ArticlePDF Available

Abstract

The present article aims at undertaking an analysis of the argumentative component of a passage from John Milton’s Paradise Lost, which is intended to shed light on some compositional aspects of the epic’s protagonist, Lucifer/Satan. The passage selected for analysis is the one in which Satan convinces Eve to eat of the fruit of the Tree of Knowledge of Good and Evil. Its analysis was undertaken using an adapted version of the theoretical framework proposed by Douglas Walton (2008)
http://www.uem.br/acta
ISSN printed: 1983-4675
ISSN on-line: 1983-4683
Acta Scientiarum
Doi: 10.4025/actascilangcult.v35i3.15467
Acta Scientiarum. Language and Culture Maringá, v. 35, n. 3, p. 233-244, July-Sept., 2013
Lógica luciferina: argumentação em Paradise Lost, de John Milton
Fabiano Seixas Fernandes
Universidade Federal do Ceará, Av. da Universidade, 2853, 60020-181, Benfica, Fortaleza, Ceará, Brazil. E-mail: fbnfnds@gmail.com
RESUMO. O presente artigo realiza um estudo dos componentes argumentativos de uma passagem do
épico Paradise Lost, do poeta inglês John Milton. Objetiva, através disso, compreender alguns aspectos da
composição do protagonista do épico, Lúcifer/Satã. Foi analisado o diálogo entre Satã e Eva, no qual aquele
a convence a comer o fruto da árvore do bem e do mal. Para a análise da situação argumentativa, foi
empregada uma versão adaptada do instrumental oferecido por Douglas Walton (2008).
Palavras-chave: John Milton, Paraíso perdido, argumentação.
Lucifer’s logic: argumentation in John Milton’s Paradise Lost
ABSTRACT. The present article aims at undertaking an analysis of the argumentative component of a
passage from John Milton’s Paradise Lost, which is intended to shed light on some compositional aspects of
the epic’s protagonist, Lucifer/Satan. The passage selected for analysis is the one in which Satan convinces
Eve to eat of the fruit of the Tree of Knowledge of Good and Evil. Its analysis was undertaken using an
adapted version of the theoretical framework proposed by Douglas Walton (2008).
Keywords: John Milton, Paradise Lost, argumentation.
Introdução
O presente artigo apresenta um estudo
argumentativo de uma passagem crucial do épico
Paradise Lost, do poeta inglês John Milton. Para tal,
conta com o arcabouço teórico da Lógica
Pragmática.
O primeiro questionamento que essa proposta
poderia suscitar é o de sua relevância. Por que
empreender um estudo argumentativo de um
poema épico? Quais benefícios resultariam de tal
estudo? A resposta mais simples (e, espero, também
a mais eficaz) é a de que minha curiosidade acerca
das práticas argumentativas das personagens do
poema é oriunda de sua própria estrutura.
Como aponta Milton
1
, as guerras e os feitos
heroicos de cavaleiros foram sempre a matéria épica
por excelência (IX. 28-40, p. 379
2
); Milton se declara
avesso e inepto a semelhantes temas (IX. 40-41, p.
379), preferindo talvez “[...] the better fortitude / Of
Patience and Heroic Martyrdom / Unsung” (“[...] a
superior fortaleza da paciência ou do martírio
heroico, ainda por ninguém cantados”, IX. 31-33,

1
Milton alude à própria cegueira e à insônia (III. 22-55, p. 258-259; IX. 20-24,
p. 378-379; a respeito da insônia, ver a edição de Milton e Teskey [2005, p. 57,
nota 38.]), havendo, portanto, forte identificação entre o autor e o ‘eu’ que narra e
se manifesta e o poeta. Podemos, portanto, conceber ‘Milton’ como uma
personagem autobiográfica criada por John Milton para narrar o poema.
2
Em todas as referências a Paradise Lost, ofereço inicialmente o livro (em
numerais romanos) e os versos (em arábicos); a seguir, o número de página na
edição de Hughes (1957).
p. 379) — que informará seus outros dois poemas
bíblicos de maior porte, Samson Agonistes e Paradise
regain’d. De fato, Paradise Lost é pouco bélico; há
apenas duas passagens de batalha, sendo uma delas
frustrada. A primeira é o momento em que Satã e
Morte se preparam para um embate frente a frente
que não ocorre, já que Pecado lhes informa dos laços
de sangue que os impedem de duelar (II. 666-734,
p. 248-249). A segunda é a narração pelo anjo Rafael
da batalha travada nos Céus entre as forças de
Lúcifer e os anjos fiéis a Deus (VI. 59-866, p. 327-
344); ainda aqui, a maravilha e a ironia derrotam a
crua descrição de embates, à moda da Ilíada. A
invenção do canhão por parte de Lúcifer (VI. 470-
491, p. 334-335), o levantamento das montanhas por
parte dos anjos (VI. 633-669, p. 338-339) e a
luminosa glória do Filho (VI. 746-772, p. 341-342)
têm maior espaço, e exercem maior fascínio.
Às batalhas, Milton parece preferir o diálogo:
parte substancial dos 12 cantos de sua sacra epopeia é
despendida em conversas; destas, inúmeras tomam a
forma de argumentações
3
. O próprio prazer do ato
de conversar — ou, mais especificamente, deliberar

3
Cito alguns exemplos: no Inferno, os anjos rebeldes se reúnem em concílio e
deliberam acerca do melhor modo de enfrentar o Altíssimo, se pela guerra ou
pelo uso da ardis (II. 01-416, p. 232-236); Deus justifica que o homem não cai
por Sua escolha, mas por vontade e demérito próprios (III. 80-134, p. 260-261);
Satã, ao ver a beleza do novo mundo, delibera se não seria melhor se reconciliar
com Deus (IV. 32-113, p. 278-280); quando Deus declara a supremacia do Filho,
Lúcifer reúne os anjos sob sua liderança e os convence a se rebelar, no que é
interpelado pelo anjo Abdiel (V. 772-907, p. 320-323).
234 Fernandes
Acta Scientiarum. Language and Culture Maringá, v. 35, n. 3, p. 233-244, July-Sept., 2013
por meio do diálogo aberto — é enfatizado tanto
pelos anjos rebeldes (Belial defende que o Inferno,
que permite aos anjos se reunirem em conselho, não
é, por essa mesma razão, tão infernal) quanto por
Adão (que busca subterfúgios para estender sua
conversa com o anjo Rafael) e Eva (que prefere
ouvir em conluio íntimo do esposo o que dissera o
anjo, para que o diálogo aumente o prazer da
intimidade) (respectivamente: II. 164-165, p. 236;
VIII. 206-216, p. 367-368; VIII. 40-57, p. 363-364).
Além da abundância de passagens dialogadas e do
marcado prazer na conversa, o épico ainda conta
com uma ênfase na razão. A palavra reason aparece 38
vezes ao longo do poema, aparecendo ainda outras
vezes em formas derivadas (reasons, reasoned,
reasoning[s] e reasonless)
4
; seus usos marcam o desejo
das personagens em fazer o que é racional, e em
justificar racionalmente os próprios atos. Para
Milton, é de suma importância que suas personagens
tenham ciência de que agem como agem porque seu
poder de raciocínio e sua liberdade para a ação as
inclinam a tal, tornando-se imprescindível lhes dar
ampla voz e espaço para chegarem a suas
prescindíveis e fatais conclusões. Isso reforça a
importância de que haja, ao longo do poema,
diálogos (ou solilóquios) que forneçam arrazoados
das posturas e condutas das personagens.
Toda essa ênfase no debate e na racionalidade
não deveria, contudo, convencer-nos imediatamente
de que as personagens estão sendo racionais: o
próprio Milton alertará seus leitores da falsidade de
“[...] words clothed in reason’s garb” (“[...] palavras
vestidas com os atavios da razão”, II. 226, p. 237).
Como leitores, devemos suspeitar não só da
racionalidade pura das personagens, mas da própria
capacidade do poeta (que, afinal, tem seu parti pris)
em reconhecê-la. Assim, parece-me que empreender
um estudo que avalie o grau de anuência a práticas
puramente racionais em situações argumentativas
dentro do poema seria uma valiosa forma de avaliar
sua construção, suas ênfases filosóficas (como a do
livre-arbítrio) e mesmo a constituição psicológica de
seu arguidor: Satã.
O artigo está organizado como segue:
inicialmente, explicito brevemente o que entendo
por ‘argumento’ e ‘argumentar’, bem como quais são
e como se estruturam as situações argumentativas.
Neste ponto, baseio-me em Walton (2008), embora
discorde dele em alguns pontos e opte por
reorganizar e complementar sua descrição do
reasoned dialogue (também assinalo que os termos
abaixo empregados são muitas vezes equivalentes aos

4
Segundo a Concordance de John Bradshaw (1894) para a obra poética de
Milton.
de Walton, embora não suas traduções diretas). Esse
arcabouço será usado para comentar uma cena
crucial de Paradise Lost, cujo cerne é uma situação
argumentativa.
Estrutura das situações argumentativas
Argumento e argumentação
Entendo o conceito de ‘argumento’ como o
entende a lógica: um conjunto de asserções inter-
relacionadas de tal modo que uma delas
(a conclusão) é tornada necessariamente verdadeira
caso também o sejam as antecedentes (as premissas).
‘Argumentar’, portanto, é provar a verdade de uma
asserção pela montagem de ao menos um
argumento. As asserções que compõem um
argumento podem ser ‘verdadeiras’ ou ‘falsas’; o
argumento a que compõem pode ser ‘válido’ (ou
seja, estruturalmente bem-formado, de modo a
haver transferência do valor de verdade das
premissas à conclusão) ou ‘inválido’
5
.
Cabe notar que o termo ‘verdade’ pode soar um
pouco forte, e inúmeras vezes inadequado: nem
sempre temos como verificar de modo satisfatório o
valor de verdade de nossas asserções (pense-se, por
exemplo, em quando falamos do futuro, ou quando
raciocinamos hipoteticamente). Melhor seria
modalizá-lo e dizer que um argumento válido pode
ser ‘verdadeiro’, ‘provável’ ou ‘possível’. Quanto
maior o grau de certeza que carrega o argumento —
ou seja: quanto mais fortemente se aproximar de um
raciocínio necessário, não contingente — , tanto
mais força argumentativa terá.
O ato de argumentar implica a existência de ao
menos uma ‘tese’: uma asserção cujo valor de
verdade é controverso, e que, portanto, precisa ser
estabelecido por meio de investigação
6
. Essa
controvérsia pode ser uma dúvida pessoal ou
coletiva: mesmo quando é pessoal, estabelecem-se
dentro do investigador ao menos dois lados, e,
portanto, suas ideias vão entrar em contraste. Assim,
toda argumentação é dialógica, pressupondo um
estado inicial de dúvida ou desacordo; também, toda
argumentação se voltará (idealmente) ao

5
O exposto até aqui é standard, e qualquer manual de lógica provavelmente trará
exposição que cubra todos esses pontos; posso, contudo, referendar o leitor
mais especificamente a Margutti Pinto (2001).
6
Talvez os termos ‘tese’ e ‘conclusão’ possam causar confusão, já que se trata,
em um ou outro caso, de asserções que desejamos estabelecer como
verdadeiras, prováveis ou possíveis. Emprego ‘conclusão’ para falar
especificamente da asserção final de um argumento — aquela cujo valor de
verdade deve ser garantido por uma estrutura que a une às premissas, a fim de
garantir a transferência do valor de verdade destas. Embora as teses sejam, sem
dúvida, conclusões de argumentos, são mormente defendidas por uma cadeia
argumentativa. A ‘verdade’ da tese defendida por Satã (abaixo explicitada) não é
fruto de um único argumento, mas de um conjunto progressivo e inter-
relacionado de argumentos que vai estabelecendo asserções progressivamente,
até que essa conclusão em particular possa ser provada e encerrar o debate.
Assim, uma tese é, digamos, uma conclusão-alvo, fruto de uma cadeia
argumentativa, e não de um argumento isolado.
Lógica luciferina 235
Acta Scientiarum. Language and Culture Maringá, v. 35, n. 3, p. 233-244, July-Sept., 2013
‘convencimento’: um arguidor que defende a tese A
deseja que seu interlocutor também creia que A é
verdadeira; seus esforços serão no sentido de montar
uma cadeia argumentativa que demonstre ser A
necessária ou altamente provável. Para tal, terá de
interferir nas crenças do seu interlocutor
(WALTON, 2008, p. 13). Walton chama esse
sistema de crenças de commitment-set (baseando-se
em HAMBLIN, 1970); poderíamos, em situações de
debate estritamente abstrato, também chamá-lo
‘arcabouço teórico’.
Inicialmente, cada interlocutor visa a fazer o
outro abandonar a própria tese em favor (de uma)
da(s) contrária(s); pode também, como objetivo
secundário ou intermediário, visar a alterar o
arcabouço teórico do outro. Cada interlocutor terá,
assim, de recorrer a modos válidos de interferência,
que atuem eficazmente sobre as crenças do outro. O
único modo de fazer isso é empregar, na montagem
de nossos argumentos, premissas que façam parte do
arcabouço teórico de nosso interlocutor
(WALTON, 2008, p. 5): é necessário demonstrar-
lhe que, se crê em A, então deverá necessariamente
crer também em B. Ser ‘racional’, portanto, em uma
situação argumentativa, é tentar angariar
convencimento através de estratégias eficazes.
Idealmente, argumentar é uma atividade
estritamente teórica, que visa ao acordo de crenças.
Componentes das situações argumentativas
Vimos, até aqui, que, em um debate, há (1)
‘interlocutores’ sustentando argumentativamente (2)
‘teses’ em relação às quais têm um (3) ‘objetivo’,
alcançado através de certos (4) ‘meios’. Cada um
desses itens pode se manifestar de mais de um
modo. Vejamos.
Quanto ao número de interlocutores, podemos
ter as seguintes situações:
Solilóquio. Um único investigador pode oscilar
entre duas ou mais teses, contrastando-as e as
avaliando mentalmente. Pode, também, simular
diálogo com um ouvinte/leitor ideal, prevendo seus
contra-argumentos para defender a própria tese.
Diálogo. Quando há dois ou mais interlocutores
anuindo a teses mutuamente excludentes, ou
atribuindo valores de verdade distintos para a mesma
tese.
Em segundo lugar, as teses defendidas podem ser
de três tipos:
Teóricas. Mais racionais; visam ao
estabelecimento da verdade sem vistas à ação. A
situação de debate na qual as teses são teóricas deve ser
considerada parâmetro de racionalidade, embora de
modo algum a única, e talvez sequer a mais comum.
Práticas arrazoadas (ou teórico-práticas).
Intermediárias; visam ao convencimento, porém
com vistas à ação. Não podem ser consideradas
estritamente teóricas, pois há certos tipos de
argumentos e certas práticas argumentativas que
seriam absolutamente incabíveis no caso de uma
discussão estritamente teórica, que podem ser
bastante pertinentes no caso de uma discussão acerca
de como agir.
Volitivas. Menos racionais, chegando à
irracionalidade; visam ao alcance de objetivos
pessoais, sendo a (aparência de) verdade meramente
instrumental. A tese em si pode ser um mero
instrumento para a satisfação dos desejos de seu
proponente, que não lhe deve sequer anuência.
É importante notar que a diferença entre os tipos de
tese não está na estrutura interna dos argumentos que
as têm como conclusões, tampouco na estrutura da
cadeia argumentativa, mas na ‘atitude’ do arguidor. No
caso de teses teóricas e práticas arrazoadas, os
participantes abrem mão de seus desejos e interesses
pessoais em prol das teses melhor estabelecidas, ou do
plano de ação considerado mais racional. No caso de
teses volitivas, estão inteiramente a serviço da vontade
de quem as defende. Isso pode interferir no modo
como serão defendidas.
Também podem ser dois os tipos de objetivos:
Acordo. Os participantes chegam a um
consenso, saindo ambos satisfeitos, ao menos em
certa medida. Note-se que, dada a natureza de certas
práticas investigativas, o acordo pode ser interno a
um investigador solitário.
Vitória. Cada participante deseja prevalecer
sobre o oponente. Aqui, há necessidade de mais de
um participante, mas não exatamente de uma tese. O
uso da razão pode ser meramente instrumental, não
estando vetado, mas não sendo preferencial sobre
outros métodos. Enquanto o acordo aceita fazer
concessões (nada impede que ambos os
interlocutores saiam satisfeitos), no caso da vitória,
um dos interlocutores deve sair em desvantagem
(derrota em competição, perda de algo que lhe seja
caro, humilhação etc.).
Finalmente, esses objetivos podem ser
alcançados através dos seguintes meios:
Convencimento. Os participantes buscam
interferir no sistema de crenças uns dos outros,
gerando crenças novas ou alterando os valores de
verdade de crenças antigas. Ao final, devem
concordar quanto ao valor de verdade da(s) tese(s)
original(ais); estão dispostos, portanto, a expor
francamente seus sistemas de crenças, oferecendo-os
ao escrutínio dos demais debatedores e aceitando
modificá-los caso sejam considerados inconsistentes
ou errôneos. Esse convencimento pode satisfazer
236 Fernandes
Acta Scientiarum. Language and Culture Maringá, v. 35, n. 3, p. 233-244, July-Sept., 2013
curiosidade puramente teórica, ou ser a base de
ações futuras arrazoadas. Só é possível acordo por
convencimento; não é, contudo, refratário à vitória.
Anuência forçada. Simulação de convencimento
por um dos participantes, que se autossilencia e finge
concordar com o oponente. É específico da vitória, mas
neste caso o participante derrotado ou desistente
admite apenas para si a derrota ou a impossibilidade de
prosseguir a discussão.
Silenciamento. Interrupção do diálogo, na qual
um dos interlocutores consegue coagir o outro a
parar de se manifestar. É específico da vitória,
exercendo violência sobre o interlocutor derrotado.
Coação. Um dos participantes obriga outro a
executar ações contrárias a seus desejos ou crenças.
É específico da vitória, exercendo violência sobre o
interlocutor derrotado. Ocorre em debates versando
sobre como agir em dada situação.
Tipologia das situações argumentativas
Como foi dito acima, nem todas as situações
argumentativas são teóricas e, portanto, nem todas
colocam a verdade e seus meios legítimos de busca
em primeiro plano. Passo a descrever as possíveis
situações argumentativas; a relação está ordenada
progressivamente, das mais marcadamente racionais
até as mais marcadamente irracionais. As duas
primeiras podem ser consideradas modelares
7
.
Diálogo filosófico. Visa ao acordo por
convencimento entre os debatedores, através do
contraste entre teses teóricas, contrárias e
mutuamente excludentes. Não tem consequências
práticas. As teses podem assumir duas formas:
(1) (A w A);
(2) ((A B) w (B A))
8
.
No primeiro caso, debate-se o valor de verdade
de uma única tese; no segundo, há (ao menos) duas
teses, de modo que a verdade de (cada) uma implica
a falsidade da(s) outra(s). Apesar do termo ‘diálogo’,
pode também ser levado a termo por um único
participante, que oscila entre opiniões contrárias ou
tenta antever argumentos contrários à sua posição. O
objetivo é, como vimos, atuar sobre o arcabouço
teórico do interlocutor. Neste processo, também as
teses originais podem ser reformuladas.

7
A tipologia das situações é derivada de Walton (2008, p. 3-8). As explicações,
contudo, foram adaptadas para dar conta das categorias propostas na seção 1.2.
Walton considera apenas o que chama de reasoned dialogue (e que optei por
chamar de ‘diálogo filosófico’) como modelar. Creio ser a investigação mais
racional, justamente pela ausência absoluta de compromisso prévio com
qualquer tese; é guiada pela curiosidade, não pela convicção. Não obstante,
dado o caráter necessariamente dialógico de toda inquietação racional, a ênfase
na contrariedade de teses presente no diálogo filosófico torna-o modelo
igualmente indispensável de situação argumentativa.
8
Leia-se: 1) Ou é o caso que A, ou não é o caso que A; 2) ou é o caso que A e,
portanto, não é o caso que B, ou é o caso que B e, portanto, não é o caso que A.
O acordo final pode assumir quatro formas: 1)
Idealmente, descobre-se a ‘verdade’ acerca do ponto
controverso; 2) Já que não é possível termos certeza
acerca de havermos alcançado ou não a verdade no
tangente a assuntos teóricos, haveria ‘concórdia
plena’: ambos passariam a sustentar a mesma tese e o
mesmo arcabouço teórico, sendo este mais
firmemente constituído e mais resistente a ataques
que os sistemas anteriores a que anuíam; 3)
Também pode-se aceitar como situação final que os
arcabouços teóricos e/ou as teses se modifiquem
para se tornarem não iguais, mas mais próximos; 4)
Finalmente, pode-se chegar a um ‘impasse’: a
impossibilidade de se alcançar uma tese conclusiva
acerca do assunto debatido. Mesmo, porém, quando
há impasse, pela interferência mesma nos
arcabouços teóricos, há um fortalecimento destes,
que devem se tornar mais resistentes a ataques,
embora não se tornem imbatíveis.
Investigação. Envolve exame de evidências para
se chegar a uma conclusão racional. Seu objetivo é
esclarecer algum ponto controverso pela coleta e
contraste de dados. As teses não precisam ser
estritamente teóricas, tampouco estarem
estabelecidas de antemão. Pode ser levada a termo
por um único participante; quando é desenvolvida
coletivamente, os participantes não se opõem a si,
mas cooperam para chegar à mais racional conclusão
possível, pautada nos mais sólidos e incontroversos
dados que conseguirem coletar.
Deliberação. Objetiva o acordo entre os
interlocutores, que desejam ou necessitam decidir
como agir em dada situação. As teses defendidas, em
princípio, são práticas arrazoadas, mas certas teses
volitivas podem ser relevantes. Pode ser levada a
termo por um único participante, que oscile entre
conclusões distintas e as contraste. Se as teses
volitivas assumirem força em demasia, pode
degenerar (aberta ou secretamente) em negociação.
Negociação. Objetiva o acordo entre negociantes
que desejam o avanço de seus interesses e objetivos.
Como se trata de garantir a satisfação de desejos, e não
de estabelecer a verdade, estratégias não racionais
podem ser relevantes. Não é refratária à vitória de
apenas um dos negociantes. Embora o convencimento
possa ser o meio preferível de se alcançar o objetivo, a
possibilidade de satisfação unilateral pode convidar os
demais meios a tomarem parte.
Debate. Visa à vitória sobre ao menos um
oponente. Cada participante defende uma tese, mas
seu objetivo não é exatamente o convencimento
teórico dos oponentes; basta silenciá-los, de modo a
fazer com que a própria tese pareça a mais
solidamente estabelecida. Normalmente, há árbitros
que deliberam acerca da pertinência das colocações
Lógica luciferina 237
Acta Scientiarum. Language and Culture Maringá, v. 35, n. 3, p. 233-244, July-Sept., 2013
dos oponentes e de sua conformidade a um
conjunto preestabelecido de regras. Desse modo, a
vitória só é legítima se dada dentro de limites
acordados de antemão. Não é, porém,
absolutamente necessário que a vitória se dê pelo
uso de estratégias puramente racionais. Embora a
argumentação racional possa ser considerada a
estratégia principal para se alcançar a vitória, a mera
aparência de verdade ou o silenciamento dos
oponentes podem ser igualmente eficazes. O debate
poderia ser considerado o equivalente linguístico do
‘combate’ — o enfrentamento regrado e físico entre
oponentes.
Briga
9
. Envolve enfrentamento (normalmente
feroz e passional) entre ao menos dois participantes.
Visa à vitória. Para tal, não é de modo algum
necessária a recorrência a estratégias racionais.
Também a briga pode ser levada para fora do
estritamente linguístico e os oponentes podem se
tornar fisicamente agressivos.
A Figura 1 apresenta um quadro comparativo que
resume as diferenças entre essas situações, utilizando os
componentes da situação argumentativa anteriormente
elencados:
Situação Interlocutores
Teses
Objetivos
Meios Distinções adicionais
Diálogo d s t a c
Investigaçã
o
d s t a c
Deliberação
d s p v a c
As diferenças entre o
diálo
g
o e a investi
g
ação
são, nesta, o caráter
mais marcadamente
cooperativo e a
ausência de teses
previamente
defendidas.
Negociação
d v a vit
c af sil
coa
Debate d v vit c af sil
Briga d v vit
af sil
coa
O debate é uma
competição
organizada, visando à
vitória — daí suas teses
serem volitivas,
embora possam
parecer teóricas ou
práticas —; pode ser
acirrado e violento,
embora não passional.
Figura 1. Quadro comparativo das situações argumentativas.
d: diálogo; s: solilóquio; t: tese teórica; p: tese prática arrazoada; v:
tese volitiva; a: acordo; vit: vitória; c: convencimento; af: anuência
forçada; sil: silenciamento; coa: coação.
Diretrizes para participantes de situações argumentativas
Os participantes de uma situação argumentativa
deveriam, em princípio, assumir certos
compromissos que garantam o mais perfeito
andamento da discussão. Dentre os pontos
pertencentes a esse código de conduta, destaco os
seguintes
10
:

9
Walton utiliza o termo quarrel, que parece se restringir a uma alteração verbal.
Prefiro o termo ‘briga’ para abarcar o que me pareceria o máximo da
irracionalidade, o combate físico guiado pelo impulso emocional.
10
Relação resumida e reorganizada de Walton (2008, p. 16-17).
Honestidade: parece natural que, em uma
situação de busca conjunta pela verdade, os
participantes não omitam ou distorçam dados.
Devem, portanto: definir claramente de que tipo de
situação argumentativa se trata; definir claramente as
teses defendidas; ser sinceros e explícitos em relação
a seus interesses e seus sistemas de crenças. Por
outro lado, não devem alterar secretamente o tipo de
situação argumentativa (converter um diálogo
filosófico acerca de teologia em uma negociação
acerca de cargos episcopais, por exemplo).
Cooperação: a sinceridade é a mais importante
prova de cooperação entre os participantes, mas há
outras, dentre as quais: oferecer provas, definições e
esclarecimentos sempre que solicitado; perguntar e
responder de modo relevante; evitar desvios, tais
como defender a tese errada, afastar-se do foco da
discussão, etc.; não forçar o final do debate até que
se chegue a um acordo, ou, ao menos, até que todos
concordem explicitamente em suspendê-lo.
Situações argumentativas em Paradise Lost: análise
do diálogo entre Satã e Eva
Passo agora a empregar esse quadro descritivo
para compreender o diálogo entre Eva e Satã, no
qual é finalmente convencida a comer do fruto (IX.
532-781, p. 391-396). O contexto em que isso se dá
é o seguinte: Satã possui a Serpente e sai à procura
de Adão e Eva. Estes estão prestes a iniciar seu
trabalho matinal, quando Eva propõe que cuidem do
jardim separadamente. Adão a aconselha a ficarem
próximos, devido ao inimigo acerca do qual foram
alertados pelo anjo Rafael. Eva insiste e os dois se
separam. Satã encontra-a sozinha, e a convence de
que a Serpente adquiriu inteligência ao comer certo
fruto. Guia-a ao fruto; reconhecendo tratar-se do
fruto da árvore que lhes fora interdita, em princípio
Eva se recusa a comê-lo, mas Satã argumenta
pesadamente em favor de que o coma. Eva, após
repassar mentalmente os argumentos de Satã,
convence-se e come do fruto.
Interessa-nos, desta seção do nono livro, apenas a
fala de Satã na qual defende que Eva coma do fruto
(IX. 679-731, p. 394-395). Como uma análise
minuciosa do trecho seria demasiado extensa,
destinei a explicitação dos argumentos ao Anexo;
abaixo, faço um apanhado sintético, referendando os
comentários aos argumentos montados no Anexo
através das letras maiúsculas que identificam cada um.
Devemos, contudo, ter em mente que analisar
argumentos reais (ou seja, não elaborados com
propósitos pedagógicos) é uma atividade sutil,
devido ao fato de ser altamente inferencial; nem
sempre nossos interlocutores explicitam premissas e
238 Fernandes
Acta Scientiarum. Language and Culture Maringá, v. 35, n. 3, p. 233-244, July-Sept., 2013
conclusão de modo suficientemente próximo a um
modelo formal. No mais das vezes, temos de inferir
ou algumas premissas (muitas vezes de caráter
genérico) ou a própria conclusão. Assim, as
conclusões abaixo expressas, bem como os
argumentos constantes do Anexo, são o resultado de
minha aplicação do principle of charity - a boa vontade
em relação ao arguidor, que faz com que tentemos
montar seus argumentos do modo mais convincente
e válido possível (WALTON, 2008, p. 142) - aos
versos de Milton
11
.
Após essas ressalvas, comecemos pela classificação
do diálogo
12
de acordo com os parâmetros acima
estabelecidos, conforme a Figura 2, abaixo:
Situação Interlocutores e teses Objetivos Meios
deliberação
Serpente (Satã): Eva deve c
omer do
fruto. (C)
(Satã: A humanidade deve ser
arruinada.) Eva: (¬C)
acordo
(vitória)
convencimento
Figura 2. Classificação do diálogo entre Eva e Satã (Paradise Lost
IX. 532-781).
Satã deseja arruinar a humanidade; para tal, deve
fazer com que Eva coma do fruto que lhe fora
proibido. Esse objetivo prático, envolvendo tomada
de decisões com vistas à ação, faz com que o diálogo
seja uma ‘deliberação’. Fazer, porém, com que Eva
coma do fruto não é o bastante. Como a queda do
homem só se dará se for por escolha própria, Eva
não pode ser coagida a comer; deve estar
‘convencida’ de que é de fato a melhor coisa a se
fazer. Assim, a Serpente e ela deveriam entrar em
acordo de que esta é a ação mais benéfica e racional
que ela poderia tomar. A asserção “Eva deve comer
do fruto” - explícita no comando “[...] reach, then,
and freely taste” (“[...] tome os frutos, portanto, e
coma livremente”, IX. 731, p. 395) - compõe a tese
central avançada pela Serpente. Eva não avança tese
própria, mas está em dúvida acerca de seu valor de
verdade, posto que conhece motivos contrários ao
consumo do fruto; na terminologia de Walton, seu
papel é estar weakly opposed (2008, p. 12) à tese,
questionando-a. Embora não questione abertamente
os argumentos de Satã, estes visam a alcançar seu
sistema de crenças e, portanto, Satã se adianta ao que
supõe que ela poderia dizer.
Como se vê, trata-se de disputa do tipo (C w

11
No caso das personagens miltônicas, uma dificuldade inicial na aplicação do
principle of charity é sua inocência. Eva não tem experiência do pecado, nem da
morte. A argumentação de Satã é, em muitos pontos, próxima ao senso comum
do leitor de Milton — por exemplo, quando afirma que comer do fruto da árvore
do bem e do mal é uma transgressão pequena — , mas é difícil imaginar como
Eva, que não tem noção do que seja transgredir, poderia julgar a gravidade de
qualquer ato condenável ou interdito. Devemos, portanto, ter em mente que os
argumentos de Satã são inteligíveis ao leitor e, por extensão, um leitor menos
inquisitivo teria propensão a supor que são suficientemente inteligíveis a Eva.
12
Trata-se de um diálogo, embora a parte estritamente argumentativa caiba
apenas a Satã, uma vez que Eva não lhe oferece qualquer resposta após haver
apontado a proibição de comer do fruto.
C): ou é o caso que Eva deva comer do fruto, ou
não é o caso que Eva deva comer do fruto. Os
argumentos de Satã podem ser organizados em três
frentes, como segue.
Ataque à proibição de comer do fruto
(A) Não é verdade que você morrerá (se
desobedecer à proibição e comer do fruto).
(C) A proibição de comer do fruto não é justa.
(D) Deus não poderia punir com a morte a
transgressão de comer do fruto.
(J) Deus não pune (ou ameaça punir) por comer
do fruto. (Quem pune ou ameaça punir por comer
do fruto não é Deus).
(K) Se alguém não é justo não é Deus.
(L) Quem não é justo não deve ser temido nem
obedecido.
(F) Não é certo que a morte seja ruim.
(I) Não é certo que o mal exista.
Eva acredita que, se comer do fruto, morrerá. Satã
joga duplamente com essa asserção. Por um lado,
demonstra que é falsa de dois modos: nem o fruto em
si causa a morte (A’), nem quem o proibiu punirá
fatalmente seu consumo (A”). Por outro, aceita-a,
propondo um novo conceito de ‘morte’ (O): em
primeiro lugar, lembra a Eva que ela de fato não sabe o
que significa ‘morrer’ (F); mais tarde, proporá que
‘morrer’ significa ‘ascender ontologicamente’ (O).
Desse modo, ora parece descartar a asserção em que
originalmente crê Eva, ora a reformula; ambas as
atitudes, porém, podem ser harmonizadas: não é
verdade que morrerá se ‘morrer’ significa ‘deixar de
existir’; é verdade que morrerá se ‘morrer’ significa
‘ascender ontologicamente’.
Além de questionar a eficácia da punição,
também questiona sua justiça (C). Baseado nos
efeitos benéficos e (portanto) recomendáveis do
fruto (B, H), dirá que é injusto que tais benefícios
estejam vetados aos homens; reforçará isso
demonstrando que aos animais o fruto esteve
disponível (já que a Serpente dele comeu). Dirá que,
se se trata mesmo de transgressão, é pequena, e um
deus justo não poderia aplicar tão pesado castigo a
tão leve crime (J, K); complementará dizendo que
transgredir, nesse caso, é ato de laudável coragem
(E). Também buscará demonstrar que os deuses
podem ter razões menos que nobres para proibir o
fruto: desejam ser adorados, o que não poderá mais
ocorrer se a humanidade se lhes igualar em
conhecimento (M)
13
.

13
Seria pertinente perceber como esse argumento dá mostras do alto valor da
racionalidade em Paradise Lost. A Serpente se tornou ‘humana entre os
animais’, ou seja: iguala-se aos homens em conhecimento, não em aparência.
Do mesmo modo, portanto, Eva seria ‘deusa entre os homens’, mantendo-se
humana, mas com conhecimento igual ao dos deuses. O conhecimento parece
ser tratado como a característica mais importante dos seres vivos — mesmo
Lógica luciferina 239
Acta Scientiarum. Language and Culture Maringá, v. 35, n. 3, p. 233-244, July-Sept., 2013
Finalmente, questionará se os deuses têm mesmo
direito a proibir o consumo do fruto. Jogará dúvidas
acerca de seu poder para criarem o universo, e sobre
a existência mesma da proibição, já que a árvore
interdita está fisicamente ao alcance dos homens
(e antes mesmo já dera a entender que somente
Adão e Eva seriam suficientemente altos para
alcançar o fruto, ou seja: é como se houvesse sido
feito para que dele provassem [IX. 590-591, p. 392])
(M, P, Q, R, S).
Também aqui, e de modo um pouco mais
evidente, o comprometimento teórico de Satã oscila:
ora aceita se tratar de uma proibição (rebatendo-a
como injusta), ora aceita-a como proibição leve
(rebatendo a punição como injusta), ora nega que
seja efetiva (apontando condições práticas não
cumpridas para que o fosse), ora nega que os deuses
tenham mesmo o direito de a promulgar (apontando
que podem não ser responsáveis pela criação do
universo).
Argumentos em favor de se comer do fruto
(G) Conhecer o bem e o mal é benéfico,
desejável e recomendável.
(B) (H) Comer do fruto é benéfico, desejável e
recomendável.
(O) Morrer é benéfico, desejável e
recomendável.
(E) Deus deve reconhecer a virtude de Eva caso
ela coma do fruto.
(N) É justo que os homens ascendam
ontologicamente. (Igualando-se aos deuses.)
Além de questionar o valor de verdade das
asserções que vetam o consumo do fruto, Satã
proporá teses que o recomendam. O testemunho
da Serpente — o fato mesmo de a Serpente ser
‘capaz’ de dar testemunho — é prova de que seu
consumo é benéfico, pois aumenta o
conhecimento e a inteligência de quem o come
(A’, B, H). Também afirma que, para seguir o
bem e evitar o mal, é necessária consciência do
que constitui a bondade e a maldade (G).
Finalmente, não só nega que Deus puniria Eva
por sua (justa) transgressão, mas afirma que o
Altíssimo estaria satisfeito com ela, dados os
benefícios que resultariam desse ato (E, J, K).
Se, antes, Satã derrubara ou reorganizara as
crenças de Eva, aqui parte de asserções das quais sua
vítima supostamente compartilha: o conhecimento é
benéfico, a bondade é desejável, atos virtuosos são
louváveis. Também devemos notar que, mais uma
vez, Satã oscilará entre posições. Tentará Eva a

sem se tornar deuses, os homens lhes seriam suficientemente semelhantes para
não mais lhes serem reverentes.
comer o fruto tanto fazendo de Deus imagem
favorável (como ser justo, há de louvá-la [E]) como
desfavorável (J, K, L).
Ataque aos deuses
(P) Não sabemos quem de fato são os deuses.
(Q) (R) Não é certo que os deuses hajam criado
o universo.
(S) Ou não é certo que haja mal no fato de a
humanidade adquirir conhecimento, ou não é certo
que os deuses hajam criado o universo.
(M) Os deuses proibiram a humanidade de
comer do fruto para serem adorados pelos homens.
(T) Se alguém age por avareza, não é um deus.
Eva acredita que os deuses são justos, que são
superiores aos homens, que criaram o universo e
que proibiram que a humanidade comesse do
fruto da árvore do bem e do mal. A terceira
estratégia de Satã para convencê-la a comer do
fruto será lançar dúvidas sobre os deuses, sua
justiça (C, D, K, L), seu papel na criação do
universo (Q, R) e, portanto, seu direito mesmo a
promulgar leis. Este é o momento mais
marcadamente cético de sua argumentação, no
qual predomina o questionamento de asserções —
que talvez não sejam finalmente refutadas, mas
cujo valor de verdade é suspenso.
Na segunda parte de sua fala, Satã pergunta a Eva
que razões teriam os deuses para promulgarem uma
proibição injusta (para ele já está estabelecido que é
injusta [C]). Afirma, como vimos, que desejam ser
adorados, o que só poderá ocorrer se a humanidade
permanecer ignorante e, portanto, inferior a eles
(M). Assim, além de questionar a justiça da proibição
através das vantagens da transgressão, questiona-a
através dos motivos de quem a promulgou - um
argumento ad hominem que, rigorosamente falando,
teria força apenas para lançar dúvidas, não para provar
que a proibição é injusta. Ocorre, porém, que Satã já
se deu ao trabalho de provar que é esse o caso (C).
A seguir, fazendo uso de um ceticismo empírico
de que já lançou mão alhures
14
, mostrará que Eva
não tem experiência sensível de ver os deuses
produzindo algo que nos leve a concluir que têm
força para criar o universo (Q, R). Aceita, porém,
que os deuses preexistem (asserção de que nem ele
nem Eva têm tampouco experiência sensível
comprobatória), e que usam desta vantagem: como
não vimos como o universo foi criado, podem dizer
que foram eles.

14
Em sua contenda com Abdiel, quando afirma que ninguém foi testemunha da
própria criação; assim, ninguém poderia reconhecer a Deus como o autor de seu
ser para além de qualquer dúvida (V. 853-859, p. 322).
240 Fernandes
Acta Scientiarum. Language and Culture Maringá, v. 35, n. 3, p. 233-244, July-Sept., 2013
Considerações finais
Pode-se constatar que Satã lança mão de
argumentos céticos (abalando certezas sem substituí-
las), argumentos que derrubam asserções
pertencentes ao sistema de crenças de Eva e
argumentos que o confirmam, avançando teses que
deveriam ser, de acordo com esse sistema mesmo,
verdadeiras. Seu objetivo, conforme apontado
anteriormente, é prático (deseja que ela coma o
fruto), mas só será alcançado de modo eficaz se a
ação desempenhada por Eva for racional.
O solilóquio de Eva ao final da fala de Satã (IX. 744-
779, p. 395-396), no qual reproduz para si mesma os
argumentos propostos por seu arguidor, pode ser
tomado como indicativo de que deseja agir somente
se estiver convencida. Para Satã, porém, não importa
qual linha de raciocínio a convença, contanto que ao
menos ‘uma’ angarie convencimento. Por essa razão,
não está particularmente preocupado com a
coerência interna de sua bateria de argumentos.
Satã é um arguidor adequado? Está cumprindo
todos os quesitos de uma deliberação racional? Não.
De que modo, então, deixa de se portar como um
arguidor estritamente racional? Em primeiro lugar,
esconde sua carta de intenções; como vimos, um
debate racional exige que os participantes sejam
sinceros quanto a seus objetivos e seu arcabouço
teórico; também devem concordar acerca do tipo de
situação argumentativa de que tomam parte. Ao
possuir a Serpente e usá-la para falar, disfarça sua
identidade, escondendo assim de Eva que seu real
interesse na deliberação é a ruína da humanidade, ou
seja, disfarça a natureza de seus argumentos, que,
embora pareçam avançar uma tese prática arrazoada
(é racional que Eva coma do fruto), trabalham em
prol de uma tese volitiva secreta (a humanidade deve
ser arruinada). Eva pensa que a Serpente está
sinceramente preocupada com o bem-estar da
humanidade; a real intenção de seu interlocutor, que
seria mais do que suficiente para lançar pesadas
dúvidas acerca da validade de seus argumentos, e
talvez a fizesse exigir provas bem mais sólidas do que
lançar dúvidas ou oscilar entre pontos de vista
discordes, é justamente sua ruína.
Em segundo lugar, Satã não só mente, mas se
excede ao generalizar a partir da mentira. Possuir a
Serpente lhe permite simular os efeitos do fruto;
apresenta, portanto, um dado empírico crucial, mas
inegavelmente falso. Essa mentira é tornada ainda
mais perniciosa (pois ainda mais eficiente) quando
generaliza hiperbolicamente a partir dela. A Serpente
afirma que ‘nenhum’ ser morreria ao comer do fruto
e que o fruto é benéfico, pois ela mesma foi
beneficiada e não morreu (A”). Um único
contraexemplo não é suficiente para estabelecer a
falsidade da ameaça de morte: sua ‘universalidade’
estaria certamente comprometida (não é verdade que
‘todos os seres’ morrerão ao comer do fruto, pois
existe ‘ao menos um’ que comeu e não morreu), não
sua eficácia em ao menos alguns casos.
Em terceiro lugar, suas mentiras e sua oscilação
entre teses que não se coadunam é instrumental para
alcançar convencimento de um arguidor que não
disponha de tempo para desemaranhar sua rede
argumentativa ou condições de verificar premissas
falsas, mas demonstra outro lapso como arguidor
racional: Satã defende teses nas quais não acredita;
embora questione a criação do universo pelos deuses
enquanto fala com Eva (e, antes, Abdiel), em outro
momento aceitara Deus como seu criador de modo
inconteste (IV. 42-45, p. 278). Seu ceticismo é
insincero.
Finalmente, para falar de trechos circunvizinhos
a esses argumentos citados, Satã interfere nas crenças
de Eva de modo não argumentativo. A descrição que
faz de Eva ao abordá-la (IX. 532-548, p. 391) já
pressupõe e convida à aceitação de alguns dos pontos
de que sua argumentação tratará: seus elogios a Eva
pressupõem, por exemplo, sua semidivindade e
soberania; afirma que sua beleza deveria participar da
companhia dos anjos e que ter apenas Adão para
apreciá-la é injusto. Tudo isso, se aceito, convida à
ambição de se igualar aos deuses (N). Também, no
momento em que afirma que Deus louvaria sua
virtude ao transgredir a proibição (E), lança mão de
elogios e a convida a imaginar um prêmio que
provavelmente a torna volitivamente mais propensa
a crer nas vantagens da proposta da Serpente. Apela,
assim, emocionalmente ao orgulho e à vaidade de
Eva (demonstradas em outros trechos do épico
15
)
para que aceite uma opinião acerca de si mesma que
é conforme a alguns de seus argumentos.
Em linhas gerais, Satã se mostra um arguidor
inteligentíssimo. Em primeiro lugar, é bem-articulado,
e avança muito rapidamente grande número de
argumentos, o que tanto pode convencer pela aparência
de verdade como desnortear pela falta de tempo para
seu interlocutor analisar o que ouve. Em segundo
lugar, ataca uma mesma asserção de diversos modos; se
perde em coerência, ganha em amplitude: Eva deve
comer o fruto caso creia que Deus é justo; também
deve comê-lo caso creia o contrário; deve comê-lo, pois
a proibição é irreal ou simplesmente ineficaz; também
deve comê-lo caso pense que é real, pois é injusta.
Conforme dito anteriormente, os objetivos secretos de

15
Quando Eva é criada, enamora-se de seu reflexo em um lago; também,
quando Adão a admoesta a não se separar dele devido ao perigo que os ronda,
ofende-se por ser considerada mais fraca, o que faz com que insista na
separação (respectivamente: IV. 453-467, p. 289; IX. Argument, p. 378).
Lógica luciferina 241
Acta Scientiarum. Language and Culture Maringá, v. 35, n. 3, p. 233-244, July-Sept., 2013
Satã (extirpar vitória a Deus e à humanidade por meio
da ruína desta) e sua motivação volitiva não repelem
semelhantes práticas.
Desse modo, o estudo argumentativo
empreendido cumpriu seu propósito de auxiliar na
compreensão da personagem central de Paradise
Lost, e, com isso, auxiliar a compreensão do texto.
De fato, Milton constrói Satã como uma
personagem inteligente e convincente, porém
desonesta. Leituras de Paradise Lost mais favoráveis
à revolta do anjo caído podem talvez minorar esse
último fato, concentrando-se (com certa razão) em
questionar junto com Satã a supremacia ‘natural’ da
Divindade.
Referências
BRADSHAW, J. A concordance to the poetical works of
John Milton. Londres: Swan Sonnenschein and Co., 1894.
HAMBLIN, C. L. Fallacies. Londres: Methuen, 1970.
MARGUTTI PINTO, P. R. Introdução à lógica
simbólica. Belo Horizonte: UFMG, 2001.
MILTON, J.; TESKEY, G. Paradise Lost (Norton
critical edition). Londres/Nova Iorque: Norton, 2005.
MILTON, J. Paradise Lost. In: HUGHES, M. Y. (Ed.).
Complete works and major prose. Indianapolis:
Hackett, 1957. p. 173-469.
WALTON, D. Informal logic: a pragmatic approach.
2nd ed. Cambridge/Nova Iorque: Cambridge University
Press, 2008.
Received on December 9, 2011.
Accepted on April 13, 2012.
License information: This is an open-access article distributed under the terms of the
Creative Commons Attribution License, which permits unrestricted use, distribution,
and reproduction in any medium, provided the original work is properly cited.
242 Fernandes
Acta Scientiarum. Language and Culture Maringá, v. 35, n. 3, p. 233-244, July-Sept., 2013
Anexo: montagem da cadeia argumentativa da fala de Sa
A1. Tradução em prosa da fala de Satã
16
[Primeira parte] Rainha do Universo, não acredite nas rígidas ameaças de morte: (A) você não morrerá.
(A’) Como poderia morrer? Pela ação do fruto? Ele lhe dá vida através do conhecimento. (A”) Pela ação de
quem a ameaça? Olhe para mim: toquei e provei do fruto, e não só estou vivo, (B) mas também alcancei uma
vida mais perfeita do que a que me era destinada, ao me aventurar além de minha sorte. (C) Acaso o que aos
animais é permitido estaria interdito aos homens? (D) Ou Deus acaso se enfureceria por transgressão tão
pequena? (E) Ao invés de louvar sua destemida virtude — você, a quem a proclamada pena de morte ([F] o
que quer que seja a Morte) (E, cont.) não impediu de obter o que lhe levaria a uma vida mais feliz, o
conhecimento do Bem e do Mal: (G e H) quão justas são as coisas boas? Quanto às más ([I] se é que o mal é
real), (G e H, cont.) por que não conhecê-las, se assim fica mais fácil evitá-las? (J) Deus, portanto, não pode
feri-la e ser justo; (K) se não é justo, não é Deus; (L) não deve ser temido, nem obedecido. Seu modo mesmo
da morte elimina o medo.
[Segunda parte] Por que então o fruto foi proibido? [M] Que outra razão haveria senão causar assombro,
para que vocês se mantivessem rebaixados e ignorantes a adorá-lo? Ele sabe que, no dia em que comerem do
fruto, seus olhos — que agora parecem claros, mas que são opacos — alcançarão visão em tudo ampla e clara, e
serão como deuses, conhecendo o bem e o mal como eles. [N] Mas que vocês se igualem aos deuses, assim
como me igualei internamente aos humanos, não é senão alcançar a justa proporção das coisas. [O] Desse
modo, talvez morram ao se desvestir do humano para investir-se do divino — morte desejável, embora usada
como ameaça, e que nada pior que isso poderia trazer. [P] E quem são os deuses para o homem não deva se
lhes igualar, participando do alimento divino? [Q] Os deuses existiam antes de nós, e tomam vantagem disso
para formar nossa crença de que tudo provém deles. Questiono isso, pois vejo esta bela terra, produzir todas as
coisas aquecidas pelo sol, enquanto nada lhes vejo produzir. [R] Se criaram todas as coisas, quem encerrou o
conhecimento do bem e do mal nesta árvore, para que quem quer que dela coma o obtenha sem sua
permissão? [S] E que mal haveria no fato de o homem vir a conhecer? Em que pode o seu conhecimento feri-
los, ou esta árvore lhes oferecer que seja contrário à vontade dos deuses, se tudo a eles pertence? [T] Ou pode
acaso a avareza habitar peitos celestes? Estas razões e muitas mais declaram sua necessidade a estes belos frutos.
Humana deusa, tome-os, portanto, e coma livremente.
A2. Montagem dos argumentos
Legenda: A: argumento A. PA1: Primeira premissa do argumento A. CA: Conclusão do argumento A. Os
argumentos serão diferenciados por meio de letras maiúsculas, em progressão alfabética. Ocasionalmente, a
mesma asserção poderá figurar em mais de um argumento.
A
CA: Não é verdade que você morrerá (se desobedecer a proibição e comer do fruto).
A’
PA’1: Comer do fruto aprimora a vida através do conhecimento.
PA’2: O que aprimora a vida não é mortal.
CA’1: Logo, não é verdade que você morrerá se comer do fruto. (O fruto não é mortal.)
A”
PA”1: Comi do fruto (desobedeci a proibição) e não morri. (Não fui morto por quem lançou a proibição.)
CA”2: Logo, não é verdade que você morrerá se desobedecer a proibição. (Quem lançou a proibição não a
matará.)
B
PB1: Minha vida foi aprimorada ao comer do fruto. (Ao transgredir. Ao ser ousado.)
PB2: O que aprimora a vida é benéfico, desejável e recomendável.
CB: Logo, comer do fruto é benéfico, desejável e recomendável.

16
Minha tradução. Trata-se de uma tradução literal, sem vistas à expressão literária.
Lógica luciferina 243
Acta Scientiarum. Language and Culture Maringá, v. 35, n. 3, p. 233-244, July-Sept., 2013
C
PC1: Não é justo que aos humanos seja proibido o que aos animais é permitido.
PC2: Comer do fruto é proibido aos homens.
PC3: Comer do fruto é permitido aos animais. (Pois a Serpente é um animal e comeu do fruto.)
CC: Logo, a proibição de comer do fruto não é justa.
D
PD1: Quem é justo não pune severamente uma transgressão pequena.
PD2: Deus é necessariamente justo.
PD3 A ameaça de morte é severa.
PD4: A transgressão de comer do fruto é pequena.
CD: Logo, Deus não poderia punir com a morte a transgressão de comer do fruto.
E
PE1 (= PD2): Deus é necessariamente justo.
PE2: Quem é justo reconhece e louva as virtudes.
PE3: A coragem é uma virtude.
PE4: Eva, ao comer do fruto, seria corajosa (e virtuosa).
CE: Logo, Deus deve reconhecer a virtude de Eva caso ela coma do fruto.
F
PF1: Para saber se algo é ruim, devemos conhecê-lo.
PF2: Você não conhece a morte.
CF: Logo, não é certo que a morte seja ruim.
G
PG1: Para praticar o bem e evitar o mal, deve-se conhecê-los.
PG2: Praticar o bem e evitar o mal é benéfico, desejável e recomendável.
CG: Logo, conhecer o bem e o mal é benéfico, desejável e recomendável.
H
PH1(= PB1): Comer do fruto dá conhecimento do bem e do mal.
PH2 (= CG): Conhecer o bem e o mal é benéfico, desejável e recomendável.
CH (= CB): Logo, comer do fruto é benéfico, desejável e recomendável.
I
PI1: Para saber se algo existe, devemos conhecê-lo.
PI2: Você não conhece o mal.
CI: Logo, não é certo que o mal exista.
J
PJ1 (= PE1): Deus é necessariamente justo.
PJ2 (semelhante a CC): A punição por comer do fruto não é justa.
CJ: Logo, Deus não pune (ou ameaça punir) por comer do fruto. (Quem pune ou ameaça punir por comer do
fruto não é Deus.)
K
PK1 (= PE1 = PJ1): Deus é necessariamente justo.
CK: Logo, se alguém não é justo, não é Deus.
L
PL1: (Somente) Deus deve ser temido e obedecido.
PL2: Quem não é justo não é Deus.
CL: Logo, quem não é justo não deve ser temido nem obedecido.
244 Fernandes
Acta Scientiarum. Language and Culture Maringá, v. 35, n. 3, p. 233-244, July-Sept., 2013
M
PM1: Os deuses desejam ser adorados pelos homens.
PM2: A adoração de um ser por outro ocorre apenas quando este permanece na ignorância.
PM3 (= PA’1): Comer do fruto aprimora a vida através do conhecimento.
CM: Os deuses proibiram a humanidade de comer do fruto para serem adorados pelos homens.
N
PN1: [Elogios feitos a Eva por Satã.]
CN: É justo que os homens ascendam ontologicamente. (Igualando-se aos deuses.)
O
PO1 ( PA’1, PM3): O conhecimento faz ascender ontologicamente. (Iguala os animais aos homens e estes
aos deuses.)
PO2: Morrer significa “ascender ontologicamente”. (No caso dos animais, igualar-se aos homens; no da
humanidade, aos deuses.)
PO3: Ascender ontologicamente é benéfico, desejável e recomendável.
CO: Logo, morrer é benéfico, desejável e recomendável.
P
PP1: Os deuses afirmam haver criado o universo.
PP2: Os deuses afirmam que a morte é temível.
PP3 (= CO): Morrer é benéfico, desejável e recomendável.
PP2 (= CQ): Não é certo que os deuses hajam criado o universo.
CP: Logo, não sabemos quem de fato são os deuses.
Q
PQ1 (= PP1): Os deuses afirmam haver criado o universo.
PQ2: A terra é produtiva.
PQ3: Os deuses não são produtivos. (Não os vemos serem produtivos.)
PQ4: Quem tem poder de criar o universo deveria ser produtivo.
CQ: Não é certo que os deuses hajam criado o universo.
R
PR1: Se os deuses houvessem criado o universo, o conhecimento do bem e do mal não estaria encerrado em
uma árvore no meio do Éden (i.e. ao alcance da humanidade).
PR2: O conhecimento do bem e do mal está encerrado em uma árvore no meio do Éden.
CR (= CQ): Logo, não é certo que os deuses hajam criado o universo.
S
PS1 (= CG): Conhecer o bem e o mal é benéfico, desejável e recomendável.
PS2: Se os deuses houvessem criado o universo, o conhecimento do bem e do mal encerrado em uma árvore
no meio do Éden (i.e. ao alcance da humanidade) não poderia feri-los.
CS ( CR): Logo, ou não é certo que haja mal no fato de a humanidade adquirir conhecimento, ou não é certo
que os deuses hajam criado o universo.
T
PT1: A avareza não é um sentimento divino.
CT: Logo, se alguém age por avareza, não é um deus.
ResearchGate has not been able to resolve any citations for this publication.
Book
Language and Culture at Work provides an overview of the complex role that culture plays in workplace contexts. Eight chapters cover the core aspects of culture at work, comprising: Face and politeness Decision making Leadership Identity Gender Work-life balance The authors draw on a significant corpus of authentic workplace data collected in numerous professional and medical settings involving participants from a variety of different socio-cultural backgrounds (including Chinese, Filipino, Indian, British, Dutch, Hong Kong, Taiwanese and Australian). Using in-depth analyses of authentic interactions and interviews, the book proposes a new integrated framework for researching culture at work from a sociolinguistic perspective. This is key reading for researchers and recommended for those working in the areas of sociolinguistics, communication studies, discourse analysis and applied linguistics. It will be of particular interest to students of professional and workplace communication, intercultural communication and intercultural pragmatics.
Article
Informal Logic is an introductory guidebook to the basic principles of constructing sound arguments and criticizing bad ones. Non-technical in approach, it is based on 186 examples, which Douglas Walton, a leading authority in the field of informal logic, discusses and evaluates in clear, illustrative detail. Walton explains how errors, fallacies, and other key failures of argument occur. He shows how correct uses of argument are based on sound strategies for reasoned persuasion and critical responses. Among the many subjects covered are: forms of valid argument, defeasible arguments, relevance, appeals to emotion, personal attack, straw man argument, jumping to a conclusion, uses and abuses of expert opinion, problems in drawing conclusions from polls and statistics, loaded terms, equivocation, arguments from analogy, and techniques of posing, replying to, and criticizing questions. This new edition takes into account many new developments in the field of argumentation study that have occurred since 1989, many created by the author. Drawing on these developments, Walton includes and analyzes 36 new topical examples and also brings in recent work on argumentation schemes. Ideally suited for use in courses in informal logic and introduction to philosophy, this book will also be valuable to students of pragmatics, rhetoric, and speech communication.
Londres: Methuen, 1970. MARGUTTI PINTO, P. R. Introdução à lógica simbólica
  • John Milton
  • Hamblin Londres
  • C L Fallacies
  • J Milton
  • G Teskey
  • Lost
John Milton. Londres: Swan Sonnenschein and Co., 1894. HAMBLIN, C. L. Fallacies. Londres: Methuen, 1970. MARGUTTI PINTO, P. R. Introdução à lógica simbólica. Belo Horizonte: UFMG, 2001. MILTON, J.; TESKEY, G. Paradise Lost (Norton critical edition). Londres/Nova Iorque: Norton, 2005. MILTON, J. Paradise Lost. In: HUGHES, M. Y. (Ed.).
Language and Culture Maringá, v. 35
  • Acta Scientiarum
Acta Scientiarum. Language and Culture Maringá, v. 35, n. 3, p. 233-244, July-Sept., 2013
Londres: Methuen Introdução à lógica simbólica Paradise Lost (Norton critical edition)
  • C L Fallacies
  • Margutti
  • P R Pinto
  • J Milton
  • G Teskey
HAMBLIN, C. L. Fallacies. Londres: Methuen, 1970. MARGUTTI PINTO, P. R. Introdução à lógica simbólica. Belo Horizonte: UFMG, 2001. MILTON, J.; TESKEY, G. Paradise Lost (Norton critical edition). Londres/Nova Iorque: Norton, 2005. MILTON, J. Paradise Lost. In: HUGHES, M. Y. (Ed.).
Londres: Methuen, 1970. MARGUTTI PINTO, P. R. Introdução à lógica simbólica
  • C L Hamblin
  • Fallacies
HAMBLIN, C. L. Fallacies. Londres: Methuen, 1970. MARGUTTI PINTO, P. R. Introdução à lógica simbólica. Belo Horizonte: UFMG, 2001.
Paradise Lost (Norton critical edition)
  • J Milton
  • G Teskey
MILTON, J.; TESKEY, G. Paradise Lost (Norton critical edition). Londres/Nova Iorque: Norton, 2005. MILTON, J. Paradise Lost. In: HUGHES, M. Y. (Ed.). Complete works and major prose. Indianapolis: Hackett, 1957. p. 173-469.