
suave, reportada por J. R. Carreira à Idade do Bronze, decorada por curtos espinhados verticais no bojo (CAR-
REIRA, 1996 a, Est. 1, n.º 3). Tal entidade arqueográfi ca designar-se-á por Grupo da Assenta, tendo presente
não só a importância que tais produções assumem nesta estação, mas também o facto de serem tais materiais
que propiciaram as presentes considerações, na fundamentação desta nova entidade arqueológica. Assim se terá
dado resposta à questão colocada por J. L. M. Gonçalves, que, ao notar a distribuição geográfi ca circunscrita das
produções decoradas a pente e impressas da Estremadura Média, se interrogava sobre a existência, naquela
região, “de uma especifi cidade cultural própria” (GONÇALVES, 1991, p. 218).
Este novo grupo deverá incluir todas as cerâmicas decoradas a pente, dando origem a padrões ponteados ou a
bandas incisas, intervaladas por espaços não decorados, os quais foram relacionados, no norte do País, com as
produções clássicas campaniformes do Grupo Internacional (JORGE, 1986, p. 619).
Note-se, ainda, que em regiões entre a estudada por S. O. Jorge (Chaves-Vila Pouca de Aguiar) e a Estrema-
dura, como a bacia do Alto Mondego, foram também identifi cadas diversas estações calcolíticas com cerâmicas
decoradas por bandas incisas, produzidas com matriz, por vezes associadas a cerâmicas campaniformes, de que
é exemplo o pequeno sítio habitacional de Linhares (Santa Comba Dão) (VALERA, 1999).
No caso dos exemplares estremenhos, os antecedentes imediatos são conhecidos, residindo nos “copos” e nas
taças caneladas em bandas horizontais abaixo do bordo do Calcolítico Inicial. Esta realidade foi, aliás, implicita-
mente aceite por M. A. Horta Pereira Bubner, ao ter publicado indistintamente, sob a designação de “cerâmica
de importação”, recipientes decorados a pente, entre os quais uma taça do Outeiro da Assenta (Fig. 25, n.º 3), a
278
par de outros, com decoração canelada (BUBNER, 1979).
A ser assim, teríamos, na Média Estremadura, o Grupo da Assenta, que faria a ponte entre o Calcolítico Inicial,
de que herdaria não só muitas das formas, a começar pela mais representativa, o “copo”, mas também a teoria
decorativa, dominada pelos espinhados horizontais e verticais, que não ocorrem nas cerâmicas campaniformes
– e as produções campaniformes, das quais absorveu a principal inovação que as caracteriza: a aplicação do pen-
te para a produção de decorações a ponteado, a qual terá resultado da infl uência dos primeiros campaniformes
conhecidos na região decorados com aquela técnica, logo aplicada a recipientes de tipologia mais antiga, como
os “copos” e os vasos globulares.
Em suma, o Grupo da Assenta, de expressão geográfi ca bem defi nida e modesta, desenvolver-se-ia paralela-
mente às produções clássicas do Calcolítico Pleno da Estremadura, correspondentes ao grupo “folha de acácia/
crucífera”, tal como é indicado pelos exemplares de Leceia encontrados em estratigrafi a, e teria coexistido com
os primeiros campaniformes, do Grupo Internacional, representado no Outeiro da Assenta, como a seguir se
caracteriza.
As escassas Cerâmicas campaniformes do Outeiro da Assenta integram exclusivamente o Grupo Interna-
cional, o mais antigo, dos três usualmente considerados na Estremadura,, tal como se verifi cou no Outeiro de
São Mamede. Esta realidade é condizente com a observação de terem sido os povoados ocupados na fase anterior,
os primeiros a receberem, num curto momento situável seguramente na primeira metade do III milénio a.C.,
cerca de 2700/2600 a.C., a novidade corporizada pelas ditas produções. Já em 1981, se declarou, a propósito do
povoado de Leceia, “sempre que num local se tenha observado forte ocupação do calcolítico médio, é aquele
estilo que predomina” (CARDOSO, 1981, p. 215). Com efeito, tal observação tinha sido pela primeira vez obser-
vada no povoado da Rotura, onde se verifi cou a anterioridade dos vasos canapaniformes “marítimos” às produções
do Grupo de Palmela (FERREIRA & SILVA, 1970; SILVA, 1971). As escavações conduzidas em Leceia vieram
confi rmar tal realidade, no que se refere ao espaço intramuros, enquanto no espaço extramuros se identifi caram
duas cabanas campaniformes; numa delas, a tipologia das produções apontava para uma fase tardia do “fenómeno”
campaniforme, com predomínio das decorações incisas e ausência do vaso “marítimo”, corroborada por uma data
de radiocarbono obtida, estatisticamente mais moderna que a correspondente à outra cabana campaniforme, na
qual o conjunto campaniforme – necessariamente de vida curta – se distribuía pelos três Grupos tradicionalmen-
te considerados na Estremadura, datando tal associação ainda da primeira metade do III milénio a.C. (CARDOSO,
1997/1998 a). Quer isto dizer que é possível que, ainda antes de 2500 a.C., todos os grupos campaniformes esti-
vessem já constituídos como tal, existindo um período em que os mesmos teriam coexistido, representado pela
associação encontrada na estrutura habitacional de Leceia em referência, e também nas cabanas escavadas da
Penha Verde, em curso de reapreciação pelo signatário.
No que ao Outeiro da Assenta diz respeito, encontra-se reconhecido apenas um fragmento de vaso “marítimo”
com a clássica decoração de bandas preenchidas interiormente a ponteado (Fig. 28, n.º 1). A escassez de campa-
niformes “marítimos” tem equivalente no vizinho Outeiro de São Mamede, onde também se identifi cou apenas
um fragmento de vaso idêntico (CARDOSO & CARREIRA, 2003, Fig. 60, n.º 1). Com efeito, tal como nesta estação,
os restantes fragmentos de recipientes campaniformes (Fig. 28, n.º 2 a 7), conquanto sejam todos decorados a
ponteado, integram-se no conjunto de decorações geométricas mais elaboradas, incluindo faixas horizontais, ban-
das oblíquas e triângulos preenchidos internamente por reticulado, pertencendo a vasos campaniformes (Fig. 28,
n.º 4) ou a caçoilas de ombro (Fig. 28, n.º 7). É de destacar um fragmento de caçoila de ombro decorado com
triângulos invertidos, preenchidos internamente por linhas verticais, convergentes no vértice inferior de cada
triângulo (Fig. 28, n.º 6). No conjunto, trata-se de conjunto homogéneo, e de fraca expressão o qual, de acordo
com as considerações anteriormente apresentadas, acompanharia as outras cerâmicas calcolíticas decoradas,
confi gurando-se, deste modo, apenas a existência de uma única ocupação calcolítica no Outeiro da Assenta.
279
Cerâmicas lisas: trata-se de conjunto numeroso, embora desprovido de indicações estratigráfi cas, o que lhe
retira grande parte do interesse. Com efeito, ao contrário das produções decoradas, que caracterizam bem a
época em que foram produzidas, certas formas lisas podem frequentemente integrar-se em diversas culturas pré-
históricas, não se identifi cando com nenhuma delas em particular. É o caso da maioria das tipologias dos reci-
pientes do Outeiro da Assenta, as quais, conquanto sejam muito frequentes em contextos calcolíticos, têm sido,
também, registadas em contextos do Bronze Pleno da região: são exemplo, os povoados do Agroal (Vila Nova de
Ourém) (LILLIOS, 1993, Fig. IV a VII) e o do Casal da Torre (Torres Novas) (CARVALHO et al., 1999, Fig. 5 a
9), além de diversas grutas, onde a presença de cerâmicas lisas atribuíveis ao Bronze Pleno tem vindo a afi rmar
nas cavidades da região, de que são bom exemplo as diversas grutas da serra de Montejunto (GONÇALVES,
1990/1992). Com efeito, nesses sítios estão presentes, a maioria das formas lisas identifi cadas no Outeiro da
Assenta. Aqui, foram encontrados esféricos (Fig. 29 a 33; Fig. 35, n.º 1, 7, 8 e 10) de bordo simples e corpo mais
ou menos alto, munidos por vezes de furos de suspensão; esféricos de bordo espessado ou em aba extrovertida,
por vezes com o lábio marcado inferiormente por ligeira depressão (Fig. 34); e taças de bordo simples e paredes
mais ou menos verticais (Fig. 35 a Fig. 42), possuindo ligeiro espessamento e lábio aplanado (Fig. 37, n.º 4; Fig.
39, n.º 5), convexo (Fig. 42, n.º 2), adelgaçado (Fig. 39, n.º 2), ou espessado de ambos os lados (Fig. 42, n.º 11).
Tal como nos esféricos, observaram-se exemplares com o lábio acentuado por ligeiro rebordo externo (Fig.
43).
Também se observaram pratos ou taças baixas (Fig. 41, n.º 1 a 3) e um “copo” liso, de formato tronco-cónico,
com paredes grosseiramente adelgaçadas e com o fundo, que é convexo, marcado por rebordo marginal (Fig. 40,
n.º 1). Este exemplar, que já tinha sido reproduzido anteriormente (BUBNER, 1979, Est. III, n.º 1), diferencia-se,
no entanto, dos usuais “copos” do calcolítico inicial pela existência do referido rebordo basal. Possui estreitas
afi nidades com os exemplares recolhidos na anta de Penedo Gordo (Gavião) (CUNHA & CARDOSO, 2002/2003,
Fig. 7, n.º 7; Fig. 8, n.º 6; Fig. 9, n.º 1, 2 e 7). A procura de paralelos para tal tipo de recipientes conduziu à iden-
tifi cação de um conjunto de exemplares de antas do Alto Alentejo, elencados no referido trabalho, cuja cronologia
é reportável ao Neolítico Final, ou já ao Calcolítico.
As Cerâmicas industriais integram, como o seu nome indica, os artefactos relacionados com uma qualquer
actividade extractiva ou produtiva, tendo-se considerado os grupos artefactuais adiante caracterizados.
Cinchos: dentro desta designação cabem as produções relacionadas com uma actividade doméstica de carácter
produtivo. Trata-se em geral de fragmentos que difi cilmente é possível reconstituir em todo o seu perfi l, mas não
possuiriam fundo, pois deles não se reconheceram quaisquer indícios; caracterizam-se por ostentar as paredes
completamente perfuradas, ainda com a pasta fresca, de fora para dentro (Fig. 23, n.º 10, 11). Desta forma, é
aceitável a reconstituição efectuada por Hipólito Cabaço para um destes objectos, oriundo do povoado da Pedra
de Ouro (Alenquer) (PAÇO, 1966, Fig. 13 A).
Relacionados usualmente com o fabrico de queijo, tal utilização encontra-se fi xada na terminologia portuguesa
de décadas passadas pela palavra “queijeiras”, que parece menos apropriada que a de “cincho”. Com efeito, se
exemplares mais modernos, do Bronze Final/inícios da Idade do Ferro do Sudoeste peninsular, providos de fun-
do, se podem relacionar com actividades metalúrgicas, como a copelação da prata – a que se pode somar exemplar
da Quinta do Marcelo, Almada (BARROS, 2000; CARDOSO, 2004 b, Fig. 149) – em materiais calcolíticos, análises
químicas têm revelado nalguns exemplares a presença de compostos orgânicos, condizentes com a função que
lhes tem sido tradicionalmente atribuída, por comparação etnográfi ca.
Para a integração cultural destas produções, é muito importante a informação fornecida pelo estudo sistemático
das cerâmicas de Leceia, já que é o único, no concernente à área estremenha, que interessa a totalidade dos
elementos recolhidos numa estação arqueológica com estratigrafi a ável. Assim, os vinte e cinco fragmentos de
cinchos recolhidos provêm integralmente da Camada 2, do Calcolítico Pleno (CARDOSO, 2006, p. 39), o que
280
refl ecte a especialização das produções, verifi cada desde o Calcolítico Inicial, ou seja, na transição da primeira
para a segunda metade do III milénio a.C., corporizando a chamada “Revolução dos Produtos Secundários”.
Um dos exemplares possui bordo não espessado, enquanto o outro o apresenta engrossado do lado externo,
correspondendo a variedade muito mais rara.
Elementos de tear: aplica-se esta designação aos objectos paralelipipédicos achatados de barro, munidos de
quatro perfurações junto aos cantos, excepcionalmente apenas de duas, produzidas na pasta fresca (Fig. 44, 45).
Estas peças, que são comuns nos povoados estremenhos, podem apresentar-se lisas ou decoradas. No Outeiro da
Assenta, todos os exemplares são lisos. Nos exemplares decorados, as decorações patentes nas faces maiores das
placas de Vila Nova de São Pedro, constituem um notável conjunto, que justifi cou o primeiro estudo dedicado a
este tipo de artefactos (PAÇO, 1940), prosseguido até épocas mais recentes por outros trabalhos (DINIZ, 1994).
Tais decorações remetem para o domínio do sagrado, estado presentes símbolos astrais e sexuais, tatuagens
faciais, cervídeos (PAÇO, 1940, Fig. 1, n.º 1 a 7). Uma representação estilizada atribuível a machado ou enxó, foi
identifi cada numa placa do Outeiro de São Mamede, recentemente republicada (VASCONCELOS, 1922; CARDO-
SO & CARREIRA, 2003, Fig. 68, n.º 4). Esta realidade comprova a difi culdade na separação, no dia a dia destas
populações, entre o profano e o sagrado, o qual estaria presente em muitas das actividades domésticas quotidia-
namente realizadas, como era o caso da tecelagem. Mais comuns são os motivos geométricos, como linhas ondu-
ladas, ou em zigue-zague, de há muito associadas à água, a propósito de um notável exemplar de Leceia (CAR-
DOSO, 1981, p. 216), elemento que seria essencial no crescimento e lavagem das fi bras de linho, utilizadas à
época na fi ação e tecelagem. Quanto aos reticulados também presentes em diversos destes povoados, poderiam
por seu turno, relacionar-se com a urdidura dos teares onde quais estes artefactos eram aplicados.
Com efeito, embora seja preferível a utilização mais abrangente de “elementos de tear”, aspecto discutido em
trabalho anterior (CARDOSO & CARREIRA, 2003), não existem dúvidas quanto à função que, nestes, tais peças
teriam, servindo de pesos, suspensos por apenas dois dos quatro orifícios. Prova deste modo de utilização foi de
novo confi rmada nos exemplares do Outeiro da Assenta, ao exibirem, à semelhança de outras estações estreme-
nhas, como Vila Nova de São Pedro, Leceia e Moita da Ladra (Vialonga), desgaste em apenas dois dos furos do
mesmo lado (Fig. 44, n.º 1 e 4; Fig. 45, n.º 1 e 4), podendo os outros dois considerar-se como suplentes. Por outro
lado, tal como foi observado anteriormente, alguns apresentam apenas duas perfurações, como é o caso do exem-
plar da Fig. 44, n.º 5. Importa referir que, já em 1914, Vergílio Correia tinha classifi cado como pesos de tear estes
exemplares pré-históricos, num estudo de cariz etnográfi co, em que publicou diversos tipos de exemplares actuais
(CORREIA, 1914). A mesma terminologia foi seguida por Félix Alves Pereira, no respeitante aos exemplares do
Outeiro da Assenta (PEREIRA, 1914, p. 142, 143) e, logo depois, por Luís Chaves (CHAVES, 1915, p. 263). Aliás,
é interessante notar que aquele autor, havia chegado a tal conclusão por observações pessoais, num exercício de
análise traceológica pioneiro, as quais, dado o seu interesse, se transcrevem: “O exame atento destes artefactos
levou-me à convicção de que estes pesos para teares verticais, como os primitivos, fi cavam suspensos por dois
dos seus orifícios e não pelos quatro ao mesmo tempo. E a razão é que não só aparecem pesos desta forma com
duas perfurações apenas, mas nos de quatro, em grande parte deles, apenas dois orifícios de um dos lados maio-
res manifestam os vestígios de uso (…)” (PEREIRA, 1915, p. 126). Como se viu, tal característica foi agora con-
rmada nos mesmos exemplares.
A prática da tecelagem, enquanto actividade especializada, relacionada com o desenvolvimento económico que
caracterizou todo o III milénio a.C., generalizou-se por todo o território português, onde se registaram exemplos
de elementos de tear deste e de outros tipos. Contudo, o conhecimento da evolução, num mesmo local, da impor-
tância desta actividade ao longo do tempo tem sido fortemente limitada pela quase ausência de elementos fi áveis,
com indicações estratigráfi cas precisas. Uma das excepções é o povoado de Leceia. Aqui, trata-se de artefacto
pobremente representado, o que poderá denunciar uma fraca especialização dos seus habitantes nas actividades
281
de tecelagem. Note-se, com efeito, que em povoados de muito menos importância e com áreas escavadas dimi-
nutas, como o Outeiro de São Mamede ou o próprio Outeiro da Assenta, o número destes elementos é propor-
cionalmente muito superior, o mesmo se verifi cando em Outeiro Redondo, Sesimbra, em curso de publicação,
onde se recolheram abundantes exemplares, apesar da área explorada ser reduzida, a par com a modéstia da
extensão dopovoado, quando comparado com o de Leceia (CARDOSO, 2008).
Em Leceia, apesar da aludida escassez de elementos de tear, nota-se um inesperado declínio do Calcolítico
Inicial, onde se registaram oito exemplares, para o Calcolítico Pleno, com apenas seis (CARDOSO, 2006, p. 39).
Este declínio é tanto mais difícil de explicar no contexto da sabida intensifi cação económica atrás mencionada,
reforçando a conclusão de que, em Leceia, a tecelagem não era, seguramente, uma actividade importante, ao
contrário da maioria dos povoados estremenhos calcolíticos.
Pesos de rede: os exemplares de cerâmica, perfurados longitudinalmente antes da cozedura, representados
na Fig. 46, n.º 1 a 6, mereceram judiciosas considerações da parte de Félix Alves Pereira. A sua integração no
Calcolítico parece não deixar dúvidas, com base nas observações do primeiro dos exploradores do Outeiro da
Assenta: “Continuando a escavação no ponto em que as camadas estratifi cadas davam ao trabalho uma importân-
cia especial, porque a situação dos objectos começava a ter um signifi cado cronológico, verifi cou-se o aparecimen-
to de outro pêso de rede, ovóide e perfurado longitudinalmente. Casualmente foi avistado, antes de se soltar do
estrato que o continha e pude então notar rigorosamente a sua posição. A zona onde êle se mostrava, era aquela
camada de terra escura subjacente à que se caracterizava pela presença dos cereais carbonizados [trata-se de
depósito relacionado com vasos de armazenamento da Idade do Ferro, como adiante se verá]; só depois desta
observação feita e arquivada, é que este objecto foi retirado do seu lugar. A este nível apareciam tambêm os pesos
de tear, a que já me tenho referido e que são análogos aos da estação de S. Mamede.
Esta camada era seguramente de época preìstórica, sem mistura alguma com os estratos superiores; estava
intacta; (…)” (PEREIRA, 1914, p. 145). No ano seguinte, o mesmo autor discute longamente a atribuição a pesos
de rede destes artefactos, recorrendo à sua formação etnográfi ca (PEREIRA, 1915, p. 127 e seg.). Com efeito,
estas produções cerâmicas não se devem confundir, por um lado, com os cossoiros, da Idade do Ferro, de forma-
to tronco-cónico, também presentes na estação e, por outro, como as peças esféricas perfuradas, recolhidas no
vizinho Outeiro de São Mamede, atribuídas a contas de colar por Félix Alves Pereira, embora uma análise mais
conservadora das mesmas, recentemente publicada, tenha conduzido a uma classifi cação meramente morfológica,
como “esferas perfuradas diametralmente” (CARDOSO & CARREIRA, 2003, p. 144, Fig. 70, n.º 4 a 6). O tamanho,
e por conseguinte, o peso, parece ser critério importante na diferenciação. Assim, os exemplares do Outeiro de
São Mamede, de menores dimensões que os do Outeiro da Assenta, seriam compatíveis com contas de colar, tal
como os elementos de formato bicónico, recolhidos em diversas estações calcolíticas litorais, como a Lapa do
Bugio (CARDOSO, 1992) ou as sepulturas campaniformes do dólmen de Pedra Branca, Montum (Santiago do
Cacém) (FERREIRA et al., 1975).
Em Santa Olaia, Santos Rocha atribuiu a exemplares da Idade do Ferro idênticos aos recolhidos no Outeiro da
Assenta, função de contas de colar, representando alguns destes elementos como supunha que podiam estar
organizados (ROCHA, 1905/1908, Est. XXVIII, n.º 246). Como contas de colar foram também considerados alguns
elementos pré-romanos de Conímbriga, recolhidos por Vergílio Correia (CORREIA, 1916, p. 264). Tais exemplares
foram reproduzidos mais tarde, mantendo-se a referida atribuição (CORREIA, 1993, Fig. 4). Enfi m, L. Chaves, a
propósito de um destes exemplares, por si descoberto no Outeiro da Assenta, chama-lhe pendeloque, denotando
talvez a discussão que, sobre o mesmo tipo de objectos, é apresentada no mesmo volume da revista por Félix
Alves Pereira (CHAVES, 1915, p. 263). A existência de exemplares análogos tem sido registada em diversas esta-
ções arqueológicas litorais da Península Ibérica, de épocas distintas, pelo menos até os séculos IX-XIII, como é o
caso do Saltés, sítio islâmico das Marismas do Odiel (BAZZANA & BEDIA GARCIA, 2009, Fig. 104), o que não
impede de considerar os do Outeiro da Assenta de época pré-histórica
282
A proximidade da lagoa de Óbidos reforça, como bem notou o primeiro explorador da estação arqueológica, a
atribuição a estes objectos como pesos de rede, utilizados para pescarias nas águas calmas da lagoa, já que, para
o litoral oceânico, seriam precisos pesos de muito maior robustez e tamanho, como os exemplares de pedra
recolhidos em Leceia (CARDOSO, 1996).
Suportes de lareira: reconheceu-se um exemplar, descrito pelo primeiro explorador do sítio nos seguintes
termos: “Na camada mais baixa, juntamente com os sílices, encontrou-se um pedaço de barro cozido, que por ser
curvo e grosso, mas muito tôsco, me pareceu à primeira vista ter pertencido a um vaso avantajado; a pasta porêm
é idêntica à dos pedaços que apresentam as impressões de caniço. A hipótese, que me ocorre, é que fazia parte
efectivamente do revestimento argiloso das cabanas, nalgum ponto em que houvesse uma abertura para o exterior,
uma chaminé, por exemplo” (PEREIRA, 1914, p. 144). No entanto, a referida hipótese não colhe, não só porque
a peça é maciça, mas também porque se conserva uma superfície plana, servindo de base, sobre a qual assenta-
va. Trata-se de um fragmento dos chamados suportes de lareira, impropriamente designados na literatura por
“ídolos de cornos”, designação já rebatida por diversas vezes (CARDOSO & FERREIRA, 1990; CARDOSO, 2003).
A ocorrência destes exemplares em contextos do Neolítico Final, como o identifi cado no sítio que veio ulterior-
mente a ser ocupado pela villa romana da Quinta das Longas (Elvas) (GONÇALVES, CARVALHO & POMBAL,
2003), mostra que já existiriam antes das actividades metalúrgicas relacionadas com o cobre. Por outro lado, não
se conhece nenhum exemplar oriundo de contexto funerário, com a excepção de um exemplar conotável com
ídolo fálico, da tholos do Escoural (Montemor-o-Novo), comparável a dois exemplares de Leceia (CARDOSO, 1995
b), que não são passíveis de confusão com as peças em questão, mesmo com as de tipologia mais simples. Deste
modo, fi ca reforçado o seu carácter doméstico. O facto de alguns exemplares, como os recolhidos em Vila Nova
de São Pedro, possuírem decorações simbólicas, como, entre outras, as ditas “tatuagens faciais”, frequentes nos
bem conhecidos idolos-cilindro de calcário, associados à representação antropomórfi ca (GONÇALVES, 1994 a,
Fig. 1, n.º 1), em nada diminui o carácter funcional destas peças, à semelhança do verifi cado com os elementos
de tear acima tratados. No entanto, alguns exemplares miniaturais não poderiam ter, evidentemente, carácter
funcional, podendo considerar-se como brinquedos da época. O autor referido elabora pertinentes considerações,
a propósito da importante colecção de Vila Nova de São Pedro, procurando separar os exemplares que considera
como suportes de lareira, daqueles que atribuiu a “ídolos de cornos”. Estes, pela sua morfologia corniforme,
simples ou dupla, estariam relacionados com o culto dos bovídeos no decurso do Calcolítico. Admite-se, com
efeito, que tal culto teria efectivamente existido, até pela importância destes animais na sociedade de então: pro-
va disso, são as múltiplas representações de bucrânios no santuário exterior do Escoural (Montemor-o-Novo)
(GOMES, 1991), atribuível ao Neolítico Final,a que se juntou, mais recentemente, a estatueta modelada de um
bovídeo recuperada nas escavações efectuadas por Miguel Lago, A. Valera e colaboradores no complexo dos
Perdigões (Reguengos de Monsaraz). No mesmo sentido apontam os pequeninos corniformes recolhidos em Vila
Nova de São Pedro, atribuíveis a fragmentos de esculturas modeladas destes animais (GONÇALVES, 1994 a). No
entanto, importa referir que os corniformes cerâmicos, não podem, pelo simples facto de o serem, conotar-se
obrigatoriamente com ídolos. O caso mais exemplar é o dos fornos da Ponta da Passadeira (Barreiro), do Neolí-
tico Final/Calcolítico Inicial, aos quais se encontravam associados abundantes corniformes simples, de cerâmica
(SOARES, 2001, Fig. 15, 16), que não poderiam ter outra função senão a de separadores (trempes) dos recipien-
tes, aquando da cozedura dos mesmos, ou, eventualmente, no âmbito do seu aquecimento, com água do estuário,
para a produção de sal, servindo como suportes. De igual modo, também no sítio do Neolítico Final/Calcolítico
do Monte da Quinta (Benavente), este claramente à produção de sal, foram encontrados várias dezenas de objec-
to maciços mais ou menos alongados, de barro, “alguns dos quais com morfologias próximas do que tradicional-
mente se designam por “Ídolos de Cornos” (VALERA, TERESO & REBUGE, 2006, p. 294).
Diversos: dentro desta categoria inscreve-se, em primeiro lugar, a Cerâmica de revestimento, representada
na colecção por um fragmento de barro com uma das faces aplanadas, conservando a outra impressões de caules
283
ou troncos de pequeno diâmetro (Fig. 46, n.º 7). Trata-se de um dos pedaços referidos por Félix Alves Pereira, e
por ele reproduzido (PEREIRA, 1915, Fig. 7, i), tendo então sido identifi cados correctamente como barro de
revestimento de cabanas, e atribuído ao Calcolítico, “em virtude das condições do descobrimento” (PEREIRA,
1914, p. 143; PEREIRA, 1915, p. 131). Integram-se nesta categoria ainda: um objecto de cerâmica incompleto,
perfurado transversalmente numa das extremidades (Fig. 46, n.º 11), descrito no primeiro estudo dedicado à
estação como indeterminado: “Um pedaço de cerâmica com orifício, que não sei classifi car” (PEREIRA, 1914,
p. 143); um prato de fundo espesso e bordo simples, de pequenas dimensões, constituindo exemplar raro dentro
das produções calcolíticas (Fig. 46, n.º 8); e uma pequeníssima taça, cuja utilização também é desconhecida, com
paralelos em outras estações neolíticas ou calcolíticas (Fig. 46, n.º 9). Este exemplar foi recolhido na segunda
campanha de escavações, dirigida por Luís Chaves, que se lhe refere (CHAVES, 1915, p. 262). Nalguns casos, a
utilização especial destes pequenos recipientes é sugerida pela própria decoração que ostentam: é o caso do
exemplar do Outeiro de São Mamemde, possuindo na face externa, a representação de um cometa (CARDOSO
& ANDRÉ, 2005).
3.2. Idade do Bronze
Na Fig. 47 agrupam-se as produções cerâmicas que, pela tipologia, se reportam à Idade do Bronze. Apenas um
exemplar se apresenta decorado, com a característica técnica “a cepillo” (Fig. 47, n.º 5). Os restantes exemplares,
por vezes, possuem elementos plásticos decorativos, como é o caso dos pequenos mamilos simbólicos na
carena, característicos do Bronze Final, por vezes perfurados (Fig. 47, n.º 1 a 3), ou ostentam protuberância
sobre o bordo (Fig. 47, n.º 4), elemento decorativo característico do Bronze Final, estando presente, entre outras
estações, no Castelo dos Mouros (Sintra) (CARDOSO, 1997/1998 b, Fig. 8, n.º 4) e na Lapa da Bugalheira (Tor-
res Novas) (CARREIRA, 1996 b, Est. 8, n.º 4). Outras produções características e abundantes da Idade do Bronze
são as taças carenadas (Fig. 47, n.º 7 a 14 e 16), enquanto um pequeno pote de colo estrangulado (Fig. 47,
n.º 15) possui os melhores paralelos, no que respeita à área estremenha, em um exemplar das grutas do Poço
Velho (Cascais) (CARREIRA, 1990/1992, Fig. 2, n.º 7) e na sepultura da Idade do Bronze de Pedra de Ouro
(Alenquer) (LEISNER & SCHUBART, 1966, Abb. 11, n.º 2), ainda que dubitativamente possa ser já atribuído, tal
como os exemplares invocados como comparação, à Idade do Ferro.
3.3 – Idade do Ferro
3.3.1 – Indústria cerâmica
O conjunto dos materiais cerâmicos atribuídos à Idade do Ferro, produzidos ao torno rápido, é dominado pelos
fragmentos de grandes potes de armazenamento com bordos salientes e robustos, dos quais se conservam os
bordos e alguns fundos planos, referidos por Félix Alves Pereira como destinados ao armazenamento de trigo.
Contudo, dado o mau estado de conservação dos recipientes, não foi possível recuperar nenhum exemplar que
possibilitasse reconstituição. Como se referiu no início deste estudo, Félix Alves Pereira considerou comparável
o conjunto cerâmico da Idade do Ferro do Outeiro da Assenta ao de Santa Olaia (Figueira da Foz).
A revisão dos materiais agora efectuada, conduziu à identifi cação de dois conjuntos diferenciados da Idade do
Ferro, no Outeiro da Assenta: o primeiro, é, com efeito, em parte comparável ao exumado na estação fi gueirense
e corresponde aos séculos VI ou inícios do V a.C. Esta fase mais antiga da Idade do Ferro do Outeiro da Assen-
284
ta integra as asas bilobadas assinaladas pelo autor, enquanto os fragmentos por ele atribuídos a pythoi não são
mais do que restos de grandes vasos de armazenamento, também designados pelo autor como “urnas” (PEREIRA,
1915, p. 144). Trata-se de recipientes de cerâmica comum, desprovidos de asas, pertencentes ao fi nal da Idade
do Ferro, coevo do período romano republicano, dando passagem a ténue ocupação de época imperial, represen-
tada por diversos elementos que não serão objecto deste estudo, recolhidos sobretudo na intervenção realizada
por Luís Chaves.
Deste modo, ao fi nal da I Idade do Ferro, de tradição orientalizante, são de atribuir diversas produções cerâmi-
cas, como as representadas nas Fig. 48 e 49, onde avultam as asas com suave depressão longitudinal media-
na, de jarros ou de pequenos vasos de colo alto (Fig.48, n.º 5 a 7), com bons paralelos na ocupação sidérica
da Rua dos Correeiros (Lisboa) (CARDOSO, 2004 b, Fig. 194), atribuível a momento imediatamente posterior
(séculos V/IV a.C.), ou as asas bilobadas, ou de secção circular (Fig. 49), que poderiam pertencer, nalguns
casos, a pythoi. Note-se que, apesar de já não ocorrerem produções orientalizantes, alguns exemplares poderão ser
considerados como de tradição do Bronze Final (Fig. 50, n.º 1 a 3), enquadrando-se no conjunto das cerâmicas
comuns, como as de coloração alaranjada que se encontram representadas na mesma fi gura (Fig. 50, n.º 4 a 6).
É certo que a distribuição de povoados desta época, no vasto território estremenho se afi gura mais importante
que a actualmente conhecida. Um dos locais que revelou recentemente materiais cerâmicos do mesmo tipo, glo-
balmente atribuíveis ao século V a.C., foi o castro do Socorro (Mafra/Torres Vedras), do qual se reproduziram já
alguns exemplares obtidos por G. Marques (CARDOSO, 2004 b, Fig. 218)
As produções fi nas, tal como as representadas na Fig. 51, correspondentes a taças, jarros e pequenos
vasos de cerâmicas cinzentas, ou cinzentas/anegradas, por vezes fi namente brunidas, conferindo-lhes toque
metálico, decoradas por cordões em relevo, são em tudo idênticas aos exemplares recolhidos nos “casais agrí-
colas” dos séculos VI/V a.C. da região de Lisboa, como a Outurela (Oeiras) (CARDOSO, 1990; CARDOSO, 2004
b, Fig. 195) e os Moinhos da Atalaia (Amadora) (PINTO & PARREIRA, 1978). Conquanto sejam abundantes na
região de Lisboa, onde poderiam prolongar-se pela II Idade do Ferro (é o caso dos exemplares recolhidos na Rua
dos Correeiros ((ALARCÃO, coord., 1996, n.º 22), ocorrem também na ocupação sidérica de Conímbriga (COR-
REIA, 1993, Fig. 7), conferindo-se um cunho regional, correspondendo ao território a norte do Tejo e até ao
Mondego, já que não ocorrem na região do Sado. As taças de bordo simples ou ligeiramente espessado e
lábio convexo, de cerâmica cinzenta, encontram-se bem representadas, através dos exemplares fi gurados nas
Figs. 52, 53 e 54. Trata-se de produções comuns e de larga diacronia, com início no período orientalizante, mas
continuando claramente presentes em épocas ulteriores, como é o caso, atingindo os alvores da Romanização,
segundo o verifi cado por C. Tavares da Silva e colaboradores na estratigrafi a do castelo de Alcácer do Sal (SILVA
et al., 1980/1981), realidade depois sublinhada por A. M. Arruda (ARRUDA, 1999/2000, p. 205).
Os materiais recolhidos na Alcáçova de Santarém permitiram à referida autora elaborar uma tipologia para as
cerâmicas cinzentas, pertencendo a maioria dos exemplares identifi cados a taças (Forma 1), categoria onde tam-
bém se inserem os exemplares do Outeiro da Assenta, representados nas Fig. 52 a 54. Situação idêntica verifi cou-
se em Almaraz (Almada) (BARROS, CARDOSO & SABROSA, 1993), e na Conímbriga pré-romana, como assinala
a autora. Deste modo, as cerâmicas cinzentas podem considerar-se como produções características dos estabele-
cimentos fenícios ocidentais, sendo a sua longevidade e abundância explicáveis pelo sucesso que detinham junto
das comunidades indígenas, o qual, em parte, pode ser o resultado de, tanto as formas, como o próprio acaba-
mento cuidado, terem origens imediatamente anteriores, no Bronze Final da Estremadura, ainda que então cor-
respondessem a fabricos manuais ao torno lento. Deste modo, a introdução do torno rápido possibilitou, simples-
mente, um apuro nas formas e, sobretudo, a produção em série, segundo modelos normalizados.
Aliás, a adaptação ao fabrico ao torno de formas já conhecidas e antes executadas ao torno lento, tem paralelo
em recipientes de maiores dimensões, incluindo vasos de armazenamento (Fig. 55, n.º 1).
285
As produções de cerâmicas comuns, de pastas médias e alaranjadas, correspondentes a potes de colo alto
e bordo em aba, comuns nos “casais agrícolas” dos séculos VI/V a.C. dos arredores de Lisboa, encontram-se
também representadas no conjunto do Outeiro da Assenta (Fig. 55, n.º 2 a 4), ostentando por vezes as comuns
decorações de linhas incisas, formando uma ou várias bandas simples no bojo (Fig. 63, n.º 4). Estas produções
poderiam ser acompanhadas de vasos de maiores dimensões, talvez afi ns dos pythoi (Fig. 55,n.º 8 e 9), os quais,
por se encontrarem muito incompletos, impedem maiores certezas.
Ao fi nal da Idade do Ferro, num período em que já ocorrem as primeiras importações de origem itálica
(Ferro Mediterâneo III, na terminologia de C. Tavares da Silva e colaboradores, apoiada pelos resultados obti-
dos no castelo de Alcácer do Sal, cf. SILVA et al., 1980/1981), pertencem os grandes vasos de colo alto e de
bordo espesso fortemente revirado para o exterior, cuja robustez, segundo Félix Alves Pereira, dispensaria
a existência de elementos de preensão. Trata-se de recipientes que, nalguns casos – provavelmente os de maiores
dimensões – serviriam como contentores de cereais, no caso o trigo e talvez a aveia, de acordo com as observa-
ções do primeiro escavador, como anteriormente se referiu. Os exemplares identifi cados distribuem-se pelas Fig.
55, n.º 6 e 7, Fig. 56, Fig. 57, Fig. 58, Fig. 59, Fig. 60, Fig. 61, Fig. 62 e Fig. 63, n.º 8.
Um dos fragmentos recolhidos por Félix Alves Pereira contém parte de inscrição “de tipo arcaico ou cursivo
romano, com quatro caracteres, dos quais apenas um parece encontar-se completo” (PEREIRA, 1914, p. 146), o
qual voltou a ser referido um ano depois, concluindo que se trata de palavra incompreensível. Segundo ele, os
caracteres, abertos com ponta romba no barro fresco, são os seguintes: “[…] ACIX […] “ (Fig. 62, n.º 1).
A maioria das decorações observadas no bojo destes grandes vasos são muito simples, constituídas por linhas
ondeadas, desenvolvendo-se na horizontal, enquadradas por linhas rectilíneas paralelas (Fig. 61, n.º 1 a 4; Fig. 62,
n.º 1 a 3). Alguns exemplares ostentam, associada à anterior, uma curiosa decoração obtida pela impressão de
uma matriz circular na pasta fresca, a qual deveria corresponder a um caule mole (Fig. 62, n.º 1 a 3); com efeito,
como bem assinala Félix Alves Pereira, caso a matriz utilizada fosse metálica, não sofreria deformações produzi-
das pela pressão lateral do próprio barro, como de facto sofreu, pois se assim fosse, tais impressões seriam
sempre iguais, o que não se verifi ca (PEREIRA, 1915, p. 139). As decorações destes fragmentos apresentam
grandes semelhanças com as patentes em fragmentos de vasos homólogos recolhidos na gruta da nascente do
rio Almonda, onde alguns possuem decorações obtidas por estampilhas, de evidente infl uência continental, que
aqui não ocorrem (PAÇO, VAULTIER & ZBYSZEWSKI, 1947).
Note-se, ainda, que alguns dos exemplares fi gurados, tanto por Félix Alves Pereira, como por Luís Chaves, não
se localizaram entre as peças actualmente reunidas e dadas como do Outeiro da Assenta.
A decoração, nalguns casos, poderia ser, simplesmente, constituída por uma banda de linhas incisas paralelas
abaixo do bordo, como se observa no exemplar da Fig. 63, n.º 8, o qual apresenta o lábio com uma goteira ou
depressão, aspecto também observado em outros exemplares, como os da Fig. 59. Esta particularidade poderá
talvez relacionar-se com o ajuste de um opérculo ou tampa.
Entre as produções fi nas, importa referir um pequeno fragmento de jarro, de coloração acinzentada com um
cordão em relevo delimitando o arranque do colo, decorado abaixo deste por motivos reticulados brunidos
(Fig. 63, n.º 6). Exemplares idênticos foram identifi cados entre os materiais de feição dominantemente púnica da
Quinta da Torre (CARDOSO & CARREIRA, 1997/1998, Fig. 11, n.º 7), a que se junta outro exemplar, recolhido
em contexto sidérico tardio do povoado de altura do Castelo, Arruda dos Vinhos (GONÇALVES, 1997).
As produções itálicas ou atribuíveis a tal origem; além do referido vaso com inscrição acima mencionado,
incluem um bico de ânfora vinária (Fig. 64, n.º 3), provavelmente a peça referida por Luís Chaves como prove-
niente da Vala n.º 7, executada na encosta poente do Outeiro, designada como “um fundo de ânfora espessa”
(CHAVES, 1915, p. 268), e um fragmento de cerâmica campaniense da forma Lamboglia 5.7, da 2.ª metade do
século II ao fi nal do 3.º quartel do século I a.C. (Fig. 64, n.º 2), que tem comprovativo na referência do mesmo
286
autor a fragmentos recolhidos na Vala n.º1, descritos como “numerosos pedaços de um barro fumigado, fi no, cuja
qualidade e aspecto se assemelham com os fragmentos de cerâmica dos Gregos, achados por Estácio da Veiga
em Monte Molião”; mais à frente, refere novos achados da Vala n.º 2, que considerou do tipo buchero fi no (CHA-
VES, 1915, p. 266). Com efeito, o Museu Nacional de Arqueologia conserva outros fragmentos de cerâmicas
campanienses, embora sem interesse tipológico, pelo que não foram reproduzidos.
As primeiras produções itálicas acima referidas coexistiram com as últimas produções de raiz púnica, como se
verifi cou, entre outras estações, no Castro de Chibanes, cuja Fase II C, atribuída ao Ferro III/ período romano-
republicano, onde ânforas itálicas vinárias coexitiram com ânforas neoúnicas de tipologia idêntica à do presente
exemplar (SILVA, 2001, Fig. 13, n.º 3 e 4), bem como na estação da Quinta da Torre, Monte de Caparica (CAR-
DOSO & CARREIRA, 1995).
Cerâmicas industriais – cossoiros: na primeira campanha no Outeiro da Assenta, Félix Alves Pereira men-
ciona a recolha de três cossoiros, dos sete actualmente conservados (Fig. 65, n.º 1 a 7). Deste modo os quatro
restantes foram recolhidos por Luís Chaves, que reproduz um deles, oriundo da Vala n.º 2 (CHAVES, 1915, Fig.
7). Trata-se de produções coevas dos objectos cerâmicos do Ferro III, acima identifi cados, documentando a acti-
vidade de fi ação no pequeno aglomerado.
3.3.2. Vidros
Luís Chaves reporta à Vala 2 uma conta de vidro de coloração ambarina (CHAVES, 1915, p. 265). Com efeito,
torna-se difícil distinguir ambas as substâncias, até pelas diminutas dimensões do exemplar (Fig. 66, n.º 4). Trata-
se de exemplar reportável ao fi nal da Idade do Ferro, ou já ao período romano.
3.3.3. Indústria metálica
Na Fig. 66 representam-se os elementos metálicos atribuíveis aos fi nais da Idade do Ferro e à época romana.
Uma possível xorca de sanguessugas (Fig. 66, n.º 1) está representada por um fragmento de aro de bronze
maciço. Um exemplar com o aro completo, em torno do qual se encontram agrupadas doze sanguessugas, foi
encontrado na Serra das Ripas (Alenquer), o que permite admitir como provável aquela função, para o aro frac-
turado em apreço (GOMES & DOMINGOS, 1983). Estas jóias de bronze são características da II Idade do Ferro
(na terminologia clássica), correspondendo os exemplares datados mais antigos em território português ao sécu-
lo VI/V a.C. É o caso do exemplar recolhido na sepultura 22/80 da necrópole do Olival do Senhor dos Mártires
(Alcácer do Sal), também com doze elementos (PAIXÃO, 1983, Fig. 5). Talvez ainda mais antigo seja o exemplar
representado por apenas uma sanguessuga, recolhido em Santa Olaia (ROCHA, 1905/1908, Est. XX, n.º 50). Estas
peças detêm, porém, assinalável longevidade, podendo atingir o século I a.C., como foi demonstrado pelo achado
de outras senguessuga no castro do Pedrão (Setúbal) (SOARES & SILVA, 1973, Est. IX, n.º 68). É a esta época,
dos alvores da romanização da região estremenha, que se pode reportar o exemplar do Outeiro de S. Mamede,
tendo presente as restantes peças ali presentes. Recolhido na Vala n.º 1 da segunda campanha de escavações, foi
classifi cado, embora com reservas, à categoria agora também admitida (CHAVES, 1915, p. 265).
No conjunto, identifi caram-se quatro fíbulas de distintas tipologias. Félix Alves Pereira recolheu apenas um
exemplar incompleto, o qual, pela reprodução por ele apresentada (PEREIRA, 1915, Fig. 7, f); corresponde ao
representado na Fig. 66, n.º 6. Conservando o arco e a mola bilateral simétrica de quatro voltas, é afi m do tipo
Ponte 40, situável entre meados do século II a.C. e inícios do século I d.C.. (PONTE, 2006, n.º 171 e 172); o
287
segundo exemplar (Fig. 66, n.º 7), é afi m do tipo Ponte B 51 – 2 a, conservando o aro, é reportável a época que
vai de inícios do século I a.C. a fi nais do século IV d.C. (PONTE, 2006, n.º 309); o terceiro e o quarto exemplares
(Fig. 66, n.º 8 e 9), são afi ns do tipo Ponte 32 c; ambos incompletos, encontram paralelos mais próximos, respec-
tivamente, nos exemplares n.º 140 e n.º 452 (PONTE, 2006). Usualmente designados de “fíbulas do tipo trans-
montano”, têm paralelos estremenhos em um exemplar da gruta da Furninha (Peniche) (CARTAILHAC, 1886,
Fig. 429) e em diversos exemplares do castro de Pragança, dos quiais dois se encontram reproduzidos por J.
Leite de Vasconcelos (VASCONCELOS, 1915, Est. VII, Fig. 50, 51). Um destes exemplares (Fig. 66, n.º 8) foi
logo publicado por L. Chaves, que o recolheu na Vala 2 (CHAVES, 1915, Fig. 8), a par com uma fíbula anular que
não se conserva entre espólio ora estudado. A outra fíbula de “tipo transmontano” (Fig. 66, n.º 9) provém da Vala
n.º 7 e foi também reproduzida no trabalho em referência (CHAVES, 1915, Fig. 7).
Objectos diversos: Luís Chaves refere, da Vala n.º 2, “uma règuasinha de bronze de lados paralelos, e de
secção trapezoidal como as espessas facas de sílex do período neolítico (…)” (CHAVES, 1915, p. 265). Trata-se
da peça que se reproduz na Fig. 66, n.º 3. Nas escavações da villa romana de Leião (Oeiras), recolheu-se um
exemplar idêntico, situável na primeira metade do século I d.C. Corresponde, pois, a produção romana, de fi nali-
dade desconhecida, tal como a de uma folha de bronze apontada e incompleta (Fig. 66, n.º 5) e uma peça de
ferro, também incompleta, já reproduzida por Félix Alves Pereira, que a atribui, com reservas a uma folha de
lança com espigão (PEREIRA, 1915, Fig. 20).
Excluiu-se deste estudo, por estar atribuída ao século IV d.C. na exposição organizada no Museu Nacional de
Arqueologia “Religiões da Lusitânia”, onde actualmente se encontra exposta, uma peça recuperada por Luís Cha-
ves na Vala n.º 7 e por ele reproduzida (CHAVES, 1915, Fig. 15). Trata-se de placa moldurada de contorno sub-
-quadrangular, de bronze, cujas perfurações nos cantos atestam tratar-se de uma aplicação, a qual, ao centro,
ostenta uma decoração de características provavelmente fálicas.
4. CONCLUSÕES
O estudo sistemático do importante espólio recolhido no Outeiro da Assenta permitiu as seguintes conclusões
de maior vulto:
1 – Trata-se de um importante, rico e diversifi cado conjunto de materiais arqueológicos, embora desprovidos
de contexto, que se mantinham, no essencial, inéditos. Tais espólios resultaram de duas intervenções, ambas sob
a égide do então Museu Etnológico Português: a primeira, e mais importante, de Félix Alves Pereira, em 1911; a
segunda, menos desenvolvida, de Luís Chaves, em 1913.
As conclusões obtidas evidenciam, uma vez mais, a importância científi ca das colecções arqueológicas conser-
vadas no Museu Nacional de Arqueologia, as quais, embora na maior parte dos casos se encontrem ali deposita-
das de há muito, ainda não conheceram, em muitos casos, os estudos que merecem.
2 – Este contributo surge na sequência da estratégia defi nida desde há vários anos, conducente ao conhecimen-
to de estações pré-históricas da Estremadura e, desde modo, do passado desta rica e diversifi cada região, com
base nas colecções de maior interesse arqueológico, e ainda insufi cientemente caracterizadas. Ao estudo produ-
zido em 2001/2002 sobre o espólio da Gruta da Casa da Moura (Óbidos), a primeira gruta pré-histórica explora-
da em Portugal, cujos espólios se repartem actualmente pelos Museu Nacional de Arqueologia e pelo Museu
Geológico, e que se mantinham, cerca de cento e quarenta anos depois da primeira escavação nela efectuada por
Nery Delgado, inexplicavelmente inéditos, sucedeu-se a publicação dos materiais do vizinho povoado do Outeiro
288
de São Mamede (Bombarral), em 2003, com base nos materiais conservados naquela Instituição. A linha condu-
tora deste Projecto encontra-se assegurada: depois da presente publicação, encontra-se já em preparação desen-
volvida memória dedicada ao notável acervo recuperado noutra intervenção histórica, a realizada na Gruta da
Furninha (Peniche), também por Nery Delgado, em 1865 e 1879, cujo espólio se encontra na segunda das refe-
ridas Instituições.
3 – A mais antiga ocupação documentada no Outeiro da Assenta remonta ao Neolítico Antigo evolucionado da
Estremadura; à falta de datações absolutas, a tipologia dos escassos materiais cerâmicos indica época situável,
com maior probabilidade, no primeiro quartel do V milénio a.C. Esta ocorrência tem, pois, acrescido interesse,
por vir, por um lado, comprovar a ocupação de sítios destacados na paisagem, logo no Neolítico Antigo, tal como
o observado na Baixa Estremadura e, por outro, por vir juntar-se à informação já fornecida pela presença de
materiais análogos em grutas naturais da região, com destaque para a Casa da Moura (Óbidos), a Furninha
(Peniche) e, um pouco mais longe e para o interior, o abrigo grande das Bocas (Rio Maior).
4 – A presença seguinte remonta ao Calcolítico. Pode admitir-se a existência de uma primeira ocupação, situá-
vel na transição do Calcolítico Inicial para o Calcolítico Pleno, tendo em conta a existência da característica
decoração canelada e a escassez dos típicos “copos canelados”, mais antigos; a ser assim, esta realidade poderia
ter equivalente no povoado da Columbeira, onde foi essa a única presença documentada arqueografi camente.
Seja como for, a tipologia dos materiais cerâmicos indica uma forte ocupação do Calcolítico Pleno, representada
pelas decorações do tipo “folha de acácia/crucífera” e motivos associados (reticulados, espinhados e zigue-zagues
produzidos pela técnica incisa), provavelmente coevas das escassas produções campaniformes, representadas pelo
Grupo internacional, incluindo o vaso “marítimo” de padrão clássico. Esta realidade é acompanhada por um ter-
ceiro conjunto cerâmico decorado, com recurso a uma matriz denteada, a qual produziu nuns casos bandas inci-
sas, por arrastamento e, noutros casos, linhas constituídas por impressões punctiformes, iguais à técnica a pon-
teado das cerâmicas campaniformes. Ambas as técnicas podem coexistir num único exemplar, apresentando-se as
impressões assimétricas, no caso da matriz ter incidido obliquamente à superfície do vaso a decorar.
A realidade descrita tem um forte cunho geográfi co, concentrando-se nesta região, como comprova a insistência
da ocorrência de produções cerâmicas com estas características, nos povoados do Outeiro de São Mamede e de
Pragança, diferenciando-se da situação da verifi cada no norte do País, onde, embora as decorações de bandas
incisas obtidas por matriz sejam comuns no Calcolítico, estas não se encontram associadas a decorações pontea-
das. Por outro lado, este tipo de cerâmicas ocorre raramente em áreas mais meridionais, como atestam os escas-
sos exemplares recolhidos nos povoados de Leceia, da Penha Verde e da Rotura, sendo que nos dois últimos
apenas foi identifi cada a variante de bandas “a pente”.
A integração cronológico-cultural destas produções no CalcolíticoPleno é indicada pela distribuição estratigráfi -
ca reconhecida em Leceia, onde nenhum dos exemplares se reporta ao Calcolítico Inicial. Com efeito, embora,
nalguns casos, se verifi que a aplicação destas duas técnicas aos “copos”, forma claramente herdada daquele perío-
do, nota-se que a técnica a ponteado se aplica tanto a recipientes de tipologia pré-campaniforme, como já campa-
niforme, como é o caso dos esféricos de boca reentrante, como o exemplar identifi cado no Outeiro de São
Mamede.
Note-se que a técnica incisa formando bandas horizontais alternando com espaços abertos – exactamente como
se verifi ca nos vasos “marítimos” – tanto no Norte, como no centro interior do País, acompanha verdadeiros
campaniformes, podendo, deste modo, ser uma interpretação local daquele estilo campaniforme primordial.
Na Baixa Estremadura, a adopção pelos oleiros da nova técnica recorrendo a matriz, para a execução de moti-
vos a ponteado, conduziu ao Grupo campaniforme de Palmela, onde se mesclam formas pré-campaniformes com
289
a técnica e padrões decorativos já campaniformes. Assim, nesta região mais setentrional da Estremadura, inte-
grando o Outeiro da Assenta, onde a forma mais característica daquele Grupo regional – a taça Palmela – é
excepcional, gerou-se um grupo cerâmico com características próprias, que se designará por Grupo do Outeiro
da Assenta, por ter sido esta estação que proporcionou a sua individualização, na sequência das considerações
apresentadas por J. L. M. Gonçalves sobre este tipo de cerâmica. O Grupo do Outeiro da Assenta é, desta forma,
constituído por cerâmicas com formas pré-campaniformes (“copos”, esféricos, taças), com decorações ponteadas
e incisas, associadas ou não, mas ambas produzidas pela mesma matriz, estando também presente o vaso “marí-
timo” e outras produções campaniformes do Grupo Internacional.
Tudo indica que as produções cerâmicas que, no nosso País, serviram para isolar este Grupo, se encontram
associadas, por um lado, às primeiras cerâmicas campaniformes correspondendo ao vaso “marítimos” do Grupo
internacional e, por outro, às derradeiras produções do Grupo “folha de acácia/crucífera”; que caracteriza o Cal-
colítico Pleno da Estremadura. Situação idêntica se observou no Outeiro de São Mamede, embora neste as cerâ-
micas do Grupo “folha de acácia/crucífera” sejam muito mais frequentes, e, em contrapartida, as produções
campaniformes do Grupo Internacional sejam muito mais escassas.
Em resumo: o Grupo da Assenta, será coevo do Grupo Internacional e do Grupo regional “folha de acácia/
crucífera”, recebendo infl uências tanto de um como de outro, sem ignorar as infl uências do Calcolítico do norte
e do centro-interior, através das decorações de bandas incisas a pente, o que conduziu a produções originais e
com expressão geográfi ca circunscrita a uma região integrando essencialmente três povoados: Outeiro de São
Mamede, Pragança e Outeiro da Assenta (a falta do estudo sistemático e completo das produções cerâmicas do
Zambujal impede, por ora outras comparações).
5 – Mercê da posição geográfi ca que o Outeiro da Assenta detinha à época, sobre um dos braços interiores da
lagoa de Óbidos, presentemente completamente assoreado, designado por “Várzea da Rainha”, a componente
aquática na alimentação era muito importante, tal como é revelado pela grande quantidade dos restos de ostra
identifi cados, espécie hoje em dia desaparecida da lagoa. A pesca nesta importante massa de água salobra era
importante, como se comprova pela ocorrência de pesos de rede tubulares, de cerâmica. Contudo, fi ca por escla-
recer a época destes artefactos:serão calcolíticos, conforme as observações estratigráfi cas de Félix Alves Pereira?
Ou da Idade do Ferro, como sugere a sua ausência em outros povoados calcolíticos ribeirinhos da Estremadura
e a ocorrência de exemplares idênticos em estações da Idade do Ferro, como Santa Olaia e Conímbriga, onde
peças análogas foram classifi cadas como contas de colar?
A observação macroscópica dos artefactos de sílex aponta para a existência de dois grupos cromáticos principais,
cuja origem deverá ser distinta. O primeiro, possui colorações que vão do branco ao anegrado, passando por várias
tonalidades de cinzento e amarelado; o segundo, exibe colorações acastanhadas a castanho-escuras ou raramente
avermelhadas. A origem de, pelo menos, uma parte destas variedades, deverá reportar-se à região de Rio Maior,
podendo a outra parte ser originária dos afl oramentos calcários mesosóicos que afl oram na região, tendo presente
ainda as abundantes fontes desta matéria-prima existentes nos calcários recifais cretácicos da Baixa Estremadura.
A economia agro-pastoril calcolítica suportava, tal como na generalidade dos povoados estremenhos da mesma
época, o abastecimento trans-regional de matérias-primas consideradas essenciais ao quotidiano das populações
sedeadas no topo do Outeiro, como é o caso das rochas anfi bolíticas, cujos afl oramentos mais próximos se situam
no Alto Alentejo (concelhos de Montemor-o-Novo e Avis), a mais de 150 km de distância, atravessando o Tejo na
região de Abrantes. Seria também dali que poderia provir o cobre, sob a forma nativa ou de carbonatos, conforme
se verifi cou no estudo dos artefactos do povoado de Leceia, situado perto do estuário do Tejo, excluída a possi-
bilidade de provir de mais perto, como a área de Matacães (Torres Vedras). No entanto, referências antigas à
presença de cobre nativo na região, a par de ocorrências de carbonatos de cobre, susceptíveis de serem explora-
290
dos na época, conduz a manter em aberto a questão da mineração local ou regional do cobre no decurso do
Calcolítico.
A elevada quantidade e importâmcia de peças metálicas no vizinho Outeiro de São Mamede, entre elas lingotes,
acompanhados por outros testemunhos (porções de cobre extraídas de machados planos, correspondentes aos
gumes, para ulterior transformação em pequenos utensílios), aponta no sentido afi rmativo; mas só análises quí-
micas detalhadas, como as efectuadas em Leceia, poderão resolver esta questão.
6 – Para além da obtenção de peças metálicas, que poderiam resultar da simples martelagem de pedaços de
cobre, obtidos a partir de lingotes, tal como em muitos outros povoados calcolíticos, estão documentadas activi-
dades transformadoras, como a produção de produtos lácteos (presença de cinchos) e de tecelagem (presença
de elementos de tear). Estes últimos abundam, tal como no Outeiro de São Mamede, indicando que, não obstan-
te a fraca extensão da área habitada, se tratava de uma indústria importante, contrastando com a pouca expressão
que noutros assumia, apesar da sua muito maior extensão e signifi cado à escala regional, como é o caso de Leceia.
Esta constatação comprova a existência de especializações inter-povoados, que reforçariam assim os laços de
interacção de base económica entre eles existentes.
Um dos indicadores dessa realidade é fornecido pela cerâmica decorada do grupo “folha de acácia/crucífera”,
cuja coerência interna aponta para produções difundidas durante um intervalo de tempo bem determinado, talvez
não superior a 300 anos, entre cerca de 2600 e 2300 a.C., desde o estuário do Sado até à latitude do Outeiro da
Assenta, que constitui o limite setentrional da sua área de distribuição. A difusão poderia ser efectuada, por hipó-
tese, por via feminina, através da troca de mulheres entre comunidades, abarcando uma faixa litoral que, em linha
recta, não ultrapassa 120 km, com um largura máxima de 50 km.
7 – A ocupação mais antiga da Idade do Ferro remonta aos séculos VI/V a.C., a qual evidencia ainda fortes
infl uências orientalizantes, embora já não ocorram materiais característicos daquela fase cultural. Deste modo, é
atribuível à transição da I para a II Idade do Ferro Mediterrânica, já que os infl uxos culturais oriundos daquela
região se mantiveram. Esta presença foi breve, face à míngua dos materiais recuperados, decorrendo da própria
situação geográfi ca da estação, que ocupa o topo de um cabeço outrora dominando um braço lagunar em comu-
nicação directa com o oceano, do qual dista apenas cerca de 6 Km. Com efeito, sabe-se que são sítios como este,
situados em áreas bem individualizadas no interior dos estuários, que mereceram a preferência como locais de
povoamento, no decurso da Idade do Ferro, ao longo do litoral português No caso do litoral da Estremadura, tais
locais são ainda pouco conhecidos, mas a ocorrência, no Outeiro da Assenta, de espólios com nítidas infl uências
orientalizantes, faz supor que outros sítios existam, com idênticas características geomorfológicas, herdadas dos
estabelecimentos orientalizantes mais antigos, ou correspondendo a altos isolados, fazendo a transição com as
características dominantes dos povoados da III Idade do Ferro existentes na região, sem prejuízo da manutenção
do cunho vincadamente mediterrâneo. É o caso do castro do Socorro (Torres Vedras), de onde provém um
importante conjunto desta época. As produções cerâmicas, entre elas a cerâmica cinzenta fi na, atesta afi nidades
com a região do estuário do Tejo, onde foram reportadas, em diversos casais agrícolas, aos séculos VI/V a.C. e
também com a área do Baixo Mondego, visto terem sido recolhidas em Santa Olaia e em Conímbriga, o que se
afi gura compatível com a situação geográfi ca intermédia ocupada pelo Outeiro da Assenta.
8 – O fi nal da Idade do Ferro no litoral estremenho (reportável à III Idade do Ferro mediterrânea, na termino-
logia de C. Tavares da Silva e colaboradores) encontra-se melhor representado no Outeiro da Assenta. Trata-se
de período que abarca os séculos II a I a.C., atingindo a época em que o domínio romano se consolidou na região.
Embora a maioria das peças de época romana não tenha sido incluída neste trabalho, pode concluir-se que a
291
referida presença se efectivou em continuidade com a última fase da Idade do Ferro, ou época proto-romana (ou
ainda romana republicana). Esta encontra-se evidenciada por grande quantidade de grandes vasos de armazena-
mento de trigo, cujos grãos se encontravam incarbonizados, formando uma pasta aderente à superfície interna
dos recipientes, fortemente alterada, o que impossibilitou a reconstituição dos mesmos. É possível que estes
contentores se encontrassem enterrados sob o solo das habitações, representado por uma camada de barro ver-
melho. Um deles ostenta uma inscrição em cursivo, muito incompleta.
9 – A diversidade de épocas em que o Outeiro da Assenta foi ocupado, representadas pelos espólios recolhidos
e agora publicados, evidencia o interesse que a posição geográfi ca que ocupa, no litoral da Estremadura, despertou
ao longo dos milénios, desde o Neolítico Antigo ao Período Romano, passando pelo Calcolítico, pela Idade do Bron-
ze, e por diversas fases da Idade do Ferro. As explorações de Félix Alves Pereira, parecem terem atingido áreas
com camadas mais antigas, tendo dado origem a dois desenvolvidos estudos, enquanto que a intervenção de Luís
Chaves, refl ectida em artigo mais apressado e superfi cial, produziu materiais predominantemente mais tardios, já
de época romana, como numerosos fragmentos de terra sigillata, que não foram incluídos neste estudo.
No conjunto, exploraram-se diversos sectores da encosta do Outeiro, onde se esperava encontrar materiais
oriundos da parte mais alta do mesmo, ocupada por uma esplanada investigada sobretudo por Luís Chaves, que
nela mandou executar diversas valas afastadas entre si, não distinguindo, porém, os objectos nela recuperadas
por épocas, ignorando a estratigrafi a, ao contrário do que Félix Alves Pereira procurou fazer.
Por outro lado, não parece que a estação arqueológica esteja esgotada, no que também se discorda de Luís Cha-
ves. Assim sendo, este estudo afi gura-se útil, também na perspectiva da realização de novas investigações nesta
importante e ainda tão mal conhecida estação arqueológica, em que os signatários estão empenhados, até porque
se verifi cou, em tempos recentes, a realização de várias escavações clandestinas, que importa evitar futuramente.
AGRADECIMENTOS
Ao Dr. Luís Raposo, Director do Museu Nacional de Arqueologia, pela autorização concedida para o estudo dos
materiais ora publicados, bem como pelas facilidades no acesso da correspondência enviada por Félix Alves
Pereira a José Leite de Vasconcelos, relacionada com as escavações realizadas no Outeiro de São Mamede,
extensivos também à Dr.ª Lívia Cristina Coito, responsável pelo arquivo do Museu, pelo seu acolhimento sempre
cordial.
Ao Dr. Carlos Tavares da Silva, pela ajuda prestada na análise dos materiais da Idade do Ferro que fazem par-
te do presente conjunto, cuja tipologia tão bem conhece.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ÅBERG, N. (1921) – La civilisation énéolithique dans la Péninsule Ibérique. Uppsala A.-B. Akedemiska Bochan-
deln.
ALARCÃO, J. de, coord. (1996) – De Ulisses a Viriato. O primeiro milénio a.C. Lisboa: Museu Nacional de Arqueo-
logia.
ARRUDA, A. M. (1999/2000) – Los Fenicios en Portugal. Fenícios y mundo indígena en el centro y sur de Portugal
(siglos VIII-VI a.C.). Barcelona: Publicaciones del Laboratório de Arqueologia de la Universidad Pompeu Fabra
de Barcelona (Cuadernos de Arqueologia Mediterrânea, 5/6).
292
BARROS, L. de (2000) – O fi m do Bronze e a Idade do Ferro no território de Almada. Dissertação de Mestrado
em Arqueologia. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (2 vols.).
BARROS, L.; CARDOSO, J. L. & SABROSA, A. (1993) – Fenícios na margem sul do Tejo. Economia e integração
cultural do povoado do Almaraz – Almada. Estudos Orientais. Lisboa. 4, p. 143-181.
BAZZANA; A & BEDIA GARCIA, J. (2009) – Saltés. Un assentamiento islámico en las Marismas del Odiel (siglos
IX-XIII). Huelva: Duputación Provincial de Huelva (Huelva Arqueológica, 21).
BOAVENTURA, R. (2001) – O sítio calcolítico do Pombal (Monforte). Uma recuperação possível de velhos e novos
dados. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia 20).
BRANDHERM, D. (2000) – Yunques, martillos y lo demás – herramientas líticas en la producción metalúrgica de
las Edades del Cobre y del Bronce. 3.º Congresso de Arqueologia Peninsular (Vila Real, 1999). Actas. Porto:
ADECAP, 4, p. 243-252.
BUBNER, M. A. H. P. (1979) – Cerâmica de importação na Estremadura portuguesa. Ethnos. Lisboa. 8,
p. 31-85.
CARDOSO, J. L. (1981) – O povoado pré-histórico de Leceia. Estudo da colecção do Escultor Álvaro de Brée.
Revista de Gvimarães. Guimarães. 91, p. 190-233.
CARDOSO, J. L. (1989) – Leceia. Resultados das escavações realizadas 1983-1988. Oeiras: Câmara Municipal de
Oeiras.
CARDOSO, J. L. (1990) – A presença oriental no povoamento da I Idade do Ferro na região ribeirinha do estuá-
rio do Tejo. Estudos Orientais. Lisboa. 1, p. 119-134.
CARDOSO, J. L. (1992) – A Lapa do Bugio. Setúbal Arqueológica. Setúbal. 9/10, p. 89-225.
CARDOSO, J. L. (1994) – Leceia 1983-1993. Escavações do povoado fortifi cado pré-histórico. Estudos Arqueológicos
de Oeiras. Oeiras. Número especial.
CARDOSO, J. L. (1995 a) – Cerâmicas decoradas a pente, do Calcolítico Pleno de Leceia (Oeiras) e da Penha
Verde (Sintra). Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 5, p. 243-249.
CARDOSO, J. L. (1995 b) – Símbolos sexuais do povoado pré-histórico de Leceia (Oeiras). Estudos Arqueológicos
de Oeiras. Oeiras. 5, p. 251-261.
CARDOSO, J. L. (1996) – Pesos de pesca do povoado pré-histórico de Leceia (Oeiras): estudo comparado. Estudos
Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 6, p. 107-119.
CARDOSO, J. L. (1997) – O povoado deLeceia (Oeiras), sentinela do Tejo no terceiro milénio a.C. Lisboa/Oeiras:
Museu Nacional de Arqueologia/Câmara Municipal de Oeiras.
CARDOSO, J. L. (1997/1998 a) – A ocupação campaniforme do povoado pré-histórico de Leceia. (Oeiras). Estudos
Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 7, p. 89-153.
CARDOSO, J. L. (1997/1998 b) – O povoado do Bronze Final do Castelo dos Mouros (Sintra). Estudos Arqueoló-
gicos de Oeiras. Oeiras. 7, p. 169-187.
CARDOSO, J. L. (2003) – Ainda sobre os impropriamente chamados “Ídolos de Cornos” do Neolítico Final e do
Calcolítico da Estremadura e do Sudoeste. Al-madan. Almada. Série II, 12, p. 77-79.
293
CARDOSO, J. L. (2004 a) – Polished stone artefacts at the prehistoric settlement of Leceia (Oeiras). Madrider
Mitteilungen. Wiesbaden. 45, p. 1-32.
CARDOSO, J. L. (2004 b) – A Baixa Estremadura dos fi nais do IV Milénio a.C. até à chegada dos Romanos: um
ensaio de História Regional. Oeiras: Câmara Municipal de Oeiras (Estudos Arqueológicos de Oeiras 12).
CARDOSO, J. L. (2006) – As cerâmicas decoradas pré-campaniformes do povoado pré-histórico de Leceia: suas
características e distribuição estratigráfi ca. Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 14, p. 9-276.
CARDOSO, J. L. & ANDRÉ, M. C. (2005) – Um cometa na Pré-História portuguesa. A taça do povoado calcolítico
do Outeiro de S. Mamede (Bombarral) e o imaginário colectivo ligado a tais corpos celestes. Al-madan. Alma-
da. Série II, 13, p. 36-47.
CARDOSO, J. L. & CANINAS, J. C. (2008) – Moita da Ladra (Vila Franca de Xira). Resultados preliminares da
escavação integral de um povoado calcolítico muralhado. Colóquio Internacional “Transformação e Mudança no
centro e sul de Portugal – 3500-2000 a.n.e. (Cascais, 2005). Actas. Cascais: Câmara Municipal de Cascais (no
prelo).
CARDOSO, J. L. & CARREIRA, J. R. (1997/1998) – A ocupação de época púnica da Quinta da Torre (Almada).
Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 7, p. 189-217.
CARDOSO, J. L. & CARREIRA, J. R. (2003) – O povoado calcolítico do Outeiro de São Mamede (Bombarral):
estudo do espólio das escavações de Bernardo de Sá (1903/1905). Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 11,
p. 97-228.
CARDOSO, J. L. & CARVALHOSA, A. de Barros e (1995) – Estudos petrográfi cos de artefactos de pedra polida
do povoado pré-histórico deLeceia (Oeiras). Análises de proveniências. Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras.
5, p. 123-151.
CARDOSO, J. L. & FERREIRA, O. da Veiga (1990) – Três suportes de lareira da Penha Verde (Sintra). Revista de
Arqueologia da Assembleia Distrital de Lisboa. Lisboa. 1, p. 5-12.
CARDOSO, J. L. & SOARES, A. M. Monge (1990/1992) – Cronologia absoluta para o Campaniforme da Estrema-
dura e do Sudoeste de Portugal. O Arqueólogo Português. Lisboa. Série IV, 8/10, p. 203-228.
CARDOSO, J. L.; CARREIRA, J. R. & FERREIRA, O. da Veiga (1996) – Novos elementos para o estudo do Neolí-
tico Antigo da região de Lisboa. Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 6, p. 9-26.
CARREIRA, J. R. (1996 a) – As ocupações das Idades do Cobre e do Bronze da Lapa da Bugalheira (Torres Novas).
Nova Augusta. Torres Novas. 10, p. 91-112.
CARREIRA, J. R. (1996 b) – Materiais da Idade do Bronze da gruta da nascente do Almonda (Torres Novas).
Nova Augusta. Torres Novas. 10, p. 113-123.
CARREIRA, J. R. (1998) – A ocupação da Pré-História recente do Alto de Chibanes (Palmela), Setúbal. Trabalhos
de Arqueologia da EAM. Lisboa. 3 / 4, p. 123-213.
CARREIRA, J. R. & CARDOSO, J. L. (2001/2002) – A gruta da Casa da Moura (Cesareda, Óbidos) e sua ocupação
pós-paleolítica. Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 10, p. 249-361.
CARTAILHAC, E. (1886) – Les âges préhistoriques de l´Espagne et du Portugal. Paris : Ch. Reinwald.
CARVALHO, A. F.; BRAGANÇA, F.; NETO, F. & JUSTINO, L. (1999) – O sítio da Idade do Bronze “Pleno” do
Casal da Torre (Assentiz, Torres Novas). Trabalhos de Arqueologia da EAM. Lisboa. 5, p. 51-62.
294
CASTILLO, A. del (1928) – La Cultura del Vaso Campaniforme (su origen y extensión en Europa). Barcelona:
Universidad de Barcelona.
CHAVES, L. (1915) – Segunda exploração arqueológica do Outeiro da Assenta (Termo de Óbidos). O Arqueólogo
Português. Lisboa. 20, p. 258-271.
CORREIA, V. (1914) – Os pesos de tear. Águia. Porto. Separata, 8 p.
CORREIA, V. (1916) – Conimbriga. A camada pré-romana da cidade (notas de uma exploração de dez dias em
Condeixa-a-Velha). O Arqueólogo Português. Lisboa. 21, p. 252-264.
CORREIA, V. H. (1993) – Os materiais pré-romanos de Conímbriga e a presença fenícia no baixo vale do Monde-
go. Estudos Orientais. Lisboa. 4, p. 229-283.
CUNHA, A. Leite da & CARDOSO, J. L. (2002/2003) – A anta do Penedo Gordo (Belver, Gavião). Estudos Pré-
-Históricos. Viseu. 10/11, p. 31-53.
DELGADO, J.F. Nery (1884) – La grotte de Furninha a Peniche. Congrès International d´Anthropologie et d´Archéologie
Préhistoriques (Lisboa, 1880). Compte-Rendu de la neuvième session. Lisboa: Tipografi a da Academia Real das
Ciências, p. 207-278.
DINIZ, M. (1994) – Pesos de tear e tecelagem no Calcolítico em Portugal. Trabalhos de Antropologia e Etnologia.
Porto. 34 (3/4), p. 133-149.
FERREIRA, O. da Veiga (1970) – La metallurgie primitive au Portugal pendant l´époche chalcolithique. VI Con-
greso Internacional de Mineria (Leon, 1970). Actas. 1, p. 99-116.
FERREIRA, O. da Veiga & SILVA, C. Tavares da (1970). A estratigrafi a do povoado pré-histórico da Rotura (Setú-
bal). Nota preliminar. I Jornadas Arqueológicas da Associação dos Arqueólogos Portugueses (Lisboa, 1969). Actas.
Lisboa. 1, p. 203-225.
FERREIRA, O. da Veiga; ZBYSZEWSLI, G.; LEITÃO, M.; NORTH, C. T. & SOUSA, H. Reynolds de (1975) – Le
monument mégalithique de Pedra Branca auprès de Montum (Melides). Comunicações dos Serviços Geológicos
de Portugal. Lisboa. 59, p. 107-192.
GARCIA, F. (1946) – Minas concedidas no continente desde Agosto de 1836 a Junho de 1946. Lisboa: Ministério da
Economia-Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos.
GOMES, J. P. (1896/1898) – Mineraes descobertos em Portugal. Comunicações da Comissão do Serviço Geológico
de Portugal. Lisboa. 3, p. 199-209.
GOMES, M. V. (1991) – Corniformes e fi guras associadas de dois santuários rupestres do sul de Portugal. Cro-
nologia e interpretação. Almansor. Montemor-o-Novo. 9, p. 17-74.
GOMES, J. J. F. & DOMINGOS, J. B. B. (1983) – A “xorca” da serra das Ripas (Alenquer). O Arqueólogo Português.
Lisboa. Série IV, 1, p.287-300.
GONÇALVES, J. L. M. (1990/1992) – As grutas da serra de Montejunto (Cadaval). O Arqueólogo Portugês. Lisboa.
Série IV, 8/10, p. 41-201.
GONÇALVES, J. L. M. (1991) – Cerâmica calcolítica da Estremadura. IV Jornadas Arqueológicas da Associação dos
Arqueólogos Portugueses (1990). Actas. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses, p. 215-226.
295
GONÇALVES, J. L. M. (1994 a) – “Ídolos de cornos” e suportes de lareira do castro de Vila Nova de São Pedro
(Azambuja). V Jornadas Arqueológicas da Associação dos Arqueólogos Portugueses (1993). Actas. Lisboa: Asso-
ciação dos Arqueólogos Portugueses, 2, p. 147-162.
GONÇALVES, J. L. M. (1994 b) – Castro da Columbeira uma primeira fase do Calcolítico médio estremenho?
Al-madan. Almada. Série II, 3, p. 5-7.
GONÇALVES, V. S. (1971) – O castro da Rotura e o vaso campaniforme. Setúbal: Junta Distrital de Setúbal.
GONÇALVES, V. S.; CARVALHO, A. & POMBAL, S. (2003) – A ocupação pré-histórica da Quinta das Longas (S.
Vicente e Ventosa, Elvas). Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 6 (2), p. 109-142.
JORGE, S. Oliveira (1986) – Povoados da Pré-História recente da região de Chaves-Vila Pouca de Aguiar. Disser-
tação de Doutoramento em Pré-História e Arqueologia, 2 vol.. Porto: Instituto de Arqueologia da Faculdade de
Letras do Porto.
KUNST, M. (1987) – Zambujal. Glockenbecher und kerblattverzierte keramik aus den Grabungen 1964 bis 1973.
Mainz-am-Rhein: Verlag Philipp von Zabern (Deutsches Archäologisches Institut Madrid. Madrider Beiträge
Band 5).
LILLIOS, K. (1993) – Agroal and the Early Bronze Age of the portuguese lowlands. 1.º Congresso de Arqueologia
Peninsular (Porto, 1993). Actas. Porto: SPAE, 2, p. 261-291.
MACHADO, J. L. Saavedra (1965) – Subsídios para a história do Museu Etnológico Dr. Leite de Vasconcelos. Lisboa:
Museu Etnológicodo Dr. Leite de Vasconcelos.
MÜLLER, R. & CARDOSO, J. L. (2008) – The origin and use of copper at the chalcolithic fortifi cation of Leceia
(Oeiras, Portugal). Madrider Mitteilungen. Wiesbaden. 49, p. 64-93.
PAÇO, A. do (1940) – Placas de barro de Vila Nova de S. Pedro. Congresso do Mundo Português. Lisboa: Comissão
Executiva dos Centenários. 1, p. 235-251 (Memorias e comunicações apresentadas ao Congresso de Pré e
Proto-História – I Congresso).
PAÇO, A. do (1955) – Castro de Vila Nova de S. Pedro. VII. Considerações sobre o problema da metalurgia.
Zephyrvs. Salamanca. 6, p. 27-40.
PAÇO, A. do (1966) – Castelo da Pedra de Ouro. Anais da Academia Portuguesa da História. Lisboa. Série II, 16,
p. 117-152.
PAÇO, A. do; VAULTIER, M. & ZBYSZEWSKI, G.(1947) – Gruta da nascente do rio Almonda. Trabalhos de Antro-
pologia e Etnologia. Porto. 11, (1/2), p. 171-187.
PAIXÃO, A. Cavaleiro (1983) – Uma nova sepultura com escaravelho da necrópole proto-histórica do Senhor dos
Mártires (Alcácer do Sal). O Arqueólogo Português. Lisboa. Série IV, 1, p. 273-286.
PEREIRA, F. A. (1914) – Estação arqueológica do Outeiro da Assenta (Óbidos). O Arqueólogo Português. Lisboa.
19, p. 135-146.
PEREIRA, F. A. (1915) – Estação arqueológica do Outeiro da Assenta (Óbidos). O Arqueólogo Português. Lisboa.
20, p. 107-155.
PINTO, C. V. & PARREIRA, R. (1978) – Contribuição para o estudo do Bronze Final e do Ferro inicial a norte do
estuário do Tejo. III Jornadas Arqueológicas da Associação dos Arqueólogos Portugueses (Lisboa, 1977). Actas.
1, p. 147-163.
296
PONTE, S. da (2006) – Corpus signorum das fíbulas proto-históricas e romanas de Portugal. Casal de Cambra:
Caleidoscópio.
RIBEIRO; C. (1880) – Notícia de algumas estações e monuments prehistoricos. II – Monumentos megalithicos das
visinhanças de Bellas. Lisboa: Academia Real das Sciências de Lisboa 86 p.
ROCHA, A. dos Santos (1905/1908) – Estações pré-históricas da Idade do Ferro nas visinhanças da Figueira.
Portvgalia. Porto. 2, p. 301-359.
SILVA, C. Tavares da (1971) – O povoado pré-histórico da Rotura. Notas sobre a cerâmica. II Congresso Nacional
de Arqueologia (Coimbra, 1970). Actas. Coimbra: Junta Nacional da Educação, 1, p. 175-192.
SILVA, C. Tavares da (2001) – A Idade do Ferro na região do Baixo Sado. Contribuições recentes. Arqueologia e
História Regional da península de Setúbal (M. J. F. TAVARES, A. A. TAVARES & J. L. CARDOSO, org.). Lisboa:
Universidade Aberta, p. 79 –100 (Discursos, número especial).
SILVA, C. Tavares da & SOARES, J. (1986) – Arqueologia da Arrábida. Lisboa: ServiçoNacional de Parques,
Reservas e Conservação da Natureza (Colecção Parques Naturais, 15).
SILVA, C. Tavares da & SOARES, J. (1987) – O povoado fortifi cado calcolítico do Monte da Tumba. I – Escavações
arqueológicas de 1982-86 (resultados preliminares). Setúbal Arqueológica. Setúbal. 8, p. 29-79.
SILVA, C. Tavares da; SOARES, J.; BEIRÃO, C. de Mello; DIAS, L. F.; & COELHO-SOARES, A. (1980/1981) –
Escavações arqueológicas no castelo de Alcácer do Sal (campanha de 1979). Setúbal Arqueológica. Setúbal. 6/7,
p. 141-218.
SOARES, J. (2001) – O povoado pré-histórico da Ponta da Passadeira: economia ribeirinha dos IV/III milénios
a.C. Arqueologia e História Regional da península de Setúbal (M. J. F. TAVARES, A. A. TAVARES & J. L. CAR-
DOSO, org.). Lisboa: Universidade Aberta, p. 101-127 (Discursos, número especial).
SOARES, J. & SILVA, C. Tavares da (1973) – Ocupação do período proto-romano do povoado do Pedrão (Setúbal).
II Jornadas Arqueológicas da Associação dos Arqueólogos Portugueses (Lisboa, 1972). Lisboa. Actas. 1, p. 245-306.
THADEU, D. (1965) – Carta Mineira de Portugal na escala de 1/500 000. Notícia explicativa. Lisboa: Serviços
Geológicos de Portugal.
VALERA, A. C. (1999) – O habitat pré-histórico de Linhares (Santa Comba Dão – Viseu). Trabalhos de Arqueologia
da EAM. Lisboa. 5, p. 51-62.
VALERA, A. C.; TERESO, J. P. & REBUGE, J. (2006) – O Monte da Quinta 2 (Benavente) e a produção de sal no
Neolítico Final/Calcolítico do estuário do Tejo. IV Congresso de Arqueologia Peninsular (Faro, 2004). Actas.
Faro: Universidade do Algarve, 4, p. 291-305.
VASCONCELOS, J. Leite de (1915) – História do Museu Etnológico Português (1893-1914). Lisboa: Imprensa
Nacional.
VASCONCELOS, J. Leite de (1922) – Encabamento de instrumentos de pedra prehistoricos. O Arqueólogo Portu-
guês. Lisboa. Lisboa. 22, p. 288-298.
VILAÇA, R. (2008) – Através das Beiras. Pré-História e Proto-História. Coimbra: Palimage/Terra Ocre-edições.
ZBYSZEWSKI, G. & ALMEIDA, F. Moitinho de (1960) – Carta geológica de Portugal na escala de 1/50 000.
Notícia explicativa da Folha 26-D (Caldas da Rainha). Lisboa: Serviços Geológicos de Portugal.
ZBYSZEWSKI, G. & FERREIRA, O. da Veiga (1958) – Estação pré-histórica da Penha Verde. Comunicações dos
Serviços Geológicos de Portugal. Lisboa. 39, p. 37-57.
297
Fig. 7 – Outeiro da Assenta. Indústria de pedra lascada: lamelas não retocadas e lâminas retocadas, de sílex.
298
Fig. 8 – Outeiro da Assenta. Lâminas retocadas e não retocadas, de sílex, uma com a frente transformada em raspadeira.
299
Fig. 9 – Outeiro da Assenta. Lâmina elipsoidal de trabalho bifacial (“foicinha”), raspadores, denticulados e núcleos prismáticos de
lamelas, de sílex.
300
Fig. 10 – Outeiro da Assenta. Lasca retocada (“foicinha”), raspadeira sobre lasca e pontas de seta, de sílex.
301
Fig. 11 – Outeiro da Assenta. Machados e enxós, de anfi bolito e de diversas rochas ígneas ou metassedimentares. O n.º 2 possui
sulco numa das faces para facilitar o encabamento.
302
Fig. 12 – Outeiro da Assenta. Machados, enxós e martelos, de anfi bolito e de diversas rochas ígneas ou metassedimentares. O
n.º 1 possui sulco numa das faces para facilitar o encabamento.
303
Fig. 13 – Outeiro da Assenta. Machados e enxós (1 a 3), de anfi bolito e de diversas rochas ígneas ou metassedimentares e ossos
afeiçoados (4 a 6).
304
Fig. 14 – Outeiro da Assenta. Indústrias metálicas, de cobre, do Calcolítico.
305
Fig. 15 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas decoradas ou lisas com motivos coroplásticos, atribuíveis ao Neolítico Antigo.
306
Fig. 16 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas lisas com motivos coroplásticos, ou elementos de suspensão, atribuíveis ao Neolítico
Antigo.
307
Fig. 17 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas decoradas, lisas, com motivos coroplásticos, ou com elementos de suspensão, atribuíveis
ao Neolítico Antigo.
308
Fig. 18 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas decoradas, atribuíveis ao Neolítico Antigo (ou nalguns casos, eventualmente, a épocas
ulteriores).
309
Fig.19 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas decoradas, atribuíveis ao Neolítico Antigo (ou nalguns casos, eventualmente, a épocas
ulteriores).
310
Fig. 20 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas decoradas atribuíveis globalmente ao Calcolítico Inicial da Estremadura.
311
Fig. 21 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas decoradas atribuíveis globalmente ao Calcolítico Inicial da Estremadura.
312
Fig. 22 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas decoradas atribuíveis ao Calcolítico Pleno da Estremadura.
313
Fig. 23 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas decoradas atribuíveis ao Calcolítico Pleno da Estremadura (1 a 9) e fragmentos de cinchos
relacionados com o fabrico de lacticínios (10, 11).
314
Fig. 24 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas decoradas atribuíveis ao Calcolítico Pleno da Estremadura.
315
Fig. 25 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas decoradas com a aplicação deslizante de uma matriz denteada (vulgarmente designada
por “pente”), atribuíveis ao Calcolítico Pleno.
316
Fig. 26 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas decoradas pela impressão de uma matriz denteada (vulgarmente designada por “pente”),
atribuíveis ao Calcolítico Pleno. Note-se a forma campaniforme dos exemplares n.ºs. 4 e 5, talvez pertencentes ao mesmo exemplar
(caçoila campaniforme).
317
Fig. 27 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas decoradas pela impressão de uma matriz denteada (vulgarmente designada por “pente”),
atribuíveis ao Calcolítico Pleno, com evidentes infl uências das cerâmicas campaniformes, das quais não é fácil separá-las.
318
Fig. 28 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas campaniformes decoradas a ponteado, correspondendo o n.º 1 a um vaso marítimo típico,
decorado por bandas preenchidas interiormente por linhas oblíquas, alternando espaços em branco.
319
Fig. 29 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas lisas calcolíticas e eventualmente da Idade do Bronze.
320
Fig. 30 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas lisas calcolíticas e eventualmente da Idade do Bronze.
321
Fig. 31 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas lisas calcolíticas e eventualmente da Idade do Bronze.
322
Fig. 32 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas lisas calcolíticas e eventualmente da Idade do Bronze.
323
Fig. 33 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas lisas calcolíticas e eventualmente da Idade do Bronze.
324
Fig. 34 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas lisas calcolíticas e eventualmente da Idade do Bronze.
325
Fig. 35 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas lisas calcolíticas e eventualmente da Idade do Bronze.
326
Fig. 36 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas lisas calcolíticas e eventualmente da Idade do Bronze.
327
Fig. 37 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas lisas calcolíticas e eventualmente da Idade do Bronze.
328
Fig. 38 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas lisas calcolíticas e eventualmente da Idade do Bronze.
329
Fig. 39 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas lisas calcolíticas e eventualmente da Idade do Bronze.
330
Fig. 40 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas lisas calcolíticas e eventualmente da Idade do Bronze.
331
Fig. 41 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas lisas calcolíticas e eventualmente da Idade do Bronze.
332
Fig. 42 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas lisas calcolíticas e eventualmente da Idade do Bronze.
333
Fig. 43 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas lisas calcolíticas e eventualmente da Idade do Bronze.
334
Fig. 44 – Outeiro da Assenta. Elementos calcolíticos de tear.
335
Fig. 45 – Outeiro da Assenta. Elementos calcolíticos de tear.
336
Fig. 46 – Outeiro da Assenta. Objectos cerâmicos diversos. Pesos de rede para pesca fl uvial, calcolíticos ou da Idade do Ferro (1
a 6); porção de barro de revestimento de cabana (7); fragmento de pequeno prato (8); tacinha (9); fragmento de suporte de lareira
(10); e objecto indeterminado, incompleto (11).
337
Fig. 47 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas da Idade do Bronze, algumas eventualmente já da Idade do Ferro (n.os 15 e 16).
338
Fig. 48 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas dos fi nais da I Idade do Ferro, de tradição orientalizante, genericamente atribuíveis aos
séculos VI/V a.C.
339
Fig. 49 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas globalmente atribuíveis aos fi nais da I Idade do Ferro, de tradição orientalizante, dos
séculos VI/V a.C.
340
Fig. 50 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas de tradição do Bronze Final (n.ºs. 1 a 3), e de produção comum,de pastas laranjas, dos
nais da I Idade do Ferro, genericamente atribuíveis aos séculos VI/V a.C.
341
Fig. 51 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas cinzentas fi nas, dos fi nais da I Idade do Ferro, genericamente atribuíveis aos séculos VI/
IVa.C.
342
Fig. 52 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas cinzentas, dos fi nais da I Idade do Ferro, genericamente atribuíveis aos séculos VI/
V a.C.
343
Fig. 53 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas cinzentas, dos fi nais da I Idade do Ferro, genericamente atribuíveis aos séculos VI/
V a.C.
344
Fig. 54 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas cinzentas, dos fi nais da I Idade do Ferro, genericamente atribuíveis aos séculos VI/
V a.C.
345
Fig. 55 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas comuns da Idade do Ferro: n.º 1, fi nais da I Idade do Ferro, séculos VI/V a.C; n.os 2 a
9, dos fi nais da Idade do Ferro/época republicana.
346
Fig. 56 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas comuns dos fi nais da Idade do Ferro/época republicana.
347
Fig. 57 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas comuns dos fi nais da Idade do Ferro/época republicana.
348
Fig. 58 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas comuns dos fi nais da Idade do Ferro/época republicana.
349
Fig. 59 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas comuns dos fi nais da Idade do Ferro/época republicana.
350
Fig. 60 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas comuns dos fi nais da Idade do Ferro/época republicana.
351
Fig. 61 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas comuns dos fi nais da Idade do Ferro/época republicana.
352
Fig. 62 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas comuns dos fi nais da Idade do Ferro/época republicana.
353
Fig. 63 – Outeiro da Assenta. Cerâmicas comuns dos fi nais da Idade do Ferro/época republicana. O n.º 6 corresponde a fragmen-
to do colo de um jarro de cerâmica fi na cinzenta, nervurado e com decoração brunida.
354
Fig. 64 – Outeiro da Assenta. Materiais dos fi nais da Idade do Ferro/época republicana. Em cima: fragmento de grande recipien-
te com inscrição muito incompleta; ao centro: fragmento de taça de cerâmica campaniense da forma Lam. 5.7; em baixo: fundo de
ânfora vinária, provavelmente itálica.
355
Fig. 65 – Outeiro da Assenta. Cossoiros dos fi nais da Idade do Ferro/época republicana.
356
Fig. 66 – Outeiro da Assenta. Materiais diversos da Idade do Ferro/época romana: n.º 1, provável aro de xorca de sanguessugas,
de bronze; n.º 2, peça inclassifi cável, com espigão maciço, de ferro; 3 – pequeno lingote, de bronze; 4 – conta de vidro translúcido,
de coloração ambarina; 5 – artefacto incompleto, de bronze, inclassifi cável; 6 a 9 – fíbulas de bronze, de diversos tipos.
... Nonetheless, some behaviours must be highlighted. Firstly, the strongest parallels for the ceramic set found in Pragança are the sites that are located on the NW side of Montejunto, namely, from the closest to the most distant, Outeiro de São Mamede in Bombarral (Cardoso -Carreira 2003) and Outeiro da Assenta in Óbidos (Cardoso -Martins 2009). This suggests that there might have been a cohesive cultural homogeneity on this side of the mountain, which will be more accentuated with the decoration data. ...
... Six fragments were ascribed to this group, with a minimum number of five vessels, two of them coming from the caves. Even though it is one of the most represented groups, in absolute terms, its relevance is significantly lower than the Geometric Dotted group, a pattern that also occurs at some settlements in the vicinity of Pragança, such as Outeiro da Assenta, (Cardoso -Martins 2009 . 3, a). ...
... At Leceia there are possibly three fragments (Cardoso 2006), at Penha Verde one (Cardoso 2010(Cardoso -2011, at Penedo do Lexim a vase from a private collection (Sousa 2021) and a fragment from the most recent interventions (with simple morphology, depurated clay with an oxidant firing and smoothing on both surfaces), at Ota one exemplar (unpublished information). From the NW side, ten fragments from Outeiro de São Mamede (Gonçalves 1991;Cardoso -Carreira 2003) and the obvious Outeiro da Assenta where 22 fragments were found (Gonçalves 1991;Cardoso -Martins 2009), showing the greater incidence of this decorative type in this part of the mountain, mainly, but not exclusively, in simple morphology vessels. ...
Article
Full-text available
This study aims to address the role that Montejunto Mountain (Portuguese Estremadura) may have had during the second half of the 3rd millennium BC. To this end, the available set of decorated Bell Beakers was studied, with particular attention to their formal and decorative variability. The materials came from the Walled Enclosure of Pragança, on the NW side of Montejunto and Cave III from Furadouro Val-ley, located to SE, which allowed to depict patterns and trends that might reflect identitarian and cultural differentiations between the communities that surrounded this landscape marker. Furthermore, non-local influences were also detected in the beaker elements, highlighting that these groups would be an inte-grant part of wider networks. As such, even based on materials from older excavations, it was perceptible that Montejunto must have had a structural role in the cultural, social and possibly symbolic landscape of the 3rd millennium BC groups.
Article
Full-text available
Artificial cave of S. Paulo II (Almada). Excavations carried out under the auspices of the Almada City Council, between 1989 and 1991 in the churchyard of S. Paulo, within the urban area of the city of Almada, led to the identification of what remains of an artificial cave, excavated in carbonate sediments of the Miocene, of which the burial chamber and a small section of the corridor adjacent to it were completely explored. The excavations led to the collection of a copious archaeological collection, associated with around 250 burials, carried out there throughout almost the entire 3rd millennium BC, whose broad diachrony is confirmed by the radiocarbon dating carried out and by the typology of the archaeological materials, which remained to be studied. Unfortunately, the intense disturbances produced in the cave at different times, which reached its totality, since perhaps the Iron Age, and which saw notable additions in the modern and contemporary periods through the installation of a cemetery on the site, made the discussion of the results based on stratigraphy unfeasible. Based on the cross-referencing of information from the 22 radiocarbon dates carried out within the scope of this work on human left calcaneums, with the results of the study of the archaeological remains, preserved in the Museum of Almada, it was possible to conclude that the funerary use of the cave knew three distinct and well-characterized chrono-cultural phases. The first phase dates back to the end of the Late Neolithic, in the transition from the 4th to the 3rd millennium BC, being represented by only a unique deposition. The second phase of the cave’s funerary use covers the entire first half of the 3rd millennium BC, and includes an important set of vessels (cups and bowls), of excellent finish, displaying the typical fluted decoration, characteristic of the Early Chalcolithic of Estremadura. Finally, the third phase of prehistoric use of the cave, in clear continuity with the previous one, corresponds to almost the entire second half of the 3rd millennium BC, and is illustrated by the magnificent bell‑shaped ceramic productions recovered, which constitute one of the most remarkable sets published from Portuguese territory to date, both in terms of quantity and diversity and quality of productions. Keywords: S. Paulo; artificial cave; necropolis; Lisbon; Neolithic; Chalcolithic; Bell‑Beaker
Article
Full-text available
Neste trabalho são apresentados os materiais da Idade do Ferro recolhidos na Serra do Socorro (Mafra, Torres Vedras), no decurso de campanhas de prospeção e escavação realizadas por Gustavo Marques e, posteriormente, por Ana Catarina Sousa e Marta Miranda. O conjunto integra vários contentores anfóricos, cerâmica cinzenta, cerâmica comum, cossoiros, contas de colar de pasta vítrea, um fragmento de vidro policromo e ainda um pendente do tipo sanguessuga. O estudo dos materiais permite constatar que o sítio foi ocupado, de forma aparentemente contínua, entre os meados do século vii e o século iv/iii a. C. Estes dados são ulteriormente integrados numa leitura mais abrangente da ocupação humana do interior da Península de Lisboa durante o 1.º milénio a. C. e de que forma esta se relaciona com a área meridional e mais interior do Estuário do Tejo ao longo da diacronia. Palavras‑chave: Período orientalizante – 2.ª Idade do Ferro − Península de Lisboa − Estuário do Tejo − Cultura material
Chapter
Full-text available
During the 3rd millennium B.C., the communities that occupied the archaeological site of Vila Nova de São Pedro (Azambuja) witnessed a period of remarkable alterations and changes, punctuated by the intensification and diversification of socioeconomic systems. One of the aspects of this economic diversification is centered on the exploitation and consumption of “secondary products”, visible through the archaeological record, be it through faunal studies, as well as specific artefactual categories such as the so called “cheese strainers”. These vessels, whose functional characteristics indicate a use related to the processing of dairy products, are considered a “type-fossils” of the 3rd millennium B.C in the Portuguese Estremadura, being identified in numerous settlements. In Vila Nova de São Pedro a large quantity of cheese strainer fragments was collected, coming either from the excavations directed by Afonso do Paço, or from within the scope of the VNSP3000 project. This paper will present the main results of the morphological and technological analysis of this collection, allowing a systematic approach to this artefactual category.
Article
Full-text available
O consumo de laticínios e de derivados lácteos de origem animal constituem importantes marcos na (pré)história humana. Estes hábitos, entretanto, podem ser elusivos, sendo esta uma ação relativamente difícil de identificar no registo arqueológico. Durante o presente século a nossa compreensão da génese e desenvolvimento da exploração e consumo de laticínios vem sendo alterada. Percebemos hoje que o tradicional modelo da “revolução dos produtos secundários” de Andrew Sherratt não sucede exatamente como esperado. Através de metodologias biogeoquímicas de análise sabemos que em grande parte da Eurásia, incluindo a Península Ibérica, o consumo de laticínios acompanha o processo de neolitização. Com isto, mesmo que ainda baseados em análises esporádicas, ficamos a saber que esta seria uma atividade presente desde os primeiros contextos do Neolítico Antigo em Portugal, mesmo que em proporções relativamente baixas em comparação com outras áreas da Europa. Sendo assim, apresentamos algumas metodologias de identificação assim como evidências do consumo e processamento de laticínios em Portugal a partir dos escassos dados dos quais dispomos, nomeadamente através da zooarqueologia, análises químicas pontuais, e uma categoria artefactual específica – “queijeiras”.
Book
Full-text available
Volume completo - 413 páginas ÍNDICE GERAL: ISALTINO MORAIS - Apresentação; JOÃO LUÍS CARDOSO - A Estação do Neolítico Antigo do Carrasca! (Oeiras): resultados das escavações realizadas; VASCO LEITÃO, JOÃO LUÍS CARDOSO & FILIPE MARTINS - A Estação do Neolítico Antigo da Encosta de Sant'Ana (Lisboa). Resultados das campanhas de escavação de 2004 a 2006 ; ANTÓNIO M. MONGE SOARES, JOSÉ CARVALHO, CARLOS FERREIRA, CATARINA MENDES, LÚCIA MIGUEL, RUI G. MONGE SOARES, MIGUEL SERRA, MARCO VALENTE & PEDRO VALÉRIO - O sítio do Monte do Guedelha (Pias, Serpa): contributos para uma melhor caracterização do Bronze Final do sudoeste; RAQUEL VILAÇA & CARLO BOTTAINI - Depósitos metálicos em meio húmido, e suas margens, da Idade do Bronze em Portugal: uma perspectiva global ; JOÃO LUÍS CARDOSO, GUILHERME CARDOSO, LUÍSA BATALHA & FILIPE MARTINS - A presença romana, visigótica, islâmica e portuguesa no Centro Histórico de Oeiras: resultados da intervenção arqueológica realizada em 2017 e em 2018 ; JOÃO LUÍS CARDOSO - A Fábrica da Pólvora de Barcarena e as "Ferrarias del Rey": um projecto de Arqueologia Industrial em construção ; CENTRO DE ESTUDOS ARQUEOLÓGICOS DO CONCELHO DE OEIRAS. Relatório das actividades desenvolvidas em 2020
Article
Full-text available
The exhaustive study of the evolved Early Neolithic (ca. 5300-5000 cal BC) site of Carrascal (Oeiras) is presented, encompassing the various aspects of the archaeological record represented in it. Based on the results obtained, it is possible to conclude by a stable and peri-annual human presence, where the main economic activity would be centered on the exploitation of the Cretaceous flint benches, very abundant in the location of the station andin its surroundings. Keywords: Early Neolithic; peri-annual occupation; flint; Carrascal; Oeiras
Article
Full-text available
Revista Portuguesa de Arqueologia The archaeological site of Paço, located between the municipalities of Peniche and Lourinhã, corresponds to a height occupation, possibly to a walled enclosure. Its artefactual set is mainly composed of materials that can be chronologically fitted in the regional assemblages of the 3 rd millennium BC. Emphasis must be drawn on the presence of ceramics with "Acácia leaf" decorations, Bell Beaker motifs and Combed decorated vessels. This geospatial framework of the understudy archaeological site allows us to think about regional anthropic occupations, drawing clusters and/or phenomena of physical isolation between similar archaeological expressions. In addition to an analysis of spatial visibility, the optimal routes between similar and possibly contemporary archaeological sites were also tested, mirroring the need for surveying works, that would allow testing the paths, trends and social behaviours deductible from the analyses carried out. Abstract
Thesis
Full-text available
Ota has been recurrently integrated into maps, speeches and empirical data on the most diverse themes, much due to its wide diachronic occupation - Late Neolithic to the Islamic period - essentially based on the collection of the "Castro de Ota” in deposit at the Museum Hipólito Cabaço (Alenquer). The collection was fully published in 1956 by Ernani Barbosa in an exhibition article, running, still today, as the illustrative basis of the existing artifacts. The study presented in this dissertation combines the two realities available to date, the collection of the Museum and the result of the project COTA – Canhão Cársico de Ota - looking for its socio-cultural and chronological framework. The emptiness existing regarding the knowledge about the structures and spaces of the site, across the diachronic, has turned this approach extremely useful, once is seeking to understand and relate the anthropic landscape of Neolithic / Chalcolithic periods, with the "macro" region of Extremadura Portuguese and with the immediate region shaped by the river basin of the rivers of Alenquer, Grande da Pipa and Ota, who share the same geological base - Jurassic "Lusitaniano". Despite the fragility of the study, resulting from the absence of contexts, the demand for parallel with the most recognized sites in neighboring areas allowed the establishment of a relative chronological and generic characterization of the archeological materials. Its analysis followed many of the proposals already defined by other authors, although it has sought to develop some aspects in particular, generating interpretations and justifications prepared to deal with, in some cases, possible local adaptations. The “arqueossítio” of Ota have been, we believe, at the end of the fourth millennium and in the fallowing centuries of the 3rd, experienced more intensely by a number of communities whose occupation typology of space is still to be determined, especially because it can acquire differentiated rhythms, according to the chronology. Although, according to available data, the agricultural and forestry activities are minimally founded, in association with the high number of loom elements, the occupation of the site as a settlement, remains as the principal hypothesis. At the same time, communities reveal the maintenance of inter-regional contacts, read through some raw materials found, whether due to an intense degree of mobility or related with exchange networks. This influence is recorded in materials such as amphibolite, metals, shale and some ceramic types. It is true that this approach lacks a future study of sources, in order to extend the knowledge of the raw materials in question – even though it still seem, to us, a good starting points. Ota is thus, more than a return to a classic site, a return to Portuguese Estremadura, which lacks new insights, data, approaches and preconceptions.
Article
Full-text available
Apresentação do contexto de produção de sal pelo método de briquetage intervencionado no Monte da Quinta 2. Os dados existentes apontam para uma produção intensiva e especializada para exportação, apontando-se o interior alentejano como o mais provável destino.
Article
Full-text available
Resumo. O sítio do Casal da Torre foi descoberto em 1994, já parcialmente destruído por extracções de terras. Localiza-se numa depressão discreta, nas proximidades da Serra d'Aire. As sondagens realizadas no mesmo ano na parte remanescente do sítio revelaram um único nível de ocupação datável da Idade do Bronze Pleno. Recolheu-se um importante conjunto cerâmico de formas variantes da esfera (mas incluindo também vasos com colos e bases planas) e quase desprovidas de decoração, associado a uma indústria macrolítica em quartzito e lâminas retocadas em sílex. Não se conservou material faunístico. Abstract. The site of Casal da Torre had been recently destroyed by the removal of earth at the time of its discovery, in 1994. It is located in a narrow valley close to Aire Mountain. The excavation allowed the recognition of a single early / middle Bronze Age occupation level. An important ceramic assemblage was recovered. Spheric types are the most common, but some complex shapes are also found (necked pots, flat bottoms). Decoration is extremely rare. These vessels are associated to flaked pebbles of quartzite, and a blade debitage on flint. Faunal material was not found.
Article
Full-text available
O presente trabalho é subsídio para o conhecimento do povoado pré-histórico de Leceia, situado nos arredores de Lisboa. Baseado no estudo dos materiais recolhidos durante muitos anos - de pedra, osso, metal e cerâmica, pelo falecido Escultor Álvaro de Brée.
Conference Paper
Full-text available
The chalcolithic fortified settlement of Moita da Ladra is located on a high volcanic chimney overlooking the Tagus estuary. A request for the exploitation of basaltic resources on the site has lead to the total excavation of it, performed by a large team under the supervision of the authors of this study, between September 2003 and March 2005. It is still going on (May 2006) the excavation on a closed structure located outside the fortified area and found when the archeological excavation was undertaken. Its publication will be made elsewhere. The structures identified are defensive and domestic. The former integrate a Wall having an ellipsoidal shape, in part lost, and whose length was estimated in about 80m, having a width of 44m, encompassing two massive towers and an entrance, facing the estuary of Tagus, extending to the southern area. It is interesting to note that the area of the precinct with the highest visibility and also the more monumental, corresponds to the local where the two towers and the entrance have been built and incorporates massif coating blocks corresponding to the internal and external faces of the structures, made of white compact limestone, extracted from the cretaceous layers surrounding the basaltic massif on the base of the hill. Such operation included the cutting and transport of several tones of rocks when, on the site itself, they could obtained them in abundance, made of compact basalt. The huge constructive effort involved in such operation can be explained especially by the concern to give more visibility to the fortification located on the top of the hill, which contrasts with the black color of the basaltic rocks of the volcanic chimney. This evidence leads to the conjecture that, not only there was a defensive function for the fortified precinct but also, and even more important, there would be the need to strongly outstand the site as a true landscape mark, as a visual unmistakable reference especially for those that would travel in the region coming from the estuary of Tagus or circulating in it. In fact, the location of this chalcolithic settlement can be related to the control of the access to the vast inner lowland basin of Loures, whose drainage network is articulated with the upper hydrographic basin of the river Sizandro, in the lower part of which is located the fortified chalcolithic settlement of Zambujal, near the atlantic coast. This natural circulation way thus defined could articulate the Atlantic litoral and the inside part of Tagus estuary, setting a route for the supply of this and other settlements, located in the hinterland of Lisbon peninsula, for products originated in Alentejo, through the Tagus river (copper, amphibolites). In this case, one must remember the location, among others, of the fortified settlement of Penedo de Lexim (Mafra) which is located also in a majestic volcanic chimney dominating the entire landscape and occupying the middle part of the referred natural pathway. The habitat structures identified inside the precinct are represented by holes open in the altered basaltic rock and can correspond, in the case of those having the smallest dimensions, to the post holes for the huts that should have existed there, or to container structures reutilised as dump holes, as suggested by the filling of two by ashes and another one by clam shells, in some cases still connected. A low size structure having a circular plant can correspond to a fireplace related to the copper metallurgy. The archeological remains lies in a single deposit of sediments accumulated along the inner wall of the precinct, from the highest part of the elevation, where the basaltic rocks are now at the surface. From a typological point of view, it is a coherent group of materials, characterized by the association of decorated ceramics of the group “acacia leaves/crucifera” to bell beaker productions, integrating maritime bowls (AOO, herringbone variety) and other vessels decorated with geometric patterns. The copper metallurgy is represented, accompanied by weaving weights and by cheese-press artifacts, related to the transformation of milk. Several axes and na adzes made of amphibolite, documented a community economically facing the outsider and with the possibility to use basic supplies not existing in the region, obtained by change. The only phase of occupation that have been identified agrees on the other hand with the fact that the edification of the fortified walls must have been made only once, which indicates a short occupation of the site, not more than a few decades. When the uncover of the chalcolithic structures was made, several neolithic artefacts were collected, where characteristic decorated ceramics are abundant, both impressed and incised, as also flint and polished stone utensils indicating an importante occupation of an advanced phase of the Early Neolithic, circumscribed to the southeastern part of the hill, which has parallel on other hill-tops of the Lisbon peninsula, that can be attributed to residential sites, occupied along all the year.
Article
Full-text available
There has been some debate over the functionality of some solid clay elements which were usual in settlements of the Final Neolithic and, especially, the Chalcolithic in the Estremadura and in the South of Portugal. These cylinder or cone shaped pieces, usually of rough and half-baked clay and frequently showing signs of fire on the surface, present a variety of types. For some people their household utility function is obvious, as "fireplace supports"; others believe they are above all ritual and symbolic. The author summarises the history of this problem and comments on recent findings.
Article
Full-text available
A existência de plataforma na encosta poente do morro do Castelo dos Mouros potenciava a ocorrência, em quantidade acrescida, de materiais arqueológicos os quais, como vimos, apresentam larga distribuição por toda a elevação. Deste modo, a equipa constituída em 1976 para prospecção da região optou por proceder à limpeza do terreno, coberto por espesso manto vegetal, permitindo a ulterior implantação de uma quadrícula, em área circunscrita, de 2 x 2 m. Foi este espaço, assim delimitado, que se aprofundou alguns centímetros, até se ter atingindo camada sub-superficial muito rica em cerâmicas pré-históricas, integralmente recolhidas. O espaço limitado desta sondagem e a pequena profundidade atingida, não possibilitaram a identificação de quaisquer estruturas ou estratigrafias.
Article
Full-text available
Desde o início das escavações dirigidas pelo signatário no povoado pré-histórico de Leceia, em Agosto de 1983, que têm vindo a ser recolhidas, de maneira persistente, fragmentos de cerâmicas campaniformes. Com a identificação e escavação integral de duas estruturas habitacionais campaniformes, respectivamente em 1990/1994 e em 1995/1996, o volume de materiais para estudo foi muito aumentado, da mesma forma que o interesse da informação disponível, particularmente valorizada pelo facto de tais construções constituírem ocorrências únicas, até ao presente, no território português. Importava, pois, estudar de forma articulada e comparada o espólio campaniforme recolhido nos diversos "loci" que integram o povoado pré-histórico. Foi dada prioridade ao estudo do material cerâmico decorado, por constituir a componente mais expressiva daquele espólio; desta forma, o estudo do espólio lítico, ósseo e a cerâmica lisa, dita de acompanhamento, será apresentado noutra oportunidade.
Article
Full-text available
No decurso das escavações realizadas no povoado pré-histórico de Leceia, desde 1983 até ao presente, têm sido recuperados diversos artefactos cuja funcionalidade ainda não se encontra devidamente discutida, facto em parte resultante da sua raridade. Estão neste caso os que serão tratados no presente estudo o qual se encontra, deste modo, justificado pelas considerações e conclusões obtidas e apresentadas.
Article
Full-text available
No decurso da revisão de espólios arqueológicos da região de Lisboa, identificaram-se em duas estações pré-históricas do concelho de Loures - o povoado das Salemas e a gruta do Correio-Mor - materiais cuja tipologia os remete para o Neolítico antigo evolucionado. Trata-se, exceptuando duas peças líticas, de materiais cerâmicos, essencialmente com decorações incisas; o quase desconhecimento, até ao presente, na região, de materiais deste tipo, esteve na origem do presente estudo.
Article
Full-text available
Em 1975, ao estudarmos a colecção reunida por Álvaro de Brée na sua quinta de Barcarena, resultante de recolhas, feitas ao longo de muitos anos, no povoado pré-histórico de Leceia, deparámos com uma peça de terracota que, inquestionavelmente, correspondia à representação de um "phalus". Foi descrita mas não figurada, no trabalho que dedicámos ao estudo daquele notável conjunto (CARDOSO, 1980, 1981). Anteriormente, tínhamos recolhido, em prospecções de superfície que, desde o início da década de 1970, vínhamos procedendo na estação, um outro exemplar de terracota, que se manteve inédito. Entretanto, a recolha em estratigrafia, de duas outras peças, estas com atributos sexuais femininos, no decurso das escavações que ali vimos dirigindo desde 1983, estiveram na origem próxima deste estudo, onde decidimos integrar os exemplares acima aludidos; não obstante a falta de informações estratigráficas, a raridade de tais peças e as considerações que possibilitaram, justificara tal decisão.