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RESUMO
SOUSA-LOPES, B. História natural e performance larval de Oospila pallidaria (Schaus,
1897) (Lepidoptera, Geometridae, Geometrinae): uma mariposa esmeralda do Cerrado.
2016. 62 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão
Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto-SP, 2016.
São estimadas 90 mil espécies de insetos para o Cerrado, o segundo maior bioma brasileiro,
com enorme heterogeneidade de habitats e rica fauna. Dentre esses insetos, os Lepidoptera
representam cerca de 10% do total de espécies. Entretanto, estudos sobre seus imaturos (ovo,
larva e pupa) ainda são incipientes para o bioma, principalmente sobre as mariposas, cujas
histórias naturais de muitas espécies ainda são desconhecidas. A falta desses estudos faz com
que sejam ignoradas as interações multitróficas em que esses organismos estão envolvidos e,
portanto, inviabiliza futuros estudos relacionados ao seu papel em comunidades e redes
ecológicas. Esse é o caso de muitas espécies da família Geometridae, incluindo Oospila
pallidaria, que é uma mariposa esmeralda (devido à coloração verde esmeralda das suas asas).
Oospila pallidaria é uma espécie herbívora que não possuía até o momento nenhuma
informação publicada sobre a sua biologia e fatores que condicionam sua ocorrência, tais
como: a fenologia da planta hospedeira, que pode determinar o período de melhores
condições para crescimento e reprodução; a qualidade nutricional dos recursos alimentares (e.
g. quantidade de água e nitrogênio), que pode determinar quais recursos conferem melhor
desenvolvimento/performance a um herbívoro; os inimigos naturais, que podem restringir a
ocorrência dos herbívoros e a temperatura e pluviosidade, que podem alterar a qualidade e a
distribuição geográfica dos recursos alimentares utilizados pelos herbívoros. Nesse sentido, o
objetivo principal deste estudo foi descrever, pela primeira vez, aspectos da biologia e história
natural de O. pallidaria (Capítulo 1) e avaliar a sua performance larval, a partir de diferentes
dietas (Capítulo 2). Os resultados apresentados no Capítulo 1 mostraram que os ovos de O.
pallidaria, verdes e com duração média de sete dias, foram solitários e ovipostos
principalmente nos tricomas das folhas maduras. As larvas se alimentaram de folhas maduras
predominantemente, mas utilizaram folhas jovens e botões florais oportunisticamente. As
larvas tiveram coloração críptica, se camuflaram em meio às folhas de Mimosa setosa
(Leguminosae: Mimosoideae), sua única hospedeira, e desenvolveram o comportamento de
auto-limpeza. Há cinco ínstares larvais, com coloração que variou de amarelo a verde. As larvas apresentaram também um par de projeções no protórax e linha mediana marrom na
região dorsal. O comprimento máximo do corpo das larvas foi de 28 mm. As pupas foram
predominantemente verdes, com no máximo 10 mm de comprimento. O desenvolvimento do
ovo ao adulto durou cerca de 50 dias ( = 42; S = 6; n = 11). Seu único inimigo natural
registrado foi o microhimenóptero Cotesia sp. (Braconidae, Microgastrinae). Fêmeas de O.
pallidaria produziram 65 ovos em média (S = 7,07; n = 2). A ocorrência de O. pallidaria foi
sazonal e sobreposta ao pico de presença de folhas maduras. Larvas foram negativamente
relacionadas à temperatura e pluviosidade, com significância estatística somente para a
primeira (r = - 0.5889, P < 0.05). No Capítulo 2, foi mostrado que as folhas maduras de M.
setosa foram o único recurso alimentar disponível durante todo o ano. Os botões florais foram
o recurso com maior qualidade nutricional (conteúdo relativo de água e nitrogênio total),
seguidos por folhas jovens e maduras respectivamente. Entretanto, a sobrevivência de O.
pallidaria foi maior com folhas maduras. Os resultados indicam que para o herbívoro
especialista O. pallidaria, a fenologia da planta hospedeira é crucial para sua sobrevivência,
em especial a presença de folhas maduras de M. setosa. Por outro lado, os botões florais são
recursos efêmeros, porém importantes para a sobrevivência das larvas de últimos ínstares no
final da estação seca, quando as folhas maduras estão ressecadas e/ou senescentes.