A psicanálise de inspiração lacaniana ganhou um espaço considerável na universidade
brasileira: uma busca por “Lacan” no campo de assunto do Banco de Teses da CAPES nos revela
1.032 resultados! No entanto, a diferença no estilo de produção do conhecimento e utilização da
linguagem é considerável entre a psicologia acadêmica e a teoria de Lacan. A dificuldade de se ler
e compreender Lacan é algo apontado tanto por aqueles que o defendem como por aqueles que o
atacam. Além disso, seus discípulos muitas vezes escolhem imitar seu estilo barroco, complexo e
cheio de neologismos, causando perplexidade e estranhamento em platéias desavisadas. Qual a
origem de tal estilo enigmático e polêmico de expressão? Como veio a se difundir sob a marca da
repetição? E quais as conseqüências desse estilo para a comunicação, transmissão e ensino da
psicanálise lacaniana? Através destas perguntas objetivamos contribuir para o diálogo entre a
academia e a psicanálise lacaniana, fornecer um maior conhecimento a respeito das causas de
seu estilo e analisar as conseqüências deste na transmissão da psicanálise. Escolhemos realizar
um estudo teórico, levando em conta tanto os autores que abordaram o tema do estilo de Lacan ou
a história da psicanálise de uma perspectiva crítica, como Beividas (2000), Roustang (1987, 1988)
e Gellner (1988), como aqueles que o justificam e defendem sua legitimidade, a exemplo de
Glynos e Stavrakakis (2001), Fink (1997) e Souza (1985), utilizando também algumas obras de
Freud e Lacan. O estudo desses textos nos levou a três temas principais: 1) a dificuldade do texto
lacaniano; 2) Lacan, herdeiro de Freud; 3) conseqüências do estilo lacaniano. No primeiro
enumeramos um conjunto de diferentes explicações e interpretações dadas pelos comentadores a
respeito da dificuldade e particularidade do discurso lacaniano; no segundo mostramos como
Lacan veio a ocupar o lugar de grande idealização antes destinado a Freud, fazendo com que seu
estilo fosse tomado como modelo a ser imitado pelos discípulos; no terceiro abordamos o modo
como os conceitos são tratados dentro da psicanálise lacaniana, argumentando que seus múltiplos
significados evidenciam que o objetivo não é montar uma teoria clara e coerente, mas sim se dirigir
diretamente ao sujeito, para fisgá-lo.
Lacanian psychoanalysis has won a considerable space in brazilian university: a search for
“Lacan” in the field of subject of the CAPES Thesis Bank shows 1.032 results! However the
difference in the style of knowledge production and language usage is considerable between
academic psychology and lacanian theory. The difficulty in reading and understanding Lacan is
something pointed out by supporters and critics alike. In addition to that, his disciples choose many
times to imitate his baroque, complex style, full of neologisms, causing perplexity in many
unprepared audiences. What is the origin of such an enigmatic and polemic style of expression?
How it became so widespread under the sign of repetition? And which are the consequences of this
style to the communication, transmission and teaching of lacanian psychoanalysis? Through these
questions it is our goal to contribute to the dialogue between lacanian psychoanalysis and the
academy, to provide a better understanding of the causes of this style, analyzing the consequences
it has to the transmission of psychoanalysis. We chose to perform a theoretical study, using
authors that have treated Lacan’s style and the history of psychoanalysis from a critical point of
view, like Beividas (2000), Roustang (1987, 1988) and Gellner (1988), and also those that have
defended and justified its legitimacy, like Glynos e Stavrakakis (2001), Fink (1997) and Souza
(1985), using as well some works by Freud and Lacan. The study of these texts has led us to three
main themes: 1) the difficulty of the lacanian text; 2) Lacan, heir of Freud; 3) consequences of the
lacanian style. In the first one, we enumerate many different explanations and interpretations given
by commentators about the difficulty and particularity of the lacanian discourse; in the second, we
show how Lacan came to occupy the place of great idealization that was before destined to Freud,
what made his style something to be taken as a model, to be imitated by disciples; in the third, we
explore the way in which the concepts are treated in lacanian psychoanalysis, arguing that their
multiple meanings point out that the final goal is not to build a clear and coherent theory, but to try
to aim directly at the subject, to catch him.